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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DO ESPÍRITO SANTO UNES- FACULDADE DO ESPÍRITO SANTO Lara Fernandes Kamilla Bazeth Rosiene Lemos EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM 2012 CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Trabalho apresentado à disciplina de Direito Penal II do curso de Direito da Instituição de Ensino superior do Espírito Santo, UNES- Faculdade Do Espírito Santo, como requisito para avaliação. Orientador: Prof. Bruno Danorato. Turma: 3º período - A CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM 2 2012 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................4 1. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE CONCEITO....................................................................5 2. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE................................................................7 3. CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE......................................................................8 4. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS.............................................................................................8 5. MOMENTO DE OCORRÊNCIA DAS CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE.....................................................................................................................10 6 EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE..................................................................11 7. MORTE DO AGENTE (INCISO I).....................................................................................12 8. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO (INCISO II).......................................................................14 8.1 ANISTIA...........................................................................................................................14 8.2 INDULTO E GRAÇA EM SENTIDO ESTRITO................................................................16 9. LEI POSTERIOR QUE DEIXA DE CONSIDERAR O FATO CRIMINOSO – “ABOLITIO CRIMINIS”..............................................................................................................................17 10. PRESCRIÇÃO, DECADÊNCIA OU PEREMPÇÃO (INCISO IV).....................................18 11. PELA RENÚNICA DO DIREITO DE QUEIXA OU PELO PERDÃO ACEITO, NOS CRIMES DE AÇÃO PRIVADA (INCISO V).......................................................................................................................................23 12. PELA RETRATAÇÃO DO AGENTE NOS CASOS EM QUE A LEI ADMITE (INCISO VI).................................................................................................................................................... ............................25 13. PERDÃO JUDICIAL (INCISO IX).................................................................................................................................26 14. LIVRAMENTO CONDICIONAL.........................................................................................29 14.1. EXTINÇÃO DA PENA.....................................................................................................32 3 15. DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA EXECUÇÃO DA PENA (SURSIS)......................32 16. CONCLUSÃO....................................................................................................................35 17. REFERÊNCIA...................................................................................................................36 INTRODUÇÃO O estado não possui a liberdade de exercer ou não a aplicação de uma lei penal. Este possui, através de seus órgãos dotados de autoridade, como o Ministério Público e Judiciário, o poder de um dever público de agir contra aquele que deixou violou a norma penal. Há a partir daí um dever-poder de punir o cidadão infrator. O poder-dever de punir do Estado divide em três momentos: na edição da norma penal, na aplicação da norma por meio do processo e na execução da pena, que se concretiza por meio da sentença. O poder-dever extingue-se antes da aplicação da norma, encerrando a pretensão de punir do Estado, ou após a aplicação da norma, recaindo a extinção sobre o poder executório da sentença condenatória. O código Penal estipula em seu art. 107 um rol de causas extintivas da punibilidade, sendo estas exemplificativas, havendo outras formas de extinção específicas, previstas para determinada espécie de crime. Assim, em algumas situações o Estado perde o direito de iniciar ou prosseguir com a persecução penal, estas situações são caracterizadas pelas causas de extinção da punibilidade. Esta poderá se dar pela morte do agente criminoso, por Abolitio Criminis, pela Decadência, pela Perempção, pela Prescrição, pela Renúncia, pelo Perdão judicial, pela Retratação do agente, por Anistia, Graça ou Indulto. 4 Analisaremos cada uma dessas causas, buscando compreender como cada qual ocorre, quais requisitos para o agente contemplá-las, alem de outras causas previstas fora do rol do art. 107. 1- EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE CONCEITO Quando o indivíduo comente um crime, surge a relação jurídico-punitiva, onde o Estado possui o Jus Puniendi, e o réu com a obrigação de não criar barreias para impedir a sanção do Estado. Com a pratica do delito, o direito de punir do Estado que era abstrato passa a ser concreto, surgindo à punibilidade, ou seja, esta é a conseqüência advinda da prática de um fato típico, ilícito e culpável pelo agente. Entretanto, o Estado em determinadas situações que estão previstas no art. 107 do Código Penal, pode abrir mão ou ate mesmo perder o direito de punir o agente. Devido a questões de política criminal, o Estado pode não fazer valer seu Jus Puniendi, e nessas situações ocorrerá a extinção da punibilidade. “Art. 107. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII – revogado pela lei 11.106/05 5 VIII - revogado pela lei 11.106/05 IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.” O rol previsto no art. 107 do CP não é taxativo, pois outras causas também existem no Código Penal e em legislação especial, um exemplo citado pelo doutrinador Fernando Capez relata o seguinte: “[...] o ressarcimento do dano, que, antes do trânsito em julgado da sentença, no delito de peculato culposo, extingue a punibilidade CP, art. 312, § 3º), o pagamento do tributo ou contribuição social em determinados crimes de sonegação fiscal etc..”¹ Art. 312-“ Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Peculato culposo § 2º. Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. § 3º. No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz demetade a pena imposta. “ Ainda vale registrar o exemplo exposto por Rogério Greco, do art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95: Art. 89. “Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. § 5º. Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.” De acordo com o art. 61 do Código de Processo Penal: Art. 61. “Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício”. 6 Observa-se que o dispositivo somente menciona a possibilidade de reconhecimento da extinção da punibilidade de ofício em qualquer fase do processo, tendo uma causa extintiva da punibilidade ainda durante o inquérito ____________________________ 1- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- parte geral. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 2008.p. 557 policial, o juiz não poderá declará-la, mas somente determinar o seu arquivamento, depois de ouvido o Ministério Público como traz no § único do mesmo artigo: Parágrafo único. “No caso de requerimento do Ministério Público, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo de 5 (cinco) dias para a prova, proferindo a decisão dentro de 5 (cinco) dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final”. 2-CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE Em regra, a prática de um delito faz surgir à punibilidade. Ocorre que, às vezes, essa punibilidade ou pretensão punitiva esta sujeita a determinadas circunstâncias, denominadas condições objetivas de punibilidade. Que se encontram entre o preceito primário e o preceito secundário da norma penal incriminadora, condicionando a existência da pretensão punitiva do Estado. Estas possuem duas características: ● Estão fora do crime; ● Estão fora do dolo do agente. O doutrinador Damásio de Jesus nos fornece um exemplo que se segue: “Art. 7.o, § 2.o, b e c, do CP. Na extraterritorialidade condicionada da lei penal brasileira, as circunstâncias de ‘ser o fato punível também no país em que foi praticado’ e ‘estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição’ constituem condições objetivas de punibilidade. Elas se encontram fora do crime praticado pelo agente e a sua 7 ocorrência não depende do dolo. É certo que a segunda característica se encontra implícita na primeira: se a condição objetiva de punibilidade se acha fora do crime, é evidente que não depende do dolo do agente, pois este faz parte do tipo.”² (grifo nosso) Se a punibilidade não é requisito do crime, a circunstância que a ___________________________ 2- JESUS, E. Damásio. Direito Penal parte Geral. 23 ed. São Paulo: Saraiva 1999.p. 417. condiciona não pode estar inserida no crime, mas fora dele. Assim, a circunstância de o fato ser punível também no país em que foi praticado não se acha no delito cometido pelo agente, mas fora dele. No mais, essa circunstância não depende da vontade do sujeito. No que se refere à extradição, a circunstância também não faz parte do fato cometido pelo sujeito e também não depende de sua vontade. 3- CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE Como já dito anteriormente e possível que, o agente pratique uma infração penal, e ocorra uma causa extintiva da punibilidade, impedindo o jus puniendi do Estado. Estas causas estão previstas no art. 107 do CP: “Art. 107. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII – revogado pela lei 11.106/05 VIII - revogado pela lei 11.106/05 IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.” 8 O rol previsto no art. 107 do Código Penal não é taxativo, mas exemplificativo. Assim, o CP prevê causas extintivas da punibilidade fora dessa disposição ao qual serão citadas mais a frente. 4-ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS Escusas absolutórias são causas que fazem com que a um fato típico e ilícito, não obstante a culpabilidade do sujeito, não se aplique pena alguma, por razões de utilidade pública. São também chamadas "causas de exclusão" ou "de isenção de pena". Estas estão inseridas na Parte Especial do Código Penal. Vale ressaltar que Diferença entre as causas excludentes de ilicitude e de culpabilidade. As excludentes da ilicitude excluem o crime; as excludentes da culpabilidade excluem a pena do fato praticado. As escusas absolutórias, entretanto, deixam íntegros o crime e a culpabilidade. O fato permanece típico e ilícito, contudo, por razões de utilidade pública, fica o indivíduo isento de pena. Como ensinava Jiménez de Asúa: “nas excludentes da ilicitude não há crime, nas causas de inculpabilidade não há delinqüente; nas escusas absolutórias não há pena. Suponha-se que um sujeito pratique uma lesão corporal em legítima defesa. Não há crime: o fato é lícito diante da excludente da antijuridicidade. Num segundo caso, o sujeito pratica um crime sob coação moral irresistível. O fato é ilícito, a conduta, entretanto, não é censurável em face da excludente da culpabilidade, ficando o agente isento de pena”. ³ Outro exemplo que podemos citar é quando o filho subtrai coisa móvel (celular) da mãe. Este acaba também ficando isento de pena, incidindo uma escusa absolutória (CP, art. 181, II). Entretanto, o fato cometido pelo filho é ilícito e censurável. Por medida de utilidade, contudo, fica ele isento de pena. 9 Os efeitos que as escusas absolutórias acarretam, ensina José Frederico Marques, "são idênticos aos da extinção da punibilidade". 4 Assim, elas somente extinguem o poder-dever de punir do Estado, ____________________________ 3- JESUS, E. Damásio. Direito Penal parte Geral. 23 ed. São Paulo: Saraiva 1999.p. 419. 4- JESUS, E. Damásio. Direito Penal parte Geral. 23 ed. São Paulo: Saraiva 1999.p. 419. subsistindo o caráter ilícito do fato. A isenção de pena é obrigatória. Nosso CP só prevê escusas absolutórias nos arts. 181, I e II (imunidade penal absoluta nos delitos contra o patrimônio), e 348, § 2.o (isenção de pena no favorecimento pessoal). Art.181 – “É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural”.(grifo nosso) Art. 348 – “Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena”.(grifo nosso) 10 5-MOMENTO DE OCORRÊNCIA DAS CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE Em regra, as causas extintivas da punibilidade podem ocorrer antes da sentença final ou depois da sentença condenatória irrecorrível. Essa questão tem importância no que tange a reincidência e outros efeitos da sentença condenatória irrecorrível. Com efeito, se a causa extintiva da punibilidade ocorrer antes da sentença final, vindo o sujeito a praticar outro crime, não será considerado reincidente. Se, porém, a causa ocorrer depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, e o sujeito, vir a cometer novo delito, será considerado reincidente. Mas há duas exceções referentes a isso. A primeira é a abolitio criminis, que pode ocorrer antes da sentença final ou depois da sentença condenatória irrecorrível. Neste último caso, a lei nova que descriminaliza o cometimento de determinado fato, rescinde a condenação irrecorrível. A segunda exceção encontra-se na anistia, que pode ocorrer antes da sentença final ou depois da condenação irrecorrível. Nesta última hipótese, a anistia rescinde também a condenação irrecorrível. Assim, quando o sujeito, tiver sido favorecido pela abolitio criminis ou pela anistia após o trânsito em julgado da condenação, e vem este a cometer novo delito, não é considerado reincidente. 6- EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE As causas extintivas da punibilidade só alcançam o direito de punir do Estado, permanecendo todos os requisitos do crime e a sentença condenatória irrecorrível. Vale aqui citar o exemplo fornecido pelo Damásio de Jesus: “[...] é o que ocorre p. ex., com a prescrição da pretensão executória (prescrição após o trânsito em julgado da sentença condenatória), em que subsiste a condenação irrecorrível. Excepcionalmente, a causa resolutiva do direito de punir apaga o fato praticado pelo agente 11 e rescinde a sentença condenatória irrecorrível. É o que acontece com a abolitio criminis e a anistia”. 5 Assim, os efeitos das causas extintivas da punibilidade operam ex tunc ou ex nunc. No primeiro caso, as causas extintivas têm efeito retroativo, no segundo, efeito para o futuro, e produzem efeito a partir do momento de sua ocorrência. Possuem efeito ex tunc a anistia e a lei nova supressiva de incriminação. As outras causas têm efeito ex nunc, não retroagindo para excluir conseqüências já ocorridas. ____________________________ 5- JESUS, E. Damásio. Direito Penal parte Geral. 23 ed. São Paulo: Saraiva 1999.p. 420. 7- MORTE DO AGENTE (INCISO I) A primeira causa extintiva da punibilidade é a morte do agente (art. 107, I). A Constituição Federal no art. 5º, XLV, prevê que a pena não passará da pessoa do condenado. Estando o réu ou o condenado morto, extingue a punibilidade. Segundo Miguel Reale Júnior: “Processar os mortos seria arrogar-se poderes próprios do Juízo Final. A punição estatal não pode deixar de ser terrena. A pena ia além da morte quando, pela infâmia, pretendia-se atingir aos descendentes do condenado e sua memória, tal como sucedeu com TIRADENTES”.6 Assim, os descendentes só respondem por um dos efeitos da condenação, arcar com a obrigação de indenizar a vítima pelo crime praticado pelo ascendente falecido. A extinção da punibilidade no caso de morte do agente decorre de dois princípios básicos: mors omnia solvit (a morte tudo apaga) e o de que nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente, (Art. 5º, XLV, 1º parte da CF). O critério legal pela medicina é a chamada morte cerebral, nos termos da 12 Lei n. 9.434/97, que regula a retirada e transplante de órgãos. Comprova-se assim a morte do condenado ou réu através do atestado de óbito, conforme estabelecido o art. 62 do Código de Processo Penal, não bastando declarar judicialmente a ausência, conforme o os art. 22 e seguintes do Código Civil. Contudo, a extinção da punibilidade poderá efetivar-se com base na morte presumida, sem declaração de ausência, admitida no art. 7º do CC, se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida ou na hipótese de que haja desaparecido passados dois anos do fim da guerra, se em campanha ou feito prisioneiro. _________________________ 6-REALE, jr. Miguel. Instituições de Direito Penal.3 ed.[S.I]:Forense.2009. A Lei de Registros Públicos, nº 6.015/73 no seu art. 88, também admite a declaração de morte presumida, se caso não encontre o cadáver em casos de catástrofes, inundações, incêndios, acidentes aéreos, sendo muito provável que tenha ocorrido à morte, tendo provado que o agente estava no local do desastre. Vale registrar mais alguns pontos referentes ao assunto tratado como: ● A causa extintiva pode ocorrer em qualquer momento da persecução penal, desde a instauração de inquérito até o término da execução penal. ● Trata-se de uma causa personalíssima, por isso não se comunica aos partícipes e co-autores (só extingue a punibilidade ao agente falecido). ● Extingue todos os efeitos penais da sentença condenatória, principais e secundários. 13 ● A morte do agente extingue a pena de multa, uma vez que esta não poderá ser cobrada de seus herdeiros. A dúvida, aqui, surge em torno do seguinte ponto: Não são raras as situações em que o agente faz juntar aos autos falsa certidão de óbito. Embora seja prudente que o MP, ao manifestar-se, requerer ao juiz a expedição de ofício junto ao cartório de registro civil indicado no documento, a fim de atestar-lhe a veracidade, o acusado poderá falsificar atestado médico e fazer lavrar em cartório o óbito com base neste documento falso. O que se indaga é o seguinte: se declarada a extinção da punibilidade depois de tomadas todas as providências a fim de se certificar sobre a autenticidade do documento, se o juiz descobrir que a certidão de óbito apresentada era falsa, poderá, uma vez transitada em julgado a referida decisão, retomar o curso normal da ação penal, desconsiderando-se a decisão anterior? Embora a maioria dos doutrinadores entenda que não, admitindo somente o processo por crime de falso, vez que o ordenamento não tolera a chamada revisão pro societate, o STF já se posicionou de forma contrária, visto que o despacho, além de não fazer coisa julgada em sentido estrito, funda-se exclusivamente em fato juridicamente inexistente, não produzindo quaisquer efeitos. 8- ANISTIA, GRAÇA E INDULTO (INCISO II) São espécies de indulgência, clemência soberana ou graça em sentido amplo. Seria a renúncia do Estado ao direito de punir. 8.1ANISTIA A Anistia é a lei penal que possui o efeito retroativo de retirar as conseqüências de alguns crimes já praticados, promovendo o seu esquecimento jurídico. Segundo Alberto Silva Franco: 14 “ é o ato legislativo com que o Estado renuncia ao jus puniendi”.7 A anistia se constitui como um instrumento depacificação social, podendo ser aplicada a crime comum, voltada para recompor a harmonia social conturbada por confronto de cariz político, do qual redundaram processos e condenações por crime políticos. As espécies de anistia são: ● Especial: para crimes políticos; ● Comum: para crimes não políticos; ● Própria: antes do trânsito em julgado; ● Imprópria: após o trânsito em julgado; ● Geral ou plena: apenas aos fatos, atingindo a todos que o cometeram; ______________________________ 7- Código Penal, cit., p. 1227. ● Parcial ou restrita: menciona fatos, mas exige o preenchimento de algum requisito (ex: anistia só atinge réus primários); ● Incondicionada: não exige a prática de nenhum ato como condição; ● Condicionada: exige a prática de algum ato como condição (ex: deposição de armas). Por sua conotação política, a anistia deve ser objeto da lei, sendo atribuição do Congresso Nacional concede-la (art. 48, VIII, da Constituição Federal), salientando que é de competência exclusiva da União (art. 21, XVII, CF), com a sanção do Presidente da República, só podendo ser concedida por meio de Lei Federal. 15 A anistia elimina totalmente a ocorrência do fato delituoso, como se não tivesse havido, assim o seu apagamento não se gera reincidência, porém, não se abolindo, a responsabilidade civil de reparar os danos causados. Quanto aos outros efeitos extrapenais já decidiu o Supremo Tribunal Federal “a anistia, que é efeito jurídico resultante do ato legislativo de anistiar, tem a força de extinguir a punibilidade, se antes da sentença de condenação, ou a punição, se depois da condenação. Portanto, é efeito jurídico, de função extintiva no plano puramente penal. A perda de bens, instrumentos ou do produto do crime é efeito jurídico que se passa no campo da eficácia jurídica civil; não penal propriamente dito. Não é alcançada pelo ato de anistia sem que lei seja expressa a restituição desses bens”. 8 Ressalta-se que existem crimes que são insuscetíveis de anistia de ______________________ 8. STF, RT, 560/390. acordo com a Lei n. 8.072 de 25 de julho de 1990. São esses os crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo, consumados ou tentados. 8.2 INDULTO E GRAÇA EM SENTIDO ESTRITO A graça é um benefício individual concedido mediante provocação da parte interessada. O indulto é de caráter coletivo e é concedido espontaneamente. Segundo José Frederico Marques: “O indulto e a graça no sentido estrito são providências de ordem administrativa, deixadas a relativo poder discricionário do Presidente da República, para extinguir ou comutar penas. O indulto é medida 16 de ordem geral, e a graça de ordem individual, embora, na prática, os dois vocábulos se empreguem indistintamente para indicar ambas as formas de indulgência soberana. Atingem os efeitos executórios penais da condenação, permanecendo íntegros os efeitos civis da sentença condenatória”9 Vale lembrar que a Constituição Federal não se refere mais a graça, mas apenas ao indulto (CF, art.84, XII). A LEP passou a considerar a graça como indulto individual. É importante frisar que essas excludentes de culpabilidade são de competência privativa do presidente da República (CF, art. 84, XII), que pode delegá-la aos ministros de Estado, ao procurador-geral da República ou ao advogado-geral da União (parágrafo único do art. 84). O indulto e a graça só atingem os efeitos principais da condenação, subsistindo todos os efeitos secundários penais e extrapenais. Assim, a forma do indulto e graça são plenas quando extinguem toda a pena, e parciais, quando apenas diminuem a pena ou a comutam (transformar em outra de ___________________________ 9- MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal, v.II. menor gravidade). Cabe citar aqui uma forma de indulto, o indulto condicional, que é aquele submetido ao preenchimento de uma condição ou exigência futura, por parte do indultado, podendo ser boa conduta social, obtenção de ocupação lícita, exercício de atividade benéfica à comunidade durante determinado prazo, etc. Caso seja descumprida, deixa de subsistir o favor, devendo o juiz determinar o reinício da execução da pena. A graça e o indulto podem ser recusados pelo agente, mas só se estes forem parciais, quando plenos é inaceitável a recusa de acordo com o art. 739 do Código de Processo Penal. 17 Os crimes insuscetíveis de graça ou indulto são disposto de acordo com a Lei n.8.072, de 25 de julho de 1990, são eles os crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo, consumados ou tentados. Cabe mencionar ainda que se admite a concessão do indulto àquele que se encontra beneficiado pelo sursis ou do livramento condicional, bem como se admite a soma das penas de duas condenações para verificar se estão ou não dentro dos limites previstos no decreto do indulto. Diante de tudo que foi exposto, é importante ressaltar que cabe anistia, graça ou indulto em ação penal privada, porque o Estado só delegou ao particular a iniciativa da ação, permanecendo com o direito de punir, do qual pode renunciar por qualquer dessas três formas. 9- LEI POSTERIOR QUE DEIXA DE CONSIDERAR O FATO CRIMINOSO – “ABOLITIO CRIMINIS” (INCISO III) A Constituição Federal estabelece no art.5º, XL, que a lei nova não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Há um movimento no mundo legislativo no sentindo de descriminalização de muitas infrações penais menores, tal como ocorreu na Itália com a Lei n. 689, que transformou contravenções e delitos de bagatela em infrações administrativas. Assim se a lei posterior deixa de considerar o fato como criminoso, isto é, se a lei posterior extingue o tipo penal, torna-se extinta a punibilidade de todos os autores da conduta, tida antes como delituosa. Se o processo estiver em andamento, será o juiz de primeira instância que julgará e declarará extinta a punibilidade do agente, de acordo com o art. 61 do Código de Processo Penal. Se o processo estiver em segundo grau recursal, será o tribunal que irá extinguir a punibilidade. Se já tiver sido transitado em julgado, assevera Fernando Capez: “[...] a competência para extinguir a punibilidade será do juiz da execução, nos termos do art. 66, II da Lei de Execução Penal; do art. 13 da Lei de Introdução ao CPP; da súmula 611 do STF; e em obediência 18 ao princípio do duplo grau de jurisdição, que seria violado pela extinção da punibilidade declarada diretamente pelo tribunal, por meio de revisão criminal (cf. comentário ao art.2º do CP).”10 10. PRESCRIÇÃO, DECADÊNCIA OU PEREMPÇÃO (inciso IV) ● PRESCRIÇÃO É a perda do direito poder-dever de punir pelo Estado em face do não exercício da pretensão punitiva (interesse em aplicar a pena) ou da pretensão executória (interesse em aplicar a pena) ou da pretensão executória (interesse de executá-la) durante certo tempo. O não exercício da pretensão punitiva acarreta a perda dodireito de impor a sanção. Então, só ocorre antes de transitar em julgado a sentença final. O não exercício da pretensão executória extingue o direito de executar a sanção imposta. Só ocorre, portanto, após o trânsito em julgado da sentença condenatória. ● NATUREZA JURÍDICA: A prescrição é um instituto de Direito Penal, estando elencada pelo CP como causa de extinção de punibilidade (art. 107, IV). Embora leve ____________________________ 10. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, vol. I, 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. também à extinção do processo, esta é mera consequência da perda do direito de punir, em razão do qual se instaurou a relação processual. ● FUNDAMENTOS a) Inconveniência da aplicação da pena muito tempo após a prática da infração pena; 19 b) Combate à ineficiência: o Estado deve ser compelido a agir dentro de prazos determinados. ● IMPRESCRITIBILIDADE: Só existem duas hipóteses em que não ocorrerá a prescrição pena: ● Crimes de racismo, definidos na Lei n.7.716/89 (CF, ART. 5°, XLII); ● As ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático, assim definidas na Lei n. 7170/83, a chamada nova Lei de Segurança Nacional (CF, art.5°, XLIV). A Constituição consagrou a regra da prescritibilidade como direito individual do agente. Assim, é direito público subjetivo de índole constitucional de todo acusado o direito à prescrição do crime ou contravenção penal praticada. Essa interpretação é extraída pelo simples fato do texto constitucional ter estabelecido expressamente quais são os casos excepcionais em que não correrá à prescrição. Como se trata de direito individual, as hipóteses de imprescritibilidade não poderão ser ampliadas, nem mesmo por meio de emenda constitucional, por se tratar de cláusula pétrea. Com efeito, não serão admitidas emendas constitucionais tendentes a restringir direitos individuais, dentre os quais o direito à prescrição penal. Os crimes de tortura e os crimes hediondos são prescritíveis. ● ESPÉCIES: O Estado possui duas pretensões: a de punir e a de executar a punição do delinquente. Por consequente, só podem existir duas extinções. Existem, portanto, apenas duas espécies de prescrição: ● Prescrição da Pretensão Punitiva: é a perda do poder-dever de punir, em face da inércia do Estado durante determinado lapso de tempo. Seus 20 efeitos são: Impede o início (trancamento de inquérito policial) ou interrompe a persecução penal em juízo, afasta todos os efeitos, principais e secundários, penais e extrapenais da condenação, e a condenação não pode constar da olha de antecedentes, exceto quando requisitada por juiz criminal. Nos termos do art. 61, caput, do CPP, a prescrição da pretensão punitiva pode ser declarada a qualquer momento da ação penal, de ofício ou mediante requerimento de qualquer das partes. ● Prescrição da Pretensão Executória: é a perda do poder-dever de executar a sanção imposta, em face da inércia do Estado, durante determinado lapso. Ao contrário da prescrição da pretensão punitiva, essa espécie da prescrição só extingue a pena principal, permanecendo inalterados todos os demais efeitos secundários, penais e extrapenais, da condenação. A prescrição da pretensão executória começa a correr a partir: da data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação; da data em que é proferida a decisão que revoga o livramento condicional ou o sursis; do dia em que a execução da pena é interrompida por qualquer motivo. ● DECADÊNCIA: É a perda do direito de promover a ação penal exclusivamente privada e a ação penal privada subsidiária da pública e do direito de manifestação da vontade de que o ofensor seja processado, por meio da ação penal pública condicionada à representação, em face da inércia do ofendido ou de seu representante legal, durante determinado tempo fixado por lei. A decadência é a perda do direito da vítima de oferecer a queixa ou representação, tendo em conta o decurso do prazo previsto em lei. Tal prazo é decadencial. 21 O art.103 diz que o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não exercer dentro do prazo de 6 meses, contados a partir do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso da ação penal privada subsidiária da pública, do dia em que se esgotou o prazo para o oferecimento da denúncia.Com a decadência o Estado não tem possibilidade de exercer seu direito de punir. Assim, extinta a punibilidade. ● PRAZO DECADENCIAL: O ofendido, ou seu representante legal, decairá do direito de queixa ou representação se não o exercer dentro do prazo de 6 meses, contados do dia em que vier a saber quem é o autor do crime (arts. 38 do CPP e 103 do CP). No caso de ação penal privada subsidiaria da publica at. 5°, LIX da CF,art. 100, § 3°, do CP, e art. 29 do CPP os 6 meses começam a contar a partir do dia em que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia. O prazo decadencial cessa na data do oferecimento da queixa e não na data de seu recebimento. Da mesma forma, a representação em cartório impede a consumação da decadência. Conta-se o prazo decadencial de acordo com a regra do art. 10 do CP, incluindo o dia do começo, não se prorrogando em face de domingos, férias e feriados, uma vez que se trata de prazo de natureza penal que leva à extinção do direito de punir. ● EFEITO A decadência está atrelada como causa de extinção da punibilidade, mas, na verdade, o que ela extingue é o direito de dar início à persecução penal em juízo. Sendo assim, o ofendido perde o direito de promover a ação e provocar a prestação jurisdicional, e o Estado não tem como satisfazer seu direito de punir. OBS: A decadência não atinge diretamente o direito de punir, pois este pertence a Estado e não ao ofendido. Ela extingue apenas o direito de 22 promover a ação ou promover a ação ou oferecer a representação. E se o representante legal não oferece queixa dentro do prazo decadencial, ou seja, os 6 meses contados a partir do conhecimento da autoria, perde o direito de fazê-lo. Se tomou conhecimento do fato, e se permaneceu inerte durante o prazo de 6 meses, nesse caso, o Estado não perdeu o direito de punir, mas fica impossibilitado de satisfazer o jus puniendi. Extinguindo assim, a punibilidade. ● Crimes de lesão corporal dolosa de natureza leve e lesão corporal culposa: O prazo em regra, é do art. 38 do Código de Processo Penal. Excepcionalmente, porém, somente em inquéritos policiais e processos em andamento, o prazo decadencial será de 30 dias, contados a partir da intimação do ofendido ou seu representante legal. Titularidade do direito de queixa ou de representação: ● Ofendido menor de 18 anos: pertence ao seu representante legal; ● Ofendido maior de 18 anos: somente pode exercer o direito de queixa ou representação, sendo maior e completamente capaz. Decadência no crime continuado e no crime habitual: ● Crime continuado: incide isoladamentesobre cada crime; ● Crime habitual: começa a partir do último ato. ● PEREMPÇÃO: É a perda do direito de demandar o querelado pelo mesmo crime em face da inércia do querelante, diante do que o Estado perde o jus puniendi só é possível na ação penal exclusivamente privada; é oque se verifica do disposto do art. 60, caput , do CPP; cabe após o início da ação penal privada. É uma causa de extinção de punibilidade, consistente em uma sanção processual ao querelante, que deixa de dar andamento normal à ação penal exclusivamente privada. 23 “É uma pena ao ofendido pelo mau uso da faculdade, que o poder público lhe outorgou, de agir preferentemente na punição de certos crimes.”11 Só é cabível na ação penal exclusivamente privada, sendo inadmissível na ação penal privada subsidiária da pública, pois esta conserva sua natureza pública. Só é possível após iniciada a ação privada. Hipóteses: ● Querelante que deixa de dar andamento no processo durante 30 dias seguidos; ● Querelante que deixa de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente; ● Querelante que deixa de formular pedido de condenação nas alegações finais. 11. PELA RENÚNICA DO DIREITO DE QUEIXA OU PELO PERDÃO ACEITO, NOS CRIMES DE AÇÃO PRIVADA (INCISO V) ● RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA: É a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a ação penal privada, pelo ofendido ou seu representante legal. Só é possível antes do início da ação penal privada, antes do oferecimento da queixa; pode ser tácita ou expressa. Só ocorre antes de iniciada a ação penal privada, ou seja, antes de oferecida queixa crime. A renúncia ao direito de queixa, só é cabível na ação penal exclusivamente privada, sendo inaceitável na ação privada subsidiária da privada, pois esta tem natureza de ação pública. Pode ser de forma expressa ou tácita: ● Expressa: declaração escrita assinada pelo ofendido ou por seu representante legal, ou ainda, por um procurador com poderes especiais (art. 50, CPP); ● Tácita: prática do ato incompatível com a vontade de dar início à ação penal privada. Ofendido maior de 18 anos 24 ● Ofendido maior de 18 anos: Somente ele pode renunciar ao direito de queixa, uma vez que, sendo plenamente capaz, não tem representante legal. Não importa se é maior de 21 anos ou ___________________________ 11.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, vol. I, 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 586-634 p. ] não, após os 18, a legitimidade para oferecer a queixa e renunciar ao seu exercício é exclusiva do ofendido. ● PERDÃO DO OFENDIDO: É a manifestação de vontade, expressa ou tácita, do ofendido ou seu representante legal, no sentido de desistir da ação penal privada já iniciada, ou seja, é a desistência manifestada após o oferecimento da queixa. Só é possível depois da iniciada a ação penal privada mediante o oferecimento da queixa, e até o trânsito em julgado da sentença (art. 106, § 2°, CP) não produz efeito quando recusado pelo querelado, quando dois ou mais querelados, o perdão concedido a um deles se estende a todos, sem que produza efeito em relação ao que o recusa. Afasta todos os efeitos da condenação, principais e secundárias. Só cabe na ação penal exclusivamente privada, sendo inadmissível na ação penal privada subsidiária da pública, já que esta mantém sua natureza da ação pública. A renúncia é anterior e o perdão é posterior à propositura da ação penal privada.O perdão está previsto nos artigos 105 e 106 do Código Penal. ● FORMAS: a) Processual: concedido nos autos da ação penal; b) Extraprocessual: concedido fora dos autos da ação penal; 25 c) Expresso: declaração escrita, assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais; d) Tácito: resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação penal. ● Titularidade da concessão do perdão: a) Ofendido menor de 18 anos: cabe ao seu representante legal; b) Ofendido maior de 18 anos: torna-se maior e plenamente capaz, logo não produz efeito quando recusado pelo ofensor. O perdão do ofendido é ato jurídico bilateral, pois não produz efeito quando recusado pelo ofensor. Tem como principal motivo, o querelado em provar sua inocência. ● Maior de 18 anos: somente pode aceitar o perdão, pois se trata de maior plenamente capaz; ● Menor de 18 anos: é imputável e não pode ser querelado. ● Formas de aceitação do perdão: ● Expressa: declaração escrita, assinada pelo querelado, dizendo que aceita o perdão, podendo ser processual ou extraprocessual; ● Tácita: prática do ato com a vontade de recusar o perdão. Pode ser processual ou extraprocessual. Nesse caso, o querelado é notificado para dizer se aceita o perdão no prazo de 3 dias, se após o prazo permanecer em silêncio, presume-se que o aceitou (CP, art. 58) ● Processual: nos autos do processo; ● Extraprocessual: fora dos autos do processo. 12. PELA RETRATAÇÃO DO AGENTE NOS CASOS EM QUE A LEI ADMITE (INCISO VI) ● RETRATAÇÃO DO AGENTE: 26 A retratação está prevista no art. 107, VI, do CP. Retratar significa desdizer, retirar o que se disse confessar que errou. Em regra, a retratação do agente não tem relevância jurídica, funcionando somente como circunstância judicial na aplicação da pena. O legislador, entretanto, condiciona sua admissibilidade em lei. É ato por meio do qual se repara um erro, reconhecendo-o. O retratante, em verdade, desdiz aquilo que havia dito, reparando o seu erro. A retração não necessita ser aceita pela parte contrária, e o que realmente interessa nesse caso, é que a verdade seja dita. Sendo assim, a aceitação da retratação irrelevante. A lei admite a retratação em poucos crimes, que são os seguintes: a) art. 143 do CP: a retratação é admitida nos crimes contra a honra, mas apenas nos casos de calúnia e difamação, exceto no crime de injúria. Esse tipo de retratação é pessoal, não se comunicando aos demais ofensores; b) art. 342, § 3°, do CP: o fato deixa de ser punível se o agente (testemunha, perito, tradutor ou intérprete) se retrata ou declara a verdade. É comunicável, uma vez que a lei diz que “o ato deixa de ser punível”, ao contrário do art. 143, que diz ficar o querelado isento de pena. Cumpre frisar que os incisos VII e VIII foram revogados pela lei 11.106/05 13. PERDÃO JUDICIAL (INCISO IX) É uma causa extintiva de punibilidade, nasce da faculdade do juiz, nos casos previstos em lei, deixará de se aplicar a pena perante circunstâncias excepcionais. O juiz analisará de maneira discricionária se essas circunstâncias estão presentes ou não. Se for encontrado, o perdão judicial não pode ser recusado, pois, o agente terá direito público subjetivo ao benefício. 27 Deve-se ressaltar que o perdão judicial não se confunde com o perdão do ofendido, uma vez que neste caso é o ofendido quem perdoa o ofensor, desistindo consequentemente da ação penal. No perdão judicial, é o juiz quem deixade aplicar a sanção penal, de maneira independente da natureza da ação, nos casos permitidos em lei. A extinção da punibilidade não atinge apenas o crime onde se evidenciou a circunstância excepcional, mas em todos os crimes praticados dentro desse mesmo contexto. Exemplo: o agente provoca um acidente no qual morrem sua esposa, seu filho e um desconhecido. A circunstância excepcional prevista no art. 121 § 5º, do CP só se refere às mortes da esposa e filho, mas o perdão judicial extinguirá a punibilidade em todos os três homicídios culposos. Existem outros exemplos na jurisprudência sobre “conseqüência da infração”, que diz respeito ao agente e do grau de parentesco que o liga a vítima. a) As conseqüências abrangem tanto as de ordem física quanto as de ordem moral. b) As conseqüências atingem o infrator de tal modo que a sanção penal torna-se desnecessária. c) As conseqüências atingem o agente e seus familiares, ou apenas seus familiares. d) As conseqüências atingem a noiva do agente, desde que os laços de noivado se transformem em casamento. ● HIPÓTESES LEGAIS O juiz deixará de aplicar a sanção penal nos casos previstos (expressamente) em lei: 28 a) Art. 121, § 5º, do CP: homicídio culposo em que as conseqüências da infração atinjam o agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. b) Art. 129, § 8º, do CP: lesão corporal culposa com as conseqüências mencionadas no art. 121, § 5º; c) Art. 140, § 1º, I II, do CP: injúria, em que o ofendido de forma reprovável provocou diretamente a ofensa, ou no caso de retorsão imediata consistente em outra injúria. d) Art. 176, parágrafo único, do CP: de acordo com as circunstâncias o juiz pode deixar de aplicar a pena a quem toma refeições ou se hospeda sem dispor de recursos para o pagamento; e) Art. 180, § 5º, do CP: na receptação culposa, se o criminoso for primário, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, levando em conta as circunstâncias. f) Art. 249, § 2º, do CP: no crime de subtração de incapazes de quem tenha a guarda, o juiz pode deixar de aplicar a pena se o menor interdito for restituído sem ter sofrido maus-tratos ou privações. Na lei das Contravenções penais, existem dois casos: a) Art. 8º: erro de direito; b) Art. 39, § 2º: participar de associações secretas, mas com fins lícitos. Perdão Judicial na Lei 9.807, de 13 de julho de 1999(Lei de Proteção às testemunhas): Poderá o juiz, conceder o perdão ao acusado que sendo primário, colaborou de maneira efetiva e voluntária no processo criminal ou investigação, onde tenha resultado em: a) Identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa b) Localização da vítima com sua integridade física preservada c) Recuperação total ou parcial do produto do crime. 29 Em síntese, entende-se que o perdão judicial possui pressupostos alternativos referentes a sua aplicabilidade, caso contrário, o dispositivo seria inaplicável aos delitos praticados. As causas extintivas da punibilidade encontram-se no art. 107 do CP, porém, é um rol meramente exemplificativo, existindo outras causas espalhadas pelo ordenamento. Cumpre citar agora algumas causas extintivas de punibilidade fora do Art. 107: a) art. 312, § 3º do CP – peculato culposo se o dano for reparado até a sentença irrecorrível. b) Art. 522 do CPP – crimes contra a honra, depois de assinado o termo de desistência pelo querelante. c) Art. 89, § 5º da lei 9.099/95 – havendo a suspensão condicional do processo, após o final do prazo. d) a) art. 82 do CP: o término do período de prova do sursis, sem motivo para revogação da medida, faz com que o juiz declare a extinção da pretensão executória em relação à pena suspensa, forma de extinção da punibilidade; e) art. 90 do CP: o término do período de prova do livramento condicional, sem motivo para revogação, opera a extinção da pretensão executória relacionada com a pena restante; f) art. 7.o, § 2.o, d: se o agente cumpriu pena no estrangeiro pelo crime lá cometido, opera-se a extinção da punibilidade em relação à pretensão punitiva do Estado brasileiro; g) art. 312, § 3.o, 1.a parte: a reparação do dano no peculato culposo, antes da sentença final irrecorrível, extingue a punibilidade. h) Súmula 554 do STF. 30 14- LIVRAMENTO CONDICIONAL É incidente da pena privativa de liberdade, consiste em uma antecipação provisória da liberdade do condenado, satisfeitos de certos requisitos e mediante determinadas condições. Esta idéia do livramento condicionado é fruto dos penitenciaristas do século XIX. Para o doutrinador Damásio trata-se de forma de execução da pena privativa de liberdade; para Celso Delmato, trata-se de direito publico subjetivo do condenado de ter antecipada a sua liberdade provisoriamente, desde que preenchidos os requisitos legais. Esses requisitos legais são: ● Objetivos: 1.1) Qualidade da pena: Privativa de liberdade; 1.2) Quantidade da pena: igual ou superior a 2 anos; 1.3) Reparação do dano (salvo impossibilidade): assim, dispensa-se na hipótese de detento pobre, em estado de insolvência; 1.4) Cumprimento de parte da pena: ● Mais de 1/3 (desde que tenha bons antecedentes e não seja reincidente em crime doloso); ● Mais da metade (se reincidente em crime doloso); ● Entre 1/3 e metade (se tiver maus antecedentes, mas não for reincidente em crimes dolosos); ● Mais de 2/3 (se tiver sido condenado por crimes previsto na L. 8.072/90 – Crimes Hediondos). ● Subjetivos: 31 2.1) Comportamento satisfatório durante a execução a pena: aqui apenas importa considerar a vida carcerária do condenado, dessa maneira exige-se não ser envolver em brigas com os detentos, empreender fugas, dessa forma exige-se do carcerário um comportamento satisfatório. 2.2) Bom Desempenho no trabalho que lhe foi atribuído. 2.3) Aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto 2.4) Nos crimes dolosos cometidos mediante violência ou grave ameaça à pessoa, o benefício fica sujeito à verificação da cessação da periculosidade do agente; 2.5) Nos crimes previstos na Lei 8.072/90, não ser reincidente especifico. ● CONDIÇÕES DO LIVRAMENTO ● Obrigatória: art. 132,§ 1º, da LEP: - proibição de se ausentar da comarca sem comunicação ao juiz; - comparecimento periódico a fim de justificar atividade; - obter ocupação lícita dentro de prazo razoável. ● Facultativas: art. 132,§ 2º, da LEP: - não mudar de residência sem comunicação ao juiz e à autoridade incumbida de fiscalizar; - recolher-se à habitação em hora fixada; - não frequentar determinados lugares. ● Judiciais: - fixadas a critério do juiz (Art.85, CP) Cumpre registrar aqui as condições legais indiretas, que são as causas de revogação do livramento. São chamadas assim porque de maneira indireta acabam por se constituir em condições negativas, a não ser em dar causa à revogação. Assim a revogação do livramento pode ser: 32 1) Obrigatória: - condenação irreconhecível a pena privativa de liberdade por crime praticado antes do benéfico; - condenação irreconhecível a pena privativa de liberdade por crime praticado duranteo beneficio; 2) Facultativa: - condenação irrecorrível, por crime ou contravenção, a pena não privativa de liberdade; - descumprimento das condições impostas; Os efeitos da Revogação do livramento seguem a regra, ao traidor nada. Se o liberado pratica crimes após a obtenção do benéfico ou descumpre alguma condição imposta, considera – se que este traiu a confiança do juízo, pois não cumpriu a promessa de comporta-se adequadamente. Se o agente pratica crime durante o beneficio não se pode descontar o tempo em que o sentenciado esteve solto, o mesmo deverá cumprir integralmente a sua pena. Se aço cometa anterior ao benefício é descontado o tempo em que o sentenciado esteve solto, devendo cumprir preso apenas o tempo que falta para complementar o período de prova. Se o mesmo descumpre as condições importas não é descontado o tempo em que esteve solto e não pode obter novo livramento em relação a essa pena, uma vez que traiu a confiança do juízo. ● CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO DO LIVRAMENTO ● Na hipótese de crime cometido durante a vigência do beneficio 33 (art. 86, I): O juiz poderá ordenar tal prisão do liberado, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final da vigência do beneficio. ● Na hipótese de descumprimento das obrigações constantes da sentença (art. 87, 1ªparte): é inadmissível a suspensão do livramento pelo descumprimento das condições impostas na sentença concessiva, pois ela somente é admissível na hipótese do art. 145 da LEP. ● Na hipótese do art. 87, 2ª parte: permite-se a suspensão provisória do beneficio até o julgamento final do processo, tendo em vista que o art.145 da LEP não distingue a espécie de infração penal. 14.1. EXTINÇÃO DA PENA Art. 89: O juiz poderá declarar extinta a pena enquanto não passar em julgado a sentença em processo a que responde o liberado por crime cometido na vigência do livramento. Art. 90: se, até o seu término, o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. Esse dispositivo deve ser interpretado em consonância com o art. 89, ou seja, a prorrogação automática, ou quando esta não ocorrer, a pena será extinta se não houver motivo para a revogação do livramento. 15. DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA EXECUÇÃO DA PENA (SURSIS) Sursis quer dizer suspensão, derivando de surseoir, que significa suspender. Permite que o condenado não se sujeite à execução de pena privativa de liberdade de pequena duração. 34 Há dois sistemas de sursis: o sistema anglo-americano (probation system) verificando o juiz que o réu merece o sursis declara-o responsável pela prática do fato, suspende o curso da ação penal e marca o período de prova, ficando o condenado sob orientação e fiscalização de funcionários (probation officers), com incumbência de realizar seu reajustamento social. Há suspensão da sentença condenatória, que não é proferida. Existe também o sistema belga-francês (europeu continental) o juiz condena o réu, determinando a suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade. É o nosso sistema. São quatro as espécies de sursis: - sursis simples; - sursis especial; - sursis etário; - sursis humanitário. O sursis especial substitui o simples na hipótese de reparação do dano pelo condenado, exceto quando impossível, aplicando cumulativamente outras medidas, menos graves que as do sursis simples. O sursis etário é concedido ao maior de 70 anos de idade condenado a pena privativa não superior a 4 anos. Pode a pena, nessa situação, ser suspensa por 4 a 6 anos. Vale frisar que não se pode dizer que o sursis etário é o concedido ao idoso, pois o Estatuto do Idoso traz sua definição, estabelecendo a idade de 60 anos para que a pessoa seja considerada como tal. O sursis humanitário possibilita ao condenado a pena não superior a 4 anos a suspensão condicional da pena pelo período de 4 a 6 anos, desde que razões de saúde a justifiquem. ● Requisitos: 35 ● Objetivos: Os de natureza objetiva se encontram no caput e no § 2.o: dizem respeito à qualidade e quantidade da pena; ● Subjetivos: Estão previstos nos incisos da disposição: referem-se aos antecedentes judiciais e qualidades pessoais do réu. 36 CONCLUSÃO 37 REFERÊNCIAS 1. JESUS, E. Damásio. Direito Penal parte Geral. 23 ed. São Paulo: Saraiva 1999. 2. GRECO, Rogério. Direito Penal – Parte Geral.13 ed. [S.I]: Impetus, 2011. 3. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- Parte Geral. V.1. 12º ed., São Paulo: Saraiva, 2008. 4. REALE, jr. Miguel. Instituições de DireitoPenal.3ed.[S.I]:Forense.2009. 5. http://www.videoaulaestudante.com/apostilas/dir_penal/Comp_Aula02_PenalComp. pdf 6. 38
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