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Referência Bibliográfica: ALEXY, Robert. Posfácio. In: ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 575-627. Informações do autor: Formação em Direito e Filosofia pela Universidade Georg-August, de Göttingen. Recebeu o título de PhD em 1976, com a dissertação Uma Teoria da Argumentação Jurídica, e a habilitação em 1984, com a Teoria dos Direitos Fundamentais - dois clássicos da Filosofia e Teoria do Direito. De 1994 a 1998, o Prof. Alexy ocupou o cargo de Presidente da Seção Alemã da Associação Internacional para Filosofia do Direito e Filosofia Social. Desde 2002, é membro ordinário da Classe Histórico-Filológica da Academia das Ciências, em Göttingen. Professor na Universidade de Kiel, Alemanha. Em 2010 foi condecorado com a cruz do mérito 1. classe da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha. Além disso, recebeu diversos prêmios Honoris Causa das universidades de Alicante, Buenos Aires, Lima, Teresina, Praga, Coimbra e, recentemente da UFRGS, Brasil. Breve Resumo do capítulo: No posfácio de sua obra, Alexy afirma que a tese central de seu livro é a de que os direitos fundamentais são mandados de otimização, uma vez que são princípios. O autor afirma que sua tese de otimização é alvo de diversas críticas ao longo dos anos. Mais que isso, afirma que existem 02 linhas críticas. A primeira delas seria a de que os direitos fundamentais, ao serem considerados princípios, perderiam seu “muro protetor”, sua força. Isso porque, ao serem analisados enquanto mandados de otimização, os mesmos permitiriam que houvesse a flexibilização dos preceitos neles dispostos. Ter-se-ia, nesse caso, uma insuficiência de direitos fundamentais (Habermas). Em um sentido diametralmente oposto, há a crítica que afirma que, por serem considerados princípios, poder-se-ia ter uma demasia desses direitos. Afinal, os direitos fundamentais seriam princípios supremos de uma ordem jurídica e, com isso, “já conteriam tudo em si mesmos”, faltando-lhes, apenas, sua concretização. Ou seja, o legislador seria tolhido de sua autonomia. Para tanto, essa crítica afirma que haveria apenas duas possibilidades: Um Estado judiciário (caso houvesse essa demasia dos direitos fundamentais enquanto princípios) ou, em sentido oposto, um Estado Legislativo Parlamentar. Assim, Alexy afirma que para saber se realmente essas seriam as únicas possibilidades, seria preciso analisar os conceitos de moldura e fundamento. Nessa senda, o autor aborda, primeiramente, o conceito de ordem moldura. Para possibilitar seu intento, o mesmo apresenta três exemplos de critérios que buscam determinar a conceituação. Desse modo, após esses exemplos, pode-se diferenciar 03 modelos de constelações constitucionais, no que se refere à relação entre a Constituição e o Legislativo. A primeira constelação apresenta uma constituição procedimental, que não contém nenhum dever ou proibição substancial que restrinja a competência do legislador. Ou seja, a atividade do mesmo (devendo apenas observar normas de competência, procedimento, etc) é ilimitada, sem ser restrita a nenhuma moldura substancial. Esse é um modelo no qual a vinculação jurídica do legislador aos direitos fundamentais é incompatível. Em sentido oposto, outro possível modelo seria a da Constituição puramente material. Nesse modelo não haveria espaço para a discricionariedade do legislador. Isso porque, a constituição contém deveres e proibições para todos os atos legislativos. Já o terceiro modelo é denominado formal. Nessa constelação temos a existência de coisas facultadas e coisas não-facultadas, ou seja, obrigatórias ou proibidas. Isso corresponde ao modelo material-procedimental, no qual a discricionariedade do legislador se encontra no âmbito das coisas facultadas. Logo, após a exposição desses trÊs modelos, é possível chegar à metáfora da moldura: moldura é aquilo que é obrigatório ou proibido. O que é facultado é o que está no interior da moldura. Assim, a discricionariedade do legislador (de agir nos casos facultados), encontra-se dentro dessa moldura e possui um caráter estrutural. Não obstante, Alexy afirma que é possível se falar em uma discricionariedade substancial no que se refere ao que decorrente da estrutura das normas constitucionais. Ainda, o autor chama atenção para a distinção que há entre a discricionariedade estrutural e a epistêmica/cognitiva. Em seguida, Alexy afirma que é possível usar os conceitos de necessário, impossível e possível (substituindo dever, proibição e faculdade). Assim, o autor passa a se debruçar sobre o conceito de ordem-fundamento, a fim de, após essas conceituações (moldura, ordem-fundamento, etc), seja possível analisar a ideia da incompatibilidade entre a moldura e a otimização. O filósofo afirma que se pode abordar esse conceito sob dois aspectos: quantitativo e qualitativo e passa a descrever-los. Desse modo, percebe-se que o aspecto quantitativo de ordem-fundamento é incompatível com a ideia de ordem-moldura. Já o aspecto qualitativo é compatível. Afinal, uma constituição pode decidir questões fundamentais (ordem-fundamento) e, ao mesmo tempo, deixar questões em aberto, sendo, assim, uma ordem-moldura. Segundo Alexy, para a teoria dos princípios, uma boa constituição deveria ser assim. Em seguida, o autor afirma que o ponto seguinte seria saber se esse modelo seria compatível com os direitos fundamentais entendidos como princípios. Assim, o filósofo inicia um tópico sobre discricionariedade e sopesamento. Mais que isso, Alexy divide o tópico em três partes, segundo os tipos que existem de discricionariedade estrutural: a discricionariedade para definir objetivos, a discricionariedade para escolher meios e a discricionariedade para sopesar. Ao entrar no item da discricionariedade para sopesar, Alexy ressalta que uma das críticas que sua teoria da otimização receberia era a de que a mesma tolhia a possibilidade da discricionariedade para sopesar, uma vez que a mesma associa-se à ideia de ponto máximo. A fim de esmiuçar melhor tal crítica, em um primeiro momento o autor passa a analisar o conceito de otimização. Chega- se a constatação de que a questão acerca da incompatibilidade da otimização com a ideia de moldura relaciona-se com a questão da incompatibilidade da máxima da proporcionalidade. Nessa senda, o autor passa a dedicar-se a duas das três máximas parciais da máxima da proporcionalidade: adequação e necessidade. Assim, o mesmo dedica-se a demonstrar como ambas as máximas não levam a uma ideia de ponto máximo, não limitam absolutamente o agir do legislador. Após, Alexy passa a analise da terceira máxima parcial: a proporcionalidade em sentido estrito. O autor afirma que a mesma é idêntica a lei de sopesamento, descrita como “Quanto maior for o grau de não-satisfação ou de afetação de um princípio, tanto maior terá que ser a importância da satisfação do outro” (2011, p. 593). Em momento seguinte a essas considerações, o autor volta-se às críticas feitas à sua teoria (por Habermas e por Bõckenforde). No que se refere a Habermas, Alexy refuta que não seja possível realizar juízos racionais sobre a intensidade da intervenção nos direitos fundamentais e afirma existirem duas posições contrárias ao pensamento do crítico. Mais que isso, afirma que a Teoria dos princípios não defende que sempre irá se chegar a um resultado único, racional e inequívoco e, portanto, a mesma adota a posição moderada. Para exemplificar, o filósofo aborda dois casos concretos julgados pelo Tribunal Constitucional alemão. Com a analise dos dois casos é possível perceber que juízos racionais sobre graus de intensidade e importância dos direitos fundamentais (enquanto princípios de otimização) são possíveis e se dão com relação à fundamentação da decisão. Assim, Alexy sustenta que a lei do sopesamento sobrevive às críticas de Habermas. Em seguida, o autor passa a analisaras críticas feitas por Bõckenforde. Nesse sentido, é necessário, para a sobrevivência da teoria de Alexy, que a lei do sopesamento seja compatível com um certo nível de discricionariedade. Para tanto, o autor passa a discorrer sobre o modelo de escalonamento triádico da intensidade da intervenção. Mais que isso, o autor chama atenção para os casos de impasse, que se mostram especiais no que se refere a discricionariedade estrutural e, ainda, aborda um caso concreto. Além disso, o filósofo busca demonstrar a distinção que há entre dois aspectos da discricionariedade para sopesar. O primeiro consiste no impasse enquanto tal. E o segundo é o fato de que impasses são equivalentes em diferentes níveis da escala. Nesse sentido, para Alexy “a idéia de uma discricionariedade estrutural para sopesar é a conjunção de dois pensamentos: o da igualdade no impasse e o da igualdade entre os impasses” (2011, p. 608). Após, o autor aborda as objeções que poderiam ser feitas à esse pensamento, refutando-as. Em seguida, Alexy debruça-se sobre o que o mesmo afirma ser uma das questões mais polêmicas da Teoria dos princípios: a relação entre princípios materiais e princípios formais. Assim, a fim de responder às críticas, Alexy, em um primeiro momento, procurar esclarecer qual a posição de sua teoria. Para o mesmo, o problema da discricionariedade epistêmica pode ser solucionado com sopesamentos entre princípios formais e princípios materiais. Com isso, o autor passa a analisar a questão da discricionariedade epistêmica e a divide em dois tipos: empírica e normativa, estudando cada uma delas e sua relação enquanto resultado de sopesamentos. O filósofo chega a duas soluções extremas. A primeira delas seria a precedência absoluta dos princípios materiais e Alexy demonstra o porquê da mesma dever ser descartada. A segunda seria a precedência absoluta dos princípios formais, que do mesmo modo deve ser refuta. Assim, sobram as soluções intermediárias, segundo o filósofo. Chega-se, assim, à lei epistêmica do sopesamento. Para tanto, Alexy passa a abordar o assunto. Para além dessas questões, o autor traz em sua obra, por fim, o tópico com relação à discricionariedade epistêmica e sua vinculação à constituição. Citações literais do texto: Pgs.: Cópia literal do texto: Palavras- chaves: p. 575 A tese central deste livro é a de que os direitos fundamentais, independentemente de sua formulação mais ou menos precisa, têm a natureza de princípios e são mandamentos de otimização. [...] a tese da otimização foi alvo de inúmeras críticas. Algumas delas dizem respeito a problemas gerais da teoria das normas. A maioria, no entanto, gira em torno da questão sobre se a tese da otimização conduz a um modelo adequado dos direitos fundamentais. [...] A primeira linha crítica alega que o modelo de princípios baseado na tese da otimização retira força dos direitos fundamentais. Direitos fundamentais Princípios; Otimização; Críticas p. 576 O caráter principiológico derrubaria um "muro protetor": "Se, nos casos de colisão, todas as razões puderem adotar o caráter de argumentos definidores de finalidades, derruba-se então aquele muro protetor que uma compreensão deontológica das normas jurídicas introduz no discurso jurídico". [...] E o sopesamento de direitos fundamentais não ameaçaria apenas a sua força em geral. Ele implicaria também o risco de que os direitos fundamentais fossem vítimas de "juízos irracionais", pois não haveria nenhum parâmetro racional para esse sopesamento: "como faltam parâmetros racionais para tanto, o sopesamento é realizado ou de forma arbitrária ou irrefletida, baseado em standards e hierarquias sedimentados". Em resumo: em primeiro lugar, os direitos fundamentais são flexibilizados, ao serem transformados em mandamentos de otimização; depois, ficam ameaçados de desaparecer no turbilhão do sopesamento irracional. É possível chamar a crítica de Habermas de alerta para o perigo de uma insuficiência de direitos fundamentais. O seu oposto, o perigo de um excesso desses direitos, é o cerne da crítica de Bõckenforde. O ponto de partida de Bõckenforde é a distinção entre direitos fundamentais como direitos clássicos de defesa do cidadão contra o Estado, e direitos fundamentais como normas de princípios. Colisão; Habermas; Insuficiência p. 577 Bóckenforde admite que esse caráter principiológico é "adequado para reproduzir o conceito dogmático básico dos direitos fundamentais, porque é capaz de abarcar todas as funções desses Dogmático; Direitos fundamentais direitos de forma abrangente e, de maneira conversa, permite que todas essas funções se desenvolvam de forma variável a partir dele". Mas isso teria amplas conseqüências que, no fim, seriam inaceitáveis. O papel dos direitos fundamentais no sistema jurídico seria alterado profundamente. [...] Dessa forma, os direitos fundamentais transformar-se-iam em "princípios supremos da ordem jurídica como um todo". Enquanto tais, eles já conteriam tudo em si mesmos. Necessária seria apenas urna concretização por meio de um sopesamento: "No nível das normas-princípios com tendência otimizadora, a ordem jurídica já está inteiramente contida na constituição. Ela apenas carece de uma concretização". ; Princípios p. 578 A compreensão dos direitos fundamentais como mandamentos de otimização conduziria, assim, a um modelo de constituição com conseqüências fatais. O legislador parlamentar perderia toda a sua autonomia. Sua atividade esgotar-se-ia na mera constatação daquilo que já foi decidido pela constituição. O processo político democrático perderia consideravelmente em importância, e não seria mais possível deter a "transição do Estado legislativo parlamentar para um Estado judiciário constitucional": "Se os direitos fundamentais expressam normas de princípios com tendência otimizadora, o tribunal constitucional é invocado para dotar de validade o seu conteúdo normativo". Por isso, segundo Bóckenfõrde, há apenas duas possibilidades: decidir-se por direitos fundamentais como princípios e, com isso, por um Estado judiciário, ou decidir-se pela limitação dos direitos fundamentais à sua clássica função como direitos de defesa e, com isso, por um Estado legislativo parlamentar. p. 579 A partir dessa base, a teoria dos princípios é uma vítima fácil. Se ela necessariamente conduz a uma constituição na qual a totalidade da ordem jurídica já está contida, então, a teoria dos princípios condena o legislador - sob o controle do Judiciário - a apenas declarar aquilo que já foi decidido pela constituição. A "liberdade de conformação política do legislador" seria, assim, eliminada totalmente, por meio de uma "pressão otimizadora jurídico- constitucional", o que seria incompatível com os princípios do parlamentarismo democrático e da separação de poderes. Esses princípios exigem que o Legislativo, legitimado democraticamente, tenha uma participação significativa - quantitativa e qualitativamente - na configuração da ordem jurídica. Diante disso, o que se deve indagar é se a teoria dos princípios leva, de fato e necessariamente, a uma ordem-fundamento no sentido dado por Bóckenforde, uma ordem que exclui toda e qualquer liberdade do legislador. A resposta a essa questão depende dos conceitos de moldura e de fundamento. Constituição; Princípios; Legislador; Judiciário; Moldura; Fundamento p. 580 Esses critérios para a determinação do conteúdo de uma constituição como moldura devem ser distinguidos do conceito de ordem-moldura em si mesmo, que permanece inalterado para todas as variantes baseadas na idéia de moldura e que, nesse sentido, é um conceito formal. [...] Na primeira constelação, a Constituição não contém nenhum dever ou proibição substancial que restrinja a Conteúdo; Constituição; Moldura; Procedimen- tal competênciado legislador. Desde que ele respeite as previsões constitucionais sobre competência, procedimento e forma, ao legislador é tudo permitido e ele está autorizado a tudo fazer. Esse é um modelo de constituição puramente procedimental. Por definição, nesse modelo não há nenhuma moldura substancial. As competências do legislador são substancialmente ilimitadas. p. 581 O modelo puramente procedimental é incompatível com a vinculação jurídica do legislador aos direitos fundamentais, pois esse modelo é definido pela negação de toda e qualquer vinculação jurídica substancial. [...] Do ponto de vista do ceticismo radical em relação ao sopesamento, a única coisa de que os direitos fundamentais são capazes é criar uma falsa impressão de que existe uma moldura. Um tribunal constitucional pode se utilizar disso para mascarar o caráter decisionista de seus julgamentos. Por essa perspectiva, o legislador não está vinculado à constituição, mas está à mercê do tribunal constitucional. [...] O contraponto de um modelo puramente procedimental é um modelo puramente material. Nele, a constituição contém deveres ou uma proibição para toda e qualquer decisão legislativa imaginável. Essa é a constituição como um genoma, no sentido descrito por Forsthoff. Sob essa constituição não há nenhuma regulação legislativa que seja de decisão livre do legislador. Diante disso, toda e qualquer discricionariedade é eliminada. Em seguida, o filósofo discorre sobre a importância da discricionária epistêmica em casos em que o exame de adequação e necessidade não se mostram tão simples (e traz exemplos concretos). Vinculação; Legislador; Ceticismo; Moldura; Material; Genoma; Discriciona- riedade p. 582 Quando do exame do modelo puramente formal foi formulada a questão acerca da capacidade da teoria dos princípios para proibir algo ao legislador, ou seja, para lhe impor uma moldura, no sentido de um limite. A essa pergunta soma-se uma segunda: se ela é capaz de fazê-lo sem lhe retirar toda e qualquer discricionariedade. Isso ocorreria se a teoria dos princípios fosse capaz de obrigá-lo a algumas coisas, proibir-lhe outras e, em relação ao resto, não estabelecer nem uma obrigação, nem uma proibição. Se algo não é nem obrigatório, nem proibido, então, é permitido fazê-lo ou se abster de fazê-lo. Se é permitido fazer algo ou se abster de fazê-lo, então, essa ação é facultada. Assim, a discricionariedade do legislador é formada exatamente pelas alternativas que a ele são facultadas. Por isso, é possível denominar essa discricionariedade também como "âmbito facultado". [...] A metáfora da moldura pode ser, então, definida da seguinte forma: o que é obrigatório ou proibido é a moldura; o que é facultado - ou seja, nem obrigatório, nem proibido - é aquilo que se encontra no interior da moldura. Nesse sentido, a discricionariedade do legislador é definida por aquilo que é facultado. Essa discricionariedade é de natureza estrutural. Seria também possível falar em uma discricionariedade substancial decorrente da estrutura das normas constitucionais. O que é decisivo é que a sua extensão é determinada por aquilo que é juridicamente válido em virtude das normas constitucionais. Formal; Discriciona- riedade; Legislador; Âmbito facultado; Moldura p. 583 Essa última definição distingue a discricionariedade estrutural da Discriciona- discricionariedade epistêmica ou cognitiva. Uma discricionariedade epistêmica decorre não dos limites daquilo que a constituição obriga ou proíbe, mas dos limites da possibilidade de se reconhecer o que a constituição, de um lado, obriga e proíbe e, de outro, nem obriga nem proíbe, ou seja, o que ela faculta. De uma forma exagerada, é possível afirmar que a discricionariedade epistêmica decorre dos limites da capacidade de se conhecer os limites da constituição. Os limites dessa capacidade podem ser tanto limites da cognição empírica quanto limites da cognição normativa. [...] Aquilo que a constituição obriga é constitucionalmente necessário; o que ela proíbe, constitucionalmente impossível; e o que ela faculta não é constitucionalmente nem necessário, nem impossível, mas meramente possível. Assim, o problema da moldura pode ser formulado como problema da existência de uma esfera composta por aquilo que é apenas constitucionalmente possível. Os adversários da teoria dos princípios sustentam que a existência de uma tal esfera é incompatível com a idéia de otimização. [...] ordem-fundamento. Esse conceito pode ser compreendido de forma quantitativa ou de forma qualitativa. Em um sentido quantitativo, uma constituição é uma ordem-fundamento se ela nada faculta, ou seja, se para tudo ela tem ou um dever, ou uma proibição. riedade; Estrutural; Epistêmica; Limites; Constituição; Possível p. 584 Esse conceito quantitativo de ordem-fundamento é um verdadeiro conceito contraposto ao conceito de ordem-moldura. É impossível que uma constituição seja, ao mesmo tempo, uma ordem- fundamento em sentido quantitativo e uma ordem-moldura. Mas o caso do conceito de ordem-fundamento em sentido qualitativo é bem diferente. Uma constituição é uma ordem-fundamento em sentido qualitativo ou substancial se por meio dela são decididas questões que sejam fundamentais para a comunidade. Esse conceito de ordem-fundamento é compatível com o conceito de ordem- moldura. [...] A questão é saber se esse postulado pode ser satisfeito quando se pressupõe que os direitos fundamentais têm a estrutura de princípios. Conceito; Ordem- moldura; Quantitativo; Qualitativo p. 585 Há três tipos de discricionariedade estrutural: a discricionariedade para definir objetivos, a discricionariedade para escolher meios e a discricionariedade para sopesar. Diante de um direito fundamental, o legislador tem uma discricionariedade para definir objetivos se esse direito contiver uma autorização de intervenção que ou deixe em aberto as razões para a intervenção ou, embora mencione essas razões, apenas permita, mas não obrigue, a intervenção se essas razões estiverem presentes. [...] A discricionariedade para definir objetivos tem sua maior extensão nos casos em que o legislador pode ele mesmo escolher os objetivos que irão justificar sua intervenção. Objetivos; Meios; Sopesar p. 586 Finalidades no âmbito da discricionariedade para definir objetivos são, em geral, interesses coletivos. Se um direito individual é suscitado como razão para a restrição de um direito fundamental, então, há princípios constitucionais em ambos os lados. Nesse caso, não há nenhuma discricionariedade para definir objetivos. [...] A segunda espécie de discricionariedade - a discricionariedade para Finalidade; Direitos; Meios; Intervenções; Ações positivas escolher meios - entra em cena quando normas de direitos fundamentais não apenas proíbem intervenções, como também exigem ações positivas, como, por exemplo, a concessão de uma proteção. Essa discricionariedade decorre da estrutura dos deveres positivos. [...] A discricionariedade para escolher meios praticamente não suscita problemas se os diferentes meios forem aproximadamente adequados para realizar ou fomentar a finalidade e se não tiverem nenhum ou praticamente nenhum efeito negativo em outras finalidades ou princípios. Mas isso é diferente nos casos em que os diversos meios fomentarem a final idade em graus distintos, ou se for incerto em que grau eles o fazem, ou se tiverem efeitos negativos em diferentes graus nas outras finalidades ou em outros princípios [...] p. 587 Nesses casos, a decisão depende de sopesamentos e da possibilidade de identificar os respectivos graus de fomento e de prejuízo em relação a outras finalidades e princípios. Isso suscita novos problemas relacionados à discricionariedade. Em primeiro lugar, será analisada questão dadiscricionariedade estrutural para sopesar. [...] Uma objeção freqüentemente suscitada contra a teoria dos princípios inicia com a tese de que a idéia de otimização está associada à concepção de um ponto máximo, e avança na afirmação de que isso excluiria uma discricionariedade estrutural para sopesar. Sopesar; Ponto máximo; p. 588 Saber se a objeção do ponto máximo é procedente é algo que depende do que se entende por "otimização" na teoria dos princípios. Esse conceito decorre da própria definição de princípios. Princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Uma das teses centrais da "Teoria dos Direitos Fundamentais" é a de que essa definição implica a máxima da proporcionalidade, com suas três máximas parciais - as máximas da adequação, da necessidade e da proporcional idade em sentido estrito -, e que a recíproca também é válida, ou seja, que da máxima da proporcionalidade decorre logicamente o caráter principiológico dos direitos fundamentais. Essa equivalência significa que as três máximas parciais da máxima da proporcional idade definem aquilo que deve ser compreendido por "otimização" na teoria dos princípios. A questão acerca da incompatibilidade da otimização com a idéia de constituição como moldura é, portanto, equivalente à questão acerca dessa incompatibilidade em relação à máxima da proporcionalidade. [...] As máximas da adequação e da necessidade expressam a exigência - contida na definição de princípio - de uma máxima realização em relação às possibilidades fáticas. Ponto máximo; Otimização; Máximas; Proporcionali dade; Adequação; Necessidade p. 590 Esse exemplo simples demonstra que, se não se pretende abandonar a máxima da adequação, não é possível passar ao largo de algum tipo de otimização. Ele demonstra, além disso, que o aspecto da otimização presente na máxima da adequação não aponta para um ponto máximo. Essa máxima tem, na verdade, a natureza de um critério negativo. Ela elimina meios não adequados. Um tal critério negativo não determina tudo, mas exclui algumas coisas. Nesse sentido, ele ajusta-se à idéia de uma ordem-moldura. Algo Adequação; Otimização; Necessidade; semelhante é válido para a máxima da necessidade. Ela exige que, dentre dois meios aproximadamente adequados, seja escolhido aquele que intervenha de modo menos intenso. p. 591 Nesse sentido, também a máxima da necessidade é expressão da ideia de eficiência de Pareto. Em razão da existência de um meio que intervém menos e é igualmente adequado, uma posição pode ser melhorada sem que isso ocorra às custas da outra posição. É claro que, ao contrário do que ocorre com o exame da adequação, aqui não ocorre uma simples eliminação de meios. Mas ao legislador também não é prescrita categoricamente a adoção do meio que intervém em menor intensidade. O que se diz é apenas que, se o legislador quiser perseguir o objetivo escolhido, ele pode adotar apenas o meio mais suave, ou um meio igualmente suave ou um meio ainda mais suave. Isso não é nenhuma otimização em direção a algum ponto máxi mo, mas apenas a vedação de sacrifícios desnecessários a direitos fundamentais. Necessidade; Eficiência; Legislador; Intensidade p. 592 Isso demonstra o grande papel que pode ser atribuído à discricionariedade epistêmica no exame da adequação e da necessidade. O reconheci mento de uma competência legislativa para a avaliação de variáveis empíricas é, no que diz respeito ao seu resultado, equivalente ao reconhecimento de uma competência para restringir o direito fundamental. Saber se e em que extensão são justificáveis essas discricionariedades para fazer estimativas é algo que diz respeito não às discricionariedades estruturais, mas às epistêmicas. Mas esse é um problema essencialmente ligado aos princípios formais. O problema ela discricionariedade epistêmica surge tanto no exame da adequação quanto no exame da necessidade. O segundo motivo para que a estrutura desses exames - que, em si, é simples - se torne complexa está ligado apenas ao exame da necessidade. Ele reside na possibilidade de situações nas quais não apenas dois princípios sejam relevantes. Freqüentemente, em relação ao direito fundamental afetado, há meios mais suaves e que fomentam o objetivo perseguido pelo legislador de forma igualmente efetiva, mas que têm como desvantagem a afetação ele um terceiro princípio. Epistêmica; Competência p. 593 Como mandamentos de otimização, princípios exigem uma realização mais ampla possível em face não apenas das possibilidades fáticas, mas também em relação às possibilidades jurídicas. Essas últimas são determinadas sobretudo pelos princípios colidentes. A máxima da proporcionalidade em sentido estrito - a terceira máxima parcial da máxima da proporcionalidade - expressa o que significa a otimização em relação aos princípios colidentes. Ela é idêntica à lei do sopesamento, que tem a seguinte redação: Quanto maior for o grau de não-satisfação ou de afetação de um princípio, tanto maior terá que ser a importância da satisfação do outro. Sentido estrito; Sopesamento p. 594 A objeção de Habermas à teoria dos princípios seria em seu cerne justificada caso não fosse possível elaborar juízos racionais sobre intensidades de intervenções, sobre graus de importância e sobre o relacionamento entre ambos. [...] Não haveria nenhuma moldura, já Teoria; Moldura; Discriciona- riedade; que não existiria nenhum limite. De outro lado, a objeção de Bõckenforde também seria em seu cerne justificada caso o sopesamento exigisse sempre apenas uma única decisão do legislador, ou seja, se não existisse nenhuma discricionariedade estrutural para sopesar. [...] Se se toma literalmente sua tese de que faltam "parâmetros racionais" para o sopesamento, então, essa tese sustenta que por meio de um sopesamento não é possível chegar a uma conclusão de forma racional em nenhum caso. Há duas teses contrárias a essa tese, uma radical e uma moderada. A tese radical sustenta que o sopesamento possibilita uma conclusão racional em todos os casos. A teoria dos princípios nunca sustentou essa tese e sempre salientou que o sopesamento não é um procedimento que conduza, em todo e qualquer caso, a um resultado único e inequívoco. Diante disso, as atenções se voltam para a versão moderada. Ela sustenta que, embora o sopesamento nem sempre determine um resultado de forma racional, isso é em alguns casos possível, e o conjunto desses casos é interessante o suficiente para justificar o sopesamento como método. Sopesamento p. 598 As decisões sobre os produtos derivados do tabaco e sobre a revista Titanic demonstram que juízos racionais sobre graus de intensidade e importância são possíveis e que eles podem ser relacionados com vistas à fundamentação de uma decisão. É claro que esses juízos pressupõem parâmetros que não estão contidos na própria lei do sopesamento. Decisões; Juízos racionais; Fundamenta- ção; p. 599 Ambas as decisões demonstram, portanto, que há casos em que, com o auxílio da lei do sopesamento, são impostos limites à atividade estatal de forma racional. Com isso, refuta-se a tese de que o sopesamento, no limite, tudo permitiria, em virtude da falta de parâmetros racionais. A lei do sopesamento sobrevive, assim, às objeções de Habermas. Agora é, então, necessário verificar se isso ocorre também em relação às objeções de Bõckenfürde. Para tanto, a lei do sopesamento tem que ser compatível com um grau suficiente de discricionariedade. Para responder à questão acerca da discricionariedade no âmbito de aplicação da lei do sopesamento, é necessário examinar o sistema que subjaz à construção das escalas vistas anteriormente. Todas as classificações ocorrem em um modelo emtrês níveis, ou triádico. Os três níveis podem ser identificados por meio dos termos "leve", "moderado" e "sério". Limites; Sope- samento; Habermas; Discricionari edade; Escalas; Bõckenfürde; p. 603 Os três casos de impasse no sopesamento levam a uma discricionariedade estrutural para sopesar. Para demonstrar isso, o modelo triádico tem que ser analisado um pouco mais. Os três níveis do modelo triádico constituem uma escala que procura sistematizar as classificações que são encontradas tanto na prática cotidiana quanto na argumentação jurídica. Um escalonamento triplo está longe de uma metrificação das intensidades de intervenção e dos graus de importância por meio de uma escala cardinal como, por exemplo, uma escala de 0 a 1. E isso tem que ser assim, porque as intensidades de intervenção e os graus de importância não são passíveis de serem metrificados com o auxílio de uma escala desse tipo. Com certa freqüência a simples Sopesar; Triádico; Intensidade; Intervenção classificação como leve, mediano ou sério já cria problemas. Às vezes consegue-se, com certo esforço, distinguir entre leve e sério, e em alguns casos até mesmo isso parece ser impossível. Por isso, escalonamentos jurídicos só são possíveis com limiares relativamente rudimentares, e isso nem mesmo em todos os casos. Por consegui nte, ficam excluídas metrificações calculáveis com o auxílio de um continuum de pontos entre 0 e 1. p. 606 Para a questão da discricionariedade estrutural os casos de impasse são de especial interesse. Neles o peso concreto de Pi é sempre igual. Isso expressa idéia de uma equivalência de valores para todos os casos de impasse. Essa equivalência do impasse no sopesamento é a razão para a discricionariedade estrutural. Isso será demonstrado por meio de um caso concreto. Discriciona- riedade estrutural; Impasse; Peso p. 608 Isso significa que a discricionariedade estrutural percorre a linha dos impasses. Esse último ponto demonstra que é necessário distinguir dois aspectos da discricionariedade estrutural para sopesar. O primeiro consiste no impasse enquanto tal. Se a razão para uma intervenção é tão forte quanto a razão contra ela, a intervenção não é desproporcional. A decisão no caso Stern é um exemplo disso. O mesmo vale para o oposto da intervenção: a não- garantia de proteção. Se as razões a favor de uma não-proteção são tão fortes quanto as razões para a proteção, a não-proteção não é desproporcional. Isso cria uma extensa discricionariedade no âmbito dos efeitos dos direitos fundamentais perante terceiros. O segundo aspecto da discricionariedade estrutural para sopesar consiste no fato de que impasses são equivalentes em diferentes níveis da escala. Assim, a idéia de uma discricionariedade estrutural para sopesar é a conjunção de dois pensamentos: o da igualdade no impasse e o da igualdade entre os impasses. Ainda que isso não responda a todas as perguntas, fica claro o que a idéia da discricionariedade estrutural para sopesar significa. Impasses; Estrutural; Aspectos p. 611 A relação entre princípios materiais e princípios formais é uma das questões mais polêmicas da teoria dos princípios. A preparação para uma resposta a algumas objeções de alguns críticos exige, em primeiro lugar, que se deixe clara a posição da teoria dos princípios. Essa posição pode ser resumida na tese segundo a qual o problema da discricionariedade epistêmica ou cognitiva deve ser solucionado por meio de sopesamentos entre princípios formais e princípios materiais. Relação; Princípios; Formais; Materiais; Epistêmica; Sopesamento p. 612 A questão acerca da existência de uma discricionariedade epistêmica surge quando é incerta a cognição daquilo que é obrigatório, proibido ou facultado em virtude dos direitos fundamentais. A insegurança pode ter suas causas na insegurança das premissas empíricas ou normativas. Insegurança empírica pode se tornar um problema em qualquer fundamentação no âmbito dos direitos fundamentais. Ela tem um papel especial nos exames da adequação e da necessidade. [...] Mesmo assim ele admite a intervenção no direito fundamental. Isso ocorre por meio do reconhecimento ao legislador de uma discricionariedade em relação à cognição dos fatos relevantes - ou seja, uma discricionariedade Cognição; Insegurança; Premissas; Empírica; Normativa epistêmica de tipo empírico - e da inclusão, nessa discricionariedade cognitiva, das suposições empíricas que fundamentam a proibição de produtos derivados de cannabis. Já uma discricionariedade epistêmica de tipo normativo, ou uma discricionariedade epistêmica normativa, está relacionada à incerteza acerca da melhor quantificação dos direitos fundamentais em jogo e ao reconhecimento em favor do legislador de uma área no interior da qual ele pode tomar decisões com base em suas próprias valorações. p. 614 Em razão de sua proximidade com a discricionariedade estrutural - perceptível na decisão que acaba de ser mencionada -, a discricionariedade epistêmica para o sopesamento suscita problemas especiais. Nesse aspecto, a discricionariedade epistêmica de tipo empírico tem uma estrutura mais simples. [...] Se ao legislador é permitido fundamentar uma intervenção em um direito fundamental a partir de uma premissa que seja incerta, então, é possível que a esse direito não seja garantida a proteção devida - e ele seja, por isso, violado - nos casos em que a premissa que fundamenta a intervenção seja equivocada. Diante disso, pode-se afirmar que os direitos fundamentais ofereceriam mais proteção se fosse negada uma discricionariedade cognitiva ao legislador. A teoria dos princípios pode se alinhar quase que automaticamente a essas considerações gerais sobre a estrutura da discricionariedade cognitiva. Empírica; Estrutura p. 615 Reconhecer ao legislador uma discricionariedade cognitiva de tipo empírico significa a possibilidade de se admitir que, diante das possibilidades fáticas presentes, esses direitos não sejam realizados na extensão do que seria possível. Diante disso, o princípio de direito fundamental afetado negativamente exige, enquanto mandamento de otimização, que não seja reconhecida nenhuma discricionariedade cognitiva. Se esse fosse o único fator relevante, um direito fundamental só poderia ser restringido em virtude de premissas empíricas cuja veracidade fosse certa. Se essa veracidade não puder ser comprovada, seria autorizado partir apenas das premissas empíricas que forem mais vantajosas ao direito fundamental, que são aquelas sobre cuja base a intervenção ou a não-garantia de proteção não tem como ser justificada. É exatamente esse o ponto no qual entra em jogo o princípio formal da competência decisória do legislador democraticamente legitimado. Esse princípio é um princípio formal, porque ele não determina nenhum conteúdo, mas apenas diz quem deve definir conteúdos. Por isso, seria possível também denominá-lo "princípio procedimental". Enquanto princípio procedimental, ele exige que as decisões relevantes para a sociedade devam ser tomadas pelo legislador democraticamente legitimado. [...] Nesses termos, o princípio formal colide com o princípio material de direito fundamental. Este último exclui prima facie a competência do legislador para fundamentar decisões desvantajosas para o direito fundamental em premissas empíricas incertas; o primeiro requer prima facie exatamente essa competência. Legislador; Discriciona- riedade; Direito fundamental; Princípio formal; Competência p. 616 A primeira consiste em uma precedência absoluta do princípio Precedência; material de direito fundamental em face do princípio formal nos casos de incerteza empírica. A conseqüência disso seria que o legislador, sempre que interviesse de alguma forma em um direitofundamental, somente poderia basear-se em premissas empíricas cuja veracidade fosse comprovada. Se existe um direito fundamental à liberdade geral de ação, quase todas as decisões do legislador intervêm em direitos fundamentais. Mas mesmo decisões que não se refiram a esse direito têm que ser avaliadas a partir dos direitos fundamentais. [...] Uma precedência absoluta do princípio material de direito fundamental teria, então, como conseqüência o fato de que o legislador poderia perseguir seus objetivos apenas com base em premissas empíricas comprovadamente verdadeiras. Mas conhecimentos empíricos dessa qualidade não estão praticamente nunca à disposição nos casos minimamente complexos. Diante disso, a precedência absoluta do princípio material de direito fundamental geraria uma total ou quase total incapacidade de ação do legislador em uma extensa área de sua competência. [...] Portanto, uma precedência absoluta do princípio material de direito fundamental em face do princípio da competência decisória do legislador deve ser refutada. Ela não seria compatível nem com o princípio da separação de poderes, nem com o princípio democrático. Materiais; Empíricas; Verdadeiras p. 617 Enquanto no caso de precedência absoluta do princípio de direito fundamental a condição de veracidade comprovada reduziria o poder de ação do legislador a um mínimo, no caso de uma precedência absoluta do princípio formal o limite da incorreção comprovada ampliaria esse poder de ação ao máximo. Essa não pode ser a intenção de uma constituição que protege os direitos fundamentais. Também aqui é necessário concordar com o Tribunal Constitucional Federal : "De outro lado, a incerteza não pode ser suficiente, enquanto tal, para fundamentar uma discricionariedade para prognósticos por parte do legislador que seja infensa ao controle por parte da jurisdição constitucional". Excluídos os extremos, somente as soluções intermediárias podem ser levadas em consideração. Estas podem ou exigir o mesmo grau de certeza para todas as intervenções em direitos fundamentais, ou diferentes graus de certeza, dependentes das diferentes intervenções. Apenas essa última alternativa é compatível com os direitos fundamentais enquanto princípios. Enquanto princípios, eles exigem que a certeza das premissas empíricas que fundamentam a intervenção seja tão maior quanto mais intensa for a intervenção. Isso conduz a uma segunda lei do sopesamento, com o seguinte conteúdo: Quanto mais pesada for a intervenção em um direito fundamental, tanto maior terá que ser a certeza das premissas nas quais essa intervenção se baseia. Diferentemente do que ocorre com a primeira lei, essa segunda lei do sopesamento não está associada à importância material das razões que sustentam a intervenção, mas à sua qualidade epistêmica. Nesse sentido, a primeira lei do sopesamento pode ser chamada de "lei material do sopesamento", e a segunda, de "lei epistêmica do sopesamento". Princípio formal; Soluções intermediá- rias p. 619 Mas tudo isso pressupõe que faça sentido e seja procedente falar em graus de segurança ou certeza e graus de insegurança e incerteza das premissas empíricas do legislador. Com essa indagação surge o problema do uso de escalas também na parte epistêmica da lei do sopesamento. Segurança; Certeza. Escalas p. 620 Dessa forma, nos casos de discricionariedade epistêmica de tipo empírico é relativamente fácil de ser determinada a relação entre os princípios formais e materiais. As coisas são um pouco mais complicadas nos casos de discricionariedade epistêmica de tipo normativo. Isso tem a ver, em primeiro lugar, com o conceito de discricionariedade normativa e está, em segundo lugar, associado à dificuldade na determinação da relação entre a discricionariedade para sopesar de tipo estrutural e a discricionariedade para sopesar de tipo epistêmico. Todas as formas de discricionariedade têm em comum o fato de que na área discricionária localiza-se aquilo que é facultado ao legislador e que o limite da discricionariedade é definido exatamente por aquilo que ao legislador é proibido ou obrigatório. Mas uma discricionariedade cognitiva é uma discricionariedade que decorre da incerteza na cognição daquilo que é obrigatório, proibido ou facultado em virtude dos direitos fundamentais. Reconhecer uma discricionariedade cognitiva ao legislador significa, portanto, conceder a ele a competência, em certa extensão - que é exatamente a extensão da discricionariedade cognitiva -, para determinar aquilo que a ele é obrigatório, proibido ou facultado em virtude dos direitos fundamentais. No caso da discricionariedade cognitiva empírica havia motivos plausíveis para tanto. Mas será que isso ocorre também no caso da discricionariedade cognitiva normativa? Em um primeiro momento parece que uma discricionariedade cognitiva normativa para o legislador seria algo a ser rejeitado, porque ela diluiria os limites da discricionariedade estrutural e, com isso, a vinculação do legislador aos direitos fundamentais. Se em todos os casos fosse facultado ao legislador decidir, como juiz em causa própria, aquilo que os direitos fundamentais obrigam, proíbem ou facultam em relação a si mesmo, não seria mais possível falar em uma vinculação real - ou seja, controlável - aos direitos fundamentais. Empírica; Normativa p. 621 Uma faculdade assim extensa, que equivaleria a uma discricionariedade cognitiva normativa ilimitada, está fora de discussão. Uma discricionariedade cognitiva só deve ser levada em consideração em casos de incerteza. Visto que existem, como já foi demonstrado, inúmeros casos nos quais é certo ou suficientemente certo como deve ser realizado o sopesamento, então, há inúmeros casos nos quais está excluída uma discricionariedade cognitiva. Uma discricionariedade cognitiva normativa só pode existir – se é que pode - nos casos de incerteza normativa. Os casos mais importantes de incerteza normativa no âmbito dos direitos fundamentais são os casos de incerteza quanto ao sopesamento. Nesses casos, a questão decisiva é saber como deve ser definida a relação entre as discricionariedades estrutural e epistêmica para sopesar. Cognitiva; Incertezas; Normativa p. 622 Os limites da discricionariedade estrutural para sopesar são, nesse caso, idênticos aos limites da discricionariedade para sopesar de tipo epistêmico-normativo. A diferença está somente na não- eliminação do elemento jurídico. Pelo contrário, a discricionariedade é formada justamente pelas diversas possibilidades jurídicas. De um lado, considera-se fundamentável e, portanto, possível que os direitos fundamentais tanto permitam -- ou até mesmo obriguem - quanto proíbam a extensão da proteção rígida contra demissões às pequenas empresas; de outro lado, considera-se impossível reconhecer qual dessas possibilidades pode ser mais bem fundamentada. Nessa situação, visto que há direitos fundamentais envolvidos em ambos os lados, há entre esses direitos um impasse epistêmico. É certo que cada um dos direitos fundamentais exige a solução mais vantajosa para si, mas nenhum deles têm, em razão do impasse, força para decidir a contenda. A situação substancial dos direitos fundamentais é, portanto, neutra. Nessa situação, os princípios materiais de direitos fundamentais não têm força para evitar que do princípio da competência decisória do legislador democraticamente legitimado decorra uma discricionariedade epistêmica para sopesar. Qualquer outra solução seria insustentável, em face da relação fundamental de tensão entre direitos fundamentais e democracia. Nesse sentido, é possível falar da existência de uma discricionariedade cognitiva também de tipo normativo. Limites; Discricionari edade; Normativa p. 623 A fundamentação de uma discricionariedade epistêmicacom o auxílio de princípios formais parece conduzir inafastavelmente a uma divergência entre normas de ação - ou seja, normas que dizem o que é proibido, obrigatório e facultado ao legislador - e normas de controle - ou seja, normas nos termos das quais o Tribunal Constitucional controla o legislador. A principal objeção aos princípios formais dirige-se contra essa divergência. Ela sustenta que a discricionariedade epistêmica criada pelos princípios formais é inconciliável com a vinculação do legislador aos direitos fundamentais, [...] Formais; Vinculação; Legislador p. 625 A admissibilidade de uma discricionariedade cognitiva empírica dificilmente pode ser contestada. Aquele que clama por sua completa eliminação praticamente exige a eliminação da capacidade de ação do legislador. É por essa razão que os críticos dos princípios formais quase não dão atenção a essa discricionariedade. Mas ela é um importante exemplo do papel central desses princípios. A discricionariedade cognitiva empírica demonstra que os princípios formais ameaçam os direitos fundamentais tão pouco quanto os princípios materiais colidentes. Da mesma que esses últimos são englobados pela lei material do sopesamento, os primeiros são englobados pela variante epistêmica dessa lei. Discricionari edade; Cognitiva; Princípios; Formais; Materiais; Direitos; Sopesamento p.626 - 627 Constituições que garantem direitos fundamentais são tentativas de, ao mesmo tempo, organizar ações coletivas e assegurar direitos individuais. No caso dos direitos fundamentais esse duplo caráter pode ser percebido por meio da possibilidade de sua restrição por parte do legislador. Essa possibilidade de restrição dos direitos Constituição fundamentais positivados é parte de sua essência. À restrição material as discricionariedades cognitivas acrescentam um limite epistêmico. Esse limite é requerido pela constituição como um todo, ou seja, por um argumento sistemático-constitucional. Isso faz com que, da perspectiva daquilo que a constituição como um todo exige, a divergência desapareça. A discricionariedade cognitiva integra-se ao direito fundamental. Ela é internalizada. Embora a divergência permaneça no princípio material de direito fundamental como um espinho, esse espinho é um tributo que o ideal dos direitos fundamentais tem necessariamente que pagar em razão do ganho dificilmente superestimável decorrente de sua institucionalização no mundo tal como ele é. Comentários pessoais: No pósfacio de sua obra, Alexy busca rebater as críticas feitas à sua teoria, principalmente por Habermas e por Bõckenforde. Ambas as críticas são diametralmente opostas. Enquanto a crítica de Habermas dedica-se a suscitar o problema de que os direitos fundamentais, ao serem considerados princípios, perderiam seu “muro protetor”, sua força. Isso porque, ao serem analisados enquanto mandados de otimização, os mesmos permitiriam que houvesse a flexibilização dos preceitos neles dispostos. Ter-se-ia, nesse caso, uma insuficiência de direitos fundamentais (Habermas). Em Já a crítica de Bõckenforde afirma que, por serem considerados princípios, poder-se-ia ter uma demasia desses direitos. Afinal, os direitos fundamentais seriam princípios supremos de uma ordem jurídica e, com isso, “já conteriam tudo em si mesmos”, faltando-lhes, apenas, sua concretização. Ou seja, o legislador seria tolhido de sua autonomia. Nesse sentido, de maneira minuciosa, Alexy dedica seu pósfácio ao rebate dessas críticas e a demonstração de que a Teoria dos princípios não traria nem uma discricionariedade em demasia nem uma discricionariedade inexistente. Importante destacar que essas não são as únicas críticas feitas à teoria construída por Alexy. Mais que isso, necessário ressaltar que a teoria da ponderação proposta por Robert Alexy parece permitir que se tenha maior segurança jurídica e previsibilidade das decisões judiciais, afinal são apresentados recursos para que as sentenças sejam mais claras, racionais e passíveis de debate, utilizando-se do princípio da proporcionalidade. E, do mesmo modo, como foi verificado, não há uma limitação, um engessamento absoluto do legislador. Assim, Alexy parece tentar alcançar um equilíbrio no que se refere aos direitos fundamentais ao caracterizá-los como princípios. Porto Alegre, 22 de abril de 2021 Nome do aluno: Luanna Rennhack Sampaio
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