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EXAME FISICO ABDOME

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Mariana M. de Almeida – 16/12/20 2020.2 
 
A sequência do exame físico do abdome deve obedecer a seguinte ordem: 
1. Inspeção 
2. Ausculta 
3. Percussão 
4. Palpação 
* O médico deve ficar à direita do paciente. 
O abdome é dividido em nove regiões: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inspeção 
Na inspeção observa-se a superfície da parede abdominal, contorno, presença de assimetrias, 
características da pele, presença de circulação colateral, forma do abdome e cicatrizes cirúrgicas. 
 
Formas do abdome: 
O formato do abdome pode variar segundo idade, sexo, estado nutricional, estado muscular e 
gravidez, podendo variar segundo o tipo morfológico entre o tipo longilíneo, que é achatado no 
sentido anteroposterior e de pequeno diâmetro transversal e o do tipo brevilíneo, curto, com 
diâmetros anteroposteriores e transversos exagerados. Esta variação entre estes extremos não 
tem significado patológico. O formato adquire valor patológico quando houver alterações que se 
afastam destes limites, sendo que as alterações podem ser simétricas ou assimétricas. 
 
1. Alterações Simétricas 
Abdome retraído – muito achatado no diâmetro anteroposterior, com visibilidade dos bordos 
costocondrais, cristas ilíacas e sínfise púbica. Ocorre em indivíduos com caquexia, especialmente 
naqueles com desidratação importante. 
Mariana M. de Almeida – 16/12/20 2020.2 
Abdome globoso – apresenta distensão uniforme e regular; encontrado em indivíduos obesos, 
portadores de ascites, em pacientes com grande meteorismo intestinal (obstrução intestinal) e 
em portadores de grandes tumores abdominais. 
 
Abdome de batráquio – caracterizada por dilatação exagerada de flanco, com aumento de 
diâmetro lateral, ocorrendo em indivíduos com ascite e obesos com diminuição da tonicidade da 
musculatura de parede abdominal. 
 
Abdome em avental – caracterizado pela queda do hipogástrio sobre a sínfise púbica, ocorre em 
grandes obesos, associada à fraqueza da parede muscular. 
 
2. Alterações Assimétricas 
Quando ocorrem, sempre são patológicas, geralmente em decorrência de abaulamentos 
localizados. 
 
Abaulamento – ocorre quando há distensão localizada de segmentos do tubo gastrointestinal, 
denominada também por meteorismo localizado, desencadeada pela presença de obstáculo que 
deverá estar abaixo da porção dilatada. A única exceção é a formação herniária, ocorrência clínica 
de fácil diagnóstico. A sede do abaulamento servirá para indicar a causa provável do obstáculo. O 
abaulamento pode ocorrer também por aumento de vísceras- hepatomegalia ou esplenomegalia. 
A ausculta, palpação e percussão auxiliarão no esclarecimento etiológico do abaulamento. 
 
Atenção! Quando houver obstáculo duplo, há formação de uma distensão em forma de chouriço, 
denominada de Alça de Wahll. 
 
Peristalse visível – pode ocorrer em pacientes emagrecidos e com musculatura abdominal pobre, 
sendo possível a identificação de peristalse de alças do intestino delgado. A observação de 
peristaltismo visível tem grande importância diagnóstica, indicando a existência de obstáculo ao 
trânsito intestinal; a peristalse sempre se processa no sentido do isoperistaltismo, servindo para 
identificar o segmento intestinal sede das contrações, indicando assim, a localização do obstáculo, 
ponto onde morrem as ondas peristálticas. 
 
O peristaltismo visível em estômago indica a existência de obstáculo em piloro ou em 1ª porção do 
duodeno; o sinal acústico é a patinhação e o sintoma associado é o vômito de estase. A causa mais 
comum de obstrução de antro gástrico são o câncer gástrico e úlceras pépticas estenosantes. 
 
A presença de ondas peristálticas visíveis em intestino delgado, denominada de agitação 
peristáltica de Kussmaul, são caracterizadas por movimentos rotatórios, acompanhados de fortes 
ruídos intestinais, denominados de borborigmos. Pode ocorrer um segundo tipo de ondas de 
peristalse, denominada de peristalse em degrau, as alças se contraem como em degraus de uma 
escada. 
 
Mariana M. de Almeida – 16/12/20 2020.2 
Retrações generalizadas – ocorrem em indivíduos caquéticos, como nos casos de pacientes com 
estenose de esôfago ou piloro ou em desidratados graves. Importante apontar a retração 
generalizada que pode ocorrer na cólica saturnina, no tétano, meningite e nas crises tabéticas. 
 
Edema de parede – quando restrito à região abdominal indica a existência de processo 
inflamatório intracavitário. 
 
Sistema venoso – a presença de vascularização visível em parede abdominal indica obstáculo na 
circulação venosa profunda. As veias que conduzem um caudal aumentado são caracterizadas pela 
sua tortuosidade e dilatação; deve-se definir o sentido da corrente sanguínea para identificar qual 
dos sistemas venosos está obstruído. Para isto utiliza-se a manobra de esvaziamento de um 
segmento venoso dilatado. 
 
Tipos de circulação colateral: 
1. Circulação colateral tipo portal: ocorre quando há obstáculo ao fluxo venoso proveniente 
do tubo digestivo e baço em direção ao fígado. É o tipo de circulação colateral mais 
frequente, caracterizada por manter o sentido normal da circulação, sempre centrífuga em 
relação ao umbigo. Geralmente melhor percebidas acima da cicatriz umbilical, quando 
exuberantes em torno do umbigo confere o aspecto denominado cabeça de medusa. 
 
2. Circulação colateral tipo cava inferior: observa-se ectasia venosa em andar inferior de 
abdome e regiões laterais, sentido da corrente é ascendente. Ocorre quando há trombose 
de cava inferior. 
 
3. Circulação colateral tipo cava superior: observam-se ectasias de vasos em andar superior 
de abdome, sendo o sentido da corrente, descendente. 
 
4. Circulação colateral do tipo misto: associa-se a circulação colateral tipo portal e de cava 
inferior, com sentido da corrente, ascendente. 
 
Ainda na inspeção do abdome observar: presença de cicatrizes cirúrgicas, estrias, herniações. Em 
pacientes com hemorragias peritoniais, pode surgir, na região periumbilical, uma coloração 
azulada que é denominada de sinal de Cullen (exemplo: prenhez tubária rota). Em pacientes com 
pancreatite hemorrágica pode ocorrer sangramento retroperitoneal, conferindo uma coloração 
azulada em regiões lombares, sinal de Grey Turner. 
 
Ausculta 
Em condições patológicas os ruídos hidroaéreos podem estar com intensidade aumentada 
(exemplo: diarreias, hemorragias digestivas, suboclusão intestinal ou obstrução intestinal) ou 
diminuída ou ausente (exemplo: íleo paralítico). Os ruídos hidroaéreos podem assumir o tom 
metálico, nos casos de obstrução de intestino delgado. 
 
Mariana M. de Almeida – 16/12/20 2020.2 
Os ruídos vasculares incluem os sopros que podem ser sistólicos ou contínuos: 
 Sistólicos de maior frequência são os produzidos no aneurisma de aorta, podem ser 
audíveis, em linha mediana do abdome. 
 
 Sopros esplênicos podem ser audíveis em hipocôndrio esquerdo, entre as linhas 
hemiclavicular e axilar, anterior esquerdas, ocorrendo em pacientes com malária, leucemia 
ou tumores esplênicos. 
 
 Sopros contínuos são venosos, ocorrendo quando houver hipertensão portal, audível sobre 
a circulação colateral em região periumbilical, podendo gerar um frêmito no local, Sinal de 
Cruveillier-Baumgarten. 
Palpação 
Deve-se proceder à palpação superficial e profunda, com objetivo de identificar alteração em 
vísceras, presença de tumorações, dor, resistência em parede. 
Durante o exame deve-se observar as seguintes características: 
 Localização: Limita o número de estruturas a considerar (exemplo: massa em quadrante 
superior esquerdo, considerar afecções de baço do ângulo esplênico do colón e rim 
esquerdo). 
 Sensibilidade: A dor provocada pela palpação de uma massa abdominal ocorre devido a um 
processo inflamatório (exemplo: plastrão de epiplon, como ocorre na apendicite aguda, 
massa inflamatória na doença de Crohn) ou a distensão da cápsula do órgão (exemplo:fígado 
ou baço agudamente distendido). 
 Dimensão: Informa o tamanho da estrutura patológica encontrada. 
 Forma: Cisto, pseudocisto pancreático, tumores sólidos, são, geralmente esféricos. 
 Consistência: É verificada pela resistência da massa à palpação, variando de acordo com o 
processo patológico (exemplo: o carcinoma de fígado pode ser pétreo, o baço aumentado 
devido a infecção oferece pouca resistência à compressão). 
 Superfície: pode ser lisa (exemplo: cistos ou pseudocistos, hepatite, esteatose hepática) ou 
nodular (exemplo: tumor, cirrose hepática). 
 Mobilidade: A massa que se move com movimentos respiratórios, está relacionada a uma das 
vísceras móveis ou ao mesentério, portanto, dentro da cavidade peritoneal. A massa fixa deve 
estar localizada em retroperitônio ou corresponder à neoplasia infiltrativa de estruturas fixas. 
 Pulsação: Massa que apresente pulso corresponde a uma dilatação da artéria, apresenta 
aumento intermitente de volume da massa a cada sístole cardíaca. Massas sólidas encostadas 
na aorta podem transmitir a pulsação arterial, porem não apresenta variação de tamanho de 
acordo com o pulso sistólico. 
 
 
 
Mariana M. de Almeida – 16/12/20 2020.2 
Dor – quando ocorrer dor à descompressão brusca do abdômen é sinal que há inflamação aguda 
de peritônio. O sinal é considerado positivo quando o paciente apresenta dor aguda ao se retirar 
bruscamente a mão do seu abdome, caracterizando o sinal Blumberg. 
Acompanhando este sinal pode-se observar hipertonia da musculatura no local, podendo ser 
forte e contínua ou ocorrer somente ao se exercer uma pressão sobre o local. Essas duas 
características compõe o que pode ser chamado de sinais de peritonismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sinais de hemorragia peritoneal 
 Sinal de Laffont: dor referida no ombro direito, é indicativo de hemorragia retroperitoneal, pois o 
sangue na cavidade peritoneal irrita o nervo frênico. 
 Sinal de Cullen 
 Sinal de Gray-Turner 
 Sinal de Kehr 
 
Sinal de Perfuração/Pneumoperitônio 
 Sinal de Jobert: Perda da macicez hepática na percussão. Pode ser indicativo de pneumoperitônio. 
 
Mariana M. de Almeida – 16/12/20 2020.2 
Percussão 
A percussão deve ser suave, apoia-se o dedo indicador e médio da mão esquerda sobre a parede 
abdominal, percutindo com a mão direita. O ruído fisiológico é o timpanismo. Pode-se identificar 
quatro tipos de sons: timpânico, hipertimpânico, submaciço e maciço. A percussão sobre uma 
área sólida revela o som maciço; é o típico som obtido ao se percutir a região hepática. 
 
O som timpânico pode ser melhor identificado em área gástrica, na posição supina, devido ao 
conteúdo gasoso do estômago (bolha gástrica) e no espaço de Traube. 
 
Através da percussão pode-se realizar ainda a hepatimetria. Importante apontar que não é um 
método seguro para se afirmar que existe hepatomegalia, pois o órgão pode estar rebaixado, 
como ocorre em pacientes com enfisema pulmonar. A fim de determinar se há hepatomegalia, é 
necessário estabelecer dois pontos de referência: o primeiro, na parte mais alta do órgão, na 
altura do sexto espaço intercostal, determinado pela percussão; o segundo, a parte inferior do 
órgão. Normalmente o tamanho do fígado na linha mediana é de 5 cm, na linha medioclavicular é 
de 10 cm e na linha axilar anterior, 13 cm. 
 
Ao se percutir a região correspondente ao baço, obtém-se som timpânico. A área de nítido 
timpanismo é denominada de espaço de Traube.

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