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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP FABIO LEMOS CURY Apontamentos sobre as taxas judiciárias: análise crítica à luz da Constituição Federal Mestrado em Direito São Paulo 2016 120 5 A QUESTÃO DAS TAXAS JUDICIÁRIAS Cuidamos em item precedente (naquele que tratou da garantia do acesso à jurisdição) sobre certa visão orientada no sentido de que as taxas judiciárias deveriam ser gratuitas; em que pese respeitosas, fato é que historicamente a atividade jurisdicional é prestada mediante remuneração. Muito além disso: a institucionalização da cobrança das taxas judiciárias, é dizer, a existência de um regime propriamente tributário, significa grande avanço, já que com isso se buscou evitar que a remuneração de magistrados e oficiais em regime privado orientasse o desfecho da ação judicante. Eis a preocupação de se haver inserido, na Magna Charta de 1215, disposição que preconiza: “To no one will we sell, to no one deny or delay right our justice”. Assim comentam HAMILTON DIAS DE SOUZA e MARCO AURELIO GRECO225 em parecer sobre a natureza jurídica das custas judiciais: Notem-se os termos usados: “a ninguém venderemos (will we sell) direito ou justiça! Vale dizer, com isto se consagrava o princípio de que a administração da justiça não é algo que se compra, da qual, portanto, decorre o pagamento de um preço; não é algo que se vende exatamente por ser um direito do indivíduo, obter o pronunciamento judicial [...] A razão determinante de uma eventual entrega de dinheiro não é mais uma convenção, mas passa a ser a própria a lei que a estabelece Historicamente, portanto, por curioso que pareça, a ação tributária sobre o serviço judiciário significou uma evolução: institui-se contraprestação por meio de taxa pelos serviços de administração da justiça a quem compareça perante os órgãos dependentes poder Judiciário ou de qualquer outra ordem estatal que dispensem a tutela e salvaguarda do ordenamento, em definição próxima daquele de GABRIEL GIAMPIETRO BORRAS226. 225 SOUZA, Hamilton Dias de; GRECO, Marco Aurelio et al. A natureza jurídica das custas judiciais. São Paulo: OAB/SP/Resenha Tributária, 1982. p. 69. 226 “El fundamento justificante de las tasas judiciales reside en la prestación por el Estado de un servicio de administración de justicia hacia quien comparece ante sus respectivos órganos dependientes del Poder Judicial o de cualquier otro orden estatal, es decir que dispensan un servicio de tutela y salvaguardia del ordenamiento jurídico” (GIAMPIETRO BORRÁS, Gabriel. Las Tasas en la Hacienda Pública. Montevideo: Biblioteca de Publicaciones Oficiales de la Facultad de Derecho y Ciencias Sociales de la Universidad de la Republica, Montevideo, 1959. p. 585). 121 Vejamos, pois, algumas das principais distinções, regimes jurídicos e especificidades dessas taxas vis a vis todos os pressupostos teóricos fixados até esse ponto. 5.1 Despesas, custas e emolumentos Os textos de direito positivo em matéria processual são pródigos em referências aos termos “despesas”, “custas”, “emolumentos” e “taxas”. As expressões, entretanto, são utilizadas nesse contexto sem maior precisão científica, marca na natureza técnica da linguagem de que se vale o legislador, cravejada não raro de expressões equívocas, plurívocas, vagas ou ambíguas227. “Custas” é um termo comumente associado ao somatório dos valores despendidos para andamento de um determinado processo. Essa é sua noção ordinária ou corrente, tal como a empregam os próprios textos de direito positivo. A propósito dessa delimitação menos precisa de que parece se valer muitas vezes o legislador vale visitar a proposição DE PLÁCIDO E SILVA228: CUSTAS. Na técnica judiciária é geralmente o vocábulo empregado no plural. Deriva-se do latim constare (custar, ter o preço, ter o valor), designando a soma de despesas ou o dispêndio que se tem no andamento de um processo. Dessa forma, custas, a rigor da tecnologia jurídica, são as despesas do processo ou os encargos decorrentes dele, desde que fixados ou tarifados em lei. Serve, assim, de designativo geral para determinar toda sorte de despesa processual autorizada em lei, tenha a denominação própria, ou as denominações especiais de comissões, percentagens, emolumentos, rasas. Pata que como custas se considerem as despesas, tanto basta que sejam derivadas do processo, de atos nele praticados ou decorrentes dele, desde que legalmente autorizados, não somente na lei de custas como na própria lei que determina a prática do ato ou da diligência. Desse modo, custas ou despesas do processo compreendem-se todo encargo ou ônus decorrente da demanda e assumido para atender o pagamento das comissões, emolumentos ou taxas atribuídas às pessoas que praticaram os atos necessários ao curso do processo, não somente porque tenham sido previstos nos regimentos de custas, seja porque se 227 Assim alerta DANIEL MENDONÇA: “Es evidente que una de las razones por la que la determinación del significado de los enunciados contenidos en los textos legales presenta dificultades y supone en ocasiones una elección entre múltiples alternativas radica en la circunstancia de que raramente los términos y expresiones empleados son unívocos” (MENDONCA, Daniel. Interpretación y aplicación del derecho. Universidad de Almería, 1997. p. 40). 228 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. p. 595. 122 tenham apresentado indispensáveis à prática dos mesmos atos e diligências realizadas no processo ou em consequência dele. Qualquer despesa judicial relativa ao processo, entende-se custa, pois se mostra um encargo do processo, consequente de ato executado porque se mostrou necessário ao cumprimento da finalidade [...] Como se vê, a expressão é adotada nessa acepção amplíssima como verdadeiramente indistinta das “despesas” e mesmo das “taxas”. ANTÔNIO SOUZA PRUDENTE229, em artigo sobre o tema, aponta que de longa data as custas vêm associadas aos valores pecuniários impostos ao vencido em litígios. Assim na Constituição de Zenão, bem como no direito justinianeu ou mesmo no medievo e no primitivo direito germânico. Mas o interessante é que o cotejo da Doutrina estrangeira levou referido Autor a encontrar nas “custas judiciais” gênero, de que seriam espécies as taxas judiciais e os desembolsos: Nos tempos atuais, de acordo com a doutrina alemã, as custas processuais são de duas espécies: custas judiciais e extrajudiciais. As custas judiciais (Kösten, Gerichtskösten) subdividem-se em dois grupos: I) as taxas judiciais, percebidas pelo Estado; e II) os desembolsos que o mesmo Estado realiza, para o cumprimento de diligências, pagamento de viagens e funcionários judiciais, despesas com peritos e testemunhas. As “custas extrajudiciais são os honorários de advogado, de procuradores e despesas feitas pelo litigante, para defesa de seus direito. “Estas seriam ruma relação de direto privado”, conforme destacam Rosemberg e Goldschmidt. Referido Autor, assim, conclui que as taxas judiciárias são espécies do gênero de “custas”, o que faz com sustento na orientação do Supremo Tribunal Federal230, para o qual “as custas, conceituadas como espécie de taxa, ou como outra qualificação na órbita jurídica, consistem, sempre, não há negar, especial retribuição devida ao Estado em razão de prestação de serviço público”. Ainda nesse tocante, exerceu grande influência sobre a doutrina nacional o voto do Ministro MOREIRA ALVES proferido na Representação nº 1.094-5/SP231, na qual a Corte Suprema posicionou-se pela natureza tributária (taxas) das custas e 229 PRUDENTE, Antônio Souza. Custasprocessuais. Revista de Direito Tributário, São Paulo: Malheiros, v. 65. p. 96/97. 230 Rp 895, Relator(a): Min. DJACI FALCÃO, Tribunal Pleno, julgado em 13/06/1973, DJ 23-11-1973 PP-08898 EMENT VOL-00931-01 PP-00094 RTJ VOL-00067-03 PP-00327. 231 Rp 1094, Relator(a): Min. SOARES MUNOZ, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 08/08/1984, DJ 04-09-1992 PP-14090 EMENT VOL-01674-03 PP-00532 RTJ VOL-00141-02 PP-00430. 123 emolumentos. Para o mencionado Ministro se poderia falar em “taxa judiciária”, que “é a taxa que se adstringe aos serviços forenses” [...] “ao passo que as custas e emolumentos (denominados, as mais das vezes, com relação às retribuições pelos atos extrajudiciais, como emolumentos apenas) dizem respeito às despesas de movimentação dos atos judicias ou extrajudiciais e ao salário ou remuneração dos serventuários cartorários”. Sucede que de longa data o direito positivo nacional trata a questão de maneira diferente. Assim, o Código de Processo Civil de 1973 (Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973) dispunha em seu art. 20, § 2º, que “as despesas abrangem não só as custas de atos do processo, como também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração de assistente”. A disposição veio renovada pelo artigo 84 do Código de Processo Civil de 2105 (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015), que estatui “as despesas abrangem as custas dos atos do processo, a indenização de viagem, a remuneração de assistente técnico e a diária de testemunha”. Claramente, portanto, o direito positivo adota um gênero: o de despesas, em sentido amplo, de que são espécies as custas judiciais e os emolumentos e as despesas em sentido estrito232. Esse é, aliás, entendimento que a doutrina processualista costuma adotar233: As despesas abrangem custas, emolumentos e todos os gastos com diligências e atos processuais, tanto que o art. 20, § 2º, assim dispõe [...]. Custas significam as despesas com os atos processuais e que se calculam segundo a lei ou regimento de custas. Emolumentos, por outro lado, têm o sentido de salário ou remuneração: aquilo a que tem direito o funcionário forense ou o auxiliar do juízo, como, verbi gratia, o perito, ou o assistente técnico. Quanto ao vocábulo despesas, o Código o emprega para abranger tudo quanto deva ser pago no processo, excluídos apenas os honorários advocatícios. As despesas distinguem-se das custas ou dos emolumentos, como o gênero, da espécie. As custas constituem matéria de direito tributário, visto que são devidas à Fazenda Pública ou ao serventuário da Justiça como remuneração pelos serviços prestados aos litigantes. 232 Esse é, também, o critério adotado por LEONARDO CARNEIRO DA CUNHA. CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 111 233 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 1997. p. 314. 124 Há que se abrir um parêntese. Sucede que, como preleciona HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, “entre os gastos necessários que a parte faz no processo figuram os honorários pagos a seu advogado. Em sentido amplo, são uma espécie do gênero despesas processuais, portanto”234, e isso mesmo que a ordem processual civil discipline de maneira apartada a questão dos honorários de sucumbência. Maus uma das espécies do gênero das despesas, os honorários de sucumbência se consideram de natureza indenizatória e são conaturais à condenação (e, mesmo inexistente a condenação, serão estipulados em condenação autônoma)235. Tal como sucede com as demais despesas processuais em sentido amplo os honorários se regem pelo princípio da sucumbência, de sorte que cabe à parte vencida ressarcir a vencedora dos gastos que antecipou236. Cerrando o parêntese referente aos honorários, temos que a solução adotada pela doutrina processual civil é adequada: despesas (instituto de direito processual) em sentido amplo exprimem todos os possíveis ônus que as partes, em relação processual possam incorrer. Espécies de despesas são as custas processuais e emolumentos (estes que podem ser extraprocessuais, como, por exemplo, aqueles devidos às serventias extrajudiciais, desvinculados da ideia de despesa), que são taxas devidas pela prestação de serviço público judiciário; já as despesas em sentido estrito exprimem aquelas relações obrigacionais de direito processual civil que instituem às partes tais como, por exemplo a remuneração de perito judicial (art. 95, do Código de Processo Civil em vigor). Há, por fim, os honorários de sucumbência (art. 85, do Código de Processo Civil em vigor). Eis os termos que aqui se utilizam. E a distinção é importantíssima, já que à segregação das custas e emolumentos como as únicas espécies de despesas correspondentes às taxas se 234 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 46ª ed. Rio de Janeiro: forense, 2007. p. 104. 235 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. Volume 1. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 108. 236 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 46ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 100. 125 aplica o regime de direito tributário, como bem esclarece CASSIO SCARPINELLA BUENO237: As “custas processuais” são as chamadas “taxas judiciárias”, tributos que incidem como contraprestação ao serviço forense. Elas devem ser instituídas por lei e devem obedecer o “modelo constitucional tributário”. E as regras que disciplinam a apuração e recolhimento das custas e emolumentos não se devem confundir, absolutamente, com aquelas que tratam das despesas processuais. Quer-se com isso advertir que, quando a legislação processual estabeleça, por exemplo, que a parte vencida (ou proporcionalmente vencida) deva restituir à contraparte o correspondente às despesas em sentido amplo em que incorreu (ou seja, restituir-lhe, no todo ou em parte, valor de pode abranger custas ou emolumentos), não se está, absolutamente, regendo matéria tributária. Não: o que se está disciplinando é uma relação de direito processual por norma autônoma, independente da norma tributária. Exemplos de disposições dessa natureza é o art. 86 do Código de Processo Civil, que estipula o dever de distribuição proporcional das despesas entre as partes simultaneamente vencedoras e vencidas. Da mesma maneira o artigo 87 determina a distribuição proporcional de despesas e honorários, além dos artigos 88 a 97 do mesmo diploma, que se referem à distribuição entre as partes dos ônus das despesas (lato sensu) de uma determinada demanda. É evidente, assim, que o autor, vitorioso, não pode pleitear a repetição das custas que antecipou para ingresso da ação diante do dever que a legislação tributária adjudica ao réu sucumbente: são relações jurídicas distintas. A relação tributária já consumada impôs ao autor o recolhimento das custas iniciais, como condicionante ao exercício de seu direito de ação. Satisfeita a obrigação, nada mais há que se rever nesse tocante. Já a segunda relação jurídica é de natureza privada, 237 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. Volume 5: Recursos, processos e incidentes nos tribunais, sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões jurisdicionais. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 64. 126 que disciplina legítima reparação do réu ao autor por ter este necessitado valer-se da jurisdição diante da resistência à sua fundada pretensão. Tais limites hão de ser cautelosamente definidos já que a interferência da ordem processual civil na disciplinade matéria tributária poderia culminar em vício de inconstitucionalidade, em especial a formal, por afronta ao artigo 146, III, alíneas “a” e “b”, da Carta Política; bem assim implicar numa indevida invasão à competência tributária dos Estados quanto à instituição das taxas correspondentes aos serviços que prestam. Em que pese a distinção desses regimes jurídicos, é relevante esclarecer que a legislação processual influencia superlativamente o regime das custas judiciais; nem poderia ser de outra forma, já que somente se poderá tributar pelas taxas os serviços (atos processuais) instituídos pela legislação processual. É como já se afirmou tópicos acima quando se tratava do exercício da competência tributária das taxas: é necessário que haja a instituição – por lei – dos serviços a serem prestados ou postos à disposição do contribuinte, que essa legislação seja satisfeita ainda de regência administrativa (alocação de dotações orçamentárias, designação de servidores etc.) para que somente então tenha cabimento a instituição das taxas. 5.2 A natureza tributária (taxas) das custas judiciais e emolumentos Feitas as devidas distinções entre os conceitos de despesas, custas e emolumentos, cabe reforçar a natureza tributária dessas últimas duas figuras. Vimos nos tópicos antecedentes que o que qualifica um tributo como taxa é sua natureza vinculada (referibilidade) à prestação de um serviço público específico e divisível, efetivamente prestado ou posto à disposição do contribuinte. E malgrado alguma discussão no passado acerca da natureza jurídica das custas processuais, é dizer, das taxas cobradas pela prestação do serviço judiciário, não nos parece haver dúvida possível quanto à sua qualificação como taxas. Com efeito, marca do processo civilizatório é a instituição de função jurisdicional ligada a um poder constituído; a institucionalização desse poder no 127 Estado e o monopólio da atividade jurisdicional (ainda que com certas poucas e muito circunstanciais exceções) são imperativos de pacificação social. Nesse sentido é que a atividade jurisdicional se impõe como substitutiva da atividade dos particulares, conforme explanam CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO e BRUNO CARRILHO LOPES238: Pelo aspecto técnico a atividade jurisdicional é sempre substitutiva das atividades dos sujeitos envolvidos no conflito, a quem a ordem jurídica proíbe a autotutela. Seja quando o sujeito aspira a um bem negado pela pessoa que lho podia dar (p. ex., pretensão a uma soma de dinheiro etc.), seja nos casos em que o processo é o único caminho para obtê-lo (p. ex., anulação de casamento), a atividade jurisdicional é sempre substitutiva de alguma atividade das pessoas. Os atos excluídos de autotutela são substituídos pela atividade do juiz, que, com imparcialidade, verifica se o sujeito tem ou não razão e, por ato seu, propicia-lhe a obtenção do em na primeira dessas hipóteses. Concentrar no Estado – e só no Estado – o poder de implementar o cumprimento coercitivo do ordenamento é a maneira de afastar as expectativas normativas em relação às condutas intersubjetivas de circunstâncias subjetivas de poder que poderiam levar à inaplicabilidade prática das normas. Não por outra razão é que JOSÉ ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE afirma ser a garantia da eficácia prática do direito a marca essencial da jurisdição estatal239, o que ocorre mesmo quando diante dos ditos procedimentos de jurisdição voluntária, quando o que se tem é o exercício de certos direitos condicionados – compulsoriamente – a uma afirmação estatal específica por meio da jurisdição, senão vejamos240: Também nos chamados procedimentos de jurisdição voluntária, o que ocorre é a intervenção de um órgão público (juiz) na relação jurídico- substancial, caracterizando evidente restrição à disponibilidade dos direitos por seus titulares. Nesses casos, poder-se-ia falar em direitos privados, com conotação pública, pois o Estado, embora não assuma a sua defesa, preocupa-se com seu exercício. Com efeito, são extremamente restritas as possibilidades de autotutela no direito brasileiro, podendo-se citar o desforço possessório (art. 1.210, § 1º, do Código Civil), a legítima defesa, o direito de greve, o direito de retenção, o estado de 238 DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teria geral do novo processo civil. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 78/79. 239 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz. 7ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 32. 240 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz. 7ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 36. 128 necessidade, o privilégio do Poder Público de executar seus próprios atos, a guerra241 etc. Em todo caso, contudo, a atuação particular é submetida à possibilidade de controle e revisão jurisdicional. Não é demais rememorar que o artigo 345 do Código Penal define como crime o exercício arbitrário das próprias razões. É dizer, o forçoso recurso ao Poder Público do Estado, em uma de suas dimensões (Judiciário) para fazer valer direitos subjetivos, não apenas é inescapável, como constitui crime a pretensão de se o fazer por outras vias. Senão por que teria a doutrina cunhado a difundida expressão da “inevitabilidade” da Jurisdição? A resposta é intuitiva, e reside na obrigatoriedade de recurso ao serviço Judiciário para composição de conflitos e mesmo para a pronúncia de certos direitos (jurisdição voluntária): 242 Consequência direta dessa relação de sujeição entre o jurisdicionado e o Estado é a inevitabilidade da jurisdição estatal, que outra coisa não e senão a inevitabilidade do próprio Estado ou do poder estatal como um todo. Em parecer que se prestou a instruir a Representação nº 1.094-5/SP perante o Supremo Tribunal Federal, que acabou enfim reconhecendo natureza tributária às custas judiciais e extrajudiciais, HAMILTON DIAS DE SOUZA e MARCO AURELIO GRECO243 atentam para a inafastabilidade da jurisdição e sua compulsoriedade: Destarte, se o exercício da força não está originariamente (salvo em casos excepcionais, como, por exemplo, o desforço possessório) em mãos dos particulares, para a solução dos conflitos de interesse que surjam, eles são obrigados a recorrer a o Judiciário, portanto, se apresenta, como algo inarredável, obrigatoriamente a ser atendido, se alguém pretende fazer valer, no plano fático, os direitos de que é titular [...] Se o particular não pode sponte própria satisfazer ao seu interesse, mas é compelido indiretamente que seja à utilização do aparato estatal, não se pode falar em voluntariedade do vínculo ou da relação jurídica daí decorrente, pois o ordenamento jurídico não deixa alternativa à ação particular. 241 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 18ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2016. p. 166. 242 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. Volume 1: teoria geral do processo de conhecimento. 9ª ed. ver. Atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 78. 243 SOUZA, Hamilton Dias de; GRECO, Marco Aurelio et al. A natureza jurídica das custas judiciais. São Paulo: OAB/SP/Resenha Tributária, 1982. p. 69. 129 Assim, é evidente que toda e qualquer ação jurisdicional, longe de ser mera faculdade, é em essência marcada pela compulsoriedade. Uma compulsoriedade em sentido bilateral: por um lado, tem-se o dever do Estado, por meios próprios, de prestar tal serviço sempre que provocado; e, por outro lado, o cidadão não possui como regra nenhuma outra forma de composição de seus litígios que não pela via jurisdicional, sendo que as poucas exceções sãoainda sujeitas a revisões e execuções pela via jurisdicional. A compulsoriedade não é diferente quando se trata dos emolumentos de registradores e notários. Com efeito, o artigo 236, da Carta Política estabelece que “os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”. O § 2º do referido artigo determina, aliás, que lei federal estabelecerá normas gerais de fixação dos emolumentos referentes aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. Afirmando categoricamente que as serventias exercem função pública, JOSÉ AFONSO DA SILVA244 esclarece que a distinção é que a atividade das serventias constitui “serviços de ordem jurídica ou formal”. Nas palavras do próprio autor: Os prestados pelas serventias do foro extrajudicial são serviços de ordem jurídica ou forma, por isso têm antes a característica de ofício ou de função pública, mediante a qual o Estado intervém em atos ou negócios da vida privada para conferir-lhes certeza, eficácia e segurança jurídica; por isso, sua prestação indireta configura relegação de função ou ofício público, e não concessão ou permissão, como ocorre nas hipóteses de prestação indireta de serviços materiais – consoante justa observação de Celso Antônio Bandeira de Mello. Ou seja – conforme Frederico Marques: o registro público desempenha uma função de administração pública de interesses privados. A regulamentação do disposto no artigo 236 da Constituição Federal se dá por meio da Lei nº 8.935, de 18/11/1994, que estabelece a competência aos Notários e Registradores para garantia da “publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (art. 1º). Já a Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015, de 31/12/73) estabelece em seus dois primeiros artigos a exclusividade das serventias extrajudiciais para a prática desses atos. 244 SILVA, José Afonso. Comentário contextual à constituição. 9ª ed., atualizada até a emenda Constitucional 83, de 05.08.2014. São Paulo: Malheiros, 2014. p. 898. 130 Assim, tal como sucede com a atividade jurisdicional, as serventias extrajudiciais são monopolistas de serviço público (ainda que exercido em caráter particular): não há qualquer espaço fora da compulsoriedade, nem na prestação desses serviços (há de se prestar), assim, como, para o cidadão, não há alternativa à sua utilização. Assim, por exemplo, para que se transfira entre vivos a propriedade de bem imóvel é condição sine qua non a averbação do título no Registro de Imóveis (art. 1.245, do Código Civil). De igual forma, pretendendo levar a juízo prova consistente em sons gravados em arquivos eletrônicos ou pré-constituir a existência de fato, deverá a parte cuidar de lavrar ata notarial em Tabelião (artigo 384 do Código Civil): pode-se até conseguir realizar a prova por outros meios, mas nenhum outro meio que não a ata lavrada pelo tabelião lhe faz integralmente vezes. Queremos com isso, portanto, concluir que tanto os emolumentos devidos pelas “serventias extrajudiciais” quanto as custas processuais são taxas. São taxas porque correspondem a serviços públicos prestados pelo Estado (ou por ele delegados, no caso das serventias extrajudiciais), em regime de direito público, com claríssima nota de compulsoriedade. Trata-se, ademais, de serviço específico e divisível. A definição se amolda perfeitamente às premissas que fixamos ao tratar da regra-matriz das taxas, havendo, pois, tranquilidade para concluir dessa maneira. De mais a mais, as taxas correspondentes às custas e emolumentos adequam-se à perfeição ao conceito de tributo vigente no ordenamento pátrio bem exposto, em linhas gerais, pelo artigo 3º do Código Tributário Nacional. A Doutrina, aliás, há muito sedimentou esse entendimento. Destarte, em relação às custas, aponta GUSTAVO SAMPAIO VALVERDE245: É inobjetável que os serviços de natureza forense enquadram-se, com precisão, nesse conceito. A sua prestação visa oferecer ao administrado uma utilidade consistente no oferecimento de meios para que ele possa 245 VALVERDE, Gustavo Sampaio. A inconstitucionalidade da base de cálculo das custas judiciais. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo: Dialética, n. 47. p. 35 e 36. 131 exercer seus direitos constitucionais ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (Constituição Federal, artigo 5º, incisos LIV e LV) no âmbito de um procedimento jurisdicional. Por outro lado, o regime de oferecimento desses serviços será sempre público [...] verifica-se, portanto, que as custas pertencem à categoria das taxas de serviço. Já no que diz respeito aos emolumentos, IVES GANDRA DA SILVA MARTINS246 afirma categoricamente: “os emolumentos são taxas, correspondentes a serviços públicos específicos, divisíveis, cobrados mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. E isso porque constituem serviço público marcado pela compulsoriedade tanto em sua prestação pelo Estado, por intermédio dos notários e registradores, quanto aos particulares, que não se podem valer de outro expediente para atingimento desses mesmos fins. Assim também entende a jurisprudência, notadamente a partir do julgamento da já referida Representação nº 1.094/SP247 pelo Supremo Tribunal Federal, a qual contou com analítica fundamentação por parte do Ministro MOREIRA ALVES e com a apresentação de já citado parecer de HAMILTON DIAS DE SOUZA e MARCO AURÉLIO GRECO, além de IVES GANDRA DA SILVA MARTINS. Por fim não é demais ressaltar que a Emenda Constitucional nº 45, de 08/12/2004, ao acrescentar o § 2º ao art. 98, da Constituição Federal, estabeleceu serem as custas e os emolumentos “destinados exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça”, reforçando sua natureza tributária de taxa pela referência (no sentido de referibilidade) expressa entre a exação e o serviço judiciário. Não se deve furtar ao apontamento de que tal classificação não é bizantinismo. Trata-se em essência da identificação dos contornos dos institutos em questão para fins de atribuição ao regime jurídico que lhes é próprio. Assim, sendo 246 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Natureza tributária de emolumentos notariais - competência das esferas federativas para impor tributos. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo: Dialética, n.29. p. 71-83, 1998. p. 79 e 80. 247 Rp 1094, Relator(a): Min. SOARES MUNOZ, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 08/08/1984, DJ 04-09-1992 PP-14090 EMENT VOL-01674-03 PP-00532 RTJ VOL-00141-02 PP-00430. 132 taxas, as custas judiciais e emolumentos atraem para si todas as limitações postas e pressupostas ao regime tributário em geral e ao regime das taxas em particular. 5.3 Problemas das taxas judiciárias quanto ao critério quantitativo da regra- matriz de incidência tributária Sustentamos linhas atrás que o critério material das taxas de serviço está indissociavelmente vinculado a uma prestação estatal, isto é, a um serviço prestado em regime de direito público de utilização compulsória, específico e divisível, efetivamente prestado ou efetivamente posto à disposição de um determinado sujeito. Trata-se da conformação estrutural, o “DNA” das taxas cujo sequenciamento parte do artigo 145, inciso II, da Constituição Federal. Asseveramos também que o aplicativo da regra-matriz de incidência permite a visão ampla dos elementos-chave de todo e qualquer tributo; e que a verdadeira prova de fogo de sua compatibilidade ao sistema constitucional (é dizer, o que deve nortear a análise de seu regime jurídico e sua pertinência ao sistema tributário) é a confrontação de seu critério quantitativo (a conjugação de suabase de cálculo e alíquota ou mesmo alíquotas ad valorem ou ad rem quando possível) com o critério material. Em suma a compatibilidade desses critérios – aqui recapitulados em breves notas – exprime aquele chamado princípio (e que preferimos tomar por critério) da referibilidade das taxas: para que se tenha taxa ou para que, sendo taxa, seja ela harmônica ao sistema constitucional, é imprescindível que seu critério material reflita o mais precisamente possível o custo do serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte. Não havendo tal adequação, não há constitucionalidade possível à exação. Não é outra a razão pela qual o § 2º do artigo 145 da Carta Política preconiza que “as taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos”: não é em condição própria do contribuinte que se deve buscar o elemento definidor do critério quantitativo de uma taxa, mas sim em característica própria do serviço prestado e rende ensejo à sua instituição. 133 Tais quadrantes constitucionais, entretanto, não impediram que no direito positivo se desenvolvesse uma cadeia de positivação que relativizou tais conceitos, admitindo, a nosso ver por uma questão de praticabilidade, certos temperamentos e concessões para admitir critérios tomados dos destinatários do serviço público e que apenas remetem, ainda que presumivelmente ou de forma indireta, ao preço do serviço. E tal particularidade gera certos problemas, e decerto que entre as taxas exigidas em contraprestação ao serviço judiciário em geral, é dizer, as custas e emolumentos, se podem encontrar alguns dos exemplos mais vívidos de uma aparente desconciliação entre tais critérios quantitativo e material da regra-matriz de incidência constitucional. O mais notório desses casos é a utilização do valor da causa ou da condenação como base de cálculo para a instituição das taxas judiciárias, seja para instituição de uma alíquota sobre ela incidente, seja para o estabelecimento de uma pauta escalonada a título do tributo que se considera devido consoante a variação do valor da causa ou condenação248. Assim, por exemplo, quanto às taxas exigidas pelo Judiciário estadual paulista, nos termos da Lei nº 11.608, de 29/12/2003, com suas alterações pela Lei nº 15.855, de 02/07/2015, tem-se, consoante seu artigo 4º, que as custa iniciais são devidas ao percentual de “1% (um por cento) sobre o valor da causa no momento da distribuição” ou na falta desta antes do despacho inicial, bem como “4% (quatro por cento) sobre o valor da causa”249 como preparo da apelação e do recurso adesivo 248 É o que se passa, por exemplo, com a Lei nº 18.695, de 22/12/2015, que disciplina o regime das taxas judiciárias no âmbito do Estado de Minas Gerais. 249 Interessante notar que a alíquota das custas de preparo foram elevadas de 2% para 4% por meio da Lei nº 15.855, de 02/07/2015, cujo projeto (Projeto de Lei nº 112, de 2013), em sua justificativa, não disfarça o propósito de desincentivar, por meio dessa majoração, a interposição de recursos pelos jurisdicionados. Afirma-se: “Por fim é inegável dizer que, a cada dia, torna-se mais clara a necessidade de modernização e agilização dos serviços judiciais [...]. Isto só poderá ser alcançado com as modificações ora propostas, a redundar no aumento da arrecadação do Tribunal de Justiça Estadual e, possivelmente, na redução significativa da utilização desordenada de recursos meramente protelatórios”. O objeto desse estudo não pretende avançar sobre a pertinência da utilização das taxas com efeitos extrafiscais, em que pese ser possível afirmar (em razão da regra- matriz constitucional desses tributos) que seu critério quantitativo deva guardar sempre referência 134 (havendo pedido condenatório, o valor do preparo será calculado sobre o montante fixado em sentença), bem assim nos feitos de competência do Tribunal; além disso, há também as custas de 1% devidas quando satisfeita a execução. Há ainda uma peculiaridade, que consiste no fato de as custas possuírem um limite mínimo e máximo, a saber, o mínimo de cinco UFESPs (a unidade fiscal do Estado), bem como o máximo de três mil UFESPs. Para que se possa ter uma ideia em matéria de grandeza, uma UFESP para o período de 01/01/2016 a 31/12/2016 é de R$ 23,55250. Contudo existem ainda outros detalhes. Nos termos do § 7º do artigo 4º da mencionada legislação, nos inventários, arrolamentos e causas, separação judicial ou divórcio, a taxa é recolhida antes da adjudicação ou homologação da partilha; entretanto, isso se faz conforme uma tabela própria, que estabelece certas “faixas” em relação ao elemento quantitativo de acordo com os bens que integram o monte- mor partível: (1) em causas até R$ 50.000,00, o limite das custas é de 10 UFESPs; (2) tratando-se de causas com valor entre R$ 50.001,00 até 500.000,00 o limite para o montante a recolher é de 100 UFESPs; (3) nas causas de R$ 500.001,00 até 2.000.000,00 o limite é de 300 UFESPs; de R$ 2.000.001,00 até R$ 5.000.000,00 (4) de R$ 2.000.001,00 até R$ 5.000.000,00 a alíquota está limitada a 1.000 UFESPs; (5) nas causas acima de R$ 5.000.000,00 o valor limite das custas a recolher é de R$ 3.000,00 UFESPs251. (ainda que razoável) ao custo do serviço, não se admitindo, assim, majorações fundadas na pretensão de desincentivar a utilização de serviço público que a Constituição da República tenha estipulado como sendo de prestação pelo Estado. A majoração da taxa deve sempre referir-se a uma majoração de sua dimensão material, é dizer, o custo do serviço público, muito embora seja razoável admitir uma exigência tributária reduzida afim de estimular a utilização de certo serviço. 250 Disponível em: http://info.fazenda.sp.gov.br/NXT/gateway.dll/legislacao_tributaria/Agendas/ufesp.html?f=templates&f n=default.htm&vid=sefaz_tributaria:vtribut. Acesso em: 18/11/2016. 251 A razoabilidade nessa situação se quebra desde o princípio. Ora, se é admissível que o valor do monte-mor se refira, ainda que razoavelmente, ao correspondente serviço judiciário, se deveria admitir – pela mesma razão – que também esses valores fossem corrigidos ou atualizados. Não é, entretanto, o que acontece: ao passo em que os valores dos “limites” é atualizado, já que fixado em UFESPs, o valor do monte-mor foi estabelecido em moeda, sem qualquer previsão de atualização. Ou seja, considera-se um possível aumento do custo do preço do serviço (estipulando às taxas limites atualizáveis) ao passo em que o valor da causa é mantido em termos históricos. http://info.fazenda.sp.gov.br/NXT/gateway.dll/legislacao_tributaria/Agendas/ufesp.html?f=templates&fn=default.htm&vid=sefaz_tributaria:vtribut http://info.fazenda.sp.gov.br/NXT/gateway.dll/legislacao_tributaria/Agendas/ufesp.html?f=templates&fn=default.htm&vid=sefaz_tributaria:vtribut 135 No que diz respeito às custas devidas pelo serviço judiciário Federal a regência se dá pela Lei nº 9.289, de 04/07/1996. Ali, uma das diferenças é estipulação das custas em relação a todo o processo judicial de primeira e segunda instâncias. Assim, nos termos do artigo 14 da referida Lei, incumbe ao Autor o recolhimento de metade das custas por ocasião da distribuição, sendo que aquele que recorrer deverá adiantar a outra metade das respectivas custas. Há, também, na legislação em apreço, a instituição de uma tabela que predetermina patamares máximos e mínimos para o recolhimento das custas. Assim, verbi gratia as ações cíveis em geral estão sujeitas a custas de 1% sobre o valor da causa, limitada ao mínimo de 10 UFIRs (atualmente correspondente a R$ 10.64) e ao máximo de R$ 1.800 UFIRs. Nas ações cautelares e procedimentos de jurisdiçãovoluntária a alíquota de 0.5% incidente sobre o valor da causa está limitada na faixa que vai dos R$ 5 UFIRs (atuais R$ 5,32) aos 900 UFIRS (R$ 957,69). As custas exigidas em relação aos feitos da Justiça do Trabalho igualmente se pautam em percentual sobre o valor da causa ou da condenação à razão de 2%. Em situações de indeterminação do referido valor (como, no caso de valores indeterminados ou em ações declaratórias ou constitutivas) caberá ao magistrado sua fixação. Essas são as disposições do artigo 789, da Consolidação das Leis do Trabalho em sua contemporânea redação. Diferentemente do que sucede com a regra geral das custas na justiça estadual de São Paulo e na Justiça Federal, no caso da Justiça do Trabalho não há a antecipação das custas processuais no momento da propositura da demanda, sendo que são pagas pelo vencido após o trânsito em julgado da decisão; salvo no caso de interposição de recurso quando serão pagas, comprovando-se o pagamento no prazo recursal. De se destacar também, quanto à Justiça do Trabalho, a ausência de um limite máximo ao valor das custas processuais: as custas são ilimitadas, vinculadas sempre ao valor da condenação ou da causa. 136 Há outras tantas previsões acerca de custas e emolumentos nos âmbitos das justiças estaduais, federais e do Trabalho. Têm-se os emolumentos pagos aos Oficiais de Justiça, aqueles para obtenção de cópias etc252. Mas trataremos aqui apenas daquelas disposições mais problemáticas em relação aos critérios propostos ao debate; mesmo porque, dada a multiplicidade de legislações estaduais existentes, suas respectivas idiossincrasias, além da possibilidade de fracionamento da atividade judiciária a centenas ou milhares de atos passíveis de taxação independente, seria um engodo pretender esgotar todas as possibilidades. Pois bem. Os exemplos acima referidos colhidos do direito positivo vigente são suficientes à problematização que se pretende desenvolver, que se inicia com um questionamento simples: o valor da causa de uma ação ou mesmo o valor da condenação guarda relação com o critério material da taxa judiciária a ponto de lhe justificar a eleição? Seria esse um elemento válido a se adotar para composição do critério quantitativo desse tributo? Com efeito, o valor da causa não precisa corresponder necessariamente à expressão econômica bem da vida objeto da demanda, mas “é o valor que se pode atribuir à relação jurídica que se afirma existir sore o tal objeto”253; daí que “toda causa terá um valor certo, ainda que desconhecido o seu conteúdo econômico de aferição imediata, isto é, ao ensejo da elaboração e distribuição da petição inicial”254. Os artigos 291 a 293 do Código de Processo Civil estabelecem as condições para a determinação do valor da causa. 252 Em que pese não ser a tônica deste estudo o cotejo dos emolumentos devidos pelos atos das serventias extrajudiciais, é certo que sua sistemática é similar ao das taxas em questão. No Estado de São Paulo, por exemplo, nos termos do art. 7º da Lei nº11.331, de 26/12/2002, os emolumentos devidos para registro de uma escritura têm por base de cálculo o maior dos valores entre três hipóteses, a saber: (a) “o valor econômico da transação ou do negócio jurídico declarado pelas partes”; (b) o “valor tributário do imóvel, estabelecido no último lançamento efetuado pela Prefeitura Municipal, para efeito de cobrança de imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, ou o valor da avaliação do imóvel rural aceito pelo órgão federal competente, considerando o valor da terra nua, as acessões e as benfeitorias” ou, ainda; (c) “base de cálculo utilizada para o recolhimento do imposto de transmissão “inter vivos” de bens imóveis”. Sobre tais valores incidem as alíquotas, segundo tabelas estabelecidas na legislação. 253 THEORODO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 46ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 313. 254 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 210. 137 Destarte, verbi gratia em ação de cobrança, o valor deve corresponder à soma monetariamente corrigida do principal e seus acréscimos (artigo 292, inciso I, do Código de Processo Civil), bem assim em ação de alimentos, a soma de 12 prestações mensais (inciso III). Eis a lógica da determinação do valor da causa que tem diversas funções na ordem processual, passando desde a determinação de regras de competência até a fixação dos honorários de sucumbência. Consoante se pode denotar a uma análise conceitual dessa figura, pois, tem- se que o valor da causa é característica muito particular ao jurisdicionado, é dizer, ao destinatário do serviço judiciário que muito pouco – ou nada – diz sobre a natureza do serviço a ser exercido pelo Poder Público. Sobejam os exemplos que se podem suscitar: demandas multimilionárias envolvendo, por exemplo, interpretações de cláusulas contratuais podem ver seu desfecho em alguns poucos meses já que podem dispensar produção probatória. Assim também mandados de segurança e algumas ações anulatórias em matéria tributária não raro atingem valores extremamente expressivos nem e sequer discutem além de pura aferição de constitucionalidade. A todos esses casos, entretanto, o valor da causa – muitíssimo elevado – atrairá o valor das custas processuais próximo dos limites máximos estabelecidos pelas legislações que o prevejam. Vale o registro de que, perante a Justiça do Trabalho, inexistem esses limites; assim, ações que possuam valores muito expressivos – como é o caso daquelas envolvendo interesses difusos ou individuais homogêneos, por exemplo – serão objeto de custas em valores elevadíssimos, independentemente da natureza do serviço judiciário correspondente; agravando tal circunstância tem-se que a interposição de eventuais recursos estará condicionada ao recolhimento prévio da taxa correspondente. Ao passo em que situações desse jaez possam ser trazidas a título de exemplos comezinhos da prática forense, há também outros que exprimem situações diametralmente opostas. 138 Citam-se, assim, ações de usucapião relativas a imóveis modestos por vezes sequer objeto de matrícula individualizada, que pela própria natureza do procedimento a que estão sujeitas tendem a levar anos a fio. Bem assim não raras vezes procedimentos de inventário – ainda que diante de um monte-mor partível não muito expressivo – se arrastam por décadas em razão de disputas entre herdeiros. Enfim, o valor da causa contribui muito pouco para uma presunção segura acerca do custo do serviço prestado. Diz muito sobre o destinatário do contribuinte e sua capacidade contributiva (esta que em seu sentido estrito, como vimos, não se aplica às taxas), mas muito pouco acerca da referibilidade ao serviço judiciário que é prestado. E a precariedade da eleição do valor da causa ou da condenação (geralmente utilizada para determinação das custas de preparo), justamente por não permitir identificação de um vínculo com o conteúdo da atuação estatal específica a ser prestada no serviço judiciário, é alvo de acerbas críticas. É o caso de WALTER ALEXANDRE BUSSAMARA255, que aponta para a repugnância desse critério (do valor da causa) para o sistema tributário em vigor: Ora, o que estamos afirmando é que, por conhecermos as materialidades constitucionais possíveis das hipóteses de incidência das taxas, acabamos por desvendar, igualmente, mesmo que de forma indireta, as possíveis bases de cálculo constitucionais daquelas, que somente poderão corresponder à medida, então das atuações estatais específicas, ou seja, ao seu custo, de forma a cumprirem, justamente, com o primado informador da tributação por meio de taxas, representadopela precitada retributividade. Desta proposição, portanto, já podemos deixar consignada nossa primeira repulsa diante do atual modelo de cobrança de custas judiciais assentado que está, de forma geral, no critério do valor da causa. Com efeito, não há nenhuma correlação-lógica entre o valor da causa e o custo dos serviços que lhe são correspondentes... 255 BUSSAMARA, Walter Alexandre. Custas judiciais e as implicações de sua natureza (tributária) em sua forma de quantificação e em seu não recolhimento. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo: Dialética, n.195. p. 160-169, 2011. ISSN 1413-7097. p. 163. 139 Do mesmo jaez e contundência é a crítica de GUSTAVO SAMPAIO VALVERDE256, que sustenta a inconstitucionalidade das taxas judiciárias – todas elas – que tomem o valor da causa como critério quantitativo: Em resumo, sustenta-se que as custas judiciais, que têm como base de cálculo o valor da causa, são inconstitucionais, pois, tendo natureza jurídica de taxas, sua base de cálculo deveria confirmar a ocorrência e mensurar o fato jurídico tributário, nunca podendo ser determinada em função de um elemento a ele estranho. A bem da verdade tais posicionamentos nada mais são do que o reflexo da concepção estrita da referibilidade, no sentido de que qualquer característica ínsita ao destinatário do serviço público, é dizer, qualquer elemento que não seja vinculado diretamente ao serviço público que rende ensejo à instituição da taxa não pode absolutamente ser adotado como critério quantitativo da exação, sob pena de irremissível inconstitucionalidade257. Há, todavia, parcela da Doutrina que admite a tributação por meio das taxas judiciárias com base no valor da causa ou da condenação, o que se faz dentro de certos limites e por concessão ao princípio da praticabilidade tributária. É a posição de IGOR MAULER SANTIAGO258, que assim se posiciona em estudo já referido neste trabalho, afirmando que a praticabilidade deve afastar o “fundamentalismo exegético” em relação à exigência de perfeita calibragem entre o critério material das taxas e o serviço correspondente. Quando tratamos da aplicação da praticabilidade tributária às taxas fizemos referência à conclusão a que chegou o Supremo Tribunal Federal quando do julgamento do Recurso Extraordinário nº 576.321, precedente representativo que culminou na edição da Súmula Vinculante nº 29, que estabeleceu ser constitucional 256 VALVERDE, Gustavo Sampaio. A inconstitucionalidade da base de cálculo das custas judiciais. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo: Dialética, n. 47. p. 33-44, 1999. ISSN 1413-7097. p. 42. 257 Assim é o entendimento de BERNARDO RIBEIRO DE MORAES. MORAES, Bernardo Ribeiro de. Doutrina e prática das taxas. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 253. 258 SANTIAGO, Igor Mauler. Praticabilidade e Razoabilidade na Quantificação das Taxas. A Visão do Ministro Carlos Velloso. Comentários às Decisões Tomadas na ADIn-MC n. 1.772-7/MG e no RE n. 232.393-1. In: DERZI, Mizael Abreu Machado (coord.). Construindo o Direito Tributário na Constituição? Uma Análise da Obra do Ministro Carlos Mário Velloso. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. Disponível em http://sachacalmon.com.br/publicacoes/artigos/praticabilidade-e-razoabilidade-na- quantificacao-das-taxas/. Acesso em: 15.10.16. Páginas 3/4. 140 a adoção, “no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra”. Manifestamos, naquela oportunidade, nossa concessão ao argumento da praticabilidade, ainda que com certas ressalvas. Sói esclarecer que o entendimento da Corte Suprema acerca das taxas que conduziu à Súmula Vinculante nº 29 também tem sido aplicado em relação às taxas judiciárias. Ou seja, a Corte Suprema tem aceitado a eleição do valor da causa como elemento passível de compor o critério material da regra-matriz de incidência das taxas; desde que respeitados certos limites. Ao julgar a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade nº 1 772/MG, por exemplo, entendeu a Corte Suprema que a taxa judiciária não pode se instituir de maneira gravosa a ponto de inviabilizar o acesso à justiça; mais ainda, há a “necessidade da existência de limite que estabeleça a equivalência entre o valor da taxa e o custo real dos serviços, ou do proveito do contribuinte”259. Mesmo a despeito das críticas feitas pela Doutrina acerca de utilização do valor da causa como mecanismo de possível para instituição da taxa judiciária, entendemos que pela consideração do princípio da praticabilidade tributária de que cuidamos no tópico 4.4 deste estudo trata-se de uma prática em princípio admissível. No entanto essa admissibilidade não se dá de maneira pura e simples. Há limites a se considerar. É preciso, em primeiro lugar, que o critério adotado permita, com alguma razoabilidade, estimar o custo dos serviços a serem prestados, de maneira que não se ignore a noção de referibilidade que é conatural, inerente às taxas. A existência de um limite, considerada a eleição de uma base de cálculo apenas presumivelmente referível ao serviço a ser prestado, é igualmente imperiosa, 259 ADI 1772 MC, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 15/04/1998, DJ 08- 09-2000 PP-00004 EMENT VOL-02003-01 PP-00166. 141 já que do contrário se assumiria a obstância do exercício de fundamental direito (aliás, de fundamental garantia) de acesso à jurisdição em razão do elevado custo das taxas. É, sem dúvida, o que pode ocorrer em casos submetidos à legislação do Trabalho, mas que as custas processuais não possuem qualquer limitação. E não é só. A praticabilidade tributária é circunstancial: situa-se numa relação espaço-temporal, ou seja, é de se admitir certas concessões ao rigor exegético em prol da praticabilidade em função da impossibilidade ou da hercúlea dificuldade em exigir-se prática mais afeita ao critério material do tributo em dado momento da evolução técnica e dadas as condições materiais de uma dada sociedade. Releva saber se tais condicionantes estão, efetivamente, atendidas pelas legislações em vigor. E nossa conclusão é, para um contingente expressivo de situações pontuais tais como os exemplos citados acima, de que não. Malgrado as atuais possibilidades decorrentes da informatização, que permitem uma racionalização sem precedentes dos serviços judiciários é razoável conceber que exigir a precificação dos serviços judiciários em precisão matemática a todos os usuários desses relevantíssimos serviços ainda não é uma realidade factível. Por outro lado, os mecanismos de gestão atualmente aplicados pelo Judiciário têm permitido uma aferição profunda dos custos gerais do serviço judiciário, informações das quais é possível se valer para uma reflexão mais profunda e apropriada acerca da sistemática das custas atualmente em vigor. Exemplo do que se afirma são os relatórios anualmente publicados pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ que traçam um perfil detalhado acerca dos custos da atividade judicial em âmbito nacional e estadual, assim como perante as justiças especializadas. Tais informações provavelmente de impossível aferição precisa quando da histórica instituição do sistema de taxação por meio do valor da causa decerto 142 podem contribuir para uma melhor segmentação do montante a ser recolhido, diga- se, por fases processuais específicas. Seria evitada, assim, uma generalização tal (o recolhimento de valor estanque para toda uma primeira instância judicial, por exemplo), que se prejudique a razoabilidade entre o valor recolhido e o serviço correspondente em situações específicasde extinção prematura da demanda. Mais que isso, as informações atualmente levantadas por meio de relatórios dessa natureza permitiriam a estipulação de recolhimentos em momentos distintos a depender da natureza do procedimento judicial. Adequações desse jaez tornariam a tributação por meio das taxas, ainda que a partir da base de cálculo correspondente ao valor da causa ou da condenação, mais próximas do atendimento ao cânone da referibilidade por conferir maior razoabilidade à sua cobrança. Há que se estabelecer uma lógica de razoabilidade entre os valores presumidos a partir do valor da causa e a o serviço que se espera seja prestado. Sempre que essa razoabilidade puder ser posta em xeque, o que há e uma tributação assentada em bases presumidas que antes mesmo de atender à praticabilidade acabará por gerar situações de litígio justamente em sentido contrário à facilitação buscada por meio da utilização desse expediente. Generalizações excessivas (como a prática de exigência de 1% como correspondente a todo um serviço judiciário da primeira instância) comprometem – em situações tais como as expostas acima – a razoabilidade pontual da adoção de critério quantitativo fundado na praticabilidade, justificando o socorro ao Judiciário para a aferição da adequação desses critérios ao caso. 5.4 Alguns problemas das taxas judiciárias quanto ao critério temporal da regra-matriz de incidência tributária 5.4.1 A antecipação das custas processuais frente à inexistência da prestação jurisdicional correspondente (ou sua prestação menor do que a estimativa utilizada como critério para quantificação do tributo antecipado) 143 Como sustenta ANTÔNIO SOUZA PRUDENTE260, “as custas processuais, na sistemática vigente, regem-se pelos princípios da antecipação ou do adiantamento das despesas e da responsabilidade objetiva do vencido” em relação à sucumbência. Com efeito, o artigo 82 do Código de Processo Civil em vigor estabelece que, exceção feita à gratuidade de justiça, “incumbe às partes prover as despesas dos atos que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do direito”. A disposição não inova significativamente à ordem processual anterior no que importa a este estudo; exceção feita à disposição do § 1º do artigo 19 do anterior Código de Processo Civil quando determinava que “o pagamento de que trata este artigo será feito por ocasião de cada ato processual”. Em se tratando dos procedimentos de jurisdição voluntária, a lógica da antecipação também se faz presente. Assim as disposições do artigo 88 do Código de Processo em Civil em vigor dispõe (tal qual dispunha o anterior, em seu artigo 24) que as custas são adiantadas pelo requerente e rateadas entre os interessados. Relevante apontar que essa lógica não se aplica à dinâmica das custas devidas na Justiça do Trabalho; decerto, naquele caso, conforme o artigo 789, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho, as custas são pagas pelo vencido após o trânsito em julgado da decisão ou, havendo recurso, dentro do prazo recursal. Também em fase de execução as custas – de responsabilidade do executado – são pagas ao final. Há antecipação, portanto, apenas em relação ao preparo recursal. De efeito, consoante se tratou no item 3.4 deste trabalho, ao discorrer sobre o critério temporal das taxas, admite-se em certos casos que o recolhimento do tributo preceda o serviço público ao qual se refere. Exemplo que ali se referiu foram as taxas devidas pela expedição de passaportes: primeiro o destinatário do serviço 260 PRUDENTE, Antônio Souza. Custas processuais. Revista de Direito Tributário, São Paulo: Malheiros, v. 65. p. 98. 144 público recolhe o valor devido; apenas posteriormente é que a prestação pública realmente se executa. E não há óbice em relação a isso: mas apenas não há na medida em que esteja respeitada a materialidade da exação. Não há liberdade para atribuição deste ou daquele momento como aquele apto à ocorrência do fato jurídico tributário, notadamente quando isso – em efetivos termos – não pode ter ocorrido ou porventura, na prática, se materializar irrealizável. Vejamos o que se dá com a legislação que dispõe sobre os serviços públicos de natureza forense no Estado de São Paulo (Lei nº 11.608, de 29 de dezembro de 2003). Ali se determina que as custas iniciais sejam recolhidas no percentual correspondente a 1% sobre o valor da causa no momento da distribuição ou, na falta desta, antes do despacho inicial, regra aplicável também às reconvenções e oposições; a mesma lógica vale para os casos de preparo da apelação e recurso adesivo, bem como em feitos de competência originária do Tribunal. Vejamos a disposição: Artigo 4º - O recolhimento da taxa judiciária será feito da seguinte forma: I - 1% (um por cento) sobre o valor da causa no momento da distribuição ou, na falta desta, antes do despacho inicial; essa mesma regra se aplica às hipóteses de reconvenção e de oposição; II - 4% (quatro por cento) sobre o valor da causa, nos termos do artigo 511 do Código de Processo Civil, como preparo da apelação e do recurso adesivo, ou, nos processos de competência originária do Tribunal, como preparo dos embargos infringentes; (NR); III - 1% (um por cento) ao ser satisfeita a execução. Questão semelhante é a que se dá com a legislação federal, em que a Lei nº 9.289, de 4 de julho de 1996, estabelece a necessidade de antecipação do valor das custas iniciais logo na distribuição do deito: Art. 14. O pagamento das custas e contribuições devidas nos feitos e nos recursos que se processam nos próprios autos efetua-se da forma seguinte: I - o autor ou requerente pagará metade das custas e contribuições tabeladas, por ocasião da distribuição do feito, ou, não havendo distribuição, logo após o despacho da inicial; II - aquele que recorrer da sentença adiantará a outra metade das custas, comprovando o adiantamento no ato de interposição do recurso, sob pena de deserção, observado o disposto nos §§ 1º a 7º do art. 1.007 do Código de Processo Civil; (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1060 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1045 145 III - não havendo recurso, e cumprindo o vencido desde logo a sentença, reembolsará ao vencedor as custas e contribuições por este adiantadas, ficando obrigado ao pagamento previsto no inciso II; IV - se o vencido, embora não recorrendo da sentença, oferecer defesa à sua execução, ou embaraçar seu cumprimento, deverá pagar a outra metade, no prazo marcado pelo juiz, não excedente de três dias, sob pena de não ter apreciada sua defesa ou impugnação. Havendo harmonia com os demais critérios da regra-matriz, efetivamente não nos parece – necessariamente (é dizer, para todas as taxas, em todas as circunstâncias) – incompatível o estabelecimento do elemento temporal dessa exação logo antes da realização do serviço público já solicitado pelo contribuinte/usuário. Tratando-se de um instrumento de praticabilidade que torna mais factível a precificação do serviço público com bases estimativas, ganha-se de um lado na facilitação da tributação e na possibilidade de abrangência de um número maior de circunstâncias a partir de uma regra de maior subjetividade; abre-se, por outro lago, o flanco a questionamentos decorrentes de situações particulares, que, como se pode ver, não são propriamente poucas. Sucede que em dadas hipóteses tal antecipação – preconizada pela legislação processual civil e, como não poderia ser diferente,seguida pela legislação própria das taxas – se manifesta incompatível com a regra-matriz constitucional de incidência desses tributos. De fato, nos parece ser assaz discutível a antecipação da taxa judiciária para toda uma primeira fase da jurisdição (que se desenvolve até a fase recursal, quando novas taxas – os preparos – serão recolhidas) quando não se sabe ao certo qual será a extensão da correspondente ação estatal. Vale lembrar que uma demanda pode chegar a ser proposta e extinta por inúmeras razões, mesmo antes da determinação de citação da contraparte (citem- se, v.g., as hipóteses de indeferimento da petição inicial de que tratam o art. 330 do Código de Processo Civil – Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, bem como algumas hipóteses do art. 485 do mesmo diploma, tais quais a constatação de 146 perempção, litispendência ou coisa julgada, bem assim a desistência da ação e a morte da parte em ações consideradas intransmissíveis por disposição legal). Outro exemplo pode se dar em fase recursal. A Lei nº 11.608, de 29/12/2003, com suas alterações posteriores, do Estado de São Paulo, institui as custas de preparo para recursos de apelação e recursos adesivos (além dos processos de competência originária do Tribunal) no percentual de 4% sobre o valor da causa ou da condenação. Sucede que o artigo 1.007 do Código de Processo Civil em vigor estipula que o recolhimento dessas custas (preparo) deve ser comprovado no ato de interposição do recurso. E são inúmeras as possibilidades factuais de que um recurso interposto possa jamais chegar a ser julgado pelo Tribunal – em certas hipóteses nem sequer distribuído. Há a sempre presente possibilidade de composição entre os litigantes, o eventual reconhecimento de deserção pela insuficiência das custas ou mesmo pela singela interposição da peça processual fora do prazo legalmente previsto. Em todas essas situações e em tantas outras que se pode conceber exemplificativamente, contudo, ter-se-á recolhido importância destinada a um serviço (prestação jurisdicional em segunda instância) que poderá jamais ocorrer ou ser prestado de forma superlativamente mitigada, tanto em tempo quanto em complexidade. Em hipóteses tais quais as aventadas acima é intuitiva a conclusão de que o recolhimento correspondente a um serviço público (não compulsório) que não foi efetivamente prestado acabou remunerado como se prestado fosse; enfim, se o que se tem aí não é apenas um problema de inconstitucionalidade quanto ao critério temporal da exação, mas, igualmente – e por vias reflexas – um grande problema em relação ao critério quantitativo. Ora, tendo as custas iniciais sido fixadas, como se viu no exemplo da legislação paulista acima, no percentual de 1% sobre o valor da causa ou, ainda, no caso do preparo, em 4% do valor da causa ou da condenação, tem-se que esta é a estimativa legal para o custo relativo a toda a correspondente atividade jurisdicional; no caso da primeira instância, passando pela fase postulatória, instrutória até o saneamento, sentença e recebimento de eventuais recursos. Já em segunda 147 instância, presume-se que o valor do preparo esteja hábil a custear todos os recursos passíveis de manejo perante o Tribunal. É, aliás, o que expressamente afirma o artigo 2º da já referida Lei nº 11.608, de 29/12/2003: Artigo 2º - A taxa judiciária abrange todos os atos processuais, inclusive os relativos aos serviços de distribuidor, contador, partidor, de hastas públicas, da Secretaria dos Tribunais, bem como as despesas com registros, intimações e publicações na Imprensa Oficial. A partir dessas premissas pode-se concluir que um prematuro abreviar da demanda posta – por exemplo, pela inépcia da inicial ou a realização de acordo entre as partes antes da citação – aborta ou precocemente encerra a prestação do serviço jurisdicional correspondente, senão totalmente ao menos em relação a uma muito significativa parte de sua estimada extensão que justificou o arbitramento de uma base de cálculo tal como essa de 1% do valor da causa. Há ainda um exemplo mais comum e que, no mais das vezes, passa despercebido, consistente na antecipação do valor das custas judiciais em desacordo com a materialidade da exação. Trata-se das hipóteses do recolhimento de custas processuais de preparo – ou seja, taxas – pelo serviço jurisdicional a ser prestado pelos tribunais superiores, como é o caso do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal em caso de interposição, v.g., de Recurso Especial e de Recurso Extraordinário, respectivamente. Em ambos os casos, a legislação processual determina que as custas sejam recolhidas e comprovadas desde o ato da interposição, seguindo a lógica antecipatória que orienta as custas processuais civis em geral. Sucede que, por diversas razões, esses recursos poderão jamais chegar ao destino esperado pelo recorrente, que são as Cortes de Superposição. É que tais recursos são interpostos ainda perante o tribunal recorrido, dirigidos a seu respectivo presidente ou vice-presidente (art. 1.029 do Código de Processo Civil), a quem caberá realizar o juízo prévio de admissibilidade do recurso interposto (artigo 1.030 do aludido Código). 148 Sem desejar esmiuçar questão atinente à específica seara processual, cabe, apenas para se compreender a situação posta, rememorar que, nos termos do inciso I do artigo 1.030 do Codex processual, o próprio tribunal de origem poderá negar seguimento ao recurso, seja porque (i) o recurso extraordinário trate de questão em que já se tenha entendido inexistente repercussão geral ou que estejam em desconformidade com entendimento já firmado pela Corte Suprema em regime de repercussão geral; ou (ii) porque o recurso extraordinário ou o recurso especial se insurjam contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento firmado em regime de recursos repetitivos. Mais que isso, a presidência ou vice-presidência pode encaminhar o feito para retratação caso o acórdão divirja e entendimento fixado em regime de repercussão geral ou recursos repetitivos (inciso II do já mencionado artigo 1.030 do Código de Processo Civil); sem falar na possibilidade de sobrestar o recurso que trate de matéria objeto de recurso repetitivo ainda não decidida, para aplicação posterior do entendimento firmado ao caso (inciso III)261. A questão que interessa à nossa análise é que os valores do preparo recolhido para a interposição do Recurso Especial e do Recurso Extraordinário referem-se ao serviço judiciário prestado, respectivamente, pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, e não ao serviço judiciário do tribunal de origem, já remunerado pelo preparo incidente no recurso a si próprio destinado. Com efeito, a Lei nº 11.636, de 28/12/2007, que estabelece o regime de custas judiciais devidas no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, logo em seu artigo primeiro estabelece que suas disposições versam “sobre a incidência e a 261 O direito processual civil brasileiro passa por um momento de “paulatina ascensão das teorias dos precedentes, alicerçadas em alguma teoria da argumentação jurídica, e o gradual declínio daquelas baseadas exclusivamente na autoridade do órgão que profere a decisão” (LIMA FILHO, Eduardo Neves. O uso dos precedentes judiciais no Brasil: uma análise crítica a partir da teoria do direto e da argumentação jurídica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016. p. 179). O que se experimenta é uma aproximação, portanto, do sistema da common law ou, noutros dizeres, uma valorização do sistema de precedentes que impõe aos Tribunais o aumento do espectro de atribuições. Seria natural que tal aumento viesse acompanhado de uma racionalização das taxas incidentes sobre tais serviços. O que se vê, entretanto, é a manutençãoda concentração das taxas judiciárias (preparo) referentes às cortes de superposição recolhidas diretamente aos referidos Tribunais, mal refletindo a tendência de prestígio à admissibilidade feita em âmbito local. 149 cobrança das custas devidas à União que tenham como fato gerador a prestação de serviços públicos de natureza forense, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, nos processos de competência originária ou recursal”. De tal sorte que a taxa de preparo prevista pela interposição de Recurso Especial refere-se ao serviço que deve ser realizado pelo Superior Tribunal de Justiça, e não pelo Tribunal local. O mesmo se dá em relação ao Supremo Tribunal Federal, que tem seu regime de custas atualmente regido pela Resolução nº 581, de 08 de junho de 2106. Sendo certo que as custas são recolhidas com propósito específico de ver prestado o serviço “no âmbito” do Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, entretanto, parece problemática a antecipação das custas correspondentes em hipótese da negativa do juízo de admissibilidade prévia. Ocorre que a já mencionada legislação de regência das custas do Superior Tribunal de Justiça, isto é, a Lei nº 10.636/2007, é bastante expressa ao estabelecer a impossibilidade de restituição das custas quando se decline competência daquele Tribunal ou mesmo nos casos de abandono ou desistência do feito, bem como a transação que lhe ponha termo (artigos 8º e 11). O estranhamento em relação a essa prática não passa despercebido pela própria doutrina processual civil. Assim, FREDIE DIDIER JR.262. Comenta, acerca dessas disposições: “note que, embora se pague antecipadamente pelas despesas com a remessa dos autos, não será devolvido esse valor se a remessa não se realizar”. E o que aos processualistas causa estranhamento, a nós decerto há de conduzir à conclusão pela inconstitucionalidade, sendo inconcebível na ordem jurídica vigente a cobrança antecipada de taxas por um serviço que claramente pode não ser prestado. 262 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal. 13ª ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2016. p. 126. 150 Se a questão pode eventualmente passar ao largo de maiores preocupações por parte dos jurisdicionados, talvez em função dos valores comparativamente baixos dos preparos aos recursos destinados às Cortes de superposição; por outro lado há uma dinâmica cruel imposta ao mecanismo do próprio Judiciário, já que os Tribunais Superiores passam a haurir valores a título de taxas de serviço judiciário por milhares de recursos que podem não ser jamais recebidos, em especial diante da moderna técnica de valorização dos precedentes que tende a manter sobrestados em instâncias inferiores uma quantidade significativa de recursos. Noutros mais simples dizeres, a antecipação da taxa judiciária de maneira tal que a parcela adiantada corresponda ao custo estimado do serviço a todo e qualquer processo durante a primeira instância, por exemplo, autoriza a conclusão de que a razoabilidade que deve se exigir para a fixação do valor da taxa não se faz presente em situações-limite tais como a extinção prematura da lide. A questão se aproxima, a nosso ver, à substituição tributária “para frente” instituída pela Emenda Constitucional nº 3/1993, que introduziu no art. 150 da Constituição Federal seu § 7º. Cuida-se de mecanismo repelido contundentemente por parcela da doutrina, tal como ROQUE ANTONIO CARRAZZA263, que afirma: Para acautelar interesses fazendários, tributa-se, na substituição tributária “para frente”, fato que ainda não aconteceu (e que, portanto, ainda não existe e, em tese, poderá nunca vir a existir). Ora, a Constituição veda a tributação baseada em fatos de provável ocorrência. Para que o mecanismo da substituição tributária venha adequadamente utilizado é preciso que se estribe em fatos concretamente ocorridos; nunca em fatos futuros de ocorrência incerta. Essa é uma barreira constitucional inafastável, pois integra o conjunto de direitos e garantias que a lei Maior confere ao contribuinte. Sem pretendermos enfrentar a questão da constitucionalidade da Emenda Constitucional nº 03/1993, entretanto, é certo que o que o § 7º adicionado ao art. 150, da Constituição Federal garante “a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido”. Eis que exsurge a 263 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 448. 151 questão da inconstitucionalidade264 – por violação ao princípio da tipicidade e por ofensa às regras-matrizes constitucionais dos respectivos tributos –, a ocorrência do fato jurídico tributário com critérios materiais que levem a uma tributação efetiva menor do que a presumida, regida por “pautas fiscais” ou estimativas. Recentemente, aliás, o Supremo Tribunal Federal alterou o entendimento acerca deste tema, entendendo pela constitucionalidade da restituição do imposto pago a maior na hipótese de realização do fato jurídico tributário em valor menor do que o presumido. Trata-se do julgamento do Recurso Extraordinário nº 593.849/MG265, de relatoria do ministro EDSON FACHIN. Mutatis mutandis é o que entendemos possível ocorrer em situações tais quais a exemplificada acima (encerramento prematuro de demanda judicial ou do recurso, assim como o juízo prévio negativo de admissibilidade dos recursos às Cortes de Superposição) frente às custas judiciais correspondentes266. Vale ademais rememorar que as taxas judiciárias, conforme se demonstrou nos tópicos precedentes, não se amoldam à modalidade de taxas de polícia, para as quais eventual resultado negativo ou frustração do objetivo do destinatário da ação estatal específica são irrelevantes em relação à materialidade da exação. 264 Nesse sentido: VASCONCELLOS, Monica Pereira Coelho de. ICMS: Distorções e Medidas de Reforma – Série: Doutrina Tributária v. XIII. São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 104. 265 Embora ainda não publicado o Acórdão, o resultado foi disponibilizado no domínio eletrônico da Corte Suprema. Colhe-se, aliás, do voto do Ministro RICARDO LEWANDOWSKI: “A proibição de restituição do imposto pago a maior igualmente não se coaduna com os princípios constitucionais de natureza tributária aplicáveis à espécie. Em outras palavras, se o ICMS recolhido pelo contribuinte substituto apenas se torna efetivamente devido com a ocorrência do fato gerador, a inocorrência, total ou parcial deste, impõe que se faça a devida adequação da regra ao fato, sob pena de afronta aos princípios da moralidade, da legalidade e do não-confisco”. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=327683. Acesso em: 19.11.2016. 266 Releva destacar que a jurisprudência não favorece a repetição de custas em situações de prematuro encerramento das demandas. Assim, têm-se situações que se entende ter sido o serviço judiciário prestado – sem descer a quaisquer considerações sobre sua intensão ou extensão – (v.g. TJ-SP - AI: 990093019183 SP, Relator Desembargador CLÓVIS CASTELO, Data de Julgamento: 01/02/2010, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 05/02/2010 e TRF-1 - AR: 567474820134010000, Relator: Desembargadora Federal MONICA SIFUENTES, Data de Julgamento: 11/06/2014, Segunda Seção, Data de Publicação: 04/07/2014), bem como casos de singela referência às disposições legais acercas das leis de custas, sem enfrentamento do tema sob a ótica constitucional (v.g. TJ-RS - AGR: 70061113601 RS, Relator:
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