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1 Relação Médico Paciente: Considerações gerais: Carga emocional no encontro entre paciente e médico. Premissas do relacionamento médico-paciente: A relação médico-paciente deve ser foco de atenção e estudo desde o primeiro encontro do estudante com o paciente até toda a sua vida profissional; Tripé da medicina moderna (Anamnese, exames laboratoriais e equipamentos que produzem valores, traçados e imagens); Compreensão dos mecanismos psicodinâmicos; Treinamento prolongado e sob supervisão para a aprendizagem da relação médico-paciente interligando com a aprendizagem clínica; Aquisição de conhecimentos básicos das Humanidades (filosofia, psicologia, antropologia, sociologia e outras). Princípios biomédicos: Teoria Principialista proposta por Beauchamp e Chidress. Essa teoria forma um conjunto composto por quatro princípios: Beneficência (É a busca por fazer sempre o bem para o paciente); Não maleficência (Não fazer nada de mal ao paciente); Justiça (Fazer sempre o que é justo para o paciente); Autonomia (Decisão sobre o tratamento é do paciente, após o devido esclarecimento; o principal fruto do princípio da autonomia é o chamado consentimento informado); Consentimento informado (Processo pelo qual médicos e pacientes tomam decisões juntos; mudança estrutural do paternalismo/autoritarismo, devido a vários fatores que ratificam a aplicação dos princípios bioéticos; os pacientes podem registrar em prontuário a quais procedimentos querem ser submetidos [Resolução 1.995]); A beneficência e a não maleficência são compreensíveis na prática clínica, ao contrários da ideia de justiça; Justiça (Para a aplicação desse princípio é preciso considerar os princípios de justiça social no acesso à saúde; É preciso aplicar a chamada “justiça distributiva”, relacionando com distribuição igual, equitativa e apropriada na sociedade; É preciso levar em conta aspectos como gênero, cor, questões morais, sociais e até a opção religiosa); Equidade x igualdade (“Tratar de forma desigual os desiguais” em busca de oferecer oportunidades semelhantes a toda a sociedade). Além desses princípios bioéticos, outros valores se tornam necessários no cotidiano profissional: Respeito a alteridade (Respeitar a diferença no outro. Ações afirmativas têm chamado atenção da sociedade a respeito da alteridade. Um exemplo no SUS é a Política Nacional da Saúde Integral da População Negra, que oferece aos profissionais uma ferramenta para a abordagem ao paciente negro de acordo com a sua diversidade.) e Sigilo (Respeitar o segredo sobre as informações do paciente. É um valor que deve ser trabalhado nos estudantes de medicina desde o início do curso. Deve-se conter os sentimentos narcisistas em relação a um caso bem conduzido. As informações que identificam pacientes precisam ser evitadas). A necessidade de prevenção contra demandas judiciais envolvendo atos médicos é um aspecto que justifica o ensino/aprendizagem dos princípios bioéticos. Uma boa relação médico-paciente é uma atitude preventiva. A ética médica é uma condição adquirida ao longo da vida, desde o período de estudante até a vida profissional. A ética médica depende da moral e do desenvolvimento biológico, psíquico e social adquirido ao longo da vida. A bioética da relação médico-paciente é a parte mais complexa da ética médica. Conflito entre o emocional e o racional em relação a bioética médico-paciente. A bioética das relações parte da necessidade do indivíduo de perceber os conflitos que podem surgir nas relações. Porém esses conflitos são desconhecidos tanto por médicos quanto pela sociedade. Confiança, empatia e compaixão: O médico nunca deve se esquecer de que quem o procura é uma pessoa e não uma doença, portanto esses sentimentos precisam ser expostos para a aplicação de vínculos efetivos. Relatório Flexner (1910) x Atualidade: Flexner, devido a situação caótica no ensino médico nos Estado Unidos no início do século XX, publicou um relatório o qual praticamente todas as 2 escolas médicas do mundo seguiam. O relatório continha um novo currículo com ênfase nas investigações científicas e no espírito acadêmico, com base nesse relatório os cursos médicos tornaram-se tecnicistas e houve pouca ênfase no ensino das humanidades. Porém, isso vem se alterando, o processo ensino/aprendizagem da relação médico-paciente e o estudo da ética e bioética começam a serem aplicados em várias universidades. O ensino/aprendizagem da relação médico-paciente deve ter como base os princípios éticos desde o primeiro dia do curso. Aspectos psicodinâmicos: A elaboração da sistemática de anamnese feita atualmente foi contribuição de Hipócrates para a medicina. AVANÇO (Prática médica se afasta do misticismo para aprimorar conhecimentos da física e química), AFASTAMENTO (relação médico-paciente) e ATENDIMENTO VOLTADO PARA A CURA (“enfermidade mais do que paciente, afastando a compreensão do ser humano como ser que pensa e sente, que vive e se relaciona”). Final século 19 e 20 – Freud desvendou mecanismos psicodinâmicos possibilitou pensar na relação medico paciente sob outra perspectiva. Sempre que alguém procura um médico é devido a questão relacionada a sua SAÚDE, entram em jogo fenômenos psicodinâmicos próprios do relacionamento entre médico e paciente, com diferentes graus (característica de enfermidade e duração de relação entre ambos). Relação médico-paciente é ASSIMÉTRICA. MUDANÇAS - meios de informação, pode gerar atritos. Características do encontro MÉDICO-PACIENTE leva em conta fatores psicológicos, modificações que a enfermidade proporciona, sentimentos e condições do tratamento. Relacionamento médico-paciente: Atualidade: Paciente com mais autonomia e conhecimento que a geração anterior. Cada um destes relacionamentos será adequado de acordo com as circunstâncias. Saber discerni-los e reconhecer o mecanismos de defesa implicados em cada um caracterizam um bom profissional e contribuem para boa pratica médica. Embora a escolha do tipo de relacionamento pareça ser consciente, ela atende as necessidades inconscientes e afetivas do médico e paciente. Apropriar- se dos sentimentos inconsciente que deixam de sê-los para tornar o mundo mais consciente é a melhor maneira de valorizar emoções que perpassam as relações humanas. ex: primeiro tipo de relação, desejo de proteção do paciente, harmoniza com a ação decidida, pronta e energética do 3 médico. Esse conhecimento contribuição de Freud, que instrumentaliza o profissional para uma postura de cuidado do seu paciente. Médico cuidador x médico curador (capacidade humana de atender o paciente de modo global e holístico, ampliando o conceito de medico curador que somente se envolve com a cura da doença e se frustra). Transferência: Carga afetiva muito intensa em casos de grande sofrimento físico ou emocional; Transferência positiva: relacionamento agradável; Afeto já sentido por outra pessoa; Transferência negativa: relacionamento desagradável. Contratransferência: Passagem de aspectos afetivos do médico para o paciente; Médico deve reconhecer suas fraquezas e sentimentos, sabendo controlá-los; Responsabilidade profissional e ética; Contratransferência positiva; Contratransferência negativa. Resistência: Mecanismo psicológico inconsciente que comprometa a relação médico-paciente; Pode consistir em ocultar ou deturpar sintomas ou fatos relacionados com a doença; Pode surgir no momento da 1º consulta ou ao longo da convivência. Grupos Balint: Anos 50 do século XX, em Londres; Grupos de médicos que discutiam os aspectos referentes aos relacionamentos vividos por cada um deles com seus pacientes; Treinava os médicos a terem uma boa relação com seus pacientes; O agir do médico influência no resultado do tratamento. Médico: Tecnicismo; Exame clínico – encontro com outro ser humano; Dimensão terapêutica; Medicina humanista; Encontro médico – paciente: decisões relacionadas à vida; Relação de confiança;Valorizar os aspectos psicológicos; Compreender e respeitar aspectos culturais; Valorizar e respeitar as queixas do paciente; Efeito secundário da ação do médico: efeito iatrogênico; Guardar preconceitos; Não deixar aspectos pessoais interferirem no julgamento clínico; Medicina configura-se como sacerdócio; Assumir o papel de médico cuidador; Comportar- se de modo a exaltar sua condição profissional; Saber lidar com a sua própria humanidade; Respeitar o direito do paciente em participar de decisões que lhe dizem respeito; Conflitos psíquicos; Valorização da formação técnica do médico; Formação humanística x Mecânico do corpo; Medicina baseada em evidências; Aspectos éticos e morais. Relação Médico-paciente: unidade na qual as características pessoais de ambos são muito importantes. Profissional médico: se comporta, na relação com o atendido, de acordo com a sua disponibilidade interna (questões inconscientes e transferenciais, mecanismos de defesa, teorização e movimentos conscientes característicos da personalidade e aquilo que se convencionou chamar de vocação). Vocação: Conjunto de características pessoais, que compreendem traços de personalidade e interesse ligados ao próprio indivíduo ou ao seu ambiente familiar, constituindo as bases socioculturais e individuais sobre as quais se apoiam a escolha e o exercício da profissão médica. Características de um bom médico: Interesse e respeito pela pessoa humana, capacidade de dedicar-se a tarefas desgastantes e de estudar por longos períodos, senso de responsabilidade bem desenvolvido, nível de inteligência razoável e retidão de caráter seriam traços de personalidade indispensáveis para o exercício da medicina, assim como o espírito de 4 solidariedade, capacidade de compreender o sofrimento alheio (empatia) e vontade de ajudar (compaixão). Resiliência: capacidade de suportar uma carga de estresse sem adoecer. Capacidade de “engagement”: capacidade inerente à pessoa de se engajar no trabalho sentindo satisfação pelo que desenvolve. As três dimensões da personalidade resistente: Compromisso ou implicação: caracteriza-se pela tendência em envolver-se em todas as atividades propostas da vida do indivíduo e identificar-se com o significado dos próprios trabalhos. Controle: indica que o profissional tem disposição para pensar e atuar com a convicção de que pode intervir nos acontecimentos. Ele pode perceber também as consequências positivas que precedem muitos dos acontecimentos estressantes, tornando possível o controle dos estímulos em seu próprio benefício. Desafio: torna possível que o profissional perceba o campo como uma oportunidade para aumentar suas próprias competências e não como uma situação de ameaça. Proporciona ainda maior flexibilidade cognitiva e tolerância à ambiguidade que induz a considerar o campo como característica habitual da história e da vida. Padrões mais comuns de comportamento dos médicos: Padrão inseguro: Conhecimentos insuficientes, exame clínico malfeito e dúvidas na maneira de conduzir o caso inevitavelmente serão percebidos pelo paciente. Padrão paternalista: Adota atitudes protetoras. Trata o paciente como criança indefesa. Padrão agressivo: A agressividade pode ser sintoma da Síndrome de Burnout ou ter origem em problemas pessoais. Padrão "frustrado": Quase sempre pessimista, pode tornar-se agressivo com os pacientes. Sua principal característica é a frieza na relação com o paciente. Padrão pessimista: Vê maior gravidade nas doenças que a real, expressa desânimo e desesperança mesmo antes de conhecer o diagnóstico e deixa de tomar decisões diagnósticas porque não acredita na possibilidade de bons resultados. Padrão "especialista": médico que se dedica a uma especialidade, mas que não tem visão adequada do conjunto da medicina, que não consegue ver o paciente como um todo. Padrão "rotulador": Tem sempre pronto um diagnóstico rotulado que agrada o paciente. Padrão otimista: Não vê dificuldades em nada, tudo lhe parece simples e sem gravidade, não sabendo reconhecer os casos de prognóstico ruim. Médico sem vocação: Desenvolve mecanismos - inconscientes ou claramente propositais - que inibem o paciente, impedindo um relacionamento adequado. Padrão autoritário: Sempre impõe suas decisões. Que orientação se pode dar aos estudantes que sempre buscam a imagem do médico ideal? Necessidade de adquirir conhecimentos de psicologia médica. Problem based interview (PBI). É o trabalho conjunto do professor com o acadêmico no trato direto com os pacientes a fonte principal para o desenvolvimento das características que definirão a qualidade ética do futuro médico. 5 “Médico ideal”: aquele que tem uma personalidade amadurecida, conhece e domina os mecanismos psicológicos envolvidos na relação médico-paciente, dispõe de conhecimentos adequados da ciência médica e sabe aplicá-los dentro de uma visão humanística. Pacientes: “A integralidade enquanto princípio do Sistema Único de Saúde busca garantir ao indivíduo uma assistência à saúde que transcenda a prática curativa, contemplando o indivíduo em todos os níveis de atenção e considerando o sujeito inserido em um contexto social, familiar e cultural”. Portanto, para a avaliação do paciente, deve-se prezar por empatia e compaixão! “O hábito de empatizar pode criar laços humanos que fazem valer a pena viver”. “Empatia: é saber abraçar a alma”. Padrões de comportamento dos pacientes: Toda enfermidade tem componente afetivo: adoecer traz expressão de distúrbios emocionais e traços de personalidade acentuado. Paciente ansioso: A ansiedade traz inquietação interna, medo inexplicável e sentimento negativo em relação ao futuro; manifestações como mãos suadas e frias, voz embargada, cigarro seguido de outro, taquicardia, boca seca, bocejos repetidos, inquietude; o médico deve demonstrar tranquilidade e segurança, estar preparado, reconhecer a ansiedade e possuir neutralidade. Saber escutar é mais importante do que saber perguntar: promove relaxamento da tensão, deve-se conversar por alguns minutos sobre temas não relacionados ao motivo da consulta; não se deve negligenciar (ansiedade do médicos/acadêmicos de 6 medicina: insegurança interfere na falta de domínio do método clínico e receio de importunar o paciente. Paciente deprimido: características como humor triste, perda de vontade de viver, isolamento, quietude, desinteresse por si mesmo e pelos acontecimentos ao redor, cabisbaixo, choro fácil e imotivado, face triste, despertar precoce, olhos sem brilho, respostas pela metade, apatia, irritação e tédio. O médico deve conquistar a atenção e confiança com acolhimento, demonstração de interesse sincero e escuta atenciosa. Depressão: classificada de acordo com a cid-10 e o dsm-iv em leve, moderada ou grave; transtorno depressivo maior = depressão; reativa a estressores psicossociais = morte de ente querido, divórcio, drogas licitas ou ilícitas (álcool, cocaína). Na entrevista: avaliar o tipo de depressão e gravidade, e o risco de suicídio. Formas de depressão: depressão atípica, endógena (melancólica), distimia, secundária, psicótica, estupor depressivo e ansiosa. A depressão endógena pode-se apresentar isolada (unipolar) ou constituir a fase depressiva do transtorno bipolar. Características: Surge inesperadamente, a qualquer momento, sem fatores desencadeantes; Grave, intensa, com ideias de ruina e autoextermínio; Mais intensa pela manhã, acompanhada de insônia terminal, ou seja, o paciente já acorda de madrugada com o humor deprimido. A depressão traz risco de suicídio elevado e necessita de assistência psiquiátrica de urgência; estupor depressivo – maior gravidade (paciente imóvel durante dias; muito tempo na cama ou cadeira; mutismo; nega-se a comer e perde controle das suas necessidades fisiológicas). O paciente poderá chorar durante a entrevista médica e não há nadademais; o paciente precisa aliviar uma tensão crescente, relacionada direta ou indiretamente com a sua doença; deixe-o chorar sem indagações e sem querer consolá-lo com palavras vazias ou exortações inúteis; as lágrimas podem representar o início de uma relação médico-paciente em um nível mais aprofundado, de melhor qualidade. Pequenos gestos para uma melhor relação médico-paciente: leve toque na mão; palavras de compreensão; silêncio respeitoso; oferecer lenços de papel; se o paciente manifestar interesse em interromper a anamnese, respeite sua vontade; ele poderá voltar no mesmo dia ou no dia seguinte. Paciente hostil: Hostilidade pode ser velada ou percebida à primeira vista. Causas: Defesa contra ansiedade; Insegurança; Manifestação de humor depressivo. Paciente inevitavelmente hostil: aquele que foi levado ao médico contra sua vontade. Pior conduta: adotar uma posição agressiva, revidando palavras ou atitudes a oposição do paciente. Paciente sugestionável: Excessivo medo de adoecer, vive procurando médicos e realizando exames. Ao mesmo tempo, teme exageradamente a possibilidade de os exames mostrarem alguma enfermidade. O médico deve conversar com eles com cuidado, pois cada palavra mal colocada pode desencadear a ideia de doenças graves ou incuráveis. Paciente hipocondríaco: “Paciente que não tem nada” ou “Paciente do envelope gordo”; Poliqueixoso; Descrença no diagnóstico médico, reafirma “enfermidade orgânica”; Deseja fazer exames de alta complexidade; Incansáveis consultas com o “Dr. Google”; Vive em um estado de sofrimento crônico. Paciente eufórico: Apresenta exaltação de humor, fala e movimenta-se demasiadamente. Deve-se observar se esta é a maneira de ser do paciente, se está intimamente relacionado com outras doenças ou se está apresentando uma exaltação patológica de humor. Paciente inibido: não encara o médico; Senta-se à beira da cadeira e fala baixo; Pacientes pobre e os da zona rural; Não se deve confundir timidez com depressão. Pacientes psicóticos: Alucinações, delírios e pensamentos desorganizados dificultam a relação médico-paciente; Psicose mais comum: esquizofrenia. Características do paciente: percepção 7 delirante, alucinações auditivas, eco, difusão do pensamento, roubo de pensamento e vivências de influência. Transtornos psiquiátricos ≠ doença mental. Paciente surdo: Envolve interesse do profissional e compreensão do paciente; Entrevista com a família; Aprendizado da linguagem de sinais – LIBRAS; Pacientes que perderam a audição ao longo da vida – falar de maneira clara e pausadamente. Pacientes especiais: Inteligência reduzida ou alienação; Adoção de linguagem simples e leiga; Perguntas simples, diretas de ordem precisa e curta; Paciência. Pacientes em estado grave: Exame clínico objetivo – fazer o necessário; adaptação da Semiotécnica; Perguntas simples, diretas e objetivas – paciente pouco colaborativo; Respeitar as limitações do indivíduo no leito; Paciente manifesta ansiedade – profissional deve demonstrar empatia. Paciente fora de possibilidades terapêuticas: Paciente terminal; Neoplasias malignas, cardiopatias graves, nefropatias e AIDS em estágio final; Paciente em estado grave ≠ paciente em estado terminal; Amplificação dos fenômenos psicológicos; 5 fases do luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Paciente idoso: Tratamento com respeito e atenção; Agir com paciência e delicadeza; Subjetividade inevitável; Inversão de papeis; Conflitos interiores do profissional. Semiologia da Infância: O objetivo da consulta pediátrica é o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de um ser, que precisa ser assistido integralmente e de modo particular, uma vez que o ambiente emocional, físico e social vai interferir na constituição orgânica e psíquica deste, com repercussões para toda sua vida. Avaliação clínica do recém-nascido: Na maioria das consultas pediátricas, o paciente necessita de um tradutor, o qual, frequentemente, mal compreende sua linguagem; Inicia-se a avaliação pela identificação com o nome, sexo, idade, etnia, naturalidade (nesta faixa etária, geralmente coincide com a procedência), filiação, endereço. O médico deve estar atento ao fato de que, muitas vezes, a queixa dos responsáveis pode induzir a um falso diagnóstico. Interrogatório Sintomatológico: Geral: informar-se sobre o sono do RN, questionar se há irritabilidade ou dificuldade para amamentar. Sistema tegumentar: manchas, placas, descamações, alterações da cor da pelo. Sistema cardiovascular: dispneia ao amamentar, edema, cianose. Sistema respiratório: congestão nasal, coriza, tosse, roncos. Sistema gastrintestinal: ritmo intestinal, características das fezes, vômitos. Sistema geniturinário: características da urina e número de micções. Antecedentes: Com relação à gestação; Com relação ao recém-nascido; Com relação à família; Imunizações/ vacinação. Exame Físico: - Aferição das medidas corporais: comprimento, peso, perímetros cefálico e torácico. - Ectoscopia. Avaliar a cor da pele- clara, ictérica, cianótica, sem turgor, ocorrência de descamação, manchas. - Aparelho cardiovascular: Ausculta atenciosa de todo o tórax, avaliar se ocorre sopros cardíacos. - Aparelho respiratório: procurar sinais de esforço respiratório, observar se há ruídos, contar a frequência respiratória em 1 min - Abdome: avaliar a forma do abdome (globoso, plano,escavado) - Genitália: Na genitália masculina, procurar testículos na bolsa escrota e na região inguinal. Verificar se há exposição da glande e, havendo, observar se há epispadia ou hipospadia. Nas 8 meninas, verificar se há sinequia (aderência) de pequenos lábios, hipertrofia de lábios vulvares, de clitóris - Membros: Observar o formato dos membros, se há edema, hipoplasia, alterações nos dedos dos pés ou das mãos- polidactilias, sindactilias. Anamnese do lactente ao escolar: Recomenda-se avaliar o cotidiano da criança; Para avaliação dos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor, a abordagem começa com uma pergunta geral, como: “O que ele está fazendo atualmente?”. A partir de 3-4 anos, deve-se estabelecer também um diálogo com a criança durante a consulta. No cognitivo, a principal observação no pré-escolar deve ser com o conteúdo e a complexidade da linguagem. Semiologia do adolescente: Maturação sexual: No sexo feminino, esse processo se inicia com o aparecimento do broto mamário e a menarca. No sexo masculino, o primeiro sinal de maturação sexual é o aumento dos testículos. Esse evento é seguido pelo aparecimento de pelos pubianos e pelo aumento do tamanho do pênis. Estirão e características psicológicas da adolescência: Denomina-se estirão o grande desenvolvimento corporal que ocorre na adolescência. O estirão não ocorre em todos os segmentos do esqueleto ao mesmo tempo. A conquista de sua identidade, incluindo a sexual, é uma tarefa que ele deverá realizar. Relação médico paciente: Recomenda-se que o atendimento seja realizado em vários momentos; Artigo 103 do Código de Ética Médica (conselho federal de medicina, 2010); Integralidade do adolescente. Anamnese: Uma pequena parte é feita com o familiar que estiver acompanhando o adolescente, mas o restante é realizada apenas com o adolescente. No primeiro tempo da consulta, são investigados os antecedentes familiares, pessoais fisiológicos. No segundo tempo, em que deve estar presente apenas o adolescente, a investigação dos hábitos de vida. Exame físico: É importante que o recinto onde está se realizando o exame seja privado. Recomenda-se a presença de outro profissional de saúde no recinto. Cabeça: Seguir a rotina; Pescoço: O exame da tireoide; Tórax: O exame das mamas deve ser realizado para se determinar o estágio de maturação sexual e ensinar e estimular o autoexame das mamas; Abdome: Seguir a rotina; Genitais: Devem ser sempre examinados para se determinar a maturação sexual, verificar a fimose,palpar os testículos, examinar a vulva e verificar se há secreção vaginal; Membros e coluna: examinar as caraterísticas, particularmente a postura e a marcha; Sistema nervoso: pesquisar os principais reflexos, observar a atenção, humor, capacidade de concentração. Família: Implantação da ESF torna a família um tipo de “paciente”. Profissional deve aliar o máximo de conhecimento sobre família e promoção de saúde. Atentar para os diversos arranjos familiares. Visitas domiciliares propiciam processos de transferência e contratransferência importantes. A consulta médica deve ser focada na pessoa e é composta por alguns pilares: Explorar a doença e a experiência da doença; Entender a pessoa como um todo (visão holística); Elaborar um plano terapêutico conjunto; Incorporar prevenção e promoção de saúde; Intensificar a relação médico-paciente, baseando-se na empatia, emancipação do paciente e processo eficaz de transferência e contra-transferência; Ser realista quanto a administração do tempo de consulta, gestão do trabalho em equipe e dos recursos da ESF. 9 Trabalho do estudante de medicina com o paciente: A vivência dos fatos tem a importância de mostrar-lhe as dificuldades e os obstáculos a superar. Necessidade de compreensão do significado e o alcance de algumas exigências. Ex: uso de roupas especiais. Respeito e discrição no ambiente hospitalar. Ter o pleno conhecimento dos princípios e virtudes da bioética. Desvencilhar-se de situações angustiantes. Manifestar empatia e interesse pelo paciente. Tomar cuidado com palavras e atitudes que possam atemorizar o paciente, poupando-o de maior sofrimento. Dar a mesma atenção a todos pacientes, não menosprezando casos mais simples. Demonstrar disposição para ouvir, sem o uso interrupções grosseiras, adquirindo a habilidade de nortear de forma adequada a anamnese. Reagir de forma compreensiva e tolerante frente a atitudes agressivas do paciente. Em lugar de dar ordens, usar sempre "por favor". Examinar o paciente em locais adequados, com as portas fechadas, na presença dos docentes, respeitando sua individualidade. Discussão de caso clínico à beira do leito: hospitais universitários ministram ensino prático aos estudantes de medicina, mas fica a dúvida se a discussão deve ocorrer à beira do leito ou em salas de consulta. Formação ética e humanística é indissociável do preparo técnico. Comentários inadequados, Expressões que traduzem dúvidas de doenças malignas ou incuráveis e Prognósticos pessimistas trazem ansiedade e sofrimento psíquico, o que deve ser evitado. Abster- se de comentários além dos exigidos para obtenção de dados clínicos; Escolher os termos a serem usados de forma cuidadosa; Discutir o diagnósticos diferenciais, hipóteses diagnósticas, as medidas terapêuticas e prognósticos em outro local (longe do paciente); Fazer breve resumo para o paciente, após as discussões, usando-se de um modelo explicativo leigo e não o “jargão médico”; trazer acolhimento e autonomia. Ensino‐aprendizagem da relação médico‐paciente: Conhecer bases teóricas; Princípios que norteiam o aprendizado; Contato direto e supervisionados com o paciente; treinamento prévio em laboratório. Metodologias didáticas: Simulação com atores; Problematização de cenas de filmes; Análise de óperas e/ou peças de teatro; PBI (Entrevista Baseada em Problemas); Grupos Balint.
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