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Anamnese Ginecológica e Obstétrica

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anamnese ginecológica e obstétrica
Ana Luísa Rubim
GINECOLÓGICA
Desde o início da consulta médica, faz-se necessário que o ambiente onde ela esteja sendo realizada apresente condições adequadas e que a estrutura existente seja a mais altamente profissional e cercada de toda a infraestrutura. Tanto a anamnese quanto o exame físico dependem de uma boa troca médico-paciente e atenção aos detalhes. Durante a avaliação, fatores de risco que necessitem de atenção especial devem ser identificados. 
Após a queixa principal e a apuração das características da doença atual, a história médica da paciente deve ser obtida. Para isso, é essencial que a paciente relate a sua história cirúrgica completa, sua história reprodutiva (incluindo história menstrual e obstétrica), o uso atual de medicações usadas por conta própria, homeopáticos etc., bem como um histórico sociofamiliar minucioso. 
Todos os itens da anamnese citados abaixo são importantes e devem ser pesquisadas com atenção. 
• Identificação: devemos obtê-la através dos dados da idade, cor, estado civil, profissão, endereço, local de origem, nível sócio-econômico. 
• Queixa principal e história da doença atual: serão investigadas em profundidade, procurando saber seu início, duração e principais características a ela relacionadas. Com base em ampla análise das queixas referidas, caracterizando-se pelo início e evolução de todo o processo clínico. Será permitido nessa fase que a paciente apresente amplamente todas as suas queixas e que discuta sobre exames anteriormente realizados ou medicamentos utilizados.
• Antecedentes pessoais: quando será inquirida sobre doenças ou medicamentos anteriores empregados, bem como sobre quais as cirurgias a que foi submetida anteriormente. Questionar sobre outros possíveis hábitos, como fumo, uso de álcool e de drogas ilícitas, e também sobre reações alérgicas medicamentosas ou de outros agentes alergênicos.
• Antecedentes ginecológicos: desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, menarca, ciclo menstrual (detalhar alterações), data da última menstruação, presença ou não de dismenorréia e tensão pré-menstrual, atividade sexual e métodos de anticoncepção, cirurgias, traumatismos, doenças, DST e Aids. Conceituar as irregularidades menstruais como: Hipomenorreia: diminuição do número de dias e da quantidade do fluxo menstrual; Hipermenorreia/menorragia: aumento do número de dias e da quantidade do fluxo menstrual; Polimenorreia: diminuição do intervalo do fluxo menstrual menor de 21 até 25 dias; Oligomenorreia: aumento do intervalo do fluxo menstrual superior a 35 dias; Metrorragia: sangramento irregular e totalmente desperiodizado, sangramento irregular e acíclico.
• Antecedentes obstétricos: anotar o número de gestações, o número e os tipos de partos, se normais ou cesáreos; a ocorrência de abortamentos espontâneos ou induzidos e de traumas genitais que possam ter ocorrido, bem como de possíveis complicações infecciosas. Referir também o período puerperal e das lactações, com duração ou complicações.
• Antecedentes sexuais e dos métodos contraceptivos usados: é necessário inquirir e esclarecer sobre seu início e as suas possíveis falhas e efeitos colaterais. A história sexual dependerá da situação individual de cada paciente, do seu médico e das circunstâncias do momento da consulta, idade da sexarca, mas torna-se essencial conhecer o número prévio de parceiros e a ocorrência de doenças sexuais prévias. As disfunções sexuais, como diminuição da libido e redução no grau de resposta sexual ou impossibilidade no relacionamento, merecem sempre cuidadosa e progressiva análise, principalmente nas consultas posteriores. Deve-se assegurar de que as consultas serão sempre sigilosas e que toda a problemática deverá ser conhecida para propiciar auxílio médico.
• Antecedentes mamários: questionar sobre o desenvolvimento das mamas, lactação, nódulos, dores, processos inflamatórios e traumas mamários prévios. Avaliar a fase e a época do surgimento e do desenvolvimento de nódulos existentes e sua velocidade de surgimento e de crescimento. Caso tenha realizado exames de imagens (mamografia, ecografia mamária), perguntar quando realizou e o motivo de sua indicação, e se já realizou biópsia mamária e sobre o laudo histopatológico.
• Avaliação das queixas urinárias ou gastrointestinais: inquirir sobre as ocorrências e o número de infecções urinárias, bem como sobre as medicações utilizadas e o tempo de uso, e se há incontinência urinária ou quadros de urgência miccional. Perguntar sobre intolerância gástrica a alimentos ou medicamentos, ritmo intestinal, continência fecal, sangramento ou dores durante a evacuação.
• História familiar: antecedentes de neoplasia ginecológica (mama, útero, ovário) ou TGI; antecedentes de osteoporose; em algumas situações idade da menarca e menopausa materna e de irmãs. 
• Revisão de sistemas: problemas intestinais, urinários, endócrinos e em outros sistemas.
OBSTÉTRICA
Os princípios gerais da anamnese e do exame físico na gravidez são os mesmos da semiologia médica, embora inúmeras particularidades, próprias da obstetrícia, devam ser detalhadas. 
IDENTIFICAÇÃO
▶ Idade. Embora o início da fertilidade possa ocorrer já aos 10 anos de idade, do ponto de vista biológico, a gravidez ocorre em melhores condições a partir de 18 a 20 anos. A década entre os 20 e 30 anos é o período mais indicado. A partir de então, são maiores os riscos para a mãe e para a criança. As mulheres com mais de 35 anos não deveriam mais conceber, em vista do expressivo índice de malformações do concepto e de distocias. 
▶ Cor. Deve ser considerada, pois mulheres de etnia africana são mais propensas ao vício pélvico e à préeclâmpsia. 
▶ Profissão. As intoxicações profissionais, de ação lenta, podem comprometer a evolução gravídica. Isso ocorre com as intoxicações produzidas por álcool, chumbo, fósforo, nicotina etc., de modo que é importante ter conhecimento da profissão da gestante, principalmente quando ela é predisposta a abortamento, para que possa ser orientada quanto à conveniência de abster-se de esforço físico. 
▶ Estado civil. É relevante, pois as estatísticas demonstram maior morbidade e mortalidade materna e fetal entre as solteiras. 
▶ Nacionalidade e domicílio. Mesmo se considerado apenas o território nacional, estas são informações importantes, pois, de acordo com a procedência da paciente, pode-se rastrear a possibilidade de enfermidades capazes de influenciar a gestação (como doença de Chagas, esquistossomose, malária, zika).
ANAMNESE GERAL
▶ Antecedentes familiares. Deve-se inquirir sobre estados mórbidos nos ascendentes e colaterais (p. ex., diabetes, pré-eclâmpsia), incluindo ocorrência de malformações, tanto da gestante quanto do parceiro. 
▶ Antecedentes pessoais. Vale indagar a paciente sobre o seu desenvolvimento nos primeiros anos de vida, quando começou a deambulação, e quais eram suas condições de nutrição na infância. A partir desses dados, é possível inferir a existência ou não de deficiências alimentares que tenham participado no desenvolvimento ou produzido raquitismo, que prejudica o esqueleto, especialmente na constituição da pelve. Devem-se obter detalhes sobre a instalação da puberdade, incluindo a data da menarca e as características dos ciclos menstruais sucessivos, informações que podem orientar o obstetra sobre possíveis deficiências endócrinas e fatores de hipodesenvolvimento genital. Os hábitos de vida da gestante também devem ser questionados durante a anamnese inicial, como a prática de atividade física, devendo-se quantificar sua frequência e intensidade, a ingesta alimentar, a prática de tabagismo, etilismo ou uso de outras substâncias, pois são fatores que podem influenciar o desfecho obstétrico.
ANAMNESE OBSTÉTRICA
Os antecedentes obstétricos e as informações da gravidez vigente devem ser investigados. 
Antecedentes obstétricos 
▶ Gesta e para. Primigrávida ou primigesta é a mulher que concebe pela primeira vez, e primípara é a parturiente do primeiro concepto ou a que está na iminênciade fazê-lo. O termo multigesta ou multigrávida aplica-se à que gestou muitas vezes, independentemente da duração da gravidez. São usados os termos secundi-, terci- ou quartigesta, e, quando se deseja fugir da imprecisão, antepõese o algarismo romano correspondente ao sufixo gesta-, em abreviação (IIgesta, IIIgesta etc). É paucípara a que pariu poucas vezes (até três). Nulípara é a mulher que jamais deu à luz, e nuligesta a que nunca esteve grávida. Os sufixos gesta- e para- referem-se a gravidezes e partos anteriores, e não aos conceptos, ou seja, após a primeira parturição, gemelar, a paciente continua Igesta e Ipara; se houve dois abortamentos e está em curso a terceira gestação, trata-se de uma paciente IIIgesta, 0para. 
▶ Paridade. Os perigos para a mãe e para o concepto, na gravidez e no parto, são maiores nas primíparas e naquelas que deram à luz mais de quatro vezes. 
▶ Intervalo interpartal. Os riscos reprodutivos estão reduzidos quando o intervalo entre os partos é de, no mínimo, dois anos. 
▶ Evolução dos ciclos gravídico-puerperais anteriores. Devem ser coletadas informações sobre as gestações, os partos e puerpérios anteriores, e sobre a ocorrência de abortamentos, toxemia e condições de aleitamento
INFORMAÇÕES DA GRAVIDEZ VIGENTE 
Com relação à gravidez vigente, a paciente deve ser indagada sobre a data da última menstruação, sinais subjetivos e objetivos, alterações dos diversos órgãos e aparelhos, e, especialmente, sobre a época em que foram percebidos os movimentos ativos do feto e a ocasião em que sentiu a chamada queda do ventre, fatores importantes para se determinar a idade da gravidez e a proximidade do parto.
Fontes:
· Tratado de Ginecologia – Berek e Novak
· Rezende – Obstetrícia
· Ministério da Saúde

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