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1 Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Neurologia Pelo menos 50% desses tumores são malignos e estão associados a uma alta taxa de mortalidade. Os tumores gliais respondem por cerca de 60% de todos os tumores cerebrais primários, e 80% deles consistem em neoplasias malignas. Os meningiomas são responsáveis por 25%, os schwannomas vestibulares, por 10%, e os linfomas do sistema nervoso central (SNC), por cerca de 2%. As metástases cerebrais são 3x mais comuns do que todos os tumores cerebrais primários combinados e são diagnosticadas em cerca de 150.000 pessoas, anualmente. Fatores de risco estabelecidos: exposição à radiação ionizante (meningiomas, gliomas e schwannomas) e imunossupressão (linfoma primário do SNC). Associação à exposição a campos eletromagnéticos, incluindo celulares, traumatismo cranioencefálico, alimentos contendo compostos N-nitroso ou fatores de risco ocupacionais, não têm comprovação. Uma minoria de pacientes apresenta uma história familiar. Alguns desses casos familiares estão associados a síndromes genéticas. Ocorre perda de genes supressores tumorais [p. ex., p53 e homólogo da fosfatase e tensina no cromossomo 10 (PTEN)] e amplificação ou hiperexpressão de proto-oncogenes, como o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e o receptor do fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGFR). O sistema nervoso do adulto contém células-tronco neurais, que têm a capacidade de autorrenovação, proliferação e diferenciação em tipos distintos de células maduras. Há evidências que as células-tronco neurais ou células progenitoras relacionadas podem transformar-se em células-tronco tumorais e dão origem a tumores cerebrais primários, incluindo gliomas e meduloblastomas. Essas células-tronco parecem ser mais resistentes às terapias convencionais do que as próprias células tumorais e contribuem para a dificuldade na erradicação desses tumores. Independentemente do tipo, podem manifestar-se por uma variedade de sinais e sintomas classificados em duas categorias: gerais e focais, podendo ocorrer ambos. Sintomas gerais ou inespecíficos: Surgem quando o tumor em crescimento e o edema circundante provocam aumento da PIC ou compressão direta da circulação do LCS, resultando em hidrocefalia. Cefaleia: cefaleia clássica associada a um tumor cerebral é mais evidente pela manhã e melhora durante o dia (minoria de pacientes tem esse padrão). Cefaleia pode ser acompanhada de náusea ou vômitos quando a pressão intracraniana está elevada. São frequentemente holoencefálicas, porém podem ser ipsilaterais a um tumor. Em certas 2 Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Neurologia ocasiões, pode se apresentar como enxaqueca típica, com dor latejante unilateral associada à escotoma visual Dificuldades cognitivas Alteração da personalidade: apatia e evitação social, simulando uma depressão Distúrbio da marcha. Sintomas focais ou lateralizantes: Hemiparesia: subaguda e progressiva Afasia: podem ser interpretadas incorretamente como confusão Defeito dos campos visuais: com frequência, o paciente não percebe a existência de um defeito do campo visual, e a sua presença só pode ser revelada quando causa algum prejuízo. As crises convulsivas constituem uma apresentação comum dos tumores cerebrais e ocorrem em cerca de 25% dos pacientes com metástases cerebrais ou gliomas malignos, porém podem constituir o sintoma inicial em até 90% dos pacientes com gliomas de baixo grau. A maioria das crises convulsivas é de natureza focal, refletindo a localização no cérebro, e pode evoluir para generalização secundária. Todas as convulsões generalizadas que surgem em consequência de tumor cerebral têm um início focal, seja ele aparentemente clínico ou não. RM: exame complementar preferido para qualquer paciente com suspeita de tumor cerebral e deve ser efetuada com a administração do contraste gadolínio. TC: deve ser reservada para pacientes que não podem realizar uma RM (p. ex., portadores de marca-passo). Os tumores cerebrais malignos impregnam pelo gadolínio e podem exibir áreas centrais de necrose; são circundados caracteristicamente por edema da substância branca adjacente. A imagem é característica no caso de muitos tumores primários e metastáticos; todavia, em certas ocasiões, continua havendo incerteza diagnóstica baseando-se apenas no exame de imagem. Nesses pacientes, a biópsia do cérebro pode ser útil. RM funcional: útil no planejamento pré-cirúrgico e na de- finição do córtex sensorial eloquente, motor e da linguagem. PET: útil para determinar a atividade metabólica das lesões observadas na RM. Perfusão por RM e a espectroscopia: podem fornecer informações sobre o fluxo sanguíneo ou a composição tecidual. Os exames laboratoriais raramente são úteis, embora pacientes com doença metastática possam exibir elevações de um marcador tumoral no soro, refletindo a presença de metástases cerebrais (p. ex., gonadotrofina coriônica humana [betahCG] do câncer testicular). Outros exames, como angiografia cerebral, eletroencefalograma (EEG) ou punção lombar, raramente estão indicados ou têm qualquer utilidade. 3 Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Neurologia 1. Astrocitomas: trata-se de tumores infiltrativos com suposta origem a partir de células gliais. A OMS classifica os astrocitomas em quatro graus prognósticos, com base nas suas características histológicas: Grau I (astrocitoma pilocítico, astrocitoma subependimário de células gigantes) Grau II (astrocitoma difuso) Grau III (astrocitoma anaplásico) Grau IV (glioblastoma) Quanto ao grau: Astrocitomas de baixo grau: I e II Astrocitomas de alto grau: III e IV Astrocitomas de grau I Pilocíticos: tumor mais comum da infância. Em geral, ocorre no cerebelo, mas também pode ocorrer no neuroeixo, incluindo nervos ópticos e tronco encefálico. Pode aparecer lesões císticas com nódulo mural contrastado. Potencialmente passíveis de cura. Subependimários de células gigantes: habitualmente encontrados na parede ventricular de pacientes com esclerose tuberosa. Com frequência, não exigem intervenção, mas podem ser trata dos cirurgicamente ou com inibidores do alvo de mamífero da rapamicina (mTOR). Astrocitomas de grau II: Tumores infiltrativos que manifestam-se habitualmente por crises convulsivas em adultos jovens. Aparecem como tumores não contrastados, com sinal aumentado em T2/FLAIR. Quando possível, os pacientes devem ser submetidos a ressecção cirúrgica máxima, embora a ressecção completa raramente seja possível, devido à natureza invasiva do tumor. A radioterapia mostra-se útil, porém não há nenhuma diferença na sobrevida global entre a radioterapia administrada no pós-operatório ou tardiamente, por ocasião da progressão do tumor. Existem evidências crescentes de que certos agentes quimioterápicos, como a temozolomida, um agente alquilante oral, podem ser úteis em alguns pacientes. Astrocitomas de grau III: Responde por cerca de 15 a 20% dos astrocitomas de alto grau. Em geral, surgem na quarta e na quinta décadas de vida como tumores de contraste variável. O tratamento é igual ao do glioblastoma e consiste em ressecção cirúrgica máxima segura, seguida de radioterapia, com administração concomitante e adjuvante de temozolomida ou com radioterapia e temozolomida adjuvante isoladamente. Astrocitoma de grau IV (glioblastoma): responde pela maioria dos astrocitomas de alto grau. Constituem a causa mais comum de tumores cerebrais primários malignos, com mais de 10.000 casos diagnosticados anualmente nos EUA. Em geral, os pacientes desenvolvem glioblastoma na sexta e sétima décadas de vida, com cefaleia,crises convulsivas ou déficits neurológicos focais. Os tumores aparecem como massas contrastadas em anel, com necrose central e edema circundante. Trata-se de tumores altamente infiltrativos, e as áreas de sinal T2/FLAIR aumentado circundando a massa tumoral principal contêm células tumorais invasoras. O tratamento consiste em ressecção cirúrgica máxima, seguida de radioterapia com feixe externo de campo parcial, com administração concomitante de temozolomida, seguida de 6 a 12 meses de terapia adjuvante com temozolomida. Os pacientes cujo tumor contém a enzima de reparo do DNA O6-metilguanina- DNA metiltransferase (MGMT) são relativamente resistentes à temozolomida e apresentam prognóstico mais grave em comparação com aqueles cujos tumores contêm baixos níveis de MGMT em consequência do silenciamento do gene MGMT por hipermetilação do promotor. A 4 Larissa Gusmão Guimarães - @medicinando.med| Neurologia implantação de polímeros biodegradáveis contendo o agente quimioterápico carmustina no leito tumoral, após a ressecção do tumor, também produz uma melhora modesta da sobrevida. Apesar do tratamento ótimo, os glioblastomas sempre sofrem recidiva. 2. Meningiomas: são begninos e diagnosticados com frequência cada vez maior à medida que um maior número de pessoas realiza exames de neuroimagem para várias indicações. A sua incidência aumenta com a idade. Tendem a ser mais comuns em mulheres e em pacientes com neurofibromatose tipo 2. Ocorrem também mais comumente em pacientes com história pregressa de irradiação craniana. Os meningiomas surgem a partir da dura- máter e são compostos de células meningoteliais (cobertura aracnóidea) neoplásicas. Localizam-se mais comumente nas convexidades cerebrais, particularmente adjacentes ao seio sagital, mas também podem ocorrer na base do crânio e ao longo do dorso da medula espinal. Os meningiomas são classificados pela OMS em três graus histológicos de agressividade crescente: Grau I (meningiomas benignos) Grau II (meningiomas atípicos) Grau III (meningiomas malignos) Pode manifestar cefaleias, convulsões ou déficits neurológicos focais. Nos exames de imagem, exibem uma aparência característica, que consiste, em geral, em um tumor extra-axial de contraste denso e parcialmente calcificado, que surge a partir da dura-máter. Em certas ocasiões, podem apresentar uma cauda dural, constituída de dura-máter contrastada e espessada, que se estende como uma cauda a partir da massa. Deve-se proceder à ressecção cirúrgica das lesões sintomáticas mais volumosas. Se for efetuada uma ressecção completa, o paciente é curado. Os tumores com ressecção incompleta tendem a sofrer recidiva, embora a taxa de recidiva possa ser muito lenta com os tumores de grau I. Os tumores que não podem ser ressecados ou que só podem ser parcialmente removidos podem beneficiar-se do tratamento com radioterapia de feixe externo ou radiocirurgia estereotáxica (SRS). 3. Schwannomas: schwannomas mais comuns, denominados schwannomas vestibulares ou neuromas do acústico, surgem a partir da divisão vestibular do oitavo nervo craniano e são responsáveis por aproximadamente 9% dos tumores cerebrais primários. Pacientes com neurofibromatose tipo 2 apresentam uma alta incidência de schwannomas vestibulares, que frequentemente são bilaterais. Os schwannomas que se originam de outros nervos cranianos, como o nervo trigêmeo, ocorrem com muito menos frequência. A tipo 1 está associada a uma incidência aumentada de schwannomas das raízes dos nervos espinais. Os schwannomas vestibulares podem ser detectados incidentalmente ou podem manifestar-se com perda auditiva unilateral progressiva, tontura, zumbido ou sintomas que resultam da compressão do tronco encefálico e do cerebelo. Na RM, aparecem como lesões densamente contrastadas, aumentando o meato acústico interno e estendendo-se, com frequência, no ângulo pontocerebelar. As lesões mais volumosas devem ser tratadas com cirurgia ou radiocirurgia estereotáxica. O tratamento irá depender do tamanho do tumor, dos sintomas e da preferência do paciente. Schwannomas vestibulares pequenos e audição relativamente intacta, a intervenção cirúrgica precoce aumenta a probabilidade de preservar a audição.
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