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Júlia Figueirêdo – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA PROBLEMA 3: SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL: A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma doença funcional crônica marcada por dor abdominal recorrente, associada com sensação de inchaço e alterações do trânsito intestinal, seja com diarreia, constipação, ou uma combinação de ambos. Outros sintomas bastante recorrentes são eructações (arrotos), pirose e outras alterações dispépticas. A epidemiologia aponta que a prevalência global para a SII é de 11,2%, sendo mais frequente em mulheres e indivíduos com idade < 50 anos. ETIOPATOGENIA DA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL: A Síndrome do Intestino Irritável corresponde a um distúrbio funcional, ou seja, não há alterações orgânicas associadas aos sintomas. Ainda que os mecanismos específicos sejam desconhecidos, sugere-se que a SII seja resultado da interação de diversos fatores, como: Motilidade gastrintestinal: mesmo que não sejam encontradas em todos os pacientes, algumas anomalias são comuns na SII, como aumento da frequência e irregularidade na contração do cólon, que podem levar a dor abdominal, prolongamento do trânsito intestinal (nos quadros com predomínio da constipação) e reações exageradas à CCK (quando há diarreia); Hipersensibilidade visceral: o empachamento e a distensão abdominal normalmente são fruto de uma resposta excessiva à ativação de receptores nervosos no TGI, porém não se sabe se estas são de origem entérica ou central; Inflamação do intestino: a ativação do sistema imune da mucosa intestinal pode ser observada em pacientes com SII associada à diarreia. Estão envolvidos, principalmente, os linfócitos, que estimulam a ação do sistema nervoso entérico, mastócitos e citocinas pró-inflamatórias; Mudanças na flora intestinal: alterações no perfil de bactérias ou em sua quantidade podem estar relacionadas ao desenvolvimento de SII com quadros diarreicos; Sensibilidade alimentar: a principal teoria que sugere interferência da dieta sobre essa síndrome é a dos FODMAPS, na qual o consumo elevado insumos como carboidratos fermentáveis (não absorvíveis) de cadeia curta (ex.: glúten, lactose e xarope de milho) leva ao aumento de permeabilidade e inflamação da mucosa intestinal. Exemplos de alimentos diversos e sua “concentração relativa” de FODMAP Predisposição genética; Interferência psicossocial: pacientes com SII normalmente apresentam ansiedade, transtornos depressivos ou distúrbios do sono, que podem elevar a produção de fator liberador de corticotrofina, um importante mediador da resposta ao estresse e indutor de inflamação. DIAGNÓSTICO: A avaliação diagnóstica para Síndrome do Intestino Irritável deve também excluir Júlia Figueirêdo – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA possíveis diagnósticos diferenciais que mimetizem seus sintomas, como doença celíaca ou intolerância à lactose. No entanto, deve ser realizado o menor número de testagens possível (normalmente hemograma, EPF e marcadores inflamatórios) em pacientes sem sinais de alerta. Algoritmo para diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável São considerados como sinais de alerta a idade > 50 anos sem rastreamento para câncer colorretal prévio, alterações recentes nos hábitos intestinais, sangramento nas fezes, emagrecimento importante, presença de massas ou linfonodos palpáveis no abdome e o histórico familiar de doença inflamatória intestinal ou neoplasias. O critério Roma IV, em sua instrução para diagnóstico da SII, aponta como aspectos fundamentais a presença de dor abdominal persistente por ao menos um dia por semana nos últimos três meses, obrigatoriamente associada a pelo menos dois dos seguintes critérios: Correlação entre dor e evacuação; Associação com mudanças na frequência do trânsito intestinal; Alteração na aparência das fezes (conforme a Escala de Bristol): o SII com constipação predominante: mais de 25% das evacuações com fezes endurecidas, mais comum em mulheres; o SII com diarreia predominante: mais de 25% das evacuações são amolecidas ou liquefeitas, ocorrendo mais no sexo masculino; o SII com hábitos intestinais mistos: há alternância entre os quadros anteriores em mais de 25% das dejeções; o SII não classificada: não preenche critérios diagnósticos para os demais subtipos. Escala de Bristol e os subtipos da SII Cabe ressaltar que, para preencher esses parâmetros, os sintomas devem ter surgido há pelo menos seis meses, persistindo por, no mínimo, três destes. Assim, o diagnóstico da SII deve ser baseado em quatro pontos-chave, a história clínica, exame físico, mínimo uso de exames laboratoriais e, se necessário, uma colonoscopia ou outros exames de imagem (rastreamento para neoplasias em pacientes com mais de 50 anos). TRATAMENTO DA SII: O manejo adequado da Síndrome do Intestino Irritável deve se iniciar com a educação do paciente quanto a doença, sendo a orientação específica dependente do subtipo e da severidade do quadro clínico. Júlia Figueirêdo – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Como medidas não farmacológicas, destacam-se: Prática de exercícios físicos: independentemente do grau de impacto da atividade escolhida, um estilo de vida ativo está associado à melhoria do trânsito intestinal. Além disso, determinadas modalidades, como a ioga, por exemplo, podem elevar o tônus da musculatura pélvica, que se encontra diminuído em muitos pacientes com SII- C; Reeducação alimentar: corresponde ao principal método não farmacológico para a redução dos sintomas da síndrome. O menor consumo de glúten e o aumento na ingesta hídrica são práticas comuns, assim como a restrição de alimentos com elevado teor de FODMAPs (descritos anteriormente); Dentre os agentes medicamentosos mais empregados no controle da SII, encontram- se: Probióticos: as principais cepas bacterianas utilizadas, Lactobacillus e Saccharomyces boulardii, estão correlacionadas com a melhora da dor abdominal e do trânsito intestinal, principalmente em pacientes com manifestação diarreica. Linaclotide: essa medicação promove a ativação do receptor intestinal de guanilil ciclase C, associada a uma maior estimulação de peptídeo endógenos atuantes na absorção de eletrólitos, potencializando assim o trânsito intestinal. Assim, observa-se que esse composto é benéfico em portadores de SII com constipação; Loperamida: é um agonista de receptores opioides e, portanto, causa a redução do peristaltismo, atrasando os movimentos intestinais e, consequentemente, induzindo a formação de fezes endurecidas, com reabsorção hidroeletrolítica. Deve ser usado em indivíduos com quadros de diarreia; Antidepressivos tricíclicos e ISRS: são empregados principalmente para o controle da dor abdominal crônica, o que leva ao aumento da qualidade de vida desses indivíduos. Os ADT, por também atuarem sobre receptores colinérgicos, promovem a diminuição dos movimentos intestinais, favorecendo aqueles pacientes com SII- D; Antiespasmódicos: podem ser utilizados, por curtos períodos de tempo, para o alívio da dor abdominal, porém seu uso crônico pode estar associado ao desenvolvimento de constipação; Rifaximina: é um antibiótico não absorvível capaz de auxiliar portadores de síndrome do intestino irritado com predomínio de diarreia ao modular sua flora intestinal. Esse medicamento pode, inclusive, reduzir a incidência de inchaços e de quadros dolorosos. Algoritmo para o tratamento da Síndrome do Intestino Irritável
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