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APENDICITE AGUDA SBCMC I - 2021.1 Gastro Cirurgica Dr. Diego Muchon INTRODUÇÃO ● A apendicite é a urgência cirúrgica abdominal mais comum. ● O risco de desenvolver apendicite aguda é de 7% durante toda a vida ● Incidência: 11 casos/10.000 hab/ano ● Mais comum no sexo masculino (2:1) e em brancos (74%) - negros (5%) ● Faixa etária mais comum: adultos jovens ● Os extremos de idade são raros, mas quando ocorrem são muito mais graves ● Quanto mais tempo demora para fazer o diagnóstico, maior é o risco de mortalidade ASPECTOS HISTÓRICOS ● 1492- Leonardo da Vinci: primeiros desenhos do apêndice ● 1554 - Dr. Jean Fernel: primeira descrição da “tiflite aguda” ● 1735 - Dr. Claudius Amyand (Londres): primeira descrição de apendicectomia ○ Hérnia de Amyand: herniação com apêndice dentro ● 1886 - Dr. Reginaldo Heber Fitz (Harvard): descrição do tratamento da apendicite aguda com cirurgia precoce ANATOMIA O apêndice cecal/vermiforme, origina-se no ceco na confluência das 3 tênias do cólon (faixas longitudinais do intestino grosso). Em média tem de 5 à 10cm de extensão, e espessura até 5mm (varia de acordo com o tamanho do paciente) - essas medidas são importantes para o diagnóstico de processos inflamatórios com exames de imagens. Irrigação: é irrigado pela A. apendicular, que é ramo da A. ileocólica, e esta da A. cólico direita, que é ramo da A. mesentérica superior e esta ramo direto da Aorta. ● Esses vasos passam por dentro de uma estrutura de aspecto gorduroso, o mesoapêndice. Posições Anatômicas: a localização interfere na clínica do paciente ● Paracólico (35%) ● Retrocecal (30%) ● Pré-ileal (1,5%) ● Pós-ileal (1,5%) ● Promontórico (1%) ● Pélvico (30%) ● Subcecal (1%) FISIOPATOLOGIA ● A apendicite ocorre em decorrência de uma obstrução mecânica da luz do apêndice, pode ser por uma hiperplasia linfóide, presença de fecalitos, sementes, áscaris, neoplasias. ● A mucosa do apêndice produz um muco, e com a obstrução mecânica do órgão esse muco não consegue passar para o ceco, consequentemente, ocorre um aumento da pressão intraluminal, que provoca um colabamento dos vasos da parede do apêndice, o que leva a hiperemia e edema do apêndice → fase inflamatória ou edematosa (Grau I) ○ Primeiro colabam os vasos venosos, porque as artérias são mais rígidas, com uma camada muscular mais espessa, o que dificulta o colabamento das mesmas. ● Com a progressão do processo inflamatório (questão de horas), pela estase de muco, vai ocorrer uma maior proliferação bacteriana, principalmente de E. coli e Enterococcus G-negativos, com consequente formação de pus. ● Ocorre que essas bactérias começam a sair da luz para a parede do apêndice, essa translocação vai culminar na formação de debris celulares, pela atividade de linfócitos e macrófagos, com consequente formação de fibrina na parede do apêndice → fase catarral ou fibrinosa (Grau II) ● Não havendo diagnóstico e tratamento, o paciente evolui com colabamento dos vasos arteriais, o que vai causar uma isquemia do órgão e consequente necrose irreversível da parede do apêndice → fase gangrenosa ou necrotizante (Grau III) ● Esse tecido necrótico é extremamente friável, e pode se romper, levando a liberação da coleção do interior do apêndice (muco + pus) para a cavidade abdominal, o que determina a complicação mais grave da apendicite → apendicite complicada (Grau IV A/B) ○ Perfuração apendicular bloqueada (IVa): perfura o apêndice, mas os órgãos vizinhos bloqueiam essa perfuração impedindo que o conteúdo inflamatório extravase para cavidade abdominal - coleção localizada ○ Peritônio livre (IVb): alguns pacientes podem não conseguir bloquear essa perfuração, de forma que o conteúdo inflamatório preenche toda a cavidade abdominal provocando uma peritonite grave, que pode seguir-se de sepse e óbito. CLASSIFICAÇÃO EVOLUTIVA QUADRO CLÍNICO ● Dor abdominal difusa (geralmente epigástrica e mesogástrica), que posteriormente vai se localizar no quadrante inferior direito (dor visceral → dor parietal) ● Hiporexia (perda de apetite) ● Náuseas e/ ou vômitos ● Febre - pode não aparecer em indivíduos imunossuprimidos ● Alteração de hábitos intestinais: constipação ou diarreia - a diarreia pode levar a uma confusão diagnóstica com uma gastroenterocolite (GECA) ● Tríade de Dieulafoy: dor → náuseas → febre ○ Evolução temporal dos sintomas (24-72h), não ocorre em todos os pacientes, mas é bastante sugestiva de apendicite aguda EXAME FÍSICO O exame físico é muito rico, auxilia na localização do apêndice e, muitas vezes, por si só já nos permite fechar o diagnóstico de apendicite aguda. ● Dor à palpação superficial e/ou profunda no ponto de Mcburney, pode ocorrer também uma alteração da sensibilidade - palpar o abdome todo, deixando a FID por último. ● Sinal de Blumberg: dor à descompressão brusca da fossa ilíaca direita (patognomônico) ● Sinal de Rovsing: dor na fossa ilíaca direita à compressão profunda da fossa ilíaca esquerda → a compressão da FIE gera um deslocamento de gases que distende o ceco, gerando a dor na FID ● Sinal de Lenander: dissociação de temperatura axilo-retal > 1°C - afere temperatura axilar e temperatura retal, se a temperatura retal estiver 1°C maior que a temperatura axilar caracteriza o Sinal de Lenander (é pouco utilizado e não específico) ● Sinal do Psoas: dor na FID à extensão da coxa direita - positivo quando o apêndice é retrocecal e está repousando sobre o músculo psoas ● Sinal do Obturador: dor na FID à rotação interna da coxa direita - o sinal positivo indica que o apêndice está localizado próximo ao forame obturatório. ● Sinal de Martorelli: dor à punho-percussão calcânea - paciente deitado, o examinador faz uma percussão no calcâneo ou solicita ao paciente que pule com os dois pés no chão ao mesmo tempo, o paciente refere dor na FID CRITÉRIOS DE ALVARADO !!! É uma escala importante porque auxilia no diagnóstico levando em consideração o quadro clínico. A gente vai pontuando de acordo com o que paciente apresenta, e vai classificar se existe ou não apendicite. Conduta de acordo com os critérios: ● Negativo para apendicite: o paciente pode ser liberado com orientação sobre a dor - observar a dor e havendo piora retornar para ser reexaminado ● Possível apendicite: manter o paciente em observação e solicitar assim que possível os exames de imagem - o paciente não pode ser liberado. ● Provável apendicite: a chance de que o paciente tenha apendicite é muito alta, deve ser internado e submetido aos exames de imagem o mais rápido possível ● Apendicite: a melhor opção é o tratamento cirúrgico. EXAMES LABORATORIAIS São extremamente inespecíficos ● Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda, leucopenia ou normal ● Urina I: pode haver discreta leucocitúria (confunde com ITU) ● Aumento das enzimas de atividade inflamatória PCR e VHS EXAMES DE IMAGEM Raio-X de Abdome: ● Paciente em pé e deitado ● Achados: ○ Fecalitos apendiculares em FID ○ Alça sentinela ○ Borramento do músculo psoas ○ Escoliose antálgica ○ Pneumoperitônio Ultrassonografia: ● Exame barato e de fácil acesso, porém é operador-dependente ● Achados: ○ Incompressibilidade do apêndice - normalmente, ao passar o transdutor pelo apêndice é possível comprimi-lo, no apêndice inflamado essa compressão é difícil, o apêndice não colaba, fica duro ○ Aumento do calibre acima de 6mm ○ Borramento da gordura periapendicular ○ Líquido na região apendicular ○ Apendicolito no interior do apêndice Tomografia de Abdome: ● Tem uma sensibilidade maior que o US, mas é pouco usada ○ É bom porque não é operador-dependente e as imagens são nítidas ○ A desvantagem é que é caro e precisa de contraste ● Recomendado quando o US não é o suficiente para fechar o diagnóstico DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ● GECA - pesquisar se existe mais algum familiar com sintomas, se há história de viagem recente, se ingeriu algum alimento de procedência duvidosa, a dor é generalizada… ● Colecistite Aguda - principalmente se apêndice retrocecal, a dor é mais alta, não é localizada na FID ●Ureterolitíase à direita - no geral a dor é diferente, o paciente provavelmente vai apresentar Giordano positivo e alterações urinárias mais específicas ● Outros: ○ Doença de Crohn ○ Gravidez ectópica ○ Torção ovariana ○ Diverticulite de Meckel ○ Intussuscepção intestinal ○ Infecção do trato urinário… TRATAMENTO No geral é cirúrgico, o tratamento clínico é restrito em protocolos de pesquisa, exclusivamente para pacientes em quadros iniciais e não complicados - é experimental. ● Tratamento Clínico: antibioticoterapia + anti-inflamatórios + analgesia Tratamento Cirúrgico: ● Apendicectomia Convencional ● Apendicectomia Videolaparoscópica ● Apendicectomia Robótica Atenção! O tratamento cirúrgico é acompanhado de antibioticoterapia, com antibiótico eficiente contra gram-negativos e anaeróbios: ciprofloxacino + metronidazol ou amnoglicosídeos (amicacina/ gentamicina) + metronidazol ou cefalosporina de 3ª geração (cefepime/ceftriaxone) + metronidazol ou ampicilina + metronidazol APENDICECTOMIA 1. Incisão mcburney ou acesso videolaparoscópico 2. Abertura aponeurose 3. Abertura do músculo oblíquo externo 4. Abertura gordura pré peritoneal e peritoneo 5. Ligadura/clipagem mesoapêndice (A. apendicular) 6. Ligadura/clipagem/grampeamento da base do apêndice ● Opcional: invaginação da bolsa ochsner 7. Limpeza da cavidade 8. Fechamento da cavidade por planos Obs: com o evento da videolaparoscopia, é comum que os pacientes não tenham a famosa cicatriz de Mcburney, então é importante sempre questionar ao paciente no momento da anamnese sobre o histórico médico e cirurgias prévias .
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