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1 FARMACOLOGIA – JULIANA OLIVEIRA FARMACOLOGIA DOS ANTICONVULSIVANTES ➔ Definições: ▪ Convulsão: É um evento paroxístico ou pontual que ocorre devido a descargas anormais, excessivas e hiper sincrônicas de um agregado de neurônios do SNC. Sua incidência é de pelo menos um episódio na vida, correspondendo de 5 a 10%. ▪ Epilepsia: São convulsões recorrentes devido a uma causa crônica. Sua incidência é de 0,3 a 0,5% e tem uma prevalência em 5 a 10 pessoas a cada 1000. ➔ Causas das convulsões: Em geral, tem-se um equilíbrio entre os nossos neurônios excitatórios e inibitórios, assim, com base nisso mantêm-se o nível de despolarização dentro da normalidade fisiológica, porém, existem alguns fatores que precipitam e predispõe a uma maior excitabilidade em detrimento da inibição, assim um indivíduo pode chegar a uma crise convulsiva pelo aumento da via excitatória nervosa ou pela inibição da via inibitória. Tem-se alguns agentes que fazem com que o indivíduo chegue ao limiar convulsivo ou o atinja, assim, isso vai desde fatores epileptogênicos como traumatismo craniano, avc, infecções tumores, até os fatores desencadeantes ou precipitantes, os quais consistem em fatores de estresse psicológico e físico, privação do sono, alterações hormonais, substâncias tóxicas e fármacos. Além disso, existem os fatores predisponentes endógenos ou genéticos que consiste nas pessoas que já tem histórico familiar, assim, possuem uma predisposição a atingirem o limiar convulsivo. ➔ Fisiopatologia das convulsões: A crise convulsiva ocorre devido a excitação excessiva de neurônios, causando a despolarização das membranas e consequente liberação de neurotransmissores predominantemente excitatórios como o glutamato. O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório liberado em uma crise epiléptica, causando excitotoxicidade e lesão neuronal. ➔ Classificação das convulsões: A crise epiléptica pode ser generalizada, focal ou desconhecida. ▪ Generalizada: Normalmente tem origem no tálamo e essa excitabilidade se espalha para os dois hemisférios. ▪ Focais: São originadas em um hemisfério específico. ▪ Desconhecidas: Pode-se ter os espasmos epilépticos ou crises epilépticas de localização e origem desconhecida. Crises: I. Crises parciais: a. Parciais simples: O indivíduo não tem alteração de consciência, então durante todo o processo das alterações motoras, sensoriais, autônomas e psíquicas, o paciente tem consciência do que está acontecendo, perdendo apenas o controle acerca dos acontecimentos. Essa descarga elétrica ocorre na região do córtex motor, assim, quando se tem uma excitabilidade nessa região tem-se movimentos involuntários e clônicos que caracterizam essas crises parciais, tem-se a alteração da 2 FARMACOLOGIA – JULIANA OLIVEIRA sensibilidade quando a descarga é na região sensorial, causando parestesia, manifestações autonômicas em uma crise parcial causando rubor, sudorese e piloereção; manifestações psíquicas causando medo, dissociação, despersonalização déjá vu e ilusões. b. Parciais complexas: O indivíduo tem uma atividade convulsiva focal em um dos hemisférios e compromete a consciência a nível transitório, o indivíduo tem crises de interação com o ambiente, resposta à estímulos verbais e visuais e alterações de memória e percepção do ambiente, do que aconteceu e está acontecendo. II. Crises generalizadas: São crises que acometem ambos os hemisférios sem que se tenha um início focal detectável. a. Ausência (pequeno mal): Ocorrem mais comumente na infância e adolescência, os pacientes têm lapsos súbitos e breves da consciência, assim, fisicamente a pessoa está acordada, mas mentalmente não. Pode ocorrer várias vezes ao dia e pode ser imperceptível à criança e aos pais. Muitas vezes está associado ao baixo rendimento escolar, possui remissão espontânea na adolescência em 60 a 70%. Responde bem aos anticonvulsivantes e não possui alterações neurológicas. Ausência atípica: O paciente tem uma perda de consciência mais demorada, com início e fim menos bruscos, automatismos mais evidentes, associados à alterações neurológicas e de forma que respondem menos aos anticonvulsivantes. Normalmente essas crises estão associadas a hiperpolarização dos neurônios reles, os quais levam a informação do tálamo até o córtex cerebral. b. Tônico – clônicas (grande mal): É uma manifestação clássica da epilepsia, é a principal convulsão em 10% dos pacientes epilépticos sendo de comum ocorrência em distúrbios metabólicos. É composta por uma alternância em crises tônicas e clônicas, as crises tônicas o paciente tem a contração muscular generalizada e nas crises clônicas o paciente tem movimentos repetitivos de extensão e flexão. O que acontece com os canais iônicos de pacientes durante a crise tônico – clônicos a nível de atividade dos canais e a nível de voltagem da membrana? 3 FARMACOLOGIA – JULIANA OLIVEIRA ▪ A fase tônica varia mantendo o indivíduo contraído, de forma que seus canais de sódio estão abertos e o de cloreto, no início da crise estão abertos, mas depois se fecham. ▪ Na fase clônica tem-se uma variação do potencial de ação, fazendo com que entre os movimentos de relaxamento e contração tem-se uma variação do PA, justificando a ocorrência do quadro clínico. A solução para esse problema consiste em controlar os canais iônicos, assim, os nossos receptores, no tratamento de crise epiléptica serão voltados, principalmente para os canais de cálcio, cloreto e sódio, além disso, os fármacos gabaérgicos vão influenciar os canais de cloreto. ➔ Anticonvulsivantes: São fármacos que vão controlar a excitabilidade neuronal. Clássicos: ▪ Barbitúricos: São empregados no controla da maioria das formas da epilepsia, principalmente nas crises tônico-clônicas generalizadas e nas crises focais, possuem uma alta propriedade que consiste em induzir enzimas hepáticas e consequentemente acelerar a biotransformação de vários fármacos. Fenobarbital: Se liga ao receptor de GABA e prolonga a abertura dos canais de cálcio, além disso, bloqueia as respostas excitatórias induzidas pelo glutamato. (AMPA e cainato) ▪ Hidantoínas: Fenitoína: Pode ser utilizada como anticonvulsivante, antiarrítmico, antineurálgico, miorrelaxante esquelético, inibidor de secreção e síntese de colagenase. Na epilepsia é utilizado nas crises tônico-clônicas generalizadas, parciais complexas e parciais simples. Pode ser administrado em associação com ácido valpróico, carbamazepina, fenobarbital ou primidona. Tem um efeito colateral grave que é a hiperplasia gengival e é um indutor enzimático. Atua inibindo os canais de sódio, retardando a recuperação dos canais operados por corrente, deprime a transmissão sináptica no sistema de ativação reticular, tálamo e estruturas límbicas. ▪ Oxazolidinodionas: Triametadiona: São usadas nas crises de ausência e são indicadas para pacientes que não respondem ou não podem tolerar a succinimida ou o ác. valpróico. É um pró-fármaco, desse modo, é metabolizada em dimetadiona, a qual tem o mesmo efeito da etossuximida sobre as correntes talâmicas de Ca+. ▪ Succinimidas: Etossuximida: São mais efetivos e menos tóxicos para crises de ausência, sendo esse a primeira escolha. Exerce importantes efeitos sobre as correntes de cálcio reduzindo a corrente de baixo limiar (tipo T). Outros: São utilizados para outros fins como antidepressivos e estabilizadores de humor, mas que também tem potencial para controlar os canais iônicos, podendo, assim, ser utilizado como anticonvulsivante. ▪ Benzodiazepínicos; ▪ Dibenzazepinas; Carbamazepina: Pode ser utilizado como anticonvulsivante, antipsicótico, antineurálgico, antimaníaco e antidiurético. É um fármaco de primeira escola das crises parciais,especialmente as complexas e tônico-clônicas. Pode ser usado isolado ou em associação com outros anticonvulsivantes. É um potente indutor enzimático. Atua inibindo os canais de sódio, retardando a recuperação dos canais operados por corrente, deprime a transmissão sináptica no sistema de ativação reticular, tálamo e estruturas límbicas. ▪ Ác. valpróico e derivados; Ácido valpróico: Reduz a frequência de vários tipos de crises epilépticas, porém é mais eficaz em crises generalizadas do que nas parciais, é indicado nas crises de ausência fotossensíveis e tônico-clônicas generalizadas, é importante também para a epilepsia mioclônica juvenil. 4 FARMACOLOGIA – JULIANA OLIVEIRA Bloqueia descargas repetitivas e sustentadas de alta frequência resultantes das correntes de sódio, bloqueio dos receptores NMDA, facilita a síntese de GABA, estimulando a GAD e, em altas concentrações, inibe a degradação de GABA por meio da GABA-T. ▪ Derivados do GABA: Vigabatrina: É um fármaco que inibe a enzima chamada GABA-T, que é a chamada de GABA amino transferase, com isso, tem-se menos GABA sendo degradado, logo, há uma potencialização da resposta GABAérgica e consequentemente um aumento dos efeitos inibitórios. Tiagabina: É um fármaco que inibe a recaptação do GABA, tanto em neurônios quanto em células virais, inibe majoritariamente a isoforma 1 do transportador (GAT-1), reduzindo os efeitos adversos dos inibidores da recaptação do GABA, consequentemente, tem-se o aumento dos níveis extracelulares de GABA, aumentando a sua resposta. ▪ Triazínicos: Lamotrigina: É utilizado no tratamento de crises parciais e crises tônico-clônicas generalizadas não controladas com outros fármacos. Produz bloqueio do disparo repetitivo dos canais de sódio, assim, uma vez que esses canais se abrem, parece reduzir a chance de reativação desses canais, reduz a transmissão excitatória glutamatérgica e tem ações sobre canais de Ca++ ativados por voltagem. Gabapentina: É um análogo do GABA, logo, se liga diretamente ao canal de cloreto, mantendo-o aberto. Faz-se o uso em pacientes com epilepsia parcial e em pacientes com crises tônico-clônicas. Eleva os níveis de GABA, alterando a síntese ou revertendo o transportador, inibe os canais de Ca++ ativados por correntes de alta voltagem e altera o metabolismo do GABA, sua liberação não-sináptica ou sua recaptação por transportadores de GABA. Topiramato: É um monossacarídeo substituído, é estruturalmente diferente de todos os outros anticonvulsivantes e é reservado para crises tônico-clônicas generalizadas. Possui inúmeras vias do seu efeito antiepiléptico como o bloqueio do disparo repetitivo dos canais de sódio, potencializa o efeito inibitório do GABA, antagoniza os receptores AMPA e cainato, bloqueando assim os efeitos do glutamato e tem-se evidências de inibição do bloqueio de correntes de cálcio tipo L. 5 FARMACOLOGIA – JULIANA OLIVEIRA Mecanismo de ação: 1) Potencialização da neurotransmissão GABAérgica; 2) Bloqueio de canais iônicos; 3) Antagonismo de neurotransmissores excitatórios (glutamato); ➔ Pontencialização GABAérgica: Tem-se a vigabatrina, valproato, tiagabina, como representantes de fármacos que potencialização a resposta GABAérgica. A vigabatrina e o valproato afetam a degradação do GABA, visto que ele é um neurotransmissor, assim, ao bloquear a ação das enzimas, tem-se a inibição da metabolização GABAérgica, aumentando a quantidade de gaba que vai ser liberada quando esse estímulo chegar. Liberar GABA não é ruim, pois ele é um neurotransmissor inibitório, assim, ao estimular sua liberação estimula-se a inibição, por outro lado, ao impedir a degradação do GABA tem-se o estímulo da sua liberação promovendo a inibição da atividade neuronal porquê o GABA se liga a canais de cloreto, promovendo a sal abertura. A tiagabina inibe a recaptação, aumentando a quantidade do neurotransmissor na fenda e consequentemente a sua atividade. ➔ Inibição de canais iônicos: Dos fármacos que atuam inibindo canais iônicos tem-se carbamazepina, fenilhidantoína, topiramato, iamotrigina, valproato e zonisamida fecham canais de sódio, sendo mais difícil que ocorra a sua despolarização. Fármacos que atuam inibindo canais de cálcio: valproato e etosuximida de forma que ao se ligarem aos canais de sódio impedem ou reduzem a entrada desses íons, assim, com menos cálcio intracelular é mais difícil que haja a despolarização. ➔ Inibição de receptores de glutamato: Tem-se receptores de glutamato iônicos e receptores acoplados a proteína. Esses receptores iônicos são os mesmos receptores que os fármacos que irão antagonizar os canais de cálcio e de sódio atuam, NMDA e AMPA, ou seja, ao inibir o sítio de glutamato desses canais, tem-se a inibição da abertura deles. Os receptores metabotrópicos são receptores acoplados, os de glutamato, a proteína G do tipo q, principalmente os do grupo I, os quais são receptores glutamatérgicos acoplados a proteína Gq e os do grupo II e III estão acoplados a proteína Gi.
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