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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - MG Habeas Corpus nº xxxx NONO NINHO, já qualificado nos autos do habeas corpus em epigrafe, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, tempestivamente, por intermédio de sua advogada que esta subscreve, inconformado com o acórdão que denegou a concessão da ordem de “habeas corpus” impetrada, interpor, com fundamento nos artigos 102 inciso II e na alínea a) do inciso II do art. 105, todos da Constituição Federal, o qual pode ser processado e julgado pelo STF ou STJ, o presente: RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL Requerendo, desde já, o seu processamento e remessa ao egrégio Superior Tribunal de Justiça, haja vista não haver embasamento legal para a manutenção da prisão preventiva. Termos em que se requer deferimento. Cidade, Data. Advogada OAB/UF nº xx. xxx RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL Recorrente: Nono Ninho. Recorrida: Justiça Pública. Habeas Corpus nº xxxx Superior Tribunal de Justiça, Colenda turma, Douto Procurador da Republica, Em que pese o ilibado saber jurídico da Colenda Câmara do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, o venerado acórdão que denegou a ordem de habeas corpus não merece prosperar, pelas razões de fáticas e jurídicas a seguir expostas. DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE DO RECURSO Tendo como prisma o art. 30 da lei federal nº 8038/90, que preceitua que o prazo processual para a apresentação do Recurso Ordinário Constitucional ao Superior Tribunal de justiça é de 05 (cinco) dias e, o acórdão de Habeas Corpus foi publicado no dia 29 de janeiro de 2020 (quarta-feira). Com isso, há que se perceber, que como tal recurso foi interposto no seu lapso do quinquídio legal, é TEMPESTIVO. DOS FATOS O requerente foi preso no dia 06 de janeiro de 2020 por volta das 08h00min da manhã, na cidade de Vargem – SP. Acusado de Subtrair um relógio do Senhor Sétimo Silva, da marca Fulerim, avaliado no valor de R$ 19,90 (dezenove reais e noventa centavos), sob grave ameaça e na utilização de arma de fogo, no dia anterior à prisão (05/012020), e na cidade vizinha, Extrema – MG. Posteriormente foi deferido o relaxamento da prisão em flagrante, contudo, o Magistrado da 1ª Vara Criminal da Comarca de Extrema decretou a prisão preventiva de NONO NINHO, fazendo-o com base no inciso I dos arts. 311, 312 e 313 do CPP, mediante prévio requerimento do Ministério Público. A justificativa Para embasar seu pleito, o MP afirmou ter sido encontrado na posse de NONO NINHO o bem subtraído (prisão em 6 de janeiro de 2020) e que o crime narrado no APFD (roubo) é extremamente grave, tendo em vista sua prática mediante grave ameaça, consistente no suposto emprego de arma de fogo, o que colocaria em risco a ordem pública (risco de reiteração criminosa e clamor social gerado pelo crime) e a própria aplicação da lei (risco de fuga), caso NONO NINHO seja colocado em liberdade. Ainda, fundamentou a decisão com base na conveniência para a instrução criminal, pois NONO NINHO poderia ameaçar testemunhas do fato (conveniência da instrução penal), restando, assim, presumido o perigo. No dia 23 de janeiro de 2020, o Magistrado decidiu com supedâneo nos exatos argumentos ministeriais, mesmo diante da completa ausência de flagrante delito (já constatado quando da decisão que relaxou a prisão) e de testemunhas de fato, da primariedade de NONO NINHO, sua residência fixa na cidade vizinha, ser ele possuidor de trabalho com carteira assinada, não ter ameaçado qualquer testemunha e do fato de ser pai de duas crianças pequenas, que dependem economicamente dele para a subsistência. Ainda, não trouxe elementos acerca da necessidade da prisão, especificamente no que se refere a fatos que demonstrem o perigo gerado pelo estado de liberdade de NONO NINHO, assim como nada mencionou acerca da possibilidade ou não de aplicação de medidas cautelares diversas. Contra a medida, no dia 24 de janeiro de 2020 (sexta-feira), foi interposto Habeas Corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), aduzindo não estarem presentes os requisitos da prisão preventiva, que foi negada, de forma não unânime, isto é, 2 a 1, mantendo a prisão preventiva do paciente (NONO NINHO) com base nos fundamentos lançados pelo Magistrado de Extrema/MG. No entanto deve ser reformada a decisão por esta Corte, conforme será demonstrado adiante. DO DIREITO Trata-se de prisão preventiva indevidamente decretada pela autoridade judiciária haja vista a ausência dos requisitos legais previstos no art. 311 do CPP. Tratando-se de uma decisão fundamentada em argumentação genérica, consistente na suposta garantia da ordem publica em razão da gravidade, do risco de reiteração criminosa, de fuga e de clamor social gerado pelo fato supostamente praticado por NONO NINHO, que se deu mediante o aparente emprego de arma de fogo, bem como se valeu da prisão para conveniência da instrução penal. O artigo 312 do CPP dispõe que: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. Ora, Excelência, não foi encontrada nenhuma arma em posse de Nono Ninho, muito menos testemunhas. O único objeto encontrado foi um relógio igual, de mesma marca, avaliado no valor de R$ 19,90, uma quantia que um trabalhador tem condições de arcar. O art. 312 fala de prova da existência do crime, isto é, uma demonstração clara de que ocorreu um fato punível, não se pode alegar isso uma vez que os fatos foram presumíveis e não inequívocos. O requerente apenas não teve como comprovar naquele momento que o objeto foi encontrado em seu uso era dele. Isso posto torna a PROVA CIRCUNSTANCIAL. O art. 315 do CPP dispõe que: “A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada.”. Ainda, a Constituição Federal corrobora, dispondo o seguinte: Art.93(...) IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Ao argumentar que a prisão preventiva do paciente é uma garantia de ordem pública, considerando o suposto uso de arma de fogo, a Colenda Turma deixou de levar em conta os antecedentes impecáveis do paciente e emitiu um juízo meramente hipotético. Pelas razões acima aludidas, não se pode perpetuar a condição encarcerada, pautando-se nos argumentos e provas circunstanciais, portanto não pode ficar preventivamente privado de sua liberdade. Inclusive, Excelência, a família do recorrente está padecendo, já que trabalhava para sustentar a esposa e dois filhos pequenos, e mesmo assim o E. Juízo entendeu por bem em manter a segregação do recorrente asseverando, em resumo, que sua prisão se mostra necessária para a garantia da ordem publica. Entendimentos do STJ afirmam que o juiz deve demonstrar cabalmente porque o indiciado deve ficar coninado e não apenas invocar o art. 312 do CPP. "... Trata-se de constrangimento ilegal a decretação da prisão preventiva, quando o juiz se limita a repetir os termos genéricos doart. 312 do Código de Processo Penal, dizendo, por exemplo, que decreta a prisão preventiva para 'garantia da ordem pública', sem demonstrar, efetivamente, conforme os fatos do processo ou procedimento, de onde se origina esse abalo". É de suma importância destacar que a partir da entrada em vigor do Pacote Anticrime, a decretação da prisão preventiva passou a exigir uma fundamentação mais ampla, qual seja a demonstração do requisito da prova do perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado, que inibe inteiramente aquela mencionada presunção de perigo ou de risco para o processo, gerado apenas pela presença das quatro hipóteses para decretação da prisão preventiva. Assim, por perigo não há que se fazer interpretações, mas simplesmente demonstrar, de forma objetiva, clara, direta e limpa, qual é o real perigo de se manter ou colocar a pessoa em liberdade. Assim, não estando presentes os requisitos da prisão preventiva nos termos do Artigo 312 do Código de Processo Penal, bem como o entendimento pacificado nas cortes superiores do judiciário no intuito que a justificativa não pode se basear apenas na suposição para a 'garantia da ordem pública', não são motivos suficientes autorizadores desta prisão, deve ser o Recorrente posto em liberdade provisória nos termos do Artigo 321 do Código de Processo Penal, com a imposição, sendo o caso, das medidas cautelares do art. 319 do CPP. O art. 28 do Decreto Lei nº 3.689/41 dispõe que a prisão preventiva só deve ser aplicada quando não for possível a aplicação de medida cautelar, veja: Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada. Sendo assim requer: DOS PEDIDOS Por todas as razões elencadas, requer: • Provimento do Recurso para conceder o salvo conduto, revogando-se assim, a prisão preventiva decretada em desfavor do recorrente, expedindo-se o alvará de soltura em favor de NONO NINHO. • Em caso de indeferimento, que seja adotada a aplicação de medida cautelar, com base no art. 319 do CPP. Termos em que, Pede deferimento, Local, Data. Advogada... OAB/UF nº xx. xxx