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1 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 Imunossupressores Tipos de imunidade Os imunossupressores atuam/modulam na imunidade adaptativa! Os anti TNF ficam numa interface entre anti inflamatório monoclonal e imunossupressor. Eles reduzem a resposta inflamatória, que pode ser provocada por mecanismo imune, auto imune. Já os imunossupressores reduzem a atividade/resposta imunológica. INATA • Barreiras epiteliais, fagócitos, céls. Dentríticas, sistema complemento, células NK. • É a primeira resposta imune após a invasão de um microrganismo e é uma resposta não específica. O organismo já tem mecanismos detectores para alguns tipos de moléculas que, uma vez que elas acessam o corpo, já existem respostas prontas para identificar e inativá-las. ADAPTATIVA • Resposta secundária específica a esse microrganismo ou essa proteína. • São sintetizadas/expandidas células com reconhecimento antigênico específico a esse antígeno invasor. Isso leva um tempo até as células serem ativas e, cerca de alguns dias, para de fato terem uma ação efetora. Etapas: 1. Reconhecimento de antígeno: Células reconhecedoras de antígeno precisam apresentá-lo aos linfócitos naive TCD4 e TCD8. 2. Linfócitos ativados começam a produzir citocinas, principalmente IL2. 3. Liberação de IL2 e ligação deste a outros linfócitos estimula a expansão clonal, a diferenciação e a liberação desses linfócitos para os tecidos periféricos para exercer de fato a função efetora de cada uma das células. Então, além de criar as células de memória, vai facilitar o reconhecimento desse antígeno em uma pós- infecção. Existem as células efetoras, que vão de fato ativar macrófagos e induzir linfócitos B a produzir anticorpos (matar diretamente as células infectadas). Tipos de transplante A resposta imune adaptativa funciona, na grande maioria das vezes perfeitamente, porém existem situações em que é preciso controlar esse efeito imune. • Doenças autoimunes: onde o corpo reconhece células e proteínas próprias como invasoras. Ex. artrite reumatóide, LES, psoríase. • Transplantes: onde há uma grande chance de o corpo reconhecer esse órgão transplantado como não sendo dele (um agente “invasor”). O MHC (?) quase sempre não é 100% compatível, a não ser que seja um gêmeo idêntico. • Autotransplante ou auto enxerto: em que a região de tecido do indivíduo é transplantada para outra região dele mesmo. A chance de rejeição é muito menor; 2 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 • Alo-enxerto ou alo-transplante: onde o material de um indivíduo é transplantado para outro indivíduo da mesma espécie; • Xenoenxerto ou xenotransplante: em que tecidos de uma espécie é transplantado para indivíduos de outra espécie. Importância dos linfócitos CD4 E CD8 Imagem: ilustra um gráfico que demonstra a importância dos linfócitos TCD4 e TCD8 em uma resposta imune. Principalmente nesse exemplo do gráfico acima, tem uma resposta a rejeição de enxertos. • Eixo Y: taxa de sobrevivência dos enxertos. • Eixo X: tempo após o transplante. Linha preta: representa o grupo controle, ou seja, representa os enxertos que foram transplantados aos animais sem administrar nenhum fármaco/tratamento. Isso mostra que demorou aproximadamente 15 dias para que os enxertos tivessem rejeição total, quando não tratados com nada. ❖ Anti-CD8: quando os animais foram tratados apenas com Anti-CD8, o comportamento de rejeição foi muito parecido, sem diferença estatística. ❖ Anti-CD4: aumentou o tempo de sobrevivência dos enxertos, a rejeição foi mais retardada. ❖ Anti-CD8 + anti-CD4: resposta de inibição do linfócito TANTO CD4 QUANDO CD8 → tempo de rejeição do transplante praticamente quadruplicou (passou de 15 pra 60), ou seja, a atividade dos linfócitos TCD4 E TCD8 em conjunto são fundamentais para resposta imune adaptativa. Resposta imune efetora Resposta efetora do sistema imune quando ele encontra o enxerto ou órgão/região que ele identifica como invasora. 1. O antígeno foi apresentado ao linfócito T. 2. O linfócito T se diferenciou. 3. Liberou citocinas, 4. Se diferenciou e chegou até o tecido. No tecido ele pode desempenhar diferentes funções: lise enzimática em células que fagocitaram proteínas próximas; aumentar a expressão do complexo de compatibilidade; pode ser citotóxico à célula/tecido em questão; pode funcionar como um alo-antígeno de MHC classe 1 ou classe 2 pra provocar danos a membrana; pode através do sistema complemento provocar lise a essa membrana e destruir esse tecido; ou seja, tem diferentes tipos de mecanismos efetores contra um órgão ou tecido identificado como invasor/não próprio. Imunossupressores São drogas que, por diversos mecanismos, inibem a resposta imune adaptativa, modificando o curso das doenças. Aplicação terapêutica • Transplantes de órgão e tecidos: renal, cardíaco, hepático e pancreático. • Doenças autoimunes: Artrite reumatóide, psoríase grave, uveíte, miastenia gravis, síndrome nefrótica e glomerulonefrite. Classes OBS.: Os antimetabólitos são antitumorais, porém, a azatioprina praticamente não é utilizado como anti- tumoral. 3 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 Glicocorticoides (prednisolona); inibidores da calcineurina (ciclosporina, tracolimus); anti- proliferativos (sitolimo); antimetabólitos (azatioprina, leflumide, metotrexato; ácido micofenólico); imunobiológicos - biofármacos (Muromonab-CD3, basilximabe e daclizumabe) Essas classes são divididas nessa forma porque por causa dos seus mecanismos: elas diminuem/impedem/ bloqueiam a ação/proliferação/ativação da resposta imune adaptativa. Cada classe dessa interfere em um fator, em um ponto daquela cascata de ativação e de efetividade do sistema imune adaptativo. • Inibidores da calcineurina: a calcineurina é uma proteína intracelular que estimula a liberação de IL-2, ou seja, se eu bloqueio uma proteína que é importante no processo de síntese da IL-2, e a IL-2 é a principal citocina que vai estimular a linfoproliferação, eu diminuo a produção de linfócitos, consequentemente diminuo a resposta imune adaptativa. • Antiproliferativo: O sirolimo inibe a linfoproliferação, não pela via da calcineurina, mas sim bloqueando outra via de linfoproliferação e também está relacionado ao IL-2. • Antimetabólitos: diminuem/impedem/modificam a produção de metabólitos importantes para a duplicação celular. No caso a Azatioprina, ela dificulta a produção de purinas. Se uma resposta imune precisa de alto índice de proliferação celular, ou seja, precisa de muito material para sintetizar novas células, se é reduzida a oferta de material, vão ser sintetizadas em menor quantidade. • Imunobiológicos: O anti-TNF também é um antibiológico; É um fármaco produzido a partir de proteínas que tem uma constituição similar ao anticorpo. São produzidos a partir de aminoácidos que constituem os anticorpos. 1. Basiliximabe e Daclizumabe: Anti IL-2, ou seja, ela vai bloquear a ligação do IL-2 aos linfócitos. Dessa forma, existe uma menor ativação dos mesmos e, consequentemente, menor linfoproliferação; 2. Monuromonab-CD3: é um anticorpo que se liga ao CD3, só que a sinalização do CD3, quando ativado, será uma via de destruição celular. Então o moromonab não irá impedir o linfócito de ser produzido ... ele estimula o linfócito a entrar em APOPTOSE diminuindo então a resposta imune. Antimetabólitos Azatioprina Foi a primeira droga imunossupressora utilizada para transplantes. O primeiro artigo mostrando a ação da Azatioprina foi em 1960. AZA é um pró-farmaco, uma droga que ainda não está farmacologicamente ativo, sendo necessária uma ação química, enzimáticaou não, que irá modificar a molécula para ela se transformar na substância ativa. Análogo da purina, que reage de forma não-enzimática com compostos sulfidrílicos, como a glutationa, formando 6-mercaptopurina. A Azatioprina é essa molécula superior, que sofre ação química, que cliva essa molécula nessa região convertendo-a na mercaptopurina (no fígado), o metabólito ativo da Azatioprina. Principais usos: transplante, artrite reumatóide, LES. Um artigo demostrou pela primeira vez a ação da 6- Mercaptopurina que é o metabólito da Azatioprina. Esse estudo foi realizado em coelhos e mostra o transplante de enxertos. Foi transplantado uma pele de orelha de um coelho para outro. No paciente não tratado, 20 dias depois o coelho apresentou um aspecto de rejeição. O coelho transplantado e tratado, após 24 dias, apresentou aspecto melhor a nível de aceitação, aparentemente sem mecanismo de rejeição. Gráfico - curva dose resposta. Foram tratados animais com diferentes doses - 6 mg, 10 mg/kg, 12mg /kg e observavam o tempo que esse enxerto demorava para ser rejeitado. O coelho controle mostrando que, aproximadamente, 8 dias após o transplante, 100% do enxerto estava rejeitado. Conforme a dose foi aumentado até 12 mg, o tempo para rejeição chegou a 1 mês. Mostrando assim a efetividade do medicamento. 4 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 MECANISMO DE AÇÃO INIBIÇÃO DA PRODUÇÃO DE PURINAS Esquema para explicar a ação da Azatioprina, mostrando que ela interfere na atividade da enzima HPRT - hipoxantina-guanina fosforibosiltransferase. Essa enzima apresenta a função de sintetizar, entre outras etapas, as PURINAS, ou seja, fornece para a célula uma informação - a adenina e a guanina - que ela precisa para formar seu novo material genético. O comprimido de Azatioprina é administrada; esse ativo sofre uma reação e se transforma no metabólito ativo Mercaptopurina, que funciona como um metabólito para a enzima HPRT (no sangue/órgão linfóide). Tal enzima converte a mercaptopurina em tioinosina monofosfato, que pode tomar 2 caminhos: (1) sofrer uma nova ação enzimática e funcionar como um inibidor da síntese de melasporinas ou (2) ser transformada em tioguanina de nucleotídeo e ser incorporada ao DNA de forma errônea, levando à apoptose. O linfócito que era para ser funcional (papel na resposta imune adaptativa), não irá funcionar. Muitas vezes nem chega a finalizar a divisão. FARMACOCINÉTICA É um fármaco muito bem absorvido por via oral, atinge a oxidação máxima em tempo de 1 a 2 horas; • O metabolismo é basicamente hepático provocado pela xantina oxidase (XO), que converte mercaptopurina em ácido tioúrico (6-TU). Uma interação medicamentosa importante é com o alopurinol (comum no tratamento de gota, reduz o ácido úrico) que é um inibidor de XO, substância que metaboliza a Azatioprina., Então se existe um fármaco que inibe a ação dessa enzima, irá inibir a metabolização do medicamento em questão. A consequência é o aumento da toxicidade, no caso da Azatioprina é uma toxicidade hepática. • A excreção ocorre por via renal; • Os principais efeitos adversos são supressão da medula óssea e hepatotoxicidade. A supressão da medula ocorre porque é uma região do corpo que ocorre muita síntese de DNA, produção hematopoiética grande. Dessa forma, essa supressão ocorre na maioria dos quimioterápicos. O uso combinado de azatioprina (antimetabólito) e prednisona (corticoide) foi a base de esquema imunossupressor entre 1960 e 1983. Necessário saber para a prova: ONDE ACONTECE, QUEM SÃO OS AUTORES, O QUE ELES PROVOCAM e QUAL A CONSEQUÊNCIA. Inibidores de calcineurina Esse medicamento irá promover a imunossupressão, sem negar ao linfócito o substrato essencial para a construção do mesmo. HISTÓRICO E DEFINIÇÕES • A ciclosporina veio como uma forma de revolucionar a imunossupressão clínica. Apesar de ter sido descoberta em 70, ela demorou 13 anos para ser aprovada, e quando foi aprovada substituiu o esquema básico de imunossupressão; • A imunossupressão de forma inadequada é responsável por um grande número de rejeições em enxertos e transplante. Então, deve-se controlar o nível de imunossupressão com exames de sangue, para garantir um número menor de rejeição; • A ciclosporina é polipeptídio cíclico. Os componentes das moléculas vão se repetindo ao longa da estrutura molecular. Ela foi isolada de fungos. 5 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 • O uso de Tacrolimus (FK506), um inibidor de calcineurina, que também é extraído de fungos, Streptomyces tsukabaensis. É um macrolídeo. Alguns antibióticos são macrolídeos; • Tacrolimus foi aprovado pelo FDA em 1994; • Tacrolimus é 100 vezes mais potente que a ciclosporina, ou seja, para atingir o mesmo efeito que a ciclosporina é necessário doses extremamente menores, porém também apresenta maior toxicidade. MECANISMO DE AÇÃO Função da calcineurina: é a CaN. Essa substância em condições normais, ou seja, sem supressão, está no citoplasma do linfócito T. Uma vez que o LT recebe o sinal para se proliferar e produzir IL2, ela vai liberar mediadores intracelulares que vão se ativar na calcineurina. Uma vez ligados e com a presença do íon cálcio, formará um complexo cálcio e calcineurina ativada, que vai desfosforilar um fator de transcrição nuclear chamado NF-ATc. Na imagem, é possível ver o fósforo saindo dessa molécula. O NF-ATc desfosforilado consegue acessar o núcleo do linfócito, e sendo um fator de transcrição, ele vai estimular algumas regiões nucleares a serem lidas. O NF-ATc é um fator que estimula a transcrição do gene IL-2 que irá atuar na proliferação. ❖ Inibição do CAN: se existe um bloqueio da formação do IL2 terá um bloqueio na proliferação; ❖ Ciclosporina (CsA) e Tacrolimus: os 2 fármacos inibem a calcineurina, porém formando complexos diferentes; ❖ Ciclosporina (CsA): quando entra no LT, se liga a uma imunifilina - ciclofilina (proteína do LT) e forma um complexo que bloqueia a ligação do cálcio a calcineurina. Se a calcineurina não é ativada, não fosforila o NF-ATc e não forma a IL2; ❖ Tacrolimus: inibe a calcineurina ao se ligar à proteína FKBP, que é um ligante proteico que vai se complexar com o tacrolimus. Esse complexo formado irá inibir a ativação da calcinuerina. Sem a calcinuerina ativada, não terá desfosforilação do NF-ATc e não terá transcrição da IL2. Necessário saber para prova: Se eu perguntar o mecanismo de ação dos tacrolimus, vocês vão ter que me falar o local que as coisas acontecem, o que vai deixar de acontecer e qual a consequência final disso. Não basta vocês falaram que o tacrolimus se liga a proteína FKBP resultando na diminuição da produção de IL2. Imagem: Ciclosporina e tacrolimus. Complexo ciclosporina ciclofilina, e o complexo tacrolimus FKBP. Acontece a inativação da calcineurina e, com isso, não há ligação do cálcio. Se não liga cálcio, o NFAT não é ativado e não estimula a transcrição de IL2. PARÂMETROS FARMACOCINÉTICOS • A absorção da ciclosporina e dos tacrolimus varia bastante de indivíduo para indivíduo. Pode variar de 4-89% de pessoa para pessoa, sendo em média de 20-25%. E é incompleta. • Cmáx de CsA e tacrolimus é alcançada em 1-4h e circula ligada a proteína plasmática, linfócitos e hemácias. • CsA e tacrolimus sofrem metabolização hepática (CYP3A), resultando em mais de 14 metabólitos. • Excreção hepática (biliar pelas fezes) e somente 6% é excretado por via renal. MONITORAMENTO FARMACOCINÉTICO NA IMU NOSSU PRESSÃO Gráfico abaixo: variabilidade possível das concentrações de ciclosporina. Cada linha preta é um paciente. Grande variação da biodisponibilidade. A linha vermelha de baixo representao paciente que teve a 6 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 menor biodisponibilidade, e a linha vermelha de cima representa o paciente que teve a maior biodisponibilidade. A janela terapêutica é de 150 até 400mg/ml, ou seja, tudo que for abaixo a chance de rejeição é maior, e tudo que for acima o impacto nefrotóxico é maior. INTERAÇÃO DE DROGAS • O clearance da CsA e tacrolimus é aumentado pela coadministração com indutores do CYP p450: Fenobarbitúricos, fenitoína ou rifampicina. Metabolização mais rápida. A ciclosporina e o tacrolimus são metabolizados pela CYP3E4. Quando esse fármaco é administrado com indutores enzimáticos, aumenta o clearance. Quando uma enzima é induzida a trabalhar mais por outros fármacos, o fármaco que é metabolizado por essa enzima vai ser metabolizado mais rapidamente, ou seja, vai ser eliminado mais rapidamente. • O clearance da CsA e tacrolimus é diminuído quando ele é administrado com inibidores do CYP p450: eritromicina ou cetoconazol. Quando coadministrado com inibidor enzimático, o clearance é diminuído. Então, aumenta a concentração plasmática e aumenta chance de o indivíduo ter um efeito tóxico. ▪ Administrado com um indutor: ❖ O indivíduo clinicamente pode ter rejeição; ❖ Concentrações plasmáticas baixas; ❖ É eliminado rapidamente. ▪ Administrado com um inibidor: ❖ Pode levar a uma toxidade, porque foi metabolizado mais lentamente. ❖ O clearance é menor. Concentrações elevadas de CsA e tacrolimus durante os primeiros 30 dias reduz marcadamente a incidência de rejeição aguda; Para o ciclosporina: ❖ Conc. < 150ng/mL → rejeição; ❖ Conc. > 400ng/mL → toxicidade. Para o tacrolimus: ❖ Conc. < 5ng/mL → rejeição; ❖ Conc. > 15ng/mL → toxicidade. EFEITOS ADVERSOS ▪ Nefrotoxicidade (tacrolimus > CsA); ▪ Neurotoxicidade (tacrolimus > CsA); ▪ Hipertensão; ▪ Susceptibilidade a infecções oportunistas. Imagem: microscopia de varredura do glomérulo de um animal que não fez uso da ciclosporina, comparado a um que fez por 14 dias. O que se nota é que o glomérulo vai perdendo sua estrutura funcional o que dá a característica de nefrotoxicidade. NEFROTOXICIDADE REVERSÍVEL Nível de creatinina sérica é um importante marcador da função renal. No gráfico, o paciente começou a fazer uso da ciclosporina e 2 anos depois o nível de creatinina estava super alto. Depois que foi tirada a ciclosporina, o indivíduo voltou a níveis normais de creatinina. USO TERAPÊUTICO Rejeição aguda a transplantes sólidos: renal, cardíacos, hepáticos, pancreáticos e pulmonar. Doenças Auto-imunes: psoríase graves, uveíte, síndrome nefrótica, artrite reumatóide, glomerulonefrite, diabetes tipo 1. Imagem: pessoa com psoríase antes e depois do uso de inibidores da calcineurina. 7 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 Antiproliferativos Se parar para pensar, a azetioprina também é anti- proliferativa, assim como os inibidores da calcineurina, porém, o mecanismo de antiproliferação do sirolimo é diferente. Sirolimo (Rapamicina) Aspectos gerais • Macrolídeo (anel cíclico grande, com diversos componentes) derivado do Streptomyces hygrospicus com estrutura similar ao tacrolimus; • Liga-se a uma imunofilina da família FK, mas não inibe a calcineurina; • Inibe a enzima mTOR, uma serina-treonina quinase (crítica para a transdução da sinalização da IL- 2). Os mecanismos conversam ente si, por isso é importante não confundir quanto aos mediadores, pois o final é comum, mas o meio não; • Inibe a proliferação e diferenciação dos linf. T; • Apresenta um sinergismo potente quando associado a outros imunossupressores: porque ele atua por via diferente, por exemplo, do inibidor da calcineurina, isso potencializa a imunossupressão. Para sinalizar a transcrição de um gene é preciso vários constituintes funcionantes, por isso não adianta a calcineurina fosforilar o NFAT, se a mTOR estiver inibida. MECANISMO DE AÇÃO mTOR é um sinalizador enzimático, uma quinase, que precisa estar atuante para que ocorra a transcrição do RNAm referente a produção de IL-2. O Sirulimo, quando se liga ao FKBP, a macromolécula criada não vai ter afinidade pela calcineurina, mas sim pela mTOR, inibindo-a. Essa inibição vai reduzir a transdução de sinalização de IL2. • FKBP + tacrolimus → gosta de calcineurina; • FKBP + sirulimo → não gosta de calcineurina. FARMACOCINÉTICA • Baixa absorção oral; • Metabolismo hepático pelo CYP450 3A4 (interação com drogas similar aos inibidores da calcineurina, pois interagem com a mesma enzima); • Meia vida longa (60 horas). U SO TERAPÊUTICO • Rejeição aguda a transplantes sólidos (renal e cardíaco principalmente, mas também pulmões e fígado); • Ação sinérgica com ciclosporina; A ação sinérgica se dá apenas com a ciclosporina, porque o Sirulimo vai competir pelo mesmo alvo, mesma enzima (FKBP) com o tacrolimus. Apesar do fato de que depois de formado o complexo eles irão agir em vias diferentes, eles vão competir inicialmente com a mesma enzima para formar seus complexos. • Sirolimo → FKBP -- mTOR --- IL-2: sinalização pós ...... independe a sinalização do antígeno. É tardio, • Ciclosporina → Ciclifilina -- NFAT --- IL-2 • Tacrolimus → FKBP -- NFAT ---- IL-2 EFEITOS ADVERSOS A maioria dos efeitos correspondem à atividade antiproliferativa... ▪ Trombocitopenia: redução da proliferação de plaquetas; ▪ Leucopenia: redução de leucócitos em geral; ▪ Hiperlipidemia (aumento de colesterol e triglicerídeos); ▪ Disfunção gastrointestinal: diminui a renovação do epitélio do TGI, gerando diarreia; ▪ Hepatotoxicidade: muito ligada ao metabólito que o Sirolimo gera; ▪ Vantagem: apresenta baixa toxicidade renal. Nefrotoxicidade do sirolimo vs ciclosporina em pacientes com transplante renal: O nível de creatinina nas primeiras semanas foi praticamente a mesma. A partir da 10º semana tem uma inversão da creatinina desses pacientes. O sirolimo fez o órgão transplantado ser melhor aceito. A ciclosporina é mais nefrotóxica - depois de diminuir, o nível de creatina volta a subir. 8 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 Imagem: mostra alguns tipos de imunossupressores e o local do ciclo celular que eles atuam. Para uma célula se dividir/proliferar ela precisa passar por essas fases e depois seguir para a divisão propriamente dita, transformando-se em duas células. “Vocês vão encontrar alguns outros quando forem estudar...” “se o senhor não disse, não existe!” O importante aí é entender o porquê que uma classe, seja antiproliferativa ou antimetabólita, se encaixam como imunossupressores. Assim como tem o inibidor das purinas (azatioprina), também tem o inibidor das pirimidinas, inibidor da síntese de GMP... Esse esquema mostra o resumo de tudo que foi visto A sinalização bloqueada pelo complexo tacolimus + FKBP é a via de sinalização pós célula apresentadora de antígeno. A via de sinalização inibida pelo sirolimo + FKBP é a via estimulada a partir a IL-2. Então, para um linfócito se proliferar ele pode receber diferentes estímulos, por exemplo, a apresentação de um antígeno por uma célula apresentadora de antígeno e a sinalização do IL-2. A célula apresentadora quando apresenta para o linfócito, o receptor ativado é o receptor T e as vias de sinalização ativadas são diferentes da do IL-2. Dentre as sinalizações pós apresentação tem a sinalização da calcineurina, uma fosfatase, que vai desfosforilar o fator de transcrição nuclear, NFAT. O NFAT ativado vai sinalizar, dentro do núcleo, para ativação da transcrição. Já a via do IL-2 independe da apresentação de antígenos, o que faz com que ela, provavelmente, seja ativadamais tardiamente, porque o antígeno já foi apresentado, os linfócitos já começaram a produzir IL-2 e o efeito cascata de IL-2 em novos linfócitos é sinalização através dos receptores de membrana, ativação da mTOR que vai estimular a linfoproliferação. OBS.: a maioria dos efeitos adversos dos imunossupressores são decorrentes de inibição de proliferação que não de células T. Então, esses fármacos não são seletivos a células T, o receptor usado pode ser encontrado em outras células. Imagem: mostra onde cada classe atua. Os antimetabólitos diretamente na etapa de expansão clonal e os ligantes de imunofilinas na ativação dos linfócitos, porque é fundamental a presença de IL-2. Imunobiológicos Muromonab-CD3, BasiliXimabe e DacliZumabe. Imunobiológicos são anticorpos que podem derivar-se de diferentes espécies. Então, pode ter os que são 100% de humanos ou podem ser feitos de forma quimérica, mistura de camundongos com o humano. 9 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 • Anticorpos são macromoléculas que tem uma cadeia invariável e uma porção variável (círculo verde). • Quando um imunubiólogico é 100% de murinos → Omanab. Ex.: murobonab. • Quando é quimérico, ou seja, porção constante humana e porção variável de murino → -xi-. Ex.: rituximab. • Quando tem anticorpo murino com a região determinante de complementaridade, é chamado de anticorpo humanizado → -zu-. Ex.: natalizumab. • Quando é 100% humano → -u-. Ex.: adalimumab. Existem anticorpos que agem como: ▪ Antagonista: vai se ligar ao receptor e vai impedir que o ligante acesse o sítio desse receptor, impedindo a sinalização intracelular. A maioria funciona assim, principalmente o Daclizumabe. ▪ Sinalização: funciona como agonista, vai se ligar no alvo molecular e vai sinalizar o que precisa ser sinalizado. ▪ Complemento dependente de citotoxicidade - CDC: funciona como uma ponte entre o receptor e o complemento. Uma vez que esse complexo é ativado, ativa a citotoxicidade, a lise celular. ▪ Citotoxicidade mediada por anticorpo: vai se ligar às moléculas do complemento, porém a fração instável vai ficar exposta par ligação à célula T. Célula T + imunobiológico + complemento = lise celular. O muromonab–CD3 (OKT-3) é um anticorpo monoclonal 100% murino dirigido contra o antígeno CD3 de células T humanas; Liga-se especificamente ao complexo CD3 na superfície do linfócito, levando a uma rápida remoção destas células a circulação. Quando o complexo CD3 é ativado, estimula-se a degradação dessa célula. Vai agir como um sinalizador, agonista. Utilizado principalmente para o tratamento da rejeição aguda a transplante (renal, cardíaco e hepático). Efetivo na rejeição aguda resistente a glicocorticoides. Existe uma grande combinação de imunossupressores para a rejeição de transplantes principalmente e que pode acontecer em determinados fármacos, como por exemplo, glicocorticóides. Devendo-se optar por outras alternativas para o tratamento. Com a introdução de uma macromolécula estranha no organismo, corre-se o risco de o próprio sistema imune reconhecer esse imunobiológico como estranho e desencadear uma outra resposta imune contra ele. Por isso, o grande desafio deles é reduzir as respostas imunes contra eles. O murobonabe tem uma característica interessante que é a de que aproximadamente 85% dos pacientes tratados com OKT-3 desenvolvem anticorpos humanos reativos anti-murino que, com o tempo, pode levar a taquifilaxia e neutralização do OKT-3. Assim, o próprio sistema imune encontra estratégias para neutralizar o anticorpo. Quanto mais extra-espécie for o anticorpo, maior a chance de o sistema imune querer combater. Os efeitos adversos mais comuns do OKT-3 incluem uma síndrome aguda clínica conhecida como Síndrome da Liberação de Citocinas (SLC). SLC, atribuída à liberação de citocinas pelos linfócitos T ativados. É caracterizada por sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo febre, tremores, dor de cabeça, náusea, vômitos, artralgia, fraqueza muscular e mialgia. Imagem: possibilidades pós ligação do anti-CD3. Então, após se ligar ao receptor existem dois caminhos: (1) Sinalização efetiva do fármaco de morte celular e diminuição do número de células T efetoras ou (2) pode haver a modulação antigênica, em que o linfócito T desativa receptores CD3 e/ou ele internaliza esse complexo formado, sem sinalizar a morte linfocitária. Quanto maior o tempo, maior a chance do indivíduo se adaptar e desenvolver respostas ao imunobiológico. Basiliximab e Daclizumab • São anticorpos monoclonais dirigidos contra o receptor da IL-2 (CD25) de células T humanas; • Ambos funcionam como antagonistas se ligando ao receptor IL-2, impedindo que a 10 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Imunossupressores – Aula 5 molécula se ligue e sinalize a produção de mais IL-2, divisão celular; • Basiliximab é um anticorpo quimérico com constituição proteica 25% murina e 75% humana; • Daclizumab é anticorpo humanizado com constituição proteica de 90% humana; • Ligam-se especificamente a porção alfa do complexo CD25, na superfície dos linfócitos ativados, bloqueado a sinalização da IL-2; • Administração por via intravenosa em quase 100% dos casos; Meia vida longa ❖ Basiliximab → 7 dias ❖ Daclizumab → 20 dias Pelo fato de o Basiliximab ter mais frações murinas e, por isso, o organismo montar meios para tirar esse anticorpo, sua meia vida se torna menor. U SO TE RA PÊUT ICO DOS IMUNO SSUP RESSO RES EM T RANSP LANTES Existem 3 fases do tratamento para transplantados: indução da imunossupressão, manutenção da imunossupressão e rejeição aguda. Das 3 fases, tanto os inibidores da calcineurina, quanto os antimetabólitos, os corticosteróides, os imunobiológicos, podem ser usadas para induzir a imunossupressão. Pós indução, não é comum a utilização de anticorpos para manter a imunossupressão pré-transplante. Prefere-se usar os outros. As doses de corticosteróides vão sendo decrescentes durante a imunossupressão até o momento do transplante. Depois do transplante, pode voltar a usar o imunobiológico ou manter os outros e adicionar novamente os corticóides. Isso é só para entender que todos eles podem ser combinados independente dos estágios. Revisão Glicocorticoides: prednisolona; Inibidores da calcineurina: ciclosporina, tacrolimus; Anti-proliferativos: sirolimo; Antimetabólitos: Azatioprina, leflunomide, Metotrexato, Ácido micofenólico; Imunobiológicos (bifásicos) muromonab – CD3 Basiliximabe e Daclizumabe. OBS.: Azatioprina é um pró-fármaco metabolizado no fígado.
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