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Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Adulto grisalho, sem identificação, 28 anos, 50kg, 1,75m trazido ao pronto socorro pelos bombeiros. Informado pela viatura via regulação, ainda antes da chegada do paciente no hospital, que paciente fora encontrado em via pública segundo relato equipe do atendimento pré-hospitalar. Encontrado com colete da Embratel e capacete desacordado próximo a uma escada e com fio de rede de alta tensão rompido na proximidade. No momento da chegada dos bombeiros não havia energia no local. Segundo relato de transeuntes refere que o mesmo foi projetado de altura de cerca de 3 m, de cima do poste e apresenta queimadura em face, mão e braço direito e pé e perna esquerda, perfazendo 22 % superfície corpórea queimada, queimadura de 2 e 3 grau. Paciente chega no pronto socorro ja consciente com bastante dor. A (Vias Aéreas) : Vias Aéreas pérvia, em uso de colar cervical, prancha rígida e red block. B (Respiração) FR 26 icpm, Expansibilidade preservada, simétrica, FTV diminuído â direita, hipertimpânico e murmúrio vesicular diminuído á direita, dor ventilario-dependente, sem movimento paradoxal. C (Circulação) FC 120 Bpm, TA 110 / 70 mmHg corado, Bulhas rítmicas normofonéticas em 2 Tempos sem sopros auscultados, abdome flácido indolor, ruídos hidroaéreos presentes, sem sinal de irritação peritoneal, Pelve estável. D (Drogas e nível de consciência) paciente faz uso crônico de hidantal e medicações para dormir, apresenta glasgow de 15, contacta, responde a comando verbal e obedece a comandos, referindo muita dor. E apresenta queimaduras circunferências, em algumas regiões com muita dor e outras sem sensibilidade na pele, extremidade fria, pálida com pulso diminuído em membro queimado, alem de bastante edema. Este paciente na chegada foi indicado um procedimento cruento com lâmina de bisturi frio na beira do leito de imediato, pelo primeiro médico que recebeu o paciente no pronto atendimento. E evoluiu com hipotensão severa, estase de jugular, sendo necessário outro procedimento. Por se tratar de uma queimadura elétrica de alta voltagem esse paciente necessitou internação em unidade fechada, seriado eletrocardiograma, marcadores de necrose miocárdica, função renal e broncoscopia normal, sendo mantido em centro de tratamento de Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 queimado. Na unidade fechada começou apresentar leucocitose, febre, estertores crepitantes difusos e imagem com infiltrado bilateral. Sendo indiciado o tratamento para sepse de foco pulmonar. Avaliação primária Antes de qualquer coisa, é necessário avaliar a cena para afastar possíveis causas de risco. A segurança do socorrista e da equipe deve ser preservada. Deve-se sinalizar a rodovia da cena, afastar possíveis fios de alta tensão. Após garantir a segurança da cena, toda a equipe deve estar devidamente paramentada, e só então, aproximar-se para manejo do paciente. ABCDE do trauma é um guia que rege a ordem do atendimento ao paciente vítima de trauma, pois devemos dar importância maior e inicial àqueles problemas que levariam primeiro o paciente à óbito. A – Via aérea B – Respiração C – Circulação D – Déficit neurológico E – Exposição do paciente Ao iniciar uma letra, você deve cumprir dois passos antes de avançar para a próxima letra: identificar e tratar os problemas. Não pode avançar sem solucionar antes o problema identificado. O objetivo é que o paciente esteja estável ao final do ABCDE. A – Via aérea - Imobilização cervical e garantir permeabilidade das vias aéreas A imobilização serve para evitar lesões neurológicas secundarias à mobilização. Posiciona-se atrás do paciente nesse momento. Nessa etapa utilizaremos o colar cervical sem movimentar o paciente, mas esse colar é efetivo apenas para evitar que o paciente realize os movimentos de extensão e flexão da cabeça. Para evitar lateralização e rotação da cabeça do paciente, é mandatório que você segure a cabeça do paciente ou coloque um red block. Uma vez imobilizado, vamos verificar a obstrução da via aérea superior. É a famosa hora em que você chama o paciente: senhor, senhor! O senhor está bem? Se o paciente responder com uma voz clara e limpa, evidencia que a via aérea desse paciente está pérvia, isto é, desobstruída. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Mas se você perceber crepitações, estridores, secreção, fragmentos/corpo estranho, é preciso realizar uma manobra a fim de garantir a via aérea. Opções de manobra: - Aspiração com aspirador de ponta rígida caso encontre secreção, seja sangue, saliva, entre outros. - Corpos estranhos podem ser retirados com pinça, seja unidades dentárias ou outros materiais. - Chin lift: manobra em que se eleva o mento do paciente para tornar a via mais pérvia, sem hiperextender a cervical do paciente. - Jaw thrust: nessa manobra realiza-se a elevação da mandíbula, segura-se nos dois ramos da mandíbula e eleva. Também tem efeito desobstrutivo. - Guedel: ferramenta que acopla na boca do paciente, elevando a língua e garantindo a via. Essas são as manobras básicas, mas se não funcionar e o paciente estiver com uma obstrução importante, passaremos para via aérea avançada. - Intubação orotraqueal - Cricotireodostomia Uma vez que a via aérea está pérvia, podemos prosseguir para a letra B. Porém, lembre que entre a cabeça e o tórax do paciente existe o pescoço, é de suma importância que ele seja avaliado em busca de turgência jugular e desvio de traqueia. Nosso paciente: A (Vias Aéreas): Vias Aéreas pérvias, em uso de colar cervical, prancha rígida e red block. Lembrando que paciente grande queimado, que teve contato com fumaça, estava em ambiente fechado, inalou fumaça, foi encontrado desacordado: devemos analisar queimadura de vias aéreas! Pacientes oriundos desse cenário podem estar não só queimados, mas também hipoxêmicos pois sabemos que a hemácia tem mais afinidade pelo gás carbônico que pelo oxigênio. B – Respiração O objetivo do B é fornecer adequado suporte de oxigênio e garantir a troca gasosa. Por isso, todo paciente vítima de trauma merece um suplemento de oxigênio. Colocaremos nele uma máscara não reinalante à 100%. Associado a isso faremos o exame físico do paciente: - Inspeção, palpação, percussão e ausculta: exponha e inspecione o tórax do paciente. Tem deformidades? Tem crepitações? Está timpânico? Hipertimpânico? *A percussão normalmente é muito difícil de ser feita no departamento de emergência. As lesões que podem prejudicar gravemente a ventilação do paciente num curto prazo são o pneumotórax hipertensivo, o tórax instável com Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 contusão pulmonar, o hemotórax maciço e o pneumotórax aberto. Essas lesões devem ser identificadas na avaliação primária e podem exigir atenção imediata para que o esforço ventilatório seja efetivo. Hemotórax, pneumotórax simples, fratura de arcos costais e contusão pulmonar podem comprometer a ventilação, mas em menor grau e são habitualmente identificados na avaliação secundária. No grande queimado devemos evitar a síndrome compartimental, onde temos uma lesão de terceiro grau, circunferencial, que formará uma carapaça. O problema disso é a restrição mecânica que vai impedir a expansibilidade do tórax do paciente. Nesse caso, devemos proceder com a escarotomia sem analgesia pois queimadura de terceiro grau é indolor. Nosso paciente: B (Respiração) FR 26 irpm, Expansibilidade preservada, simétrica, FTV diminuído â direita, hipertimpânico e murmúrio vesicular diminuído á direita, dor ventilario- dependente, sem movimento paradoxal. C- Circulação Objetivo: investigar e conter hemorragias, precisamos verificar seo paciente está chocado. PPPH: esse mnemônico significa pele, perfusão, pulso e hemorragia. Nesse momento vamos procurar sinais de hemorragia, choque, sinais de má perfusão. Pele: cor, temperatura, umidade e TEC. A pele do paciente está fria e pegajosa? Pulso: O pulso está filiforme? TEC aumentado? Sinais de má perfusão tecidual em um atendimento ao politraumatizado é sinal de choque hipovolêmico. Importante tentar procurar onde esse paciente pode estar sangrando para estar chocado. São 5 possíveis fontes: O paciente pode estar sangrando para o tórax, esse é um local onde acumula uma grande quantidade de sangue, como no hemotórax maciço. Outra fonte é o abdome, normalmente relacionado a lesão de baço, fígado devido a traumas contusos. Verificar hematomas, equimoses, dores à descompressão, podem indicar lesões associadas que podem ser melhores verificadas com um fast ou LPD (lavado peritorial). A pelve também é um local que deve ser verificado. Além disso, temos os ossos longos (braços ou pernas), ou podemos ter uma fonte externa de hemorragia. Lembrando que TCE com hemorragia intracraniana não causa choque hipovolêmico. Se identificado choque, necessário classificar qual tipo: é hipolêmico? Cardiogênico? Distributivo? Obstrutivo? Verificar o tratamento se será com reposição de cristaloide, droga vasoativa, se é necessário utilizar hemoderivados. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Lesões elétricas: normalmente a queimadura elétrica tem uma porta de entrada e uma de saída, se nesse trajeto o coração for afetado, o paciente tem risco de PCR. Deve realizar a monitorização cardíaca, avaliar síndrome compartimental e deve aumentar a hidratação, principalmente porque nesse tipo de lesão queima-se mais por dentro que por fora e a olho nu não se tem a noção da real extensão da lesão. Nosso paciente: C (Circulação) FC 120 Bpm, TA 110 / 70 mmHg corado, Bulhas rítmicas normofonéticas em 2 Tempos sem sopros auscultados, abdome flácido indolor, ruídos hidroaéreos presentes, sem sinal de irritação peritoneal, Pelve estável. D – Disfunção neurológica Avaliação da escala de coma de Glasgow e verificar pupilas - Determine o nível de consciência do paciente segundo a SCG. - Pupilas isocóricas e fotorreagentes? Nosso paciente: D (Drogas e nível de consciência) paciente faz uso crônico de hidantal e medicações para dormir, apresenta glasgow de 15, contacta, responde a comando verbal e obedece a comandos, referindo muita dor. E – Exposição Despir o paciente em busca de outras lesões que não foram identificadas anteriormente. Nesse momento ocorre a lateralização do paciente em bloco, com auxílio da equipe, para analisar possíveis lesões no dorso, palpa-se também a coluna em busca de lesões/crepitações. Prevenir hipotermia com uso de cobertores e soluções aquecidas. Nosso paciente: (E) apresenta queimaduras circunferências, em algumas regiões com muita dor e outras sem sensibilidade na pele, extremidade fria, pálida com pulso diminuído em membro queimado, além de bastante edema. F – Fluidos Objetivo: avaliar a extensão e profundidade da queimadura, repor volume. É preciso fazer um acesso venoso, analgesia, cateterismo vesical (para verificar o balanço hídrico – débito urinário e diurese) e curativo (com prata e em camadas). Se o paciente perdeu barreira, está hipovolêmico e mal perfundido -> merece reidratação com ringer lactato e cristaloides. Na ausência desses, usa-se o soro porém não é o ideal. Para calcular a quantidade de fluido que será ofertado ao paciente é necessário calcular a % da superfície queimada. Para calcular a superfície temos a regra dos 9. Teremos a fórmula de Parkland como guia para devolver a volemia do paciente. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 MOVE Ocorre concomitante ao ABCDE, lembre que um atendimento a um paciente politraumatizado é feito por uma equipe. Então, enquanto um estiver no ADCDE, os demais estão trabalhando na cena também, e uma etapa superimportante é o MOV. M – Monitorização: monitorar os batimentos cardíacos do paciente. Tem arritmia? Como tá o ritmo? O – Oxigenação: é mandatório ofertar O2 a todo paciente grave, pois se você melhora a saturação do paciente, você melhora a sobrevida. V – Venóclise: antigamente pediam dois acessos venosos super hiper mega calibrosos, hoje não é mais necessário que seja tão calibroso assim. Opte por dois acessos venosos periféricos. E – Eletrocardiograma e exames complementares. A extensão de uma queimadura é representada em percentagem da área corporal queimada. - Leves (ou "pequeno queimado"): atingem menos de 10% da superfície corporal; - Médias (ou "médio queimado"): atingem de 10% a 20% da superfície corporal; - Graves (ou "grande queimado"): atingem mais de 20% da área corporal; Duas regras podem ser utilizadas para "medir" a extensão da queimadura: Regra dos 9: serve para avaliar a área da superfície corpórea. Nessa regra atribuído, a cada segmento corporal, o valor nove (ou múltiplo dele): • cabeça - 9% • tronco frente - 18% • tronco costas - 18% • membros superiores - 9% cada • membros inferiores - 18% cada • genitais - 1% Regra da palma da mão: geralmente a palma da mão de um indivíduo representa 1% de sua superfície corporal. Assim pode ser estimada a extensão de uma queimadura, calculando-se o “número de palmas”. As queimaduras de mãos, pés, face, períneo, pescoço e olhos, quaisquer que sejam a profundidade e a extensão, necessitam de tratamento hospitalar. A gravidade da queimadura será determinada pela profundidade, extensão e a área afetada. Para calcular o volume de hidratação do paciente: Fórmula de Parkland: FP (4ml/Kg/%SCQ): Ringer lactato: 4 x peso (kg) paciente x % da superfície corpórea queimada, nas primeiras 24h. Uma parte nas primeiras 8h e o restante em 16h. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Lembrando que o tempo inicia a partir do horário do trauma e não do momento em que o paciente chegou ao pronto-socorro. Avaliação Secundária Na avaliação secundária será realizado uma entrevista cujo mnemônico é o SAMPLA. Primeiro é importante verificar nome e idade, a fim de pensar quais doenças específicas da idade, e anotar a queixa principal. S: avaliaremos a respiração, pulso, PA e pele do paciente. A: alergias. M: se o paciente faz uso de algum medicamento, qual, e quando toma. P: passado médico, se possui alguma doença ou realizou alguma cirurgia recentemente. L: líquidos e alimentos, qual a última refeição e quanto tempo faz. A: ambiente do evento, analisar a cinemática do trauma. Depois disso, realiza avaliação complementar com oximetria e glicemia capilar. Posteriormente realiza o exame físico da cabeça aos pés. Trauma torácico É uma causa importantíssima de morte, paciente politraumatizado com trauma torácico tem risco de óbito aumentado. Em casos de traumas contusos, a minoria necessita de cirurgia. Porém, em casos de trauma penetrante, a chance de necessitar de uma cirurgia aumenta substancialmente. Quando falamos de trauma torácico temos que pensar nas três situações que são resultantes das lesões causadas pelo trauma: - Hipóxia: normalmente causada pela baixa perfusão devido a uma alteração na ventilação/perfusão (contusão pulmonar, hematoma parenquimatoso, hemorragias alveolares), hipovolemia (perda sanguínea importante) ou por alteração da pressão intratorácica (pneumotórax aberto ou hipertensivo). - Acidose metabólica: ocorre também devido à má perfusão, pois se falta Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 oxigênio, os tecidos realizam respiração anaeróbica por conta daprodução de ácido lático. - Hipercapnia: retenção de CO2 e ocorre por alterações na ventilação. Lesões que ameaçam a vida e que se não tratadas a tempo o paciente tem altas chances de óbito: - Pneumotórax Hipertensivo - Pneumotórax Aberto - Tórax Instável - Hemotórax Maciço - Tamponamento Cardíaco Pneumotórax Hipertensivo Pneumotórax nada mais é que ar na cavidade pleural, sabemos que essa cavidade pleural é uma cavidade virtual e que contém apenas um pouco de líquido para evitar o atrito entre as pleuras. Ar no espaço pleural -> pneumotórax Esse ar represado no espaço pleural, causa uma pressão muito grande no pulmão que está sofrendo esse pneumotórax, resultando em um colapso pulmonar. O pulmão fica colabado. Essa pressão é tanta que causa um desvio de mediastino para o lado contralateral e um desvio de traqueia e a compressão do pulmão contralateral. Nesse cenário, se comprime o mediastino, comprime também todos os grandes vasos que por ali passam. Dentre os vasos teremos a veia cava, porém quando há a compressão dessa veia, temos uma dificuldade no retorno venoso do corpo para o coração com consequente redução do débito cardíaco que resultará em um choque do tipo obstrutivo. Se esse paciente não for tratado, o desfecho será o óbito. É ocasionado normalmente por um trauma que faz uma lesão pulmonar e o ar que estava no interior dos pulmões vaza para a cavidade pleural. Um exemplo de trauma é o acidente automobilístico, antes da colisão o indivíduo tende a realizar uma inspiração profunda, o pulmão enche de ar, e quando o trauma contuso ocorre acaba ocasionando um barotrauma. Durante a intubação pode ocorrer um pneumotórax iatrogênico, mas no trauma geralmente ocorre por barotrauma. Diagnóstico É essencialmente clínico, não se deve perder tempo fazendo exame de imagem. - Dor torácica - Dispneia - Desconforto respiratório - Sinais de choque: hipotensão, taquicardia, TEC aumentado. - Desvio de traqueia (é possível verificar à palpação) Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 - Ausência unilateral de murmúrio - Distensão das veias do pescoço - Cianose (sinal de hipóxia tardio) - Percussão timpânica (esse som mostra que existe ar na cavidade – o som dessa região geralmente é som claro pulmonar). Tratamento Temporário: toracocentese de alívio, uma punção é realizada através de uma agulha, no 2º EIE na linha hemiclavicular. No novo ATLS manda realizar a punção no 5º EIE entre a linha axilar anterior e a linha axilar média. Esse local será utilizado também para inserção do dreno. O tratamento efetivo é a drenagem de tórax. A drenagem será realizada quando a toracocentese de alívio foi feita e o paciente saiu da zona de perigo. Mas se a toracocentese não resolver, podemos suspeitar de lesão de grande via aérea associada, pode ser lesão de brônquio principal ou traqueia. Pneumotórax Aberto Ferimento aberto que comunica o espaço pleural com o meio externo. Esse ferimento precisa ter diâmetro maior que 2/3 da traqueia, esse tamanho é importante pois o ar tente a passar pelo local maior que oferece menor resistência. O paciente sofrerá hipóxia, alteração da mecânica ventilatória e prejuízo da oxigenação dos tecidos. Traumatopneia: nesse paciente será observado a saída de ar no ferimento. Paciente sentirá um desconforto respiratório. Curativo de 3 pontos: servirá de válvula unidirecional, e dessa forma quando o paciente inspira, o curativo fecha e impede a entrada de ar, e quando o paciente expira, o curativo permite a saída de ar. Dessa forma o ar não estrará mais pelo ferimento e servirá de meio para a retirada do ar do pulmão do paciente. Tórax Instável Associado normalmente a uma contusão pulmonar. Segmento da parede toráxica sem continuidade com a parede: Fratura de duas ou mais costelas em pontos consecutivos. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Nesse paciente podemos observar um movimento paradoxal, quando o paciente inspirar, a caixa torácica se expande mas o retalho retrai. Quando expira, a caixa retrai e o retalho expande. Crepitação à palpação: é possível sentir as fraturas durante a palpação. Dor torácica intensa. A respiração do paciente se torna curta devido a dor, impactando na mecânica ventilatória. Conduta: Analgesia (analgésicos potentes como os opioides) + reposição volêmica + oxigênio suplementar. Hemotórax Maciço Presença de sangue na cavidade pleural, causando uma compressão do mediastino e do pulmão contralateral e pode coletar a volemia do paciente. Acúmulo de > 1500mL de sangue -> hemotórax maciço Diagnostico é clínico. As manifestações clínicas são semelhantes ao pneumotórax hipertensivo, a diferença é a percussão pois na hipertensiva é timpânico pois contém ar, mas no maciço a percussão será maciça devido a presença de sangue. Será realizado a reposição volêmica e drenagem torácica. Essa reposição volêmica pode ser realizada com o próprio sangue do paciente, fazendo uma espécie de autotransfusão. Toracotomia – Abrir o tórax para reparo da lesão -> Será realizada se: Nem sempre é necessário realizar a toracotomia pois o hemotórax normalmente é autolimitado, porém, se o paciente estiver contemplado nesssas situações, ele merece a realização do procediemento. Tamponamento Cardíaco É o acúmulo de sangue no pericárdio. Sabendo que o pericárdio é um tecido fibroso inelástico, se ele enche de sangue, teremos uma diástole e sístole inadequados devido a perda da capacidade de elasticidade, podendo evoluir para choque. Esse sangue é proveniente de alguma lesão no coração, normalmente ocorre por ferimento penetrante mas pode ocorrer em lesões contusas. A maioria ocorre no ventrículo direito. Quadro Clínico: - Pode se apresentar com a Tríade de Beck: hipotensão, abafamento de bulhas e turgência de jugular. Não está presente em todos os casos. - Pulso paradoxal - Sinal de Kussmaul Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 - AESP – Atividade elétrica sem pulso A cinemática do trauma ajuda bastante a pensar na possibilidade do tamponamento cardíaco. Então se o paciente teve um trauma na região do tórax, e está cursando com hipotensão, pulso paradoxal, podemos suspeitar de tamponamento cardíaco. Pode diagnosticar pela clínica, mas o FAST e o ECO ajudariam bastante. Conduta: - Pericardiocentese de alívio – retirada do sangue que está tamponando. - Toracotomia de reanimação: se for necessário, será feita uma toracotomia, mas não é indicado para todos os pacientes. Se ele chega vítima de trauma penetrante e em AESP (atividade elétrica sem pulso) a toracotomia está indicada, que nada mais é que abrir o tórax do paciente e fazer a reanimação diretamente no coração. Mas se o trauma for contuso, são será feita toracotomia, pois a chance de recuperação é muito baixa e por isso não está indicado. REMIT – RESPOSTA ENDOCRINO METABÓLICA E IMUNOLÓGICA AO TRAUMA Agressões deflagradas contra o organismo humano, independente da causa ou mecanismo, mobilizam um complexo conjunto de respostas que são iniciadas imediatamente e que se mostram fundamentais para a manutenção da homeostase e da vida. Sendo assim, não importa se a agressão está relacionada com a intencionalidade que resulta no trauma como, por exemplo, o que se verifica no ato cirúrgico, ou se resulta de uma casualidade relacionada a acidentes que poderão resultar em processos hemorrágicos e acometimentos teciduais diversos. Dessa forma, a chamada “REMIT” (Resposta Endócrino, Metabólica e Imunológica ao Trauma) refere-se justamente ao conjunto de reações de natureza endócrina, metabólica e imunológica desenvolvidas pelo organismo paratentar manter a homeostasia em circunstâncias relacionadas, como já mencionado, a traumas de etiologias diversas e desencadeadas por vários componentes, como perda sanguínea, lesão tecidual, ansiedade e dor. Estímulos nociceptivos são os gatilhos essenciais para dar início a tal resposta, variando de acordo com o tipo de trauma e a qualidade do mecanismo desencadeante. A fim de alcançar seu objetivo primordial, a REMIT precisa desencadear estratégias que visem a geração de energia, a manutenção de um volume efetivo intravascular, além de hipermetabolismo. Assim, torna-se premente a necessidade de promover estabilidade hemodinâmica, preservação do aporte de oxigênio, mobilização de substratos calóricos (glicose), além da redução da dor e manutenção da temperatura. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 O objetivo da REMIT é manter a homeostasia, reparando tecidos, contendo sangramentos a fim de restaurar a homeostase. A REMIT atua em situações onde se deflagrou uma resposta inflamatória, isto é: em traumas, infecções e cirurgias. Para que ocorra essa reposta é preciso de três fatores: - SNA íntegro, hipotálamo e hipófise íntegros e sincronizados. Como funciona: Quando temos um trauma, lesão tecidual, são acionados os nociceptores. São receptores da dor, a porção aferente, que quando acionados conduzem a informação ao hipotálamo que será o elemento que vai coordenar. O hipotálamo recebe a informação e coordena para onde cada informação deve ir. A porção eferente é a resposta do hipotálamo através da liberação de hormônios liberadores de outros hormônios, principalmente da hipófise, que deflagram a secreção hormonal. Na porção eferente temos dois eixos importantes: - Eixo autonômico-adrenal: tem a função de manter o fluxo sanguíneo adequado no local lesado. Então em momentos que ocorram sangramentos, ele atuará formando uma resposta a fim de controlar a situação. - Eixo hipotálamo-hipofisário: altera o metabolismo para focar no local da lesão, o objetivo é fornecer todo o substrato necessário para que ela se restaure da maneira adequada. Isso pode custar tecidos que estão em pleno funcionamento, para fornecer os substratos. A REMIT é uma resposta extremamente necessária para a homeostase corporal, mas é importante que se monitore o paciente pós trauma pois essa reposta pode ocorrer de maneira exacerbada, causando problemas para o paciente. O primeiro processo pós trauma que ocorre é a glicogenólise, quebra do glicogênio para fornecer glicose, a nível de fígado e músculo. Quando o estoque de glicogênio acaba, é preciso iniciar outra cascata de eventos para fornecer energia, que ocorrerá através da proteólise e lipólise (gliconeogênese). Esse processo de quebra para fornecer energia é caracterizada pela fase catabólica da resposta ao trauma. Durante cerca de 2 a 3 dias pós trauma, teremos a resposta catabólica, sendo o terceiro dia o dia do pico. - Nessa fase teremos a suprarrenal atuando através da resposta hipotalâmica, produzindo adrenalina e noradrenalina. E teremos os seguintes efeitos: Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 - Taquicardia, hipertensão, taquipneia, atonia intestinal, oligúria e hipercoagulabilidade. Outro elemento da resposta é a ativação do ACTH e cortisol: - Como efeito teremos: redução de massa magra, hiperglicemia, formação de corpos cetônicos, balanço nitrogenado negativo e proteínas de fase aguda que são as interleutinas e os TNFs. ACTH e Sistema Renina Angiotensina Aldosterona: - Como efeito teremos retenção hídrica, hipernatremia, hipocalemia e alcalose. ADH: - Teremos como efeito a hiperglicemia, o ADH também será responsável pela oligúria, o paciente terá retenção e urina concentrada. GH: - Terá como efeito a hiperglicemia e a formação de corpos cetônicos. Condensando o que acontece na fase catabólica: O objetivo é promover a hiperglicemia para que se tenha mais glicose chegando no tecido lesado para que seja utilizada durante o reparo. As proteínas de fase aguda são usadas pela resposta inflamatória e a repercussão no organismo é a redução da massa muscular, desencadeia uma resposta inflamatória aguda e lentifica o processo de cicatrização. Essas proteínas fazem o processo de resposta imunológica e estão envolvidas com o processo de inflamação. Teremos o processo de cetose, hipocalemia e balanço hídrico positivo propiciando a formação de edema. Fase anabólica: O objetivo é recuperar o tecido desgastado usado para fazer o reparo da lesão. Nesse momento teremos a recuperação da massa magra e posteriormente, a reposição da massa gorda. O balanço nitrogenado que era negativo, se torna positivo e depois de normaliza. Modulação da REMIT Uma das preocupações do risco cirúrgico é se o paciente é capaz de tolerar a REMIT. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 E ainda que o paciente seja capaz de tolerar a REMIT, é preciso fazer um preparo adequado para controlar essa reposta. No trauma acidental não existe um planejamento, de modo que os eventos se sucedem de forma não controlada. Os agravos resultam em lacerações, esmagamentos e avulsões que normalmente estão associados a marcante contaminação. A perda consequente de volume sanguíneo geralmente é significativa, conduzindo a um déficit de perfusão que, se prolongado, pode provocar danos a célula e morte tecidual. Acompanhando tudo isso, temos dor, excitabilidade e medo intensos, justificando uma resposta orgânica mais exuberante. O trauma tecidual eletivo, decorrente de uma cirurgia, obedece a protocolos, configurando procedimentos orientados de forma calculada, planejada e monitorizada. Nessa perspectiva, embora a cirurgia eletiva cause dor, suprima a ingestão de alimentos e comumente leve a ressecção de órgãos e tecidos, o tratamento perioperatório se reveste de importância, uma vez que promove meios para atenuação das eventuais reações que possam ocorrer. Consequentemente, as respostas fisiológicas à cirurgia eletiva são de menor magnitude e menor morbidez e mortalidade quando comparadas ao trauma acidental. Como modular a REMIT: - Reduzindo a ferida cirúrgica: o fluxo de células e substâncias inflamatórias é proporcional ao tamanho da ferida cirúrgica. É preferível que a lesão seja a menor possível para que se tenha uma REMIT menor. - Bloqueio anestésico funcional: ao neutralizar o desencadeamento de impulsos nervosos pelos nociceptores, se diminui a resposta. Preparo: Pré-anestésico: reduzir a ansiedade pois ela também deflagra a REMIT. Peri-operatório: anestesia, pode ser geral ou locorregional. Resposta ao jejum: o jejum prolongado também estimula o REMIT por liberar estímulos que são desencadear a liberação de hormônios catabólicos. Manejo no jejum: Soro glicosado 5% 2000ml/dia (500ml de 6/6h). 400kcal/dia (cerca de 100g de glicose). Sepse Sepse: Resposta descompensada do organismo (como um todo e não apenas em um local específico) frente a infecção por um patógeno que causa um distúrbio orgânico. Ao chegar um paciente séptico, temos apenas a ponta do iceberg, é preciso que o médico subentenda tudo o que está por baixo, que é a infecção e a resposta que o organismo dela está tendo perante essa infecção. Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Entendendo a sepse: vamos pensar primeiro em um foco infeccioso: o macrófago chega em busca do patógeno, fagocita esse agente, e libera citocinas (TNF-alfa, interleucina, complemento) para conter o processo infeccioso no local. Essas interleucinas acabam fazendo um círculo, estimula mais macrófagos, que liberam citocinas e conseguem controlar a infecção. O problemaé quando o organismo começa a liberar essas substâncias na corrente sanguínea e começam a afetar os órgãos-alvo (teremos repercussão cerebral, respiratória, renal). Então, a sepse vai além de uma simples infecção, hoje sabemos que é a reação do próprio organismo perante esse agente. O que devemos levar em conta na abordagem de um paciente? Primeiramente temos o critério SIRS, a partir dele pensaremos se o paciente está ou não com uma inflamação. Critério SIRS (síndrome da resposta inflamatória sistêmica) leva em conta 4 fatores: - Febre ou hipotermia (acima de 38ºC ou abaixo de 36ºC) - Taquicardia (FC > 90 bpm) - FR > 22 irpm - Leucocitose (mais de 12 mil leucócitos) ou leucopenia (menos de 4 mil leucócitos, geralmente sepse por gram- negativo faz leucopenia) ou desvio à esquerda (bastões acima de 10%). Quando tivermos 2 ou mais desses sinais, podemos dizer que o paciente está em SIRS que é a síndrome da resposta inflamatória sistêmica. Isso já pode acionar um alerta, pois esse paciente em SIRS pode ser algo associado a sepse ou não. Maior alerta para pacientes idosos, imunodeprimidos, diabéticos e pacientes renais crônicos. Se além dos dois parâmetros de SIRS, o paciente se encaixar em um desses fatores, mais um motivo para ligar o alerta. Depois disso, é preciso pensar qual o foco infeccioso, não é necessário descobrir de imediato qual o foco mas existem sinais que podem auxiliar. Por exemplo, se o paciente está escarrando, tossindo muito, pensamos em foco pulmonar. Se o paciente estiver com dor abdominal, abdome em tábua (rigidez abdominal difusa, que é sinal de abdome agudo, talvez uma peritonite, inflamação do peritônio), pensamos em foco abdominal. Podemos ter também uma translocação da infecção através da corrente sanguínea. Paciente idoso, paciente acamado, paciente que faz uso de sonda vesical deve chamar a atenção para esse foco geniturinário. Um paciente que demonstra sinais de foco infeccioso também é um forte candidato a sepse e liga mais um sinal de alerta. Como avaliamos se é sepse? Precisamos avaliar se existe além da infecção, uma disfunção orgânica, e para isso usamos 7 parâmetros: Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 1. PA < 90mmHg 2. Oligúria: após a chegada do paciente é preciso que se faça um controle. De maneira geral temos: o paciente deve urinar em ml por hora metade do seu peso, então se ele tem 70kg, deve urinar 35ml em cada hora. Creatinina > 2mg/dl também é um parâmetro. 3. Saturação Parcial de O2 < 90%: paciente que está saturando mal, saturando menos que 90% sendo necessário o fornecimento de O2. 4. Plaquetopenia: plaquetas < 100 mil. Isso ocorre devido a lesão endotelial que ocorre na sepse e daí temos uma diminuição na quantidade de plaqueta. 5. Rebaixamento de nível de consciência: paciente sonolento é mais um alerta. Avaliar o paciente segundo a escala de Glasgow. 6. Lactato: aumentado, acima do valor de referência (geralmente é 2 mmol/L) é outro alerta. 7. Disfunção hepática: observado um aumento de bilirrubina BT > 2x Esses são os 7 parâmetros para disfunção orgânica, é uma maneira mais simplificada, pois existe o score SOFA (sequential organ failure assessment score) que só não leva em conta o lactato. Mas é uma tabela mais difícil e complicada. Além disso, requer exames complementares, e como vocês vão aprender mais pra frente, a conduta para um paciente séptico deve ocorrer dentro de 1 hora, então talvez não tenha tempo hábil para aguardar o resultado desses exames. Outra forma mais rápida é o Quick- SOFA qSOFA: É o SOFA simplificado, muito usado a beira leito, não precisa de exames complementares e leva em conta 3 fatores: - Hipotensão < 100mmHg, paciente hipotenso pontua. - Taquipneia FR > 22 irpm, pontua também. - Glasgow < 15, rebaixamento do nível de consciência o paciente marca mais um ponto. Dois ou três pontos positivos podemos dizer que o paciente possui uma disfunção orgânica. Então para definir sepse é preciso que exista uma infecção + uma disfunção orgânica, quando tivermos essa dupla podemos dizer que o paciente está em sepse. É sepse, e agora? Você vai usar o seu super poder chamado de Pacote da primeira hora. Segundo o surviving sepsis 2018, temos o pacote primeira hora, antes eram 6 horas, agora apenas uma. Esse pacote possui 5 componentes que você deve seguir: Nathália Machado – 4º Semestre – MEDFTC 2021.1 Primeiro: solicitar a dosagem de lactato. Medir novamente se o lactato inicial for maior que 2mmol/L. o lactato é um importante marcador de gravidade e prognóstico na sepse. Segundo: solicitar duas hemoculturas antes de iniciar antibióticos. Terceiro: iniciar antibiótico de amplo espectro ainda na primeira hora. Se existe uma suspeita de foco infeccioso, é possível direcionar melhor esse ATB, caso contrário, administra amplo espectro mesmo. Quarto: ressuscitação volêmica, o paciente está hipotenso então é preciso recuperar esse paciente através de cristaloides, ringer lactato. Quinto: se depois da ressuscitação volêmica o paciente ainda estiver hipotenso, entra com vasopressor (adrenalina, noradrenalina, dobutamina).
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