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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO Escola Paulista de Medicina Pós Graduação em Ciências da Saúde Aplicada ao Esporte e à Atividade Física Proponente: Monica Tiyoko Morioka Hashimoto Treinamento de Alto Rendimento em Mergulho Livre no Ambiente Urbano Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Aplicada ao Esporte e à Atividade Física da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina para matrícula no programa de Mestrado Profissional. SÃO PAULO 2019 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 5 1.1 Sobre o mergulho livre 5 1.1.1 História 5 1.1.2 Competições 6 1.1.2.1 Regulamentos 6 1.1.2.2 Modalidades 7 1.1.3 Respostas fisiológicas 9 1.1.3.1 Reflexo de imersão 9 1.1.3.2 Aumento da tolerância ao CO2 9 1.1.3.3 Aumento da Capacidade Pulmonar Total 9 1.1.3.4 Blood shift e contração esplênica 10 1.1.3.5 Aumento do fluxo sanguíneo cerebral 10 1.1.3.6 Narcose 11 1.1.3.7 Lesões pulmonares 11 1.1.4 Benefícios do treinamento 11 1.2 Treinamento de alto rendimento em ambientes urbanos 12 2. OBJETIVOS 14 2.1. Objetivo Geral 14 2.2. Objetivos Específicos 14 3. MATERIAIS E MÉTODOS 15 4. CRONOGRAMA 17 5. RESULTADOS ESPERADOS 18 REFERÊNCIAS 19 RESUMO O mergulho livre apresenta benefícios e riscos que atraem inúmeros atletas de alto desempenho ao redor do mundo. Composto por diferentes disciplinas, o mergulhador deve preparar-se para suportar situações extremas de hipóxia, pressão da água e baixas temperaturas. Tal treinamento permite que efeitos fisiológicos como o reflexo de imersão auxiliem o atleta para ganhos de performance. Os riscos associados ao treinamento e à prática do esporte devem ser conhecidos e controlados a fim de permitir uma prática segura e o alcance de melhores marcas. Ainda que o ambiente marítimo ou lacustre seja o mais indicado para a rápida evolução do desempenho, o ambiente urbano também oferece recursos para um treinamento eficiente. As devidas adaptações nas sessões de treino em apneia e o uso estruturado de outras modalidades esportivas como corrida, alongamento e natação permitem o desenvolvimento de capacidades necessárias ao mergulho livre. Palavras-chave: mergulho, reflexo de mergulho, doença da descompressão, narcose por gás inerte, hipoxia. ABSTRACT Freediving features benefits and risks that attract numerous high-performing athletes from around the world. Composed of different disciplines, the diver must prepare to withstand extreme situations of hypoxia, water pressure and low temperatures. Such training allows physiological effects such as the immersion reflex to assist the athlete for performance gains. Risks associated with sport training and practice must be known and controlled in order to allow for safe practice and reach of the best brands. Although the maritime or lake environment is best suited for rapid performance evolution, the urban environment also provides resources for efficient training. Adequate adaptations in apnea training sessions and the structured use of other sports modalities such as running, stretching and swimming allow the development of skills required for freediving. Keywords: diving reflex, diving disease, decompression sickness, narcosis by inert gas, hypoxia. 1. INTRODUÇÃO 1.1 Sobre o mergulho livre 1.1.1 História Historicamente o mergulho tem sido uma atividade relacionada à sobrevivência. A necessidade de se alimentar e alimentar os grupos humanos levou a humanidade a submergir constantemente com a utilização de diferentes técnicas e tecnologias. Schagatay (2014) cita exemplos de prática de mergulho livre como as mergulhadoras japonesas "amma" e as mergulhadoras coreanas "hae nyo", que datam de atividades há mais de dois mil anos. Tais mergulhadoras poderiam mergulhar até quatro horas por dia, com mergulhos de até 25 metros de profundidade com intuito de coleta submarina. Normalmente as meninas "amma" iniciavam suas atividades subaquáticas aos 14 anos de idade. Edmonds, McKenzie e Thomas (2013) apresentam que na antiguidade os mergulhos foram realizados com auxílio do uso de pedras como lastro, com descidas muito rápidas. Os limites tanto de profundidade como de tempo estenderam-se ao longo da história, partindo dos cerca de 30 metros e dois minutos até os 24 minutos e três segundos com oxigênio puro, por Aleix Segura, em Barcelona, 2016 e 11 minutos e 54 segundos sem oxigênio, em 2014, por Branko Petrovic, Dubai, segundo a Wikipedia (2019). Equipamentos foram desenvolvidos por pessoas como Leonardo da Vinci, Augustus Siebe, Fleuss, Frenchmen, Rouquayrol, Denayrouze e Jacques Costeau e Gagnan ao longo da história. O mergulho livre atualmente utiliza recursos tecnológicos como máscara, tubo respirador ou snorkel, lastros cervicais ou em cintos, nadadeiras monopalma e bi-palma, além de presilha nasal, óculos alagáveis, mecanismos de descida - sleds, e subida - lift bags. O oxigênio puro é um recurso aceito para fins de recorde. Os mergulhos comerciais foram registrados a partir do século 19 em aplicações como aquicultura, ecologia, manutenção naval e recreação. 1.1.2 Competições 1.1.2.1 Regulamentos Segundo a AIDA Brasil (2019), as categorias são divididas em masculino e feminino. O reconhecimento de um recorde ou inclusão em ranking nacional fica sujeito à avaliação por meio de juízes oficiais e vídeo oficial sem cortes. Em ambiente controlado como piscinas, a profundidade mínima deverá ser de 1,40m. O ambiente competitivo deve fornecer condições similares a todos os competidores, na medida do possível. Testes de antidoping padronizados poderão ser aplicados em qualquer período, durante o evento ou fora deste, sendo proibido o consumo de qualquer substância WADA a qualquer tempo. Para fins de registros de índices, não é permitido o uso de equipamentos de monitoramento fisiológico tais como oxímetro, frequencímetro, entre outros. O atleta é desclassificado em caso de síncope durante a performance, bem como os seguintes sinais e sintomas: parada cardíaca ou respiratória, incapacidade de manter vias aéreas pérvias. Caso o atleta seja tocado, o mesmo é desclassificado, exceto para reposicionamento do corpo do atleta na água, checagem de nível de consciência ou segurança e se a manobra for realizada por seu treinador, mergulhador de segurança ou membro da organização da competição. Deve-se realizar o protocolo de superfície em 15 segundos, quando o competidor deverá proceder, na devida ordem os seguintes passos: remover todo o equipamento facial; realizar para os juízes de forma clara e visível com a mão o sinal internacional de "OK" e dizer: "I'm OK" ou "eu estou OK" e aguardar a exibição do cartão pelo juiz, que ocorrerá em até 30 segundos. As cores dos cartões evidenciam a performance da seguinte forma: branco, performance perfeita; amarelo, performance aceita mas com penalização; vermelho, desclassificação. No caso de desclassificação o atleta tem o direito de saber o motivo. 1.1.2.2 Modalidades Segundo a AIDA (2018), há as seguintes modalidades de competição no mundo: apneia estática, apneia dinâmica, apneia sprint25-50m, lastro constante, lastro variável, imersão livre, skandalopetra. Há o No Limits, para fins de recorde, mas não é considerado pela instituição como uma modalidade competitiva. Apneia estática Nesta modalidade busca-se suspender uma inspiração profunda, podendo-se utilizar de diversas técnicas com a finalidade de maximizar o volume de ar a ser retido. Para fins de recorde, é permitido a utilização de oxigênio 100% até 60 minutos antes da prova. O objetivo da modalidade é manter a apneia pelo maior tempo possível e, para tanto, o atleta treina técnicas para suspensão da respiração, relaxamento muscular, concentração mental, autoconhecimento e tranquilização. O reflexo de imersão é um importante aliado para a promoção da bradicardia. As nadadeiras são dispensadas e muitos atletas preferem realizar a performance somente com a presilha nasal, sem a máscara para melhor efeito do reflexo de imersão. Procura-se manter ambiente aquático com temperatura amena e águas tranquilas. Situações como hipotermia, excesso de alimentação e stress podem comprometer seriamente o desempenho do atleta. Apneia dinâmica Pode ser dividida em duas sub-modalidades: com nadadeiras e sem nadadeiras. O objetivo é percorrer a maior distância horizontal possível. Normalmente é praticado em águas confinadas e ambiente controlado como uma piscina. Em competições com nadadeiras, é comum o uso de monopalmas, ou seja, nadadeiras com uma pala única, onde se encaixam os dois pés. Na modalidade sem nadadeiras, a natação mais eficiente é o movimento submerso do nado peito, por possibilitar um deslocamento de maiores distâncias com menor gasto de energia. Há grande risco de apagamento; é necessário, portanto, tanto em competições como nos treinos, a presença ativa de um mergulhador em supervisão direta do atleta. Schagatay (2010), cita que nadar por 250m com uma única inspiração apresenta-se como o limite aeróbico humano e o trabalho anaeróbico é o responsável pelo excedente do que é considerado o limite formal. Apneia sprint 25-50m A velocidade para percorrer uma determinada distância é a meta desta modalidade, que apresenta duas sub-modalidades: bi-palma e monopalma. Segue-se os mesmos princípios básicos da apneia dinâmica com nadadeiras. Lastro constante Dividida em duas sub-modalidades: com nadadeiras e sem nadadeiras, praticado em mares e lagos. Não é permitido o auxílio de um cabo-guia. O atleta deve atingir uma profundidade pré-anunciada. Normalmente são utilizados lastros de diversos tipos e modelos como o cervical, semelhante a um colar, e em cinto, normalmente na altura do quadril. As nadadeiras podem ser bi-palmas ou monopalmas, em geral monopalmas, pela maior capacidade de propulsão. Lastro variável Neste caso, o apneista desce junto a um lastro com velocidade controlada, chamado sled e conectado a um cabo-guia para atingir uma profundidade pré-determinada. No retorno à superfície, o atleta abandona o lastro e utiliza a impulsão promovida pelas nadadeiras. Imersão livre Com a utilização de um cabo-guia, o atleta busca atingir profundidades sem nadadeira nem lastros. A imersão livre também é utilizada nos primeiros mergulhos do dia do atleta, em uma fase de preparação conhecida como warm-up. É considerado uma modalidade mais natural, sem grandes interferências tecnológicas. Skandalopetra Modalidade nacional, em duplas. Consiste em atingir uma profundidade pré-anunciada portanto uma peça de pedra. Retorna-se à superfície o mais rápido possível. Remonta da história do mergulho, em que a prática era realizada com o auxílio do uso de pedras como lastro para atingir as profundezas. No Limits Modalidade derivada do lastro variável, atrai atletas que buscam atingir recordes mundiais. É considerado a disciplina das grandes profundidades. O objetivo é atingir grandes profundidades e retornar à superfície com auxílio de equipamentos mecânicos ou dispositivos infláveis como coletes ou balões. O atual detentor do recorde mundial é Herbert Nitsch, que atingiu 214 metros em 14 de junho de 2007 em Spetses, Grécia. 1.1.3 Respostas fisiológicas 1.1.3.1 Reflexo de imersão O reflexo de imersão ocorre em mamíferos em geral e pode ser acentuadamente observado em animais que mergulham a grandes profundidades como as baleias cachalote (Physeter macrocephalus) e focas-de-weddells (Leptonychotes weddellii). Panneton (2013) observa que em animais mergulhadores há valores incrementados de volume sanguíneo, além de hematócrito, hemoglobina e mioglobina em valores elevados. Segundo Cook (2014), mudanças ocorrem no organismo humano devido ao reflexo de imersão, em temperaturas abaixo de 21oC: bradicardia, vasoconstrição periférica e, em grandes profundidades, o blood shift. Além dos efeitos citados, observa-se também a contração esplênica. 1.1.3.2 Aumento da tolerância ao CO2 Segundo Vagin e Zelenkova (2017), a tolerância à redução de oxigênio no sangue arterial é um importante fator de competitividade. Em comparação com atletas de outros esportes em ambiente não-aquático, o praticante avançado de mergulho livre apresentou um incremento de aproximadamente 12% de distância alcançada em corrida em apneia. Por meio do uso de tabelas de treinamento de tolerância ao CO2 , o atleta evolui no treinamento com lento aumento de tolerância ao gás, aumentando assim seu limite de tempo em que mantém a suspensão voluntária da respiração com certo conforto. 1.1.3.3 Aumento da Capacidade Pulmonar Total Capacidade pulmonar total é o volume pulmonar após uma máxima inspiração. Volume residual pulmonar é o volume pulmonar após uma máxima expiração. A estimativa do limite de profundidade do mergulhador por meio da Lei de Boyle. Cálculo: Volume Residual x Pressão Máxima = Capacidade Pulmonar Total x 1 atmosfera (atm). O treinamento do atleta permite um ganho de capacidade pulmonar bem como a diminuição do volume residual. Tais alterações são adquiridas com técnicas específicas advindas do Yoga, por exemplo. 1.1.3.4 Blood shift e contração esplênica Um efeito natural conhecido como blood shift, por efeito da pressão da água e da baixa pressão pulmonar, o volume sanguíneo seja direcionado de músculos e órgãos intestinais para os pulmões. Os capilares pulmonares podem sofrer lesões pelo efeito do aumento de volume sanguíneo. Neste caso pode haver o barotrauma pulmonar, bem como edema alveolar. Concomitantemente, é possível a presença de arritmias cardíacas, isquemia cardíaca subendocárdica e aumento do tônus vagal estimulado pelo frio. Pela grande reserva sanguínea, a contração do baço pode representar um importante reservatório de oxigênio, que será aproveitado durante o mergulho profundo. De acordo com Schagatay (2014), a ejeção do sangue contido inicialmente no baço é disparada pela hipóxia e mantida pela hipercapnia e após aproximadamente 10 minutos após o mergulho, as células sanguíneas excedente voltam a ser armazenadas no baço. 1.1.3.5 Aumento do fluxo sanguíneo cerebral Vestergaard (2017) aponta que o reflexo da imersão permite odecréscimo do consumo de oxigênio por parte de órgãos não-vitais e músculos por meio da vasoconstrição periférica e a redistribuição sanguínea para os órgãos vitais como coração, pulmões e cérebro. A capacidade cerebrovascular de reserva apresenta-se como um estado em que há a preservação integral das funções cognitivas e o autor infere que em situações de extrema hipóxia há um incremento no fluxo sanguíneo cerebral para compensar a dessaturação arterial. 1.1.3.6 Narcose Em grandes profundidades, o aumento da pressão parcial de nitrogênio na circulação sanguínea pode levar o atleta a alterações da consciência como alucinações, amnésia, euforia, entre outras, segundo Brasil Mergulho (2003). Streeter (2006) relata que em 2002, na quebra do recorde mundial a 160 metros de profundidade no evento conhecido como No Limits, teve a percepção da narcose aproximadamente aos 100 metros de profundidade. Em tal situação foi observado cerca de dez segundos de confusão mental e amnésia. Um treinamento consistente e o conhecimento dos riscos parece diminuir os efeitos da narcose. 1.1.3.7 Lesões pulmonares Eichinger et al (2008) alerta que pode haver danos cardíacos associados à técnica de hiperinflar os pulmões. A elevação da pressão nas paredes transcapilares pulmonares podem provocar a ruptura da membrana alveolocapilar. Adir e Bove (2014) apresentam lesões relacionadas à prática de esportes em ambientes extremos como o mergulho em grandes profundidades: lesão hidrostática do pulmão, edema pulmonar hemodinamicamente induzido, edema pulmonar por imersão, edema pulmonar por pressão negativa, barotrauma pulmonar, pneumomediastino, pneumotórax e embolia gasosa arterial. Segundo os autores, a compreensão das mudanças fisiológicas no sistema cardiovascular em ambientes extremos é importante para melhor compreensão dos fatores de riscos para as lesões pulmonares, bem como para a prevenção das mesmas. 1.1.4 Benefícios do treinamento Ao passo que o atleta prossegue em seu treinamento, também é possível observar aumento da capacidade pulmonar total, melhor técnica de equalização de espaços aéreos, menor volume pulmonar residual, bradicardia, adaptações fisiológicas às grandes profundidades, maior tolerância ao CO2, maior tolerância à compressão torácica, controle neuromuscular, propriocepção adequada, aumento do poder de concentração mental. Verbaas (2018) esclarece que quando os músculos não conseguem extrair oxigênio suficiente do sangue para sua impulsão, inicia-se a extração do oxigênio da mioglobina, que é uma proteína presente em abundância nos músculos. Com o treinamento, há um considerável incremento de mioglobina nos músculos e assim seus membros inferiores não ficarão tão fatigados durante o retorno das profundezas para a superfície. 1.2 Treinamento de alto rendimento em ambientes urbanos Como se observa, a prática regular para fins competitivos demanda uma complexa logística, tanto em termos materiais quanto humanos. As disciplinas como a apneia estática e dinâmica são complementares e seus riscos, evidentes. Para a apneia estática, há a possibilidade de treinamento “a seco”, ou seja, em ambiente não-aquático, com auxílio de aplicativos eletrônicos instalados em dispositivos móveis. Tais aplicativos são de fácil acesso, instalação, configuração e uso, com inúmeras facilidades para o treinamento. Além disso, a prática sistemática da insuflação glossofaríngea permite um acréscimo considerável na capacidade pulmonar total. Seccombe, Jenkins e Rogers (2013) citam que com treinamento e técnicas adequadas, o atleta é capaz de alcançar 10,87 litros de ar nos pulmões por insuflação glossofaríngea. Sob a pressão da água a pressão exercida pelo volume adicionado pela insuflação glossofaríngea diminui. Segundo Marchese (2015), o incremento nos tempos de treinamento em corrida permite uma melhor tolerância do organismo à acidose. O mesmo autor cita diversas técnicas como correr controlando o ritmo respiratório, a corrida em apneia, corrida em apneia com curto intervalo de recuperação, velocidade com apneia e longas distâncias em apneia com tempos fixos de recuperação. A caminhada em apneia também é citado pelo autor como uma forma segura e eficiente para incrementar o tempo de apneia. Para a apneia dinâmica em lastro constante, é possível utilizar as piscinas disponíveis em meio urbano. Há, no entanto, uma certa restrição quando se analisa a questão da descida a grandes profundidades, pois mesmo realizando-se treinamentos com técnicas específicas para simular um ambiente de alta pressão, o ambiente marinho não pode ser facilmente mimetizado em todas as suas peculiaridades. Tais técnicas, no entanto, como mergulhar a poucos metros em uma piscina exalando ao máximo o ar podem auxiliar na percepção e tolerância do atleta à compressão torácica que sofrerá nas grandes profundidades. Schagatay (2011) cita a técnica de compressão negativa, em que o atleta realiza uma expiração total seguida por uma expiração forçada, esvaziando ao máximo os pulmões. Tal exercício, combinado com outras técnicas para aumentar a flexibilidade torácica permite que se extenda os limites de segurança para o mergulho profundo. A prática em uma piscina com cinco metros de profundidade pode resultar em um volume residual de aproximadamente 90 mL. As modalidades mais facilmente treináveis em ambiente urbano seriam o sprint, apneia estática e apneia dinâmica com ou sem nadadeiras. O treinamento em ambiente não aquático é considerado de maior dificuldade, principalmente quando o parâmetro de comparação é o tempo de apneia, pois em ambiente seco não ocorre o mecanismo do reflexo de imersão ou a diminuição da pressão intratorácica causada pela insuflação glossofaríngea. É preciso observar uma regra básica de segurança no mergulho livre: treinar somente sob supervisão direta. Para tanto, algumas alternativas são associar-se ou contratar serviços de clubes, academias ou escolas de mergulho ou natação. Em escolas de mergulho autônomo é comum encontrar profissionais também conhecedores da prática de mergulho livre. A prática de atividades em paralelo em um modelo de treinamento conhecido como cross training incrementam as capacidades atléticas. No cross training para mergulho livre, as modalidades como natação, corrida, yoga permitem ganhos de performance do atleta mesmo não praticando diretamente sua modalidade competitiva. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Estudar aspectos do treinamento de alto rendimento em mergulho livre no ambiente urbano. 2.2. Objetivos Específicos Comparar os métodos de treinamento em mergulho livre em literatura específica. Analisar dados obtidos em pesquisa por meios eletrônicos para inferir adaptações necessárias dos métodos vigentes no treinamento de alto rendimento em mergulho livre no ambiente urbano. 3. MATERIAIS E MÉTODOS No que tange aos recursos materiais a serem utilizados, pode-se citar: piscina semi-olímpica ou olímpica com profundidade entre 1,20m e 5,0m; dispositivomóvel com aplicativo para dispositivo móvel para treinamento de apneia a seco; equipamentos pessoais para mergulho livre (nadadeira, meias de neoprene, máscara, tubo respirador rígido, cinto com lastro, bóia de segurança, presilha para nariz); academia para as atividades físicas como para fortalecimento muscular, natação, alongamento, pliometria, yoga e corrida. Para a avaliação de parâmetros fisiológicos é necessário o uso de equipamentos para ergoespirometria, oximetria, além de frequencímetro. Sugere-se o uso de registro em vídeo para melhor apreciação dos resultados e desempenho do atleta, tanto em ambiente terrestre quanto aquático. As atividades físicas no programa de treinamento incluem: prática de corrida, pliometria, fortalecimento muscular, natação, yoga, alongamento específico, apneia a seco, além do treinamento de apneia estática e dinâmica em piscina, bem como das técnicas de equalização de espaços corporais aéreos, fortalecimento de musculatura específica e condicionamento dos reflexos respiratórios. Observa-se que a literatura especializada está, em grande parte em língua francesa ou inglesa e há raros conteúdos técnicos em língua portuguesa. Da literatura encontrada na língua materna, pode-se verificar que trata-se, em sua maioria, de conteúdos relacionados ao spearfishing, ou seja, pesca submarina, ou simplesmente pesca sub. É importante salientar que o esporte de mergulho livre tem peculiaridades que não se aplicam à prática do spearfishing, mas apresentam alguns pontos comuns no treinamento. A revisão bibliográfica restringirá-se a conteúdos relacionados diretamente ao esporte de mergulho livre, exclui-se portanto os conteúdos específicos de spearfishing, tanto da literatura impressa quanto conteúdos digitais. Como palavras-chave em buscas digitais, utilizará-se os seguintes termos: “mergulho livre”, “mergulho em apneia”, “freediving”, “freediving technique”, “narcosis apnea”, “plongée”. Além de artigos publicados em revistas eletrônicas, buscar-se-á conteúdos em manuais de mergulho das certificadoras mundiais como Performance Freediving International (PFI), Professional Association of Diving Instructor (PADI) e Association Internationale pour le Développement de l'Apnée (AIDA). Serão necessários dados de VO2 máximo, pCO2, pO2, capacidade pulmonar total para o estudo do efeito do treinamento nos parâmetros fisiológicos, que deverão ser coletados e analisados periodicamente. O Brasil tem apresentado ao longo da história atletas com destacado desempenho internacional. Atualmente, por meio do sítio da AIDA, é possível visualizar os atletas em atividade. O presente estudo contempla uma fase de coleta e análise, com auxílio de recursos computacionais, de dados de atletas brasileiros de alto rendimento em mergulho livre por meio de formulários eletrônicos padronizados com perguntas fechadas com o objetivo de comparar com a literatura previamente consultada. Quanto à coleta de dados em campo, utilizar-se-á os mesmos parâmetros já utilizados em literatura específica, bem como na fase de coleta de dados por meios eletrônicos, por meio de formulário em papel para posterior análise. 4. CRONOGRAMA Item Atividade Mê s 1 Mê s 2 Mês 3 Mê s 4 Mê s 5 Mê s 6 Mê s 7 Mês 8 Mê s 9 Mê s 10 Mê s 11 Mê s 12 1 Revisão de Literatura 2 Levantamento de dados por meio de base de dados públicos na Internet 3 Estudo dos parâmetros fisiológicos 4 Coleta de dados de atletas brasileiros de alto rendimento em mergulho livre 5 Análise de dados com uso de sistema computacional 6 Coleta de dados em campo 7 Análise dos dados coletados com uso de sistema computacional 8 Revisão textual 9 Desenvolvimento do Relatório Final 10 Apresentação Final do Projeto 11 Publicação 5. RESULTADOS ESPERADOS O mergulho livre pode ser considerado um esporte seguro mas oferece riscos intrínsecos à atividades realizadas em meio aquático que devem ser considerados em um programa avançado de treinamento. A impossibilidade de treinamento com a frequência desejada para obtenção de ganhos de rendimento esperados pode tornar-se um fator de frustração e desistência por parte do atleta. Entretanto, por meio do presente trabalho espera-se apresentar opções viáveis para treinamento de alto rendimento em mergulho livre, ainda que em meio urbano e distante das dimensões de profundidade, pressão, temperatura, entre outros fatores, oferecidas pelo ambiente marítimo. Por meio de subsídio teórico e resultados práticos, atletas interessados no esporte podem se beneficiar por meio de um treinamento especializado dentro das inúmeras possibilidades que o meio urbano oferece. REFERÊNCIAS ADIR, Y.; BOVE, A. A. Lung injury related to extreme environments. European Respiratory Update, 2014. Disponível em: <https://cyberleninka.org/article/n/1228644.pdf>. Acesso em 5 de fev 2019. AIDA: International Association for the Development of Apnea. Worldwide freediving community. Disponível em: <https://www.aidainternational.org/> Acesso em: 4 fev 2019. AIDA Brasil. Regras. Disponível em: <http://www.aidabrasil.com.br/2-regras-gerais-competicoes-aida-brasil-atleta-e-organ izador/>. Acesso em: 04 fev 2019. BRASIL Mergulho. Mergulho em Apneia: da Resposta Fisiológica às Complicações. Augusto Marques, 28 mar 2003. Disponível em: <http://www.brasilmergulho.com/mergulho-em-apneia-da-resposta-fisiologica-as-com plicacoes/>. Acesso em 4 de fev 2019. COOK, A. Freediving: The basics for the absolute beginner. Kindle Edition, 2014. EDMONDS, C.; MCKENZIE B.; THOMAS, R. Diving and Subaquatic Medicine. 5th ed., Free Internet Edition, 2013. Disponível em: <http://www.deepdivingacademy.it/corsisubtorino/download/Carl-Edmond.pdf>. Acesso em 5 de fev 2019. EICHINGER M. ;WALTERSPACHER S.; SCHOL T. et al. Lung hyperinflation: foe or friend? European Respiratory Journal, 32: 1113-1116, 2008. Disponível em: <https://erj.ersjournals.com/content/32/4/1113.short> Acesso em: 5 fev 2019. MARCHESE, E.; MULLER, F. How to Freedive: A beginners guide to apnea diving: How to reach 100 feet on one breath; a guide to the art and science of breath hold freediving. Josh Allsop, 2015. MARTINS, F. 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