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Direito de Ação e Conflitos Jurídicos

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Ação.
            O Direito objetivo tutela certas categorias de interesses. Ao conflito de interesses regulado pelo direito, temos a relação jurídica:
i)  sujeito ativo ou titular do interesse protegido - direito subjetivo (concorrência da sua vontade); e
ii) sujeito passivo ou do interesse subordinante - obrigação.
            Os conflitos de interesse são regulados pelo direito, devendo os sujeitos se submeter à ordem jurídica. Entretanto, pode ocorrer a resistência de um dos sujeitos em ter o seu interesse subordinado ao outro. Configura-se a lide, que é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, pretensão essa de subordinação de um interesse ao outro.
           Como a lide perturba a paz social, temos que o Estado, ao vedar a autodefesa, reservou para si a função de dirimir a lide e aplicar o direito, ou seja, a função jurisdicional.
            Mas a jurisdição só pode ser exercida quando provocada, ou seja, é necessário que o sujeito exponha a sua pretensão a ser tutelada pelo juiz (art. 2° do CPC). Ao deduzir a sua pretensão, invoca a jurisdição, que aplicará o direito ao caso concreto.
            Esse direito que o indivíduo tem de invocar a tutela jurisdicional do Estado corresponde ao direito de ação.
 
Generalidades. 
            O CPC atual abandona a teoria eclética adotada no CPC anterior e assim afasta as regulamentações do código anterior em que havia alguma referência à categoria “condições da ação” e adota o estudo do exame do interesse de agir e da legitimidade vinculado ao exame dos pressupostos processuais e a da possibilidade jurídica do pedido junto ao mérito.
            Porém não podemos dizer que o exame da legitimidade da parte, do interesse de agir e da possibilidade jurídica do pedido deixe de existir no novo código de processo civil, mas apenas que as condições da ação serão eliminadas como um conceito autônomo.
            Na novel legislação o exame funde-se ao binômio admissibilidade/mérito, portanto as questões que compõem o conceito de condições da ação passam, assim, a ser analisadas enquanto questões de mérito, no caso da possibilidade jurídica, ou como pressupostos processuais, na hipótese da legitimidade e interesse.
 
Conceito de ação.
            Esse pedido de tutela jurisdicional, essa provocação da jurisdição é chamada de direito de ação. A doutrina conceitua ação como:
i. o direito subjetivo que consiste no poder de produzir o evento a que está condicionado o efetivo exercício da função jurisdicional (Enrico Tulio Liebman);
ii. o direito de invocar a função jurisdicional (Moacyr Amaral dos Santos); ou ainda
iii. o direito ao exercício da atividade jurisdicional (Ada Pellegrini)
 
Natureza Jurídica.
            A doutrina costuma classificar as teorias que tratam da ação em teorias monistas (unitária) e dualista, tomando por critério pertencer tal conceito tão somente ao plano do direito material ou tão somente ao direito processual (teorias unitárias), confrontando-se a formulação que a identifica em ambos os planos jurídicos (teoria dualista).
 
· Teoria Civilista - Com base no direito romano a ação era o direito de pedir em juízo o que se é devido (nihil aliud est actio quan ius, quo sibi debeatur, in indicio persequendi), ou seja, a ação, como processo, era simples capítulo do direito privado, do direito civil. Disso era possível extrair três consequências inevitáveis: não há ação sem direito; não há direito sem ação; e a ação segue a natureza do direito.
 
Polêmica entre Windscheid e Müther - Na Alemanha surgiu uma polêmica que se tornou famosa, entre Windscheid e Müther sobre incorporação da actio romana no direito contemporâneo. Para Windscheid, a actio era o próprio direito material e não um novo direito, surgido da violação daquele. Müther, confrotando as idéias de Windscheid, diferenciou o direito lesado do direito de ação. Segundo ele, a ação seria o direito à tutela do Estado, competindo tal direito a quem teve seu direito ofendido. Desta forma, distinguiu-se o direito subjetivo (direito a ser tutelado), do direito de ação (direito subjetivo público).
 
As principais críticas à teoria civilista dizem respeito à ação declaratória. Verifica-se que muitas são julgadas improcedentes, pois a sentença julgada infundada à pretensão do autor, isto é, houve exercício da ação até a improcedência, portanto existiu ação sem direito material.
 
· Teoria do Direito Concreto à Tutela - Adolpho Wach defendeu que ação é um direito autônomo, pois não tem por base um direito subjetivo ameaçado ou violado, assim também é possível a existência da ação para se obtiver uma simples declaração da existência ou inexistência de uma relação jurídica. A ação é dirigida contra o Estado (direito de exigir proteção jurídica) e também contra o adversário (do qual se  exige a sujeição). Porém  o direito de ação só existiria quando a sentença fosse favorável. A ação seria um direito público e concreto, ou seja, um direito existente em casos concretos em que existisse direito subjetivo a ser tutela.
 
Tal teoria não pode ser aceita, pois com a improcedência da demanda nada poderia se dizer a respeito dos atos processuais praticados até a sentença. E ainda não se pode conceber que toda ação seja dirigida contra o Estado propriamente dito.
 
· Teoria da Ação como direito potestativo – Para Chiovenda a ação é um direito autônomo, mas a ação não se dirige contra o Estado, mas sim contra o adversário (direito de provocar a atividade jurisdicional contra o adversário). Dessa forma o direito de ação seria um direito potestativo (direito de poder) tendente à produção de um efeito jurídico a favor de um sujeito e com ônus para outro, o qual nada pode fazer para evitar a atuação da lei. Tal teoria falha, pois os direitos potestativos caracterizam-se mais por serem meras faculdades quanto ao exercício do direito e não uma obrigação.
 
· Teoria da Ação no sentido abstrato – De acordo com Degenkolb (Alemanha) e com Plosz (Hungria), a chamada teoria da ação no sentido abstrato em confronto com as teorias que concebem a ação como direito de obter uma providência jurisdicional favorável no sentido concreto. Para eles o direito de ação independe da existência efetiva do direito invocado, pois basta apenas uma referência a um interesse a ser tutelado em abstrato pelo direito, para que o Estado exerça sua atividade jurisdicional, proferindo uma sentença, mesmo que contrária.
 
· Teoria Eclética da Ação - Tal teoria aponta que o direito de ação é autônomo e abstrato, e que ele só existirá se no processo estiverem presentes condições que o legitimem, isto é, que exista uma situação de fato, que só possa ser resolvida elas vias jurisdicionais. As condições da ação para a teoria eclética são: possibilidade jurídica do pedido, o legítimo interesse, e a legitimação para agir.
 
            A doutrina dominante até o CPC de 1973 era ligada a teoria eclética da ação, contudo o atual código se afastou dela ao excluir a possibilidade jurídica das hipóteses de condições da ação, e ao tratar o exame do interesse e da legitimidade como pressupostos para apreciação do mérito.
 
Condições da Ação. Conceito. 
            Para Frederico Marques condições da ação são os “requisitos necessários, conexos à pretensão formulada pelo autor, para que o Estado-Juiz dê por legítimo o exercício do direito de ação, com a justa composição da lide (se atendidos os pressupostos processuais)”.
            “São requisitos que a ação deve preencher para que se profira uma decisão de mérito.” nos dizeres de Moacyr Amaral dos Santos.
            Para Antonio Carlos Marcato as condições da ação “são os requisitos de existência do direito de ação”.
            Contudo convém relembrar que no novo CPC as condições da ação deixam de ser um conceito autônomo e passam a ser analisadas como pressuposto processual.
 
Carência da ação. 
            A Ação é o direito de se invocar a tutela jurisdicional.
            A Jurisdição, por sua vez, tem a função de aplicar o direito ao caso concreto.
            Entretanto,para que a jurisdição seja exercida, necessária a provocação do Estado-Juiz, com a consequente instauração do processo, formação da relação jurídica processual e regular processamento com a final prolação de uma sentença de mérito.
            Mas para que esse exercício ocorra são necessários certos requisitos ou condições, que dão existência ao direito de ação, para que seja proferida uma sentença de mérito, ou seja, antes de analisar o próprio pedido do autor, necessário se faz verificar se esse pedido pode ser conhecido pelo Estado.
O anterior CPC indicava como condições da ação: a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade das partes (legitimatio ad causam).
Contudo atual CPC inovou e excluiu a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação, e manteve apenas o interesse a legitimidade das partes como condições da ação/pressuposto processual.
Isso é o que se depreende da redação do artigo 17 do CPC vigente:
Art. 17.  Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
            Interesse de agir – pode ser basicamente definido como a verificação da necessidade e da utilidade da tutela jurisdicional requerida.
            Legitimidade para a causa – é o elemento verificador da pertinência subjetiva da ação. A legitimação indica para cada processo as partes legítimas, ou seja, as pessoas que devem estar presentes, para que o juiz possa enfrentar o mérito.
 
Classificação das ações.
            A doutrina conhece vários critérios de classificações das ações, mas o que permanece, a tendência moderna é a classificação tendo em vista a providência jurisdicional.  Isto porque a ação é o meio de provocar a tutela jurisdicional, ou seja, de solicitar uma providência jurisdicional.
            Conforme se trate de tutela jurisdicional de conhecimento, de execução, preventiva ou cautelar, classificam-se as ações em de conhecimento, de execução e cautelares.
 
· Ações de Conhecimento - provocam uma providência jurisdicional que reclama um processo regular de conhecimento. O processo se diz de conhecimento, pois é através dele que o juiz conhecerá da pretensão do autor, o motivo da resistência do réu, tomará contato com as provas para só então proferir uma sentença.
 
As ações de conhecimento subdividem-se em três grupos:
 
· ações meramente declaratórias: buscam apenas e tão somente uma declaração, quanto a existência ou inexistência de uma relação jurídica. O conflito entre as partes está na incerteza da relação jurídica;
· ações condenatórias - são as que buscam a imposição de uma sentença condenatória, ou seja, que imponha uma sanção ao réu.; e
· ações constitutivas – nas ações constitutivas a parte busca a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica.
 
· Ações Executivas - São as que provocam providências jurisdicionais de execução, ou seja, pede-se a realização da atos executórios que tornem efetiva a sanção.
· Ações Cautelares - visam providências urgentes e provisórias, tendentes a assegurar a possibilidade de realização do direito no futuro. Em razão da providência solicitada pela ação cautelar visar assegurar os efeitos da sentença a ser proferida no processo de conhecimento, ou do ato executório no processo de execução, aquela providência é provisória, portanto vigorará apenas enquanto se aguarda a sentença.
 
A doutrina também apresenta outras classificações:
a) Quanto à natureza do direito - ações reais: visam a tutela de um direito real;  ações pessoais: visam a tutela de um direito pessoal, isto é de uma obrigação.
b) Quanto ao objeto – ações mobiliárias: são as que versam sobre coisas móveis, bens móveis; ações imobiliárias: versam sobre bens imóveis.
 
Exercício 1: 
Segundo José de Albuquerque Rocha, em sua obra intitulada “Teoria Geral do Processo”, a doutrina reconhece vários critérios de classificação das ações, sendo que, o critério prevalente, é aquele que se funda na espécie de provimento requerido pelo autor ao juiz. Por este critério, as ações são classificadas em ações de conhecimento, ações de execução e ações cautelares. As primeiras são aquelas que tendem a provocar um juízo, ou seja, um julgamento sobre a situação jurídica afirmada pelo autor; já as segundas visam justamente pedir ao Estado a realização prática de meios coativos do comando contido na sentença ou em outro documento que a lei reconheça a eficácia executiva; e finalmente, as terceiras visam assegurar e garantir o eficaz desenvolvimento e o profícuo resultado de outra demanda. As ações de conhecimento, por sua vez, se dividem em ações condenatórias, ações declaratórias e ações constitutivas. Se “A” afirma ser titular de direito a indenização, em razão de dano que lhe tenha sido causado por “B”, por exemplo, em razão de um acidente de trânsito ou acidente de trabalho:
 
 
 
 
A) 
o meio para obtenção de provimento jurisdicional que resolva essa lide será a ação de conhecimento, onde as partes têm a oportunidade ampla de produção de provas;
B) 
o meio para obtenção de provimento jurisdicional que resolva essa lide será a ação de execução, onde as partes têm a oportunidade ampla para coativamente fazer valer seu direito;
C) 
o meio para obtenção de provimento jurisdicional que resolva essa lide será a ação cautelar, onde as partes têm a oportunidade de preservar desde logo, o resultado prático de uma demanda;
 
D) 
o caminho adequado para obter um resultado prático para a lide é não se dá através da ação;
E) 
nenhuma das alternativas anteriores.
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Exercício 2: 
A ação, como direito publico e subjetivo de invocar a prestação jurisdicional, independente de ser favorável ou não, ao postulante, e de natureza:
 
 
 
 
 
 
A) 
Concreta;
B) 
Abstrata;
C) 
Mista;
D) 
Privada;
E) 
Nenhuma das alternativas esta correta.
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Exercício 3: 
As ações declaratórias:
 
 
 
 
 
A) 
São as que conferem ao vencedor o poder de pedir a seu favor, a execução judicial;
B) 
São aquelas nas quais o interesse do reclamante limita-se à afirmação da existência ou inexistência de uma relação jurídica;
C) 
São as que visam a realização coativa de um direito legalmente certo;
D) 
São as que, sem se limitarem à simples declaração de um direito e sem estatuir uma condenação do reclamado ao cumprimento de uma prestação, criam, modificam ou extinguem um direito ou uma relação jurídica.
E) 
Nenhuma das alternativas anteriores.
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Exercício 4: 
As ações condenatórias:
A) 
São as que conferem ao vencedor o poder de pedir a seu favor, o cumprimento da decisão judicial;
B) 
São aquelas nas quais o interesse do autor limita-se à afirmação da existência ou inexistência de uma relação jurídica;
C) 
São as que visam a realização coativa de um direito legalmente certo;
D) 
São as que, sem se limitarem à simples declaração de um direito e sem estatuir uma condenação do réu ao cumprimento de uma prestação, criam, modificam ou extinguem um direito ou uma relação jurídica.
E) 
Nenhuma das alternativas anteriores
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Exercício 5: 
As ações de execução:
A) 
São as que conferem ao vencedor o poder de pedir a seu favor, a execução judicial;
B) 
São aquelas nas quais o interesse do autor limita-se à afirmação da existência ou inexistência de uma relação jurídica;
C) 
São as que visam a realização coativa de um direito legalmente certo;
D) 
São as que, sem se limitarem à simples declaração de um direito e sem estatuir uma condenação do réu ao cumprimento de uma prestação, criam, modificam ou extinguem um direito ou uma relação jurídica.
E) 
Nenhuma das alternativas anteriores.
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Exercício 6: 
O princípio “ne procedat judex ex oficio” significa dizer que:
A) 
o juiz é impedido de conhecer das condições da ação, sem provocação da parte.
B) 
os pressupostosprocessuais devem ser, sempre, arguidos pelos interessados.
C) 
O juiz só prestará a tutela jurisdicional quando provocado pela parte ou o interessado, nos casos e na forma legais.
D) 
O juiz não deve declarar, de ofício, a incompetência absoluta.
E) 
Tratando-se de direitos patrimoniais, o juiz pode, de ofício, declarar a prescrição.
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