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Avaliação/ Educação nutricional e planejamento dietético para idosos Prática DIETÉTICA III Profa. Gardênia Pinheiro Gomes “Após o corpo atingir a maturidade fisiológica, a taxa catabólica ocorre com maior intensidade do que a regeneração ou anabolismo” Idoso Grupo etário a partir de 65 anos (Organização Mundial da Saúde) Fatores genéticos + exercícios contínuos + alimentação Melhor qualidade de vida e aumento na expectativa de vida Idosos jovens – 65 a 75 anos Idosos velhos – 75 a 85 anos Idosos mais velhos – > 85anos Em países em desenvolvimento considera-se 60 anos OMS, 2002 MUDANÇAS SISTÊMICAS Sensorial Gastrointestinal Metabólica Cardiovascular Renal Musculoesquelética Neurológica Imunocompetência Psicossocial Aspectos Nutricionais do Idoso Existem fatores que afetam a avaliação nutricional do idoso como: • alterações fisiológicas da própria idade • alterações da composição corporal • presença de doenças Existe também dificuldade para a realização da intervenção dietética no idoso hábitos alimentares já se encontram muito arraigados e dificuldade de memorização das novas informações. Afetam os parâmetros de antropometria específicos para idosos. Aspectos Nutricionais do Idoso Idoso •Senescência: processo de envelhecimento normal • Senilidade: envelhecimento patológico (interferência de doenças) Aspectos nutricionais • Desnutrição e obesidade afetam a qualidade de vida e a saúde • Estudos sugerem que mais de 1/3 dos adultos mais velhos hospitalizados ou que moram em casas de repouso apresentam desnutrição proteico-calórica • Prevalência da obesidade da população idosa dos EUA atinge 41%. Aspectos Nutricionais do Idoso Aspectos Sensoriais • Atrofia das papilas gustativas (doce/ salgado, estragado) • Perda do apetite (prazer) • Diminuição da acuidade visual Aspectos Metabólicos • Diminuição da tolerância a glicose (diminuição da secreção de insulina e resistência dos tecidos) • GEB diminui 10 a 15% após os 50 anos de idade (diminuição da MM e aumento da MG) • Doenças crônicas (alteram o metabolismo) Fatores Psicossociais • Aposentadoria – isolamento e redução dos rendimentos • Depressão – perda do companheiro, limitação física, rendimento. Alterações fisiológicas do idoso Alterações fisiológicas processos patológicos crônicos e situações individuais que ocorrem com o envelhecimento interferem no estado nutricional do idoso. Algumas dessas modificações fisiológicas que afetam diretamente o EN do idoso são: • Administração errônea de medicamentos falta de informações, confusão metal, diminuição da acuidade sensorial, decisão pessoal, problemas econômicos; • Automedicação com uso de medicamentos de venda livre ou indicado por leigos; • Ingestão de álcool e deste com medicamento; • Interação fármaco-nutriente; • Depressão (causa mais comum de perda de peso). Alterações fisiológicas, funcionais e estruturais decorrentes do envelhecimento Boca Secreção de saliva insuficiente; Atividade da amilase salivar frequentemente reduzida; Alterações evolutivas dos dentes, gengiva, mandíbula e maxilar; Próteses dentárias mal adaptadas; Alterações de paladar, dificuldade de mastigação e deglutição; Atrofia das papilas gustativas; Sensibilidade ao gosto reduzida assim como os demais sentidos. Distúrbios do Paladar Classificação: 1. Ageusia: ausência de paladar 2. Hipogeusia: sensibilidade diminuída do paladar 3. Disgeusia: distorção do paladar 4. Hiposmia: diminuição do olfato 5. Disosmia: perversão do olfato Déficits do paladar não reduzem apenas o prazer e conforto do ato de alimentar-se, mas são fatores de risco para deficiências nutricionais e imunológicas. Percepção alterada de sabores e odores resulta na escolha inadequada de alimentos. Tabagismo Cigarro Tabaco, Alcatrão, Nicotina, Monóxido de Carbono e Amônia Nicotina = substância capaz de causar sensação amarga “Os sabores amargos inibem de maneira reversível os mecanismos receptores para os sabores salgado e doce” (SCHIFFMAN, 1999) Uso constante do cigarro pode: Inibir irreversivelmente os receptores de outros sabores Acelerar o processo de morte das células gustativas Causa de Distúrbios do Paladar Alterações fisiológicas Estômago Redução da atividade funcional; Queda da secreção ácida e de pepsina hipocloridria e acloridria frequentes; Diminuição da motilidade e esvaziamento gástrico. Pâncreas Diminuição do volume de secreção; Possibilidade de redução da atividade de enzimas proteolíticas, amilase e lipase pancreáticas. Alterações fisiológicas Intestino Aumento no efeito da colecistocinina (reduz apetite); Hipocloridria (absorção de ferro e cálcio reduzidas); Menor produção de lactase (intolerância à lactose); Diminuição da capacidade absortiva; Redução da motricidade intestinal Alterações na composição corporal % gordura Redistribuição da gordura corporal massa magra massa óssea água corporal metabolismo Alterações na composição corporal Osteopenia Osteoporose Início da perda da massa óssea Perda fisiológica da massa óssea Alterações na composição corporal Sarcopenia: tem por etiologia o envelhecimento e pode ser definida como perda involuntária de massa, força e função do músculo esquelético, limitando a capacidade funcional do indivíduo interfere na capacidade de locomoção e também na força muscular necessária para a oclusão mandibular, afetando diretamente o consumo alimentar. Importante lembrar que com o avanço da idade, a massa corporal e a estatura apresentam alterações, resultantes da compressão vertebral, mudanças dos discos intervertebrais, perdas de tônus muscular e alterações posturais. Outro exemplo de alteração é a flacidez da pele, que interfere na mensuração das dobras cutâneas. Alterações na composição corporal Sarcopenia: Têmpora dificulta a mastigação Panturrilha faz com que o idoso permaneça mais sentado Quadríceps femoral (coxa) faz com que o idoso permaneça mais deitado ou sentado Adutor do polegar com diminuição da força de pressão Dobras - Bíceps e tríceps abdominal, intercostal diafragmática, cardíaca Recomendações Oferta de Proteína no Idoso • Guideline geriatria, 2018. • WHO, 2007 • BAUER, 2013 • DRI, 2005 RDA 0,8* PROT- AGE 1-1,2* ESPEN 1,0- 1,2* FAO 0,83* * g/kg/dia Cerca de 40% de > 70 anos não atingem a RDA Courteny-Martin e col, Nutrients, 2016 ATENÇÃO À FUNÇÃO RENAL!! Anamnese do idoso Anamnese do idoso Queixa principal História pregressa Avaliação do consumo alimentar História clínica Questões especiais Anamnese do idoso • Queixas mais comuns são: ganho ou perda de peso, alterações nos exames laboratoriais, inapetência, dificuldade de mastigação, disfagia e constipação intestinal. • História pregressa – familiar de doenças crônicas • Antecedentes do próprio paciente. • Recordatório Habitual, podendo ainda ser utilizado o QFA. • Ingestão de líquidos desidratação • Questões especiais incluem: investigação de hábitos sociais (tabagismo, consumo de álcool), presença de alergias alimentares ou aversão a algum alimento. Técnicas de Antropometria São as mesmas que são aplicadas para a população adulta normal, porém, os resultados não devem ser comparados com os mesmos padrões de referência. Aspectos Nutricionais do Idoso Antropometria Algumas observações devem ser consideradas: 1. Envergadura da coluna vertebral 2. Dificuldade de equilíbrio e deambulação 3. Excesso de flacidez 4. Desidratação e alterações específicas nos compartimentos corporais 5. Redução de massa magra diminuição no tecido muscular das pernas 6. Redução de + 40% da gordura corporal comparando-se com adultos jovens 7. Modificação no padrão de gordura corporal diminuição do tecido gorduroso nos membros superiores e aumento na região do tronco e abdome. Antropometria Medidas: Peso Estatura Circunferências de braço (CB) Circunferências de cintura (CC) Circunferências dequadril (CQ) Circunferências de panturrilha (CPan) Permitem verificar a quantidade de tecido adiposo e muscular. Estimativa da altura Gênero Equação utilizando a altura do joelho Homens [64,19 – (0,04 x idade em anos) + (2,02 x altura do joelho em cm)] Mulheres [84,88 – (0,24 x idade em anos) + (1,83 x altura do joelho em cm)] Na impossibilidade do idoso ficar em posição ereta para medir a altura, devido ao avanço de lordose, escoliose ou cifose dorsal: Altura do joelho: Medir o comprimento entre o calcanhar e a superfície anterior da perna na altura do joelho. Fonte: CHUMLEA; ROCHE; STEINBAUGH, 1985. Altura do Joelho Técnica 1: paciente deitado em posição supina, joelho e tornozelos esquerdos dobrados em um ângulo de 90º, mede-se a altura do joelho. Técnica 2: paciente sentado com os pés apoiados no chão, mede-se a altura do joelho em relação a altura do chão, a partir do ponto ósseo externo logo abaixo da rótula (cabeça da tíbia) até à superfície do chão. Estimativa da altura Extensão dos braços ou envergadura: Braços devem estar estendidos no nível dos ombros, formando um ângulo de 90º com o corpo. Mede-se a distância entre os dedos médios das mãos utilizando-se uma fita métrica flexível. A medida obtida corresponde à estimativa de estatura do indivíduo. Estimativa do peso AJ – altura do joelho CB – circunferência de braço Chumlea et al (1985 e 1988) Utilizada para ESTIMAR o peso de pessoas confinados ao leito Idosos: Peso (branco/homem) = (AJ x 1,10) + (CB x 3,07) – 75,81 Peso (negro/homem) = (AJ x 0,44) + (CB x 2,86) – 39,21 Peso (branco/mulher) = (AJ x 1,09) + (CB x 2,68) – 65,51 Peso (negro/mulher) = (AJ x 1,50) + (CB x 2,58) – 84,22 Índice de Massa Corporal (IMC) IMC CLASSIFICAÇÃO < 23 Baixo Peso 23 - 28 Adequado ou Eutrófico 28 - 30 Sobrepeso > 30 Obesidade Classificação do IMC segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS, 2002) Classificação do IMC sugerido pelo Ministério da Saúde – SISVAN (2004) IMC CLASSIFICAÇÃO < 22 Baixo peso 22 - 27 Adequado ou Eutrófico > 27 Sobrepeso LIPSCHITZ (1994) Índice de Massa Corporal (IMC) • Diferentes pontos de corte são propostos para classificação do EN de idosos através do IMC. • Não há consenso sobre a definição do que seja um IMC elevado ou baixo para o indivíduo idoso. • Determinou-se que valores superiores sejam mais adequados idoso necessita de uma reserva maior no sentido de prevenir a desnutrição. • IMC Médio Idoso: 24,5 Kg/m² Peso Ideal Circunferência da Panturrilha • OMS: medida mais sensível para avaliação da massa muscular nos idosos • Indica alterações na massa magra que ocorrem com a idade e com o decréscimo na atividade física • Particularmente recomendada na avaliação nutricional de pacientes acamados Pontos de corte adotados: • > 31 cm: eutrofia • < 31 cm: desnutrição Estratégias de Intervenção Dietética • Mudança do comportamento alimentar do idoso é um trabalho árduo, mas que pode ser eficiente emprego de estratégias dietéticas eficazes. • Consulta: nutricionista deve dirigir-se ao idoso sempre, evitando fazer as perguntas a outra pessoa, para que ele não se sinta excluído da consulta. • Importante conversar sobre os alimentos se possível empregar fotos, cartazes e objetos que ilustrem a dieta ou educação nutricional. Estratégias de Intervenção Dietética •Recomendações precisam ser anotadas e entregues por escrito o que foi dito pode ser esquecido. • Mudanças bruscas na alimentação não são recomendadas qualquer modificação deve ser feita aos poucos, explicando-se ao paciente as mudanças necessárias. • Importante verificar como é feita a alimentação, quem prepara e o local onde é realizada. Caso haja outra pessoa responsável pelo preparo das refeições, esta deve estar presente na consulta. Orientações específicas para Idosos • Idoso pode apresentar déficits de cognição • Importante que o cuidador ou quem passa a maior parte do tempo com o idoso esteja presente nas consultas além das recomendações apresentadas, o acompanhante dirá na hora das refeições o que o idoso irá comer e o estimulará a sentir o aroma da comida. Alimentação começa pelo aroma e pelos aspectos visuais do alimento, que já induzem a salivação, ajudando na quantidade e na digestibilidade dos alimentos ingeridos. Se o idoso apresentar salivação reduzida, indique alimentos mais úmidos e/ou acompanhado de bebidas. Orientações específicas para Idosos • Local das refeições: deve ser tranquilo evitar TV ligada ou muitos ruídos, pois os pacientes podem se distrair facilmente. • Convívio com a família nas refeições é importante para a socialização esse momento não é apenas a oportunidade de ingerir nutrientes, mas também de manter aspectos sociais da vida. • Acredita-se que a interação social durante a alimentação aumenta o prazer pela comida e a ingestão alimentar evitando depressão, isolamento social e declínio cognitivo. Intervenções sociais e comportamentais podem ter influência sobre a mudança de hábito alimentar e o estado nutricional, bem como o nível de atividade física. Manter o peso ou alcançar o peso desejado com melhora física e mental reduz o risco de doenças crônicas. Orientações específicas para Idosos • Quando necessário o idoso deve receber ajuda, mas o acompanhante ou cuidador precisa se preocupar com a manutenção da sua autonomia. • Limitações devem ser identificadas e as habilidades preservadas e estimuladas. •Orientar receitas e incentivá-lo a convidar seus amigos a ir a restaurantes comunitários. • Fundamental que o idoso realize sozinho o ato de comer, mesmo que haja demora se for impossível deve receber ajuda. •Colheres, copos e pratos podem ser adaptados para possibilitar a alimentação independente. Orientações de Líquidos • Líquidos devem ser evitados até 30 minutos antes ou durante as refeições, pois prejudicam a ingestão e podem fazer com que o idoso coma menos. • Deve-se oferecê-los a cada 1 ou 2h, entre as refeições. • Desidratação é frequente em idosos que têm doenças crônicas ou agudas. • Normalmente, a sensação de sede surge quando o corpo perdeu 1 a 2 copos de água em idosos essa sensação é reduzida. • Alteração da homeostase da água no envelhecimento parece ser multifatorial. • Muitas doenças degenerativas relacionadas à idade podem ser agravadas pela desidratação provocando delirium, problemas de deglutição e constipação intestinal Estudo de caso Idoso Mulher, 75anos, negra. Levemente Ativa 1. Estime o peso: Peso (negro/mulher) = (AJ x 1,50) + (CB x 2,58) – 84,22 2. Estime a altura: Mulheres [84,88 – (0,24 x idade em anos) + (1,83 x altura do joelho em cm)] 3. Faça a classificação do estado nutricional a partir do IMC de acordo com o SISVAN (2004). Altura do joelho: 55 cm DCT: 3mm CB: 20 cm CC: 69 cm CP: 22 cm 4. Faça a classificação do estado nutricional a partir da CP. Calcule a TMB e o GET (fator atividade:1,23) Recordatório Habitual Café da manhã: Uma caneca (300ml) cappuccino Três corações® (4 col de sob cheias) 4 Torradas Bauducco ® 2 fatias grossas de Queijo gruyere Lanche da manhã: 2 cajus Almoço: 1 col cheia de servir de arroz 1 banana da terra frita 1 fatia pequena de lombo grelhado Lanche da tarde: 1 Yakut® 1 maçã 1 fatia média de abacaxi 2 castanhas do Pará e um punhado de castanhas de caju Jantar: 1 caneca (300ml) cappuccino Três corações ® (4 col de sob. cheias) 4 pães de queijo pequenos Ceia: 1 caneca de leite integral quente (300ml) 5. Proponha um novo cardápio ao paciente - Adequando macronutrientes (CHO < fibras> / PTN /LIP) – OMS; - e os seguintes micronutrientes: Cálcio; Sódio; Zinco; Fibra; Vitamina C
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