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Aula 5 - Patologia das lesões encefálicas -1

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Patologia das lesões encefálicas 
A grandeza e a distribuição das lesões encefálicas 
traumáticas dependem da forma do objeto que provocou o 
trauma, da força do impacto e do fato de a cabeça estar ou 
não em movimento no momento da lesão. De modo geral, um 
golpe na cabeça pode ser penetrante ou contuso, podendo 
causar uma lesão aberta ou fechada. Assim, as fraturas, as 
lesões cranianas parenquimatosas e as lesões vasculares 
são classificadas conforme suas características. 
Fraturas cranianas 
1) Fratura craniana com deslocamento: ocorre quando o 
osso é deslocado para dentro da cavidade craniana por 
uma distância maior do que sua espessura. 
 
2) Fratura craniana sem deslocamento: ‘trinca’, de modo 
que aparece na radiografia, mas não desloca a estrutura 
óssea. 
3) Fraturas diastáticas: é uma lesão que atravessa as 
suturas cranianas (já fundidas), causada pela dissipação 
da energia cinética do impacto, por ser uma área de 
fragilidade da calota craniana. 
 
4) Fraturas de base de crânio: provoca sintomas 
referentes aos nervos cranianos inferiores ou à região 
cervicomedular. Assim, tem-se a presença de 
hematomas orbitais (sinal de guaxinim, em que a esclera 
fica normal) ou mastoides distantes do ponto do impacto. 
Além disso, um sintoma é a saída de líquor pelo nariz ou 
pela orelha e infecções subsequentes em casos de 
cronicidade das lesões (meningites). A maioria dessas 
fraturas acontece em região frontal. É uma das 
contraindicações de intubação orotraqueal, . 
Lesões parenquimatosas 
1) Concussão: é uma síndrome clínica transitória 
relacionada ao trauma e associada a perda de 
consciência, parada respiratória temporária e perda de 
reflexos e desmaio. Além disso, tem-se ocorrência de 
amnesia para o evento desencadeante e síndromes 
neuropsiquiátricas pós-concussivas (essas que 
geralmente são associadas a lesões repetitivas, como 
em lutadores de boxe, jogadores de futebol americano, 
entre outros). 
 
2) Lesão parenquimatosa direta: divididas em lacerações 
e contusões. 
Laceração: são lesões penetrantes que provocam a ruptura 
do tecido. 
Contusões: ocorre a transmigração da energia cinética, 
tendo lesão direta do parênquima cerebral. Cristas dos giros 
são mais susceptíveis a energia do impacto por serem mais 
próximas da calota. Pode-se ter lesão por golpe direto, que 
ocorre no ponto de contato, ou uma lesão por contragolpe, 
que ocorre em pontos opostos ao de contato. 
Nesse tipo de lesão, na microscopia tem-se hemorragia, 
edema local por presença de sinais inflamatórios, neurônios 
isquêmicos (vermelhos, com citoplasma bagunçado e com 
perda do núcleo) em cerca de 24 horas e, posteriormente, 
uma cicatriz glial marrom amarelada deprimida que se 
estende até a superfície da pia-máter (placa amarela). Além 
disso, a glia fica toda ‘esfarelada’, heterogênea e sem forma. 
Pode ocorrer efeito de 
massa, caracterizado por 
apagamento dos sulcos 
corticais e efeito compressivo 
sobre o sistema ventricular. 
 
 
3) Lesão axonal difusa: ocorre 
quando forças mecânicas 
(aceleração angular mesmo na 
ausência de impacto) 
interrompem a integridade e/ou 
o fluxo axonal. Está presente 
em até metade dos pacientes 
que ficam em como após o 
trauma (mesmo na ausência de 
contusões cerebrais). Na microscopia analisa-se edema 
axonal generalizado e hemorragia focal, de modo que em 
achados tardios tem-se fibras degeneradas e gliose. É 
muito comum em acidentes com efeito ‘chicote’. 
Lesões vasculares 
 
1) Hematoma subgaleal: produzida pelo sangue 
acumulado entre a pele e a calota craniana, que se 
apresenta como uma grande massa uniformemente 
propagada ao longo do coro cabeludo. 
 
2) Hematoma intraparenquimatoso: vasos se rompem no 
parênquima, podendo também ter efeito de massa, com 
deslocamento de ventrículos. 
 
3) Hematoma subaracnóidea: é a lesão cerebral 
traumática mais frequente, que resulta da ruptura dos 
vasos corticomeníngeos e das contusões hemorrágicas 
do cérebro. Geralmente é difusa e não exerce pressão 
localizada. O sangue é diluído pelo líquor e não coagula, 
a menos que seja maciço. Uma grande hemorragia 
subaracnóidea aumenta a pressão intracraniana e 
prejudica a perfusão cerebral. Assim, a hemoglobina 
liberada de hemácias no espaço subaracnóideo 
desencadeia espasmos vasculares, culminando em 
hipóxia. Além disso, a fibrose do espaço subaracnóideo 
prejudica a circulação do LCR, podendo causar 
hidrocefalia. 
 
4) Hematoma subdural: 
é visto em cerca de 
20% dos TCE e tem 
uma taxa de 
mortalidade de 40-
60%, por terem mais 
proximidade com o 
cérebro. Geralmente 
são causados pela ruptura de veias de ponte que 
correm/são perpendiculares entre a superfície do cérebro 
e do crânio e são especialmente numerosas ao longo do 
seio sagital superior (característica sintomatológica 
lenta). 
Esse hematoma é organizado de modo que inicia como uma 
coleção sanguínea fora do parênquima cerebral, entre a dura-
máter e a membrana aracnoide, essa que inicialmente não 
está ligada à dura-máter. Assim, os fibroblastos migram e 
começam a organização do coágulo, já que o sangue fora dos 
vasos é irritante e causa processo inflamatório. Em 5 a 6 dias 
ocorre a lise do coágulo e o crescimento dos fibroblastos com 
formação de fibrose faz com que ele fique fracamente ligado 
à dura. Em 10 a 20 dias uma membrana fibrosa é formada 
entre a dura e o coágulo (membrana externa). O tecido 
fibroso então cresce ao redor das bordas do hematoma e ao 
longo de sua superfície interna (membrana interna), 
encapsulando-o completamente. Após várias semanas ou 
meses, há a formação de um saco com uma parede fibrosa 
(hematoma subdural crônico), deixando uma cicatriz no local 
do hematoma. Tem característica de lente côncava ou 
crescent-shaped (crescente lunar) no exame de imagem. 
 
5) Hematoma epidural: se desenvolve mais comumente 
com fraturas dos ossos temporais e da região parietal, de 
modo que lesam os vasos meníngeos médios. É visto em 
cerca de 4% dos TCE 
e tem uma 
mortalidade geral de 
10%. Fraturas 
cranianas estão 
presentes em 70-90% 
dos casos, de modo 
que é uma lesão muito 
associada a fraturas. 
Como sinais tem-se aumento da pressão intracraniana 
em hematomas epidurais com ruptura arterial, esses que 
geralmente desenvolvem poucas horas após a lesão. 
Para saber que é um hematoma epidural tem 
característica de lente biconvexa no exame de imagem, 
de modo que a olho nu tem-se uma membrana coagulada 
acima da meninge dura-máter. 
Sangue entre a dura e a aracnoide
Migração de fibroblastos
Em 5-6 dias um coágulo ligado à dura-máter
Em 10-20 dias uma membrana fibrosa entre a dura e o 
coágulo
Tecido fibroso cresce e encapsula o coágulo
Após semanas, formação de um saco com parede 
fibrosa, como uma cicatriz
 
Tipo do hematoma Epidural Subdural 
Localização 
 
 
 
 
Entre o crânio e a camada 
mais externa da dura-máter 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Entre a dura-máter 
e a aracnoide 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vasos envolvidos Vasos meníngeos médios Vasos de ponte 
Sintomas 
Intervalo lúcido seguido de 
inconsciência – ‘talk and die’ 
Dor de cabeça e 
confusão com 
aumento gradual 
Aparência na 
tomografia 
 
Lente biconvexa 
 
 
 
Crescente lunar

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