Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Semiologia - Paratireoides Fláuber Sousa - Med - 79 - UFCG Noções de Anatomia e Fisiologia As paratireoides são quase sempre quatro, duas nos polos superiores da tireoide e duas nos polos inferiores dos lobos. Vale denotar que possui um alto número de variações anatômicas, podendo ser encontrada entre mediastino até região posterior do esôfago. Histologicamente possui 3 tipos de células: • Principais: produtoras de paratormônio; • Claras: células em repouso (células com grânulos de lipídeo e glicogênio) • Oxifílicas: funções não conhecidas. Função da paratireoide: secretam continuamente paratormônio, polipeptídio que está relacionado ao metabolismo do cálcio e unidades metabólicas do osso. Seus órgãos alvos são os ossos e os rins. O paratormônio (PTH) aumenta a calcemia porque estimula a reabsorção de cálcio pelos rins, aumentando também a conversão de 25(OH)D3 para 1,25(OH)2 D3 (metabólito mais ativo da vitamina D) no mesmo órgão. Ainda assim, indiretamente, a estimulação da síntese de 1,25- vitamina D3 atua no intestino aumentando a absorção de cálcio. Isso gera aumento da calcemia e diminuição da fosfatemia (explicação mais à frente). Além disso, o PTH aumenta a reabsorção de cálcio do osso, subindo ainda mais a concentração de cálcio no sangue. Isso intensifica a remodelação óssea, osteólise osteocítica e formação de osteoclastos e osteoblastos. A fosfatemia é pela excreção aumentada de fosfato na urina e pouca reabsorção do íon. Temos uma regra, a produção de PTH obedece aos níveis de cálcio na corrente sanguínea: • Nível Ca2+ sérico aumentado - diminui a produção de PTH (exceto nos casos de hiperparatireoidismo e hipomagnesemia, pois parece que o magnésio tem controle na secreção do PTH). • Nível Ca2+ sérico diminuído – aumenta a produção de PTH Não podemos esquecer da função da Vitamina D e da calcitonina sobre o metabolismo do cálcio: • A calcitonina é produzida pelas células C da tireoide e possui duas funções importantes: o Diminui os níveis de cálcio sérico (efeito antagônico ao PTH) o Inibe a reabsorção do fósforo nos rins, aumentando a excreção (função igual ao PTH) • A vitamina D3 inicia a produção na pele, na qual o 7-desidrocolesterol é transformado em vitamina D3 pela ação dos raios ultravioleta, após isso, hidroxilada no fígado e transformada em 25-OH colecalciferol. Nos rins, sofre novamente uma hidroxilação e forma 1,25(OH)2D3 (metabólito mais ativo). A função da vitamina D3 no metabolismo do cálcio é: o Aumenta a absorção intestinal de cálcio; o Aumenta a reabsorção de cálcio e fósforo pelo rim, diminuindo suas excreções; Exame Clínico Os sinais e sintomas depende do distúrbio funcional da paratireoide, o qual pode ser por hipofunção ou hiperfunção. Em ambas ocorre alteração de cálcio e fósforo, bem como de unidades metabólicas dos ossos. Hipoparatireoidismo É secreção ou ação deficiente do paratormônio (PTH), levando a redução dos níveis plasmáticos de cálcio e aumento dos níveis de fosfato, quando há rim normal. Sinais e Sintomas: os mais importantes são pela hipocalcemia, podendo ser poucos sintomas (hipocalcemia leve) a convulsões graves, insuficiência cardíaca refratária, laringospasmo (hipocalcemia grave). É importante pensar também na evolução: • Em casos de hipocalcemia aguda podemos ver tetania, papiledema e convulsões; • Em casos de hipocalcemia crônica teremos alterações na ectoderme, dentes, catarata, calcificações dos gânglios da base, desordens extrapiramidais; Manifestações Agudas • Tetania: o sintoma mais frequente na hipocalcemia aguda (irritabilidade neuromuscular). Podem ser leves (dormências periorais, parestesias de mãos e pés, câimbras musculares) ou graves (espasmo carpopodal, laringospasmo e convulsões focais ou generalizadas). Podemos ver sintomas inespecíficos: fadiga, irritabilidade, ansiedade e depressão; há casos de hipocalcemia grave que não apresenta sintomas neuromusculares. Tetania é mais comum com cálcio ionizável abaixo de 4,3 mg/dl (1,1 mmol/l) significando cálcio sérico de 7,0 a 7,5 mg/dl (1,8 a 1,9 mmol/l) • Convulsões: muitas vezes o hipoparatireoidismo nas crianças é interpretado como epilepsia, o que faz o médico ministrar fenobarbital (inibe produção de vitamina D3 pelo fígado, agravando as condições metabólicas). As convulsões vêm junto de espasmo carpopedal – sinal de trousseau (importante para diferenciar). • Alterações Cardiovasculares: hipotensão, redução da contratilidade miocárdica e insuficiência cardíaca congestiva (ainda não se sabe o motivo). Além disso, hipocalcemia gera prolongamento do intervalo Q-T no ECG, associado a uma repolarização ventricular precoce e desencadeia arritmia cardíaca. • Papiledema: ocorre em hipocalcemia grave, mas reversível com tratamento. Manifestações Crônicas • Distúrbios extrapiramidais: calcificações dos glânglios da base e cerebelo e levam a Síndrome de Fahr, alguns pacientes com essa síndrome desenvolvem parkinsonismo. A hipercalcemia gera distúrbios do movimento (distonia, Sinal de Trousseau Síndrome de Fahr: caracteriza-se pela presença de calcificações bilaterais simétricas em núcleos da base e córtex cerebral. hemibalismo, coreoatetose) ou demência, já há pacientes também sintomáticos. Esses sintomas podem melhorar com o tratamento com cálcio ou vitamina D. • Doenças oculares: frequente catarata, o tratamento paralisa a sua progressão. • Manifestações esqueléticas: causas congênitas (osteosclerose, espessamento cortical e anormalidades craniofaciais), pós- cirúrgico (aumento da densidade mineral óssea quando comparado com pessoas normais). • Anormalidades dentárias: em crianças – dentes hipoplásicos ou se manifestar antes, podem nem aparecer; • Ectodérmicas: pele seca, áspera e inchada, áreas de alopécia, cabelos secos, unhas frágeis e quebradiças com estrias transversais características. Monilíase pode ser observado em hipoparatireoidismo idiopático, síndrome poliglandular autoimune do tipo 1 (hipoparatireoidismo, insuficiência suprarrenal, candidíase e/ou outras doenças autoimunes). • Renais: excreção de cálcio elevada na urina pela perda da estimulação da reabsorção de cálcio pelo PTH. Vemos, hipercalciúria franca, possível nefrolitíase pode ocorrer, retardando o efeito do tratamento. Manobras Clássicas Esses sinais indicar irritabilidade neuromuscular por tetania latente a hipocalcemia. • Sinal de Trousseau (espasmo carpopedal): provocado ao manter o manguito insuflado por 3 min, 20 mmHg acima da pressão sistólica do paciente. É positivo a hipocalcemia se houver flexão do punho, extensão das articulações interfalangianas e adução do polegar (mão de parteiro). • Sinal de Chovostek: percurte o nervo facial, afrente do pavilhão auditivo. Em casos de hipocalcemia há contração da musculatura da face e do lábio superior no lado ipslateral. Pode ocorrer em 10% da população normal. Hiperparatireoidismo Excesso de paratormônio que pode ser três tipos: primário, secundário e terciário. O hiperparatireoidismo primário (HPTP) é resultado da hipersecreção do paratormônio, por adenoma (85% a 95% dos casos), hiperplasia (5%) ou carcinoma (<1%). É a causa mais comum de hipercalcemia em ambulatório. O hiperparatireoidismo secundário tem causa principal a insuficiência renal crônica (IRC) e gera hipocalcemia crônica, produção deficiente de 1,25(OH)2 D3 (calcitriol) e hiperfosfatemia. Pode evoluir para hipersecreção autônoma de PTH, que quando acompanhado de hipercalemia caracteriza o hiperparatireoidismo terciário. Hiperparatireoidismo Primário Mais comum é a hipercalcemia assintomática. O diagóstico é por PTH elevado ou hipercalcemia com PTH normal. Calcificações da Síndrome de Fahr Sinal de Trousseau Sinal de Chvestek Manifestações Clássicas do Hiperparatireoidismo PrimárioPodem ser nefrolitíase e doença óssea (osteíte fibrosa cística), são geradas por tempo prolongado de exposição. Os sintomas são anorexia, náuseas, constipação intestinal, polidpsia e poliúria. • Envolvimento ósseo: osteíte fibrosa cística é caracterizada por dor óssea e na radiografia encontra-se reabsorção óssea periosteal (radial das falanges médias e porções distais das clavículas, desmineralização “em sal e pimenta” do crânio, cistos ósseos e tumores marrons nos ossos longos – osteoclastomas, sendo palpáveis). Na HPTP há mais perda de osso cortical do que trabecular e a osteíte fibrosa cística é a mais rara (<5% dos pacientes dos EUA). • Renais: nefrolitíase (15 a 20%), hipercalciúria, nefrocalcinose, insuficiência renal crônica e anormalidades na função renal. • Neuromusculares: fraqueza muscular, fadiga. Parestesias, câimbras,hipotonicidade muscular com hiperextensibilidade ligamentar também pode se visto. • Neuropsiquiátricos: letargia, labilidade emocional, ansiedade, depresão, comportamento psicótico e disfunção cognitva são frequentes. Outras manifestações de HPTP • Ósseas: redução da densidade mineral óssea (DMO) – ossos corticais, antebraço e quadril -. Não são comuns fraturas e caso haja devemos analisar outros fatores associados a qualidade do osso. • Cardiovascular: hipertensão (sem explicação), hipertrofia ventricular esquerda e disfunção diastólica, além de aumento da espessura média da carótida intimal. • Alterações no peso e metabolismo de glicose: frequência intolerância a glicose e diabetes tipo 2, além de maior IMC. • Reumatológicas: incomuns atualmente. Mas são hiperucicemia, gota, pseudogota (condrocalcinose) com deposição de cristais de pirofosfato nas articulações • Gastrointestinais: anorexia, vômitos, dores abdominais e constipação intestinal. Úlcera péptica provavelmente pelo aumento da secreção de gastrina em resposta a hipercalcemia. Dor abdominal aguda irradiada para o dorso indica pancreatite (origem obscura- talvez cálculos pancreáticos ou depósitos intraductais de cálcio). • Oculares: depósito de cálcio na conjuntiva ou córnea alterando a acuidade visual (queratite “em banda”) • Exame Físico: sem alterações específicas. Raramente – depósitos de cálcio na córnea. O exame com lâmpada de fenda é necessário para diagnóstico. Hiperparatireoidismo Secundário Ocorre quando a paratireoide responde de forma apropriada para o baixo nível de cálcio no sangue, aumentando a concentração de PTH, o qual mobiliza a absorção intestinal de cálcio via 1,25 di-hidroxivitamina D e aumenta a reabsorção óssea. Então, na bioquímica teremos PTH elevado com cálcio sérico normal ou baixo. Geralmente acontece em Insuficiência Renal Crônica Nefrocalcinose - calcificações renais (IRC), comprometimento da produção de calcitriol, ingesta ou absorção de cálcio inadequada, deficiências ou resistências a vitamina D ou má absorção intestinal. Hiperparatireoidismo Secundário com IRC: o nível elevado de PTH é pela hiperfosfatemia e deficiência de calcitriol, gerando hipocalcemia e consequente aumento da produção de PTH. Podendo desenvolver Osteodistrofia renal. Geralmente é assintomático, mas pode causar fibrose cística (fraqueza), dor óssea e muscular, necrose vascular. Osteodistrofia renal: principal forma é a osteíte que é o aumento do turnover ósseo e mineralização defectiva, majoritariamente assintomático; outra forma é a doença óssea adinâmica que é consequência da terapia supressiva excessiva de PTH; a osteomalácia também é uma forma que possui miopatia grave com dores ósseas. O hiperparatireoidismo secundário também predispõe a calcificação arterial e aterosclerose, aumentando o risco de mortalidade cardiovascular; O raquitismo na criança e a osteomalácia no adulto também são causados por hipocalcemia do Hipoparatireoidismo secundário. • Exame Físico: protusão frontal, deformidades ósseas, (encurvamento dos membros, costelas em colar de contas) e marcha bamboleante. A marca registrada de raquitismo e osteomalácia são pseudofraturas (costelas, escápulas, pelve e tíbia). Geral: diminuição da densidade óssea, alargamento das epífises de crescimento (crianças), erosões periostais e linhas finas, radiodensas (linhas de Harris). Hiperparatireoidismo Terciário Estado de hipersecreção autônoma de PTH, acompanhado de hipercalcemia plasmática. Na maioria das vezes é resultado de hiperparatireoidismo secundário. Precisamos fazer o diagnóstico diferencial com Hiperparatireoidismo Primário.
Compartilhar