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O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA

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O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA (MCCP) 
O Método Clínico Centrado na Pessoa surgiu da demanda das pessoas por um atendimento que 
contemplasse de maneira mais integral suas necessidades, preocupações e vivências 
relacionadas à saúde ou às doenças. Alguns médicos, como Michael Balint, percebiam a 
influência de fatores de cunho pessoal e subjetivo no eventual sucesso da terapia proposta. No 
modelo biomédico tradicional esses fatores tendem a ser pouco explorados. Os efeitos da 
relação médico-paciente ao longo da trajetória terapêutica eram pouco estudados e conhecidos. 
O MCCP veio a ser desenvolvido a partir dos estudos de Ian McWhinney e Moira Stewart, do 
Canadá, e Joseph Levenstein, da África do Sul, sobre os atendimentos médicos e os motivos que 
levavam as pessoas a buscar atendimento. O termo usado para designá-lo inicialmente foi o de 
Medicina Centrada na Pessoa, mas hoje em dia se reconhece que o método tem amplo potencial 
de aplicação pelos profissionais de saúde em geral, independentemente de sua formação. De 
forma crescente, a abordagem centrada na pessoa está sendo reconhecida como um parâmetro 
importante da qualidade assistencial. 
MÉTODO CLÍNICO CONVENCIONAL x MCCP 
Stewart aponta que, quando comparada a modelos tradicionais, a abordagem centrada na 
pessoa apresenta mais resultados positivos, tais como: 
• maior satisfação das pessoas e médicos; 
• melhora na aderência aos tratamentos; 
• redução de preocupações e ansiedade; 
• redução de sintomas; 
• diminuição na utilização dos serviços de saúde; 
• diminuição das queixas por má-prática; 
• melhora na saúde mental; 
• melhora na situação fisiológica e na recuperação de problemas recorrentes. 
O Método propõe, em seus diversos componentes, um conjunto claro de orientações para que 
o profissional de saúde consiga uma abordagem mais centrada na pessoa. Ele está estruturado 
em seis componentes, que são complementares entre si. O profissional experiente é capaz de 
perceber o momento adequado para lançar mão de um ou outro dos componentes, de acordo 
com o fluir da sua interação com a pessoa que procura atendimento. Os componentes são: 
 
1) Explorando a doença e a experiência da pessoa com a doença 
• Avaliando a história, exame físico, exames complementares; 
• Avaliando a dimensão da doença: sentimentos, ideias, efeitos sobre a funcionalidade e 
expectativas da pessoa. 
 
2) Entendendo a pessoa como um todo, inteira 
• A pessoa: Sua história de vida, aspectos pessoais e de desenvolvimento; 
• Contexto próximo: Sua família, comunidade, emprego, suporte social; 
• Contexto distante: Sua comunidade, cultura, ecossistema. 
 
3) Elaborando um projeto comum de manejo 
• Avaliando quais os problemas e prioridades; 
• Estabelecendo os objetivos do tratamento e do manejo; 
• Avaliando e estabelecendo os papéis da pessoa e do profissional de saúde. 
 
4) Incorporando a prevenção e a promoção de saúde 
• Melhorias de saúde; 
• Evitando ou reduzindo riscos; 
• Identificando precocemente os riscos ou doenças; 
• Reduzindo complicações. 
 
5) Fortalecendo a relação médico-pessoa 
• Exercendo a compaixão; 
• A relação de poder; 
• A cura (efeito terapêutico da relação); 
• O autoconhecimento; 
• A transferência e contratransferência. 
 
6) Sendo realista 
• Tempo e timing; 
• Construindo e trabalhando em equipe; 
• Usando adequadamente os recursos disponíveis. 
 
1) O PRIMEIRO COMPONENTE - EXPLORANDO A DOENÇA E A EXPERIÊNCIA DA PESSOA COM 
A DOENÇA 
Uma premissa importante para o Método Clínico Centrado na Pessoa é de que existem 
diferenças entre aquilo que chamamos de doença - ou seja, as alterações bioquímicas, celulares, 
dos tecidos ou órgãos que se manifestam na forma de sintomas e sinais - e a vivência 
absolutamente única de cada pessoa com a doença. Esse processo individual pode ser 
denominado de adoecimento, ou doença experiência. Ele decorre da complexa interação das 
crenças da pessoa com sua vivência corporal e sua interação com o ambiente, incluindo aí o 
contexto familiar e psicossocial. 
O modelo tradicional de abordagem, geralmente chamada de “modelo biomédico”, utiliza os 
sintomas e sinais apresentados pelo paciente como indicadores de alterações no organismo 
afetado. A partir da análise desses sintomas e sinais o profissional elabora um raciocínio clínico, 
para chegar a um diagnóstico correto da patologia causadora. Esse diagnóstico permitiria a 
seleção do tratamento adequado, para “combater a doença” e restaurar o equilíbrio do 
organismo para o “normal”, ou o mais próximo dele possível. 
Entretanto, como mostra a Figura 1, uma pessoa pode ser portadora de uma doença sem 
manifestar sintomas, sinais ou adoecimento – como no caso de um hipertenso assintomático ou 
daquele com uma neoplasia oculta, desconhecida. No outro extremo, uma pessoa poderá 
padecer de um intenso processo de adoecimento, sem estar doente no sentido tradicional da 
palavra – um indivíduo com uma perda próxima recente, por exemplo. É nesse contexto 
interpretativo ampliado que se insere o MCCP. 
 
A EXPERIÊNCIA DA DOENÇA 
Para entender melhor a experiência da pessoa em relação à doença, o profissional de saúde 
deve estar atento a sinais e indicações dadas pelas pessoas durante o atendimento. Deve-se 
indagar que fatores levaram uma determinada pessoa a buscar atendimento naquele momento 
específico. Muitas vezes, esses fatores poderão ser tão esclarecedores do processo que a pessoa 
vive quanto o próprio diagnóstico clínico. 
Lang e colaboradores afirmam que as pistas e sinais emitidos pelas pessoas que buscam 
atendimento, na forma de enunciados ou comportamentos, são importantes porque refletem 
suas ideias subjacentes, preocupações e experiências. Podem surgir na forma de: 
• Expressão (verbal ou corporal) de sentimentos (muitas vezes preocupação, medo ou 
aflição); 
• Tentativas de entender ou explicar os sintomas; 
• Pistas na fala que salientam preocupações pessoais; 
• Histórias pessoais que revelam ligações da pessoa a condições médicas ou fatores de 
risco; 
• Comportamentos que sugerem preocupações não resolvidas ou expectativas (por 
exemplo, resistência a aceitar recomendações, busca de segunda opinião, solicitação 
repetida de consultas a curto prazo). 
Além de estar atento a essas pistas, propõe-se que os profissionais avaliem quatro dimensões 
da experiência da doença (lembradas pelo acróstico SIFE): 
1. Os sentimentos das pessoas a respeito de seus problemas. Por exemplo, ela teme que 
os sintomas manifestados possam indicar uma doença mais séria, como um câncer? 
2. As suas ideias sobre o que está errado. Embora às vezes a ideia que uma pessoa faz de 
um sintoma seja bastante objetivo – “será que essa cólica é uma pedra no rim?”, às 
vezes outros encaram problemas de saúde como punições, ou até como uma 
oportunidade, de forma muitas vezes inconsciente, de se tornar dependente e ser 
cuidado. 
3. Os efeitos da doença no funcionamento da pessoa: Haverá limitações nas atividades 
diárias? Será necessário ficar afastado do trabalho? Prejudica a qualidade de vida? 
4. Quais são as expectativas da pessoa. O que espera do médico? A dor de garganta deve 
ser tratada com antibióticos? 
A sensação de vulnerabilidade trazida pelas doenças, os aspectos específicos de uma dada 
patologia, ou mesmo a formação pessoal podem, por vezes, levar alguns pacientes a dificuldades 
ou impossibilidade de expressarem claramente suas dúvidas e angústias. Torna-se importante o 
exercício da escuta ativa, como ferramenta para ajudar a desvendar aspectos eventualmente 
ocultos pelas manifestações físicas. 
 
2) O SEGUNDO COMPONENTE - ENTENDENDO A PESSOA COMO UM TODO, INTEIRA 
Este é, talvez, o componente mais importante do Método Clínico Centrado na Pessoa. Cassell 
(1991, apud Stewart, 2010) observa que as doenças de alguém são apenas uma das dimensões 
da sua condição de pessoa, portanto são uma forma restrita de entendera experiência da 
doença e o sofrimento que a pessoa sente. 
O entendimento da pessoa como um todo melhora a interação do médico com a pessoa sendo 
cuidada e pode ser muito útil quando os sinais e sintomas não apontam uma doença claramente 
definida, ou quando a resposta a uma experiência de doença parece exagerada ou fora de 
propósito. 
A vivência das pessoas é profundamente influenciada pelas fases de seu desenvolvimento. Por 
exemplo, uma mulher de meia idade, com múltiplos papéis como esposa, mãe, filha e 
trabalhadora certamente estará vivendo um contexto muito complexo. Portanto, o estágio das 
pessoas nos ciclos de vida, as tarefas e papéis que assumem influenciam no tipo de atendimento 
que buscarão, bem como no seu envolvimento com o processo de saúde/doença. O 
entendimento desses fatores ajudará o profissional de saúde a enxergar problemas pessoais não 
apenas como fenômenos isolados. 
Em qualquer contexto, a experiência de uma doença séria costuma vir associada com um grau 
de sofrimento significativo, sendo que grande parte dele muitas vezes não é físico e sim 
espiritual. Os avanços científicos que modificaram os cuidados de saúde aumentaram o foco na 
cura e na tecnologia, em detrimento dos aspectos humanitários e de compaixão do cuidado. 
Conforme relata Puchalski, muito do sofrimento associado ao adoecer e à vulnerabilidade ou à 
perspectiva de morte se dão pela nossa incapacidade de responder a algumas das perguntas 
fundamentais do ser humano: “Quem sou eu? O que dá valor à minha vida? Qual o meu 
destino?” Ou ainda: “Por que isso aconteceu comigo? Por que eu? O que eu fiz para merecer 
isso? O que vai acontecer comigo? Eu conseguirei ver meus filhos crescerem, meus sonhos se 
realizarem?” 
Para essas perguntas nunca haverá uma resposta única, pois elas são extremamente pessoais. 
Como lembra Stewart, apesar de sua enorme importância, justamente pelo fato de serem muito 
íntimas, elas podem não ser discutidas com qualquer outra pessoa, nem mesmo com familiares 
ou amigos muito próximos. Tais perguntas, se não respondidas, podem levar a um sentimento 
de isolamento. Nesse caso, justamente no momento de maior vulnerabilidade, a pessoa pode 
ficar sozinha com dúvidas fundamentais e grandes preocupações, quando mais necessitaria de 
compartilhá-las. Mostrar abertura para que a pessoa manifeste essas questões, ouvir 
atentamente e sem julgamento é parte da abordagem centrada na pessoa. 
As dimensões do contexto 
Assim como o sentido de uma palavra depende do contexto da frase na qual está inserida, 
também o sentido de saúde e a experiência de doença variam de acordo com o contexto no qual 
se insere a pessoa. 
As dimensões do contexto podem ser divididas em proximais – a família, educação, questões 
financeiras, emprego, lazer, suporte social – e em distais – a comunidade, a cultura, geografia, 
economia, sistema de atendimento à saúde, meios de comunicação. 
É importante para o profissional da saúde explorar essas dimensões do contexto, embora seja 
difícil e por vezes pouco produtivo fazê-lo numa única consulta. No tocante a essa questão, uma 
das atribuições da atenção primária, a da longitudinalidade, favorece o conhecimento 
progressivo do contexto da pessoa. 
 
3) O TERCEIRO COMPONENTE - ELABORANDO UM PLANO CONJUNTO DE MANEJO DOS 
PROBLEMAS 
O Método Clínico Centrado na Pessoa propõe que se elabore um plano conjunto de manejo dos 
problemas. Nesse processo a pessoa atendida e o profissional de saúde procuram alcançar um 
entendimento mútuo e estabelecer uma concordância em três áreas-chave: a definição do(s) 
problema(s), o estabelecimento de prioridades e metas para o tratamento ou manejo da doença 
e a identificação dos papéis a serem assumidos por cada um. 
Britten e cols (2000) mostraram que para o estabelecimento de um plano conjunto de manejo 
dos problemas é fundamental que haja antes a avaliação da experiência da doença da pessoa, 
seguindo os tópicos de sentimentos, ideias, efeitos na função e expectativas (SIFE) descritos no 
componente 1) acima. 
Ao discutir com a pessoa aquilo que percebe como sendo um problema, é importante que o 
profissional utilize uma linguagem que elas possam entender, evitando termos técnicos 
complicados. As pessoas devem ter tempo e se sentirem à vontade para esclarecer suas dúvidas, 
e não se sentirem envergonhadas pela sua falta de conhecimento técnico acerca do seu estado 
de saúde. 
Após chegarem a um entendimento mútuo sobre o(s) problema(s), o próximo passo é avaliar as 
metas e prioridades do tratamento e manejo. Se estas forem divergentes, encontrar um 
planejamento conjunto poderá se tornar um desafio. Muitas vezes, o que o profissional de saúde 
chama de “não adesão ao tratamento” pode ser uma forma da pessoa expressar sua 
discordância com o tratamento ou com as metas estabelecidas. É importante atentar ao fato de 
que diversos comportamentos, tais como a hesitação em expressar algo, ou a repetição 
reiterada de determinada palavra ou termo, dentre outros, podem sinalizar questões que não 
se tornaram explícitas e que não foram ainda abordadas. 
Quando houver desacordo, o profissional deve evitar conflitos pelo poder, preferindo, ao invés, 
escutar as preocupações e opiniões da pessoa, e não simplesmente rotulá-la de desobediente. 
Colocações como “Gostaria de saber seu ponto de vista, principalmente porque você terá que 
conviver com as nossas decisões sobre seu tratamento”, “você vê alguma dificuldade em seguir 
esta proposta? Há algo que possa ser feito para que este tratamento fique mais fácil de seguir? 
Você precisa pensar mais a respeito disso?” são importantes para abrir espaço para a construção 
comum das metas e prioridades do tratamento. 
O uso da escuta ativa é ferramenta importante para se conseguir tal objetivo. Ela deve ser feita 
não apenas com vistas à realização do diagnóstico diferencial, mas também para perceber as 
verdadeiras preocupações e interesses da pessoa. 
Para finalizar a construção de uma proposta comum de tratamento, é necessário que se negocie 
de forma clara quais papéis e tarefas deverão ser desempenhadas/ realizadas pelos profissionais 
de saúde e quais pela pessoa/cuidadores. Deve-se sempre buscar a descoberta/transmissão de 
informações e o treinamento de capacidades que permitam à pessoa uma maior autonomia no 
seu cuidado, embora em alguns casos ela possa assumir uma postura menos ativa, aguardando 
que o profissional lhe diga o que fazer. O grau de responsabilidade que uma pessoa assume 
também pode variar conforme o próprio estado de saúde 
O uso de uma tabela proposta por Stewart e colaboradores pode ser de auxílio na procura de 
um plano conjunto de manejo dos problemas: 
 
 Ao final é produtivo que o profissional de saúde repasse com a pessoa o entendimento e a 
concordância quanto ao que foi estabelecido. 
Em suma, a elaboração de um plano comum de manejo parte da relação do profissional com a 
pessoa que busca atendimento. Essa relação ocorre a cada encontro e tende a se fortalecer ao 
longo do tempo. 
 
4) O QUARTO COMPONENTE - INCORPORANDO A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO DE SAÚDE 
OMS definiu a promoção da saúde como “o processo de habilitar pessoas a assumir o controle 
de sua saúde e a melhorá-la” (1986). Já a prevenção de doenças tem por objetivo reduzir o risco 
de uma doença. As estratégias de prevenção de doenças se dividem em: evitar riscos (prevenção 
primária), reduzir riscos (prevenção secundária) e identificar precocemente e reduzir 
complicações (prevenção terciária). Poderia ainda ser incluída a prevenção quaternária (vide 
Norman e Tesser), voltada para reduzir ou evitar os danos causados pelo intervencionismo 
excessivo nos cuidados de saúde (iatrogenia). 
A prevenção de doenças e promoção da saúde na visão centrada na pessoa começa pelo 
entendimento da pessoa como um todo. O profissional deve avaliar seis aspectos do mundo da 
pessoa: a experiência dos determinantesmais amplos de saúde ao longo da vida, a doença atual 
e as potenciais, a experiência de saúde e de doença, o potencial para a saúde, o contexto e o 
relacionamento entre a pessoa e o profissional. 
A proposta é a de uma abordagem educacional voltada para a pessoa/aprendiz. O profissional 
procura desencadear na pessoa/aprendiz reflexões críticas por meio do diálogo, levando à 
conscientização sobre seu potencial para a saúde e para a promoção de saúde, e sobre as 
ameaças à saúde inerentes ao seu padrão de vida atual. O profissional ajuda a pessoa a avaliar 
as suas práticas e os valores, necessidades, motivos e expectativas que permeiam essas práticas. 
Nesse processo o próprio profissional de saúde se torna aprendiz, coletando dados que o 
ajudarão na condução/pactuação do tratamento e adquirindo experiência em cada processo 
único de interação entre pessoas. 
 
5) O QUINTO COMPONENTE – INTENSIFICANDO O RELACIONAMENTO ENTRE A PESSOA E O 
PROFISSIONAL DE SAÚDE 
Como dito anteriormente, todo relacionamento entre pessoas é único, e pode ser visto como 
uma troca que ocorre entre esses indivíduos. Essa troca envolve atenção, sentimentos, 
confiança, poder e sensação de objetivo. Num relacionamento entre uma pessoa que busca um 
atendimento e um profissional de saúde o propósito é ajudar a pessoa. O próprio 
relacionamento tem em si dimensões terapêuticas e pode promover a melhoria do senso de 
auto eficácia das pessoas (isto é, o senso de controle sobre si mesmo e sobre o seu mundo) ou 
mesmo a cura, desde que bem trabalhado. 
Certos atributos como a empatia, a compaixão e o cuidado, devem ser cultivados nos 
relacionamentos entre pessoas e profissionais de saúde, pois aumentam as chances de que a 
relação contribua para o projeto terapêutico acordado entre elas. O cuidado foi definido como 
sendo um processo que inclui oito conceitos: estar presente, conversar, sensibilidade, agir no 
melhor interesse do outro, sentimento, ação e reciprocidade (Tarlow, 1996 apud Stewart, 2010). 
O cuidado implica total presença e envolvimento do profissional com a pessoa. 
percepção das relações de poder nas interações entre os profissionais e as pessoas que buscam 
atendimento também é muito importante e exige do profissional um grande grau de 
autoconsciência e autoconhecimento. Isso requer que o profissional conheça bem seus pontos 
fortes e fracos. Por exemplo, que elementos ou situações emocionais nos levam a responder 
negativamente a certas pessoas? O autoconhecimento, além de contribuir muito para uma 
relação saudável entre pessoa e profissional, também ajuda este último a evitar desgastes 
desnecessários no exercício diário da sua atividade. A jornada do autoconhecimento não 
termina, requerendo do profissional paciência, persistência, capacidade de reflexão e 
resiliência. 
 
 
6) O SEXTO COMPONENTE – SENDO REALISTA 
Uma das características que irá favorecer a avaliação de questões complexas e pessoais é a 
possibilidade de acompanhar a pessoa em várias consultas ao longo do tempo. Não é realista 
querer lidar com todos os problemas de cada pessoa a cada consulta, porém é necessário 
reconhecer quando a pessoa necessita de mais tempo, e acordar possibilidades de atendimento 
que satisfaçam ambas as partes. Na maioria das vezes, mesmo aquelas pessoas com múltiplas 
demandas numa consulta concordarão em abordar as mais prioritárias num primeiro momento, 
desde que fique claro que existirão momentos posteriores em que terão oportunidade de 
abordar as demais questões. 
O timing se refere ao momento correto para abordar determinada questão, bem como à 
prontidão da pessoa em compartilhar certas preocupações e experiências com os profissionais. 
O ser realista implica ainda em reconhecer que, para se obter um cuidado mais abrangente, em 
muitas situações é necessário o trabalho em equipe interdisciplinar. Isso ocorre nas condições 
crônicas, de um modo geral. Na literatura, o trabalho colaborativo interdisciplinar é definido 
como um processo negociado entre iguais, caracterizado por mutualidade, respeito e confiança, 
que permite a autor revelação adequada sem desconforto. Portanto, as equipes 
interdisciplinares são compostas por duas ou mais disciplinas que participam, de forma ativa e 
contínua, de um processo de comunicação, planejamento e ação conjunta para chegar a metas 
compartilhadas. Para tanto é necessário que os profissionais tenham o entendimento e a 
valorização das competências, perspectivas e do âmbito da prática de cada um. Isso contrasta 
com o trabalho multidisciplinar, em que as ações ocorrem em paralelo, o que pode levar à 
fragmentação do cuidado. 
Por fim, ser realista em tempos de restrição econômica implica na necessidade de se utilizar os 
recursos disponíveis do sistema de saúde (inclusive o tempo dos profissionais) de forma 
inteligente. 
 
CONCLUSÃO 
O progresso na capacidade tecnológica para realizar diagnósticos não se traduz paralelamente 
no aumento da satisfação dos usuários com o atendimento, aliás, frequentemente ocorre o 
contrário. Os profissionais em geral estão mais preocupados com as doenças, enquanto os 
usuários estão preocupados com seu sofrimento. Quanto mais tecnologia, mais afastamento da 
experiência da pessoa com a doença e, sobretudo, da avaliação das queixas sem uma 
correspondência física mensurável. Desse contexto, e do desejo das pessoas de serem 
compreendidas de forma mais integral, surgiu a abordagem centrada na pessoa, como forma de 
ajudar os profissionais da saúde a entender as pessoas de uma forma que fosse além dos 
aspectos estritamente orgânicos. O Método Clínico Centrado na Pessoa, com seus seis 
componentes, pretende sistematizar uma forma de atendimento que privilegie a compreensão 
da pessoa de forma inteira, melhorando os resultados e a satisfação de todos. 
Sua aplicação depende de uma forma de atuar sistemática e reflexiva, lançando mão dos 
diversos componentes conforme a necessidade/espaço, em momentos diferentes da interação 
com as pessoas que buscam atendimento, e não como uma sequência rígida pré-estabelecida.

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