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TRABALHO, SOCIEDADE E RESISTÊNCIA NA HISTÓRIA BRASILEIRA Autor: Gilberto Valdemiro Poncio Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Bruna Scheifer Revisão Gramatical: Prof. José Roberto Rodrigues Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci 981.007 P795t Poncio, Gilberto Valdemiro Trabalho, sociedade e resistência na história brasileira / Gilberto Valdemiro Poncio. Indaial: Uniasselvi, 2012. 109 p. : il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830- 609-0 1. Brasil – História – Estudo e ensino. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Reimpressão: Setembro, 2013. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Reimpressão: Setembro, 2013. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Gilberto Valdemiro Poncio Possui Graduação em História pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) (2002), Pós-Graduação em nível de Especialização em Educação Popular e Movimentos Sociais certifi cada pelo instituto de superior do Litoral do Paraná (INSULPAR) (2005) com monografi a que investigou a visão dos professores da EJA sobre a Relação da Educação Popular dentro dos espaços escolares; Mestrado em Educação pela FURB (2010) com pesquisa sobre a Relação Família-Escola na EJA. Tem experiência como coordenador pedagógico em uma unidade da EJA e, professor para o ensino fundamental regular. Atua principalmente em consultoria nos seguintes temas: EJA, Currículo, Relação Família- Escola, Educação Profi ssional. Participou de Seminários e Congressos em Educação em âmbito Regionais e nacionais com publicações em Anais de Eventos como o Congresso Internacional de Educação Da Universidade Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (2009). Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Brasil, Mostra a tua Cara: a Constituição Sociohistórica do Povo Brasileiro .......... 9 CAPÍTULO 2 Do Tráfico Negreiro ao Quilombo de Palmares: uma História de Lutas ........................................................... 35 CAPÍTULO 3 Movimento Negro e Resistência: das Senzalas às Ações Afirmativas .................................... 57 CAPÍTULO 4 Resistência na História Brasileira ..................................... 85 7 APRESENTAÇÃO “Mas para que a diferença exista é preciso que os discursos menores criem mecanismos de sobrevivência, de conquistas de espaços e de mais direitos. Menores no sentido de destoar ao que pretende ser dominante.” (J.I. Venera e J.R. Severino) Prezado(a) Pós- Graduando(a), Daremos início ao caderno de Estudos “Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira”. Neste material, vamos convidar você a refletir sobre essa tríade em sua relação direta com nossa história. Para isso, é importante compreender a relevância que adquire conceitos como o trabalho, sociedade, raça, cultura, etnocentrismo, para citar alguns. Cabe destacar que não vamos propor uma simples apresentação de conceitos, mas propomos, sim, ao longo deste caderno, reflexões que sirvam para ampliar nossa visão crítica sobre a temática exposta. Nosso objetivo é que os temas abordados neste material lhe sirvam, prezado Pós-Graduando (a), de suporte para o desenvolvimento de habilidades, bem como de competências que sirvam para nortear a construção do conhecimento que seja fundamentado na experiência, que não seja apenas ilustrativo de um passado longínquo e desligado do contexto hodierno dos sujeitos, e que permita a formação de um aluno crítico e cidadão que (re)construa um olhar reflexivo sobre sua própria história. Com este pensamento norteando a construção de nosso material, vamos dinamizando situações e contextos, além de mesclar a utilização de diversos materiais e referências na apresentação dos conteúdos. Assim, iremos propor, ao longo de todo o caderno, atividades que permitam a aplicação das reflexões aqui propostas em debates e atividades com seus alunos no cotidiano escolar. E para alcançarmos nossos propósitos, apresentamos este caderno em quatro capítulos, que irão dar uma dimensão do que se vem estudando e questionando sobre a participação afrodescendente no trabalho ao longo da história no Brasil, bem como os reflexos desta atuação na sociedade, em sua forma ampla e sem deixar de acrescentar, neste debate, as formas de resistência à subjugação a que eram submetidos este povos. Com este pensamento, o primeiro capítulo fará a abordagem de conceitos como raça, etnia e como estes conceitos fundamentaram preconceitos que convergiram 8 para racismo e etnocentrismo. Também vamos analisar e refletir sobre a história da educação brasileira e a participação do negro no sistema educativo. Na sequência, o próximo capítulo lançará o olhar sobre o tráfico negreiro, com foco nas dimensões histórica e política. Ainda neste capítulo, visualizaremos um pouco sobre a resistência dos Africanos em quilombos, por exemplo, durante a escravidão no Brasil e, como este contexto histórico deixou suas marcas na escolarização das crianças negras. Nossa aproximação com esta discussão terá como recorte temporal o Império brasileiro, sempre propondo a reflexão sobre os impactos e as especificidades destes contextos para os dias atuais. No capítulo três abordaremos o africano escravizado como sujeito do processo de libertação, a convergência dos negros em organizações como o movimento negro, movimento de mulheres negras, como também a elaboração e aprovação de Políticas de ações afirmativas como estratégias de resistência negra no Brasil. No quarto capítulo, vamos propor um olhar para as Políticas de integração do negro na sociedade brasileira. Vamos propor a você, caro (a) Pós-Graduando, que reflita sobre a desconstrução das imagens negativas dos africanos herdados da literatura colonial. Vamos abordar, também, o mito da democracia racial por meio da análise crítica de algumas das experiências e projetos de combate ao racismo e à discriminação na educação brasileira, sendo talvez a mais relevante no contexto atual a Lei 10.639/2003. E para finalizar esta apresentação, aproveitamos para desejar que você faça a leitura com entusiasmo, concentração e que tenha êxito em mais esta etapa rumo à especialização. Parabéns, caro (a) cursista, por chegar até esta etapa, desejamos a todos uma BOA LEITURA e BONS ESTUDOS!! O Autor. CAPÍTULO 1 Brasil, Mostra a tua Cara: a Constituição Sociohistórica do Povo Brasileiro A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conceituar raça e etnia, bem como as relações fundamentadas em características raciais como racismo e etnocentrismo. Conhecer a participação do povo afrodescendente na institucionalização e universalização da educação brasileira. Debater criticamente sobre o hibridismo racial e cultural na formação do sistema educativo brasileiro. 11 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICADO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 ConteXtualização O Brasil tem em sua constituição sociohistórica a contribuição de diversos povos, como dos autóctones que aqui habitavam antes da chegada dos europeus, dos navegadores ibéricos, que trouxeram para o país o povo africano. Do assírios, exímios navegadores, aos portugueses, o Brasil, que ainda era chamado pelos indígenas de Pindorama, era habitado por diversas tribos que fi cavam espalhadas pelo território. Com o passar do tempo e as mudanças no sistema econômico que passava a ser mercantilista/capitalista (séc. XV ao XVIII), o povo da península ibérica, mais especifi camente os portugueses, lançavam-se ao mar para realizar as grandes navegações. Além de chegar em terras brasileiras com a pretensa ideia de “descoberta”, os nossos “irmãos d’além mar” trouxeram consigo um crescente contingente populacional. Inicialmente com a extração de pau-brasil e mais tarde , por meio da economia açucareira, o já reconhecido Brasil, se fazia movido por mão de obra escrava. E essa forma de produção estava fundamentada no conceito de inferioridade racial do povo africano, uma vez que viviam em organizações tribais, portanto sem o referencial de governo adotado pelos portugueses, além do fator cor de pele associado à crença de que os negros não possuíam alma, como veremos adiante. Atividade de Estudos: 1) E como isto começou? Você imagina caro(a) Pós-Graduando, como pode ter tido início essa falsa ideia de superioridade de um povo sobre o outro? Escreva sua opinião nas linhas abaixo e discuta com seus colegas de curso. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 1212 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira Observe que, mesmo sem querer, somos europocentristas, ou seja, costumamos olhar para a história do Brasil apenas após a chegada dos portugueses, ignorando, assim, a história dos povos indígenas que aqui já viviam. Em outras palavras, enfatizamos, em nosso recorte temporal, o espaço de tempo situado a partir da chegada dos europeus no Brasil, o que pode implicar em uma análise etnocentrista, que põe determinada cultura de um povo como centro, ou como único responsável pela evolução historiográfi ca. Isto acontece por sermos habituados em nossa formação escolar a olhar por esse ângulo. No entanto, gostaríamos de convidar você para ver uma parte da história por outro caminho. Vamos lá?! O Surgimento dos (PrÉ) Conceitos Desde sua gênese, o Brasil passou no século XV a ser o cenário de um processo de colonização que se deu sob um regime patriarcal e dividido em dois núcleos. O da Casa-Grande e o da Senzala. Gilberto Freyre torna-se uma das leituras quase obrigatórias para compreender o período de formação do que poderíamos chamar de identidade nacional do Brasileiro. Embora existam críticas a uma das teses centrais de Freyre, no que se refere à miscigenação pacífi ca entre senhores bondosos e escravos submissos. Você já sabe, caro(a) cursista, que nenhuma obra pode ser lida sem um olhar crítico. Freyre, em sua época, lançou sua tese e, embora com pontos a serem (re)avaliados, é importante ter conhecimento sobre suas ideias. Cabe lembrar que sua obra foi escrita na década de 1930 e, como toda obra, sofre infl uência do pensamento da época em que foi escrito. Concomitante a esse quadro, o modo de produção havia deixado a extração do pau-Brasil e passava a priorizar o cultivo de produtos agrícolas, como por exemplo a cana de açúcar e até mesmo o café. A criação de gado já se mostrava incipiente. A força de trabalho era escrava, inicialmente tendo como povo subjugado os indígenas e posteriormente o povo africano. Perceba que as questões principais desses contextos se encontram em uma sociedade dividida em classes e a introdução de um povo subjugado. Em outras palavras, podemos dizer que a organização A organização social do Brasil colonial era dividida em senhores de Engenho, donos das fazendas, homens livres, que prestavam serviços nas fazendas, e os escravos, a quem restava apenas a possibilidade de trabalhar nas lavouras e nos engenhos como forma de evitar castigos físicos e garantir alimentos. Costumamos olhar para a história do Brasil apenas após a chegada dos portugueses, ignorando, assim, a história dos povos indígenas que aqui já viviam. 13 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 social do Brasil colonial era dividida em senhores de Engenho, donos das fazendas, homens livres, que prestavam serviços nas fazendas, e os escravos, a quem restava apenas a possibilidade de trabalhar nas lavouras e nos engenhos como forma de evitar castigos físicos e garantir alimentos. Está montado o cenário e os personagens estão defi nidos, nesse caso falta o enredo, o que será norteado pelo conceito de raça, por exemplo. Figura 1 – A sociedade açucareira Fonte: Disponível em: <http://www.slideshare.net/mdaltmann/ sistema-colonial-presentation>. Acesso em: 01 out. 2012. O conceito que irá naturalizar a ideia de que existem diversas raças de humanos foi o de Carolus Linnaeus (1707-1778), botânico, zoólogo e médico. Conforme Silva Junior ( 2005), é no século XVIII que: Carolus Linnaeus (1758), inventor da taxinomia e criador da classifi cação Homo Sapiens, reconheceu quatro variedades do homem - Americano (Homo sapiens americanus: vermelho, mau temperamento, subjugável), Europeu (europaeus : branco, sério, forte), Asiático (Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, ganancioso), e Africano (Homo sapiens afer : preto, impassível, preguiçoso). Linnaeus reconheceu também uma quinta raça não-geografi camente defi nida, a Monstruosa (Homo sapiens monstrosus), compreendida por uma diversidade de tipos reais (por exemplo, Patagônios da América do Sul, Flatheads canadenses) e outros imaginados que não caberiam em nenhuma das quatro categorias “normais” (segundo a visão racista de Linnaeus, que não apenas criou a classifi cação como atribuiu a cada uma características físicas e morais, o indivíduos mestiçados poderiam talvez ser então classifi cados nesta última categoria) (SILVA JR, 2005, p[1]) . 1414 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira Perceba, caro (a) pós-graduando (a), que, com este pensamento, vai surgindo e se legitimando na sociedade europeia a ideia de superioridade de uma raça sobre outras. E isso a partir da difusão dos estudos de Linaeuss no século XVIII na sociedade. E você, caro (a) cursista, o que pensa sobre esta classifi cação? Qual o contexto em que a Europa estava vivendo para que essas ideias fossem aceitas? E nos dias atuais, existe alguma relação do preconceito existente hoje no Brasil com as ideias de Carolus no séc. XVIII? Após o advento da classifi cação dos seres humanos em grupos raciais, e com a crescente valorização do pensamento científi co na Europa, em 1775, Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840) reforça o pensamento de Linaeuss. Isso se deu quando o alemão determinou, conforme Oliveira (2004, p.57): [...] a região geográfi ca originária de cada raça e a cor da pele como elementos demarcatórios entre elas (branca ou caucasiana; negra ou etiópica; amarela ou mongólica; pardaou malaia e vermelha ou americana). No século XIX, foram agregados outros quesitos fenotípicos, como o tamanho da cabeça e a fi sionomia. Desde Blumenbach, no entanto, a cor da pele aparece como um dado recorrente. Inferindo-se, daí, que, dos dados do fenótipo, isto é, das características físicas, a “cor da pele” é o que tem sido mais usado e considerado importante, pois aparece em quase todas as classifi cações raciais. Com a evolução desses conceitos, e concomitante à ascensão da burguesia, outro sentimento que vai se fortalecendo no continente europeu é o de que esses grupos raciais que se formavam estavam associados à sua origem geográfi ca. E, claro, vale ressaltar que esses grupos que passavam a ser introduzidos na Europa traziam consigo outras culturas, religiões e costumes, que eram igualmente vistos como inferiores. Formou-se o cenário necessário para o surgimento do etnocentrismo. E por etnocentrismo podemos entender: Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas defi nições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a difi culdade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc (ROCHA, 1988, p.5). Para acessar o livro “O que é Etnocentrismo?”, de Everardo P. Guimarães Rocha, na íntegra, acesse: http://www.taddei.eco.ufrj.br/ AntCom/Rocha.pdf. Grupos raciais que se formavam estavam associados à sua origem geográfi ca. 15 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 A partir desse conceito de Etnocentrismo, muito valorizado na cultura Europeia, podemos encontrar razões que explicam o processo de dominação a que os europeus submetem os povos africanos. Veja, caro (a) cursista, os povos africanos não eram católicos, viviam em tribos, não possuíam pele branca, tinham costumes e organizações sociais diferentes. Motivados pelo desejo de dominação e ao estranhamento causado pelo contato com uma cultura tão diferenciada, não demorou para que os Europeus considerassem a si mesmos superiores. Com um pensamento predominante na Europa da época marcado pelo positivismo, os europeus tinham agora a ciência e a religião legitimando a escravidão do povos pagãos do hemisfério sul. Deste modo, conforme Oliveira (2004, p.58), Vale mencionar ainda as polêmicas sobre o conceito de raça e de etnia, que, grosso modo, raça deveria ser um conceito biológico, enquanto etnia deveria ser um conceito cultural. Não sendo raça uma categoria biológica, etnia também se revela como um conceito que não é estritamente cultural, pois a delimitação de grupos étnicos parte de uma suposta alocação deles no conjunto dos grupos populacionais raciais sem abstrair a unidade do local de origem e, para delimitar etnia, considera-se a concomitância de características somáticas (aparência física), linguísticas e culturais. Enfi m, o conceito de raça é uma convenção arbitrária e pode ser enquadrada como uma categoria descritiva da antropologia, uma vez que é baseada nas características aparentes das pessoas. Portanto, o uso dos termos raça ou etnia está circunscrito à destinação política que se pretende dar a eles. Quanto à etnia, é importante convencionarmos que neste estudo entendemos que o conceito de Negro é igualmente constituído e constituidor do contexto nos quais as relações fundamentadas na raça irão se efetivar. Ou seja, o conceito de raça, etnia, e até mesmo a denominação do “negro” sofrem os refl exos dos contextos sociais nos quais se desenvolvem. Em outras palavras, conforme Fonseca (2007, p 14), O conceito de negro é produto de uma construção teórica que se liga às experiências sociais vivenciadas entre o fi nal do século XIX e o século XX. Antes desse período, o termo negro era raramente empregado e o que encontramos é uma pluralidade de denominações como pretos, pardos, crioulos, cabras, mulatos, mestiços, africanos etc. Portanto, você já pode refl etir sobre que signifi cados o termo Conceito de Etnocentrismo, muito valorizado na cultura Europeia. O conceito de negro é produto de uma construção teórica que se liga às experiências sociais vivenciadas entre o fi nal do século XIX e o século XX. Antes desse período, o termo negro era raramente empregado e o que encontramos é uma pluralidade de denominações como pretos, pardos, crioulos, cabras, mulatos, mestiços, africanos etc. 1616 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira negro carrega nos dias atuais. Refl ita e perceba que ao escolhermos determinados termos para designar determinadas pessoas, já estamos transmitindo nossos valores e ideais relacionados a cada uma de nossas escolhas. Para entender o positivismo: essa corrente teórica infl uenciou tanto a ciência, introduzindo seu método de pesquisa, como também a organização da sociedade, principalmente no século XIX. O positivismo aponta suas principais linhas de ação: [...] como método e como doutrina. Como método, embasado na certeza rigorosa dos fatos de experiência como fundamento da construção teórica; como doutrina, apresentando-se. Como revelação da própria ciência, ou seja, não apenas regra por meio da qual a ciência chega a descobrir e prever (isto é, saber para prever e agir), mas conteúdo natural de ordem geral que ela mostra junto com os fatos particulares, como caráter universal da realidade [...](RIBEIRO JUNIOR, s/d, p.6). RIBEIRO JUNIOR, João. O que é POSITIVISMO. Editora Brasiliense. Disponível na íntegra no link http://xa.yimg.com/kq/ groups/3351622/1477263435/name/o+que+%C3%A9+POSI TIVISMO.pdf . O Negro na História da Educação Brasileira A educação formal começa a acontecer no Brasil com a chegada de padres jesuítas em 1549. Com o advento das primeiras escolas em Salvador, estado da Bahia, que tinham um cunho explicitamente religioso, os primeiros indivíduos a serem “ensinados” foram os indígenas adultos. Isso acontecia já que, para os portugueses, os autóctones habitantes do Éden do novo mundo mereciam ser salvos, pois eram vistos como os Bons Selvagens, ao contrário do povo negro, considerado na época “sem alma”. 17 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 Outro motivo pelo qual podemos dizer que a educação estava na mãos dos jesuítas é o fato apontado por Chiavenato. Segundo este autor: O Estado não dava educação e a forma de transmitir conhecimentos ao povo fi cava por conta dos padres. A comunicação era feita de forma oral, ensinando dogmas e conceitos católicos completamente alienados da realidade brasileira (CHIAVENTATO, 1980, p.117). Já aos negros era dedicado o trabalho forçado e escravo, ao mesmo tempo em que lhes era imposto um forte processo de aculturação, pois a eles era negada toda e qualquer forma de manifestação cultural de suas origens que fosse identifi cada pelos portugueses, isso implica dizer que aos negros não era permitido nenhuma forma de expressão cultural como, por exemplo, suas músicas, suas danças e seus cultos religiosos. O COMÉRCIO DE ESCRAVOS NO SÉCULO XVI “Simples mercadoria, os negros eram vendidos por metro e por tonelada. Eram as ‘peças das Índias’, ‘peças da África’, as ‘toneladas de negros’ [...]. A própria forma como se comercializavam os negros africanos era refl exo da sua desumanização: não se vende um negro, dois negros, cinquenta negros – vendiam-se ‘peças’; uma peça não signifi cava um negro, como uma tonelada não signifi cavamil quilos de negros. Uma ‘peça das Índias’, no geral, era 1,75 metro de negros. Dessa forma, cinco negros entre os 30 e 35 anos, que somados tinham 8,34 metros, representavam não cinco escravos, mas 4,76 peças. Dois negros de 1,60 metro era apenas 1,8 peça de escravo. O valor do negro era medido por metro, por quilo, na qualidade dos músculos, na idade, nos dentes, no sexo, na saúde geral, no aspecto etc. E também no lote de africanos, daí o padrão de ‘peças’, que vigorou principalmente a partir de 1660 (CHIAVENATO, 1980, p.123-124). O Estado não dava educação e a forma de transmitir conhecimentos ao povo fi cava por conta dos padres. A comunicação era feita de forma oral, ensinando dogmas e conceitos católicos completamente alienados da realidade brasileira (CHIAVENTATO, 1980, p.117). 1818 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira Acompanhe o trecho desta leitura do site vivabrazil.com e entenda um pouco melhor como se deu a introdução da mão de obra escrava no Brasil. Para acessar o texto na íntegra. acesse o link: http://www.vivabrazil.com/abolicao_da_escravatura.htm . No Brasil, o elemento negro começou a ser Introduzido com os primeiros engenhos de açúcar de São Vicente. Para alguns historiadores, os escravos africanos aqui chegaram com Martim Afonso de Sousa, em sua expedição de 1532. Durante quase 50 anos este tráfi co foi regular, e em 1583 realizou-se o primeiro contrato para a introdução da mão-de-obra africana no Brasil, assinado entre Salvador Correia de Sá, governador da Cidade do Rio de Janeiro, e São João Gutiérres Valéria. Um século mais tarde já havia nas lavouras brasileiras 50 mil escravos negros, a maioria em Pernambuco. Em 1755, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão e em 1759 a de Pernambuco e Paraíba, as quais, introduzindo grande número de negros africanos, fomentaram o progresso material do Nordeste brasileiro. Tencionando contar com o elemento natural para a colonização dos continentes que ocupavam, os portugueses tentaram – nos primeiros tempos de sua permanência no Brasil – subjugar os silvícolas brasileiros. Assim, em 1533, Martim Afonso de Sousa permitiu a Pero de Góis o transporte para a Europa de 17 indígenas escravizados, e no foral dado a cada donatário contava o direito de vender anualmente até 39 indígenas cativos. O índio brasileiro, entretanto, além de não se adaptar ao regime de escravidão, não servia para o trabalho na lavoura. Estes fatos, aliados à vinda dos jesuítas, empenhados na defesa do índio, fi zeram com que aumentasse o tráfi co negreiro, tendo os próprios religiosos usado a mão-de-obra africana até 1870. A introdução do escravo negro no Brasil representava uma determinante socioeconômica importantíssima para a emancipação colonial, e foi por muitos reconhecida. Entre estes, Nóbrega, em carta ao rei de Portugal datada de 1559; o conceituado Bispo D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, em sua obra “Justiça do Comércio de Resgate de Escravos da Costa d’ África”; e o famoso Padre Antonil, que em sua “Cultura e Opulência do Brasil, por Suas Drogas e Minas”, escreveu: “Os escravos são as mãos e os pés do 19 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente”. Os negros eram vendidos pelos seus sobas – chefes de tribos africanas – aos portugueses, e trazidos para o Brasil vindos da costa e da contracosta da África. Até meados do século XVll eram eles adquiridos, em sua maioria, pelos senhores de engenho de Pernambuco e Bahia. No início do séc. XVIII, seus maiores compradores passaram a ser o Rio de Janeiro e Salvador. Ainda no início do século XVllI, os escravos negros foram introduzidos nas regiões cafeeiras, a princípio do Pará e do Maranhão, mais tarde do Rio de Janeiro e São Paulo. Os negros escravos que vieram para o Brasil saíram de vários pontos do continente africano: da costa ocidental, entre o Cabo Verde e o da Boa Esperança; da costa oriental, de Moçambique; e mesmo de algumas regiões do interior. Por isto, possuíam os mais diversos estágios de civilização. O grupo mais importante introduzido no Brasil foi o sudanês, que, dos mercados de Salvador, se espalhou por todo o Recôncavo. Desses negros, os mais notáveis foram os iorubas ou nagôs e os geges, seguindo-se os minas. Em semelhante estágio de cultura encontravam-se também dois grupos de origem berbere-etiópica e de infl uência muçulmana, os fulas e os mandês. [...] os dos grupos da cultura chamada cultura banto, os angolas, os congos ou cabindas, os benguelas e os moçambiques. Os bantos foram introduzidos em Pernambuco, de onde seguiram até Alagoas; no Rio de Janeiro, de onde se espalharam por Minas e São Paulo; e no Maranhão, atingindo daí o Grão-Pará. Ainda no Rio de Janeiro e em Santa Catarina foram introduzidos os camundás, camundongos e os quiçamãs. Fonte: VIVABRASIL. A Abolição. Disponível em: <http://www.vivabrazil. com/abolicao_da_escravatura.htm>. Acesso em: 10 out. 2012. A situação começa a mudar a partir do momento em que a Inglaterra, movida por interesses comerciais e econômicos, passou a atuar como protetora das ainda tidas como “raças inferiores”. Tendo relação direta com o desenvolvimento das fábricas e sua mecanização pelo advento das máquinas, os ingleses começaram a perseguir os navios negreiros e a tentar impedir o comercio de povos africanos. . Conforme Gonçalves; Silva (2000, p.135), 2020 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira Com o intuito de divulgar ao mundo, o quanto, no Brasil, se davam “provas e amor ao progresso e à perseverança na trilha da civilização”, José Ricardo Pires de Almeida publica, no ano de 1889, em língua francesa, obra sobre história e legislação da instrução pública no Brasil, entre os anos de 1500 e 1889. Tendo destacado que, no Império brasileiro, se assimilara o que havia “de mais completo nas nações avançadas da Europa, adaptando a seu gênio nacional” e buscando salientar papel de liderança do Brasil na América Latina, o autor aponta que, em 1886, numa população de 14 milhões de habitantes, 248.396 eram alunos de estabelecimento de ensino. E sugere, salvo melhor juízo, não ser esta cifra maior por estarem incluídos no cômputo do total da população “os indígenas e os trabalhadores rurais de raça” (ALMEIDA, 2000, p. 17-18). Ao realizarmos uma pesquisa sobre a população negra no Brasil e o processo de inserção no sistema educativo formal destes sujeitos, ao longo da história de nosso país, vislumbramos uma escassa literatura sobre a temática. Essa mesma lacuna a que nos referimos se estende aos documentos ofi ciais. Para fomentar o debate sobre a evolução do protagonismo negro na história do Brasil, assista aos vídeos abaixo: Vídeo 1: http://youtu.be/q_Y_mCFvA-4 SINOPSE: Ederson Granetto entrevista a historiadora Marina de Mello e Souza, do departamento de História da Universidade de São Paulo, sobre a inclusão no currículo das escolas brasileiras do ensino da cultura e da história Afro-brasileira. Em 2003, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi alterada para determinar essa inclusão, privilegiando a História da África e dos africanos, a vida dos negros no Brasil, a Cultura Negra Brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Ederson Granetto entrevista a antropóloga Rachel Rua Bakke sobre o ensino da cultura Afro-Brasileira nas escolas e sobre as difi culdades enfrentadas pelos professores ao tratar do tema. Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=q_Y_mCFvA-4>. Acesso em: 10 set. 2012. Vídeo 2: http://youtu.be/jRZRa4H8674 SINOPSE: A escravidão brasileira retratada em fotos inéditas 21 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 de um período vergonhoso, violento e esquecido de nossa história. FOTOS DO INSTITUTO MOREIRA SALLES. Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=jRZ Ra4H8674&feature=related>. Acesso em: 10 out. 2012. Atividade de Estudos: 1) Após assistir aos vídeos, anote suas refl exões em tópicos, que deverão ser postados no ambiente virtual em forma de texto. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Após realizar essa atividade, vamos dar continuidade a nossa retrospectiva histórica, caro (a) Cursista. E para nos situarmos no tempo, estamos em meados da década de 1820. Sobre a constituição de 1824, encontramos em Costa e Oliveira (s/d, p.3): [...] ao mesmo tempo em que assegurava aos ingênuos e libertos o título de cidadão, formalizou-lhes a exclusão. Em seu artigo 94, inciso II, impediu, formalmente, que todo o segmento populacional negro tivesse acesso a direitos básicos como, por exemplo, o de votar e de ser votado. Os legisladores defi niram, constitucionalmente, três grupos de cidadãos que estariam impedidos de exercer o direito de participar, mediante os pleitos eleitorais das decisões do país dentre os quais estavam incluídos os negros. 2222 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira Foi somente em 1827, ou seja, três anos após a promulgação da primeira constituição do país, que se publicou a primeira lei, na qual se assegurava educação primária e gratuita a todos os cidadãos. No livro de Primitivo Moacyr – que apenas descreve documentos ofi ciais relativos à instrução pública –, encontramos [...] a seguinte determinação em uma lei de 1837: “são proibidos de frequentar as escolas públicas: 1º as pessoas que padecerem de moléstias contagiosas; 2º os escravos e pretos, ainda que sejam livres ou libertos” (MOACYR, 1940, p. 431 apud FONSECA, 2007, p.18). Cabe destacar que no proposto para cidadão entendia-se a exclusão dos negros, índios e mulheres. Tal exclusão persistiu até meados do século XIX, como podemos constatar no decreto nº 1.331 de 1854. O documento [...] estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. Mais adiante, O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares (BRASIL, 2004, p. 7). Leia o texto de Fonseca (2007) na íntegra para conhecer um pouco sobre como era tratada a educação das crianças negras nos vários estados do Brasil analisados pelo autor: FONSECA, Marcus Vinicius. A arte de construir o invisível: o negro na historiografi a educacional brasileira. 2007. Disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE13.pdf . Sobre a Educação e sua relação com o movimento abolicionista, que teve seu auge com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Izabel, podemos destacar que as preocupações dos senhores de engenho estavam voltadas única e exclusivamente para a manutenção de sua posição social. A classe dos fazendeiros temia que a abolição resultasse em outras mudanças sociais, o que poderia resultar na derrubada da hierarquia existente até o momento na sociedade brasileira. Desse modo, podemos entender, como aponta Santos (2008, p.[1]): Foi somente em 1827, ou seja, três anos após a promulgação da primeira constituição do país, que se publicou a primeira lei, na qual se assegurava educação primária e gratuita a todos os cidadãos. 23 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 Nesse cenário de discussões e debates acerca da abolição da escravidão, a educação voltada para a população negra era aventada como uma estratégia desejável para uma transição segura do sistema de trabalho. O importante era assegurar que o fi m do regime escravista ocorresse de forma paulatina, de modo a não atrapalhar o bom andamento da economia brasileira. Ou seja, a exigência de organizar o trabalho livre trouxe, simultaneamente, a necessidade de educar o homem para o trabalho. Uma educação para o trabalho, para a “liberdade”, para a construção da nação, em que o acesso à escola por essa camada pode ser visto como emblemático das mudanças que os discursos apresentavam como necessárias. Para Entender a cronologia das leis que foram abrindo caminhos para a abolição da escravatura no Brasil, leia o trecho abaixo: “A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas substituíram os primitivos engenhos, fato que permitiu a utilização de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era grande o desejo do surgimento de indústrias. Visando não causar prejuízo aos proprietários, o governo, pressionado pela Inglaterra, foi alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1850, com a extinção do tráfi co negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Essa lei tornava livre os fi lhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação. Em 1885 foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários, que benefi ciava os negros de mais de 65 anos. Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total fi nalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil. Fonte: Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/ historiadobrasil/abolicao.htm>. Acesso em: 01 out. 2012. É preciso lembrar que os debates sobre abolição que resultaram nas leis que a antecederam teve início em meados do século XIX, embora foi a partir da década de 1870 que se passou a discutir a libertação das crianças nascidas de mães escravas, ou seja, a partir daí se passava a discutir uma espécie de forma de libertação do ventre, aos dizeres da época (FONSECA, 2001). É ainda Fonseca (2001, p.13) que nos aponta que: 2424 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira [...] em meio às discussões que começavam a difundir a ideia e a necessidade de estabelecer a libertação das crianças nascidas de escravas, educação e emancipação eram vinculadas como parte do processo geral de preparação dessas crianças para o exercício da liberdade. E a partir desse projeto social que se instalava como necessária a inserção dos libertos nos sistemas educativos, pois passava a ser uma forma de inculcar os ideais de padronização exigida pela sociedade “positivista” da época. Em 1890, e como refl exo do advento do governo provisório no Brasil, cria-se o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, cujo ministro Benjamim Constant Botelho de Magalhães promoveu uma importante reforma curricular. Ou seja, passou a ser propostauma escola laica, com liberdade para o ensino, mas que também passava a ter o caráter de gratuidade para o ensino fundamental. Com a expansão da escola pública ocorrida no país, ao longo da primeira república (também conhecida como república velha), também passou a existir, por parte do governo, uma crescente preocupação com o que seria ensinado nas escolas e por meio de qual material tal objetivo seria alcançado. Entendendo o livro didático como um poderoso canal para difundir o ideal burguês de branqueamento da identidade nacional, o governo introduziu nas escolas os então chamados “livros de leitura”. Eles davam ênfase a duas temáticas principais, que eram: as belezas naturais e o povo brasileiro “branco”, no qual: Sobre a população, a questão racial foi enfaticamente tratada. As imagens de negros e negras foram focalizadas em perspectivas intensamente negativas, dando sustentação às práticas sociais discriminatórias que na atualidade ainda persistem na sociedade brasileira. Foi um intenso processo de fabricação de uma sociedade que rejeita sua ancestralidade negra em favor do desenvolvimento de um ideal branco (COSTA e OLIVEIRA, s/d, p.12). Estava se formando um contexto em que ocorria a inserção de crianças escravas nos sistemas educativos, desde que autorizadas pelos seus senhores. Estes por sua vez, tinham interesse em que seus escravos participassem dos cursos noturnos de educação, pois ao se apropriarem dos conhecimentos básicos de cálculo, por exemplo, passavam a poder lidar com as situações relacionadas ao dinheiro ganho, podendo lidar melhor com a compra e venda de objetos e serviços, aumentando assim os ganhos do senhor de engenho. É neste contexto que, em 1903, conforme Lucindo (2010, p.64), havia instituições nas quais: Em 1890, e como refl exo do advento do governo provisório no Brasil, cria-se o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, cujo ministro Benjamim Constant Botelho de Magalhães promoveu uma importante reforma curricular. 25 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 ‘[...] o ensino primário era ministrado conjuntamente para as internas e educandas do asilo, tendo por objetivo dar-lhes completa instrução e educação, ao lado de sólida formação moral e religiosa’, porém ao receber meninas ‘brancas’ a instituição passa a destinar a instrução escolar a elas enquanto que às meninas descendentes de ex-escravizados, o ensino tinha a intenção de prepará-las ‘para executar serviços domésticos em casa “de famílias honestas”’ e, assim, tornando-se empregadas domésticas especializadas. Em outras palavras, estava se formando o que mais tarde viria a ser a característica do sistema educacional brasileiro até os dias atuais, a distinção de ensino entre crianças da elite e as crianças afrodescendentes inicialmente, e posteriormente as das camadas populares como um todo. Abaixo indicamos algumas referências bibliográfi cas que podem contribuir na sua compressão, caro (a) cursista, sobre a temática proposta nesse capítulo. São bibliografi as de agradável leitura e que trazem um olhar crítico sobre a introdução dos povos africanos e seus descendentes em nosso país e a relação desta inserção de forma contextualizada. Recomendamos, portanto, a leitura das seguintes obras: FONSECA, Marcus Vinicius da; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e; PINTO, Regina P. (Regina Pahim). Negro e educação: presença do negro no sistema educacional brasileiro. São Paulo : Ação Educativa, ANPEd, 2001. 100 p. MÜLLER, Maria Lúcia Rodrigues. Educadores & alunos negros na Primeira República. Brasília, D.F : Ludens; Rio de Janeiro : Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 138 p. OLIVEIRA, Iolanda de; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Identidade negra: pesquisas sobre o negro e a educação no Brasil. Rio de Janeiro : Anped : Ação Educativa, [200?]. 199 p, il. (Negro e educação, 2). LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um estudo sobre as propostas educacionais de afrodescendentes (São Paulo, 1918-1931).1. ed. Itajaí : NEAB : Casa Aberta, 2010. 181 p. 2626 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira Leia o texto que segue para conhecer um pouco mais sobre o contexto histórico no qual se constitui o período histórico intitulado de primeira República. A primeira República, também conhecida como República Velha, foi o período que abrange a Proclamação da República até a revolução de 1930. Em 15 de novembro de 1889, houve uma reunião para decidir acerca da república no Brasil através do voto popular. Até que um plebiscito fosse realizado, a República permaneceu provisória. O governo provisório foi inicialmente comandado por marechal Deodoro da Fonseca, que estabeleceu algumas modifi cações como a reforma do Código Penal, a separação da Igreja e do Estado, a naturalização dos estrangeiros residentes no país, a destruição do Conselho, a anulação do senado vitalício entre outras. Em 21 de dezembro, a junta militar reuniu-se na Assembleia Constituinte para discutir acerca de uma nova Constituição que marcaria o início da República. Após um ano de realização do novo regime, o Congresso novamente se reuniu para que em 24 de fevereiro de 1891 fosse promulgada a primeira Constituição da República do Brasil, o que ocorreu neste dia. Essa constituição foi inspirada na Constituição dos Estados Unidos que se fundamenta na descentralização do poder que era dividido entre os Estados. Dessa forma, a Constituição do Brasil estabeleceu a federação dos Estados, o sistema presidencial, o casamento civil, a separação do poder criando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, autonomia dos estados e municípios. Esse regime recebeu o nome de República da Espada. Tal denominação se deu pela condição militar dos dois primeiros presidentes do Brasil. Apesar de reconhecida, a República sofreu grandes difi culdades, pois houve revoltas que a colocaram em perigo. Em 23 de novembro de 1891, Deodoro da Fonseca renunciou à presidência por ter tomado providências para fechar o Congresso, fato que gerou a primeira revolta armada e por este principal motivo Deodoro deixou o poder para evitar o desenrolar da revolta. Floriano Peixoto, até então vice-presidente, assumiu o cargo máximo executivo. Em oposição ao que dizia a Constituição, Floriano Peixoto impediu que uma nova eleição fosse feita gerando grande oposição, pois foi taxado como “ditador” ao governar de maneira centralizada, além de demitir todos aqueles que apoiaram Deodoro da Fonseca 27 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 em seu mandato. Em 1893, inicia-se a Segunda Revolta Armada. Diante do fato, Floriano domina a revolta bombardeando a capital do país. Após a saída de Floriano Peixoto, a aristocracia cafeeira que já dominava a supremacia econômica passou a dominar também a supremacia política. A República Oligárquica se fortaleceu com a chegada de Prudente de Morais na presidência, pois ele apoiou as oligarquias agrárias. Por Gabriela Cabral Equipe Brasil Escola. Fonte: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/ primeira-republica.htm>. Acesso em: 01 out. 2012. Atividades de Estudos: 1) Chegou sua vez, caro (a) Pós-Graduando (a). Vamos lá! Faça suas anotações e indique seus argumentos refl etindo sobre como o negro era tratado pela legislação e seus impactos nas relações sociais que você percebe no seu cotidiano. Ou seja, faça uma relação de como o negro era descrito, na sua opinião, e como se constroem as relações nos dias atuais. Você pode usar a escola em que vocêtrabalha para ser seu campo de investigação. Use o espaço abaixo para apresentar seus principais argumentos. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2828 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Para fi nalizar nosso primeiro capítulo, convidamos você a criar um plano de ensino sobre a Temática Cultura negra nos dias atuais. Imagine que esse plano será aplicado em uma turma de 7º ano (ou 6ª série) do ensino fundamental. Construa o plano contendo: tema; objetivos; metodologia e avaliação. Vamos lá, com entusiasmo! A sugestão é que você pode trocar ideias com seus colegas de curso utilizando o ambiente virtual ou mesmo em um encontro presencial para debater a utilização de projeto envolvendo as várias disciplinas. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Para compreender um pouco mais sobre a utilização de projetos interdisciplinares, apresentamos as seguintes informações, tendo como base Poncio (2012). Para que se tenha uma prática interdisciplinar, o professor deverá propor aos alunos uma aprendizagem global sobre os assuntos abordados e, para isso, é fundamental a abordagem dos diversos ângulos que a escola pode possibilitar. Ou seja, as várias disciplinas atuando em conjunto e mostrando aos alunos os diversos conhecimentos que podem ser extraídos do cotidiano e aprofundados na escola, que constituirão um grupo de trabalho motivado e interessado em pesquisar e descobrir sobre seu contexto social. 29 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 O trabalho com projetos caracteriza-se por um avanço que já consegue se distanciar de um currículo engessado, mas como para o educando adulto é essencial que o tema seja de seu interesse, para o educador é essencial que passe por sua experienciação e/ou que saiba buscar subsídios em fontes que contemplem o contexto do adulto. Com este pensamento, algumas diretrizes podem contribuir para o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar. Um dos primeiros fatores que você deve propor é um trabalho coletivo aos seus colegas, pois deste modo todas as áreas de conhecimento poderão propor atividades comuns, ou até mesmo a investigação de temas pertinentes a cada uma das disciplinas, porém a partir de um único assunto ou tema. Tente, convide inicialmente alguns colegas e vá ampliando o grupo posteriormente. Faça uso dos resultados positivos para cativar adesões ao trabalho interdisciplinar. Outra possibilidade de ação pedagógica do grupo para valorizar a interdisciplinaridade é propor aos alunos resoluções de situações- problema nas quais eles precisem dos conhecimentos de várias disciplinas para resolver os desafi os. Outro ponto importante para guiar a prática interdisciplinar do corpo docente é que todos os professores procurem, na medida do possível, propor discussões de temas que sejam do interesse do grupo de alunos e que os temas sejam gradualmente aprofundados à medida que vai recebendo a participação de outras áreas de conhecimento. Com a intenção de fazer um rápido resgate da cronologia da educação brasileira, apresentamos o excerto do texto retirado do site: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb06.htm. Neste mesmo endereço você ainda tem acesso a uma linha do tempo que relaciona a história da Educação com a História do Brasil no período da primeira república. A República proclamada adota o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se infl uência da fi losofi a positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a Outra possibilidade de ação pedagógica do grupo para valorizar a interdisciplinaridade é propor aos alunos resoluções de situações-problema nas quais eles precisem dos conhecimentos de várias disciplinas para resolver os desafi os. 3030 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição brasileira. Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária pela científi ca. Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científi cas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico. É importante saber que o percentual de analfabetos no ano de 1900, segundo o Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto Nacional de Estatística, era de 75%. O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em detrimento da científi ca. A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas ofi ciais, e de frequência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um certifi cado de assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira. A Reforma de Carlos Maximiliano, em 1915, surge em função de se concluir que a Reforma de Rivadávia Correa não poderia continuar. Esta reforma reofi cializa o ensino no Brasil. Num período complexo da História do Brasil surge a Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes. A década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de mudança das características políticas brasileiras. Foi nestadécada que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a 31 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927). Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas diversas reformas de abrangência estadual, como a de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928. O clima desta década propiciou a tomada do poder por Getúlio Vargas, candidato derrotado nas eleições por Julio Prestes, em 1930. A característica tipicamente agrária do país e as correlações de forças políticas vão sofrer mudanças nos anos seguintes o que trará repercussões na organização escolar brasileira. A ênfase literária e clássica de nossa educação tem seus dias contados. Fonte: Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco. pro.br/heb06.htm>. Acesso em: 10 out. 2012. Atividade de Estudos: 1) Participe de um debate no fórum virtual, discuta os trechos do capítulo em que podemos identifi car avanços quanto à inserção dos povos de origem africana no sistema educativo brasileiro. Na sequência, construa uma linha do tempo apontando a cronologia apontada neste capítulo sobre os fatos relevantes na história dos povos negros no Brasil. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3232 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Estamos chegando ao fi nal do primeiro capítulo e você prezado (a) cursista pode ter acesso a diversos materiais que possibilitaram a refl exão e análise critica da participação do negro e sua respectiva inserção nos sistemas educacionais ao longo da História do Brasil. Os negros foram introduzidos no Brasil na primeira metade do século XVI com a utilização de mão de obra africana nos engenhos de açúcar. Os escravos eram vendidos no Brasil, mas, com o passar do tempo e na esteira da História, os povos afrodescendentes se tornaram gradualmente em protagonistas de sua história. Com várias leis que aproximavam os negros de serem libertos, como a lei do ventre livre e a lei do sexagenário, tivemos na história do Brasil, no ano de 1888, a assinatura da Lei Áurea que abolia a escravidão dos povos afrodescentes no país a partir daquele 13 de Maio histórico. Mas você, caro(a) cursista, já tem o olhar crítico e a percepção de que a História não se constrói de forma linear e sem contradições, então, cabe lembrar que este era apenas o começo de um modo de vida diferente, se antes eram excluídos do direito de serem cidadãos, com esta condição de escravo liberto os afrodescendentes estavam muitas vezes, sem amparo nenhum do Estado, o que signifi cava ter que lutar por sua sobrevivência e posteriormente para ser considerado cidadão. É com este pensamento que convidamos você a seguir seus estudos e a conhecer sobre os navios negreiros e o transporte dos povos africanos escravizados, bem como alguns dos principais movimentos de resistência dos escravos ao longo de sua história no Brasil. Seguiremos com entusiasmo e aproveitamos para desejar a você, BONS ESTUDOS! 33 BRASIL, MOSTRA A TUA CARA: A CONSTITUIÇÃO SOCIOHISTÓRICA DO POVO BRASILEIRO Capítulo 1 Referências BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC/Sepir, 2004. CHIAVENATTO, Julio Jose. O negro no Brasil: da senzala a Guerra do Paraguai. 2. ed. Sao Paulo : Brasiliense, 1980. 259p. COSTA, . OLIVEIRA. Fonte: Disponível em: <http://www.ie.ufmt.br/semiedu2009/ gts/gt15/ComunicacaoOral/CANDIDA%20SOARES%20DA%20COSTA.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2012. FONSECA, Marcus Vinicius. A Arte de construir o invisível: O negro na historiografi a educacional brasileira. 2007. Fonte: Disponível em: <http://www. sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE13.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2012. _____. As primeiras práticas educacionais com Características Modernas em Relação aos Negros no Brasil. In: FONSECA, Marcus Vinicius da; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e; PINTO, Regina P. (Regina Pahim). Negro e educação: presença do negro no sistema educacional brasileiro. São Paulo: Ação Educativa, ANPEd, 2001. 100 p p. 11 – 36. GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. 2000. Fonte: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n15/n15a09.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2012. LUCINDO, William Robson Soares. Educação no pós-abolição: um estudo sobre as propostas educacionais de afrodescendentes (São Paulo, 1918-1931).1. ed. Itajaí : NEAB : Casa Aberta, 2010. 181 p. OLIVEIRA, Fátima de. Ser negro no Brasil: alcances e limites. 2004. Fonte: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n50/a06v1850.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2012. PONCIO, Gilberto Valdemiro. Práticas pedagógicas para a EJA. Indaial, SC: Uniasselvi, 2012. 132. RIBEIRO JUNIOR, João. O que é POSITIVISMO. Editora Brasiliense. Fonte: Disponível em: <http://xa.yimg.com/kq/groups/3351622/1477263435/name/ o+que+%C3%A9+POSITIVISMO.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2012. 3434 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira ROCHA, Everardo P. Guimaraes. O que e etnocentrismo. 4. ed. Sao Paulo : Brasiliense, 1987. 95p. SANTOS, Rosimeire. A escolarização da população Negra entre o fi nal do século XIX e o início do século XX. 2008. Disponível em: <http://www. webartigos.com/artigos/a-escolarizacao-da-populacao-negra-entre-o-fi nal-do-sec- xix-e-o-inicio-do-sec-xx/8027/>. Acesso em: 20 mai. 2012. SILVA JUNIOR, Juarez C. da. Raça e Etnia. Fonte: Disponível em: <http:// amazonida.orgfree.com/movimentoafro/raca_e_etnia.htm>. Acesso em: 21 abr. 2012. VIVABRAZIL. A Abolição. Fonte: Disponível em: <http://www.vivabrazil.com/ abolicao_da_escravatura.htm>. Acesso em: 25 abr. 2012. CAPÍTULO 2 Do Tráfico Negreiro ao Quilombo de Palmares: uma História de Lutas A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer e compreender as características do período colonial do século XVI até o séc. XVIII. Conhecer e identifi car os movimentos de resistência negra à escravidão no Brasil Colonial. 37 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS Capítulo 2 ConteXtualização Prezado(a) Pós-Graduando(a), Estamos felizes em compartilhar esta caminhada com você. Você já estudou sobre como se instalou na Europa, justifi cada pelo pensamento científi co, o pensamento que legitimava a escravidão de determinados povos ou “raças” tidas como inferiores. Tal pensamento justifi cou, ao longo da história, a subjugação do povo africano pelos europeus, tidos como raça superior. No entanto, estamos iniciando o segundo capítulo de nosso estudo. E como pretendemosaprofundar as questões relacionadas ao início do volumoso tráfi co negreiro, partimos da contextualização do Brasil colônia do século XVI, período em que se intensifi ca o comércio de escravos em nosso país. Um dos fatores relevantes nesse processo histórico é que, em meados do século XVI, ocorreram várias epidemias em diversos pontos do litoral brasileiro. Estes surtos acabaram por dizimar uma quantidade muito grande de indígenas, que trabalhavam escravizados nas fazendas que produziam açúcar. Além disso, havia, ainda, a proteção da igreja, mais especifi camente dos jesuítas, que catequizavam os indígenas, bem como, os protegiam do trabalho escravo. Some- se a isso a ideia, recorrente na época, de que os indígenas eram indolentes e preguiçosos. Estava criado o contexto em que passava a ser preciso encontrar algumas saídas para a falta de mão de obra para os engenhos coloniais. Como já era uma tradição escravizar os povos africanos, devido aos lucros que os navegadores conseguiam com suas vendas nos entrepostos comerciais, os portugueses reascenderam esse velho hábito, o que traria consigo a possibilidade de substituir a força de trabalho indígena pela africana, e com isso manter os engenhos e as plantações em andamento, o que era uma preocupação dos senhores de engenho em terras brasileiras. Com esse contexto, o tráfi co negreiro passa a adquirir proporções antes não imaginadas, uma vez que escravizar e transportar sem condições mínimas de higiene se mostrava uma prática comum e aceita pelos europeus, mais precisamente os portugueses, ao longo dos séculos XVI até o XVIII. Assim, convidamos você, prezado (a) cursista, para conhecer e se aprofundar um pouco mais sobre como se deu a inserção dos povos negros no Brasil, começando pelo que fi cou conhecido como tráfi co negreiro e suas implicações. Na sequência, passamos a conhecer um pouco sobre as principais revoltas e movimentos de resistência existentes ao longo da história brasileira e como 3838 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira ganharam força como, por exemplo, o quilombo de Palmares, que segundo alguns pesquisadores chegou a ter sob seu comando até 30 mil cativos fugidos das grandes fazendas e dos maus tratos dos capatazes nas lavouras de açúcar da colônia. Vamos começar então?! E, para isso, vamos abordar as dimensões histórica e política que envolvia o tráfi co de negros para as colônias portuguesas, prática que já se fazia presente desde o século XIV. Tráfico Negreiro: Dimensão Histórica e PolÍtica Para falarmos do tráfi co negreiro, ou seja, a implantação do trabalho escravo em terras brasileiras, é importante sabermos que, mesmo com os portugueses utilizando trabalho escravo antes da “descoberta” do Brasil, foi somente no século XVI que essa força de trabalho foi inserida nas colônias brasileiras. Inicialmente, os trabalhadores cumpriam suas tarefas nos engenhos de açúcar, acontecendo, por vezes, de realizarem alguma tarefa mais especializada. Foi a experiência no cultivo da terra pelos africanos que elevou consideravelmente o preço dos escravos africanos com relação aos indígenas, chegando um africano a custar até três vezes mais que um indígena. Assim, o tráfi co negreiro teve tal expansão: [...] sobretudo após a conquista defi nitiva de Angola em fi ns do século XVI. Os números do tráfi co bem o demonstram: entre 1576 e 1600, desembarcaram em portos brasileiros cerca de 40 mil africanos escravizados; no quarto de século seguinte (1601-1625), esse volume mais que triplicou, passando para cerca de 150 mil os africanos aportados como escravos na América portuguesa, a maior parte deles destinada a trabalhos em canaviais e engenhos de açúcar (MARQUESE, 2006, p.[1]). Observe, caro (a) cursista, a tabela abaixo, que apresenta números ainda mais expressivos da quantidade de escravos trazidos ao Brasil. É importante sabermos que, mesmo com os portugueses utilizando trabalho escravo antes da “descoberta” do Brasil, foi somente no século XVI que essa força de trabalho foi inserida nas colônias brasileiras. 39 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS Capítulo 2 Tabela 1 – Quantidade de escravos trazidos ao Brasil Fonte: Disponível em <http://grupodegeo.blogspot.com.br/>. Acesso em: 18 set. 2012. Esse fato, associado ao grande sucesso alcançado pelas capitanias açucareiras, gerou a invasão de holandeses e ingleses no Brasil. Esse contexto exigia uma rápida ação da coroa portuguesa. O então rei de Portugal D. Sebastião, como forma de garantir o sucesso na transação comercial do ouro- branco (açúcar), criou regras mais rígidas para a doação de terras, bem como decretou, em 1571, que o comércio com o Brasil só poderia ser feito através de navios portugueses. É importante destacar que os holandeses foram parceiros comerciais dos portugueses até o fi nal do século XVI, pois controlavam a distribuição do açúcar produzido no Brasil. Ressaltamos, porém, que a Holanda fi cava responsável pela parte mais rentável do comércio açucareiro, composto pelo transporte, refi namento e comercialização do produto na Europa. Por sua vez, os invasores não demoraram a perceber a relação entre o êxito na agricultura e comércio de açúcar com relação à participação da mão de obra escrava e, portanto, logo desviaram seus olhares e interesses também para os países africanos, dentre os quais podemos citar Angola, como forma de apropriar- se de entrepostos comerciais portugueses e consequentemente da fonte de escravos para as novas colônias. Vislumbrando a possibilidade de altos lucros, os holandeses foram destaque 4040 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira no processo de tentar tomar o poder dos portugueses e das colônias portuguesas aqui no Brasil. Embora tenham permanecido em terras brasileiras somente durante nove anos, tentaram também, dominar Angola, mas foram expulsos pelos portugueses. Por esse motivo, os holandeses foram responsáveis pela transmissão das técnicas de produção de açúcar aos colonos ingleses de Barbado e franceses da Martinica, bem como passaram a abastecer esses novos pontos de produção de açúcar com mão de obra escrava. Mas como conseguir escravos sem ter colônias no continente africano? Uma das formas era recorrer aos contrabandistas portugueses e, mais tarde, no século XVI, aos corsários ingleses, que começaram a participar do lucrativo comércio negreiro. E como esses escravos eram encontrados e trazidos para as colônias? Você já pode imaginar que não era dedicado muito esforço em proporcionar conforto aos escravos. Ou seja, preocupados em aumentar os lucros, uma das opções era colocar cada vez mais e mais escravos dentro de um navio negreiro, ou como era chamado na época, navio Tumbeiro ou tumba fl utuante. Figura 2 – Navio Tumbeiro ou Tumba Flutuante Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Tr%C3%A1fi co_negreiro>. Acesso em: 18 set. 2012. Os navios costumavam sair do continente africano com centenas de escravos, que eram trancados nos porões de espaços reduzidos, com calor insuportável. Quando algum africano passava mal, não recebia tratamento nenhum. Também era comum, quando os escravos morriam, que fossem tirados somente no fi nal da viagem. Quando o capitão precisava por algum motivo diminuir o peso da embarcação, era comum que o capitão jogasse escravos no mar, preferindo em primeiro momento os mortos, seguidos pelos doentes e posteriormente pelos mais fracos, ainda que vivos. Cabe destacar que uma das formas Os holandeses foram responsáveis pela transmissão das técnicas de produção de açúcar aos colonos ingleses de Barbado e francesesda Martinica, bem como passaram a abastecer esses novos pontos de produção de açúcar com mão de obra escrava. Os navios costumavam sair do continente africano com centenas de escravos, que eram trancados nos porões de espaços reduzidos, com calor insuportável. 41 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS Capítulo 2 de manter a ordem no cativeiro era a aplicação de castigos físicos e a restrição de água e comida, o que não tardava a proporcionar um ambiente de moléstias e doenças a que só os mais fortes resistiam. Outra situação comum que acontecia nos navios, e que demonstrava grande resistência à subjugação a que eram submetidos os negros e negras, era a quantidade de abortos realizados nos navios. Tal fato acontecia, pois as negras escravizadas não aceitavam que seus fi lhos tivessem tal destino e preferiam, assim, interromper o que seria uma vida de sofrimentos e maus tratos. Havia também os casos em que os negros escravizados tiravam a própria vida como forma de mostrar negação ao que estavam sendo submetidos. A Vida nos Engenhos de AçÚcar Brasileiros A vida na colônia era inicialmente muito pacata e voltada principalmente para o cultivo de produtos agrícolas. Ou seja, a primeira preocupação era garantir a subsistência. Com o passar dos anos, veio a criação de gado, e com o aumento da produção de artigos como, por exemplo, tabaco, algodão e o mais importante deles, o açúcar, ocorreu a necessidade de vender o excedente. Esse último dava ao dono da fazenda de médio e grande porte o título de Senhor de Engenho e, por isso, ele passava a ser respeitado não somente em sua fazenda, mas em toda a sua vila ou cidade. Mas, para manter o bom funcionamento da fazenda, era preciso força de trabalho, e é nesse momento que aparece a relação com os africanos, ou seja, a introdução da mão de obra escrava. Sobre o trabalho realizado pelos escravos, convidamos você, cursista, a refl etir para conhecer e compreender um pouco melhor a constituição histórica dessa relação. O número de horas médias de trabalho de um escravo no século XVI variava de entre 12 a 14, chegando em algumas fontes históricas a até 16 horas por dia. Nesse período, realizavam uma variada carga de tarefas para manter o bom funcionamento da fazenda como um todo. De serviços caseiros destinados às escravas como domésticas e amas de leite a serviços externos, destinados aos homens, mulheres e crianças, que incluíam cortar lenhas, plantar e cuidar dos canaviais, arrumar estradas e pontes, enfi m, toda e qualquer tarefa braçal que surgisse como necessária para o bom funcionamento da Fazenda e conforto dos A vida na colônia era inicialmente muito pacata e voltada principalmente para o cultivo de produtos agrícolas. 4242 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira senhores. Em apenas alguns momentos os escravos podiam fazer sua alimentação. Apesar da responsabilidade sobre todas as tarefas, cada cativo fi cava sempre como responsável por manter um pedaço específi co da plantação e, no período de colheita, era atribuída a cada escravo uma quantidade de cana a ser colhida e presa em fardos. Era também tarefa dos escravos cuidarem do processamento e transformação da cana em açúcar. Isto implica cuidar da moagem, o sistema de purifi cação (Purga), secagem e embalagem do produto para venda. Para compreender um pouco sobre a vida dos escravos na colônia, assista aos vídeos recomendados. VÍDEO 1: CANAL DE MEL, PREÇO DE FEL – Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=J9sSVZrswjU SINOPSE: A monocultura da cana-de-açúcar se estabeleceu em Pernambuco e o transporte, defi ciente, dependia de animais. A importância do trabalho escravo na produção da cana e a comercialização das especiarias. Série de 8 programas em que bonecos animados contam uma versão sobre alguns dos principais aspectos da história da colonização do Brasil, como a adaptação dos colonos à terra, o ciclo da cana-de- açúcar e a comercialização de escravos. Série 500 ANOS: BRASIL COLÔNIA NA TV Fonte: Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2012. VÍDEO 2: Disponível no link: http://youtu.be/TSPPcudT6dE SINOPSE: Portugal, Brasil e diversas nações africanas foram responsáveis pela maior emigração forçada da história da humanidade. A “história inconveniente do Brasil” é uma história inconveniente de Portugal até 1808 (invasões francesas e fuga da corte para o Brasil) e do Brasil até 1888 (abolição ofi cial da escravatura) e dos diversos reinos africanos (capturavam e vendiam escravos aos trafi cantes). Uma história inconveniente para todos (à exceção dos próprios escravos). Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TSP PcudT6dE&feature=related>. Acesso em: 10 ago. 2012. Apesar da responsabilidade sobre todas as tarefas, cada cativo fi cava sempre como responsável por manter um pedaço específi co da plantação e, no período de colheita, era atribuída a cada escravo uma quantidade de cana a ser colhida e presa em fardos. 43 DO TRÁFICO NEGREIRO AO QUILOMBO DE PALMARES: UMA HISTÓRIA DE LUTAS Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Chegou sua vez! Após assistir aos vídeos propostos, faça um pequeno texto de aproximadamente duas laudas, no qual fará uma resenha crítica do período histórico apresentado nos vídeos do capítulo 2. Também é possível criar um tópico de discussão no ambiente virtual referente a esta atividade. Utilize o espaço a seguir para anotar os principais fatos que irão compor seu texto. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ Locais de ConvÍvio Casa Grande e Senzala A sociedade estava fundamentada em um sistema patriarcal, com sistema econômico agrário, em que os interesses comerciais resultavam na venda de produtos importados e, consequentemente, a preços altos para os colonos. A justifi cativa era que todos os envolvidos, a coroa e os comerciantes portugueses, almejavam grandes lucros. E era dessa maneira que os fazendeiros compravam as mercadorias que precisavam para estarem de acordo com os costumes europeus. Comprar uma panela de ferro podia ser um grande luxo de que E era dessa maneira que os fazendeiros compravam as mercadorias que precisavam para estarem de acordo com os costumes europeus. 4444 Trabalho, Sociedade e Resistência na História Brasileira somente os senhores de engenho podiam usufruir. Desse modo, a casa grande ia se tornando cada vez mais uma réplica do que se imaginava existir na metrópole. Essa vida de luxos era permitida aos donos de grandes fazendas que plantavam a cana de açúcar. Ele e sua família moravam então na casa grande. Veja um exemplo da fazenda Resgate, em Bananal, no estado de São Paulo, uma das propriedades do senhor de engenho Manoel de Aguiar Vallim: O sobrado colonial, com paredes feitas de taipa, foi construído na primeira metade do século XIX e reformado a partir de 1850, recebendo, nos acréscimos, paredes de adobe (bloco de argila seca, secado
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