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As Resistências Teoria psicanalítica – aula 8 15/07/2020 As Resistências Desde os primórdios da psicanálise, tal fenômeno tem sido exaustivamente estudado em sua teoria e técnica; Na atualidade, continua sendo considerado a pedra angular da prática analítica; MAS, QUAL É O SEU CONCEITO? COMO ENTENDÊ-LO? 15/07/2020 As Resistências – origens to da técnica da associação livre; Empregava a hipnose, e a sua recomendação técnica era no sentido de insistência (por parte do psicanalista) como o contrário da resistência (por parte do paciente); Este método de coerção associativa incluía uma pressão de ordem física que ele próprio procedia e recomendava como colocando a mão na testa do paciente, ou lhe tomando a cabeça entre as mãos, a fim de conseguir a recordação e verbalização dos conflitos passados. Surgiu quando Freud discutiu as suas primeiras tentativas de fazer vir à tona as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas, anteriormente ao desenvolvimen- 15/07/2020 As Resistências - origens Freud empregou o termo resistência, pela primeira vez, ao se referir a Elisabeth Von R. (1893), com a palavra original widerstand, sendo que em alemão “wider” significa contra”, como uma oposição ativa; Até então, a resistência era considerada exclusivamente como um obstáculo à análise, correspondendo sua força à quantidade de energia com que as ideias tinham sido reprimidas e expulsas de suas associações; 15/07/2020 As Resistências – o conceito O termo “resistência”, por longo tempo, foi empregado com uma conotação de juízo pejorativo; A própria terminologia era impregnada de expressões típicas de ações militares, como se o trabalho analítico fosse uma beligerância do paciente contra o analista e vice-versa; Em A interpretação dos sonhos (1900), os conceitos de resistência e de censura estão intimamente relacionados: a “censura” é para os sonhos aquilo que a “resistência” é para a associação livre; 15/07/2020 As Resistências – o conceito Em suas considerações sobre o esquecimento dos sonhos, Freud deixou postulado que uma das regras da psicanálise é que tudo o que interrompe o progresso do trabalho psicanalítico é uma resistência; Com a tática de ir da periferia em direção à profundidade, Freud foi entendendo que o reprimido, mais do que um corpo estranho, era algo como um “infiltrado”; Deixa claro que a resistência não era dirigida somente à recordação das lembranças penosas, mas também contra a percepção de impulsos inaceitáveis, de natureza sexual, que surgem distorcidos; Conclui que o fenômeno resistencial não era algo que surgia de tempos em tempos na análise, mas sim que ele está permanentemente presente; 15/07/2020 As Resistências – aprofundando os estudos Freud aprofundou o estudo sobre as Resistências em Inibição, sintoma e angústia (1926), descrevendo cinco tipos e três fontes de origem, a saber: Os tipos derivados da fonte do ego: 1) Resistência de repressão (consiste na repressão que o ego faz, de toda percepção que cause algum sofrimento); 2) De transferência (o paciente manifesta uma resistência contra a emergência de uma transferência “negativa”, ou “sexual”, com o seu analista); 3) De Ganho secundário (pelo fato de que a própria doença concede um benefício a certos pacientes, como os histéricos, personalidades imaturas, e aqueles que estão pleiteando alguma forma de aposentadoria por motivo de doença; 15/07/2020 As Resistências As resistências provindas do id: 4) (Ligadas à “compulsão à repetição” e que, juntamente com uma “adesividade da libido”, promovem uma resistência contra mudanças; A resistência oriunda do superego: 5) a mais difícil de ser trabalhada, segundo Freud, por causa dos sentimentos de culpa que exigem punição; 15/07/2020 As Resistências – e a transferência DEFINIÇÃO DE TRANSFERÊNCIA: reedições, reproduções das moções e fantasias que despertam com o decorrer da análise; Experiências psíquicas passadas são revividas como atuais, a partir do vínculo com o analista; Freud também apresenta a transferência em seu caráter paradoxal, como uma resistência; Ela é utilizada para produzir empecilhos que tornam o material recalcado inacessível ao tratamento; 15/07/2020 As Resistências – e a transferência Segundo Corrêa (2003), a transferência é: Ponto de impasse para que o analisando não fale à respeito de si, afinal, para não “ferir” o analista, aquele que representa o Ideal do eu, Sujeito Suposto Saber; O analisando evita mostrar suas vulnerabilidades e angústias, evita mostrar o avesso, e transferencialmente fala apenas o que para o mesmo satisfaz o analista; Inconscientemente existe o desejo de ser amado pelo analista, caracterizando-se como um pedido de amor incondicional, um pedido de ajuda; 15/07/2020 As Resistências – e a transferência Ainda, segundo Corrêa (2003): Resistência e transferência são peças fundamentais no tratamento; O grande e árduo trabalho da análise é o manejo da transferência, denominada de “motor da resistência”, pois por si só é uma resistência e as questões inconscientes favorecem seu aparecimento. Sem sua presença não há análise; Para desvendar o conteúdo que mantém vivo o sintoma na figura do analisando, faz-se necessário que o ele acredite nas suas ilusões, para somente depois se desfazer delas e ser sujeito que tenta saber de si, mesmo que isto instaure dor e sofrimento; 15/07/2020 As Resistências – e a transferência Por fim: Na perspectiva freudiana de que a transferência, mesmo sendo essencial ao tratamento analítico, pode vir a tomar forma de resistência, capaz de provocar a suspensão do processo analítico; Pode-se considerar então que, em Freud, a transferência é por si mesma, um impasse. Impasse paradoxal, uma vez que, sem ela, uma análise seria inconcebível, mas, com ela, o tratamento sempre correria o risco de se interromper ou de tomar rumos não previstos, colocando em jogo tal processo; 15/07/2020 As Resistências – e o recalque Há uma forte relação entre resistência e recalque. A resistência é a força que mantém a ideia incompatível fora da consciência, portanto, mantém a ideia recalcada” 15/07/2020 As Resistências – e o recalque A descoberta de Freud sobre da resistência dos pacientes levou-o a enunciar o princípio fundamental do recalcamento; Recalque - processo de expulsão ou exclusão de qualquer ideia, lembrança e desejo inaceitáveis da consciência, operando apenas no Inconsciente; Freud referia-se à repressão como a única explicação possível para a resistência, em que as ideias ou os impulsos desagradáveis não apenas eram expulsos da consciência, como também forçados a permanecer fora; O terapeuta deve ajudar o paciente a trazer esse material reprimido para o consciente a fim de enfrentá-lo e aprender a lidar com ele; 15/07/2020 As Resistências – e o recalque Portanto: A resistência pode ser considerada, com relação ao recalque, a manifestação exterior desse mecanismo de defesa; Quanto mais o trabalho analítico se aproxima de uma representação recalcada, maior e mais intensa é a resistência contra esse trabalho; Freud vai chegar à conclusão que toda ideia ou pensamento recalcado era, na realidade, desejos, e que estes sim sofriam recalque; 15/07/2020 As Resistências – e o recalque Eram desejos que de alguma maneira não podiam se realizar e por isso eram recalcados; O desejo, então, ficava retido no inconsciente e, desta forma, o sujeito não tinha conhecimento dele. Era um desejo não reconhecido como próprio, um desejo inconsciente; 15/07/2020 As Resistências Assim, conclui-se que: A resistência não pode ser apreendida sem que se envolvam os demais conceitos, especialmente os de transferência e recalque; O conceito de resistência é obstáculo ao processo analítico e ao mesmo tempo possibilita o curso do tratamento. O trabalho analítico exige uma elaboração apesar das resistências que são impostas tanto ao analista como ao sujeito; A resistência tal qual a transferência são mecanismos de defesa e são imprescindíveis paraa realização do tratamento psicanalítico. Sem elas, não há psicanálise; 15/07/2020 As Resistências Assim, conclui-se que: Uma aparece na tentativa de encobrir e se proteger de lembranças dolorosas (resistência), a outra como a repetição de uma relação passada (transferência), e as duas trazem consigo material riquíssimo para a clínica analítica; 15/07/2020 As Resistências – na prática analítica As resistências do paciente na situação analítica manifestam-se de múltiplas formas e em diversas dimensões, como as seguintes. 15/07/2020 As Resistências – na prática analítica Em Relação ao Setting É ele que garante a indispensável colocação de limites e de hierarquia, a abertura de um novo espaço onde podem ser reproduzidas antigas experiências emocionais mal resolvidas, com um indispensável clima de verdade e neutralidade; Deve ser preservado ao máximo em suas combinações essenciais, tendo em vista que o paciente pode desferir ataques – que na verdade são defesas resistenciais – contra a sua manutenção; Embora tais ataques possam ser desferidos contra todas as “regras técnicas” as resistências do analisando contra a regra do “amor às verdades” é importante; 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica importante considerar que nas terapias psicanalíticas todo paciente e todo analista é portador, em algum grau, de uma parte que prefere as não-verdades; Essa resistência ao conhecimento da verdade tem uma ampla gama de variações no cotidiano clínico, desde a mentira com intencionalidade consciente até as falsificações de natureza totalmente inconsciente, passando por situações intermediárias, como as meio-verdades, sonegações, reticências, enigmas, mensagens ambíguas, etc; A idealização inicial, ou o denegrimento, que o analisando faz do seu analista, pode representar uma distorção resistencial necessária e útil, desde que fique claro que isso não vá se constituir num clima permanente da análise; Em Relação ao Setting 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Um fator importante para um clima eficaz do setting é a MOTIVAÇÃO; Tanto a consciente quanto a inconsciente, quanto aos objetivos relativos a que ambos, analista e analisando, esperam da análise; É frequente que na motivação inicial do paciente para o tratamento analítico a busca pela manutenção do “status quo” seja bem maior do que a de mudanças verdadeiras; Neste tipo de resistência, a procura do objeto externo analista pode servir como forma de eludir o contato com os ameaçadores objetos internos; VEJAMOS UM EXEMPLO 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Eu venho de uma psicoterapia interrompida. Resolvi trocar pela psicanálise para “aprofundar-me mais”, e escolhi o senhor por lhe achar “muito humano”. No início do tratamento.... 15/07/2020 As Resistências Resolvi fazer o vestibular para a faculdade X, ao invés da Y, que era muito melhor, porque na primeira “era muito mais fácil para passar” Durante o tratamento..... 15/07/2020 As Resistências 15/07/2020 “Entendo que você estava coerente com a sua forte resistência a um trabalho analítico mais sério, já que em nosso contrato deixara implícito que me escolheu, por acreditar que comigo seria “muito mais fácil”. Que poderia aprofundar um vínculo que chamou de “humano” e que, muito cedo, mostrou que o queria de natureza simbiótica. Durante o tratamento..... 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Isto que está me dizendo é um absurdo. O senhor não está cumprindo com o acertado!!! O escolhi pela sua competência profissional e não por outros motivos!!!!!! Durante o tratamento..... 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Em Relação à Interpretação: Meus caros alunos de Psicologia, a eficácia de toda interpretação do analista, além da importância do seu conteúdo, forma, oportunidade, finalidade e estilo de como ela é comunicada ao paciente, depende fundamentalmente do destino que as mesmas tomam na mente deste último!!!!! 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica O PROBLEMA ENVOLVIDO interpretações CORRETAS do analista, do ponto de vista de compreensão da conflitiva inconsciente X A ineficácia das mesmas... Vamos ver as formas de resistências no ato interpretativo mais comuns 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Eu estou aqui para confundir e não para explicar!!!!! ?!?!?!?!?!?!?!?!?!? A comunicação verbal do paciente nem sempre tem a finalidade de realmente comu- nicar algo para o psicanalista; pelo contrário, muitas vezes, o propósito inconsciente visa confundir o terapeuta e atacar os seus vínculos perceptivos; O dom da fala pode ter o propósito de elucidar e comunicar pensamentos, assim como também o de escondê-los na dissimulaçao e na mentira; indivíduos fortemente narcisistas é muito gratificante usar uma linguagem onde o “bem dizer” prevalece sobre o “dizer a verdade”, e isso na situação analítica se coloca a serviço da resistência; 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Da mesma maneira, pacientes em condições regressivas podem resistir a verbalizar claramente suas necessidades e desejos, movidos pela ilusão simbiótica de que o te rapeuta tem a obrigação de adivinhá-los e, da mesma forma como ocorre com as crian- cinhas, ser obrigado a falar se constitui, para eles, em uma ferida narcísica profunda. Sabe senhor Freud, eu quero um homem maduro, que me trate como uma mulher!!!!! Que capte as minhas necessidades!!!! O que ela quer dizer com isso!?!?! 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Existe o tipo de paciente que se dá o papel de “supervisor” do analista: fala por subentendidos, estimulando a curiosidade de seu analista para decifra-los; Nossa Sigi, na semana passada “nós não falamos” algo importantíssimo sobre o meu modo de ser!!!!! Ele está falando isso só para que eu pergunte. Narcisista incontrolável!!!!! 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica elogiam o terapeuta quando este consegue acertar e criticam-no quando supõem que ele erra; Ops.... Sigi, você mostra toda sua competência psicanalítica quando diz que jogo bem. Porém, erra totalmente quando afirma que sou narcísico!!!!! 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Considero detestável, doutor Freud, esta sua comparação do futebol com o desamparo de uma criança e suas necessidades infantis O senhor sempre tão gentil para comigo e o meu trabalho, treinador Zé!!! O senhor não pode menosprezar as regras do futebol!!! O que me diz do VAR, heim doutor? Hum..... Um tipo de chupeta!!! Existem pacientes que procuram transformar a sessão numa verdadeira polêmica, como se a análise fosse um jogo de opiniões” 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Em Relação à Elaboração: Elaboração analítica: consiste no processo que, em linhas gerais, permite a aquisição de um insight total a partir da integração de insights parciais. 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Resistência na elaboração: no curso da análise, um fluxo continuado e crescente de insight, sem que haja mudanças autênticas na vida real, está se revelando como um sério indicador de resistência à análise, talvez uma das mais sérias, qual seja, a da resistência às mudanças; Destino que o paciente dá às interpretações do analista, tornando-as ineficazes. As Resistências – na prática clínica Impasse: (o negativo da elaboração) = uma forma de resistência que ocorre como estagnação ou paralisação de um processo que vinha em progresso; às vezes é possível superá-lo, outras vezes termina com a interrupção da análise em que o paciente leva os benefícios alcançados. 15/07/2020 Doutor, inspirado em nossas sessões tenho observado um grande progresso. Entretanto, não me vejo avançar mais!!! Acredito que você está apresentando uma forma de resistência. Parece-me que não pode lidar com a melhora!!!! Entendo o que diz, porém isso não resolve meu problema. E agora, vou para onde? Creio que, talvez, isso seja o fim do nosso caminho juntos!!!!! As Resistências – na prática clínicaReação terapêutica negativa (RTN): definida por Freud como uma reação paradoxal que surge na análise – quando o paciente está fazendo sensíveis progressos é quando ele piora. Foi muito gratificante entender minha relação com meu pai Entretanto, sinto-me mal... Parece que ao invés de melhorar pioro... Coronel, você está me dizendo que não merece o seu crescimento!!!! Isso é paradoxal, quanto mais avança, menos melhora!!!! 15/07/2020 As Resistências – na prática clínica Causas: - insuportáveis culpas porque o sucesso representa um triunfo edípico; - o aprofundamento da análise faz o paciente entrar em contato com sentimentos depressivos; - um ataque invejoso ao analista, pois a melhora do paciente representa um sucesso do terapeuta. 15/07/2020 As Resistências Referências: LOPES, Rosimeri Bruno. A Resistência na Obra de Freud. Psicologado, [S.l.]. (2012). Disponível em https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/a-resistencia-na-obra-de-freud . Acesso em 14 Jul 2020. Zimerman, D. E. (2008). Resistências. In: Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, pp. 309 – 316.