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Aula 8 - Crise do Antigo Sistema Colonial

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HISTÓRIA DO BRASIL 
Aula 8
Processo de Crise Antigo do Sistema Colonial
OBS – um dos fatores para essa crise foi o iluminismo, levando a denominação da relação metrópole-colônia. 
Fatores que contribuíram para a crise: 
a. Iluminismo
b. Crise do Antigo Regime
c. Revolução Industrial
d. Revoluções Atlânticas (América)
OBS – aqui na América, a Revolução Americana teve mais influência do que a Revolução Francesa. Por exemplo, apesar de a Inconfidência Mineira ter ocorrido em momento próximo à Revolução Francesa, não se sabia, ainda, na América portuguesa, de sua ocorrência. Por conta disso, pode-se perceber que a influência veio da Revolução Americana. 
Pacto Colonial
A colônia existia com o fim exclusivo de proporcionar a acumulação de riqueza na metrópole. 
No comércio colônia-metrópole, havia a exportação de gêneros tropicais e de matérias primas. 
No comércio metrópole-colônia, havia a exportação de manufaturas e de escravos. Além disso, havia o monopólio da metrópole em relação ao comércio de todas as suas colônias. 
Na crise, enxergava-se uma diminuição na acumulação de capitais gerado por esse sistema, significando que o objetivo básico do sistema estava decaindo, sendo o sinal mais enfático da crise. 
Nesse cenário, vê-se as inconfidências acontecendo, nas quais os colonos se rebelam contra os colonizadores, que encarnavam uma autoridade metropolitana. E isso foi feito sem grande mobilização popular. 
OBS – essas são rebeliões que se destinavam a acabar com o pacto colonial em sua integralidade, e não somente sobre certos aspectos dele. Não havendo, ainda, uma identidade nacional. Portanto, eram movimentos emancipacionistas. Queriam a independências das regiões nas quais habitavam, não no Brasil como um conjunto. 
Exemplos: 
a. 1776 – Revolução Americana
b. 1789 – Inconfidência mineira
c. 1794 – Conjuração carioca
d. 1798 – Conjuração baiana
e. 1801 – Conspiração dos Suassunas 
f. 1817 – Revolução pernambucana (“Revolução dos Padres”)
OBS – na América espanhola também havia exemplos na mesma conjuntura, como a Revolta de Tupac Amaro. Demonstrando ser um fenômeno sistêmico. 
INCONFIDÊNCIA MINEIRA (1789)
a. Influência da Revolução americana
b. Elites locais se mobilizam, a princípio, contra a derrama
c. Derrama anunciada
d. Colonos estavam alijados dos cargos públicos mais altos da administração colonial
e. Novo Governador, com o qual as elites locais não têm relação
No dia em que foi anunciada a derrama, tramou-se para armar uma conspiração para sabotá-la, com a mobilização das tropas, que foram trazidos para o lado dos colonos. Daí a importância de Tiradentes, que tinha acesso às tropas e que poderia circular pelas casas sem ser um suspeito automático quando levasse informações de uma casa a outra. 
Com o apoio das tropas, a ideia era retirar as autoridades metropolitanas da região das minas, com a proclamação da república, que teria São João d’el Rey como capital, com a existência de universidades em Vila Rica (influência iluminista). 
Por outro, Joaquim Silvério dos Reis foi o delator, um rico minerador das elites que participava da conspiração, mas começou a ver os riscos do evento. Denuncia a conspiração em troca do perdão de suas dividias.
Houve a prisão das lideranças e inicia-se o processo de investigação, chamado de processo da devassa. 
	Devassa – Tiradentes é o único dos principais conspiradores que confessa. 
		Penas:
			Tiradentes – enforcado e esquartejado
10 outras lideranças – condenados à forca, com penas comutadas para o degredo 
CONJURAÇÃO BAIANA (1798) – “Conjuração dos Alfaiates”
a. Influenciada pela Revolução Francesa
Teve-se a notícia de que, na Convenção Nacional, predominaram os jacobinos que, entre outras coisas, teve influência fundamental nas Américas para a abolição das colônias, gerando, no Haiti, em São Domingo, uma reação. 
b. Revolução Haitiana é influência
c. Participação da população + quantidade grande de soldados
Querem uma República “Bahiense” e que ela acabasse com a escravidão, os diferenciando da Inconfidência Mineira. 
Repressão: 4 mortos enforcados, todos negros porque todas as lideranças eram negras. 
Interpretações sobre a Conjuração Baiana: 
1. Não há maioria de alfaiates, mas sim de soldados
2. Teria havido uma questão racial muito importante, sendo uma rebelião de negros contra os brancos. Mas essa teoria não estaria cem por cento confirmada. 
CONJURAÇÃO CARIOCA (1794)
a. Sociedade secreta que, depois, passa a ser formalizada como uma Sociedade Literária e inaugurada por um Vice-Rei, para a discussão de livros
b. A partir da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, há suspeita de conspiração dessa sociedade, abrindo-se uma devassa que, no final, conclui que não houve conspiração
CONSPIRAÇÃO DOS SUASSUNAS (1801)
a. Olinda 
b. Há uma parcela da população que é estudada e tinha noção da conjuntura do mundo
c. Seminário de Olinda – os padres também liam e tendem a ser uma classe revolucionária
d. Areópago de Itambé – pretendia fundar a Academia dos Suassunas, que é proibida
e. Não houve uma revolução de fato
1817 – Revolução dos Padres
SÉCULO XIX
Enquanto na América portuguesa houve a influência de ideias iluministas provocando um novo tipo de sedição colonial, que previa a ruptura do pacto colonial e independências das regiões, em Portugal também havia o efeito das ideias iluministas e das reformas pombalinas, num sentido racionalista ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA
A partir de determinado momento, essa geração ilustrada passa a assumir cargos chave no Estado português. Depois que d. Maria é licenciada, a nova geração passa a assumir cargos altos na administração portuguesa, provocando mudanças na maneira como o Estado português se relaciona com suas colônias. 
Assim: 
a. Alijamento da geração pós-pombalina durante o governo de d. Maria I
1792 – Regência de d. João
“Geração de 1790” d. Rodrigo de Souza Coutinho, no futuro será o Conde de Linhares. Com a vinda da família real para a colônia, é convocado para ser secretário dos domínios do ultramar. Sua primeira função foi reformista, em bases racionalistas e concebe o projeto de Império Luso-Brasileiro.
1797 – Império Luso-Brasileiro: a princípio, é fruto do diagnóstico de Coutinho, de reforma administrativa no ultramar português. Não daria se passasse também por uma reforma tributária e reformas militares. 
Rodrigo de Souza Coutinho acreditava que a segurança era urgente, pois via a conjuntura do que ocorria no mundo. Mas essa segurança deveria ser desenhada com recursos próprias, pois via a dependência da Inglaterra como um “perigo inglês”. 
· A segurança seria maior na América portuguesa, por conta disso, a Família Real deveria ir para lá.
Assim, ele diz que o Atlântico Sul seria um escudo natural, dependendo menos da proteção da Inglaterra. Enquanto isso, na Europa o território português estava sempre ameaçado. Além disso, os vizinhos do Vice-reino do Brasil são menores, com menos condições de agredi-lo. 
A proposta seria a TRANSMIGRAÇÃO DA CORTE, contra a parte dos membros da alta burocracia da coroa portuguesa em Lisboa, que eram favoráveis a um entendimento com a França. 
Rodrigo de Souza Coutinho é favorecido pelo fato de que as Guerras Napoleônicas decretaram o Bloqueio Continental e deixaram a Portugal a decisão de aderir ou não. Nisso, Portugal já tinha um exemplo prático: a Dinamarca havia aderido e a Inglaterra a bombardeou. Portugal recebe um ultimato franco-espanhol, em 1801. Nesse momento, d. João recebe de bom grado os conselhos de Rodrigo de Souza Coutinho, mas precisava do apoio da Inglaterra. 
Inglaterra é contra com o fato de a corte transmigrar em 1807, mas imediatamente propõe de fazer no próximo ano nos marcos de uma convenção secreta com um plano de ajuda mútua. Nesse momento, fica acertado que Portugal teria um porto franco na América para os produtos ingleses, com privilégios alfandegários para a Inglaterra e poderia governar Portugal na ausência da corte na Península Ibérica. 
Na verdade, não foi uma fuga, mas a implementação de um projetolongamente maturado. Mas a Corte portuguesa estava dividida entre anglófilos e francófilos. Os anglófilos têm muito mais influência, momento no qual se considera a proposta de Rodrigo Coutinho. 
		Convenção Secreta
a. Escolta britânica
b. Ocupação de Portugal por tropas da Inglaterra
c. Estratégia – aparência de adesão ao Bloqueio Continental + aparência de fuga
Invasão franco-espanhola em Portugal x tropas britânicas do general Beresford
1808 – Transmigração da Corte 
Com isso, a “cabeça” do Império português muda-se para seu eixo dinâmico, o Atlântico Sul, demonstrando a centralidade do Atlântico Sul, aprofundando a relação histórica com a Inglaterra. 
1808 – 1821 – PERÍODO JOANINO
A metrópole se interiorizou na colônia!
Primeira parada SALVADOR
a. José da Silva Lisboa (visconde de Cairu): fala em nome dos comerciantes de Salvador com o Regente d. João. Segundo Amado Cervo, ele tinha influências do Liberalismo smithiano, e tinha um projeto que representava um liberalismo que se conciliava com a escravidão. O projeto foi vitorioso e, na prática, acabava com o pacto colonial e, ainda, apontava para um projeto futuro de não dependência exclusiva da Inglaterra.
Como resultado, houve a ABERTURA DOS PORTOS ÀS NAÇÕES AMIGAS. Não era o combinado com a Inglaterra, em 1807, pois a Inglaterra queria exclusividade nessa abertura. Portanto, a Inglaterra não se contenta com esse ato, pois ela queria privilégios alfandegários. 
Segunda parada Rio de Janeiro
a. Pressão inglesa para que a corte cumprisse com o tratado de 1807
b. D. João declara nulos e sem efeito os acordos de 1801 (Badajoz + Madri)
c. Revoga o Alvará de 1785 – para estimular manufaturas e se defender da invasão na Europa por meio de ataques à Espanha e á França em seus territórios na América
FIM DO PACTO COLONIAL
A partir disso, não mais se pode chamar o Brasil de colonial
Maria Odila “Interiorização da Metrópole”: à medida em que a corte se transferiu para a América portuguesa e veio para implementar um projeto de império, a metrópole se interioriza na colônia. Além disso, essa interiorização é no sentido de formalizar a existência do Estado, transformando o Centro-Sul da América portuguesa, em que havia uma articulação interna que se expressa em termos sociais, econômicos e políticos. 
Há, portanto, o enraizamento de interesses portugueses no Centro-Sul da América portuguesa. Isso se fazia, por exemplo, com o casamento de filhos de colonos decadentes com filhas de pessoal que mantinham relações próximas com a alta nobreza. 
REFORMAS JOANINAS
a. Recriação, na América, dos Ministérios
b. Academia Militar será criada no Rio de Janeiro (1810)
Muitos dizem que foi a primeira escola de ensino superior do Brasil, mas na verdade foi a Faculdade de Medicina (Escola Médico Cirúrgica), de Salvador – 1808. 
c. Fábrica de pólvora
d. Arsenal de Marinha
Com essas reformas, o Império se prepara para atacar Espanha e França em seus territórios. 
A corte se instala no Rio de Janeiro, que era pequena para a quantidade de população que passaria a abrigar. As reformas necessárias foram as seguintes:
a. Saneamento
b. Teatro real
c. Biblioteca Real
d. Real Horto
e. Missões artísticas e/ou expedições científicas
I. Austríaca 
II. Francesa (colônia Lebreton) – neoclássico X barroco 
III. Russa – Expedição Langsdorff
f. Incentivo à imigração – para colonos virem de lugares da Europa para produzir bens de consumo da Corte
g. Estradas no Centro-Sul
h. Concessão de monopólios, principalmente para abastecer a coroa 
i. Mercês – economia de trocas de privilégios 
1809 – TOMADA DE CAIENA, só saindo em 1817, depois do Congresso de Viena. 
1811-1812 – INVASÃO DA BANDA ORIENTAL – havia oposição britânica 
1816-1821 – INVASÃO DA BANDA ORIENTAL – que é incorporado ao Império português, denominando-se Província Cisplatina. 
1815 ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO DE PORTUGAL E ALGARVES
Para cumprir o princípio das legitimidades vindo com a Convenção de Viena, e era equivalente ao fim do status político de colônia. 
· Coroação de d. Joao VI (1816)
Boris Fausto
1) Disseminação do pensamento ilustrado
a. Princípio da razão
b. Respeito às leis naturais
c. Origem ao pensamento liberal – noção do aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade, a partir de critérios propostos pela razão
d. Liberdade individual
e. Plano econômico – Estado não deve interferir na iniciativa individual
f. Plano político – direito de representação dos indivíduos, nos quais está o poder, e não nos soberanos. 
2) CRISE DO SISTEMA COLONIAL
a. 1776 – colônias inglesas da América do Norte proclamam sua independência
b. 1789 – Revolução Francesa
c. Revolução Industrial – imposição do livre-comércio e abandono dos princípios mercantilistas. A Inglaterra passa a proteger seu próprio mercado e o de suas colônias por meio de tarifas protecionistas, e suas relações com a América espanhola e portuguesa consegue abrir brechas no sistema colonial por meio de acordos comerciais, do contrabando e de acordos com os comerciantes locais. 
d. Tendência a limitar/extinguir a escravidão – manifestada pelas maiores potências, muito devido aos novos movimentos nascidos nos países mais avançados da Europa, sob a influência do movimento ilustrado e mesmo religioso
3) ADMINISTRAÇÃO POMBALINA
a. Portugal – país atrasado, dependente da Inglaterra, de quem recebia proteção contra a Espanha e França
b. 1750 – ascensão de d. José I 
Ministro – Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal
Pombal introduziu o esforço no sentido de tornar mais eficaz a administração portuguesa e introduzir modificações no relacionamento Metrópole-Colônia. essas reformas combinavam o absolutismo ilustrado com a tentativa de uma aplicação consequente das doutrinas mercantilistas. 
c. Medidas Pombalinas
i. Criação de duas companhias privilegiadas de comércio
Essa criação prejudicou setores comerciais do Brasil, que foram marginalizados pelas companhias privilegiadas, apesar de não ter tido o objetivo de perseguir a elite colonial, pois ainda colocava membros dessa elite nos órgãos administrativos e fiscais do governo, na magistratura e nas instituições militares. 
A. Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão – 1775
Objetivo de desenvolver a região Norte, com preços atraentes para as mercadorias ali produzidas e consumidas na Europa. Ainda introduziu escravos negros que, dada a pobreza da região, foram transportados para a região das minas de Mato Grosso
B. Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba – 1759 
Objetivo de reativar o Nordeste dentro da mesma linha de atuação
ii. Programa Econômico
Foi frustrado, pois em meados do século XVIII a Colônia entrou em um período de depressão econômica que se prolongou até o fim da década de 1770, tendo como causas:
A. Crise do açúcar 
B. Queda da produção de ouro 
C. Queda da renda da Metrópole 
D. Crescimento das despesas para a reconstrução de Lisboa 
E. Despesas para sustentar a guerra contra a Espanha pelo controle da Bacia do Prata
iii. Tentativa de melhorar a arrecadação de tributos
A. Em MG, o imposto de captação foi substituído pelo quinto do ouro, com a exigência de que deveria render anualmente pelo menos cem arrobas
B. Depois de uma série de falências, a Coroa decidiu explorar diretamente as minas de diamantes, em 1771, ao mesmo tempo em que procurou tornar a Metrópole menos dependente das importações de produtos industrializados, incentivando a instalação de manufaturas em Portugal e mesmo no Brasil
iv. Expulsão dos Jesuítas de Portugal e de seus domínios
A. Confisco de bens 
B. Objetivo de centralizar a administração portuguesa
C. Impedir áreas de atuação autônoma por ordens religiosas com fins diversos dos da Coroa
D. Companhia de Jesus foi o alvo principal, acusada de formar um Estado dentro do Estado
v. Medidas com relação aos indígenas
Para Pombal, a consolidação do domínio português nas fronteiras do Norte e do Sul passava pela integração dos índios à civilização portuguesa. Se não se contassecom uma população nascida no Brasil identificada com os objetivos lusos, seria inviável assegurar o controle de vastas regiões semidespovoadas. 
A. Extinção da escravidão dos índios – 1757 
B. Aldeias na Amazônia foram transformadas em vilas 
C. Legislação incentivou o casamento misto 
A expulsão da ordem abriu um vazio no ensino da Colônia, e a Coroa portuguesa temia a formação de uma elite letrada na Colônia. Para remediar os problemas do ensino, foi criado um imposto especial – o subsídio literário –, para sustentar o ensino promovido pelo Estado e o bispo de Pernambuco criou o Seminário de Olinda, voltado para as ciências naturais e matemáticas. 
4) PERIODO MARIANO – “viradeira” – 1797
a. Companhias de comércio foram extintas 
b. Colônia foi proibida de manter manufaturas 
c. Repressão aos integrantes da Inconfidência Mineira
d. Período que beneficiou a reativação das atividades agrícolas na Colônia
Produção de açúcar se expandiu, favorecida pela insurreição de escravos em São Domingos. A produção de algodão tomou espaço, incentivada pela guerra de Independência dos EUA
5) MOVIMENTOS DE REBELDIA
Conspirações contra Portugal e tentativas de independência que tinham a ver com as novas ideias e os fatos ocorridos na esfera internacional. Foram movimentos de revolta regional, portanto sem caráter nacional. As ideias francesas ou o liberalismo da Revolução Americana foram suas fontes inspiradoras e continuavam prudentes quanto ao tema da abolição da escravatura, que feria os interesses das diversas classes que compunham esses movimentos. 
a. Inconfidência Mineira
Teve relação direta com as características da sociedade regional e com o agravamento de seus problemas, não significando que seus integrantes não fossem influenciados pelas novas ideias que surgiam na Europa e na América do Norte
Nas últimas décadas do século XVIII, a sociedade mineira entrou em declínio, devido à queda da produção de ouro e pelas medidas tributárias da Coroa no tocante à arrecadação do quinto. 
Em sua grande maioria, os inconfidentes constituíam-se em um grupo da elite colonial, formado por mineradores, fazendeiros, padres envolvidos em negócios, funcionários, advogados e uma alta patente militar. Todos mantinham vínculos com as autoridades coloniais na capitania. 
José Joaquim da Silva Xavier era uma exceção. Em 1775, entrou na carreira militar em um posto inicial e nas horas vagas praticava o ofício de dentista, de onde veio o apelido de Tiradentes. 
Com a chegada do novo governador de Minas, Luís da Cunha Meneses, em 1782, o entrosamento entre a elite local e a administração da capitania sofreu um abalo. O novo governador marginalizou os membros mais significativos da elite e favoreceu seus amigos. Embora não fosse da elite, Tiradentes também se viu prejudicado ao perder o comando do destacamento dos Dragões. 
A situação se agravou depois da nomeação do visconde de Barbacena para substituir Cunha Meneses. Barbacena havia recebido instruções no sentido de garantir o recebimento do tributo anual de cem arrobas de ouro. Para que a cota fosse completada, o governador poderia se apropriar de todo o ouro existente e, se isso não fosse suficiente, poderia decretar a derrama, imposto pago por cada habitante da capitania. Isso fez pairar uma ameaça geral na capitania e mais diretamente no grupo de elite, onde se encontravam os maiores devedores da Coroa. 
Essas dívidas eram originárias de contratos feitos com o governo português para arrecadar impostos. Era comum que essa função fosse concedida a particulares com boas relações com a administração. Eles pagavam uma quantia à Coroa para que cobrassem os impostos e ganhavam a diferença entre o pagamento do imposto e o quanto realmente conseguiam arrecadar. Porém, os contratadores nem sequer estavam conseguindo arrecadar o valor dos impostos, e ficavam endividados. 
Em 1788, os inconfidentes começaram a preparar o movimento de rebeldia, incentivados pela expectativa de lançamento da derrama, mas não chegaram a pôr os planos em prática. 
Em 1789, Barbacena decretou a suspensão da derrama, enquanto os conspiradores eram denunciados por Silvério dos Reis. Ele era um devedor da Coroa, mas optara por livrar-se de suas dívidas denunciando o movimento. Nisso, seguiram-se as prisões em Minas e a de Tiradentes, no RJ. 
O que pretendiam os inconfidentes?
A intenção da maioria era a de proclamar uma República, tomando como modelo a Constituição dos EUA. Quanto à abolição, seriam libertados somente os escravos nascidos no Brasil. 
b. Conjuração dos Alfaiates – Bahia, 1798
Movimento organizado por gente marcada pela cor e pela condição social: mulatos e negros livres ou libertos, ligados a profissões urbanas como artesãos ou soldados, e alguns escravos. Entre eles, havia alfaiates. A exceção era o médico Cipriano Barata.
O movimento tinha que ver com as condições de vida da população de Salvador. A escassez de gêneros alimentícios e carestia deram origem a vários motins na cidade. 
Os conspiradores defendiam a proclamação da república, o fim da escravidão, o livre-comércio (especialmente com a França), o aumento do salário dos militares, a punição de padres contrários à liberdade. 
O movimento não chegou a se concretizar, a não ser pelo lançamento de alguns panfletos. A inspiração veio principalmente da Revolução Francesa.
6) VINDA DA FAMÍLIA REAL
Napoleão impôs um bloqueio ao comércio entre a Inglaterra e o continente europeu e Portugal representava uma brecha no bloqueio. Em novembro de 1807, tropas francesas cruzam a fronteira de Portugal com a Espanha. Entre os dias 25 e 27 de novembro, cerca de 15 mil pessoas embarcaram para o Brasil sob a proteção da frota inglesa. 
a. Abertura dos Portos
Logo ao chegar, na Bahia, d. João decreta a abertura dos portos do Brasil às nações amigas, em janeiro de 1808, pondo fim a 300 anos de sistema colonial. 
Em abril, d. João revoga o decreto que proibia a instalação de manufaturas, isenta de tributos a importação de matérias-primas destinadas à indústria, oferece subsídios para as indústrias de lã, de seda e de ferro, e encoraja a invenção e introdução de máquinas. 
A Inglaterra foi a principal beneficiada pela abertura dos portos, e o RJ tornou-se a porta de entrada para os produtos manufaturados ingleses. Além disso, a abertura dos portos favoreceu os proprietários rurais produtores de bens destinados à exportação, principalmente açúcar e algodão, livrando-se do monopólio do comércio com a Metrópole. A abertura, por outro lado, contrariou interesses dos comerciantes. 
O aumento das vantagens inglesas aumentou consideravelmente com o Tratado de Navegação e Comércio, de 1810. A tarifa a ser paga sobre as mercadorias inglesas exportadas para o Brasil foi fixada em apenas 15%, deixando os produtos ingleses em grande vantagem, inclusive com relação aos produtos portugueses. Mesmo depois, quando houve a equiparação, os produtos portugueses não tinham condições em concorrer com os produtos ingleses, em relação ao preço e às variedades. 
Além do mais, a Inglaterra passou a combater a escravidão. Em decorrência disso, junto com o Tratado de Navegação e Comércio foi assinado o Tratado de Aliança e Amizade, no qual a Coroa portuguesa se obrigava a limitar o tráfico de escravos aos territórios sob seu domínio e prometia vagamente tomar medidas para sua restrição. 
Anos mais tarde, com a derrota de Napoleão e no Congresso de Viena (1815), o governo português comprometeu-se com a cessação do tráfico ao norte do equador, e uma cláusula adicional do tratado previa que a Inglaterra tinha o “direito de visita” em alto-mar a navios suspeitos de transportar cativos. Nenhuma dessas medidas impediu o tráfico, que acabou se tornando maior desde 1820. 
b. Corte no Rio de Janeiro
A Coroa concentrou-se na área do Prata, especificamente na Banda Oriental – Uruguai. Com o objetivo de anexá-la, d. João VI realizou duas intervenções militares, em 1811 e a partir de 1816, decorrendo na derrota de Artigos na incorporação da Banda Oriental em 1821,com o nome de Província Cisplatina. 
Quanto às alterações na capital Rio de Janeiro, muita coisa mudou, e a presença da Corte implicava uma alteração do cenário urbano, mas a marca do absolutismo acompanhou o processo. 
c. Revolução Pernambucana de 1817
Ao transferir-se para o Brasil, a Coroa não deixou de ser portuguesa e de favorecer os interesses portugueses, e um dos principais focos de descontentamento estava nas forças militares. D. João chama tropas de Portugal para guarnecer as principais cidades e organiza um Exército, reservando os melhores postos para a nobreza. 
Houve aumento dos impostos para cobrir as despesas da Corte e os gastos militares que o rei promoveu no rio da Prata. Floresceu o sentimento de desigualdade regional. 
A revolução que eclodiu em Pernambuco fundiu esse sentimento com vários descontentamentos resultantes das condições econômicas e dos privilégios concedidos aos portugueses, abrangendo amplas camadas da população: militares, proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes e um grande número de sacerdotes, a ponto de ficar conhecida como a “revolução dos padres”. 
O desfavorecimento regional, acompanhado de um forte antilusitanismo, foi o denominador comum dessa espécie de revolta geral em toda a área nordestina. Mas para os diferentes grupos haveria diferentes objetivos por trás da revolução: para a camada mais pobre, a independência estava ligada à ideia de igualdade. Para os grandes proprietários, os objetivos eram os de acabar com a centralização imposta pela Coroa e tomar em suas mãos o destino da Colônia, ou pelo menos do Nordeste. 
Dentre os revoltosos havia Domingos José Martins, um apoiador da abolição da escravatura. 
Os revolucionários tomaram Recife e estabeleceram um governo provisório baseado em uma “lei orgânica” que proclamou a República e estabeleceu a igualdade e a tolerância religiosa, mas não disse acerca da escravidão.

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