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TRABALHO, SOCIEDADE E RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

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TRABALHO, SOCIEDADE E 
RESISTÊNCIA NA 
HISTÓRIA BRASILEIRA
Autor: Gilberto Valdemiro Poncio
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza
 Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
 Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
 Equipe Multidisciplinar da 
 Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
 Revisão de Conteúdo: Profa. Bruna Scheifer 
 Revisão Gramatical: Prof. José Roberto Rodrigues
 
 Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci
981.007
P795t Poncio, Gilberto Valdemiro
 Trabalho, sociedade e resistência na história 
 brasileira / Gilberto Valdemiro Poncio. 
 Indaial: Uniasselvi, 2012.
 109 p. : il 
 
	 	 	 Inclui	bibliografia.	
 ISBN 978-85-7830- 609-0
 1. Brasil – História – Estudo e ensino.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Reimpressão: Setembro, 2013.
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2012
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Reimpressão: Setembro, 2013.
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2012
Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Gilberto Valdemiro Poncio
Possui Graduação em História pela 
Fundação Universidade Regional de Blumenau 
(FURB) (2002), Pós-Graduação em nível 
de Especialização em Educação Popular e 
Movimentos	 Sociais	 certifi	cada	 pelo	 instituto	 de	
superior do Litoral do Paraná (INSULPAR) (2005) com 
monografi	a	que	 investigou	a	visão	dos	professores	da	
EJA sobre a Relação da Educação Popular dentro dos 
espaços escolares; Mestrado em Educação pela FURB 
(2010)	 com	 pesquisa	 sobre	 a	 Relação	 Família-Escola	
na EJA. Tem experiência como coordenador pedagógico 
em	 uma	 unidade	 da	 EJA	 e,	 professor	 para	 o	 ensino	
fundamental	regular.	Atua	principalmente	em	consultoria	
nos seguintes temas: EJA, Currículo, Relação Família-
Escola,	 Educação	 Profi	ssional.	 Participou	 de	
Seminários e Congressos em Educação em âmbito 
Regionais e nacionais com publicações em Anais 
de Eventos como o Congresso Internacional de 
Educação Da Universidade Vale do Rio dos 
Sinos (UNISINOS) (2009).
Sumário
APRESENTAÇÃO ......................................................................7
CAPÍTULO 1
Brasil,	Mostra	a	tua	Cara:	
a	Constituição	Sociohistórica	do	Povo	Brasileiro .......... 9
CAPÍTULO 2
Do	Tráfico	Negreiro	ao	Quilombo	de	Palmares:	
uma	História	de	Lutas ........................................................... 35
CAPÍTULO 3
Movimento	Negro	e	Resistência:	
das	Senzalas	às	Ações	Afirmativas .................................... 57
CAPÍTULO 4
Resistência	na	História	Brasileira ..................................... 85
7
APRESENTAÇÃO
“Mas	para	que	a	diferença	exista	é	preciso	que	os	discursos	
menores	criem	mecanismos	de	sobrevivência,	de	conquistas	
de espaços e de mais direitos. Menores no sentido de destoar 
ao	que	pretende	ser	dominante.”	
(J.I. Venera e J.R. Severino)
Prezado(a) Pós- Graduando(a),
Daremos início ao caderno de Estudos “Trabalho, Sociedade e Resistência 
na	 História	 Brasileira”.	 Neste	 material,	 vamos	 convidar	 você	 a	 refletir	 sobre	
essa	 tríade	 em	 sua	 relação	 direta	 com	 nossa	 história.	 Para	 isso,	 é	 importante	
compreender	 a	 relevância	 que	 adquire	 conceitos	 como	 o	 trabalho,	 sociedade,	
raça,	 cultura,	 etnocentrismo,	 para	 citar	 alguns.	 Cabe	 destacar	 que	 não	 vamos	
propor uma simples apresentação de conceitos, mas propomos, sim, ao longo 
deste	 caderno,	 reflexões	 que	 sirvam	 para	 ampliar	 nossa	 visão	 crítica	 sobre	 a	
temática exposta.
Nosso	objetivo	é	que	os	temas	abordados	neste	material	lhe	sirvam,	prezado	
Pós-Graduando (a), de suporte para o desenvolvimento de habilidades, bem 
como	de	competências	que	sirvam	para	nortear	a	construção	do	conhecimento	
que	 seja	 fundamentado	 na	 experiência,	 que	 não	 seja	 apenas	 ilustrativo	 de	 um	
passado	longínquo	e	desligado	do	contexto	hodierno	dos	sujeitos,	e	que	permita	a	
formação	de	um	aluno	crítico	e	cidadão	que	(re)construa	um	olhar	reflexivo	sobre	
sua própria história.
Com este pensamento norteando a construção de nosso material, vamos 
dinamizando	 situações	 e	 contextos,	 além	 de	 mesclar	 a	 utilização	 de	 diversos	
materiais	e	referências	na	apresentação	dos	conteúdos.	Assim,	iremos	propor,	ao	
longo	de	todo	o	caderno,	atividades	que	permitam	a	aplicação	das	reflexões	aqui	
propostas em debates e atividades com seus alunos no cotidiano escolar. 
E para alcançarmos nossos propósitos, apresentamos este caderno 
em	 quatro	 capítulos,	 que	 irão	 dar	 uma	 dimensão	 do	 que	 se	 vem	 estudando	 e	
questionando	 sobre	 a	 participação	 afrodescendente	 no	 trabalho	 ao	 longo	 da	
história	 no	 Brasil,	 bem	 como	 os	 reflexos	 desta	 atuação	 na	 sociedade,	 em	 sua	
forma	ampla	e	sem	deixar	de	acrescentar,	neste	debate,	as	formas	de	resistência	
à	subjugação	a	que	eram	submetidos	este	povos.
Com	este	pensamento,	o	primeiro	capítulo	fará	a	abordagem	de	conceitos	como	
raça,	etnia	e	como	estes	conceitos	fundamentaram	preconceitos	que	convergiram 
8
para	racismo	e	etnocentrismo.	Também	vamos	analisar	e	refletir	sobre	a	história	da	
educação brasileira e a participação do negro no sistema educativo. 
Na	 sequência,	 o	 próximo	 capítulo	 lançará	 o	 olhar	 sobre	 o	 tráfico	 negreiro,	
com	foco	nas	dimensões	histórica	e	política.	Ainda	neste	capítulo,	visualizaremos	
um	pouco	sobre	a	resistência	dos	Africanos	em	quilombos,	por	exemplo,	durante	
a escravidão no Brasil e, como este contexto histórico deixou suas marcas na 
escolarização das crianças negras. Nossa aproximação com esta discussão terá 
como	recorte	temporal	o	Império	brasileiro,	sempre	propondo	a	reflexão	sobre	os	
impactos	e	as	especificidades	destes	contextos	para	os	dias	atuais.
No	 capítulo	 três	 abordaremos	 o	 africano	 escravizado	 como	 sujeito	 do	
processo de libertação, a convergência dos negros em organizações como o 
movimento	negro,	movimento	de	mulheres	negras,	como	 também	a	elaboração	
e	 aprovação	 de	Políticas	 de	 ações	 afirmativas	 como	 estratégias	 de	 resistência	
negra no Brasil.
No	quarto	capítulo,	vamos	propor	um	olhar	para	as	Políticas	de	 integração	
do negro na sociedade brasileira. Vamos propor a você, caro (a) Pós-Graduando, 
que	reflita	sobre	a	desconstrução	das	imagens	negativas	dos	africanos	herdados	
da	 literatura	colonial.	Vamos	abordar,	 também,	o	mito	da	democracia	 racial	por	
meio da análise crítica de algumas das experiências e projetos de combate ao 
racismo e à discriminação na educação brasileira, sendo talvez a mais relevante 
no contexto atual a Lei 10.639/2003.
E	para	finalizar	esta	apresentação,	aproveitamos	para	desejar	que	você	faça	
a	 leitura	 com	entusiasmo,	 concentração	e	que	 tenha	êxito	 em	mais	esta	etapa	
rumo	à	especialização.	Parabéns,	 caro	 (a)	 cursista,	 por	 chegar	 até	 esta	 etapa,	
desejamos a todos uma BOA LEITURA e BONS ESTUDOS!!
O Autor. 
CAPÍTULO 1
Brasil,	Mostra	a	tua	Cara:	
a	Constituição	Sociohistórica	
do	Povo	Brasileiro
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
	Conceituar	 raça	 e	 etnia,	 bem	 como	 as	 relações	 fundamentadas	 em	
características raciais como racismo e etnocentrismo.
	Conhecer	 a	 participação	 do	 povo	 afrodescendente	 na	 institucionalização	 e	
universalização da educação brasileira. 
	Debater	criticamente	sobre	o	hibridismo	racial	e	cultural	na	formação	do	sistema	
educativo brasileiro.
11
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICADO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
ConteXtualização
O Brasil tem em sua constituição sociohistórica a contribuição de diversos 
povos,	como	dos	autóctones	que	aqui	habitavam	antes	da	chegada	dos	europeus,	
dos	navegadores	ibéricos,	que	trouxeram	para	o	país	o	povo	africano.	Do	assírios,	
exímios	navegadores,	aos	portugueses,	o	Brasil,	que	ainda	era	chamado	pelos	
indígenas	de	Pindorama,	era	habitado	por	diversas	tribos	que	fi	cavam	espalhadas	
pelo território.
Com	o	passar	do	tempo	e	as	mudanças	no	sistema	econômico	que	passava	
a	 ser	 mercantilista/capitalista	 (séc.	 XV	 ao	 XVIII),	 o	 povo	 da	 península	 ibérica,	
mais	 especifi	camente	 os	 portugueses,	 lançavam-se	 ao	 mar	 para	 realizar	 as	
grandes	navegações.	Além	de	chegar	em	terras	brasileiras	com	a	pretensa	ideia	
de	“descoberta”,	os	nossos	“irmãos	d’além	mar”	trouxeram	consigo	um	crescente	
contingente populacional.
Inicialmente com a extração de pau-brasil e mais tarde , por meio da economia 
açucareira,	o	já	reconhecido	Brasil,	se	fazia	movido	por	mão	de	obra	escrava.	E	
essa	forma	de	produção	estava	fundamentada	no	conceito	de	inferioridade	racial	
do	 povo	 africano,	 uma	 vez	 que	 viviam	 em	 organizações	 tribais,	 portanto	 sem	
o	 referencial	de	governo	adotado	pelos	portugueses,	além	do	 fator	 cor	de	pele	
associado	à	crença	de	que	os	negros	não	possuíam	alma,	como	veremos	adiante.
Atividade de Estudos: 
1) E como isto começou? Você imagina caro(a) Pós-Graduando, 
como	 pode	 ter	 tido	 início	 essa	 falsa	 ideia	 de	 superioridade	 de	
um povo sobre o outro? Escreva sua opinião nas linhas abaixo e 
discuta com seus colegas de curso.
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1212
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
Observe	que,	mesmo	sem	querer,	somos	europocentristas,	ou	seja,	
costumamos olhar para a história do Brasil apenas após a chegada dos 
portugueses,	 ignorando,	assim,	a	história	dos	povos	 indígenas	que	aqui	
já	viviam.	Em	outras	palavras,	enfatizamos,	em	nosso	 recorte	 temporal,	
o espaço de tempo situado a partir da chegada dos europeus no Brasil, 
o	que	pode	implicar	em	uma	análise	etnocentrista,	que	põe	determinada	
cultura	de	um	povo	como	centro,	ou	como	único	responsável	pela	evolução	
historiográfi	ca.	Isto	acontece	por	sermos	habituados	em	nossa	formação	
escolar a olhar por esse ângulo. No entanto, gostaríamos de convidar 
você para ver uma parte da história por outro caminho. Vamos lá?!
O	Surgimento	dos	(PrÉ)	Conceitos	
Desde	 sua	 gênese,	 o	 Brasil	 passou	 no	 século	 XV	 a	 ser	 o	 cenário	 de	 um	
processo	de	colonização	que	se	deu	sob	um	regime	patriarcal	e	dividido	em	dois	
núcleos.	O	da	Casa-Grande	e	o	da	Senzala.	Gilberto	Freyre	 torna-se	uma	das	
leituras	 quase	 obrigatórias	 para	 compreender	 o	 período	 de	 formação	 do	 que	
poderíamos chamar de identidade nacional do Brasileiro. Embora existam críticas 
a	uma	das	 teses	 centrais	 de	Freyre,	 no	que	 se	 refere	 à	miscigenação	pacífi	ca	
entre senhores bondosos e escravos submissos.
Você	 já	 sabe,	 caro(a)	 cursista,	 que	 nenhuma	 obra	 pode	 ser	
lida	 sem	 um	 olhar	 crítico.	 Freyre,	 em	 sua	 época,	 lançou	 sua	 tese	
e,	 embora	 com	 pontos	 a	 serem	 (re)avaliados,	 é	 importante	 ter	
conhecimento	sobre	suas	ideias.	Cabe	lembrar	que	sua	obra	foi	
escrita	na	década	de	1930	e,	como	toda	obra,	sofre	infl	uência	do	
pensamento	da	época	em	que	foi	escrito.	
Concomitante	a	esse	quadro,	o	modo	de	produção	havia	deixado	
a extração do pau-Brasil e passava a priorizar o cultivo de produtos 
agrícolas,	 como	por	exemplo	a	cana	de	açúcar	e	até	mesmo	o	café.	
A	 criação	 de	 gado	 já	 se	mostrava	 incipiente.	A	 força	 de	 trabalho	 era	
escrava, inicialmente tendo como povo subjugado os indígenas e 
posteriormente	o	povo	africano.
Perceba	 que	 as	 questões	 principais desses contextos se 
encontram em uma sociedade dividida em classes e a introdução de um 
povo	subjugado.	Em	outras	palavras,	podemos	dizer	que a organização 
A organização 
social do Brasil 
colonial era dividida 
em senhores de 
Engenho, donos 
das fazendas, 
homens livres, que 
prestavam serviços 
nas fazendas, e os 
escravos, a quem 
restava apenas 
a possibilidade 
de trabalhar nas 
lavouras e nos 
engenhos como 
forma de evitar 
castigos físicos e 
garantir alimentos.
Costumamos olhar 
para a história 
do Brasil apenas 
após a chegada 
dos portugueses, 
ignorando, assim, a 
história dos povos 
indígenas que aqui 
já viviam.
13
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
social do Brasil colonial era dividida em senhores de Engenho, donos das 
fazendas,	homens	livres,	que	prestavam	serviços	nas	fazendas,	e	os	escravos,	a	
quem	restava	apenas	a	possibilidade	de	trabalhar	nas	lavouras	e	nos	engenhos	
como	forma	de	evitar	castigos	físicos	e	garantir	alimentos.	Está	montado	o	cenário	
e	os	personagens	estão	defi	nidos,	nesse	caso	falta	o	enredo,	o	que	será	norteado	
pelo conceito de raça, por exemplo.
Figura 1 – A sociedade açucareira
Fonte: Disponível em: <http://www.slideshare.net/mdaltmann/
sistema-colonial-presentation>. Acesso em: 01 out. 2012.
O	 conceito	 que	 irá	 naturalizar	 a	 ideia	 de	 que	 existem	 diversas	 raças	 de	
humanos	 foi	 o	 de	 Carolus	 Linnaeus	 (1707-1778),	 botânico,	 zoólogo	 e	médico.	
Conforme	Silva	Junior	(	2005),	é	no	século	XVIII	que:	
Carolus Linnaeus (1758), inventor da taxinomia e criador da 
classifi cação Homo Sapiens,	reconheceu	quatro	variedades	
do homem - Americano (Homo sapiens americanus: 
vermelho, mau temperamento, subjugável), Europeu 
(europaeus : branco,	 sério,	 forte),	Asiático (Homo sapiens 
asiaticus: amarelo, melancólico, ganancioso), e Africano 
(Homo sapiens afer : preto, impassível, preguiçoso). Linnaeus 
reconheceu	 também	 uma	 quinta	 raça	 não-geografi	camente	
defi	nida,	 a Monstruosa (Homo sapiens monstrosus), 
compreendida por uma diversidade de tipos reais (por 
exemplo,	 Patagônios	 da	 América	 do	 Sul,	 Flatheads 
canadenses)	 e	 outros	 imaginados	 que	 não	 caberiam	 em	
nenhuma	das	quatro	categorias	“normais”	(segundo	a	visão	
racista	 de	 Linnaeus,	 que	não	apenas	 criou	 a	 classifi	cação	
como	atribuiu	a	cada	uma	características	 físicas	e	morais,	
o indivíduos mestiçados poderiam talvez ser então 
classifi	cados	nesta	última	categoria)	(SILVA	JR,	2005,	p[1])	.
1414
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
Perceba,	caro	(a)	pós-graduando	(a),	que,	com	este	pensamento,	vai	surgindo	
e se legitimando na sociedade europeia a ideia de superioridade de uma raça 
sobre	outras.	E	isso	a	partir	da	difusão	dos	estudos	de	Linaeuss	no	século	XVIII	
na	sociedade.	E	você,	caro	 (a)	cursista,	o	que	pensa	sobre	esta	classifi	cação?	
Qual	o	contexto	em	que	a	Europa	estava	vivendo	para	que	essas	ideias	fossem	
aceitas? E nos dias atuais, existe alguma relação do preconceito existente hoje no 
Brasil	com	as	ideias	de	Carolus	no	séc.	XVIII?	
Após	 o	 advento	 da	 classifi	cação	 dos	 seres	 humanos	 em	 grupos	 raciais,	
e	 com	 a	 crescente	 valorização	 do	 pensamento	 científi	co	 na	 Europa,	 em	 1775,	
Johann	 Friedrich	 Blumenbach	 (1752-1840)	 reforça	 o	 pensamento	de Linaeuss. 
Isso	se	deu	quando	o	alemão	determinou,	conforme	Oliveira	(2004,	p.57):
[...]	 a	 região geográfi ca originária de cada raça e a cor da 
pele como elementos demarcatórios entre elas (branca ou 
caucasiana; negra ou etiópica; amarela ou mongólica; pardaou malaia e vermelha ou	 americana).	 No	 século	 XIX,	 foram	
agregados	 outros	 quesitos	 fenotípicos,	 como	 o	 tamanho	 da	
cabeça	e	a	fi	sionomia.	Desde	Blumenbach,	no	entanto,	a	cor	da	
pele	aparece	como	um	dado	recorrente.	Inferindo-se,	daí,	que,	
dos	dados	do	fenótipo,	isto	é,	das	características	físicas,	a	“cor	
da	pele”	é	o	que	tem	sido	mais	usado	e	considerado	importante,	
pois	aparece	em	quase	todas	as	classifi	cações	raciais.
Com a evolução desses conceitos, e concomitante à ascensão 
da	burguesia,	outro	sentimento	que	vai	se	 fortalecendo	no	continente	
europeu	é	o	 de	que	esses	grupos	 raciais	 que	 se	 formavam	estavam	
associados	à	sua	origem	geográfi	ca.	E,	claro,	vale	ressaltar	que	esses	
grupos	 que	 passavam	 a	 ser	 introduzidos	 na	 Europa	 traziam	 consigo	
outras	 culturas,	 religiões	 e	 costumes,	 que	 eram	 igualmente	 vistos	
como	inferiores.	Formou-se	o	cenário	necessário	para	o	surgimento	do	
etnocentrismo. E por etnocentrismo podemos entender:
Etnocentrismo	é	uma	visão	do	mundo	onde	o	nosso	próprio	
grupo	é	 tomado	como	centro	de	 tudo	e	 todos	os	outros	 são	
pensados	 e	 sentidos	 através	 dos	 nossos	 valores,	 nossos	
modelos,	nossas	defi	nições	do	que	é	a	existência.	No	plano	
intelectual,	pode	ser	visto	como	a	difi	culdade	de	pensarmos	a	
diferença;	no	plano	afetivo,	como	sentimentos	de	estranheza,	
medo, hostilidade, etc (ROCHA, 1988, p.5).
Para	acessar	o	livro	“O	que	é	Etnocentrismo?”,	de	Everardo	P.	
Guimarães	Rocha,	na	 íntegra,	acesse:	http://www.taddei.eco.ufrj.br/
AntCom/Rocha.pdf.
Grupos raciais 
que se formavam 
estavam 
associados à sua 
origem geográfi ca.
15
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
A partir desse conceito de Etnocentrismo, muito valorizado na 
cultura	Europeia,	podemos	encontrar	razões	que	explicam	o	processo	
de	 dominação	 a	 que	 os	 europeus	 submetem	 os	 povos	 africanos.	
Veja,	 caro	 (a)	 cursista,	 os	 povos	 africanos	 não	 eram	 católicos,	
viviam em tribos, não possuíam pele branca, tinham costumes e 
organizações	sociais	diferentes.	Motivados	pelo	desejo	de	dominação	
e	ao	estranhamento	causado	pelo	contato	com	uma	cultura	tão	diferenciada,	não	
demorou	 para	 que	 os	 Europeus	 considerassem	 a	 si	 mesmos	 superiores.	 Com	
um	pensamento	predominante	na	Europa	da	época	marcado	pelo	positivismo,	os	
europeus tinham agora a ciência e a religião legitimando a escravidão do povos 
pagãos	do	hemisfério	sul.
Deste	modo,	conforme	Oliveira	(2004,	p.58),
Vale mencionar ainda as polêmicas sobre o conceito de raça 
e	de	etnia,	 que,	grosso modo, raça deveria ser um conceito 
biológico,	enquanto	etnia	deveria	ser	um	conceito	cultural.	Não	
sendo	 raça	uma	categoria	biológica,	etnia	 também	se	 revela	
como	 um	 conceito	 que	 não	 é	 estritamente	 cultural,	 pois	 a	
delimitação	de	grupos	étnicos	parte	de	uma	suposta	alocação	
deles no conjunto dos grupos populacionais raciais sem 
abstrair a unidade do local de origem e, para delimitar etnia, 
considera-se a concomitância de características somáticas 
(aparência	 física),	 linguísticas	 e	 culturais.	 Enfi	m,	 o	 conceito	
de	 raça	 é	 uma	 convenção	 arbitrária	 e	 pode	 ser	 enquadrada	
como	uma	categoria	descritiva	da	antropologia,	uma	vez	que	é	
baseada nas características aparentes das pessoas. Portanto, 
o uso dos termos raça ou etnia está circunscrito à destinação 
política	que	se	pretende	dar	a	eles.
Quanto	à	etnia,	é	importante	convencionarmos	que	neste	estudo	
entendemos	 que	 o	 conceito	 de	 Negro	 é	 igualmente	 constituído	 e	
constituidor	do	contexto	nos	quais	as	relações	fundamentadas	na	raça	
irão	 se	 efetivar.	Ou	 seja,	 o	 conceito	 de	 raça,	 etnia,	 e	 até	mesmo	 a	
denominação	do	“negro”	sofrem	os	refl	exos	dos	contextos	sociais	nos	
quais	se	desenvolvem.	Em	outras	palavras,	conforme	Fonseca	(2007,	
p 14),
O	conceito	de	negro	é	produto	de	uma	construção	
teórica	 que	 se	 liga	 às	 experiências	 sociais	
vivenciadas	entre	o	fi	nal	do	século	XIX	e	o	século	
XX.	 Antes	 desse	 período,	 o	 termo	 negro	 era	
raramente	 empregado	 e	 o	 que	 encontramos	 é	
uma pluralidade de denominações como pretos, 
pardos, crioulos, cabras, mulatos, mestiços, 
africanos	etc.	
Portanto,	 você	 já	 pode	 refl	etir	 sobre	 que	 signifi	cados	 o	 termo	
Conceito de 
Etnocentrismo, 
muito valorizado na 
cultura Europeia.
O conceito de negro 
é produto de uma 
construção teórica 
que se liga às 
experiências sociais 
vivenciadas entre 
o fi nal do século 
XIX e o século 
XX. Antes desse 
período, o termo 
negro era raramente 
empregado e o 
que encontramos é 
uma pluralidade de 
denominações como 
pretos, pardos, 
crioulos, cabras, 
mulatos, mestiços, 
africanos etc.
1616
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
negro	carrega	nos	dias	atuais.	Refl	ita	e	perceba	que	ao	escolhermos	determinados	
termos para designar determinadas pessoas, já estamos transmitindo nossos 
valores e ideais relacionados a cada uma de nossas escolhas. 
 
Para	 entender	 o	 positivismo:	 essa	 corrente	 teórica	 infl	uenciou	
tanto	a	ciência,	introduzindo	seu	método	de	pesquisa,	como	também	
a	 organização	 da	 sociedade,	 principalmente	 no	 século	 XIX.	 O	
positivismo aponta suas principais linhas de ação:
[...]	 como	 método	 e	 como	 doutrina.	 Como	 método,	
embasado	na	certeza	rigorosa	dos	fatos	de	experiência	
como	 fundamento	 da	 construção	 teórica;	 como	
doutrina, apresentando-se. Como revelação da própria 
ciência,	ou	seja,	não	apenas	regra	por	meio	da	qual	a	
ciência	chega	a	descobrir	e	prever	 (isto	é,	saber	para	
prever	 e	 agir),	 mas	 conteúdo	 natural	 de	 ordem	 geral	
que	ela	mostra	 junto	 com	os	 fatos	particulares,	 como	
caráter	 universal	 da	 realidade	 [...](RIBEIRO	 JUNIOR,	
s/d, p.6).
RIBEIRO	 JUNIOR,	 João.	 O	 que	 é	 POSITIVISMO.	 Editora	
Brasiliense. Disponível na íntegra no link	 http://xa.yimg.com/kq/
groups/3351622/1477263435/name/o+que+%C3%A9+POSI	
TIVISMO.pdf	.
O	Negro	na	História	da	Educação	
Brasileira
A	educação	formal	começa	a	acontecer	no	Brasil	com	a	chegada	de	padres	
jesuítas em 1549. Com o advento das primeiras escolas em Salvador, estado da 
Bahia,	que	 tinham	um	cunho	explicitamente	 religioso,	os	primeiros	 indivíduos	a	
serem	 “ensinados”	 foram	 os	 indígenas	 adultos.	 Isso	 acontecia	 já	 que,	 para	 os	
portugueses, os autóctones habitantes do Éden do novo mundo mereciam ser 
salvos, pois eram vistos como os Bons Selvagens, ao contrário do povo negro, 
considerado	na	época	“sem	alma”.	
17
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
Outro	motivo	pelo	qual	podemos	dizer	que	a	educação	estava	
na	mãos	 dos	 jesuítas	 é	 o	 fato	 apontado	 por	 Chiavenato.	 Segundo	
este autor: 
O	 Estado	 não	 dava	 educação	 e	 a	 forma	 de	
transmitir	conhecimentos	ao	povo	fi	cava	por	conta	
dos	 padres.	 A	 comunicação	 era	 feita	 de	 forma	
oral, ensinando dogmas e conceitos católicos 
completamente alienados da realidade brasileira 
(CHIAVENTATO, 1980, p.117).
Já	 aos	 negros	 era	 dedicado	 o	 trabalho	 forçado	 e	 escravo,	
ao	 mesmo	 tempo	 em	 que	 lhes	 era	 imposto	 um	 forte	 processo	 de	
aculturação,	 pois	 a	 eles	 era	 negada	 toda	 e	 qualquer	 forma	 de	
manifestação	 cultural	 de	 suas	 origens	 que	 fosse	 identifi	cada	 pelos	
portugueses,	isso	implica	dizer	que	aos	negros	não	era	permitido	nenhuma	forma	
de	 expressão	 cultural	 como,	 por	 exemplo,	 suas	músicas,	 suas	 danças	 e	 seus	
cultos religiosos.
O COMÉRCIO DE ESCRAVOS NO SÉCULO XVI
“Simples mercadoria, os negros eram vendidos por metro e por 
tonelada.	Eram	as	‘peças	das	Índias’,	‘peças	da	África’,	as	‘toneladas	
de	negros’	[...].	A	própria	forma	como	se	comercializavam	os	negros	
africanos	era	refl	exo	da	sua	desumanização:	não	se	vende	um	negro,	
dois	negros,	cinquenta	negros	–	vendiam-se	‘peças’;	uma	peça	não	
signifi	cava	um	negro,	como	uma	tonelada	não	signifi	cavamil	quilos	
de negros.
Uma	 ‘peça	 das	 Índias’,	 no	 geral,	 era	 1,75	 metro	 de	 negros.	
Dessa	 forma,	 cinco	 negros	 entre	 os	 30	 e	 35	 anos,	 que	 somados	
tinham 8,34 metros, representavam não cinco escravos, mas 4,76 
peças. Dois negros de 1,60 metro era apenas 1,8 peça de escravo. 
O	 valor	 do	 negro	 era	 medido	 por	 metro,	 por	 quilo,	 na	 qualidade	
dos	músculos,	 na	 idade,	 nos	dentes,	 no	 sexo,	 na	 saúde	geral,	 no	
aspecto	etc.	E	também	no	lote	de	africanos,	daí	o	padrão	de	‘peças’,	
que	vigorou	principalmente	a	partir	 de	1660	 (CHIAVENATO,	1980,	
p.123-124).
O Estado não 
dava educação e a 
forma de transmitir 
conhecimentos ao 
povo fi cava por 
conta dos padres. 
A comunicação era 
feita de forma oral, 
ensinando dogmas 
e conceitos católicos 
completamente 
alienados da 
realidade brasileira 
(CHIAVENTATO, 
1980, p.117).
1818
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
Acompanhe o trecho desta leitura do site vivabrazil.com e 
entenda um pouco melhor como se deu a introdução da mão de obra 
escrava no Brasil. Para acessar o texto na íntegra. acesse o link: 
http://www.vivabrazil.com/abolicao_da_escravatura.htm .
No Brasil, o elemento negro começou a ser Introduzido com 
os	 primeiros	 engenhos	 de	 açúcar	 de	 São	 Vicente.	 Para	 alguns	
historiadores,	 os	 escravos	 africanos	 aqui	 chegaram	 com	 Martim	
Afonso	 de	 Sousa,	 em	 sua	 expedição	 de	 1532.	 Durante	 quase	 50	
anos	este	tráfi	co	foi	regular,	e	em	1583	realizou-se	o	primeiro	contrato	
para	a	introdução	da	mão-de-obra	africana	no	Brasil,	assinado	entre	
Salvador Correia de Sá, governador da Cidade do Rio de Janeiro, e 
São	João	Gutiérres	Valéria.	Um	século	mais	tarde	já	havia	nas	lavouras	
brasileiras 50 mil escravos negros, a maioria em Pernambuco. Em 
1755,	o	Marquês	de	Pombal	criou	a	Companhia	Geral	do	Comércio	
do Grão-Pará e Maranhão e em 1759 a de Pernambuco e Paraíba, as 
quais,	introduzindo	grande	número	de	negros	africanos,	fomentaram	
o progresso material do Nordeste brasileiro.
Tencionando contar com o elemento natural para a colonização 
dos	 continentes	 que	 ocupavam,	 os	 portugueses	 tentaram	 –	 nos	
primeiros tempos de sua permanência no Brasil – subjugar os 
silvícolas	 brasileiros.	 Assim,	 em	 1533,	 Martim	 Afonso	 de	 Sousa	
permitiu a Pero de Góis o transporte para a Europa de 17 indígenas 
escravizados,	 e	 no	 foral	 dado	 a	 cada	 donatário	 contava	 o	 direito	
de	 vender	anualmente	até	39	 indígenas	cativos.	O	 índio	brasileiro,	
entretanto,	 além	 de	 não	 se	 adaptar	 ao	 regime	 de	 escravidão,	 não	
servia para o trabalho na lavoura.
Estes	fatos,	aliados	à	vinda	dos	jesuítas,	empenhados	na	defesa	
do	 índio,	fi	zeram	com	que	aumentasse	o	 tráfi	co	negreiro,	 tendo	os	
próprios	religiosos	usado	a	mão-de-obra	africana	até	1870.
A introdução do escravo negro no Brasil representava uma 
determinante socioeconômica importantíssima para a emancipação 
colonial,	 e	 foi	 por	 muitos	 reconhecida.	 Entre	 estes,	 Nóbrega,	 em	
carta	ao	rei	de	Portugal	datada	de	1559;	o	conceituado	Bispo	D.	José	
Joaquim	da	Cunha	de	Azeredo	Coutinho,	 em	sua	obra	 “Justiça	do	
Comércio	de	Resgate	de	Escravos	da	Costa	d’	África”;	e	o	 famoso	
Padre	Antonil,	que	em	sua	“Cultura	e	Opulência	do	Brasil,	por	Suas	
Drogas	e	Minas”,	escreveu:	“Os	escravos	são	as	mãos	e	os	pés	do	
19
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
senhor	de	engenho,	porque	sem	eles	no	Brasil	não	é	possível	fazer,	
conservar	e	aumentar	fazenda,	nem	ter	engenho	corrente”.
Os	 negros	 eram	 vendidos	 pelos	 seus	 sobas	 –	 chefes	 de	
tribos	africanas	–	aos	portugueses,	 e	 trazidos	para	o	Brasil	 vindos	
da	 costa	 e	 da	 contracosta	 da	 África.	 Até	 meados	 do	 século	 XVll	
eram	eles	adquiridos,	em	sua	maioria,	pelos	senhores	de	engenho	
de	 Pernambuco	 e	 Bahia.	 No	 início	 do	 séc.	 XVIII,	 seus	 maiores	
compradores passaram a ser o Rio de Janeiro e Salvador. Ainda no 
início	 do	 século	 XVllI,	 os	 escravos	 negros	 foram	 introduzidos	 nas	
regiões	cafeeiras,	a	princípio	do	Pará	e	do	Maranhão,	mais	tarde	do	
Rio de Janeiro e São Paulo.
Os	negros	escravos	que	vieram	para	o	Brasil	saíram	de	vários	
pontos	 do	 continente	 africano:	 da	 costa	 ocidental,	 entre	 o	 Cabo	
Verde	e	o	da	Boa	Esperança;	da	costa	oriental,	de	Moçambique;	e	
mesmo de algumas regiões do interior. Por isto, possuíam os mais 
diversos estágios de civilização. O grupo mais importante introduzido 
no	Brasil	foi	o	sudanês,	que,	dos	mercados	de	Salvador,	se	espalhou	
por	 todo	o	Recôncavo.	Desses	 negros,	 os	mais	 notáveis	 foram	os	
iorubas ou nagôs e os geges, seguindo-se os minas. Em semelhante 
estágio	 de	 cultura	 encontravam-se	 também	dois	 grupos	 de	 origem	
berbere-etiópica	e	de	 infl	uência	muçulmana,	os	 fulas	e	os	mandês.	
[...]	os	dos	grupos	da	cultura	chamada	cultura	banto,	os	angolas,	os	
congos	 ou	 cabindas,	 os	 benguelas	 e	 os	moçambiques.	Os	 bantos	
foram	introduzidos	em	Pernambuco,	de	onde	seguiram	até	Alagoas;	
no Rio de Janeiro, de onde se espalharam por Minas e São Paulo; e 
no Maranhão, atingindo daí o Grão-Pará. Ainda no Rio de Janeiro e 
em	Santa	Catarina	foram	introduzidos	os	camundás,	camundongos	e	
os	quiçamãs.
Fonte: VIVABRASIL. A Abolição. Disponível em: <http://www.vivabrazil.
com/abolicao_da_escravatura.htm>. Acesso em: 10 out. 2012.
A	situação	começa	a	mudar	a	partir	do	momento	em	que	a	Inglaterra,	movida	
por interesses comerciais e econômicos, passou a atuar como protetora das ainda 
tidas	 como	 “raças	 inferiores”.	Tendo	 relação	direta	 com	o	desenvolvimento	 das	
fábricas	e	sua	mecanização	pelo	advento	das	máquinas,	os	ingleses	começaram	
a	perseguir	os	navios	negreiros	e	a	tentar	impedir	o	comercio	de	povos	africanos.
.
Conforme	Gonçalves;	Silva	(2000,	p.135),
2020
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
Com	o	 intuito	de	divulgar	ao	mundo,	o	quanto,	no	Brasil,	 se	
davam “provas e amor ao progresso e à perseverança na trilha 
da	civilização”,	José	Ricardo	Pires	de	Almeida	publica,	no	ano	
de	1889,	em	língua	francesa,	obra	sobre	história	e	legislação	
da	instrução	pública	no	Brasil,	entre	os	anos	de	1500	e	1889.	
Tendo	 destacado	 que,	 no	 Império	 brasileiro,	 se	 assimilara	
o	 que	 havia	 “de	 mais	 completo	 nas	 nações	 avançadas	 da	
Europa,	adaptando	a	seu	gênio	nacional”	e	buscando	salientar	
papel	de	liderança	do	Brasil	na	América	Latina,	o	autor	aponta	
que,	em	1886,	numa	população	de	14	milhões	de	habitantes,	
248.396 eram alunos de estabelecimento de ensino. E sugere, 
salvo	 melhor	 juízo,	 não	 ser	 esta	 cifra	 maior	 por	 estarem	
incluídos no cômputo do total da população “os indígenas e os 
trabalhadores	rurais	de	raça”	(ALMEIDA,	2000,	p.	17-18).
Ao	realizarmos	uma	pesquisa	sobre	a	população	negra	no	Brasil	e	o	processo	
de	inserção	no	sistema	educativo	formal	destes	sujeitos,	ao	longo	da	história	de	
nosso país, vislumbramos uma escassa literatura sobre a temática. Essa mesma 
lacuna	a	que	nos	referimos	se	estende	aos	documentos	ofi	ciais.
Para	 fomentar	 o	 debate	 sobre	 a	 evolução	 do	 protagonismo	
negro na história do Brasil, assista aos vídeos abaixo:
Vídeo 1: http://youtu.be/q_Y_mCFvA-4 
SINOPSE: Ederson Granetto entrevista a historiadora Marina 
de Mello e Souza, do departamento de História da Universidade 
de São Paulo, sobre a inclusão no currículo das escolas brasileiras 
do	ensino	da	cultura	e	da	história	Afro-brasileira.	Em	2003,	a	Lei	de	
Diretrizes	 e	 Bases	 da	Educação	 foi	 alterada	 para	 determinar	 essa	
inclusão,	privilegiando	a	História	da	África	e	dos	africanos,	a	vida	dos	
negros	no	Brasil,	a	Cultura	Negra	Brasileira	e	o	negro	na	formação	
da sociedade nacional.
Ederson Granetto entrevista a antropóloga Rachel Rua Bakke 
sobre	 o	 ensino	 da	 cultura	 Afro-Brasileira	 nas	 escolas	 e	 sobre	 as	
difi	culdades	enfrentadas	pelos	professores	ao	tratar	do	tema.
Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=q_Y_mCFvA-4>.	Acesso	em:	10	set.	2012.
Vídeo 2: http://youtu.be/jRZRa4H8674
SINOPSE:	A	 escravidão	 brasileira	 retratada	 em	 fotos	 inéditas	
21
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
de	um	período	vergonhoso,	violento	e	esquecido	de	nossa	história.	
FOTOS DO INSTITUTO MOREIRA SALLES.
Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=jRZ
Ra4H8674&feature=related>.	Acesso	em:	10	out.	2012.
Atividade de Estudos: 
1)	 Após	assistir	aos	vídeos,	anote	suas	 refl	exões	em	 tópicos,	que	
deverão	ser	postados	no	ambiente	virtual	em	forma	de	texto.
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Após realizar essa atividade, vamos dar continuidade a nossa retrospectiva 
histórica, caro (a) Cursista. E para nos situarmos no tempo, estamos em meados 
da	 década	 de	 1820.	 Sobre	 a	 constituição	 de	 1824,	 encontramos	 em	 Costa	 e	
Oliveira (s/d, p.3):
[...]	 ao	 mesmo	 tempo	 em	 que	 assegurava	 aos	 ingênuos	 e	
libertos o título de cidadão,	formalizou-lhes	a	exclusão.	Em	seu	
artigo	94,	inciso	II,	impediu,	formalmente,	que	todo	o	segmento	
populacional negro tivesse acesso a direitos básicos como, 
por exemplo, o de votar e de ser votado. Os legisladores 
defi	niram,	 constitucionalmente,	 três	 grupos	 de	 cidadãos que	
estariam impedidos de exercer o direito de participar, mediante 
os	 pleitos	 eleitorais	 das	 decisões	 do	 país	 dentre	 os	 quais	
estavam incluídos os negros.
2222
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
Foi somente em 1827, ou seja, três anos após a promulgação da 
primeira	constituição	do	país,	que	se	publicou	a	primeira	lei,	na	qual	se	
assegurava educação primária e gratuita a todos os cidadãos. 
No	 livro	 de	 Primitivo	 Moacyr	 –	 que	 apenas	 descreve	
documentos	 ofi	ciais	 relativos	 à	 instrução	 pública	 –,	
encontramos	 [...]	 a	 seguinte	 determinação	 em	 uma	 lei	 de	
1837:	 “são	 proibidos	 de	 frequentar	 as	 escolas	 públicas:	
1º	 as	 pessoas	 que	 padecerem	 de	 moléstias	 contagiosas;	
2º	 os	 escravos	 e	 pretos,	 ainda	 que	 sejam	 livres	 ou	 libertos”	
(MOACYR,	1940,	p.	431	apud FONSECA, 2007, p.18).
Cabe	 destacar	 que	 no	 proposto	 para	 cidadão	 entendia-se	 a	
exclusão	 dos	 negros,	 índios	 e	 mulheres.	 Tal	 exclusão	 persistiu	 até	
meados	do	século	XIX,	como	podemos	constatar	no	decreto	nº	1.331	
de 1854. O documento 
[...]	estabelecia	que	nas	escolas	públicas	do	país	não	seriam	
admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos 
negros	 dependia	 da	 disponibilidade	 de	 professores.	 Mais	
adiante, O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, 
estabelecia	 que	 os	 negros	 só	 podiam	 estudar	 no	 período	
noturno	e	diversas	estratégias	foram	montadas	no	sentido	de	
impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares 
(BRASIL, 2004, p. 7).
Leia o texto de Fonseca (2007) na íntegra para conhecer um 
pouco sobre como era tratada a educação das crianças negras nos 
vários estados do Brasil analisados pelo autor: 
FONSECA, Marcus Vinicius. A arte de construir o invisível: o 
negro	 na	 historiografi	a	 educacional	 brasileira.	 2007.	Disponível	 em	
http://www.sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE13.pdf	.
Sobre	 a	 Educação	 e	 sua	 relação	 com	 o	 movimento	 abolicionista,	 que	
teve seu auge com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Izabel, podemos 
destacar	 que	 as	 preocupações	 dos	 senhores	 de	 engenho	 estavam	 voltadas	
única	 e	 exclusivamente	 para	 a	 manutenção	 de	 sua	 posição	 social.	 A	 classe	
dos	 fazendeiros	 temia	que	a	abolição	 resultasse	em	outras	mudanças	sociais,	
o	que	poderia	 resultar	na	derrubada	da	hierarquia	existente	até	o	momento	na	
sociedade brasileira. Desse modo, podemos entender, como aponta Santos 
(2008,	p.[1]):
Foi somente em 
1827, ou seja, 
três anos após 
a promulgação 
da primeira 
constituição 
do país, que 
se publicou a 
primeira lei, na 
qual se assegurava 
educação primária 
e gratuita a todos 
os cidadãos.
23
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
Nesse cenário de discussões e debates acerca da abolição da 
escravidão, a educação voltada para a população negra era 
aventada	como	uma	estratégia	desejável	para	uma	transição	
segura do sistema de trabalho. O importante era assegurar 
que	o	fi	m	do	regime	escravista	ocorresse	de	forma	paulatina,	
de modo a não atrapalhar o bom andamento da economia 
brasileira. Ou seja, a exigência de organizar o trabalho livre 
trouxe, simultaneamente, a necessidade de educar o homem 
para o trabalho. Uma educação para o trabalho, para a 
“liberdade”,	para	a	construção	da	nação,	em	que	o	acesso	à	
escola por essa camada pode ser visto como emblemático das 
mudanças	que	os	discursos	apresentavam	como	necessárias.
Para	Entender	a	cronologia	das	leis	que	foram	abrindo	caminhos	
para a abolição da escravatura no Brasil, leia o trecho abaixo:
“A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar 
assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas 
substituíram	 os	 primitivos	 engenhos,	 fato	 que	 permitiu	 a	 utilização	
de	 um	 número	menor	 de	 escravos.	 Já	 nas	 principais	 cidades,	 era	
grande	 o	 desejo	 do	 surgimento	 de	 indústrias.	 Visando	 não	 causar	
prejuízo	aos	proprietários,	o	governo,	pressionado	pela	Inglaterra,	foi	
alcançando	seus	objetivos	aos	poucos.	O	primeiro	passo	foi	dado	em	
1850,	com	a	extinção	do	tráfi	co	negreiro.	Vinte	anos	mais	tarde,	foi	
declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Essa 
lei	tornava	livre	os	fi	lhos	de	escravos	que	nascessem	a	partir	de	sua	
promulgação. Em	1885	 foi	aprovada	a	 lei	Saraiva-Cotegipe	ou	dos	
Sexagenários,	 que	benefi	ciava	os	negros	de	mais	de	65	anos.	Foi	
em	13	de	maio	de	1888,	através	da	Lei	Áurea,	que	 liberdade	 total	
fi	nalmente	 foi	 alcançada	pelos	 negros	no	Brasil.	Esta	 lei,	 assinada	
pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.suapesquisa.com/
historiadobrasil/abolicao.htm>. Acesso em: 01 out. 2012.
É	 preciso	 lembrar	 que	 os	 debates	 sobre	 abolição	 que	 resultaram	 nas	 leis	
que	a	antecederam	teve	início	em	meados	do	século	XIX,	embora	foi	a	partir	da	
década	de	1870	que	se	passou	a	discutir	a	libertação	das	crianças	nascidas	de	
mães	escravas,	ou	seja,	a	partir	daí	se	passava	a	discutir	uma	espécie	de	forma	
de	libertação	do	ventre,	aos	dizeres	da	época	(FONSECA,	2001).
É	ainda	Fonseca	(2001,	p.13)	que	nos	aponta	que:	
2424
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
[...]	em	meio	às	discussões	que	começavam	a	difundir	a	ideia	
e a necessidade de estabelecer a libertação das crianças 
nascidas de escravas, educação e emancipação eram 
vinculadas como parte do processo geral de preparação 
dessas crianças para o exercício da liberdade.
E	a	partir	desse	projeto	social	que	se	instalava	como	necessária	a	inserção	
dos	libertos	nos	sistemas	educativos,	pois	passava	a	ser	uma	forma	de	inculcar	
os	ideais	de	padronização	exigida	pela	sociedade	“positivista”	da	época.
Em	 1890,	 e	 como	 refl	exo	 do	 advento	 do	 governo	 provisório	 no	
Brasil,	cria-se	o	Ministério	da	Instrução	Pública,	Correios	e	Telégrafos,	
cujo ministro Benjamim Constant Botelho de Magalhães promoveu 
uma	importante	reforma	curricular.	Ou	seja,	passou	a	ser	propostauma	
escola	laica,	com	liberdade	para	o	ensino,	mas	que	também	passava	a	
ter	o	caráter	de	gratuidade	para	o	ensino	fundamental.	
Com	a	expansão	da	escola	pública	ocorrida	no	país,	ao	longo	da	
primeira	república	(também	conhecida	como	república	velha),	também	
passou a existir, por parte do governo, uma crescente preocupação com 
o	que	seria	ensinado	nas	escolas	e	por	meio	de	qual	material	tal	objetivo	
seria alcançado. Entendendo o livro didático como um poderoso canal 
para	difundir	o	ideal	burguês	de	branqueamento	da	identidade	nacional,	
o	governo	introduziu	nas	escolas	os	então	chamados	“livros	de	leitura”.	
Eles	davam	ênfase	a	duas	temáticas	principais,	que	eram:	as	belezas	naturais	e	o	
povo	brasileiro	“branco”,	no	qual:
 
Sobre	 a	 população,	 a	 questão	 racial	 foi	 enfaticamente	
tratada.	 As	 imagens	 de	 negros	 e	 negras	 foram	 focalizadas	
em perspectivas intensamente negativas, dando sustentação 
às	 práticas	 sociais	 discriminatórias	 que	 na	 atualidade	 ainda	
persistem na sociedade brasileira. Foi um intenso processo de 
fabricação	 de	 uma	 sociedade	 que	 rejeita	 sua	 ancestralidade	
negra	 em	 favor	 do	 desenvolvimento	 de	 um	 ideal	 branco	
(COSTA e OLIVEIRA, s/d, p.12).
Estava	 se	 formando	 um	 contexto	 em	 que	 ocorria	 a	 inserção	 de	 crianças	
escravas	nos	sistemas	educativos,	desde	que	autorizadas	pelos	seus	senhores.	
Estes	 por	 sua	 vez,	 tinham	 interesse	 em	 que	 seus	 escravos	 participassem	 dos	
cursos noturnos de educação, pois ao se apropriarem dos conhecimentos básicos 
de cálculo, por exemplo, passavam a poder lidar com as situações relacionadas 
ao dinheiro ganho, podendo lidar melhor com a compra e venda de objetos e 
serviços, aumentando assim os ganhos do senhor de engenho.
É	 neste	 contexto	 que,	 em	 1903,	 conforme	 Lucindo	 (2010,	 p.64),	 havia	
instituições	nas	quais:	
Em 1890, e como 
refl exo do advento 
do governo 
provisório no Brasil, 
cria-se o Ministério 
da Instrução 
Pública, Correios 
e Telégrafos, cujo 
ministro Benjamim 
Constant Botelho 
de Magalhães 
promoveu uma 
importante reforma 
curricular.
25
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
‘[...]	 o	 ensino	primário	era	ministrado	 conjuntamente	para	as	
internas e educandas do asilo, tendo por objetivo dar-lhes 
completa	 instrução	 e	 educação,	 ao	 lado	 de	 sólida	 formação	
moral	 e	 religiosa’,	 porém	 ao	 receber	 meninas	 ‘brancas’	
a instituição passa a destinar a instrução escolar a elas 
enquanto	que	às	meninas	descendentes	de	ex-escravizados,	
o ensino tinha a intenção de prepará-las ‘para executar 
serviços	domésticos	em	casa	“de	famílias	honestas”’	e,	assim,	
tornando-se	empregadas	domésticas	especializadas.	
	 Em	outras	palavras,	estava	se	 formando	o	que	mais	 tarde	viria	a	ser	a	
característica	 do	 sistema	 educacional	 brasileiro	 até	 os	 dias	 atuais,	 a	 distinção	
de	ensino	entre	crianças	da	elite	e	as	crianças	afrodescendentes	inicialmente,	e	
posteriormente as das camadas populares como um todo. 
Abaixo	indicamos	algumas	referências	bibliográfi	cas	que	podem	
contribuir na sua compressão, caro (a) cursista, sobre a temática 
proposta	 nesse	 capítulo.	 São	 bibliografi	as	 de	 agradável	 leitura	 e	
que	trazem	um	olhar	crítico	sobre	a	introdução	dos	povos	africanos	
e seus descendentes em nosso país e a relação desta inserção 
de	 forma	 contextualizada.	 Recomendamos,	 portanto,	 a	 leitura	 das	
seguintes obras:
FONSECA, Marcus Vinicius da; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves 
e; PINTO, Regina P. (Regina Pahim). Negro e educação: presença 
do negro no sistema educacional brasileiro. São Paulo : Ação 
Educativa, ANPEd, 2001. 100 p.
MÜLLER,	 Maria	 Lúcia	 Rodrigues. Educadores & alunos negros 
na Primeira República. Brasília, D.F : Ludens; Rio de Janeiro : 
Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 138 p.
OLIVEIRA, Iolanda de; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. 
Identidade negra:	pesquisas	sobre	o	negro	e	a	educação	no	Brasil.	
Rio	de	Janeiro	:	Anped	:	Ação	Educativa,	[200?].	199	p,	il.	(Negro	e	
educação, 2).
LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um 
estudo	 sobre	 as	 propostas	 educacionais	 de	 afrodescendentes	 (São	
Paulo, 1918-1931).1. ed. Itajaí : NEAB : Casa Aberta, 2010. 181 p.
2626
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
Leia	o	texto	que	segue	para	conhecer	um	pouco	mais	sobre	o	
contexto	histórico	no	qual	se	constitui	o	período	histórico	intitulado	de	
primeira	República.
A	 primeira	 República,	 também	 conhecida	 como	 República	
Velha,	foi	o	período	que	abrange	a	Proclamação	da	República	até	a	
revolução de 1930. Em 15 de novembro de 1889, houve uma reunião 
para	decidir	acerca	da	 república	no	Brasil	 através	do	voto	popular.	
Até	 que	 um	 plebiscito	 fosse	 realizado,	 a	 República	 permaneceu	
provisória.	 O	 governo	 provisório	 foi	 inicialmente	 comandado	
por	 marechal	 Deodoro	 da	 Fonseca,	 que	 estabeleceu	 algumas	
modifi	cações	como	a	reforma	do	Código	Penal,	a	separação	da	Igreja	
e do Estado, a naturalização dos estrangeiros residentes no país, a 
destruição do Conselho, a anulação do senado vitalício entre outras.
Em 21 de dezembro, a junta militar reuniu-se na Assembleia 
Constituinte	 para	 discutir	 acerca	 de	 uma	 nova	 Constituição	 que	
marcaria	 o	 início	 da	 República.	 Após	 um	 ano	 de	 realização	 do	
novo	 regime,	 o	 Congresso	 novamente	 se	 reuniu	 para	 que	 em	 24	
de	 fevereiro	 de	 1891	 fosse	 promulgada	 a	 primeira	Constituição	 da	
República	do	Brasil,	 o	que	ocorreu	neste	dia.	Essa	constituição	 foi	
inspirada	na	Constituição	dos	Estados	Unidos	que	se	fundamenta	na	
descentralização	do	poder	que	era	dividido	entre	os	Estados.	Dessa	
forma,	a	Constituição	do	Brasil	estabeleceu	a	federação	dos	Estados,	
o sistema presidencial, o casamento civil, a separação do poder 
criando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, autonomia 
dos estados e municípios.
Esse	 regime	 recebeu	 o	 nome	 de	 República	 da	 Espada.	 Tal	
denominação se deu pela condição militar dos dois primeiros 
presidentes	 do	 Brasil.	Apesar	 de	 reconhecida,	 a	 República	 sofreu	
grandes	 difi	culdades,	 pois	 houve	 revoltas	 que	 a	 colocaram	 em	
perigo. Em 23 de novembro de 1891, Deodoro da Fonseca renunciou 
à	presidência	por	ter	tomado	providências	para	fechar	o	Congresso,	
fato	que	gerou	a	primeira	revolta	armada	e	por	este	principal	motivo	
Deodoro deixou o poder para evitar o desenrolar da revolta. Floriano 
Peixoto,	 até	 então	 vice-presidente,	 assumiu	 o	 cargo	 máximo	
executivo.	Em	oposição	ao	que	dizia	a	Constituição,	Floriano	Peixoto	
impediu	que	uma	nova	eleição	fosse	feita	gerando	grande	oposição,	
pois	foi	taxado	como	“ditador”	ao	governar	de	maneira	centralizada,	
além	de	demitir	 todos	aqueles	que	apoiaram	Deodoro	da	Fonseca	
27
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
em seu mandato. Em 1893, inicia-se a Segunda Revolta Armada. 
Diante	 do	 fato,	 Floriano	domina	a	 revolta	 bombardeando	a	 capital	
do país.
Após	 a	 saída	 de	 Floriano	 Peixoto,	 a	 aristocracia	 cafeeira	 que	
já	 dominava	 a	 supremacia	 econômica	 passou	 a	 dominar	 também	
a	supremacia	política.	A	República	Oligárquica	se	 fortaleceu	com	a	
chegada de Prudente de Morais na presidência, pois ele apoiou as 
oligarquias	agrárias.
Por Gabriela Cabral
Equipe	Brasil	Escola.	
Fonte: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/
primeira-republica.htm>. Acesso em: 01 out. 2012.
Atividades de Estudos: 
1) Chegou sua vez, caro (a) Pós-Graduando (a). Vamos lá! Faça 
suas	anotações	e	indique	seus	argumentos	refl	etindo	sobre	como	
o negro era tratado pela legislação e seus impactos nas relações 
sociais	 que	 você	 percebe	 no	 seu	 cotidiano.	Ou	 seja,	 faça	 uma	
relação de como o negro era descrito, na sua opinião, e como se 
constroem as relações nos dias atuais. Você pode usar a escola 
em	que	vocêtrabalha	para	ser	seu	campo	de	investigação.	Use	o	
espaço abaixo para apresentar seus principais argumentos.
 
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 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
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2)	 Para	 fi	nalizar	 nosso	 primeiro	 capítulo,	 convidamos	 você	 a	 criar	
um plano de ensino sobre a Temática Cultura negra nos dias 
atuais.	Imagine	que	esse	plano	será	aplicado	em	uma	turma	de	
7º	 ano	 (ou	 6ª	 série)	 do	 ensino	 fundamental.	 Construa	 o	 plano	
contendo: tema; objetivos; metodologia e avaliação. Vamos lá, 
com	entusiasmo!	A	sugestão	é	que	você	pode	trocar	ideias	com	
seus colegas de curso utilizando o ambiente virtual ou mesmo 
em um encontro presencial para debater a utilização de projeto 
envolvendo as várias disciplinas.
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Para compreender um pouco mais sobre a utilização de projetos 
interdisciplinares,	 apresentamos	 as	 seguintes	 informações,	 tendo	 como	 base	
Poncio (2012). 
Para	que	se	tenha	uma	prática	interdisciplinar,	o	professor	deverá	propor	aos	
alunos	 uma	aprendizagem	global	 sobre	 os	 assuntos	 abordados	 e,	 para	 isso,	 é	
fundamental	a	abordagem	dos	diversos	ângulos	que	a	escola	pode	possibilitar.	
Ou seja, as várias disciplinas atuando em conjunto e mostrando aos alunos os 
diversos	 conhecimentos	 que	 podem	ser	 extraídos	 do	 cotidiano	 e	 aprofundados	
na	 escola,	 que	 constituirão	 um	 grupo	 de	 trabalho	 motivado	 e	 interessado	 em	
pesquisar	e	descobrir	sobre	seu	contexto	social.
29
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
O	 trabalho	 com	 projetos	 caracteriza-se	 por	 um	 avanço	 que	 já	 consegue	
se	distanciar	de	um	currículo	engessado,	mas	como	para	o	educando	adulto	é	
essencial	 que	 o	 tema	 seja	 de	 seu	 interesse,	 para	 o	 educador	 é	 essencial	 que	
passe	 por	 sua	 experienciação	 e/ou	 que	 saiba	 buscar	 subsídios	 em	 fontes	 que	
contemplem o contexto do adulto.
Com este pensamento, algumas diretrizes podem contribuir para o 
desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar. 
Um	 dos	 primeiros	 fatores	 que	 você	 deve	 propor	 é	 um	 trabalho	 coletivo	
aos seus colegas, pois deste modo todas as áreas de conhecimento poderão 
propor	atividades	comuns,	ou	até	mesmo	a	investigação	de	temas	pertinentes	
a	 cada	 uma	 das	 disciplinas,	 porém	 a	 partir	 de	 um	 único	 assunto	 ou	 tema.	
Tente, convide inicialmente alguns colegas e vá ampliando o grupo 
posteriormente. Faça uso dos resultados positivos para cativar 
adesões ao trabalho interdisciplinar. 
Outra possibilidade de ação pedagógica do grupo para valorizar 
a	 interdisciplinaridade	é	propor	aos	alunos	 resoluções	de	situações-
problema	 nas	 quais	 eles	 precisem	 dos	 conhecimentos	 de	 várias	
disciplinas	para	resolver	os	desafi	os.
Outro ponto importante para guiar a prática interdisciplinar do 
corpo	docente	é	 que	 todos	os	professores	procurem,	 na	medida	do	
possível,	propor	discussões	de	temas	que	sejam	do	interesse	do	grupo	
de	alunos	e	que	os	temas	sejam	gradualmente	aprofundados	à	medida	
que	vai	recebendo	a	participação	de	outras	áreas	de	conhecimento.
Com	 a	 intenção	 de	 fazer	 um	 rápido	 resgate	 da	 cronologia	 da	
educação brasileira, apresentamos o excerto do texto retirado do 
site:	 	 http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb06.htm.	 Neste	 mesmo	
endereço	você	ainda	tem	acesso	a	uma	linha	do	tempo	que	relaciona	
a história da Educação com a História do Brasil no período da 
primeira	república.
A	 República	 proclamada	 adota	 o	 modelo	 político	 americano	
baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar 
percebe-se	infl	uência	da	fi	losofi	a	positivista.
A	 Reforma	 de	 Benjamin	 Constant	 tinha	 como	 princípios	
orientadores	 a	 liberdade	 e	 laicidade	 do	 ensino,	 como	 também	 a	
Outra possibilidade 
de ação pedagógica 
do grupo para 
valorizar a 
interdisciplinaridade 
é propor aos alunos 
resoluções de 
situações-problema 
nas quais eles 
precisem dos 
conhecimentos de 
várias disciplinas 
para resolver os 
desafi os.
3030
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação 
do	que	estava	estipulado	na	Constituição	brasileira.	
Uma	 das	 intenções	 desta	 Reforma	 era	 transformar	 o	 ensino	
em	 formador	 de	 alunos	 para	 os	 cursos	 superiores	 e	 não	 apenas	
preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária 
pela	científi	ca.
 
Esta	Reforma	foi	bastante	criticada:	pelos	positivistas,	já	que	não	
respeitava	os	princípios	pedagógicos	de	Comte;	pelos	que	defendiam	
a	predominância	 literária,	 já	 que	o	que	ocorreu	 foi	 o	 acréscimo	de	
matérias	científi	cas	às	tradicionais,	tornando	o	ensino	enciclopédico.
 
É	importante	saber	que	o	percentual	de	analfabetos	no	ano	de	
1900, segundo o Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto Nacional 
de	Estatística,	era	de	75%.
O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as 
matérias	 e	 retira	 a	 biologia,	 a	 sociologia	 e	 a	 moral,	 acentuando,	
assim,	a	parte	literária	em	detrimento	da	científi	ca.
A	Reforma	Rivadávia	Correa,	de	1911,	pretendeu	que	o	curso	
secundário	 se	 tornasse	 formador	 do	 cidadão	 e	 não	 como	 simples	
promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista, 
prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de 
oferta	de	ensino	que	não	seja	por	escolas	ofi	ciais,	e	de	frequência.	
Além	 disso,	 prega	 ainda	 a	 abolição	 do	 diploma	 em	 troca	 de	 um	
certifi	cado	 de	 assistência	 e	 aproveitamento	 e	 transfere	 os	 exames	
de	admissão	ao	ensino	superior	para	as	 faculdades.	Os	resultados	
desta	Reforma	foram	desastrosos	para	a	educação	brasileira.
A	Reforma	de	Carlos	Maximiliano,	em	1915,	 surge	em	 função	
de	 se	 concluir	 que	 a	 Reforma	 de	 Rivadávia	 Correa	 não	 poderia	
continuar.	Esta	reforma	reofi	cializa	o	ensino	no	Brasil.
Num	período	complexo	da	História	do	Brasil	 surge	a	Reforma	
João	 Luiz	Alves	 que	 introduz	 a	 cadeira	 de	 Moral	 e	 Cívica	 com	 a	
intenção de tentar combater os protestos estudantis contra o governo 
do presidente Arthur Bernardes.
A	década	de	vinte	foi	marcada	por	diversos	fatos	relevantes	no	
processo de mudança das características políticas brasileiras. Foi 
nestadécada	que	ocorreu	o	Movimento	dos	18	do	Forte	 (1922),	a	
31
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
Semana	de	Arte	Moderna	(1922),	a	fundação	do	Partido	Comunista	
(1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927). 
 
Além	 disso,	 no	 que	 se	 refere	 à	 educação,	 foram	 realizadas	
diversas	 reformas	 de	 abrangência	 estadual,	 como	 a	 de	 Lourenço	
Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a 
de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de 
Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 
1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.
O	clima	desta	década	propiciou	a	tomada	do	poder	por	Getúlio	
Vargas, candidato derrotado nas eleições por Julio Prestes, em 1930. 
 
A característica tipicamente agrária do país e as correlações de 
forças	políticas	vão	sofrer	mudanças	nos	anos	seguintes	o	que	trará	
repercussões	na	organização	escolar	brasileira.	A	ênfase	 literária	e	
clássica de nossa educação tem seus dias contados.
Fonte:	Disponível	em:	<http://www.pedagogiaemfoco.
pro.br/heb06.htm>. Acesso em: 10 out. 2012. 
Atividade de Estudos: 
1)	 Participe	 de	 um	 debate	 no	 fórum	 virtual,	 discuta	 os	 trechos	 do	
capítulo	em	que	podemos	identifi	car	avanços	quanto	à	 inserção	
dos	povos	de	origem	africana	no	sistema	educativo	brasileiro.
	 Na	 sequência,	 construa	 uma	 linha	 do	 tempo	 apontando	 a	
cronologia	apontada	neste	capítulo	sobre	os	fatos	relevantes	na	
história dos povos negros no Brasil.
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 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
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Algumas	Considerações
Estamos	chegando	ao	fi	nal	do	primeiro	capítulo	e	você	prezado	(a)	cursista	
pode	ter	acesso	a	diversos	materiais	que	possibilitaram	a	refl	exão	e	análise	critica	
da participação do negro e sua respectiva inserção nos sistemas educacionais ao 
longo da História do Brasil. 
Os	negros	 foram	 introduzidos	no	Brasil	 na	primeira	metade	do	 século	XVI	
com	a	utilização	de	mão	de	obra	africana	nos	engenhos	de	açúcar.	Os	escravos	
eram vendidos no Brasil, mas, com o passar do tempo e na esteira da História, 
os	povos	afrodescendentes	se	tornaram	gradualmente	em	protagonistas	de	sua	
história.	Com	várias	leis	que	aproximavam	os	negros	de	serem	libertos,	como	a	
lei do ventre livre e a lei do sexagenário, tivemos na história do Brasil, no ano de 
1888,	a	assinatura	da	Lei	Áurea	que	abolia	a	escravidão	dos	povos	afrodescentes	
no	país	a	partir	daquele	13	de	Maio	histórico.
Mas	 você,	 caro(a)	 cursista,	 já	 tem	o	 olhar	 crítico	 e	 a	 percepção	 de	 que	 a	
História	não	se	constrói	de	forma	linear	e	sem	contradições,	então,	cabe	lembrar	
que	 este	 era	 apenas	 o	 começo	 de	 um	modo	 de	 vida	 diferente,	 se	 antes	 eram	
excluídos do direito de serem cidadãos, com esta condição de escravo liberto 
os	 afrodescendentes	 estavam	muitas	 vezes,	 sem	 amparo	 nenhum	 do	 Estado,	
o	que	signifi	cava	 ter	que	 lutar	por	sua	sobrevivência	e	posteriormente	para	ser	
considerado cidadão.
É	 com	 este	 pensamento	 que	 convidamos	 você	 a	 seguir	 seus	 estudos	
e	 a	 conhecer	 sobre	 os	 navios	 negreiros	 e	 o	 transporte	 dos	 povos	 africanos	
escravizados, bem como alguns dos principais movimentos de resistência dos 
escravos ao longo de sua história no Brasil.
Seguiremos com entusiasmo e aproveitamos para desejar a você, BONS 
ESTUDOS!
33
BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO 
SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO
 Capítulo 1 
Referências
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações 
Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e 
Africana. Brasília: MEC/Sepir, 2004.
 
CHIAVENATTO, Julio Jose. O negro no Brasil: da senzala a Guerra do 
Paraguai. 2. ed. Sao Paulo : Brasiliense, 1980. 259p.
COSTA,	.		OLIVEIRA.	Fonte:	Disponível	em:	<http://www.ie.ufmt.br/semiedu2009/
gts/gt15/ComunicacaoOral/CANDIDA%20SOARES%20DA%20COSTA.pdf>.	
Acesso em: 19 mai. 2012.
FONSECA, Marcus Vinicius. A Arte de construir o invisível: O negro na 
historiografi	a	educacional	brasileira.	2007.	Fonte:	Disponível em: <http://www.
sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE13.pdf>.	Acesso em: 19 mai. 2012.
 
_____. As primeiras práticas educacionais com Características Modernas 
em Relação aos Negros no Brasil. In: FONSECA, Marcus Vinicius da; SILVA, 
Petronilha Beatriz Gonçalves e; PINTO, Regina P. (Regina Pahim). Negro e 
educação: presença do negro no sistema educacional brasileiro. São Paulo: 
Ação Educativa, ANPEd, 2001. 100 p p. 11 – 36.
GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. 2000. 
Fonte: Disponível em:	<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n15/n15a09.pdf>.	Acesso	
em: 25 abr. 2012. 
LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um estudo 
sobre	as	propostas	educacionais	de	afrodescendentes	(São	Paulo,	1918-1931).1.	
ed. Itajaí : NEAB : Casa Aberta, 2010. 181 p.
OLIVEIRA, Fátima de. Ser negro no Brasil: alcances e limites. 2004. Fonte: 
Disponível em:	<http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n50/a06v1850.pdf>.	Acesso	em:	
23 abr. 2012.
PONCIO, Gilberto Valdemiro. Práticas pedagógicas para a EJA. Indaial, SC: 
Uniasselvi, 2012. 132.
RIBEIRO JUNIOR, João. O que é POSITIVISMO. Editora Brasiliense. Fonte: 
Disponível	em:	<http://xa.yimg.com/kq/groups/3351622/1477263435/name/
o+que+%C3%A9+POSITIVISMO.pdf>.	Acesso	em:	26	mai.	2012.
3434
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
ROCHA, Everardo P. Guimaraes. O que e etnocentrismo. 4. ed. Sao Paulo : 
Brasiliense, 1987. 95p.
SANTOS, Rosimeire. A escolarização da população Negra entre o fi nal 
do século XIX e o início do século XX. 2008. Disponível em: <http://www.
webartigos.com/artigos/a-escolarizacao-da-populacao-negra-entre-o-fi	nal-do-sec-
xix-e-o-inicio-do-sec-xx/8027/>. Acesso em: 20 mai. 2012.
SILVA JUNIOR, Juarez C. da. Raça e Etnia. Fonte: Disponível em: <http://
amazonida.orgfree.com/movimentoafro/raca_e_etnia.htm>.	Acesso em: 21 abr. 
2012.
VIVABRAZIL. A Abolição. Fonte: Disponível em: <http://www.vivabrazil.com/
abolicao_da_escravatura.htm>. Acesso em: 25 abr. 2012.
CAPÍTULO 2
Do	Tráfico	Negreiro	ao	Quilombo	
de	Palmares:	uma	História	de	Lutas
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Conhecer	e	compreender	as	características	do	período	colonial	do	século	XVI	
até	o	séc.	XVIII.
  Conhecer	e	identifi	car	os	movimentos	de	resistência	negra	à	escravidão	no	
Brasil Colonial.
37
DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO 
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS
 Capítulo 2 
ConteXtualização
Prezado(a) Pós-Graduando(a),
Estamos	felizes	em	compartilhar	esta	caminhada	com	você.	Você	já	estudou	
sobre	 como	 se	 instalou	 na	 Europa,	 justifi	cada	 pelo	 pensamento	 científi	co,	 o	
pensamento	que	legitimava	a	escravidão	de	determinados	povos	ou	“raças”	tidas	
como	inferiores.	Tal	pensamento	justifi	cou,	ao	longo	da	história,	a	subjugação	do	
povo	 africano	 pelos	 europeus,	 tidos	 como	 raça	 superior.	 No	 entanto,	 estamos	
iniciando	o	segundo	capítulo	de	nosso	estudo.	E	como	pretendemosaprofundar	
as	 questões	 relacionadas	 ao	 início	 do	 volumoso	 tráfi	co	 negreiro,	 partimos	 da	
contextualização	do	Brasil	colônia	do	século	XVI,	período	em	que	se	intensifi	ca	o	
comércio	de	escravos	em	nosso	país.
Um	dos	 fatores	 relevantes	nesse	processo	histórico	é	que,	em	meados	do	
século	XVI,	ocorreram	várias	epidemias	em	diversos	pontos	do	 litoral	brasileiro.	
Estes	surtos	acabaram	por	dizimar	uma	quantidade	muito	grande	de	 indígenas,	
que	trabalhavam	escravizados	nas	fazendas	que	produziam	açúcar.	Além	disso,	
havia,	 ainda,	 a	 proteção	 da	 igreja,	 mais	 especifi	camente	 dos	 jesuítas,	 que	
catequizavam	os	indígenas,	bem	como,	os	protegiam	do	trabalho	escravo.	Some-
se	a	 isso	a	 ideia,	 recorrente	na	época,	de	que	os	 indígenas	eram	 indolentes	e	
preguiçosos.	Estava	criado	o	contexto	em	que	passava	a	ser	preciso	encontrar	
algumas	saídas	para	a	falta	de	mão	de	obra	para	os	engenhos	coloniais.
Como	já	era	uma	tradição	escravizar	os	povos	africanos,	devido	aos	lucros	
que	os	navegadores	conseguiam	com	suas	vendas	nos	entrepostos	comerciais,	
os	 portugueses	 reascenderam	 esse	 velho	 hábito,	 o	 que	 traria	 consigo	 a	
possibilidade	de	substituir	a	força	de	trabalho	indígena	pela	africana,	e	com	isso	
manter	os	engenhos	e	as	plantações	em	andamento,	o	que	era	uma	preocupação	
dos senhores de engenho em terras brasileiras.
Com	 esse	 contexto,	 o	 tráfi	co	 negreiro	 passa	 a	 adquirir	 proporções	 antes	
não	 imaginadas,	uma	vez	que	escravizar	e	 transportar	sem	condições	mínimas	
de higiene se mostrava uma prática comum e aceita pelos europeus, mais 
precisamente	os	portugueses,		ao	longo	dos	séculos	XVI	até	o	XVIII.
Assim,	convidamos	você,	prezado	(a)	cursista,	para	conhecer	e	se	aprofundar	
um pouco mais sobre como se deu a inserção dos povos negros no Brasil, 
começando	pelo	que	fi	cou	conhecido	como	tráfi	co	negreiro	e	suas	implicações.	
Na	sequência,	passamos	a	conhecer	um	pouco	sobre	as	principais	revoltas	
e movimentos de resistência existentes ao longo da história brasileira e como 
3838
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
ganharam	 força	 como,	 por	 exemplo,	 o	 quilombo	 de	 Palmares,	 que	 segundo	
alguns	pesquisadores	chegou	a	ter	sob	seu	comando	até	30	mil	cativos	fugidos	
das	grandes	fazendas	e	dos	maus	tratos	dos	capatazes	nas	lavouras	de	açúcar	
da colônia.
Vamos começar então?! E, para isso, vamos abordar as dimensões histórica 
e	política	que	envolvia	o	tráfi	co	de	negros	para	as	colônias	portuguesas,	prática	
que	já	se	fazia	presente	desde	o	século	XIV.		
Tráfico	Negreiro:	Dimensão	
Histórica	e	PolÍtica		
Para	falarmos	do	tráfi	co	negreiro,	ou	seja,	a	implantação	do	trabalho	
escravo	em	terras	brasileiras,	é	importante	sabermos	que,	mesmo	com	
os	 portugueses	 utilizando	 trabalho	 escravo	 antes	 da	 “descoberta”	 do	
Brasil,	foi	somente	no	século	XVI	que	essa	força	de	trabalho	foi	inserida	
nas colônias brasileiras. Inicialmente, os trabalhadores cumpriam suas 
tarefas	nos	engenhos	de	açúcar,	acontecendo,	por	vezes,	de	realizarem	
alguma	tarefa	mais	especializada.	Foi	a	experiência	no	cultivo	da	terra	
pelos	 africanos	 que	 elevou	 consideravelmente	 o	 preço	 dos	 escravos	
africanos	com	 relação	aos	 indígenas,	chegando	um	africano	a	custar	
até	três	vezes	mais	que	um	indígena.
Assim,	o	tráfi	co	negreiro	teve	tal	expansão:
[...]	sobretudo	após	a	conquista	defi	nitiva	de	Angola	em	fi	ns	do	
século	XVI.	Os	números	do	tráfi	co	bem	o	demonstram:	entre	
1576 e 1600, desembarcaram em portos brasileiros cerca de 
40	mil	africanos	escravizados;	no	quarto	de	século	seguinte	
(1601-1625),	esse	volume	mais	que	triplicou,	passando	para	
cerca	 de	 150	 mil	 os	 africanos	 aportados	 como	 escravos	
na	 América	 portuguesa,	 a	 maior	 parte	 deles	 destinada	 a	
trabalhos	em	canaviais	e	engenhos	de	açúcar	(MARQUESE,	
2006,	p.[1]).
Observe,	 caro	 (a)	 cursista,	 a	 tabela	 abaixo,	 que	 apresenta	 números	 ainda	
mais	expressivos	da	quantidade	de	escravos		trazidos	ao	Brasil.
 
É importante 
sabermos que, 
mesmo com os 
portugueses 
utilizando trabalho 
escravo antes da 
“descoberta” do 
Brasil, foi somente 
no século XVI 
que essa força de 
trabalho foi inserida 
nas colônias 
brasileiras.
39
DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO 
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS
 Capítulo 2 
Tabela	1	–	Quantidade	de	escravos	trazidos	ao	Brasil
Fonte: Disponível em <http://grupodegeo.blogspot.com.br/>. Acesso em: 18 set. 2012.
Esse	 fato,	 associado	 ao	 grande	 sucesso	 alcançado	 pelas	 capitanias	
açucareiras, gerou a invasão de holandeses e ingleses no Brasil. Esse contexto 
exigia uma rápida ação da coroa portuguesa. O então rei de Portugal D. 
Sebastião,	 como	 forma	de	garantir	 o	 sucesso	na	 transação	 comercial	 do	ouro-
branco	 (açúcar),	 criou	 regras	mais	 rígidas	para	a	doação	de	 terras,	 bem	como	
decretou,	em	1571,	que	o	comércio	com	o	Brasil	só	poderia	ser	feito	através	de	
navios portugueses. 
	 É	 importante	 destacar	 que	 os	 holandeses	 foram	 parceiros	
comerciais	 dos	 portugueses	 até	 o	 fi	nal	 do	 século	 XVI,	 pois	
controlavam	 a	 distribuição	 do	 açúcar	 produzido	 no	 Brasil.	
Ressaltamos,	 porém,	que	a	Holanda	 fi	cava	 responsável	 pela	parte	
mais	 rentável	 do	 comércio	 açucareiro,	 composto	 pelo	 transporte,	
refi	namento	e	comercialização	do	produto	na	Europa.
Por sua vez, os invasores não demoraram a perceber a relação entre o êxito 
na	agricultura	e	comércio	de	açúcar	com	relação	à	participação	da	mão	de	obra	
escrava	e,	portanto,	 logo	desviaram	seus	olhares	e	 interesses	 também	para	os	
países	africanos,	dentre	os	quais	podemos	citar	Angola,	como	forma	de	apropriar-
se	 de	 entrepostos	 comerciais	 portugueses	 e	 consequentemente	 da	 fonte	 de	
escravos para as novas colônias.
Vislumbrando	a	possibilidade	de	altos	lucros,	os	holandeses	foram	destaque	
4040
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
no processo de tentar tomar o poder dos portugueses e das colônias 
portuguesas	 aqui	 no	 Brasil.	 Embora	 tenham	 permanecido	 em	 terras	
brasileiras	 somente	 durante	 nove	 anos,	 tentaram	 também,	 dominar	
Angola,	mas	 foram	expulsos	pelos	portugueses.	Por	 esse	motivo,	 os	
holandeses	 foram	 responsáveis	 pela	 transmissão	 das	 técnicas	 de	
produção	de	açúcar	aos	colonos	 ingleses	de	Barbado	e	franceses	da	
Martinica, bem como passaram a abastecer esses novos pontos de 
produção	de	açúcar	com	mão	de	obra	escrava.
Mas como conseguir escravos sem ter colônias no continente 
africano?	Uma	das	formas	era	recorrer	aos	contrabandistas	portugueses	
e,	mais	tarde,	no	século	XVI,	aos	corsários	ingleses,	que	começaram	a	
participar	do	lucrativo	comércio	negreiro.
E como esses escravos eram encontrados e trazidos para as 
colônias?	Você	já	pode	imaginar	que	não	era	dedicado	muito	esforço	em	
proporcionar	conforto	aos	escravos.	Ou	seja,	preocupados	em	aumentar	
os lucros, uma das opções era colocar cada vez mais e mais escravos dentro de um 
navio	negreiro,	ou	como	era	chamado	na	época,	navio	Tumbeiro	ou	tumba	fl	utuante.
Figura 2 – Navio Tumbeiro ou Tumba Flutuante
Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Tr%C3%A1fi	co_negreiro>.	Acesso	em:	18	set.	2012.
Os	navios	costumavam	sair	do	continente	africano	com	centenas	
de	 escravos,	 que	eram	 trancados	 nos	 porões	 de	 espaços	 reduzidos,	
com	 calor	 insuportável.	 Quando	 algum	 africano	 passava	 mal,	 não	
recebia	tratamento	nenhum.	Também	era	comum,	quando	os	escravos	
morriam,	 que	 fossem	 tirados	 somente	 no	 fi	nal	 da	 viagem.	Quando	 o	
capitão precisava por algum motivo diminuir o peso da embarcação, 
era	 comum	 que	 o	 capitão	 jogasse	 escravos	 no	 mar,	 preferindo	 em	
primeiro momento os mortos, seguidos pelos doentes e posteriormente 
pelos	mais	fracos,	ainda	que	vivos.	Cabe	destacar	que	uma	das	formas	
Os holandeses 
foram responsáveis 
pela transmissão 
das técnicas 
de produção 
de açúcar aos 
colonos ingleses 
de Barbado e 
francesesda 
Martinica, bem 
como passaram a 
abastecer esses 
novos pontos de 
produção de açúcar 
com mão de 
obra escrava.
Os navios 
costumavam sair do 
continente africano 
com centenas de 
escravos, que eram 
trancados nos 
porões de espaços 
reduzidos, com 
calor insuportável.
41
DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO 
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS
 Capítulo 2 
de	manter	a	ordem	no	cativeiro	era	a	aplicação	de	castigos	físicos	e	a	restrição	
de	água	e	comida,	o	que	não	tardava	a	proporcionar	um	ambiente	de	moléstias	e	
doenças	a	que	só	os	mais	fortes	resistiam.
Outra	situação	comum	que	acontecia	nos	navios,	e	que	demonstrava	grande	
resistência	 à	 subjugação	 a	 que	 eram	 submetidos	 os	 negros	 e	 negras,	 era	 a	
quantidade	de	abortos	realizados	nos	navios.	Tal	 fato	acontecia,	pois	as	negras	
escravizadas	 não	 aceitavam	 que	 seus	 fi	lhos	 tivessem	 tal	 destino	 e	 preferiam,	
assim,	 interromper	 o	 que	 seria	 uma	 vida	 de	 sofrimentos	 e	maus	 tratos.	 Havia	
também	os	 casos	 em	que	 os	 negros	 escravizados	 tiravam	a	própria	 vida	como	
forma	de	mostrar	negação	ao	que	estavam	sendo	submetidos.
 
A	Vida	nos	Engenhos	de	AçÚcar	
Brasileiros
A vida na colônia era inicialmente muito pacata e voltada 
principalmente para o cultivo de produtos agrícolas. Ou seja, a primeira 
preocupação era garantir a subsistência. Com o passar dos anos, veio 
a criação de gado, e com o aumento da produção de artigos como, por 
exemplo,	tabaco,	algodão	e	o	mais	importante	deles,	o	açúcar,	ocorreu	
a	necessidade	de	vender	o	excedente.	Esse	último	dava	ao	dono	da	
fazenda	de	médio	e	grande	porte	o	título	de	Senhor	de	Engenho	e,	por	
isso,	ele	passava	a	ser	respeitado	não	somente	em	sua	fazenda,	mas	em	toda	a	
sua vila ou cidade.
Mas,	 para	manter	 o	 bom	 funcionamento	 da	 fazenda,	 era	 preciso	 força	 de	
trabalho,	e	é	nesse	momento	que	aparece	a	relação	com	os	africanos,	ou	seja,	a	
introdução da mão de obra escrava.
Sobre o trabalho realizado pelos escravos, convidamos você, cursista, a 
refl	etir	 para	 conhecer	 e	 compreender	 um	pouco	melhor	 a	 constituição	 histórica	
dessa relação.
O	número	de	horas	médias	de	trabalho	de	um	escravo	no	século	XVI	variava	
de	entre	12	a	14,	chegando	em	algumas	fontes	históricas	a	até	16	horas	por	dia.	
Nesse	 período,	 realizavam	 uma	 variada	 carga	 de	 tarefas	 para	manter	 o	 bom	
funcionamento	da	 fazenda	como	um	 todo.	De	serviços	caseiros	destinados	às	
escravas	como	domésticas	e	amas	de	leite	a	serviços	externos,	destinados	aos	
homens,	mulheres	e	crianças,	que	 incluíam	cortar	 lenhas,	plantar	e	cuidar	dos	
canaviais,	arrumar	estradas	e	pontes,	enfi	m,	toda	e	qualquer	tarefa	braçal	que	
surgisse	como	necessária	para	o	bom	funcionamento	da	Fazenda	e	conforto	dos	
A vida na colônia era 
inicialmente muito 
pacata e voltada 
principalmente para 
o cultivo de produtos 
agrícolas.
4242
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
senhores.	 Em	 apenas	 alguns	 momentos	 os	 escravos	 podiam	 fazer	
sua alimentação.
Apesar	 da	 responsabilidade	 sobre	 todas	 as	 tarefas,	 cada	 cativo	
fi	cava	sempre	como	responsável	por	manter	um	pedaço	específi	co	da	
plantação e, no período de colheita, era atribuída a cada escravo uma 
quantidade	de	cana	a	ser	colhida	e	presa	em	fardos.	Era	também	tarefa	
dos	 escravos	 cuidarem	 do	 processamento	 e	 transformação	 da	 cana	
em	 açúcar.	 Isto	 implica	 cuidar	 da	moagem,	 o	 sistema	 de	 purifi	cação	
(Purga), secagem e embalagem do produto para venda.
Para compreender um pouco sobre a vida dos escravos na 
colônia, assista aos vídeos recomendados.
VÍDEO 1: CANAL DE MEL, PREÇO DE FEL – Disponível no 
link: http://www.youtube.com/watch?v=J9sSVZrswjU
SINOPSE:	 A	 monocultura	 da	 cana-de-açúcar	 se	
estabeleceu	 em	 Pernambuco	 e	 o	 transporte,	 defi	ciente,	
dependia de animais. A importância do trabalho escravo 
na produção da cana e a comercialização das especiarias. 
Série	de	8	programas	em	que	bonecos	animados	contam	uma	versão	
sobre alguns dos principais aspectos da história da colonização do 
Brasil, como a adaptação dos colonos à terra, o ciclo da cana-de-
açúcar	e	a	comercialização	de	escravos.
	 Série	500	ANOS:	BRASIL	COLÔNIA	NA	TV
Fonte: Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br>. 
Acesso em: 10 ago. 2012.
VÍDEO 2: Disponível no link: http://youtu.be/TSPPcudT6dE
SINOPSE: Portugal,	 Brasil	 e	 diversas	 nações	 africanas	 foram	
responsáveis	pela	maior	emigração	forçada	da	história	da	humanidade.	
A	 “história	 inconveniente	 do	 Brasil”	 é	 uma	 história	 inconveniente	 de	
Portugal	até	1808	(invasões	 francesas	e	 fuga	da	corte	para	o	Brasil)	
e	do	Brasil	 até	1888	 (abolição	ofi	cial	 da	escravatura)	e	dos	diversos	
reinos	africanos	(capturavam	e	vendiam	escravos	aos	trafi	cantes).	Uma	
história inconveniente para todos (à exceção dos próprios escravos).
Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TSP
PcudT6dE&feature=related>.	Acesso em: 10 ago. 2012.
Apesar da 
responsabilidade 
sobre todas as 
tarefas, cada cativo 
fi cava sempre 
como responsável 
por manter um 
pedaço específi co 
da plantação e, no 
período de colheita, 
era atribuída a 
cada escravo uma 
quantidade de cana 
a ser colhida e 
presa em fardos.
43
DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO 
DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS
 Capítulo 2 
Atividade de Estudos: 
1)	 Chegou	 sua	 vez!	Após	 assistir	 aos	 vídeos	 propostos,	 faça	 um	
pequeno	 texto	 de	 aproximadamente	 duas	 laudas,	 no	 qual	 fará	
uma resenha crítica do período histórico apresentado nos vídeos 
do	capítulo	2.	Também	é	possível	criar	um	 tópico	de	discussão	
no	ambiente	virtual	referente	a	esta	atividade.	Utilize	o	espaço	a	
seguir	para	anotar	os	principais	fatos	que	irão	compor	seu	texto.
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Locais	de	ConvÍvio	Casa	Grande	e	
Senzala
A	sociedade	estava	 fundamentada	em	um	sistema	patriarcal,	 com	sistema	
econômico	 agrário,	 em	 que	 os	 interesses	 comerciais	 resultavam	 na	 venda	 de	
produtos	 importados	 e,	 consequentemente,	 a	 preços	 altos	 para	 os	 colonos.	A	
justifi	cativa	era	que	 todos	os	envolvidos,	a	coroa	e	os	comerciantes	
portugueses, almejavam grandes lucros.
E	 era	 dessa	 maneira	 que	 os	 fazendeiros	 compravam	 as	
mercadorias	 que	 precisavam	 para	 estarem	 de	 acordo	 com	 os	
costumes europeus.
Comprar	uma	panela	de	ferro	podia	ser	um	grande	 luxo	de	que	
E era dessa maneira 
que os fazendeiros 
compravam as 
mercadorias que 
precisavam para 
estarem de acordo 
com os costumes 
europeus.
4444
 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira
somente	os	senhores	de	engenho	podiam	usufruir.	Desse	modo,	a	casa	grande	ia	
se	tornando	cada	vez	mais	uma	réplica	do	que	se	imaginava	existir	na	metrópole.	
Essa	 vida	 de	 luxos	 era	 permitida	 aos	 donos	 de	 grandes	 fazendas	 que	
plantavam	a	cana	de	açúcar.	Ele	e	sua	família	moravam	então	na	casa	grande.	
Veja	um	exemplo	da	fazenda	Resgate,	em	Bananal,	no	estado	
de São Paulo, uma das propriedades do senhor de engenho Manoel 
de Aguiar Vallim: 
O	sobrado	colonial,	com	paredes	feitas	de	taipa,	foi	construído	
na	 primeira	 metade	 do	 século	 XIX	 e	 reformado	 a	 partir	 de	 1850,	
recebendo,	nos	acréscimos,	paredes	de	adobe	(bloco	de	argila	seca,	
secado

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