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Maressa Duarte A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida, caracterizada por uma poliartrite simétrica periférica. Geralmente evolui para lesão articular e incapacidade física. Apesar de atingir principalmente as articulações, ela pode ter manifestações extra-articulares. A incidência é aumentada entre 25 e 55 anos e atinge um platô até os 75 anos e depois reduz. Mais comum em mulheres. Etiologia A AR está associada a fatores genéticos e a fatores ambientais. Geneticamente, estão associados o gene que codifica a proteína tirosina fosfatase 22 (PTPN22) e o anticorpo peptídeo citrulinado cíclicos (anti-CCPs). Os fatores ambientais são: - Tabagismo - Infecções principalmente por estreptococos e pelo vírus Epstein- Barr. Patologia A AR afeta o tecido sinovial e a cartilagem e ossos envolvidos. Há uma inflamação e proliferação sinovial nas articulações, além de erosões ósseas focais e o afinamento da cartilagem articular. A inflamação crônica leva à hiperplasia da camada sinovial e à formação do pannus, uma membrana espessada de tecido fibrovascular que invade a cartilagem e os ossos envolvidos. O infiltrado inflamatório é constituído por: células T, células B, plasmócitos, células dendríticas, mastócitos e alguns granulócitos. Os fatores de crescimento secretados pelos fibroblastos e macrófagos sinoviais promovem a formação de novos vasos sanguíneos na endocamada sinovial que supre as crescentes demandas de oxigenação e nutrição dos leucócitos infiltrantes e do tecido sinovial em expansão. A lesão estrutural à cartilagem mineralizada e ao osso subcondral é mediada pelo osteoclasto. Essas lesões se localizam onde a membrana sinocial se insere na susperficie do periósteo, nas margens de ossos próximos à borda da cartilagem articular e nos sítios de adesão de ligamentos e bainhas tendiosas. Outra forma de perda óssea é a osteopenia periarticular que ocorre nas articulações com inflamação ativa. São ricas em conteúdo aquoso, com um baixo conteúdo de gordura e consistentes com tecido inflamatório altamente vascularizado. Patogênese Os mecanismos patológicos são resultantes de uma interação entre fatores genéticos, ambientais e imunológicos que desregulam o sistema imune e levam a um a quebra da autotolerância. No estado pré-clínico há interrupção da autotolerância, com achado de autoanticorpos como o FR e o anticorpo anti-CCP. Dentre fatores desencadeadores, é importante a infecção, isso porque o sistema imune é alertado para a presença de infecções microbianas por meio de receptores TLRs. Esses receptores são amplamente expressos pelos fibroblastos sinoviais na AR, aumentando a produção de citocinas inflamatórias. Contudo, essa inflamação só se mantêm por causa de células T autorreativas, que se originam por uma seleção anormal no timo devido aos genes que predispõe à AR. Além disso, essas células T, principalmente a TCD4, auxiliam às células B, que produzem anticorpos que promovem inflamação articular, incluindo o anti- CCP (mais específico) e os contra FR (fator reumatoide). A AR é geralmente considerada com o um a doença controlada pelo macrófago, já que esse tipo celular é a fonte predominante de citocinas pró-inflamatórias no interior da articulação. Clínica Os sintomas iniciais são decorrentes da inflamação das articulações, tendões e bursas. Nesse momento, as principais articulações acometidas são as pequenas das mãos e dos pés e os pacientes se queixam de: inchaço matinal nas articulações, que dura mais de 1h e melhora com atividade física. Ainda estágio inicial, pode haver envolvimento monoarticular (1 articulação), oligoarticular (≤ 4 articulações) ou poliarticular (> 5 articulações), geralmente com distribuição simétrica. Após esse período inicial, há o envolvimento mais frequente dos pulsos, articulações metacarpofalangeais (MCP) e interfalangeais proximais (PIP). Normlamente, a AR poupa as articulações distais. Uma marca frequente da AR é a tenossinovite do tendão flexor, que leva à redução na capacidade de movimento, força para pegar objetos e dedos inseguros. Esses acometimentos evoluem para deformidades crônicas e irreversíveis. MÃO: desvio ulnar, deformidade do pescoço de cisne, deformidade de boutonniere e deformidade da linha Z. Artrite Reumatoide Maressa Duarte A inflamação em torno do estiloide ulnar e a tenosinovite do extensor carpiulnaris podem causar subluxação da ulna distal, resultando em um “movimento de teclado” do estiloide ulnar. PÉ: começa nas articulações MTP e progressivamente acomete o tornozelo e as regiões medianas do tarso, predispondo o desenvolvimento de pés chatos (planovalgus). Articulações maiores como joelhos e ombros são acometidas quando a doença se encontra estabelecida, mas podem permanecer assintomáticas por muitos anos após o aparecimento da doença. COLUNA VERTEBRAL: há envolvimento antlantoaxial podendo causar mioelopatia compressiva e disfunção neurológica. Ao contrário da espondiloartritide, a AR não afeta a coluna torácica e a lombar. Manifestações extra-articulares Os pacientes com risco de desenvolver essa clínica são os: tabagistas, com aparecimento precoce de incapacidade física significativa e teste positivo para FR sérico. As mais frequentes são: Síndrome de Sjogren secundária, nódulos pulmonares e anemia. CONSTITUCIONAL: perda e peso, febre, fadiga, mal-estar, depressão e, nos casos mais severos, caquexia. Refletem alto grau de inflamação. NÓDULOS: ocorrem em 30 a 40% dos pacientes. Quando palpáveis, normalmente são firmes, não sensíveis e aderentes ao periósteo, tendões e bursas. Se desenvolvem nas áreas sujeitas ao trauma repetido ou irritação. São benignos. Também podem ocorrer nos pulmões, pleura, pericárdio e peritônio. SÍNDROME DE SJOGREN: secundária definida pela presença de ceratoconjuntivite seca e xerostomia. PULMONAR: a principal é a doença pleural, caracterizada por dor torácica pleurítica e dispneia, fricção e efusão pleural. Também pode ocorrer a doença pulmonar intersticial (DPI) e é anunciada com tosse seca e encurtamento progressivo da respiração (prognóstico ruim). CARDÍACA: é comum o envolvimento do pericárdio, mas a pericardite ocorre em menos de 10% dos pacientes. A miocardiopatia também é importante. A anormalidade valvar mais comum é a regurgitação mitral. VASCULITE: mais comum em pacientes com doença crônica, com hipocomplementemia, mesmo sendo rara. Os sinais cutâneos variam e incluem petéquias, púrpura, infartos digitais, gangrena, livedo reticularis e, nos casos mais severos, ulcerações dolorosas das extremidades inferiores. HEMATOLÓGICA: anemia normocítica e normocrômica. A contagem de plaquetas pode estar aumentada. LINFOMA: aumento de 2 a 4x o risco de linfoma, sendo o mais comum o associado a células B. Diagnóstico O diagnóstico clínico é feito na base de critérios, num escore de 0 a 10, em que um escore > ou igual a 6. LABORATORIAIS - Presença de anti-CPP - Presença de fator reumatoide ANÁLISE DO FLUIDO SINOVIAL Apresenta estado inflamatório, com contagem de glóbulos brancos entre 5.000 e 50.000 (N: < 2.000). O tipo celular principal é o neutrófilo. No fluido também há fator reumatoide, anti-CCP e complexos imunes. IMAGEM RX: o achado radiográfico inicial é a osteopenia justa-articular. Outros achados nas radiografias planas incluem inchaço dos tecidos moles, perda simétrica do espaço articular e erosões subcondrais, mais frequentem ente nos pulsos e mãos (MCPs e PIPs) e nos pés (MTPs). RM: maior sensibilidade para detectar a sinovite e as efusões articulares, bem como alterações iniciais do osso e da medula óssea. USG: incluindo o Doppler colorido, possui a capacidade de detectar mais erosões do que a radiografia plana, especialmente nas articulações de fácil acesso. Tratamento As medicações usadas parao tratamento da AR podem ser divididas em 2 categorias: - Fármacos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES); glicocorticoides (prednisona e a metilprednisolona); - Fármacos antirreumáticos modificadores da doença (DMARDs) convencionais, e DMARDs biológicos. A doença em alguns pacientes com AR é controlada com um único DMARD, como o metotrexato. Os AINES são utilizados para controle dos sintomas. Os glicocorticoides podem ser administrados em baixas a moderadas doses para controle da doença até o uso de DMARD, ou podem ser usados de forma crônica em baixas doses para controle da doença em pacientes com resposta inadequada somente à terapia por DMARD. Maressa Duarte Os DMARDs impedem ou retardam a progressão estrutural da AR. Incluem a hidrozicloroqueina, sulfasalazina, metotrexato e leflunomida. O de 1ª escolha é o metotrexato. A falha no alcance da melhora adequada com a terapia com metotrexato indica a consideração de um regime de combinação eficaz, como: metotrexato, sulfasalazina e hidroxicloroquina (terapia tripla); metotrexato e leflunomida; e metotrexato mais um agente biológico.
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