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Livro - Historia da Educacao Fisica

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HISTÓRIA DA 
EDUCAÇÃO FÍSICA
Ana Claudia Kapp Titski
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Curitiba
2019
Historia da 
Educacao Física
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Ana Claudia Kapp Titski
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. 
T621h Titski, Ana Claudia Kapp
História da educação física/ Ana Claudia Kapp Titski. – Curitiba: 
Fael, 2019. 
223 p.: il.
ISBN 978-85-5337-058-0
1. Educação física - História I. Título 
CDD 796.409 8
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/Belenos
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Trajetória histórica da Educação Física: 
objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física | 7
2. Educação Física e educação do corpo | 31
3. Desenvolvimento histórico da Educação 
Física no Brasil | 45
4. Fundamentos da Educação Física Brasileira: 
os sistemas ginásticos | 67
5. Educação Física: os esportes e a 
compreensão da cultura humana | 91
6. História do movimento olímpico | 115
7. Período Republicano: estudo da Educação 
Física e dos esportes | 131
8. História da Educação Física escolar | 147
9. A Educação Física e a inclusão ao longo da história | 157
10. O desenvolvimento histórico da Educação Física 
como campo de estudo e pesquisa | 171
Gabarito | 185
Referências | 203
Prezado(a) aluno(a),
História da Educação Física é uma das disciplinas-base para 
o entendimento da rota histórica do movimento, que está relacio-
nado à evolução cultural dos povos e acompanha as alterações 
nos sistemas políticos, sociais, econômicos e científicos vigen-
tes em cada época. Além disso, a história da Educação Física 
tem relação com as ciências que estudam o passado e o presente 
das atividades humanas e a sua evolução. Nessa obra são apre-
sentados os principais assuntos decorrentes dessa trajetória. Os 
conteúdos são apresentados de maneira clara, a fim de auxiliá-lo 
no processo de aprendizagem e aplicação prática dessa matéria. 
Espero que você tenha uma excelente leitura e bons estudos!
Carta ao Aluno
1
Trajetória histórica 
da Educação Física: 
objetivo e finalidade 
dos exercícios físicos 
e desenvolvimento 
da Educação Física
Iniciaremos o estudo da Educação Física apresentando sua 
trajetória histórica no decorrer dos anos, do período pré-histó-
rico ao renascimento. Considerando que o desenvolvimento da 
Educação Física está relacionado à evolução cultural dos povos, 
dessa forma, acompanha e é influenciada pelas alterações nos 
sistemas políticos, sociais, econômicos e científicos vigentes 
em cada momento histórico. Além disso, a história da Educação 
Física tem relação com as ciências que estudam o passado e o 
presente das atividades humanas e a sua evolução.
História da Educação Física
– 8 –
O homem desempenhou, em todas as fases da história, um papel 
importante, em que se propõe a investigar a origem e o desenvolvimento 
progressivo de suas atividades físicas, através do tempo, sua importância, 
as causas do seu auge e da sua decadência. Em cada fase histórica, o movi-
mento está presente, tanto para a sustentação e locomoção quanto como 
meio de desenvolvimento e competição, de acordo com as circunstâncias 
de cada período.
Nesse primeiro capítulo, você vai compreender que, embora os obje-
tivos dos exercícios físicos variem de acordo com as circunstâncias de 
cada época, os jogos, as danças e os esportes sempre fizeram parte da vida 
do homem.
1.1 Exercícios físicos e civilizações pré-históricas
A Pré-História é o período que antecede a invenção da escrita, desde 
o começo dos tempos históricos, com o surgimento da vida na Terra e a 
evolução da espécie humana. A fim de analisar o movimento e as ativi-
dades físicas, os estudiosos reconstituíram esse período com fontes não 
escritas, como os vestígios de pinturas, desenhos nas rochas, objetos rudi-
mentares, entre outros. Além disso, a escassez de documentos faz com que 
os pesquisadores se apossem dos diversificados campos de conhecimento 
para tentar promover a retomada das primeiras ações do homem na Terra.
Figura 1.1 – Desenho nas cavernas
Fonte: Shutterstock.com/Dmitry Pichugin.
– 9 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
De acordo com Ramos (1982, p. 15), as principais preocupações 
do homem pré-histórico eram atacar e se defender na luta pela sobrevi-
vência. Ou seja, as atividades humanas dependiam do movimento, como 
saltar, lançar, correr, pular, entre outros. Com o aprimoramento dos movi-
mentos, as capacidades físicas como força, velocidade e agilidade tam-
bém foram desenvolvidas.
Na Pré-História, as atividades físicas tinham caráter natural (ati-
vidade física como meio de sobrevivência), utilitária (atividade física 
passa a ser intencional para aprimoramento da técnica), guerreira (ati-
vidade física como preparação para aumentar a segurança, por exemplo, 
quando os povos nômades atacam os povos sedentários com a intenção 
de apossarem-se dos seus estoques de comida), recreativa (momentos de 
lazer), religiosa ou ritualística (expressavam seus sentimentos por meio 
da dança, pois percebiam que o exercício corporal produzia uma excitação 
interior, acreditando estarem entrando em contato com os deuses).
Figura 1.2 – Homem na Pré-História
Fonte: Shutterstock.com/ Leeloona.
De acordo com os historiadores, esse período foi de extrema impor-
tância para o desenvolvimento das habilidades motoras do ser humano 
pois, nessa fase, foi possível vencer as barreiras que eram impostas pela 
natureza, além de melhorar sua biomorfologia e sua musculatura. Nessa 
época, as danças e as lutas também já estavam presentes em seu cotidiano, 
fazendo com que a atividade muscular se adaptasse às novas condições 
que eram impostas.
História da Educação Física
– 10 –
Uma das formas do homem se expressar e demonstrar suas qualida-
des físicas por meio do movimento era com a dança. Segundo Oliveira 
(1983, p. 48), a dança primitiva poderia apresentar um caráter lúdico, bem 
como um caráter ritualístico, com diversas demonstrações de felicidade 
pela caça ou pesca, ou para dramatização de qualquer acontecimento que 
merecesse algum destaque, como nascimentos e funerais. Os homens pré-
-históricos observaram que tais movimentos produziam uma determinada 
excitação interior, com interação dos sentimentos e do corpo físico. Esses 
ritos e danças também tinham como objetivo preparar os jovens para a 
vida social, representando uma fundamentação no processo da Educação.
Vale lembrar que o homem pré-histórico apresentava um caráter 
nômade, sem habitação fixa, percorrendo grandes caminhadas nas quais 
eram obrigados a lutar, correr, saltar e nadar. Sendo assim, os homens 
pré-históricos conquistaram cada vez mais as capacidades essenciais para 
sobrevivência, e seu vigor físico foi importante para que conquistassem o 
próximo passo da sua escala de evolução: o sedentarismo.
O maior domínio das técnicas nas atividades da agricultura e da 
domesticação de animais fez com que o homem adquirisse um estilo de 
vida sedentário, pois a habitação fixa tornou-se uma necessidade. Segundo 
Oliveira (1983, p. 14):
Em qualquer desses momentos, se fez necessário o aprimoramento 
das habilidades físicas para a otimização de gestos e a construção 
de ferramentas que possibilitassem maior sucesso nas práticas de 
sobrevivência. A partir do instante em que o homem se sedentariza, 
podemos registrar o início da luta pela posse de terras.
Nesse momento histórico, registra-se o início da luta pela terra. É claro 
que, nesse período, a fixação no solo não ocorreu de forma similar em todos 
os lugares. Dessa forma,povos nômades e sedentários travavam as primei-
ras batalhas pela posse da terra. Em um primeiro momento, os povos nôma-
des, que apresentavam maior vigor físico devido às atividades mais inten-
sas, obtinham a vitória. Tempos depois, os sedentários, em seus momentos 
de ócio, realizavam um treinamento visando o sucesso em novos possíveis 
ataques. É importante ressaltar que nesse período também ocorreu a divisão 
do trabalho pelo sexo. Enquanto os homens iam para a caça e protegiam a 
família, as mulheres ficavam encarregadas de criar os filhos.
– 11 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
Figura 1.3 – Mulher pré-histórica cuidando de seu filho
 
Fonte: Shutterstock.com/Esteban De Armas.
Com o passar dos anos, a sedentarização aumenta progressivamente 
devido à ociosidade, pois os homens já apresentavam domínio total das 
atividades diárias que eram exigidas. Nesse período, surge uma concep-
ção esportiva para as atividades que eram praticadas por razões utilitárias, 
guerreiras e ritualísticas.
Nesse último momento da Pré-História, os instrumentos de pedra são 
substituídos pelo metal. Assim, ocorre o início da formação das socieda-
des, com maior consciência das atitudes, maior laço de família, formação 
das cidades e dos Estados, e com maior atividade de jogos, dança, marcha, 
corrida, saltos, lutas, remo e nado.
1.2 Exercícios físicos na Antiguidade 
Clássica e Idade Média
A expressão Antiguidade Clássica refere-se ao período que com-
preende o surgimento da poesia grega de Homero, aproximadamente no 
século VIII a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, no século 
V d.C., mais precisamente no ano 476. Nessa época deu-se o desenvolvi-
mento das duas principais civilizações: Grécia e Roma.
História da Educação Física
– 12 –
1.2.1 Grécia
Segundo Ramos (1982), as coisas belas e grandiosas na civilização 
ocidental tinham seus fundamentos no helenismo, inclusive os exercícios 
físicos, sendo que a exercitação do corpo constituía um meio para a forma-
ção do espírito e da moral. O Período Helenístico, que do grego significa 
“viver com os gregos”, se refere à época histórica compreendida entre a 
morte de Alexandre o Grande (em 323 a.C.) e a anexação da península 
grega e ilhas por Roma (em 146 a.C.). Esse período, de modo geral, repre-
sentou a concretização de um ideal de Alexandre o Grande: difundir e 
levar a cultura grega aos territórios que conquistava. Sendo assim, o hele-
nismo marcou um período de transição para o domínio de Roma. Foi nessa 
época também que houve um grande avanço da ciência. No decorrer da 
sua história, os gregos (também chamados de helenos), foram os respon-
sáveis por diversas práticas políticas, conceitos estéticos e outras normas 
que ainda estão presentes nas sociedades ocidentais contemporâneas.
Quando estudamos a Grécia Antiga, podemos observar que houve um 
grande aumento de cidades guerreiras, nas quais a população era formada 
para ter uma índole forte e um corpo guerreiro, devido às guerras entre as 
diversas tribos que habitavam o seu território. Porém, não podemos esque-
cer que essa população também tinha como atividade diária a prática da 
agricultura em uma região acidentada, cultivada com o mínimo auxílio de 
animais e utensílios agrícolas, sendo que o uso da força era predominante, 
o que proporcionava um biótipo de homem apto para realizar as atividades 
que lhe eram propostas.
Os dois pilares da Grécia foram os jônios em Atenas e os dórios em 
Esparta. Em Atenas, a educação corporal ocupava um lugar de evidência, 
com padrões de eficiência educacional, fisiológica, terapêutica e estética, 
ajustados de acordo com as limitações da época, sendo que a principal pre-
ocupação era com a formação integral dos indivíduos. Dessa forma, a edu-
cação corporal tinha lugar de destaque na formação do cidadão, desde a 
infância até a idade adulta. Celestino Marques Pereira (apud Ramos, 1982, 
p. 103) coloca que “os atenienses tornaram antigos mais de vinte sécu-
los certos conceitos pedagógicos e didáticos, que hoje se preconizam na 
educação física das novas gerações. Em determinados aspectos didáticos, 
estamos ainda longe de ter alcançado o alto nível das realizações gregas”.
– 13 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
Os filósofos gregos procuravam explicar o homem de forma dual, 
aliando o corpo e a mente, sendo que para eles os exercícios físicos eram 
muito importantes, tanto para a beleza física como para a formação do 
caráter. Em seus estudos, os filósofos se baseavam na visão do homem for-
mada pela junção do corpo e do espírito, atribuindo a relevância às diver-
sas modalidades de atividades físicas. A filosofia pedagógica que norteia 
a educação grega sempre teve como objetivo não divorciar os elementos 
intelectuais dos corporais.
Em Atenas, no século VI a.C., os cidadãos preocupavam-se com a for-
mação do jovem aristocrata, sendo que a preparação guerreira estava em 
segundo plano. A ginástica era praticada como uma iniciação ao desporto, 
e a vitória nos jogos constituía um dos mais altos valores na época. Além 
disso, a Educação Física para o povo ateniense objetivava a formação do 
caráter, a educação moral e estética. Segundo Luzuriaga (1990, p. 40),
[...] compreender tanto o cultivo do corpo, a beleza física, com o 
sentido moral e social. Ambos os aspectos predominam aqui sobre 
o intelecto e o técnico. Os jogos e esportes, o canto e a poesia, são 
instrumentos essenciais dessa educação, de tipo ainda minoritário, 
embora com espírito cívico e, em certo sentido, democrático, por 
ser patrimônio de todos os homens livres.
No entanto, enquanto Atenas consolidou o Estado de Direito, Esparta 
se preocupou com o Estado de Dever. Em Esparta (Dórios), o objetivo 
principal era o interesse coletivo, sendo que os exercícios apresentavam 
maior característica guerreira, visando sempre a preparação militar e a 
disciplina cívica.
Ao contrário de Atenas, em Esparta não havia diferenças entre 
homens e mulheres, pois todos tinham a mesma preparação física, sempre 
pensando na preparação para a guerra. Essa preparação era tão rígida e 
tão importante que, a partir dos sete anos, os meninos eram entregues ao 
Estado e aos doze executavam exercícios militares.
Segundo Jaerger (1995, p. 160), a educação espartana propunha que:
a ama, a mãe, o pai, o pedagogo rivalizam na formação da criança, 
quando lhe ensinam e lhe mostram o que é justo e injusto, belo e 
feio. Como um tronco retorcido, buscam endireitá-la com ameaças 
e castigos. Depois vai à escola e aprende a ordem, bem como o 
conhecimento da leitura, da escrita, e o manejo da lira [...] mais 
História da Educação Física
– 14 –
tarde o jovem é levado à escola de ginástica, onde os pedótribas lhe 
fortalecem o corpo, para que seja servo fiel de um espírito vigoroso 
e para que nunca fracasse na vida por culpa da debilidade do corpo.
O mesmo autor ainda apresenta os objetivos das práticas físicas da 
época, como “a finalidade da ginástica pela qual se devem reger em deta-
lhes os exercícios físicos, não é alcançar a força física de um atleta, mas 
desenvolver a coragem de um guerreiro” (JAEGER, 1995, p. 550). Vale 
ressaltar que a palavra vem do grego “Gymnastiké”, que significa a arte 
de fortificar o corpo e dar-lhe agilidade. Essa terminologia foi uma das 
primeiras utilizadas nos primórdios antes de se utilizar a nomenclatura 
Educação Física.
A partir dos sete anos, a criança de Esparta era um cidadão que per-
tencia ao Estado e era orientada por um “professor” especial (paidonó-
mos). Agrupadas em classes, deveriam seguir um programa rigoroso do 
Estado, que tinha como objetivo a formação de um bom soldado. Dessa 
forma, as atividades de corrida, lançamento de disco e dardo, considera-
das fundamentais para a formação do indivíduo, deveriam ser praticadas 
rigorosamente. Além disso, comobuscavam a formação de um cidadão 
ágil e forte, as crianças também passavam por privações (fome, dor e 
cansaço) e ficavam expostas ao frio e o calor. É importante ressaltar que 
as meninas e os meninos praticavam as mesmas atividades, pois para as 
futuras mulheres o objetivo era “torná-las fortes capazes de procriar filhos 
vigorosos e robustos” (JARDÉ, 1977, p. 209), tendo em vista que um 
corpo forte geraria crianças fortes.
Parte da formação do cidadão residia no processo de purificação do 
espírito, vigente na ideia de que não era possível a perfeição sem a beleza 
do corpo. (...) Não há educação sem o esporte, não há beleza sem esporte, 
apenas o homem educado fisicamente é verdadeiramente educado e por-
tanto belo” (RUBIO, 2002, p. 13).
Nessa época, cada homem tinha uma forte ligação com a família. 
Suas lutas, conquistas ou derrotas eram compartilhadas por seu grupo 
familiar ou “linhagem” a que o guerreiro pertencia. Sendo assim, as vitó-
rias nas lutas eram comemoradas com festas que normalmente envolviam 
algumas atividades (jogos) que tinham o objetivo de provar a destreza e a 
habilidade dos participantes, como as corridas a pé e os combates com lan-
– 15 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
ças e, com frequência, os mais destacados entre os homens faziam questão 
de participar dessas provas e demonstrar suas potencialidades atléticas. 
Nos poemas de Homero, são citados guerreiros como Agamenon, Ulisses, 
Heitor e Aquiles, vistos pela população como heróis e semideuses.
Figura 1.4 – Combates na Grécia Antiga
Fonte: Shutterstock.com/matrioshka.
No início da civilização grega, os exercícios eram realizados ao ar 
livre e, com o passar dos tempos, foram surgindo instalações próprias para 
os treinamentos e competições. Dessa forma, os exercícios foram se apri-
morando, até o surgimento dos Jogos Olímpicos, celebrados de quatro em 
quatro anos em Olímpia, a partir de 776 a.C. (assunto que veremos melhor 
no capítulo 6). Esses jogos, considerados um festival de competições, 
eram os mais importantes e disputados em honra de Zeus, rei dos deuses, 
e incluíam provas de diversas modalidades esportivas, como corridas, sal-
tos, arremessos de disco e lutas corporais. Além dos jogos, também havia 
disputa musical e poética.
Os Jogos Olímpicos eram anunciados a toda população grega dez 
meses antes da sua realização. Esse evento tinha tamanha importância, 
que os gregos chegaram a interromper guerras entre as cidades para não 
História da Educação Física
– 16 –
prejudicar a realização dos jogos. Contudo, as mulheres eram proibidas 
de participar, tanto como esportistas quanto como espectadoras. Os Jogos 
Olímpicos foram realizados 293 vezes, e o prêmio aos vencedores era um 
ramo de oliveira.
Figura 1.5 – Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga
Fonte: Shutterstock.com/Lefteris Papaulakis.
Nessa época, grandes filósofos atribuíram importância à atividade 
física entre os gregos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates (488-
399 a.C.) acreditava que a educação tem por objetivo evitar o erro e des-
cobrir a verdade, e no seu pensamento está o ponto inicial da cultura oci-
dental: “Depois da música, é pela ginástica que se deve educar os jovens” 
(PLATÃO apud PEREIRA, 2001, p. 141). Suas ideias foram disseminadas 
por Platão (429-347 a.C.), considerado um dos maiores educadores da 
humanidade e, em todos os seus escritos, há diversas colocações sobre os 
exercícios físicos. Para Platão, “todo indivíduo tem necessidade de sal-
tar e brincar, e é portador de um ritmo que produz a dança e o canto” 
(PAVIANI, 2011, p. 5). Platão, por sua vez, foi mestre de Aristóteles (389-
332 a.C.), que apresentava conceitos sobre beleza moral e prática de exer-
cícios físicos, e acreditava que a ciência da ginástica deveria investigar 
quais os exercícios que são mais úteis ao corpo.
Durante o treinamento grego, os atletas não treinavam somente os 
movimentos específicos de suas modalidades, pelo contrário, utilizavam 
os exercícios gerais para a sua preparação, como corridas, saltos, levanta-
– 17 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
mento de peso, danças e lutas (RAMOS, 1982). Além disso, os exercícios 
eram considerados meios de formação integral do cidadão grego, sendo 
essenciais para prevenir doenças, fornecer um corpo esbelto e uma mente 
sadia. Vale lembrar que, nessa época, nem todos os indivíduos eram consi-
derados “cidadãos”, sendo que os exercícios não eram praticados por todos.
1.2.2 Roma
“Mens Sana in Corpore Sano”. Quase todos nós conhecemos essa 
expressão de origem romana, que significa: “Uma mente sã, em um corpo 
sadio”, que nos remete à ideia da necessidade de se cultivar o físico e o 
intelecto saudáveis. Essa frase foi criada pelo poeta romano Juvènal, que 
afirma que a saúde física e mental deve ser pedida aos deuses, a fim de se 
ter uma vida longa. Com o passar dos anos, essa frase se tornou um lema 
romano, pela prática dos esportes.
A Roma Antiga foi uma civilização que surgiu no século VII a.C., 
localizada no Mar Mediterrâneo e centrada na cidade de Roma, na Penín-
sula Itálica. Durante seus doze séculos de existência, Roma passou de 
monarquia para república clássica e, logo após, para império, cada vez 
mais autocrático. No início, quando ainda era uma Cidade-Estado, no 
período de república, a prática do esporte tinha o objetivo apenas de 
treinamento militar para cidadãos jovens. Na cidade de Roma, havia um 
espaço intitulado Campo de Marte, onde os jovens podiam exercitar-se no 
arco, equitação e esgrima. Entretanto, o esporte ainda não fazia parte da 
formação da criança e do jovem, apesar de as atividades físicas vigorosas 
estarem sempre presentes nos grupos de pequenos agricultores, nas ativi-
dades diárias de semeio, cultivo e colheita.
Após a conquista dos territórios na Grécia, no século II a.C., e com 
maior contato com a civilização grega, inicia-se em Roma uma valoriza-
ção do esporte, bem como do teatro, da filosofia e das artes. A partir dessa 
época, os nobres de Roma constroem espaços privados para a prática da 
ginástica e do atletismo. Somente em 186 a.C. aconteceram os primeiros 
jogos públicos, com as seguintes modalidades: corrida, luta livre (wres-
tling – hoje conhecida como luta greco-romana), pugilismo (boxe), pen-
tatlo (que abrangia as modalidades de salto em distância, corrida, lança-
História da Educação Física
– 18 –
mento de disco, lançamento de dardo e luta livre) e pancration (que pode 
ser comparado ao nosso vale-tudo) (MACHADO, 2010, p. 20).
Vários locais foram desenvolvidos para jogos públicos, entre eles o 
Coliseu, construído para sediar, entre outros eventos, combates de gladia-
dores. Os combates começaram como jogos fúnebres por volta do século 
IV a.C. e se tornaram eventos populares no final da república e do império, 
sendo que os gladiadores deveriam lutar até a morte ou com uma vitória 
que dependia da decisão de um árbitro. O resultado era geralmente de 
acordo com o humor da multidão que assistia ao duelo. Além dos duelos, o 
Coliseu também era palco de apresentações aquáticas, que representavam 
batalhas navais.
Figura 1.6 – O Coliseu, em Roma
Fonte: Shutterstock.com/ Maxx-Studio.
No final da república e no início da monarquia, as termas ou banhos 
públicos começaram a proporcionar a prática de exercícios físicos, ocasio-
nando o início da natação. Além disso, nas termas também havia espaços 
para jogos com bola, chamados de sphaerista.
Os jogos foram utilizados pelos imperadores romanos para controle 
das massas, em conjunto com a distribuição gratuita de alimentos, o que 
originou a expressão “pão e circo”, criada pelo poeta Juvènal:
Já por muito tempo, desde quando nós não vendíamos o nosso voto 
para apenas uma pessoa, o Povo Romano tem abdicado de nossos 
– 19 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivoe finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
deveres; pois o Povo, que uma vez distribuía os comandos milita-
res, os altos cargos públicos, as legiões, enfim, tudo, agora se auto-
-restringe e ansiosamente espera somente duas coisas: pão e circo 
(JUVÈNAL, 1950, p. 77).
1.2.3 Idade Média
A Idade Média, mais conhecida como idade das trevas por ser uma 
época de pouco desenvolvimento racional, é o período da história que 
compreende a queda do Império Romano (395 a.C.), que dividiu-se em 
Império Romano do Oriente e do Ocidente, e a transição para a Idade 
Moderna, entre os séculos V e XV. Nessa fase, mesmo a civilização 
romana encontrando-se em um momento de decadência, o Imperador 
Teodósio tomou algumas decisões, como acabar com os Jogos Olímpicos 
e assumir o cristianismo como religião oficial, abolindo qualquer outro 
credo e religião. Dessa forma, nesse período, houve um domínio ideo-
lógico por parte da Igreja Católica, com dogmas e preceitos que “mani-
pulavam” a sociedade. Apesar de não ser uma época com alto desenvol-
vimento da ciência, a Idade Média apresentou avanços que contribuíram 
para os conhecimentos atuais.
Nessa época, três poderes disputavam o controle da Europa: o poder 
militar, representado pelos bárbaros, o poder civil, representado pelas 
organizações municipais e provinciais, e o paganismo, substituído pelo 
cristianismo, que impunha atitudes para salvação da alva e conquista 
da vida celestial. Como resultado, há um início do desprezo pelo corpo, 
fazendo com que a atividade física fosse inexpressiva nesse período, sendo 
utilizada somente para preparação militar. Grandes guerras aconteceram 
nesse período, como as Cruzadas e a Guerra dos Cem anos, e fizeram com 
que os indivíduos dominassem o uso de lança, espada, escudo e o elmo, 
representando a nobreza social, em busca de terras e dominação.
Com o passar do tempo, as lutas foram substituídas por jogos que 
tinham como objetivo tanto o treinamento militar, quanto o divertimento, 
como os torneios, que imitavam um combate real entre dois grupos de 
cavaleiros rivais, em que eram utilizados terrenos amplos e demarcados 
com linhas divisórias. Os cavaleiros se chocavam uns contra os outros 
e, ao terminar a luta, havia mortos, feridos e prisioneiros, bem como um 
História da Educação Física
– 20 –
grupo vitorioso e outro grupo derrotado. A única regra existente era a de 
que, quando os cavalheiros estivessem em um local de refúgio, assinalado 
antes do início da batalha, os combatentes não poderiam ser atacados. As 
armas utilizadas eram a lança, a espada e a maça, e os lutadores podiam 
utilizar capacete de ferro e escudo. Após a batalha, todos se reuniam para 
um banquete, seguido de uma grande festa. Os torneios tinham um caráter 
quase que de espetáculo, atraindo muita gente, com feiras ao redor. Não 
se sabe ao certo sua origem, sendo que os alemães afirmam que os inven-
taram, e os franceses também, entretanto, não há notícias desse tipo de 
torneio na Alemanha antes do século XII.
Após o século XIV, os tor-
neios não tinham um caráter 
tão primitivo. Apesar de ainda 
haver vítimas, apresentavam-
-se com maior semelhança aos 
jogos. Nessa fase, as armas 
não tinham corte e nem gume, 
e outras regras foram incorpo-
radas, com vários golpes proi-
bidos e não podendo atacar o 
cavalheiro que estava caído no 
chão. As disputas ocorriam nos 
pátios ou nas praças e, em um lugar específico do campo de batalha, algu-
mas pessoas poderiam ficar em pé para socorrer os feridos. A decadência 
do torneio ocorreu quando a Igreja se manifestou contra, devido às mortes 
resultantes das batalhas, chegando até a negar a sepultura aos participantes.
Outra competição da época eram as justas, que eram disputas 
entre dois cavaleiros vestidos com pesadas armaduras e protegidos por 
escudos especiais, e portando lanças pesadíssimas, espadas ou outras 
armas, modificadas para não os ferir. No início desse jogo, os cava-
leiros procuravam derrubar o adversário, alcançando-o com a lança e, 
muitas vezes, o choque era tão violento que a lança atravessava o peito 
ou a cabeça do oponente. Isso ocorria devido ao ferro no extremo da 
lança. Tempos depois, o objetivo não era derrubar o oponente e sim 
quebrar a lança sobre a sua armadura ou escudo. O campeão era o que 
Figura 1.7 – Torneio Medieval
Fonte: Paolo Uccello. A batalha de San Romano. Galeria 
Uffizi, Florença, Itália/Wikimédia.
– 21 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
conseguia fazer com que a lança voasse em pedaços ou o que apresen-
tasse a melhor pontaria. Cada cavaleiro podia correr com três lanças, 
e para saber quem havia ganhado, contava-se o número de lanças par-
tidas ou avariadas.
Figura 1.8 – Justa (Desporto)
Fonte: CC BY 3.0/Wikimédia.
Com menor expressão do que os jogos anteriores, as giostras 
também eram disputadas nesse período, caracterizadas por um com-
bate com um cunho menos violento, com a utilização de armas sem 
ponta ou cobertas por uma defesa. Eram disputadas por dois cavaleiros 
e ocorriam em qualquer espaço livre da cidade. Para poder participar, 
os combatentes deveriam ser nobres com descendência cavaleiresca e 
em ordem com as leis da Igreja. O objetivo da giostra era derrubar o 
oponente do seu cavalo.
De acordo com Ramos (1982), a Idade Média contribuiu para um 
espírito de lealdade nas lutas e a predominância do espírito esportivo, no 
entanto, não se pode afirmar que nessa época houve predominância de jogos 
e brincadeiras entre crianças e adultos, e sim, uma preparação militar.
1.3 Exercícios físicos no renascimento
Renascimento, renascença ou renascentismo são os termos utilizados 
para identificar o período da história que engloba do século XIV até o 
século XVI. Chamou-se esse período de renascimento devido à volta da 
valorização da cultura, das artes e da ciência.
História da Educação Física
– 22 –
No renascimento, com o progresso da ciência, a razão passou a ser o 
elemento de maior valor, estabelecendo uma visão para o corpo de objeto 
a ser controlado e disciplinado. Dentre as principais mudanças ocorridas, 
a valorização da vida física, corporal e estética, a exemplo da educação 
grega, foi essencial.
Para a Educação Física, esse período fez com que se valorizassem 
novamente a cultura física; além disso, as atividades físicas apresentaram 
grande importância na educação intelectual, sendo que nesse período sur-
giram os jogos mentais, que posteriormente “serão popularizados pelos 
jesuítas como estratégias educacionais, mudando um pouco as relações 
educacionais entre as crianças e os adultos” (FROTA, 2000, p. 95). Nessa 
época, a Educação Física também foi conceituada como um conjunto de 
atividades físicas que tem como objetivo proporcionar o bem-estar físico 
e psicológico do indivíduo, em busca do seu desenvolvimento integral.
Vários pesquisadores estuda-
ram a importância das atividades 
físicas e exercícios ginásticos nesse 
período, sendo que a beleza do 
corpo, considerada pecaminosa na 
Idade Média, é novamente explo-
rada por grandes artistas, como:
 2 Leonardo da Vinci 
(1452-1519) – criou as 
regras proporcionais do 
corpo humano e foi res-
ponsável pelo clássico 
desenho Homem Vitru-
viano, que descreve 
uma figura masculina 
desnuda, separada e 
simultaneamente em 
duas posições sobre-
postas com os braços 
inscritos num círculo e 
num quadrado.
Figura 1.9 – Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci
Fonte: Shutterstock.com/Kwirry.
– 23 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
 2 Michelangelo Buo-
narroti (1475-1564) 
– criador de escul-
turas de estátuas 
famosas, como 
por exemplo a de 
David, considerada 
tão perfeita que os 
músculos parecem 
ter movimento.
 2 François Rabelais 
(1483-1553) – autor 
da frase “Deus fez a 
mulher como devia, 
com curvas onde 
convém, e cavida-
des ondenecessá-
rio”, ao descrever as 
aventuras de Gar-
gantua (primeiro 
livro da história dos 
gigantes Gargântua 
e Pantagruel).
1.4 Exercícios físicos na Idade Contemporânea
A Idade Contemporânea começa em 14 de julho de 1789, com o iní-
cio da Revolução Francesa, e vai até os dias atuais. Nesse período, diver-
sos estudiosos, como Leonardo da Vinci, Rabelais, Montaigne e Francis 
Bacon foram precursores de uma nova tendência e lutaram pela inclusão 
de ginástica, jogos e esportes nas escolas. Suas ideias foram fundamentais 
para a Educação Física escolar, na segunda metade do século XVIII. Além 
desses, outros educadores também tiveram grande destaque durante esse 
período, como François Rebelais, Jean Jacques Rousseau, John Locke, 
Johann Heinrich Pestalozzi, dentre outros.
Figura 1.10 – Estátua David, de Michelangelo
Fonte: Shutterstock.com/gurb101088.
História da Educação Física
– 24 –
Na Educação Física, os pensadores que mais se destacaram nessa 
época foram Locke e Rousseau. Seus pensamentos acompanham a Edu-
cação Física escolar até a atualidade. Locke foi um grande representante 
do conceito de educação, tendo como principal objetivo a formação do 
caráter do cidadão, e acreditava que as crianças deveriam fazer atividades 
físicas rigorosas, condição essencial para a manutenção da saúde. Foi ele 
quem criou a terminologia “Educação Física”, para diferenciar a educa-
ção do físico da educação intelectual. Já Rousseau não acreditava que a 
educação tivesse como objetivo principal instruir, reprimir ou modelar 
o ser humano, e dedicou especial atenção aos exercícios físicos para as 
crianças. Sua teoria evidenciava os aspectos benéficos de vida do campo 
e ao ar livre, com a prática de jogos, esportes e ginástica natural (ROUS-
SEAU apud BONORINO, 1931, p. 75).
Foi nessa época que surgiram as primeiras sistematizações da Ginás-
tica, fundamentadas em bases científicas e com objetivos definidos. Esses 
métodos receberam os nomes de seus países de origem e não é errado 
afirmar que esses sistemas foram moldados para atender as necessidades 
de seus países. Em seu livro, a autora Carmem Lúcia Soares (1994) nos 
mostra que a ginástica desempenhou importantes funções na sociedade 
industrial – se apresentou capaz de corrigir os vícios posturais precedentes 
das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando um vínculo com a medi-
cina, além da função disciplinar e de ordem.
[...] regenerar a raça (não nos esqueçamos do grande número de 
mortes e de doenças); promover a saúde (sem alterar as condições 
de vida); desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de 
viver (para servir a pátria nas guerras e na indústria) e, finalmente, 
desenvolver a moral (que nada mais é do que uma intervenção nas 
tradições e nos costumes dos povos). (SOARES, 2001, p. 52).
Vale lembrar que nessa época da história ocorreu a Revolução Fran-
cesa (1789), e que a Europa estava se estruturando e consolidando uma 
nova sociedade, intitulada sociedade capitalista.
Agora, iremos conhecer esses métodos, linhas ou correntes doutriná-
rias, que iniciaram no final do século XVIII:
 2 linha ou corrente doutrinária alemã – iniciou no ano de 1760, 
com o estudioso Basedow (1723-1790), que acreditava que a 
– 25 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
escola deveria apresentar um plano educacional para os jovens, 
que possibilitasse o desenvolvimento integral da personalidade 
humana. Suas ideias foram baseadas nas novas doutrinas peda-
gógicas, especialmente Locke e Rousseau. Outro educador que 
teve grande participação na doutrina alemã foi Friedrich Ludwig 
Jahn (1778-1852), fundador da ginástica patriótica, com um 
método com profundo caráter nacionalista e característica mili-
tar (FIGUEIREDO, 2010, p.189-198).
Você sabia que a atual Ginástica Olímpica, atualmente praticada 
como esporte, tem seus fundamentos nos exercícios ginásticos 
de Jahn? Esses exercícios são principalmente marchar, correr, 
saltar, tomar impulso, equilibrar, exercícios de barra, exercícios 
de paralela, trepar, arremessar, puxar, empurrar, levantar, trans-
portar, esticar, lutar braço a braço, saltar arco e pular corda.
 2 linha ou corrente doutrinária sueca – criada no início do 
século XIX por Per Henrik Ling, que era poeta e educador. O seu 
sistema foi influenciado por antigos filósofos e médicos gregos, 
além de Rousseau, Basedow e Pestalozzi. Ling tinha como prin-
cipal objetivo estabelecer rumos científicos à prática dos exercí-
cios físicos, com a finalidade de regenerar o povo sueco que se 
encontrava minado pela tuberculose e pelo raquitismo. Segundo 
Carmem Lúcia Soares:
a sistematização da ginástica na Suécia ocorre no início do século 
XIX. Estava voltada para extirpar os vícios da sociedade, entre 
os quais o alcoolismo. O método de ginastica se colocava como 
instrumento capaz de criar indivíduos fortes, saudáveis e livres 
dos vícios, porque estavam preocupados com a saúde (SOARES, 
2001, p. 57).
Além da melhora da saúde, houve ainda a preocupação de 
melhorar a força dos trabalhadores, tendo em vista que nesse 
período a Suécia deu início ao processo de industrialização. As 
quatro principais divisões no sistema de Ling foram: médica, 
pedagógica, militar e estética.
 2 linha ou corrente doutrinária francesa – esse método que você 
irá conhecer agora foi o primeiro a ser introduzido oficialmente 
História da Educação Física
– 26 –
no Brasil, antes da criação de um sistema nacional de Educação 
Física. Podemos dizer que ele foi a base da Educação Física esco-
lar brasileira. O método francês teve início no ano de 1852, na 
Escola de Joinville Le Pont. Esse preconizava sete formas de tra-
balho: jogos, flexionamentos, exercícios educativos, exercícios 
mímicos, aplicações, desportos individuais e desportos coletivos; 
e quatro regras deveriam ser seguidas para sua execução: agrupa-
mento dos indivíduos, adaptação do exercício, atração do exer-
cícios e verificação periódica. Sendo assim, a aula de Educação 
Física era dividida em três partes: sessão preparatória (exercícios 
de flexão de braço, pernas, tronco, combinados, assimétricos e de 
caixa torácica); lição propriamente dita (marchar, trepar, escalar, 
equilibrar, saltar, levantar e transportar, correr, lançar, atacar e 
defender-se) e volta à calma (exercícios de fraca intensidade – 
marcha com canto, marcha lenta com exercícios respiratórios e 
alguns exercícios de ordem) (MARINHO, 1971, p. 52).
Nessa linha doutrinária, o objetivo também era trabalhar o indiví-
duo como um todo, com os exercícios atuando sobre o corpo, espí-
rito, caráter e sendo sociais. A Educação Física teve duas etapas:
1 – Iniciação Desportiva – generalizada e especializada;
2 – Treinamento Desportivo – generalizado ou especializado.
A linha generalizada tinha por objetivo livrar-se de uma única 
ginástica e também de um único esporte. Apresentava sua orga-
nização em quatro partes:
1 – Exercícios de aquecimento (efeitos higiênicos);
2 – Exercícios de flexibilidade e desenvolvimento muscular 
(efeitos morfológicos);
3 – Exercícios de agilidade e energia (efeitos sobre o caráter);
4 – Exercícios desportivos sob a forma lúdica, tendo caráter 
de competição.
 2 linha ou corrente doutrinária inglesa – esse método se carac-
teriza pela preferência de jogos em que fatores políticos, reli-
– 27 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
giosos, sociais e de ordem econômica exerceram influência no 
capital e no desenvolvimento da Educação Física. Esse método 
iniciou-se no meio universitário, estendendo-se posteriormente 
às escolas médias e ao ensino primário.
No capítulo 4 dessa obra, veremos mais profundamente como esses 
métodos tiveram uma influência na Educação Física brasileira.
Para melhorar o seu estudo e assimilação em relação aos exercícios 
e atividades de cada época, elaboramos um quadro-síntesede cada época.
Quadro 1.1 – Síntese da Educação Física em cada período histórico
Pré-História
Atacar e defender-se na luta pela sobrevi-
vência. As atividades humanas dependiam 
do movimento, como saltar, lançar, correr, 
pular, entre outros. Com o aprimoramento 
dos movimentos, as capacidades físicas 
como força, velocidade e agilidade também 
foram desenvolvidas. As atividades físicas 
tinham caráter natural, utilitário, guerreiro, 
recreativo, religioso ou ritualístico.
Antiguidade Clássica – 
Grécia
As atividades físicas têm como finalidade 
desenvolver a perfeição física e os valores 
morais, buscando a formação do indivíduo 
forte, saudável, belo e virtuoso. ATENAS: a 
ginástica era praticada como uma iniciação 
ao desporto, e a vitória nos jogos constituía 
um dos mais altos valores na época. Além 
disso, a Educação Física para o povo ate-
niense objetivava a formação do caráter, a 
educação moral e estética. ESPARTA: “a 
finalidade da ginástica pela qual se devem 
reger em detalhes os exercícios físicos, não 
é alcançar a força física de um atleta, mas 
desenvolver a coragem de um guerreiro” 
(JAEGER, 1995, p. 550).
História da Educação Física
– 28 –
Antiguidade Clássica – 
Roma
Participação em jogos públicos, com as 
seguintes modalidades: corrida, luta livre 
(wrestling – hoje conhecida como luta greco-
-romana), pugilismo (boxe), pentatlo (que 
abrangia as modalidades de salto em distân-
cia, corrida, lançamento de disco, lançamento 
de dardo e luta livre) e pancration (que pode 
ser comparado ao nosso vale-tudo). Além 
do destaque aos jogos públicos, a prepara-
ção física e a participação nesses momentos 
eram percebidas como status social (pois 
apenas aqueles com descendência reconhe-
cida socialmente e em cumprimento com 
as doutrinas da Igreja poderiam participar). 
Lembrem-se que nesse momento histórico as 
atividades físicas também tinham um cunho 
de entretenimento.
Idade Média
A Educação Física tem como principal obje-
tivo o desenvolvimento de habilidades físi-
cas específicas, buscando a formação do 
indivíduo hábil, valoroso e cortês.
Renascimento
Educação Física foi conceituada como um 
conjunto de atividades físicas que tem como 
objetivo proporcionar o bem-estar físico e 
psicológico do indivíduo, em busca do seu 
desenvolvimento integral. 
Idade Contemporânea Criação das escolas alemã, sueca, francesa e inglesa.
Fonte: elaborada pelo autor.
Síntese
Nesse primeiro capítulo, você teve a oportunidade de conhecer a his-
tória do movimento humano no decorrer dos períodos históricos. Obser-
– 29 –
Trajetória histórica da Educação Física: objetivo e finalidade dos exercícios físicos e 
desenvolvimento da Educação Física
vou que a prática de atividades físicas se faz presente desde a Pré-História, 
inicialmente com o objetivo de sobrevivência, e apresentou uma evolução 
com o decorrer dos anos. Em cada período, teve seu auge e sua decadência, 
de acordo com os principais acontecimentos. Foi possível perceber que, 
na Antiguidade Clássica, mesmo com o valor que era dado aos exercícios 
físicos, somente uma parcela muito pequena da população tinha acesso 
à prática e aos desportos. Estudou que na Idade Média houve um grande 
declínio da Educação Física, contudo, os jogos continuaram existindo. 
Você também notou que o renascimento foi marcado por uma nova era, 
com novos filósofos e pensadores que deram início a uma visão inédita 
da Educação Física, baseada em alicerces científicos. Percebeu também 
que foi nesse período que houve a criação das principais linhas doutri-
nárias: alemã, sueca, francesa e inglesa, as quais, mesmo com técnicas e 
apresentações diferenciadas, tinham a intenção de aprimorar as condições 
corporais de seus adeptos, seguindo as mudanças sociais e econômicas de 
cada época.
Atividades
1. Faça uma análise reflexiva e comparativa sobre os objetivos 
das atividades físicas no período pré-histórico e na Antigui-
dade Clássica.
2. Escolha uma época estudada (Pré-História, Antiguidade Clás-
sica, Idade Média e renascimento) e faça uma comparação da 
decadência dos exercícios físicos entre o período escolhido e 
a atualidade.
3. Elabore uma síntese dos principais pensamentos renascentistas e 
sua relação com a Educação Física atual.
4. Com base nos conteúdos abordados nesse capítulo, elabore um 
texto contextualizando os períodos estudados e os principais 
avanços para a Educação Física.
2
Educação Física e 
educação do corpo 
No capítulo anterior, estudamos sobre o movimento e seu 
objetivo no decorrer da história humana. Para que todo esse 
movimento ocorra, o homem deve estar dotado da consciência 
de movimento que quer realizar e que o determina. Estudaremos 
o corpo por meio do movimento, bem como a sua simbologia 
durante a Idade Média. Abordaremos diferentes conceitos a res-
peito da imagem corporal e do esquema corporal. Esses concei-
tos irão auxiliar no entendimento da aprendizagem e desenvolvi-
mento motor, sendo que o movimento, a corporeidade e a cultura 
corporal são essenciais para o desenvolvimento motor. Além 
disso, você poderá ter uma melhor compreensão da importância 
do movimento nas aulas de Educação Física.
História da Educação Física
– 32 –
2.1 Corporeidade, movimento e cultura corporal
2.1.1 Corporeidade
A Educação Física, ramo educacional da ciência da motricidade 
humana, apresenta o intuito de ensinar, ajudar, viver e sentir a corporei-
dade do ser humano, fundamental na medida em que é o suporte básico 
do próprio modo de ser do homem (LEITE et al., 2013). Nesse sentido, 
a corporeidade, segundo Breton (2006, p. 9) é moldada socialmente, por 
mais que seja vivida de acordo com o estilo particular de cada indivíduo. 
Moreira (1998, p. 73) afirma que a corporeidade é relacionar os saberes da 
existência do ser e as interações deste “[...] com o mundo, consigo mesmo 
e com os outros. É optar por concretizar o pensamento, ou mais precisa-
mente, corporificar o ser pensante”.
Corporeidade ganha uma dimensão muito ampliada em relação ao 
conceito tradicional de corpo. Santin (2011, p. 67) revela isso quando des-
creve que a corporeidade poderia ser representada pela união da ação de 
cultuar e de cultivar, ou seja, a conceitua como um culto e cultivo do 
corpo. “A corporeidade precisa ter a dignidade da ação sagrada e festiva 
e, ao mesmo tempo, a cotidianidade do esforço e do trabalho criativo” 
(SANTIN, 2011, p. 67).
O autor Nóbrega (2005, p. 80) também aponta que a corporeidade 
está relacionada com o corpo em movimento, o espaço e o tempo.
Eleger a corporeidade como critério para refletir sobre o conheci-
mento em Educação Física, significa a tentativa de superar a dicoto-
mia entre conhecimento racional e conhecimento sensível. A noção 
de corporeidade, abrangendo o corpo vivo e significante, fundado 
na facticidade e na cultura, supera a dicotomia biológico-cultural 
e expressa a unidade do ser-no-mundo (NÓBREGA, 2005, p.80).
O corpo, para além da estrutura orgânica, compreende o sentir, o per-
ceber, o pensar e o agir dos indivíduos, revelando a intencionalidade de 
suas ações, o que caracteriza o homem como um ser repleto de subjetivi-
dade. Segundo Merleau-Ponty (1999, p. 203),
O corpo é o nosso meio geral de ter um mundo. Ora ele se limita 
aos gestos necessários à conservação da vida e, correlativamente, 
põe em torno de nós um mundo biológico; ora, brincando com 
– 33 –
Educação Física e educação do corpo 
seus primeiros gestos e passando de seu sentido próprio a um sen-
tido figurado, ele manifesta através deles um novo núcleo de sig-
nificado: é o caso dos hábitos motores como a dança. Ora enfim a 
significação visada não pode ser alcançada pelos meios naturais do 
corpo; é preciso então que ele se construa um instrumento, e ele 
projeta em torno de si um mundo cultural.
No princípio, como objeto de estudo de vários campos, o corpo 
foi definido como um organismo composto por diversas células. Essa 
definição é decorrente do funcionalismo de Durkheim (1995), que observao corpo de forma biológica, sendo um fator individualizador, segundo a 
função social assumida pelo seu “dono”.
Essa definição biologista de corpo, remanescente do final do século 
XVIII e início do XIX, limita-se para explicar o corpo em toda a sua com-
plexidade, pois esse significado poderia ser aplicado a qualquer ser vivo. 
Merleau-Ponty (1999) explora bem essa presença do homem com a cor-
poreidade, relacionando a um fenômeno corporal que se comunica com o 
mundo e com os outros. Assim, o corpo não era constituído somente por 
uma coleção de órgãos decorrentes da fisiologia e da anatomia, mas por 
uma estrutura simbólica, possível de unir as mais variadas formas cultu-
rais (GONÇALVEZ; AZEVEDO, 2007).
Durante a história, o corpo apresentou vários significados, que foram 
variados de acordo com a cultura e o contexto social de cada época. Na 
Idade Média, como veremos a seguir, havia uma separação entre corpo pro-
fano e espírito-mente sagrado. A moral cristã proibia qualquer tipo de prá-
tica corporal que estivesse relacionada ao culto do corpo, pois isso poderia 
tornar a alma impura. Já na renascença, o significado do corpo é embasado 
na ciência. Sempre visando a saúde corporal, as atividades físicas relacio-
nadas ao corpo eram prescritas por um sistema de regras. “Os anatomistas 
antes de Descartes e da filosofia mecanicista fundam um dualismo que é 
central na modernidade e não apenas na medicina, aquele que distingue, por 
um lado, o homem, por outro seu corpo” (BRETON, 2002, p. 18).
Nessa época, a visão moderna do ganho econômico traz um 
modelo de corpo oprimido e manipulável. Segundo Gonçalvez e Aze-
vedo (2007, p. 205),
no entender de Habermas (1987), esta dualidade é a maneira 
encontrada pelo homem para lidar com os problemas gerados 
História da Educação Física
– 34 –
pela modernidade produziram quadros patológicos na socie-
dade, determinando crises de direção e até mesmo diminuição 
na integração societária. Essas crises de direção podem ser com-
preendidas no sentido da teoria Weberiana como o desencan-
tamento do sujeito no quadro moderno; a vida para o homem 
aparece sem sentido em função de sua descrença, especialmente, 
com a vida mundana.
A sociedade necessitava de corpos fortes e saudáveis para atender a 
demanda do mercado, sempre visando a alta produtividade e o lucro, uma 
vez que seriam utilizados e aperfeiçoados para atender ao capitalismo.
Atualmente, a visão do corpo está relacionada a diversos adjetivos, 
e o culto ao corpo está cada vez mais incidente em determinadas etapas 
da nossa vida. Nesse ponto de vista, a indústria cultural, de acordo com 
Detrez (2002), exerce forte poder sobre o corpo humano e o influencia 
com uma exposição de exemplos, idealizando estereótipos invejáveis.
Por fim, esses comportamentos isolam o corpo como uma matéria 
à parte, “ser o que se é torna-se uma performance efêmera, sem futuro, 
um maneirismo desencantado em um mundo sem maneiras” (BAU-
DRILLARD, 1997, p. 22 apud BRETON, 2003, p. 29).
2.1.2 Movimento
O movimento está presente em todas as atividades da nossa vida diá-
ria: no trabalho, no lazer, no desporto. Nós, enquanto profissionais de Edu-
cação Física, que utilizam propriamente o movimento, precisamos deixar 
claro o conceito dessa palavra. Diversos autores adotaram diferentes con-
ceitos para o movimento. De acordo com Newell (1978), o movimento é o 
deslocamento de corpo e membros, que é produzido por meio da consequ-
ência do padrão espacial e temporal da contração muscular.
Outro autor que define o movimento é Merleau-Ponty (1980). Esse 
pesquisador afirma que o movimento é compreendido como perspectiva 
do ser no mundo, e que o indivíduo, a partir do momento em que incorpora 
o movimento ao seu mundo, aprende ou adquire um hábito motor. Dessa 
maneira, o movimento pode ser definido como: “a sequência natural e o 
amadurecimento de uma visão” (PONTY, 1980, p. 88).
– 35 –
Educação Física e educação do corpo 
Por sua vez, Kunz (1994, p. 68), com base em Dietrich e Landau, afirma 
que o movimento compreende “todas as atividades do movimento humano, 
tanto no esporte como em atividades extraesporte (ou no sentido amplo do 
esporte) e que pertencem ao mundo do ‘se – movimentar’ humano, o que o 
homem por esse meio produz ou cria, de acordo com sua conduta, seu compor-
tamento, e mesmo as resistências que se oferecem a essas condutas e ações”.
2.1.3 Cultura corporal
A sociedade é considerada produtora de cultura, e induz 
diariamente o homem a reproduzi-la, determinando os valores, 
crenças, regras e hábitos que o ser humano deve seguir. Assim, 
o indivíduo se modela e é influenciado pelos padrões sociais, 
sendo que, em consequência, não se encontra consciente de que 
é capaz de transformar o seu contexto social e de produzir cul-
tura. Nesse cenário, Santos (2014, p. 171) afirma que:
as discussões realizadas a partir dos estudos antropológicos pos-
sibilitam compreender as diversas manifestações particulares de 
cada grupo social, como também, a relação existente entre o pro-
dutor de cultura - o homem - e o ambiente em que esta pode ser 
produzida – a sociedade. A cultura, vista como um componente 
que faz parte do objeto de estudo da antropologia, tem sua defini-
ção vinculada à ordem simbólica e o seu desdobramento no con-
texto social, revelando diferentes sentidos e significados expressos 
no comportamento dos indivíduos, os quais são influenciados por 
determinados valores e princípios.
Estudos antropológicos discutem essa relação entre corpo e cultura 
e possibilitam a compreensão das diversas manifestações particulares 
de cada grupo social, assim como a relação existente entre o homem 
(produtor de cultura) e a sociedade (ambiente em que esta pode ser pro-
duzida). “A cultura, vista como um componente que faz parte do objeto 
de estudo da antropologia, tem sua definição vinculada à ordem sim-
bólica e o seu desdobramento no contexto social, revelando diferentes 
sentidos e significados expressos no comportamento dos indivíduos, os 
quais são influenciados por determinados valores e princípios” (DAO-
LIO, 1995, p. 92).
História da Educação Física
– 36 –
Qualquer movimento que o corpo imprima revela sobre sua cultura e 
seus hábitos. Sob a ótica educacional, cultura corporal engloba o esporte, 
as danças, as artes cênicas, as artes musicais, as artes plásticas, os jogos 
e as brincadeiras, pois são manifestações culturais ligadas à expressão do 
movimento corporal humano, ou seja, expressões que são reconhecidas de 
forma cultural e como tal revelam significados simbólicos.
Kofes (1985) afirma que o corpo é uma manifestação da expressão 
cultural. O antropólogo francês Marcel Mauss considerou, já na década de 
30, os diversos movimentos realizados pelo corpo como artifícios próprios 
da cultura, transmitidos por meio das gerações e com significados espe-
cíficos. De acordo com esse autor, só é possível falar em técnica por ser 
cultural (MAUSS, 1974, v. 2).
Assim, Daolio (1995) afirma que atuar no corpo implica em agir sobre a 
sociedade em que o corpo está inserido. Dessa forma, as práticas que envol-
vem o corpo humano, como a Educação Física, devem ser refletidas nesse 
contexto, a fim de não se conceber sua realização de forma reducionista.
O corpo humano não é somente biológico, no qual a cultura impinge 
especificidades, e sim, fruto da interação natureza e cultura. 
2.2 O corpo na Idade Média
Como vimos até agora, toda a questão histórica sempre teve influ-
ência significativa na prática da Educação Física. Agora veremos que a 
percepção em relação ao corpo enquanto objeto da história também apre-
sentou diversas modificações com relação aos fatos que ocorriam em cada 
época, influenciado pelos acontecimentos sociais, políticos, econômicos 
e culturais da sociedade. O autor Marc Bloch (2002, p. 32) afirma que 
“aprendemos que o homem também mudou muito: em seu espírito e, sem 
dúvida, até nos mais delicados mecanismos do seu corpo”.
De todas as épocas históricas, podemosafirmar que a que trouxe mais 
interferências em relação ao tratamento com o corpo, tanto sob a ótica 
do pecado como da negação; foi a Idade Média, a qual se se estendeu do 
século V ao XV. Esse período se inicia no declínio do Império Romano 
do Ocidente e vai até o início do Renascimento e das grandes navegações. 
– 37 –
Educação Física e educação do corpo 
Sem dúvida, a Idade Média foi um marco histórico para a sociedade euro-
peia, pois esta viveu estritamente a falta de mobilidade social, além da 
clara distinção entre nobres e camponeses, e o clero.
Vale ressaltar que as representações referentes ao corpo e sua relação 
com o social e o moral dependiam exclusivamente da classe social a qual 
pertenciam. Assim, podemos perceber que temos uma época formada pela 
sociedade feudal, que era dividida por nobres, clero e servos, em que a 
representação do corpo era marcada como procriação e instrumento de 
trabalho para as classes mais baixas. Nesse contexto, o autor Lauer (2015) 
coloca que, nessa época, o homem utilizava o seu corpo somente para pro-
ver comida à família e fugir dos predadores, fazendo com que seu corpo 
estivesse no centro dos acontecimentos.
Sabemos que nessa época houve um domínio ideológico por parte da 
Igreja Católica, com dogmas e preceitos que “manipulavam” a sociedade. 
Esse domínio ultrapassava os aspectos religiosos e se estendia desde o 
campo moral até a vida familiar, interferindo na forma como o ser humano 
pensava. A fim de alcançar a salvação, o homem medieval acabava renun-
ciando os bens materiais e submetia-se a torturas. 
Nessa época, a sociedade medieval vivenciava grandes tensões, 
tanto relacionadas à imagem de Deus e do homem, quanto sobre as suas 
atitudes da vida cotidiana. Vários relatos históricos apontam que nesse 
período o corpo estava arrebatado pelas doenças. O homem da Idade 
Média admite que o sofrimento faz parte da vida do ser, além de desig-
nar a representação do seu corpo como um apanhador de pecados, sendo 
os padres os “médicos da alma”. Tanto as doenças como a dor do corpo 
tornam-se presentes nesse período em que a era medieval sofre grandes 
transtornos de epidemia.
Para os médicos da antiguidade”, escreve o grande historiador do 
pensamento médico Mirko D. Grmek, “todas a doenças eram somá-
ticas. As doenças da alma não passavam, para eles, de invenção 
dos moralistas. O resultado dessa tomada de posição era a divisão 
do campo das doenças psíquicas entre os médicos e os filósofos. 
Mas para o homem da Idade Média, tanto nas civilizações cristãs 
quanto no mundo islâmico, não era possível separar os aconteci-
mentos corporais de sua significação espiritual. Concebia-se a rela-
ção entre a alma e o corpo de uma maneira tão estreita e imbricada 
História da Educação Física
– 38 –
que a doença era necessariamente uma entidade psicossomática.” 
Por essa razão, a maior parte dos milagres atribuídos aos santos são 
milagres de cura (LE; GOFF; TRUONG, 1924, p. 108).
Observa-se que o corpo foi o resultado de várias tensões vividas 
no período, pois a “dinâmica da sociedade e da civilização medievais 
resulta[va] de tensões”, sendo que uma das principais tensões “é aquela 
entre o corpo e a alma”. “Por um lado, o corpo é fruto da benção e da glo-
rificação, principalmente religiosa (quando se trata do corpo de Cristo), 
e, de outro, é desprezado, condenado, humilhado” (CORBIN; VIGA-
RELLO; COURTINE, 2008, p. 11).
Figura 2.1 – Os dogmas religiosos e sociais na Idade Média
Fonte: CC BY 3.0/Wikimédia.
De acordo com Matos e Gentile (2004), nesse período, o corpo era 
considerado ameaçador, especialmente o corpo feminino, observado como 
um “lugar de tentações”. Alguns teólogos da época acreditavam que as 
mulheres tinham mais conivência com o demônio pelo fato de Eva ter nas-
cido de uma costela torta de Adão, afirmando que nenhuma mulher pode-
ria ser reta (MATOS; GENTILE; FALZETTA, 2004). Assim, a imagem da 
mulher medieval é feita a partir da oposição entre feminino e masculino, 
sendo que o ser homem relaciona-se à virilidade, ao senso de honra, à 
retidão, e a mulher, por sua vez, está relacionada à desonra, à ausência de 
retidão no comportamento e no pensamento (PIRES, 2013, p. 15).
O controle da sexualidade feminina passou a ser mediado pela Igreja 
e aceito pela sociedade. Dessa forma, o corpo feminino também apresen-
– 39 –
Educação Física e educação do corpo 
tava as suas tensões entre o bem (procriação, castidade e cuidado com a 
família) e o mal (prostituição e luxúria), pois “o culto do corpo da Anti-
guidade cede lugar, na Idade Média, a uma derrocada do corpo na vida 
social” (CORBIN; VIGARELLO; COURTINE, 2008, p. 37).
Dessa forma, “é possível afirmar que o corpo sexuado da Idade Média 
é majoritariamente desvalorizado, as pulsões e o desejo carnal, ampla-
mente reprimidos” (CORBIN; VIGARELLO; COURTINE, 2008, p. 41), 
principalmente no discurso que era imposto à população:
[...] a religião cristã institucionalizada introduz uma grande novi-
dade no Ocidente: a transformação do pecado original em pecado 
sexual. Uma mudança que é uma novidade para o próprio cristia-
nismo, já que, em seus primórdios, não aparece traço algum de 
uma tal equivalência, assim como nenhum termo dessa equação 
figura no Antigo Testamento da Bíblia. O pecado original, que 
expulsa Adão e Eva do Paraíso, é um pecado de curiosidade e de 
orgulho (CORBIN; VIGARELLO; COURTINE, 2008, p. 49).
Souza, Silva e Oliveira (2014), também observam relações do corpo 
e pecado:
Durante quase toda a Idade Média, o corpo foi visto pela Igreja 
como algo pecaminoso. Nessa postura de pensamento a igreja 
passou a emitir padrões durante o ato sexual, para que houvesse 
controle da população, e para que todos passassem a ter uma noção 
de pecado quanto ao ato sexual fosse praticado de forma desvai-
rada. Com o impacto o homem medieval induzia a crer no dogma 
criado pela supremacia da igreja, como o surgimento do inferno, 
do diabo, do purgatório e do pecado. Surgia o imaginário medieval 
na concepção do novo homem contraído pelo cristianismo, tomado 
pela culpa e o temor de ir para o inferno. (SOUZA; SILVA; OLI-
VEIRA, 2014, p. 3).
A Igreja, na época, via a mulher como um ser ‘fraco’, sendo que “a 
primeira versão da Criação presente na Bíblia é esquecida em proveito da 
segunda, mais desfavorável à mulher”. Com isso, da “criação dos corpos 
nasce, portanto, a desigualdade original da mulher”, e ela “irá pagar em 
sua carne o passe de mágica dos teólogos, que transformaram o pecado 
original em pecado sexual”. Por outro lado, “ela é subtraída até mesmo em 
sua natureza biológica, já que a incultura científica da época ignora a exis-
tência da ovulação, atribuindo a fecundação apenas ao sexo masculino” 
(CORBIN; VIGARELLO; COURTINE, 2008, p. 54). O autor Georges 
História da Educação Física
– 40 –
Duby aponta que a Idade Média era “masculina”, pois os relatos históricos 
escritos por homens, em sua maioria, estavam convictos de sua superiori-
dade. Nem mesmo no período de gestação há um desinteresse pela mulher. 
Essa falta de atenção rodeia todas as camadas da sociedade, sendo que, na 
velhice, a mulher também não é bem quista, sendo considerada em muitas 
ocasiões como “bruxa”.
De acordo com Rodrigues (1999), outro campo que sofreu estagnação 
nesta época foi a medicina, pois a abertura do corpo humano e a disseca-
ção de cadáveres era uma ação inconcebível, e, conforme Pereira (1988), a 
anatomia passa por um período de estagnação, sendo que os estudos foram 
retomados somente com a chegada do Renascimento. Os medievais acre-
ditavam que a putrefação era uma continuidade da vida, sendo que valas 
coletivas ficavam abertas até serem preenchidas por corpos. 
Figura 2.2 – Niclaus Manuel Deutsch. Dança da morte. Início em 1516-17
Fonte: cuadernosdelhontanar.com
Assim, as doenças e o estado mental dos indivíduos durante esse perí-
odo sofreram oscilações, alternando entre motivo de aversão e de arrepen-
dimento. Com uma maior incidência dedoenças, os índices de mortalidade 
também eram altos, sendo que a civilização medieval era conceituada pela 
forma como enterrava os corpos dos mortos. Le Goff e Truong (1924), 
apontam que “a maneira de viver sua vida modelada pelo estado social e 
as proibições religiosas variavam no espaço da cristandade e evoluíram 
durante a longa idade Média” (p. 91). Nessa época, a população acreditava 
– 41 –
Educação Física e educação do corpo 
que o corpo tinha uma representação forte no cotidiano, como símbolo de 
aparição após a morte, os mortos-vivos da era medieval.
A separação da alma e do corpo no momento da morte justifica que 
o defunto apareça independente de seu cadáver, (corpo), por vezes 
mesmo muito longe dele. Nos relatos mais de acordo com a refle-
xão eclesiástica – que define o objeto da aparição como uma pura 
imagem e que pretende afastar toda “preocupação com o corpo, o 
defunto aparece em qualquer lugar, ao sabor da permissão de Deus. 
(SCHMITT, 1999, p. 203).
Vale ressaltar que as encarregadas de lavá-los e de prepará-los para 
juntarem-se ao reino dos mortos eram as mulheres.
Por fim, podemos concluir que o respeito às regras, à dieta, ao cultivo 
do espírito e a submissão à Igreja marcavam a Idade Média. Assim, os 
cuidados com o corpo nu, a “gula”, as práticas corporais, como o sexo, 
e esportivas, com a demonstração do corpo para o público, regiam qual 
o tipo de conduta que deveria ser respeitada. Nesse período, os precei-
tos quanto aos comportamentos corporais estavam relacionados à própria 
organização do espaço de convivência social, em especial, o das cidades.
2.3 A simbologia do corpo na Educação Física
Na área da Educação Física há um grande debate sobre a corporei-
dade, a fim de nortear os profissionais pesquisadores que trabalham com o 
corpo, com o movimento e com o esporte, tanto no sentido coletivo quanto 
no individual. Ao lado desse substantivo, nota-se uma série de adjetivos. 
De acordo com Kolyniak (2010) a Educação Física é compreendida como 
um adestramento do corpo, depondo-se a serviço da mente, ou seja, a 
serviço do físico para utilizá-lo a finalidades precisas, como o trabalho, 
o esporte, as danças e até mesmo para a guerra, considerando-se o corpo 
como o templo da alma. Essa opinião é contrária aos paradigmas de uma 
Educação Física “corpo e mente”, possibilitando a observação na qual 
“corpo/mente”, ambos relacionados e nunca separados, possibilita a cons-
trução de um pensamento que vai além do que é concluído precipitada-
mente, o qual protagoniza a corporeidade como uma unidade holística.
A Educação Física não pode ser vista somente como uma prática 
pedagógica, em que o professor e o aluno se relacionam num espaço 
História da Educação Física
– 42 –
dinâmico, mas sim como uma área de conhecimento que está presente 
na grade curricular da escola, em que o corpo, em toda a sua dimensão, 
é o principal contexto considerado no trabalho do professor e na ação do 
aluno (GONÇALVEZ; AZEVEDO, 2007). Assim, deve-se possibilitar ao 
aluno uma formação crítica durante o seu processo de aprendizado, além 
de conscientizar e promover a aquisição de conhecimentos e experiências 
para a vida, respeitando as diferenças, o próprio corpo e o corpo do outro 
(GONÇALVEZ; AZEVEDO, 2007).
Nóbrega (2005, p. 64) reflete sobre a motricidade nas aulas de Educa-
ção Física e sua relação com a intencionalidade motora:
Na motricidade, não há separação entre a significação intelectual, 
simbólica e significação cinética, entre o dado sensível e o entendi-
mento. O corpo não é um meio intermediário entre o mundo exte-
rior e a consciência, mas possui uma inteligibilidade, uma inten-
ção, um sentido de totalidade que se manifesta no movimento e 
no entendimento simultaneamente, numa palavra, na motricidade.
Por fim, a formação profissional na área de Educação Física, deve 
reconhecer que
a aprendizagem é basicamente uma reorganização da corporei-
dade. Quando aprende, quando encontra um sentido e uma signi-
ficação para um acontecimento em sua existência, o ser humano 
passa a habitar o espaço e o tempo de uma forma diferente. Esse 
acontecimento é ao mesmo tempo motor e perceptivo, não há 
separação entre o corpo que age e o cogito que organiza a ação. 
O corpo é o lugar de aprendizagem, de apropriação do entorno 
por parte do sujeito. Uma aprendizagem na qual o motor e o 
perceptivo, o corpo e a consciência compõem um sistema único 
(NÓBREGA, 2005, p. 68).
A formação do profissional na área científica da Educação Física e 
dos Esportes, na ótica da corporeidade, deve assumir uma associação que 
permite rever conceitos, a partir do redimensionamento do saber o que é 
esse ser humano corpóreo.
Síntese
Nesse capítulo, tivemos a oportunidade de aprender sobre os conceitos 
de corporeidade, movimento e cultura corporal. Corporeidade é construída 
– 43 –
Educação Física e educação do corpo 
socialmente, por mais que seja vivida de acordo com um estilo particular 
de cada indivíduo. Movimento pode ser definido como: “a sequência natu-
ral e o amadurecimento de uma visão”. Qualquer movimento que o corpo 
imprima, revela sobre sua cultura e seus hábitos. Sob a ótica educacional, 
cultura corporal engloba o esporte, as danças, as artes cênicas, artes musi-
cais, artes plásticas, jogos e brincadeiras, pois são manifestações culturais 
ligadas à expressão do movimento corporal humano, ou seja, expressões 
que são reconhecidas de forma cultural e como tal revelam significados 
simbólicos. Estudamos também sobre a Idade Média e sua relação com 
o corpo, observando que, nessa época, houve um domínio ideológico por 
parte da Igreja Católica, com dogmas e preceitos que “manipulavam” a 
sociedade. Esse domínio ultrapassava os aspectos religiosos e se estendia 
desde o campo moral até a vida familiar, interferindo na forma como o ser 
humano pensava. Tanto as doenças como a dor do corpo tornam-se presen-
tes nesse período, em que a era medieval sofre pela grande incidência de 
epidemia. Por fim, aprendemos a simbologia do corpo na Educação Física, 
e compreendemos que essa não pode ser vista somente como uma prática 
pedagógica em que professor e aluno se relacionam num espaço dinâmico, 
mas sim como uma área de conhecimento que está presente na grade curri-
cular da escola, em que o corpo é o principal referencial a ser considerado 
no trabalho do professor e na ação do aluno.
Atividades
1. Descreva e aponte as principais características do corpo durante 
a Idade Média.
2. Segundo o texto exposto, apresente algumas características de 
movimento, corporeidade e cultura corporal.
3. Conforme apresentado no texto, aponte as principais caracterís-
ticas da simbologia do corpo e a Educação Física.
4. Relacione Educação Física e cultura corporal.
3
Desenvolvimento 
histórico da Educação 
Física no Brasil 
Chegou a hora de estudarmos mais a fundo o desenvolvi-
mento histórico e a trajetória da Educação Física no Brasil. Você 
verá que a Educação Física, com o passar dos anos, apresenta 
diferentes objetivos e acompanha o desenvolvimento histórico do 
Brasil, desde a época do Império até os dias atuais. Ela desempe-
nhou diferentes papéis, tanto quando o foco principal era a saúde, 
como quando era o mero desenvolvimento da técnica, o que faz 
com que a nossa área de estudo tenha uma importância enorme 
em todos os ângulos estudados. Serão cinco períodos abordados 
nesse capítulo: higienista, militarista, pedagogicista, tecnicista 
e crítico. Entretanto, antes de começarmos a leitura sobre essas 
tendências, será explicado de forma breve o contexto político do 
Brasil e como os principais autores e estudiosos aderiram à Edu-
cação Física em nosso país. Boa leitura!
História da Educação Física
– 46 –
3.1 Breve histórico do contexto político do Brasil
Antes de iniciarmos a leitura das tendências da Educação Física e seu 
desenvolvimento, é importante ressaltar brevemente a história do Brasil 
nesse período. Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro proclamou aInde-
pendência do Brasil, caracterizando como fase imperial o período de 1822 
a 1889 (antes do primeiro período que iremos estudar: o higienista). Nessa 
época, a educação continuava elitista e a principal ênfase era para o ensino 
superior, sendo que as poucas medidas adotadas em relação aos outros 
níveis de ensino foram desastrosas. Entre o ensino primário e secundário 
não haviam pontes ou articulações, eram dois mundos que se orientavam 
cada um para uma direção (ARANHA, 1989). A década de 1850 é apon-
tada pelos historiadores como uma época de férteis realizações na área 
da educação, entretanto, essas realizações ficaram restritas em sua grande 
maioria no município da Corte, pela lei em vigor.
Segundo Castellani Filho in Betti (1991, p. 51), a Educação Física 
escolar brasileira teve seu início oficial em 1851, com a Reforma do Couto 
Ferraz, quando o deputado, Luiz Ferreira do Couto Ferraz, apresentou à 
assembleia as bases para a reforma dos ensinos primário e secundário 
no Município da Corte. Três anos depois, em 1854, já como ministro do 
Império, expediu sua regulamentação, e entre as matérias obrigatoria-
mente ministradas no primário estava a ginástica (só para lembrar: nesse 
momento da história, a terminologia ginástica, do grego gymnos, era utili-
zada para diversos movimentos físicos, pois ainda nessa época não havia 
sido criado o termo Educação Física), e no secundário, a dança.
O Decreto n. 1331 de 17 de fevereiro de 1854, apresenta no capítulo 
III, intitulado Das Escolas Públicas, suas condições e regime, a ginástica 
no ensino primário entre outras disciplinas:
Art.47. O ensino primário nas escolas públicas compreende: [...] A 
geometria elementar, agrimensura, deseho linear, noções de música 
e exercícios de canto, gymnastica e hum estudo mais desenvolvido 
sobre pesos e medidas, não só do município da Côrte, como das 
províncias do Império, e das Nações com que o Brasil tem mais 
relações commerciaes (BRASIL, 1854, p. 55).
No dia 19 de abril de 1879, foi decretada a Reforma de Ensino Leôn-
cio de Carvalho. Nessa reforma, estão contidos os célebres pareceres de 
– 47 –
Desenvolvimento histórico da Educação Física no Brasil 
Rui Barbosa, os quais se constituíram, no ano de 1882, num pequeno tra-
tado sobre a Educação Física. A ginástica não foi por ele esquecida, pelo 
contrário, ressalta-se a importância da mesma, precedendo inclusive as 
outras formas de educação (MARINHO, 1975, p. 14).
Para Rui Barbosa, a educação do corpo constituía dever primário da 
existência humana, e esse hábito deveria ser adquirido por meio dos exer-
cícios físicos. O seu pensamento foi o seguinte:
1. instituir em cada escola normal uma seção especial de ginástica;
2. estender a ginástica obrigatoriamente para ambos os sexos, na 
formação dos professores e nas escolas primárias de todos os 
graus, considerando, em relação à mulher, a harmonia das for-
mas femininas e também as exigências da maternidade futura;
3. inserir a ginástica nos programas escolares como matéria de 
estudo, em horários que não os de recreio e depois das aulas;
4. equiparar, em categoria e autoridade, professores de ginástica 
aos das demais disciplinas.
Apesar de todos os esforços, o parecer de Rui Barbosa não foi implan-
tado e, consequentemente, a “ginástica” continuou a sofrer vários tipos 
de resistência por parte da elite dominante na época. Suas ideias foram 
criticadas, o acusaram de materialista, além de fazerem críticas ao seu 
físico frágil. Nessa época, a elite abominava o trabalho manual e a ginás-
tica foi considerada manual, desprovida de valores intelectuais.
Agora sim, daremos início à apresentação dos diferentes períodos 
vivenciados pela Educação Física no Brasil. Bom estudo!
3.2 Período higienista (1889 – 1930)
Nos séculos XIX e XX, houve uma imensa preocupação dos médi-
cos e sanitaristas com o estado de saúde da população, principalmente na 
Europa. Doenças como febre amarela, tuberculose, raquitismo, tifo e varí-
ola atingiram toda a população, o que provocou um aumento no número 
de mortes. Esses acontecimentos fizeram com que diversos pesquisadores 
e estudiosos refletissem sobre as causas e as razões de sua ocorrência, 
História da Educação Física
– 48 –
originando-se uma linha de pensamento denominada “higienismo”, que 
tinha como objetivo identificar os procedimentos e hábitos de indivíduos 
e coletividades para a manutenção da saúde, a qual era compreendida 
naquela época como a ausência de doenças. Dessa forma, possuía como 
característica a proximidade com a prevenção, além do controle da pro-
liferação de doenças. Nessa linha, os padrões e comportamentos sociais 
deveriam ser sempre em prol da saúde, com grande interesse nas áreas de 
Saúde Pública, educação e ensino de novos hábitos. A ideia central dessa 
linha de pensamento é a de valorizar a população como um bem, com 
capital e recursos da Nação (RABINBACH, 1992, p. 38).
Nessa época, houve um aumento da população em grandes cen-
tros urbanos, devido ao crescimento industrial nas cidades, ocasionando 
uma urbanização sem planejamento. À medida em que os trabalhado-
res do campo se deslocavam em direção às cidades, encontravam con-
dições higiênicas precárias. Antes estavam isolados no campo, porém, 
agora estavam todos juntos em ambientes insalubres, fazendo com que 
houvesse uma maior propagação das enfermidades. Os médicos da época 
observaram essa transição e, com formação em administração sanitária e 
saúde pública, se engajaram na busca de intervenções que amenizassem e 
prevenissem os sintomas e a disseminação das doenças. O principal alvo 
de seus estudos foram os operários das indústrias, que tinham ausência 
de salubridade, saneamento básico e assistência social, fatores principais 
para os seus estudos.
Sendo assim, esses médicos observaram que, se a população tivesse 
modos de saúde diferenciados, a disseminação das doenças poderia 
diminuir. Não havia saneamento básico apropriado, e somente a partir do 
século XVIII é que o Estado assumiu esse problema. Antes, quem deve-
ria cuidar dessas questões eram os próprios indivíduos. Como podemos 
observar, os governos praticamente não se preocupavam com a população, 
não existia uma política nacional que voltasse seu olhar para a prevenção, 
nutrição, habitação e saneamento. Com o higienismo, surge uma menta-
lidade de intervenção nessa situação de pobreza, sendo que os principais 
defensores desse movimento utilizaram da ciência para convencer gover-
nos, indústrias e a própria população. Dessa forma, eles fizeram com que 
as pessoas adotassem condutas higienistas nos espaços privados e públi-
– 49 –
Desenvolvimento histórico da Educação Física no Brasil 
cos, dando atenção aos cuidados sanitários, comportamentos sociais, fis-
calização em relação à higiene, sem se descuidar com a classe produtiva 
e trabalhadora.
Apesar de o objetivo do higienismo ser a diminuição das doenças, 
como tinha um caráter de ordem e higiene, acabou sendo visto por alguns 
grupos como preconceito ou discriminação, pois acreditavam que o verda-
deiro sentido de “higienizar” era “descartar” as pessoas que não serviam 
para trabalhar nos grandes centros, agindo a serviço dos interesses das 
classes dominantes.
Figura 3.1 – Período higienista
Fonte: gazetaesportiva.com.
Essa linha de pensamento se expandiu pelo mundo e chegou ao Brasil 
no século XX. Nesse período, aqui no Brasil, havia a tentativa da consoli-
dação da República, dominada pelo poder econômico dos grandes agricul-
tores. Porém, o Estado tinha como principal foco manter a unidade política 
territorial do Brasil, tarefa valorizada no Império. Então, os investimentos no 
exército brasileiro superaram qualquer outra prioridade política. Além disso, 
nessa época, muitos se perguntavam o porquê de o Brasil ser um país sem 
tanto desenvolvimento como os Estados Unidos, referência na época. E foi 
com esses argumentos que surgiu o pensamento intervencionista dos higie-
nistas aqui em nosso país. Esse pensamento