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CALCULO III Cristiane da Silva Equações diferenciais de 1ª ordem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a forma de uma equação diferencial de 1ª ordem. � Resolver equações diferenciais de 1ª ordem e problemas de valor inicial. � Aplicar equações diferenciais em situações-problema. Introdução Equações diferenciais são uma parte da matemática com aplicações em diversos ramos da ciência. Encontramos problemas associados em física, química, biologia, economia, etc. Com o intuito de contribuir com o entendimento dos conceitos estudados na disciplina de Cálculo III, além de apresentar alguns teoremas e definições, você será direcionado a diversos problemas relacionados ao conteúdo. Neste texto, você vai aprender os conceitos iniciais de equações dife- renciais. É importante que você entenda a classificação dessas equações quanto a tipo, ordem e linearidade, para reconhecer uma equação dife- rencial de 1ª ordem a partir da sua definição. Além disso, você aprenderá a resolver essas equações e problemas de valor inicial. A proposta é que você possa, além de aprender as definições, aplicar equações diferenciais em situações-problema. Equações diferenciais Antes de abordarmos as equações diferenciais de 1ª ordem, vamos compre- ender alguns conceitos iniciais a respeito de equações diferenciais e das suas aplicações. Boyce e DiPrima (2015) afirmam que muitos princípios e leis que regem o comportamento do mundo físico são proposições ou relações que envolvem uma taxa segundo a qual as coisas ocorrem. Matematicamente falando, essas relações são equações e as taxas são as derivadas. Nesse contexto, equações envolvendo derivadas são equações diferenciais. No que diz respeito à aplicação desse tipo de equação, cabe destacar que são utilizadas para compreender e investigar problemas envolvendo o movimento de fluídos, o fluxo de corrente elétrica em circuitos, a dissipação de calor em objetos sólidos, a propagação e detecção de ondas sísmicas, o aumento ou diminuição de populações, etc. Zill (2013, p. 2) define equação diferencial da seguinte forma: “Uma equação que contém as derivadas (ou diferenciais) de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis independentes é chamada de equação diferencial (ED). Elas podem ser classificadas por tipo, ordem e linearidade”. Classificação por tipo As equações diferenciais podem ser classificadas em ordinária ou parcial. Quando a equação contém apenas derivadas ordinárias de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma única variável independente, é chamada de equação diferencial ordinária (EDO) (ZILL, 2013). Vejamos exemplos: Note que no terceiro exemplo a equação diferencial contém mais de uma variável dependente. Quando uma equação envolve as derivadas parciais de uma ou mais va- riáveis dependentes de duas ou mais variáveis independentes é chamada de equação diferencial parcial (EDP). (ZILL, 2013). Vejamos exemplos: Equações diferenciais de 1ª ordem2 Note que existem notações diferentes para expressar as derivadas ordinárias. Podemos utilizar a notação de Leibniz ou com a notação linha . Em geral, a n-ésima derivada é escrita como y(n). Derivadas parciais também são denotadas por uma notação em subscrito indicando as variáveis independentes. Por exemplo: uxx = utt – 2ut. Classificação por ordem Zill (2013) explica que a ordem de uma equação diferencial (EDO ou EDP) é a ordem da maior derivada na equação. Veja: Esse é um exemplo de EDO de 2ª ordem. Classificação por linearidade Uma EDO de ordem n é linear se F for linear em . Isso significa que uma EDO de n-ésima ordem é linear quando: Vejamos a equação diferencial linear de 1ª e 2ª ordens a seguir: Observamos duas propriedades: � A variável dependente y e todas as duas derivadas são de 1º grau, ou seja, o expoente de cada termo envolvendo y é um. 3Equações diferenciais de 1ª ordem � Os coeficientes a0, a1, ..., an de dependem quando muito da variável independente x. As equações (y − x)dx + 4xdy = 0, e são, respectivamente, equações diferenciais ordinárias lineares de 1ª, 2ª e 3ª ordem. Uma EDO não linear é simplesmente uma que não é linear. Por exemplo: Esses são exemplos de equações diferenciais ordinárias não lineares de 2ª e 4ª ordem, respectivamente. Equações diferenciais de 1ª ordem Boyce e DiPrima (2015) afirmam que, se uma função, como , depender linearmente da variável y, a equação será dita uma equação li- near de 1ª ordem. A equação linear de primeira ordem tem a seguinte forma , em que p e g são funções dadas da variável independente t. Também podemos escrever a equação na forma em que P, Q e G são dadas. De acordo com os autores, em alguns casos, é possível resolver uma equa- ção linear de 1ª ordem imediatamente por integração. Vejamos um exemplo. Equações diferenciais de 1ª ordem4 Resolva a equação diferencial . A expressão à esquerda do sinal de igualdade é uma combinação linear de e y, uma combinação que também aparece em cálculo na regra para a derivada de um produto. De fato, A equação pode ser escrita como: Assim, embora y seja desconhecida, poderíamos integrar a equação em relação a t obtendo: Em que c é uma constante de integração arbitrária. Resolvendo para y, encontramos que: Essa é a solução geral. Fonte: Boyce e DiPrima (2015, p. 26). EDO de 1ª ordem e problemas de valor inicial Nagle, Saff e Snider (2012) explica que uma classe simples de equações di- ferenciais de 1ª ordem que pode ser resolvida utilizando a integração é a de equações separáveis. São equações que podem ser reescritas de maneira a isolar as variáveis x e y em lados opostos da equação, como em . Informalmente, equações separáveis são resolvidas por meio da separação e, depois, da integração de cada lado (NAGLE; SAFF; SNIDER, 2012). 5Equações diferenciais de 1ª ordem Método para solução de equações separáveis. Para resolver a equação multiplique por dx e por h(y) para obter h(y) dy = g(x)dx. Depois integre os dois lados: em que mesclamos as duas constantes de integração em um único símbolo C. A última equação dá uma solução implícita para a equação diferencial. Fonte: Nagle, Saff e Snider (2012). Vejamos agora um exemplo de resolução de uma equação separável. Resolva a equação não linear . Resolução Seguindo a técnica simplificada, separamos as variáveis e reescrevemos a equação na forma: Então, integrando, temos: E, solucionando para y, temos: Como C é uma constante de integração que pode ser qualquer número real, 3C também pode ser qualquer número real. Portanto, substituiremos 3C por K: Fonte: Nagle, Saff e Snider (2012, p. 29-30). Equações diferenciais de 1ª ordem6 Equações lineares Nagle, Saff e Snider (2012) explica que uma equação linear de 1ª ordem é uma equação que pode ser escrita da seguinte forma: em que a1(x), a0(x) e b(x) dependem apenas da variável independente x, não de y. Nagle, Saff e Snider (2012) explica duas maneiras de resolver uma equação diferencial linear. A primeira é quando o coeficiente a0(x) for identicamente zero, então teremos , que é equivalente a desde que a1(x) ≠ 0. E a segunda maneira é esta: se a0(x) for igual à derivada de a1(x), então os dois termos no lado esquerdo da equação compreendem a derivada do produto a1(x)y: que resulta em . E a solução se torna: A forma pode ser alcançada a partir da multiplicação da equação original, , por uma função escolhida µ(x). A função µ(x) é chamada de fator integrante. Vamos dividir a equação original por a1(x) e colocá-la na forma padrão (NAGLE; SAFF; SNIDER, 2012): em que e . Agora, para determinar µ(x): 7Equações diferenciais de 1ª ordem Isso exige que µ satisfaça . Para encontrar essa função, ve- rificamos que ela é uma equação diferencial separável, e podemos escre- ver como . Integrando os dois lados, . Assim, , que tem a solução . Vejamos um exemplo. Encontre a solução geral da equaçãodiferencial . Resolução A equação é da forma com a = −2; logo, o fator integrante é . Multiplicando a equação diferencial por µ(t), obtemos: ou Então, integrando a última equação, temos Em que usamos integração por partes no último termo da equação Fonte: Boyce e DiPrima (2015, p. 29). Vejamos um exemplo de resolução de uma equação não linear. Equações diferenciais de 1ª ordem8 Considere a equação não linear . Para resolver a equação de Bernoulli, fazemos uma mudança de variáveis, ou seja, y1−n = z. Agora, ao fazermos a mudança de variáveis, temos uma EDO linear de primeira ordem. Resolução Fazendo a mudança de variáveis: Solução para y = 0: Temos uma EDO linear de 1ª ordem: 9Equações diferenciais de 1ª ordem Equações homogêneas e não homogêneas Se o lado direito da equação puder ser expresso como uma função da razão y/x somente, então dizemos que a equação é homogênea. Caso contrário, ela não é homogênea (NAGLE; SAFF; SNIDER, 2012). A solução geral é: Fonte: Toda a Matemática (2017). Equações diferenciais de 1ª ordem10 A equação (x – y) dx + x dy = 0 pode ser escrita da forma . Como ex- pressamos como uma função da razão , ou seja, , onde , então a equação (x – y) dx + x dy = 0 é homogênea. Já a equação (x – 2y + 1)dx + (x – y)dy = 0 pode ser escrita como . Aqui, o lado direito não pode ser expresso como uma função de apenas, por causa do termo no numerador. Logo, a equação (x – 2y + 1)dx + (x – y)dy = 0 não é homogênea. Fonte: Nagle, Saff e Snider (2012, p. 53-54). Vejamos um exemplo de resolução de um problema de valor inicial. Resolva o problema de valor inicial Resolução. Separamos as variáveis e integramos: Nesse ponto, podemos tanto solucionar para y explicitamente (retendo a constante C) quanto usar a condição inicial para determinar C e depois resolver explicitamente para y. Aplicando a função exponencial na equação, temos: onde . Agora, dependendo dos valores de y, temos ; e, de modo semelhante, . Assim, ou 11Equações diferenciais de 1ª ordem Da aplicação de equações diferenciais Agora que conhecemos a definição de equações diferenciais e a sua classi- ficação, e vimos exemplos a partir da resolução de exercícios envolvendo equações diferenciais ordinárias de 1ª ordem e problemas de valor inicial, vamos mostrar a aplicação desses conteúdos em situações-problema nas di- ferentes áreas da ciência. Crescimento de bactérias Uma cultura tem inicialmente bactérias. Em t = 1h, o número medido de bactérias é de . Se a taxa de crescimento for proporcional ao número de bactérias P(t) presente no instante t, determine o tempo necessário para triplicar o número de bactérias. Resolução: em primeiro lugar, resolvemos a equação diferencial substituindo o símbolo x por P. Tomando , a condição inicial é . Usamos, então, a observação empírica de que para determinar a constante de proporcionalidade k. Note que a equação diferencial é ao mesmo tempo separável e linear. Colocando-a na forma padrão de uma ED linear de primeira ordem, temos: onde a escolha de sinal depende dos valores de x e y. Como é uma constante positiva, podemos substituir por K, onde K agora representa uma constante arbitrária diferente de zero. Temos, portanto: Por fim, determinamos K de modo que a condição inicial y (–1) = 0 seja satisfeita. Colocando x = –1 e y = 0 na equação, temos: E, portanto, . Assim, a solução para o problema de valor inicial é: Fonte: Nagle, Saff e Snider (2012, p. 30-31). Equações diferenciais de 1ª ordem12 Podemos ver, por inspeção, que o fator integrante é . Multiplicando ambos os lados da equação por esse termo e integrando, obtemos: e Portanto . Em t = 0, segue que , então . Em t = 1 temos . Da última equação, obtemos e, portanto . Para encontrar o instante no qual o número de bactérias triplicou, resolvemos: para t. Segue que ou . Veja a Figura 1, que ilustra essa situação. Figura 1. Tempo em que uma população triplica. Fonte: Zill (2013, p. 86). 13Equações diferenciais de 1ª ordem A meia-vida do plutônio Um reator regenerador converte urânio 238 relativamente estável no isótopo plutônico 239. Depois de 15 anos, determinou-se que 0,043% da quantidade inicial de plutônio desintegrou-se. Ache a meia-vida desse isótopo, se a taxa de desintegração for proporcional à quantidade remanescente. Resolução: seja A(t) a quantidade de plutônio remanescente no instante t. A so- lução do problema de valor inicial é . Se 0,043% dos átomos de tiverem se desintegrado, restarão 99,957% de substância. Para encontrar a constante de decaimento k, usamos , isto é, . Resolvendo para k, temos . Logo, . Agora, a meia-vida corresponde ao valor do tempo no qual . Resolvendo para t, obtemos ou . A última equação fornece: . Fonte: Zill (2013, p. 87). Idade de um fóssil Foi encontrado um osso fossilizado que contém um milésimo da quantidade original de C-14. Estime a idade do fóssil. Resolução: o ponto de partida é . Para determinar o valor da cons- tante de decaimento k, usamos o fato de que ou . De , obtemos . Logo, . De , temos ; logo, . Assim, a idade do fóssil é aproximadamente: . Fonte: Zill (2013, p. 88). Lançamento de objeto Um objeto com massa de 3 kg é lançado do repouso 500 m acima do solo e depois é deixado cair sob a influência da gravidade. Suponha que a força gravitacional seja constante, com g= 9,81 m/s², e a força devido à resistência do Equações diferenciais de 1ª ordem14 ar seja proporcional à velocidade do objeto com constante de proporcionalidade b = 3 N – s/m. Determine quando o objeto atingirá o solo. Resolução: usamos o modelo com . A equação do movimento neste caso é: Como o objeto é lançado 500 m acima do solo, podemos determinar quando ele atinge o solo pondo x (t) = 500 e resolvendo para t. Assim, colocamos: ou onde arredondamos os cálculos para duas casas decimais. Essa equação não pode ser resolvida de modo explícito para t. Poderíamos tentar aproximar t usando o método de aproximação de Newton, mas aqui não é necessário. Como será muito pequeno para t próximo de , basta ignorar o termo , e obtemos como nossa aproximação t = 51,97 s. Fonte: Nagle, Saff e Snider (2012, p. 84-85). BOYCE, W.E.; DIPRIMA, R.C. Equações diferenciais elementares e problemas de valores de contorno. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. NAGLE, R.K; SAFF, E.B.; SNIDER, A.D. Equações diferenciais. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. TODA A MATEMÁTICA. Equação de Bernoulli. YouTube, 2017. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=IiKuXsFFHag>. Acesso em: 22 nov. 2017. ZILL, D.G. Equações diferenciais: com aplicações em modelagem. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. Leitura recomendada FIGUEIREDO, D.G.; NEVES, A.F. Equações diferenciais aplicadas. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), 2002. 15Equações diferenciais de 1ª ordem
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