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Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • Igualdade de Oportunidades • Diálogo Intercultural • Integração • E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade nas empresas Argumentário E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas ENTIDADES CONCEPTORAS • ARESP - Associação da Restauração e Similares de Portugal • CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego • DGACCP – Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas (Entidade Interlocutora) • IEFP – Instituto de Emprego e Formação Profissional • SDC - Sair Da Casca E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade nas empresas Um argumentário sobre cidadania empresarial E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas Índice 1. … E se fosse consigo? 2. O mercado é livre mas não vale tudo 2.1 A não discriminação de imigrantes 2.2 A não discriminação de pessoas de outras minori as culturais 2.3 Mas o que é a discriminação? 2.4 A igualdade de género 2.5 Conhecer os factos e o direito 3. Não basta o mínimo: a cidadania empresarial 4. A diversidade: elemento da cidadania empresarial 4.1 O que implica a diversidade: custos e benefício s 4.2 1º patamar - Respeitar os direitos humanos e cu mprir a lei 4.3 2º patamar - Prevenir riscos de imagem negativa e de perda de reputação 4.4 3º patamar – Provar o seu envolvimento socialm ente responsável 4.5 4º patamar – Optimizar a gestão dos recursos hu manos 4.6 5º patamar – Melhorar o desempenho económico da empresa 5 A atitude pró-activa e as boas práticas 6 Para mais desenvolvimentos sobre ... ♦ Categorias de empresas ♦ Igualdade de género ♦ Iniciativa Comunitária EQUAL ♦ Inovação ♦ Responsabilidade social das PME em Portugal ♦ Sítios relativos a comunidades culturais minoritári as E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 3 ♦ Sítios relativos a migrantes e migrações internacio nais 7 Bibliografia consultada e outra que também se rec omenda Notas E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 4 1. E se fosse consigo? A lei proíbe a discriminação. Mas muita gente acha que a discriminação é lucrativa. Fala-se das vantagens da diversidade de recursos hu manos nas empresas. Mas muita gente acha que a tal diversidad e só compensa, se for óbvio que vai reduzir custos. E se não fosse assim? O Argumentário que tem nas mãos - produto do Projec to “Migrações e Desenvolvimento” apoiado pela Iniciativa Comunitári a EQUAL 1, concebido e desenvolvido para facilitar a não discr iminação, a inserção sócio-económica da população migrante e de comunida des culturais minoritárias e o diálogo intercultural na sociedade portuguesa - propõe-lhe uma reflexão sobre estes temas, no âmbit o do actual debate sobre ‘cidadania empresarial’, ou ‘responsabilidade social das empresas’, ou ‘espírito empresarial responsável’. Acha que isto é tudo conversa? Que nada disto é con sigo? Que não é para si uma prioridade? Ou que é assunto para grand es empresas? Talvez mesmo só para multinacionais? E se a concorrência não pensar assim e a sua empres a for ficando para trás? Não será consigo? E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 5 2. O mercado é livre mas não vale tudo A concorrência tem regras que importa respeitar com lealdade. São regras básicas do mercado de trabalho a proibição da discriminação de imigrantes ou pessoas de outras comunidades culturais e a proibição da desigualdade de género. 2.1 A não discriminação de imigrantes Decerto conhece empresas que só querem trabalhado res/as estrangeiros/as sem autorização de residência e de trabalho… ... pagam-lhes salários inferiores ao exigido por L ei ou pelos Contratos Colectivos, ninguém desconta para impostos ou para a Segurança Social, desprezando a protecção socialdesses/as trabalhado res/as, aproveitam a sua maior vulnerabilidade - eles/as aceitam tudo, s e se queixarem podem ter que voltar ao país de origem, não mudam de enti dade patronal … E se fosse consigo? Acharia bem que só por estar no estrangeiro abusass em de si, da sua dignidade e do seu trabalho, mesmo que no fim ganha sse mais do que na sua terra? De certo conhece empresas a quem só interessa contr atar pessoas estrangeiras se puderem beneficiar das suas qualificações ou de hor ários de trabalho muito prolongados alegando que produzam mais, sem ter que pagar por isso o que o direito manda ... E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 6 E se fosse consigo? Acharia bem que só por estar no estrangeiro o seu t rabalho fosse desvalorizado, mesmo que no fim ganhasse mais do qu e na sua terra? Em Portugal • rara será a pessoa que não tem ou não teve um emigrante na família • conhecemos as dificuldades e a coragem, o sofrimento e o esforço de quem saiu para melhorar a vida. E melhorou ou não. • sabemos por experiência secular, que a mobilidade é inerente ao ser humano. Que ela nasce da necessidade de procurar uma qualidade de vida melhor que abarque não só o enriquecimento material, mas também o crescimento, enquanto pessoa e indivíduo, que através da troca de conhecimentos e experiências adquire novas competências. Mas também sabemos que as migrações internacionais decorrem de factores muito diversos de atracção e de recusa que os países exercem sobre as pessoas e que podem estar ligados a desequilíbrios demográficos, a assimetrias de crescimento económico, a efeitos decorrentes da globalização, a oferta de trabalho mais compensador, a instabilidade social e política de certas regiões, a razões culturais opressoras da dignidade, da saúde e do desenvolvimento humano, a condições a transformações na área da informação e da comunicação, a maior acessibilidade e rapidez dos transportes, a oferta de condições atraentes de investimento, a oferta académica, a condições de investigação ou de desenvolvimento de carreira, a iniciativa individual e capacidade de risco, ao aproveitamento sem escrúpulos de vulnerabilidades várias, a motivações pessoais diversas • sabemos que a mobilidade pode trazer vantagens: económica, demográfica, financeira, cultural. Mas para que produza desenvolvimento, há que ter em conta a dimensão cidadã de todas E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 7 as pessoas - muitas vezes pouco conscientes da sua própria dignidade laboral numa avidez acossada e febril pelo ganhar o máximo no tempo mínimo - e o investimento na aprendizagem intercultural e na inclusão, pelo que importa estruturar uma sociedade coesa na diversidade, solidária, respeitadora da qualidade de vida, do progresso social e da pluralidade de culturas e não descaracterizadora das diferenças e das identidades, à luz dos direitos humanos e do Estado de direito democrático, afinal o núcleo duro da nossa organização social. Há pois que não perder de vista • que muitas vezes os migrantes – para grande satisfação de muitas entidades patronais – apostam em factores de competitividade desleais face aos/as trabalhadores/as do país de acolhimento, a quem coube muito do longo esforço de negociação que conduziu ao progresso nas condições de trabalho, designadamente em matéria de higiene, saúde e segurança no trabalho; • que o trabalho não é apenas uma fonte de rendimento, mas um factor de aprendizagem, de realização pessoal e de desenvolvimento humano. Na nossa sociedade e com a nossa Constituição, o trabalho não deve ser uma forma de desumanização, ainda que auto-infligida • que importa evitar o perigo social de que as empresas regridam na qualidade das condições de trabalho que propiciam • que a cidadania no trabalho é um bem público e um factor de coesão social e competitividade das empresas, a preservar por todos os agentes económicos, incluindo as pessoas migrantes. Assim, E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 8 Se ouvir dizer que: Tenha presente que: “Os portugueses querem muito um emprego não é um trabalho” – “O que eu vejo é que os nacionais não querem trabalhar, preferem estar no fundo de desemprego…não lhes compensa virem trabalhar” “Trabalhar no campo já não é tão atractivo… por isso recorremos muito à mão-de-obra estrangeira” “…há também a disponibilidade para trabalhar mais que os portugueses, pois o seu objectivo é exclusivamente laboral, pelo que trabalham mais horas, mais dias, ao sábado…por eles trabalhavam no Natal, Páscoa e Ano Novo, nós é que não deixamos A crescente escassez de mão-de-obra nacional para a execução de tarefas simples, eminentemente físicas e com exigência mínima de qualificações veio a constituir terreno fértil para uma ocupação massiva destes postos por imigrantes – serventes, fiéis de armazém, empregados de mesa, copeiros, trabalhadores agrícolas, empregados de limpeza, são alguns dos exemplos. Perante este cenário-tipo, com variantes e agravamentos consoante os diversos sectores de actividade, as empresas não equacionam facilmente o desenvolvimento das suas actividades económicas sem o recurso a estrangeiros que aceitam condições de trabalho menos exigentes que os nacionais, adiando sistematicamente a sua modernização e, consequentemente, a sua competitividade internacional, e reduzindo a sua capacidade de atracção para trabalhadores/as portugueses/as que tal como no passado, continuam a procurar no estrangeiro condições de trabalho mais interessantes e fazendo perder à comunidade nacional o talento que põem ao serviço do desenvolvimento alheio. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 9 Mas também … É comum ouvir dizer que ... E já pensou que ... “Só contrato um trabalhador estrangeiro como última escolha.” Quando contrata um/a trabalhador/a imigrante, este/a pode ter qualificações que podem ser muito bem aproveitadas pela entidade empregadora, no sentido aumentar a produção e competitividade daquela. O relacionamento interpessoal, e a troca de experiências entre o/as trabalhadores/as podem ser uma mais valia para a empresa. “É uma dor de cabeça contratar um trabalhador imigrante.” A dor de cabeça passa a partir do momento que o/a contrata, e ao cumprir todas as exigências legais, este/a torna -se um cidadão ou cidadã de pleno direito porque com a sua força de trabalho está a contribuir para a riqueza do nosso país e por conseguinte para o bem-estar de todas as pessoas. Aliás, o Código do Trabalho consagra2 que o/a trabalhador/a estrangeiro/a que esteja autorizado/a a exercer uma actividade profissional subordinada em território português goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres do/a trabalhador/a com nacionalidade portuguesa. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 10 “Temos o trabalho de os legalizar, mas quando conseguem a legalização desaparecem.” Todo o/a trabalhador/a que se sinta bem no seu local de trabalho de certo que não o pretende trocar por um outro que é incerto. “Os imigrantes mudam de trabalho com muita frequência, alguns só querem que as empresas os ajudem a regularizar os respectivos documentos.” “O mal desta gente é que troca de trabalho muito rapidamente…basta ganhar um bocadinho mais, mas esquecem-se que o outro trabalho pode não ter a permanência que este tem…” A mobilidadehorizontal é uma característica dos/as trabalhadores/as imigrantes. Motivados pelos seus objectivos financeiros estes/as trabalhadores/as tendem a mudar de emprego com frequência na busca de melhores salários ou de melhores horários, que permitam a acumulação com outras actividades remuneradas. A solução poderá passar pela negociação que permita reavaliar as motivações do/a trabalhador/a para permanecer na empresa, incluindo a possibilidade de uma carreira e de trabalho duradouro. “Os imigrantes vêm tirar o trabalho aos que estão cá…” Apesar de esta ser uma análise muito simplista, já que a concorrência é, em geral, pouco relevante nos mesmos segmentos do mercado de trabalho, há que ter presente que os níveis de qualificação de nacionais, a sua falta de formação técnica e profissional, a sua baixa mobilidade interna e a estrutura do nosso mercado que aposta em baixos salários, têm aspectos que podem limitar o E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 11 acesso trabalhadores/as portugueses/as aos segmentos mais elevados do mercado. Assim, há trabalhadores/as portugueses/as que podem ficar mais expostos/as a uma maior concorrência perante os/as imigrantes mais qualificados/as, o que, mesmo sem reconhecimento oficial de habilitações, acaba, por se reflectir negativamente na respectiva progressão profissional. De qualquer modo, também esta concorrência pode constituir motivação para uma maior qualificação do trabalho nacional. Importa recordar também que a presença de trabalhadores/as estrangeiros/as é, muitas vezes, em si mesma, fonte de novos empregos para nacionais ou da manutenção dos postos de trabalho destes (em que os/as professores/as são exemplo claro). CONTRARIANDO OS MITOS ASSOCIADOS ÀS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS, � A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS MIGRAÇÕES (OIM) AFIRMA3: E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 12 • As receitas geradas pela imigração são superiores a os custos suportados pelos países de acolhimento. • Grande número das inquietações que a migração susci ta, como a perda de empregos, a queda dos salários, o aument o das despesas da segurança social e a crença de que as m igrações escapam a qualquer controlo são não apenas exagerad as ou infundadas, mas também contraditadas pelos factos • Na Europa ocidental é raro haver concorrência direc ta entre imigrantes e trabalhadores/as locais, uma vez os/as trabalhadores/as estrangeiros/as, muitas vezes ocup am postos de trabalho que a força laboral local não quer. • Quanto às despesas de saúde e de segurança social, não há motivo para pensar que os/as trabalhadores/as imigr antes em situação regular sejam um peso maior do que a popul ação do país de acolhimento, uma vez que também pagam os se us impostos. Quem não está regularizado está pouco inc linado a recorrer a serviços estatais, pelo que, na realidad e, não constituem encargo adicional significativo � AS NAÇÕES UNIDAS EVIDENCIAM 4 que Os imigrantes dão uma substancial contribuição para aliviar a carga fiscal de gerações futuras em países da Europa com baixa fertilidade � A OCDE SALIENTA 5 que A imigração cria procura de bens e serviços produzi dos pela população hóspede com impacto positivo no emprego � O ALTO COMISSARIADO PARA A IMIGRAÇÃO E AS MINORIAS ÉTNICAS SUBLINHA 6 que E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 13 As maiores taxas de desemprego estão em países com baixas percentagens de imigrantes e os países com maiores percentagens de imigrantes, têm taxas de desemprego relativament e baixas (Canadá, Austrália, EUA, Suíça) “Do confronto entre uma visão cosmopolita europeia da qual nós portugueses fomos e somos fortemente tributários, e visões nacionalistas estreitas resultará a possibilidade de resolução – ou não - das tensões em alta no mundo”. Roberto Carneiro7 2.2 A não discriminação de pessoas de outras minorias culturais Quantas vezes ouviu dizer de pessoas ciganas, que o que elas não querem é trabalhar? Mas sabe que há ciganos/as inscritos/as nos Centros de Emprego aguardando colocação? E sabe que há ciganos e ciganas que entram e se man têm no mercado de trabalho? Tem presente que as pessoas ciganas que vivem em Po rtugal são portuguesas com um estatuto igual a qualquer portug uês ou a qualquer portuguesa? E se fosse consigo? Sabe-se que a imagem muitas vezes associada a pessoas ciganas é a de que são fontes de conflito, que não aceitam qualquer trabalho, que não respeitam as regras das empresas, que faltam muito. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 14 Mas a associação sistemática a uma imagem negativa, a recusa e o receio da convivência, não será cada vez mais propícia a uma espiral de fechamento, de auto-defesa individual e em grupo, de desvalorização e de recusa da cultura dominante por parte das comunidades ciganas e dos seus membros? Estaremos pessoas ciganas e não ciganas ‘condenadas’ ao desentendimento? Num Estado de direito democrático uma tal ‘condenação’ parece inaceitável. Melhorar a situação das pessoas ciganas na União Europeia é um dos objectivos que esta se propõe desenvolvendo iniciativas e apoiando financeiramente projectos neste âmbito, nomeadamente para melhorar o conhecimento da realidade sobre aquelas pessoas e comunidades. Existe uma grande ignorância a propósito de ciganos, que por causa de estereótipos têm tendência a ser percebidos como um grupo uniforme, partilhando uma identidade comum e as mesmas características, que são ou muito romanceadas ou extremamente negativas. Com efeito, os milhões de ciganos da Europa são tão diversos como qualquer outro grupo étnico, com línguas, culturas e circunstâncias locais diferentes, e também com competências e aptidões diversificadas. Se eles próprios possuem um sentido comum da sua identidade cigana, é muitas vezes porque partilharam as mesmas experiências de discriminação e de exclusão. É preciso mudar a percepção geral sobre os ciganos e desmistificar a imagem que se faz deles, substituir o estereótipo pela E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 15 realidade. Livia Járóka Húngara, cigana, diplomada em Antropologia Social, membro do Parlamento Europeu8 Por outro lado, um estudo recente9 promovido pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas – ACIME – conclui no sentido de que: Quando dispunham de informação objectiva, os participantes não diferenciavam o desempenho dos protagonistas cigano e português. Este facto abre, talvez, uma via interessante para a intervenção ao nível da integração dos ciganos, se esta for, de facto, por eles desejada. A discriminação subtil surge, sobretudo em condições que reproduzem a real ausência de informação individualizante acerca dos membros da comunidade cigana que encontramos, junto da comunidade maioritária no quotidiano. O confronto desta última com esse tipo de informação poderá contribuir para uma percepção das competências dos membros da comunidade cigana enquanto indivíduos particulares, mais do que enquanto elementos associados de modo indiferenciado ao estereótipo do seu grupo . E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 16 São as pessoas ciganas, os indivíduos particulares que têm ou não, mas que podem vir a ter, competências para ocupar determinado posto de trabalho. São conhecidas as suas competências como vendedores e como vendedoras. Ou como artesãos e artesãs. Ou como mediadores/as.Ou como prestadores/as de cuidados. Não será de avaliar novas possibilidades de emprego nas áreas onde se sentem bem, reforçando com formação profissional adaptada os seus saberes e competências? Não será esta inovação uma forma de ultrapassar muitos dos erros que ao longo de muito tempo, de parte a parte, se têm cometido? E se fosse na sua empresa a inovar neste domínio? E se fosse consigo? 2.3 Mas o que é a discriminação? Refere a Comissão Europeia, Será difícil concretizar os ambiciosos objectivos estratégicos de Lisboa, enquanto grupos consideráveis da população da EU estiverem excluídos de um emprego, de uma formação ou de outras oportunidades. Para desenvolver uma sociedade e uma economia mais competitivas e dinâmicas, colhendo os frutos da diversidade, torna-se imperativo eliminar a discriminação 10 E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 17 Para o direito nacional11, constitui discriminação uma ordem ou instrução que tenha a finalidade de prejudicar pessoas em razão, nomeadamente de ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação familiar, património genético, capacidade de trabalho reduzida, deficiência ou doença crónica, nacionalidade, origem étnica, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação sindical, território de origem, língua, raça, instrução, situação económica, origem ou condição social. Mas não constitui discriminação o comportamento baseado num dos factores indicados no número anterior, sempre que, em virtude da natureza das actividades profissionais em causa ou do contexto da sua execução, esse factor constitua um requisito justificável e determinante para o exercício da actividade profissional, devendo o objectivo ser legítimo e o requisito proporcional.12 Acresce que a lei nacional distingue dois tipos de discriminação: Discriminação directa Sempre que, em razão de um dos factores atrás indicados, uma pessoa seja sujeita a tratamento menos favorável que aquele que é, tenha sido ou possa vir a ser dado a outra pessoa em situação comparável13. Ex: Num anúncio de oferta de emprego, a presença de critérios sobre a nacionalidade sem que a natureza do posto de trabalho o justifique. Discriminação indirecta Sempre que uma disposição, critério ou prática aparentemente neutro seja susceptível de colocar pessoas que se incluam num dos factores característicos atrás indicados, numa posição de desvantagem E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 18 comparativamente com outras, a não ser que essa disposição, critério ou prática sejam objectivamente justificados por um objectivo legítimo e que os meios para o alcançar sejam adequados e necessários14 Ex: A exigência de competências linguísticas aprofundadas para a promoção sem que a natureza do futuro posto de trabalho o justifique, pode afastar estatisticamente migrantes ou elementos de comunidades culturais com baixa escolaridade A proibição de discriminação, no entanto, não afecta o direito de uma entidade patronal seleccionar os seus recursos humanos em função de critérios objectivos e legítimos. Mas como qualquer direito, também este não é absoluto. Tem como limite a igual dignidade de qualquer ser humano. 2. 4 A igualdade de género De certo conhece empresas que contratam mulheres pa ra lhes pagar menos do que pagariam a homens ... ... ‘elas conformam-se mais, têm menos mobilidade, têm mais paciência, sabem que lhes é mais difícil conseguir emprego ou manter-se nele’ ... De certo conhece empresas que não contratam mulhere s jovens ou em período fértil porque podem engravidar e depois fal tam ... E se fosse consigo? Ou com uma filha sua? Gostaria que depois de um investimento pessoal e fi nanceiro em estudo e preparação profissional lhe dissessem – ou à sua fi lha - que não lhe E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 19 davam emprego porque podia ter crianças e isso era um problema para a empresa? Acha que ter filhos ou filhas é um problema das mul heres, que elas devem resolver ... não tendo? De certo conhece empresas que desincentivam o traba lhador quando é pai a usufruir da licença de paternidade, ou da lic ença parental ou de outras licenças de apoio à família ... E se fosse consigo? Ou com um filho seu? Gostaria que lhe fosse negado o direito a cuidar da sua criança, como se o pai não tivesse direitos e deveres iguais relativamente aos filhos? Por quanto tempo continuaremos a negar às crianças, nos seus primeiros tempos de vida, a atenção do pai, o olhar do pai? Por quanto tempo recusaremos a modernidade simples e humanista de que o trabalho humano não é apenas um factor de produção, mas uma dimensão entre outras – como a família - da pessoa, também ela vista como um ser global? Por quanto tempo continuaremos a recusar aos homens o direito à participação equilibrada na vida familiar, prejudicando-os no seu relacionamento afectivo, na partilha de poder no espaço privado, no desenvolvimento das suas competências de cuidado, de paciência, de resolução pacífica dos conflitos e de disponibilidade para o trabalho não pago em dinheiro, em prestígio ou em poder na esfera pública? E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 20 Por quanto tempo continuaremos a recusar às mulheres o direito à participação equilibrada no trabalho pago e na vida política, prejudicando-as no seu desenvolvimento humano? É inegável a centralidade do trabalho remunerado na sociedade em que vivemos. Ele é não só criador de riqueza, mas fonte de rendimento, de identidade individual e social. Mas, é igualmente inegável que há outras dimensões da vida a ter em conta e que envolvem formas de trabalho não remunerado (das quais o trabalho doméstico e a prestação de cuidados à família serão as mais generalizadas) e outros tipos de actividade, de lazer e descanso. Não é indiferente ser homem ou mulher no emprego, como o não é no que se refere às tais outras dimensões da vida. E as assimetrias da participação de uns e de outras são evidentes. Os homens investem mais no trabalho que é remunerado e socialmente mais valorizado. As mulheres, para além da actividade profissional, asseguram a maior parte do trabalho não remunerado e socialmente menos valorizado. De facto, as mulheres saíram da exclusividade da vida privada. Participam na esfera pública, mas à custa muito mais do acumular de tarefas do que de uma verdadeira partilha de tarefas e responsabilidades com os homens. À sua entrada na esfera pública e, em particular no emprego, não corresponderam mudanças suficientemente adequadas nem no sistema global nem na concepção e organização do trabalho, nem na participação dos homens na vida privada, com prejuízos para as mulheres, pela sobrecarga de trabalho e não reconhecimento do contributo efectivo do trabalho não remunerado para a sociedade, com prejuízos para os homens já que os desfavorece no exercício dos seus direitos e deveres na esfera familiar, com prejuízos para a sociedade em geral que não encontrou ainda formas de equilíbrio e de bem-estar e de aproveitamento cabal das potencialidades e competências de todos os seres humanos que dela fazem parte. Por tudo isto, E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 21 … é comum ouvir dizer que ... Mas há que ter em conta que ... “Há profissões que só os homens ou só as mulheres podem desempenhar” Cada ser humano é um ser único com capacidades e competências distintas. Não as aproveitar é um desperdício de talentos e recursos que podem ser vitais para o desempenhoda empresa. A realidade demonstra que mulheres e homens desenvolvem competências, realizam aprendizagens, obtêm qualificações e experiências nas mais variadas áreas profissionais, estando a qualidade do seu desempenho associada a outros factores que não o facto de ser homem ou mulher. A diversidade das mulheres é tão grande quanto a diversidade dos homens e, em abstracto, não se pode confundir o hábito de só ver mulheres ou homens em determinadas profissões – por força de papéis sociais obsoletos que ligam os homens principalmente à produção e as mulheres principalmente à reprodução - com a capacidade concreta de desempenho de cada ser humano em função das suas características próprias e não exclusivamente do seu sexo. “Vou colocar anúncio no jornal, para Pelos motivos atrás indicados, a lei15 E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 22 recrutar uma pessoa para a função “x” Mas, só quero uma mulher…” ou “…só quero um homem” proíbe a publicação de anúncios de oferta de emprego que contenham restrições, especificações ou preferências em função do sexo, sendo que nem as entidades empregadoras o podem fazer nem os órgãos de comunicação social os podem publicar, sob pena de incorrerem na aplicação das sanções legais. “As mulheres faltam mais ao trabalho do que os homens” Economistas do trabalho que têm aprofundado esta questão já concluíram que se o absentismo não incluir as ausências por licença de maternidade e de assistência à família, os homens faltam mais do que as mulheres qualquer que seja a razão da falta. Parece justo que uma mulher, que até pode nunca vir a ter filhos, seja privada de aceder ao emprego porque ainda se continua a ter o entendimento de que “cuidar dos filhos é tarefa de mulher”? “As mulheres estão menos disponíveis do que os homens para investir no trabalho devido aos compromissos familiares” Os compromissos familiares são recíprocos. Não é sério nem justo exigir mais responsabilidade às mulheres por causa da família e recusar-lhes o emprego acusando-as de menor disponibilidade para o mesmo emprego. Divisão de trabalho não é desobriga para uns e acumulação desproporcionada para E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 23 outras. Se homens e mulheres partilharem as responsabilidades familiares e familiares, homens e mulheres estarão igualmente disponíveis para investirem no trabalho remunerado. Se as empresas adoptarem medidas que facilitem tanto a mulheres como a homens a conciliação da actividade profissional com as outras dimensões da vida, não só as mulheres e os homens ficam a ganhar, como a empresa ganha trabalhadores/as em equilíbrio emocional e, como tal, mais motivados e disponíveis para o desempenho profissional. “O salário da mulher é apenas um complemento do orçamento familiar, e como tal mesmo para trabalho igual ou de valor igual a empresa pode pagar menos à mulher do que ao homem” O salário é a retribuição do trabalho em função de critérios objectivos de natureza, qualidade e quantidade, qualquer que seja o sexo de quem produz esse trabalho. Por isso, a legislação laboral assegura a igualdade de condições de trabalho, em particular quanto à retribuição, entre trabalhadores de ambos os sexos16. Acresce que a investigação vem confirmar que, tanto para homens como para mulheres, o trabalho vale muito mais para quem o realiza do que mera retribuição financeira. Num inquérito realizado em Portugal17, a maioria quer das mulheres quer dos homens concordou com a frase “Eu continuaria a trabalhar mesmo se E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 24 pudesse receber um salário igual ao que recebo actualmente sem ter que trabalhar para isso”. “A licença de maternidade é muito extensa e prejudica a empresa” E quando não existia ou era menos extensa prejudicava quem? O que está em causa é que a organização das empresas não pode alhear-se do modo de reprodução humana de que depende o futuro da sociedade. Mas a reprodução humana não diz apenas respeito às mulheres. Sobretudo na hora de repartir custos e benefícios. Ou será aceitável que uma sociedade que se reclama do respeito pelos direitos humanos exija às mulheres que tenham os filhos, que cuidem deles, que suportem os custos inerentes a esse cuidado, para que a mesma sociedade venha a beneficiar sem grande investimento de cidadãos, de trabalhadores, de consumidores, de contribuintes? Ou será aceitável hoje que, na prática, a sociedade continue a olhar as mulheres, predominantemente, como fábricas de pessoas, sem investimentos nem custos sociais directos? Em nome de que justiça se pode exigir às mulheres que paguem sozinhas o preço da existência e do cuidado da humanidade inteira? Hoje, a democracia, a economia e o direito visam a participação equilibrada de homens e mulheres em todas as esferas E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 25 da vida, o que abrange o mercado de trabalho e a vida familiar. As crianças têm pai e a actividade económica tem que contar com a paternidade. Por isso, a lei portuguesa18 prevê que apenas 6 semanas tenham obrigatoriamente de ser gozadas pela mãe, sendo que o restante tempo pode ser gozado no todo ou em parte pelo homem, no caso de “decisão conjunta dos pais”. Acresce que, em Portugal, para apoio à substituição temporária de trabalhadores e trabalhadoras ausentes por motivo das licenças de maternidade e paternidade, as empresas podem recorrer à Medida emprego-família administrada pelo IEFP19 “A Maria era boa trabalhadora, mas despediram-na (ou não lhe renovaram o contrato de trabalho). Sabe? Estava grávida… Já admitiram outra pessoa…agora é a Joana…” É justo que a gravidez tenha como castigo a impossibilidade da independência económica para as mulheres? As empresas não precisam de pessoas na geração seguinte como clientes, como fornecedores/as, como trabalhadores/as, como gestores/as, como accionistas, como concorrentes? O direito internacional20, comunitário21 e nacional22, entendem, em princípio, o despedimento de grávidas, puérperas e lactantes como uma discriminação indirecta em função do sexo, pelo que o proíbem. O Código do Trabalho estabelece que o E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 26 despedimento de trabalhadora grávida, em licença de maternidade ou que amamente os filhos, carece sempre de parecer jurídico prévio da CITE, sendo o parecer desfavorável sempre que a entidade patronal não prove a existência de justa causa de despedimento23, e limita expressamente a não renovação do contrato a termo de trabalhadora em qualquer daquelas situações24. “Poderia dar o lugar de chefia à Teresa. É competente no seu trabalho, é criativa e tem um bom relacionamento com a equipa, mas as mulheres têm menos competências para o exercício da autoridade… talvez seja melhor o João… é homem… tem mais autoridade …ainda que não seja tão competente nem reúna a simpatia de toda a equipa…” Um outro magnifico exemplo de como o preconceito condiciona a racionalidade da gestão. A autoridade, e ainda assim presumida em função do sexo, deverá ser o único ou o principal critério de uma escolha competente para futuros dirigentes? A final quem é não tem competência para as funções que exerce, mesmo que tenha o poder de tomar decisões incompetentes? A função de chefia em questão exige autoridade e comando ou capacidade para promover o trabalho em equipa e a procura de soluçõesinovadoras e adequadas para os vários desafios que se colocam? E mesmo que exija autoridade, que tipo de autoridade existe no ADN dos homens que não exista no das mulheres? Ou essa presumida autoridade não é, ainda e sempre, o resultado da construção social de género, que hierarquiza mulheres e E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 27 homens dando a estes primazia simbólica e real e àquelas o papel secundário de obediência conformada? Porquê introduzir no raciocínio a ideia de que há um colectivo designado por “as mulheres” e um outro “os homens” aos quais correspondem características universais? O que ganha com isso? No caso, é com aquela Inês e aquele João que pode contar…. Então não será mais válido, um raciocínio do tipo: Qual o perfil concreto dele e dela? Qual o perfil exigido para o exercício do cargo que quer atribuir? Qual dos dois se lhe ajusta mais? Nos seus Relatórios sobre Desenvolvimento Humano no mundo, todos os anos o PNUD 25 demonstra que nenhum país trata as suas mulheres tão bem como trata os s eus homens, sublinhando que tal se deve ao facto de a v oz das mulheres ter menos impacto do que a voz dos homens nas decisões que moldam as suas vidas. Quando os indicadores do desenvolvimento humano relativos a homens e mulheres forem equilibrados, ou seja, quando for feita a demonstração factual de que as sociedades tratam tão bem as suas mulheres como tratam as suas mulheres, haverá igualdade de género. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 28 Mas o que é a igualdade de género? A igualdade de género, também designada igualdade de homens e mulheres, significa a igual visibilidade, o igual poder e a igual participação de homens e mulheres em todas as esferas da vida pública e privada. Como refere o Conselho da Europa, a igualdade de género é o oposto da desigualdade de género, não da diferença de género. Com efeito, o género é o modo como as sociedades olham / pensam as pessoas do sexo masculino e as pessoas do sexo feminino. Trata-se de uma construção social que atribui papéis desiguais a mulheres e a homens em função do respectivo sexo, o qual é dado pelas características biológicas: nasce-se macho ou fêmea da espécie humana. A desigualdade de género ou assimetria de género é evidenciada pela experiência da vida, pela literatura e pelos indicadores da situação social das mulheres e dos homens, que podem ser apreciados, a nível nacional no Perfil Género do INE, a nível da União Europeia nos Indicadores Estruturais do EUROSTAT e a nível mundial nos relatórios de Desenvolvimento Humano do PNUD. Mas como aí se constata, tal assimetria, apesar de prejudicial a homens e mulheres, não tem tido efeitos equivalentes para uns e outras: ela organizou o poder, hierarquizando homens e mulheres pela valorização efectiva do papel social masculino. O que ainda se mantém, em violação, de facto, do direito aplicável. Contrariar a manutenção e a reprodução de um modelo de organização social que viola o direito e impede a concretização da democracia é o objectivo das normas legais e das políticas públicas sobre a matéria, a nível nacional, comunitário e internacional. Para isso, há que apreciar em cada contexto a situação das mulheres e dos homens, compará-la e introduzir as medidas correctoras necessárias para o equilíbrio dos indicadores do desenvolvimento humano de umas e de outros em todas as esferas da vida. Não estamos no domínio das circunstâncias, não estamos a tratar da não discriminação de minorias, em função da origem, da religião, da pertença cultural, da orientação sexual, da idade, da deficiência, face a um padrão dominante. Há homens e mulheres em todos os grupos minoritários ou E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 29 maioritários. E em todos os grupos minoritários ou maioritários, o sexo determina papéis sociais de género geradores de desigualdade. Uma desigualdade a que pode acrescer discriminação por qualquer factor – origem, religião, pertença cultural, orientação sexual, idade, deficiência - mas que já não se confunde com esse qualquer factor, porque atravessa toda a sociedade e todos os factores. Daí que seja comum referir-se – ainda que com grau de rigor discutível porque não se trata de matéria da mesma natureza – que as mulheres são frequentemente destinatárias de ‘dupla discriminação’. Assim, como salienta um estudo recente das Nações Unidas26 A participação das mulheres nas migrações internacionais reflecte o seu papel social, a sua capacidade para tomar decisões e participar na economia, o seu acesso a recursos sociais e a estratificação de género nos países de origem e de acolhimento. … Particularmente vulneráveis são as mulheres recrutadas como trabalhadoras domésticas ou que entram ilegalmente. Dependendo do país de acolhimento, podem ter muito pouca protecção legal contra abusos. As mulheres migrantes são também afectadas pelas desigualdades de género na sociedade de acolhimento. A segmentação do mercado de trabalho nos países de acolhimento – e a decorrente existência de empregos tradicionalmente femininos como enfermagem ou secretariado – significam que as mulheres migrantes se empregam muitas vezes em sectores marcados pelo género que tipicamente pagam menos que os sectores tradicionalmente masculinos. Assim, as desigualdades salariais podem persistir nos agregados familiares de pessoas migrantes. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 30 2.5 Conhecer os factos e o direito Sabia que: • em todos os países do mundo há imigrantes, mas que estes não representam mais do que 3% da população mundial? • a Ucrânia tem mais imigrantes que a França ou que o Canadá e a Índia mais do que a Austrália? Que a Costa do Marfim tem mais imigrantes que a Suíça? • o Reino Unido tem mais nacionais no estrangeiro do que a Turquia e a Alemanha mais do que Portugal? • se estima em 4 milhões e meio de pessoas o número de portugueses e suas famílias que residem e trabalham no estrangeiro? E sabia que essas pessoas estão em todos os continentes e que poucos são os países onde não há portugueses? • em Dezembro de 2004 residiam legalmente em Portugal pouco mais de 260 mil pessoas estrangeiras, sendo a cabo-verdiana a nacionalidade mais representada? • a população imigrante representa cerca de 10% da população activa? • o grupo profissional mais representativo, na população imigrante, é o dos ‘Especialistas das profissões intelectuais e científicas’? • a população imigrante em Portugal contribui com 5% para o Produto Interno Bruto (PIB)? • a taxa de desemprego, que aponta para os 7% com um universo de cerca de 400.000 imigrantes, é idêntica à dos anos 80/81 em que tínhamos só 58.000 imigrantes? • todos os anos, há cerca de 27 mil portugueses e portuguesas a emigrar, procurando fora de Portugal novas oportunidades para melhorar a sua vida? E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 31 • a Constituição portuguesa garante a nacionais no estrangeiro a protecção do Estado para a defesa dos seus direitos e dos interesses27? • a Constituição portuguesa garante a estrangeiros em Portugal direitos e deveres equivalentes aos dos nacionais, salvo os que a estes sejam reservados também pela Constituição ou pelas leis28? • a Constituição portuguesa inclui nas tarefas fundamentais do Estado a promoção da igualdade de homens emulheres29? • a Constituição portuguesa garante o direito à conciliação da actividade profissional com a vida familiar sem discriminação em função do sexo30? • a Constituição portuguesa define Portugal como ‘uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária’31? • a legislação da União Europeia contra a discriminação pode ajudar as pessoas ciganas a defender o seu direito à igualdade de tratamento no acesso ao emprego, à formação e à educação? • a Declaração Universal dos Direitos Humanos sublinha que a liberdade e os direitos de qualquer pessoa - homem ou mulher independentemente da sua circunstância designadamente de origem, de religião, de idade - tem como limite a liberdade e os direitos de qualquer outra pessoa, homem ou mulher independentemente da sua circunstância designadamente de origem, de religião, de idade32? • ‘os princípios e valores da Declaração Universal dos Direitos Humanos são parte essencial da ideia de Direito à luz da qual todas as normas constitucionais – e, por conseguinte, toda a ordem jurídica portuguesa – têm que ser pensadas e postas em prática’33? Em síntese: Muitas das decisões das empresas em matéria de recursos humanos, são ainda baseadas em estereótipos e não em factos. Assim se repetem acriticamente ideias feitas, assim nos dispensamos de reflectir e actualizar os nossos conhecimentos, assim corremos riscos, ainda que sem grande E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 32 consciência, de discriminar, de consentir na discriminação, de perpetuar a desigualdade de género. 3. Não basta o mínimo: a cidadania empresarial A cidadania empresarial – a que também se chama responsabilidade social das empresas ou espírito empresarial responsável – é o conceito segundo o qual as empresas integram, voluntariamente e para além das prescrições legais, preocupações sociais e ambientais na sua gestão, nas suas operações e na sua interacção com outras partes interessadas, porque consideram ser do seu interesse a longo prazo. Com efeito, existe hoje na esfera empresarial a percepção de que o sucesso das empresas e os benefícios duradouros para os agentes seus associados não se obtêm através de uma tónica de maximização de lucros a curto prazo, mas sim de um comportamento que, sendo embora orientado para o mercado, seja também coerente e responsável. Assim, a cidadania empresarial implica uma abordagem que coloca no cerne das estratégias empresariais as expectativas de todas as partes envolvidas e o princípio da inovação e aperfeiçoamento contínuos34. Mas a cidadania empresarial não é exclusiva de grandes empresas35; também abrange as pequenas e médias empresas (PME), uma vez que associa o dinamismo e a atitude do/a empresário /a individual - necessários à gestão de uma pequena empresa - com o sentido mais vasto das responsabilidades sociais, que frequentemente integra os valores pessoais do/a proprietário/a ou do/a gestor/a da PME. É este o tipo de espírito empresarial que a União Europeia deseja promover, tendo também em vista o desenvolvimento da inovação, a criação de emprego e a melhoria da competitividade na Europa36. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 33 A cidadania empresarial é inovação, é qualidade, é aumento de oportunidades de negócio, é competitividade responsável na economia global É inovação porque é uma forma de reacção das empresas às pressões do mercado que, sem recurso à concorrência de preços, implica que a estratégia, a organização e a gestão se ajustem às novas exigências da globalização da economia, à luz de uma competitividade responsável. A inovação organizacional reflecte o reconhecimento de formas novas de organizar o trabalho em domínios como a gestão de recursos humanos e pode ter um efeito positivo na competitividade37, tanto mais que a competição no mercado global requer uma constante necessidade de “inovar”38 E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 34 É qualidade porque implica a cidadania no trabalho – incluindo a igualdade de homens e mulheres, a segurança na carreira e no emprego, o desenvolvimento de competências, a conciliação da actividade profissional e da vida familiar, a saúde e a segurança no trabalho, a eliminação da violência no trabalho, o diálogo social amigável, a participação de todos os actores, a confiança recíproca, - o que gera qualidade de vida e qualidade no trabalho39. É aumento de oportunidades de negócio porque cria ou reforça as condições para que se gerem benefícios de ordem comercial, entre os quais uma maior satisfação e fidelidade do/a cliente, recursos humanos mais motivados, melhoria das relações com a comunidade local e as autoridades públicas, redução dos custos e melhor imagem40 É competitividade responsável na economia global porque significa saber gerir uma empresa respeitando as necessidades actuais e futuras das nossas sociedades, assegurando a lealdade da E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 35 concorrência e o comércio justo41, também no quadro do desenvolvimento da actividade crescente das empresas, incluindo PME, em países estrangeiros, tirando partido da liberalização dos mercados e da integração comercial, designadamente com recurso a empresas subsidiárias e a fornecedores em países em desenvolvimento42. Neste contexto, a União Europeia celebrou acordos comerciais com países terceiros e agrupamentos regionais (países de África, Caraíbas e Pacífico) que incorporam uma cláusula sobre a necessidade de se respeitarem os direitos humanos43, incluindo as normas laborais fundamentais definidas na Declaração de Princípios Fundamentais e Direitos no Trabalho da OIT44, enquanto elemento base daqueles acordos45. Para mais desenvolvimentos sobre a cidadania empresarial na economia mundial ver a página da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Pacto Global entre as Nações Unidas e as empresas do sector privado em parceria com outros actores sociais, o qual tem por objectivo promover a cidadania empresarial de modo a que as empresas possam ser parte da solução nos desafios da globalização, permitindo a todos os povos do mundo beneficiar das suas vantagens e ancorando os mercados mundiais em valores e práticas indispensáveis para responder às necessidades socio- económicas. http://www.unglobalcompact.org/Portal/Default.asp ? A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a acção das empresas deve, necessariamente trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos trabalhadores, promover E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 36 benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. Na década de 60, a responsabilidade social da empresa traduzia três âmbitos de debate: • A postura ética na administração da empresa • A responsabilidade do empregador para com os seus empregados • A participação e apoio do empresário à cultura, causas filantrópicas e à defesa da moralidade. O foco eram os empresários. Hoje fala-se daquilo que a empresa deve ou pode fazer para enfrentar e resolver os problemas sociais. Drucker (1995) 4. A diversidade: elemento da cidadania empresarial As políticas de diversidade de recursos humanos são iniciativas voluntárias por parte das empresas com vista ao recrutamento, contratação e desenvolvimento de trabalhadores e trabalhadoras de grupossociais diversos46. Para além de garantir que homens e mulheres pertencentes a grupos minoritários não sofrem discriminação, reconhecer a diversidade significa perceber o modo como as diferenças e as semelhanças entre pessoas podem ser mobilizadas para benefício dos próprios indivíduos, da empresa e da sociedade entendida na sua globalidade. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 37 Gerir a diversidade, mediante a promoção e garantia da igualdade e da justiça, não é simplesmente “algo bom”, mas uma condição indispensável num mundo em constante transformação e cada vez mais complexo. A diversidade resulta de um processo de mudança cul tural e constitui um elemento da cidadania empresarial. 4.1 O que implica a diversidade: custos e benefícios A diversidade implica custos e benefícios. A adopção destas políticas pressupõe abertura por parte dos/as gestores/as da empresa para: • A satisfação das expectativas dos/as trabalhadores/as actuais e futuros/as, dos clientes e do público em geral • A convivência intercultural, troca de conhecimentos, hábitos, costumes, valores e atitudes conducentes a um processo de transformação, enriquecedor do ponto de vista pessoal e cultural • O exotismo e a nova vitalidade nas cidades, aldeias e lugares como recursos potencialmente geradores de valor para as empresas • O conhecimento e interacção com empresas pioneiras que investiram nestas políticas • O conhecimento dos indicadores de obstáculos e benefícios, ainda que de natureza qualitativa, dada a dificuldade em isolar os vários elementos da ligação entre benefícios para as empresas e investimentos na diversidade. Sobre este último ponto, um estudo da Comissão Europeia realizado a partir de várias fontes47 - 200 empresas em 4 Estados membros da U.E., análises bibliográficas sobre o tema, desenvolvimento de 8 estudos tipo sobre programas de promoção da diversidade em 6 Estados membros, e 48 entrevistas a empresas, organizações empresariais, governos nacionais, E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 38 agências pró-igualdade, sindicatos e organizações não governamentais - salientando embora a escassez de dados quantitativos dos custos ou benefícios, refere que as empresas que implementam políticas de diversidade e recursos humanos constatam benefícios importantes que vêm reforçar a competitividade a longo prazo e, em determinados casos, resultam em melhoramentos a curto e médio prazo ao nível do desempenho. Os benefícios da diversidade apontados, por ordem de importância, são: • Reforço dos valores culturais na organização • Fortalecimento da reputação da empresa • Contributo para atrair e fidelizar trabalhadores/as de grande talento • Melhoramento da motivação e da eficiência do pessoal existente • Melhoramento da inovação e da criatividade entre os trabalhadores • Melhoramento dos níveis de serviço e maior satisfação do cliente • Superação de lacunas de recursos humanos • Contributo para a resolução da escassez de pessoal • Menor rotação do pessoal • Diminuição das taxas de absentismo • Melhoramento do acesso a novos segmentos de mercado • Não existência de custos de contencioso • Melhoramento da capacidade de gestão global • Maior consciência do próprio potencial por parte dos recursos humanos da empresa Por outro lado, o mesmo estudo identifica os seguintes benefícios a longo prazo: o reforço dos “geradores de valores”, isto é, activos materiais e imateriais que permitem às empresas ser competitivas, gerar fluxos de caixa estáveis e satisfazer os seus accionistas, o que inclui a criação de uma reputação diferenciada junto dos E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 39 intervenientes principais e dos clientes e o melhoramento da qualidade dos recursos humanos duma empresa a curto e médio prazo: o criação de oportunidades para melhoria dos fluxos de caixa, por exemplo, através � da redução dos custos � da redução da escassez de recursos humanos � da abertura de novos mercados e � da melhoria do desempenho nos mercados existentes. O mesmo estudo identificou como obstáculos/custos à aplicação de políticas de diversidade: • as dificuldades de mudar a cultura da empresa, designadamente por receio da mudança por parte de gestores/as e trabalhadores/as ou por riscos na execução das políticas, e • a falta de sensibilização, incluindo falta de conhecimentos especializados em matéria de gestão, para as políticas de diversidade, o que implica, por exemplo, custos de formação, de comunicação, condições de trabalho e benefícios, desvios de tempo da administração e da gestão. Mas não valerá a pena criar condições para que os b enefícios superem os obstáculos? As políticas de diversidade de recursos humanos revelam que as empresas que as adoptam foram capazes de ultrapassar vários patamares de progresso na qualidade da gestão, o que pressupõe a evolução de uma atitude meramente defensiva para uma atitude empresarial pró-activa que não poderá deixar de ter efeitos positivos nos resultados do desempenho global. A figura sintetiza esta evolução: E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 40 D iv er si da de N ão D is cr im in aç ão A tit ud e D ef en si va A tit ud e P ro -a ct iv a D o ris co à o po rt un id ad e 1º patamar Respeitar os direitos humanos e cumprir a lei 2º patamar Prevenir riscos de imagem negativa e de perda de reputação 3º patamar Provar o seu envolvimento Socialmente Responsável 4º patamar Optimizar a gestão dos recursos humanos: gerir competências, prevenir a falta de recursos humanos 5º patamar Melhorar o desempenho económico da empresa : desenvolver a capacidade de inovação; aumentar a aproximação aos clientes; abrir-se a novos mercados E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 41 1º patamar - RESPEITAR OS DIREITOS HUMANOS E CUMPRIR A LEI Como atrás se refere, a discriminação é proibida pelo direito nacional, pelo direito da União europeia e pelo direito internacional. Direito nacional • Constituição – proclama o princípio da igualdade e garante o direito à protecção legal contra todas as formas de discriminação48 • Código Penal – prevê e pune crimes por discriminação racial49 • Leis de proibição das discriminações baseadas na ra ça, cor, nacionalidade ou origem étnica 50 • Código do Trabalho e legislação complementar 51 - proíbe e pune todas as medidas directa ou indirectamente discriminatórias no âmbito do acesso ao emprego ou das relações de trabalho • Código da Publicidade – proíbe publicidade que contenha qualquer discriminação em relação à raça, língua, território de origem, religião ou sexo O que importa reter: • Todos os trabalhadores têm direito à igualdade de oportunidades e de tratamento no que se refere ao acesso ao emprego, à formação e promoção profissionais e às condições de trabalho • A prática de qualquer acto discriminatório lesivo de um trabalhador ou candidato a emprego confere-lhe o direito a uma indemnização, por danos patrimoniais e não patrimoniais • Toda a exclusão ou restrição de acesso de um candidato a emprego ou trabalhador em razão do respectivo sexo a qualquer tipo de actividade profissional ou à formação exigida para ter acesso a essa actividade constitui uma discriminação em função do sexo • É assegurada a igualdade de condições de trabalho, em particular quanto à retribuição, entre trabalhadores de ambos os sexos • As sanções laborais(coimas) por violação do direito à igualdade e por discriminação correspondem, em princípio, a contra-ordenações muito graves podendo atingir, por acto, 600 UC, se praticadas com dolo por empresas com volume de negócios igual ou superior a 10 000 000 EUROS. Em caso de reincidência, em caso de contra-ordenação muito grave praticada com dolo ou E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 42 violência grosseira e que tenha efeitos gravosos para o trabalhador/a, podem ser aplicadas ao/à agente, como sanções acessórias, a interdição do exercício da actividade, a perda do direito de participar em arrematações ou concursos públicos, a publicidade da decisão condenatória. Mecanismos nacionais para apresentação de queixas p or discriminação: - baseada na raça, cor, nacionalidade ou origem étnica – Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME)52 - baseada no sexo e em matéria de trabalho e emprego - Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE)53 Direito da União Europeia 54 • Tratado que institui a Comunidade Europeia 55 • Directiva sobre igualdade entre mulheres e homens ( 76/207/CEE, alterada pela 2002/73/CE) no emprego, à formação e promoção profissional e às condições de trabalho, • Directiva sobre igualdade racial (2000/43/CE), que proíbe a discriminação com base na raça ou na origem étnica • Directiva sobre a igualdade no emprego (2000/78/CE) , que proíbe a discriminação com base na religião ou credo, incapa cidade, idade ou orientação sexual • Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia 56 • Decisão do Conselho (2000/750/CE), que estabelece u m Programa de Acção anti-discriminatório • Linha Directriz 6 da Estratégia Europeia para o Emp rego 57 – Promover a igualdade de homens e mulheres • Linha Directriz 7 da Estratégia Europeia para o Emp rego 58 – Promover a inserção no mercado de trabalho de pessoas desfavorecidas e combater a discriminação de que são alvo Direito internacional • A Organização Internacional do Trabalho (OIT) declarou que é tempo de acabar com a discriminação no trabalho59 e consagrou, a nível mundial, os direitos fundamentais do trabalho os critérios mínimos a que devem obedecer as relações laborais60. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 43 A Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho visa assegurar que o progresso social acompanhe o progresso económico e o desenvolvimento. Adoptada em 1998, a Declaração vincula os Estados membros da OIT a respeitar e a promover quatro categorias de princípios e direitos, tenham ou não ratificado as Convenções pertinentes. Essas 4 categorias são: − A liberdade de associação e o reconhecimento efectivo do direito à contratação colectiva ( C 87 e 98) − A eliminação do trabalho forçado ( C 29 e 105) − A abolição do trabalho infantil ( C138 e182) e − A abolição da discriminação no trabalho e no emprego ( C 100 e 111). A Declaração esclarece que estes direitos são universais e que se aplicam a todas as pessoas em todos os Estados – independentemente do seu nível de desenvolvimento económico, referindo-se a grupos com necessidades específicas, incluindo pessoas desempregadas e trabalhadores migrantes. A Declaração reconhece que o crescimento económico é insuficiente para assegurar a justiça e o progresso social e para erradicar a pobreza. • Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econ ómicos OCDE E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 44 insistem pelo reconhecimento da importância para a sociedade em geral e para a economia em particular, do trabalho de cuidado – de crianças e outros dependentes – ainda maioritariamente realizado por mulheres. Um tal reconhecimento deverá encorajar a participação equilibrada dos homens nesse trabalho, permitindo-lhes o desenvolvimento das inerentes competências relacionais que enriquecerão o seu portfolio, e permitindo a justa repartição entre homens e mulheres do trabalho não pago. 2º patamar - PREVENIR RISCOS DE IMAGEM NEGATIVA E DE PERDA DE REPUTAÇÃO A reputação e a imagem constituem o mais importante capital imaterial de uma empresa. Uma denúncia por discriminação pode dar uma imagem muito negativa dessa empresa. Em oposição, uma empresa que adopta uma postura pró-activa em favor da não discriminação e da diversidade é percebida como um actor social responsável. De notar que, em diversos estudos, europeus e nacionais, o facto de tratar bem os/as colaboradores/as aparece nos primeiros lugares entre os factores éticos aos quais os/as consumidores/as são sensíveis. Em Portugal, sendo recentes as iniciativas pro-activas de apoio à eliminação da discriminação – o Prémio da CITE ‘Igualdade é Qualidade’ foi criado em 1998 - uma empresa que tome uma atitude nesse sentido e a comunique interna e externamente reforça a sua imagem de pioneirismo e também se promove junto de investidores/as externos/as. Alguns dados Num estudo realizado pela Universidade Católica abrangendo 1.419 pessoas: 97,2% dos inquiridos considera que os imigrantes devem ter os mesmos direitos que os portugueses. 93% defende que os imigrantes legalizados devem trazer as suas famílias. 84% acha que devia ser facilitada a naturalização dos imigrantes. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 45 79% acham que se devia facilitar o processo de legalização. 92,4% defende uma maior protecção dos imigrantes em relação aos patrões exploradores. 3º patamar - PROVAR O SEU ENVOLVIMENTO SOCIALMENTE RESPONSÁVEL As questões relacionadas com os/as colaboradores/as, as condições laborais e a igualdade de oportunidades estão presentes em todos os documentos e ferramentas desenvolvidas no âmbito da responsabilidade social das empresas. No Livro Verde da União Europeia, lançado em 2001 “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social da s empresas” 61 é referido que “As práticas de recrutamento responsáveis, designadamente não- discriminatórias (…) são fundamentais para a consecução dos objectivos fixados pela Estratégia Europeia de Emprego – a redução do desemprego, o aumento da taxa de emprego e a luta contra a exclusão social.” A Comunicação da Comissão sobre Responsabilidade Soc ial das Empresas: Um contributo das empresas para o Desenvo lvimento Sustentável 62 que se seguiu à apresentação do Livro Verde, preconizou a troca e a divulgação de boas práticas neste âmbito, agora reunidas em brochura editada pela Comissão Europeia63. No Pacto Global , uma iniciativa voluntária de cidadania empresarial lançada pelas Nações Unidas e constituída por dez princípios, aos quais as empresas signatárias (algumas das quais portuguesas) se comprometem a responder, diz-se que “As empresas devem defender a eliminação da discriminação no emprego e na ocupação”. A definição que é dada para este princípio, o 6.º é: “ qualquer distinção, exclusão ou preferência que tenha o efeito de anular ou impedir a igualdade de E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 46 oportunidades ou tratamento no emprego ou na ocupação” feita com base em “raça, cor, sexo, religião, opinião política, descendência ou origem social”. Por outro lado e em termos de relatórios de responsabilidade social, o modelo mais utilizado da “Global Reporting Initiative” refere como indicadores da performance socialmente responsável, aspectos como o tipo de contrato, a duração, os/as colaboradores/as por sexo, com desagregação em função do cargo. Para além disso, são indicadores as acções desenvolvidas pelaempresa no sentido de promover o respeito pelos direitos humanos, nomeadamente a eliminação do trabalho forçado. Talvez lhe pareça que o trabalho forçado não tem nada a ver com a sua realidade, ou até com a realidade portuguesa e europeia, mas ele revela-se às vezes de formas muito simples. É o caso de empresas que retêm o passaporte da pessoa imigrante impedindo a sua mobilidade ou de empresas que se aproveitam da sua situação fragilizada e irregular para não formalizarem o contrato de trabalho, não lhe pagarem ao fim do mês ou pagarem menos do que o acordado. Tem a certeza de que nada de semelhante se passa com os seus fornecedores... algures, ao longo da sua cadeia de produção? a) Reforçar os valores da empresa Segundo um estudo da União Europeia atrás indicado64, esta foi a mais valia de uma politica de gestão da diversidade, referida com maior frequência pelas empresas contactadas em todos os Estados membros. b) Contribuir para a coesão social e para o bom fun cionamento do mercado de trabalho E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas Os baixos custos associados ao trabalho irregular de imigrantes podem conduzir as empresas à contenção dos níveis salariais e mesmo ao despedimento de outros trabalhadores e trabalhadoras não imigrantes e mais exigentes. As condições de trabalho precárias e a ausência de protecção social dos imigrantes clandestinos constituem um factor importante de distorção do mercado de trabalho, tendo como resultado a degradação das relações de trabalho e a persistência dos fenómenos de economia clandestina. Por isso, o trabalho clandestino dos/das imigrantes/as constitui um factor de instabilidade social. Uma empresa não se pode desenvolver quando o clima social em que se insere está em degradação. Não discriminar, fazer contratos, estabelecer remunerações justas e mecanismos de progressão na carreira em que todas as pessoas, mulheres ou homens, independentemente da sua nacionalidade tenham igualdade de oportunidades, de tratamento e de resultados é um dos primeiros passos para uma sociedade mais pacificada e mais coesa. Criar oportunidades para grupos em desvantagem é edificar a coesão social. 4º patamar - OPTIMIZAR A GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS a) Gerir melhor as competências Privar-se de sectores de recrutamento diversificados significa para a empresa deixar passar ao lado talentos e competências disponíveis na população, mas também deixar passar a sua vontade de conseguir, o seu dinamismo comercial, a diversidade dos seus saberes, o seu background intercultural para abordar novos mercados. “A DHL é uma empresa global, desenvolveu-se num ambiente e numa cultura de diversidade, pelo que a aceitamos como algo de natural, que faz parte do nosso dia-a-dia na empresa. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 48 Temos planos de indução, para integrar os novos Membros na empresa, para conhecerem os novos colegas de trabalho, a nossa cultura, os nossos valores, a sua função, os clientes, o negócio. É um programa de indução para integrar novos Membros, como referi, para integrar pessoas e não para raças, religiões, etc.” Teresa Manso DHL Portugal b) Fidelizar os colaboradores Reconhecer a singularidade de cada pessoa, favorecer a igualdade de oportunidades, tornar visível a diversidade aos mais altos níveis, são argumentos de fidelização para trabalhadores/as que, face às novas perspectivas de emprego, se poderão tornar “voláteis”. c) Prevenir a falta de recursos humanos Nos próximos anos, a gestão de recursos humanos vai fazer face a um importante desafio de ordem demográfica. Com o aumento do número de reformados e uma natalidade decrescente, a renovação das competências não está assegurada. Face a necessidades crescentes de pessoas para trabalhar, alguns sectores foram já levados a reconsiderar a sua política de recrutamento e de gestão de carreiras, assim como a sua abordagem ao mercado de trabalho. Sectores de recrutamento até aqui, mais ou menos desprezados, poder-se-ão revelar um potencial no qual poderá ser interessante investir. E não estamos a falar só de trabalho não qualificado. Quase 100.000 filhos de imigrantes frequentam as nossas escolas, muitos já concluíram estudos superiores. Privar-se deste potencial é para uma empresa privar-se de numerosos talentos. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 49 Segundo um estudo do observatório da imigração, “Os imigrantes contribuíram para o reforço do volume de pessoas em idade activa, em especial nas camadas mais jovens, tendo atenuado os níveis de envelhecimento da população, sobretudo no topo. A comunidade imigrante situa-se maioritariamente nos grupos etários entre os 25 e 34 anos, até porque o principal motivo de terem emigrado é a obtenção de trabalho.” Há que ter presente, que um valor acrescentado do trabalho imigrante nos primeiros tempos de instalação é a sua elevada mobilidade geográfica. Esta característica tem 2 vertentes: • A predisposição destas comunidades para se instalarem em qualquer ponto do território nacional e aí se fixarem a par da ocupação de um posto de trabalho satisfatório traduz-se numa vantagem em termos de povoamento de zonas desertificadas, revitalizando-as em termos económicos, sociais e culturais. • Esta disponibilidade revela-se igualmente determinante face às necessidades específicas de alguns sectores, como o da construção civil e o agrícola. Assim, esta mobilidade constitui um factor de competitividade e produtividade para as empresas e vem colmatar uma das principais dificuldades do trabalho nacional. Nunca fizemos distinções entre raças, culturas, religiões ou nacionalidades. Todas as generalizações são perigosas e erróneas. Existem apenas bons e maus funcionários. Martim de Azevedo, Fier E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 50 5º patamar - MELHORAR O DESEMPENHO ECONÓMICO DA EMPRESA a) Compreender melhor as expectativas dos clientes Uma empresa em sintonia com a sociedade beneficia de vantagens significativas: graças à diversidade do seu pessoal, a empresa dispõe de recursos internos para compreender da melhor forma as expectativas e anseios da clientela e melhorar de forma significativa a sua relação com ela, melhorando também a percepção das necessidades da sua carteira de clientes e a conscientização sobre como agir face a diferentes culturas. b) Penetrar em mercados em forte crescimento Num contexto de uma economia global, a diversidade interna é uma condição de acesso a determinados mercados: nichos de mercado, necessidades de novas áreas, novos alvos, novos produtos, novos serviços e novas estratégias de mercado. c) Desenvolver a capacidade de inovação A diversidade é uma fonte de criatividade. As empresas testemunham a importância da diversidade para poder reagir a evoluções rápidas do mercado, que necessitam de múltiplas abordagens e competências. Quanto mais diversificadas são as equipas, mais criativas elas se tornam. d) Melhorar a adaptação à mudança As empresas que desenvolveram uma política de diversidade testemunham frequentemente uma capacidade interna acrescida de integrar a mudança de uma forma geral. De tal forma isso se passa que, em algumas empresas, se associou a gestão da diversidade com a gestão da mudança. Gerir mais eficazmente o impacto da globalização e da evolução tecnológica. E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade na s empresas 51 “As empresas estão inseridas numa sociedade, num mercado cada vez mais global, e de maior diversidade. É neste ambiente que está o seu mercado,
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