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livro O processo de reconceituação do serviço social II

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FUNDAMENTOS 
HISTÓRICOS, 
TEÓRICOS E 
METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO 
SOCIAL - PROJETO 
ÉTICO POLÍTICO
Géssika Mayara dos 
Santos
O processo de 
reconceituação 
do serviço social II
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Analisar os aspectos constitutivos do serviço social e suas contradições.
 � Descrever os documentos de Sumaré e Alto da Boa Vista e suas 
vertentes teóricas.
 � Analisar as principais mudanças ocorridas no serviço social 
pós-reconceituação.
Introdução
O movimento de reconceituação do serviço social constitui um marco 
no legado e história da profissão. A partir da contestação oriunda do 
movimento, o serviço social atravessou um processo de transformação 
e renovação de conceitos, modificando a forma de agir e a formação 
dos profissionais.
Neste capítulo, você conhecerá as vertentes que emergiram do 
movimento de reconceituação, analisando a perspectiva moderniza-
dora, o processo de reatualização do conservadorismo e a perspec-
tiva de intenção de ruptura. Ainda, aprenderá que o movimento de 
reconceituação não foi um processo homogêneo, mas que havia uma 
heterogeneidade no interior da categoria profissional marcada pela 
presença de revolucionários e conversadores.
Movimento de reconceituação do serviço social
Para o serviço social, o processo de reconceituação, iniciado na década de 
1960, representa o início de uma reformulação global no cerne da profis-
são. De acordo com Netto (2005), o movimento de reconceituação é, sem 
dúvida, parte integrante do processo internacional de erosão do serviço 
social tradicional. Trata-se de um marco para o processo de revisão crítica 
do serviço social. Iniciado no Cone Sul da América Latina, o movimento de 
reconceituação teve sua origem em 1965 no I Seminário Latino-americano 
de Serviço Social, que ocorreu em Porto Alegre e apresentou duas faces: 
modernização e ruptura.
No Brasil, inserido no contexto da ditadura, o serviço social começa a 
romper com o tradicionalismo profissional presente até o momento e passa a 
apresentar críticas e heterogeneidade nas propostas interventivas que funda-
mentassem o fazer profissional. Nesse contexto, podemos mencionar que, a 
partir do pós-64 e até meados da década de 1980 o serviço social brasileiro 
atravessou um processo de renovação, que apresenta três direções: 
 � perspectiva modernizadora;
 � reatualização do conservadorismo ou fenomenológica;
 � intenção de ruptura.
Essas direções fornecem a contextualização necessária para compreender 
as principais linhas de reflexão profissional no país. Ao examinar as produções 
literárias difundidas nesse período você verá que o processo de renovação 
se configurou como cumulativo, com distintos estágios teórico cultural e 
ideopolítico.
Como coloca Netto (2009):
No que toca à distribuição diacrônica da elaboração profissional, nosso exame 
sugere um cenário em que se registram três momentos privilegiados de con-
densação da reflexão: o primeiro cobre a segunda metade dos anos sessenta, 
segundo é constatável um decênio depois e o terceiro se localiza na abertura 
dos anos oitenta (NETTO, 2009, p. 152).
O processo de reconceituação do serviço social II2
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Para compreender a dinâmica do processo de renovação é necessário, de alguma 
maneira, relacionar-se com as instituições que sustentavam e impulsionavam esse 
processo. Netto coloca que, no primeiro momento, as iniciativas do Centro Brasileiro de 
Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social (CBCISS) abriram uma série de seminários 
de teorização; em um segundo momento de teorização do serviço social, percebe-se 
uma inquietude no âmbito dos cursos de pós-graduação; e no terceiro momento, 
verifica-se a influência das agências de formação, como a Associação Brasileira de 
Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).
Essa diversidade está relacionada às direções profissionais diferentes 
registradas nos três momentos de condensação da reflexão situadas his-
toricamente por Netto. Dessa forma, colocando em síntese o processo de 
renovação e os organismos que estimulam e alimentam sua base, podemos 
dizer que
[...] a renovação se inicia mediante a ação organizadora de uma entidade que 
aglutina profissionais e docentes, em seguida tem seu centro de gravitação 
transferido para o interior das agências de formação e, enfim, espraia-se desses 
núcleos para organismos de clara funcionalidade na imediata representação 
da categoria profissional (NETTO, 2009, p. 153).
O processo de renovação deve ser visto, portanto, como um pluralismo 
no interior do serviço social, fruto de um processo histórico que possibilita 
enxergar a realidade de maneira diferente e possibilita, por meio da diversidade 
teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, repensar e renovar 
o saber e o fazer profissional.
Perspectiva modernizadora
Considerada a primeira expressão do processo de renovação, a perspectiva 
modernizadora nasce com a função de adequação do serviço social às de-
mandadas do momento histórico vivido no Brasil. Trata-se de uma linha 
de desenvolvimento profissional que se encontra o auge da sua formulação, 
exatamente na segunda metade dos anos de 1960 (NETTO, 2009).
3O processo de reconceituação do serviço social II
A perspectiva modernizadora tem como grande momento de sua formulação os 
textos dos seminários de Araxá e Teresópolis.
Nessa perspectiva, o núcleo é a tematização do serviço social, que ganha 
força no processo de crise do tradicionalismo que marca a profissão e tem 
como marco principal a adequação às demandas do militarismo.
Netto (2009, p. 154) ressalta: 
[...] uma perspectiva modernizadora para as concepções profissionais – um 
esforço no sentido de adequar o Serviço Social, enquanto instrumento de 
intervenção inserido no arsenal de técnicas sociais a ser operacionalizado 
no marco de estratégias de desenvolvimento capitalista, às exigências postas 
pelos processos sócio-políticos emergentes no pós-64.
Marcada por características do discurso de desenvolvimento da sociedade, 
esta perspectiva revela profunda vinculação com a ordem sociopolítica oriunda 
do golpe militar, com posicionamento tipicamente estrutural-funcionalista. 
Foi a expressão da renovação profissional adequada à autocracia burguesa 
(NETTO, 1976 apud NETTO, 2009). No seu plano ideal, buscou-se um tom 
de tecnicidade, em que a matriz profissional consistia em conhecimentos 
técnicos capazes de interferir na realidade societária.
Nesse aspecto, trata-se de uma tendência que visa incorporar bases teó-
ricas e científicas ao saber e fazer profissional, revelando a necessidade de 
adoção de um método científico, sem, no entanto, romper com as bases do 
tradicionalismo que marcam o surgimento da profissão. Com posicionamentos 
estrutural-funcionalista, na perspectiva modernizadora o positivismo constitui-
-se como um pano de fundo. Na direção positivista, o “[...] método científico 
das ciências naturais será utilizado para analisar a sociedade às relações de 
classe presente nela” (NETTO, 1976 apud NETTO, 2009, p. 156). Sendo seu 
traço conservador incompatível com o segmento profissional crítico.
O processo de reconceituação do serviço social II4
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A perspectiva modernizadora teve como um dos seus principais representantes José 
Lucena Dantas, que se orientou pela teorização funcionalista — que prevê o sistema 
social na mais perfeita ordem. 
A materialização das ideias dessa perspectiva teve seu auge nos documentos 
de teorização dos seminários de Araxá (1967) e Teresópolis (1970), organiza-
dos pelo CBCISS. Neles, é possível perceber a preocupação dos profissionais 
de serviço social com o aperfeiçoamento do instrumental operativo, com os 
procedimentos metodológicos e técnicos e os padrões de eficiência.
A partir dos anos de 1970, a perspectiva modernizadora será colocada em 
questionamento frente à dinâmica sociocultural e política da ditadura militar. 
A perda do início da legitimidadeda ditadura, em meados de 1974, dará 
condições para o desenvolvimento do pensamento crítico no serviço social e a 
criação dos cursos de pós-graduação. As considerações da reforma universitária 
aquecida nos anos anteriores contribuíram para redução da autorrepresentação 
dos assistentes sociais da época por essa perspectiva.
Reatualização do conservadorismo no serviço 
social
A perspectiva de reatualização do conservadorismo, trata-se de uma vertente 
que recupera os componentes originários da herança histórica e conservadora 
da profissão. É aquela que recupera o vínculo tradicional com a doutrina 
católica e enfatiza a intervenção na centralidade da pessoa.
Conforme Netto (2009): 
Essencial e estruturalmente, esta perspectiva faz-se legatária das caracte-
rísticas que conferiam à profissão o traço microscópico da sua intervenção 
e a subordinaram a uma visão de mundo derivada do pensamento católico 
tradicional; mas o faz com um verniz de modernidade ausente no anterior 
tradicionalismo profissional, à base das mais explícitas reservas aos limites dos 
referenciais de extração positivista. Aí, exatamente, o seu caráter renovador 
em confronto com o passado: o que se opera é uma reatualização dele, com um 
consciente esforço para fundá-lo em matrizes intelectuais mais sofisticadas 
(NETTO, 2009, p. 157).
5O processo de reconceituação do serviço social II
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Considerada a perspectiva que se interpõe entre a modernização e a rup-
tura, a reatualização do conservadorismo apresenta um terceiro caminho ao 
pluralismo teórico-metodológico oriundo do processo de renovação do serviço 
social. É a reatualização do conservadorismo que se manifesta no interior da 
complexa dialética de ruptura e continuidade com o passado profissional, sem 
prejuízo dos elementos renovadores que apresenta (NETTO, 2005).
Tendo como polo difusor de suas ideias as instituições universitárias do 
Rio de Janeiro e São Paulo. A reatualização do conservadorismo expressa 
uma inspiração fenomenológica no interior do serviço social, referenciando 
o exercício profissional ao circuito da ajuda psicossocial. Netto (2009, p. 208) 
aponta que nessa perspectiva “[...] a demanda do aporte teórico do pensamento 
fenomenológico surge como a faceta mais proeminente das colocações sig-
nificativas dos autores”.
Uma das figuras mais exponenciais na perspectiva de reatualização do conservadorismo 
é Anna Augusta de Almeida. Para aprofundar o conteúdo, recomenda-se a leitura do 
seu livro Possibilidades e Limites da Teoria do Serviço Social, de 1978.
Considerado um marco nas formulações dessa perspectiva, Almeida (1978 
apud NETTO, 2009) expressa na sua tese de livre docência o texto básico para 
o que aparece como “nova proposta” para as ideias de cientificidade de cunho 
fenomenológico ao processo teórico-profissional. Nesse sentido, um dos pon-
tos que salientamos nos textos representativos da tendência de reatualização 
do conservadorismo é o suporte metodológico com viés fenomenológico, 
que aparece neles como o insumo para a re-elaboração teórica e prática da 
profissão (NETTO, 2009).
Sobre o suporte metodológico da fenomenologia, Netto (2009) aponta que 
é um traço pertinente a reatualização do conservadorismo:
[...] antes do seu surgimento, o pensamento fenomenológico era verdadeira-
mente desconhecido na elaboração profissional brasileira. Aliás, entre nós 
a incidência desse pensamento sobre as ciências sociais não possui grande 
lastro, fato que por si só sinaliza além da recepção relativamente tardia da 
postura fenomenológica na cultura do nosso país a relevância da reivindicação 
(NETTO, 2009, p. 208–209).
O processo de reconceituação do serviço social II6
Destacamos aqui que nas obras literárias que se filiam a esta tendência não 
há referências a um suposto projeto societário no âmbito do serviço social, 
as reflexões vindas dessa perspectiva estão centradas no entendimento do 
fazer profissional como ajuda psicossocial. Entre a ajuda proposta pelo eixo 
psicossocial está a transformação ou ajustamento da subjetividade do sujeito. 
Sobre a ajuda psicossocial Anna Augusta de Almeida diz que é entendida:
como um sentimento humano que existe em estado latente na interiori-
dade do ser, e se manifesta por um apelo dialietizado de querer ajudar 
e querer ser ajudado. No momento em que a ajuda se manifesta como 
um apelo, ela se materializa numa profissão (ALMEIDA, 1978, p. 118 
apud NETTO, 2009, p. 230).
Portanto, o “marco referencial teórico” da proposta de Almeida é composto pela 
tríade conceitual: diálogo, pessoa e transformação social.
Essa vertente, como pontua Netto (2009), não registra uma polêmica acesa 
em torno das suas proposições. É possível afirmar que ela não impõe mudanças 
significativas no fazer profissional, pois mantém em seu processo algumas 
práticas conservadoras, não propondo um projeto societário para o interior da 
agenda de debates que se operavam no serviço social no Brasil.
Sumaré e Alto da Boa Vista 
Ao longo da trajetória histórica do serviço social, é evidente a ralação entre 
a autocracia burguesa e o serviço social no Brasil. Os traços mais evidentes 
de que se revestiu a renovação e a erosão das práticas mais tradicionais evi-
denciam essa relação.
Nesse sentido, mapear e identificar a conjuntura sociopolítica em que estão 
inseridos os documentos de Sumaré e Alto da Boa Vista é uma tarefa indis-
pensável na compreensão dos aspectos históricos do processo de renovação 
da profissão no país.
Sobre esse aspecto, Netto (2009) pontua que o ciclo autocrático burguês 
recobre três lustros, de abril de 1964 a março de 1979, ou seja, do golpe até a 
posse do General Figueiredo.
7O processo de reconceituação do serviço social II
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Ao longo desses três lustros, autocracia burguesa evoluiu diferencialmente. 
Parece-nos legítimo apanhar essa evolução segundo três momentos distintos: 
o que vai de abril de 1964 a dezembro de 1968 (cobrindo o governo Caste-
lo Branco e parte do governo Costa e Silva); de dezembro de 1968 a 1974 
(envolvendo basicamente o fim do governo Costa e Silva, o intermezzo da 
Junta Militar e todo o governo de Médici) e o período Geisel (1974 a 1979) 
(NETTO, 2009, p. 35).
Fazer esse breve recorte histórico nos permite situar a conjuntura política 
em que foram realizados os seminários e as influências do momento de suas 
elaborações. Até meados do final da década de 1960, a realidade global da 
“modernização conservadora” ocupava quase que unicamente o universo 
profissional no processo renovador. Já em meados da década de 1970, Netto 
(2009) coloca que já se fazem sentir os vetores socio-históricos e profissionais 
que responderão pelo nível de deslocamento da perspectiva modernizadora 
do proscênio que, no processo brasileiro da renovação do serviço social, ela 
ocupava quase que solitariamente.
É desse período que se registra o deslocamento da perspectiva moder-
nizadora da arena central de debates e da polêmica, passando a concorrer 
com outras vertentes do processo de renovação. Com o enfraquecimento no 
que tange a hegemonia da vertente modernizadora e com o início da crise 
da autocracia burguesa, entra em cena, no cenário do processo de recon-
ceituação, a perspectiva de reatualizarão do conservadorismo. “Trata-se de 
uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança 
histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto)representação e 
da prática, e os repõe sobre uma nova base teórico-metodológica” (NETTO, 
2009, p. 157).
Nessa direção, disputando espaço e ganhando lugar nos foros de discus-
sões e debates da profissão, as concepções dessa vertente vão adentrando o 
cenário profissional, instaurando os seminários realizados no Rio de Janeiro, 
no centro de Sumaré e no Alto da Boa Vista, expressivos no deslocamento 
da perspectiva modernizadora dos quatros efetivos do serviço social no 
Brasil. 
Concepções debatidas nos seminários 
Considerados deslocadores da perspectiva modernizadora, porretirarem do 
centro as elaborações e as discussões trazidas em torno dessa vertente, os 
seminários de Sumaré a Alto da Boa Vista inserem, no interior do serviço 
social, as concepções trazidas pela reatualização do conservadorismo.
O processo de reconceituação do serviço social II8
Organizados pelo CBCISS, o seminário de Sumaré aconteceu entre 20 e 
24 de novembro de 1978, no centro de estudos de Sumaré da arquidiocese 
carioca, reunindo 25 pessoas, entre coordenadores, consultores, apoiadores 
e participantes. Entre eles, nove participantes tinham estado em Araxá e sete 
em Teresópolis.
O seminário do Alto da Boa Vista foi realizado em 1984 no colégio Coração 
de Jesus, com a participação de 24 pessoas, entre elas estavam 23 profissionais 
e um estudante. 
Considerada a distância temporal de seis anos entre os dois seminários, 
a proposta temática de ambos era discutir o serviço social e a cientificidade, 
o serviço social e a dialética e o serviço social e a fenomenologia. Nesse 
contexto, mesmo tendo um significado histórico e social na profissão, os dois 
seminários não obtiveram uma expressiva representatividade na categoria 
profissional.
Tanto no colóquio de Sumaré como no do Alto da Boa Vista, ainda que ve-
rificado o interesse dos organizadores em abrir o debate numa perspectiva 
menos unívoca e monocolor, bem como em utilizar uma dinâmica que não 
redundasse em textos cerrados, a condução da formulação dos problemas 
teóricos e culturais operou de forma tal que suas impostações se apresen-
taram como defasadas em confronto com a modalidade de reflexão que 
encorpava nas expressões mais visíveis do debate profissional (NETTO, 
2009, p. 195–196).
Essa defasagem se deve ao cenário nacional da época, que rebatia sobre 
o interior da categoria profissional, que passava por alterações no seu corpo 
profissional marcado pelo surgimento de novos organismos de expressão e 
representação. Nos dois seminários, mais notadamente no do Alto da Boa 
Vista, é perceptível um movimento de abertura a referências distintas do 
conservadorismo (Netto, 2009).
Nesse sentido, Netto (2009) aponta que:
Ainda que se considere o panorama diverso do final do decênio de setenta 
(quando se realiza o encontro de Sumaré) e o dos primeiros anos da década 
de oitenta (quando ocorre o do Alto da Boa Vista) – vale dizer: tomando 
em conta o caráter datado dos eventos em tela, as elaborações e preocu-
pações que tiveram curso nos dois colóquios possuem traços tais que as 
tornavam muito pouco aptas para galvanizar a atenção das vanguardas 
profissionais emergentes. Esses traços podem ser resumidos se se alude 
ao seu denominador comum: a extrema pobreza teórica que exibiam [...] 
(NETTO, 2009, p. 196).
9O processo de reconceituação do serviço social II
Essa pobreza teórica era comparada a discussões que aconteciam nos 
foros acadêmicos, culturais e políticos dentro e fora da profissão na época. 
Nesse sentido, os seminários de Sumaré e Alto da Boa Vista, na concepção 
de Netto, carecem de concepções modernas. As tematizações apresentadas 
em ambos assinalavam vetores teórico-metodológicos que recuperavam os 
valores conservadores. Os valores e objetivos profissionais são compreender 
o homem e o mundo por meio de uma fenomenologia existencial e motivada 
por uma ética cristã, características da reatualização do conservadorismo.
O seminário do Alto da Boa Vista desenvolve-se a partir de sete conferências, pronun-
ciadas por convidados. Martins de Souza cuidou da “Problemática autoritária no Brasil”, 
L. Konder falou dos “Aspectos da história do marxismo no país”, Silvia Oliveira tratou 
do “Positivismo”, Telza Dozelli tematizou a “Fenomenologia”, Antônio Paim dissertou 
sobre o “Estatismo e questão social no Brasil”, Vélez Rodriguez relacionou o “Estado 
autoritário e as ciências sociais” e C. Ziviani abordou a “Tecnologia social” (NETTO, 2009).
Documentos de Sumaré a Alto da Boa Vista
As elaborações de ambos os documentos tiveram como eixo temático o serviço 
social e a cientificidade, o serviço social e a dialética e o serviço social e a 
fenomenologia.
No seminário de Sumaré, as discussões em torno dos temas abordando 
a cientificidade do serviço social e as reflexões sobre o processo histórico-
-científico de construção do objeto do serviço social foram preparadas por 
dois grupos de assistentes sociais, um do Rio de Janeiro e outro de São Paulo.
No encontro de Sumaré, foram apresentados e discutidos “documentos de base” sobre 
a cientificidade do serviço social, e reflexões em torno da construção do serviço social 
a partir da abordagem de compreensão, ou seja, da interpretação fenomenológica 
do estudo do serviço social foram feitas (NETTO, 2009).
O processo de reconceituação do serviço social II10
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Nas elaborações redigidas pelo grupo carioca, a problemática da cienti-
ficidade teve por base as teses de Goldstein. Ele sugere que o serviço social 
tem uma base comum de conhecimento. As proposituras de Goldstein, 
ancoradas teoricamente em um ecletismo que se lastreia em concepções 
estruturais funcionalistas, não contém qualquer problematização substantiva 
da natureza do serviço social tradicional (GOLDSTEIN, 1973 apud NETTO, 
2009, p. 198).
De acordo com essa proposição, o serviço social tem seus próprios meios 
e objetivos, insistindo que não haverá prática científica no serviço social.
se os aspectos epistemológico e teórico forem negligenciados em proveito 
apenas de manipulações técnicas de caráter pragmático e terapêutico, os 
autores creem viável pensar ‘o caráter cientifico do Serviço Social’ como 
“busca de um consenso intersubjetivo sobre um campo delimitado de análise 
sobre o qual se estruturam conhecimentos conceitos próprios ou originados 
das ciências do homem de um modo geral, para uma posterior aplicação” 
(CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO DE SER-
VIÇOS SOCIAIS, 1986, p. 126 apud NETTO, 2009, p. 198).
Nas elaborações do documento base do grupo do Rio de Janeiro não é 
possível analisar a realidade em termos de variáveis esquematizadas. A cien-
tificidade representa uma ideia reguladora, não um modelo determinado. O 
saber científico é, ao mesmo tempo, aquisição de um saber, aperfeiçoamento 
de uma metodologia e elaboração de uma norma.
Nesse contexto, o serviço social está na habilidade, responsável e cons-
cientemente, de se tornar uma parte do complexo sistema de interação 
humana e produzir mudanças no comportamento do indivíduo. O foco é 
a compreensão do homem e do universo, a relação entre pessoa cliente e 
pessoa assistente social.
No que se refere à elaboração do grupo paulista, o foco era o objeto do 
serviço social. “Os redatores pensam que se deve discutir a construção do seu 
objeto mediante um ‘enfoque dialético’ que incorpore uma dupla perspectiva: 
a da ‘ciência’ e dos ‘modos de produção’, das formas sociais e das conjunturas 
políticas” (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO 
DE SERVIÇOS SOCIAIS, 1986, p. 145–146 apud NETTO, 2009, p. 198–199).
Preocupados com fenômenos e fatos, existe uma preocupação dos elabo-
radores em sintetizar teoria e ação. O documento opera com categorias que 
reenviam ao “pensamento dialético”. No entanto, cabe uma consideração: 
a concepção dialética posta no documento é compreendida sobre a lente de 
Dilthey. 
11O processo de reconceituação do serviço social II
Nesse contexto, “A dialética recebe um tratamento francamente ininteli-
gível e a própria ‘concepção dialética’ acaba por se reduzir à construção do 
objeto ‘a partir da concepção da realidade enquanto movimento no processo 
histórico’’’ (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E INTERCÂMBIO 
DE SERVIÇOS SOCIAIS, 1986, p. 145 apud NETTO, 2015a, p. 199).
Com relação à abordagem serviço social e fenomenologia, pontuamos 
que no documento constam os registros da professora Creusa Capalbo. Ela 
apresenta a ciência do vivido segundo Husserl, entendendo a fenomenologia 
como compreensiva e não explicativa. 
Ao olharmos para os temasabordados e debatidos nos documentos de 
base de ambos os grupos você notará que o grupo do Rio apresentou preo-
cupações quanto ao estudo do fenômeno, do saber científico e aos princípios 
que devem ser adotados pela categoria, ou seja, o serviço social propõe um 
desenvolvimento da consciência reflexiva das pessoas. Já o grupo paulista 
apresentou indagações sobre implicações de cunho fenomenológico para o 
serviço social.
Quanto às elaborações publicadas no seminário do Alto da Boa Vista, 
dada a ausência de bibliografia que aprofunde a sua abordagem, é possível 
avaliar como o simplismo das intervenções dos conferencistas convidados 
tornou-se um fato central (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO 
E INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS, 1988 apud NETTO, 2015a, 
p. 200).
Contudo, uma das considerações feitas sobre a tônica “moderna”, é 
dada pela sugestão do “serviço social como sistema cibernético”, em que 
se supõe a utilização de alternativas de recursos tecnológicos como meios 
no processo interventivo, implicando, necessariamente, redefinições de 
princípios profissionais (CENTRO BRASILEIRO DE COOPERAÇÃO E 
INTERCÂMBIO DE SERVIÇOS SOCIAIS, 1988, p. 135–142 apud NETTO, 
2015a, p. 200–201).
Em 1984, quando ocorreu o encontro do Alto da Boa Vista, já havia sido realizado o 
III e o IV Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, e a ABEPSS já estava consolidada 
como foro de debates teórico- metodológico e profissional e como acervo nacional 
da bibliografia produzida por assistentes sociais sobre temas idênticos ou similares já 
largamente difundidos.
O processo de reconceituação do serviço social II12
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Dada a relevância história da construção desses seminários para o serviço 
social, a apreensão dos debates por eles não derivou em um debate profissional 
profundo na época. Os exames dos resultados do Sumaré e do Alto da Boa 
Vista patenteia que o processo de renovação profissional já transitava por 
outros condutos e envolvia outros protagonistas (NETTO, 2009).
Intenção de ruptura
Com a crise final da ditadura e a emergência do operariado no cenário so-
ciopolítico, na passagem dos anos de 1970 para os anos de 1980, nasce, no 
interior do serviço social, a perspectiva de intenção de ruptura.
Nesse período, o Brasil vive a massificação dos movimentos populares 
contrários ao regime militar, as expressões do movimento estudantil e do 
sindicalismo ganham força. Nessa fase, comprometido com uma proposta de 
projeto societário alternativo ao domínio capitalista, o serviço social assume 
um posicionamento de classe, vinculado à classe trabalhadora, associando-
-se a grupos sociais e partidos políticos favorável à ideia de emancipação 
societária e humana.
Na direção identificada na perspectiva de intenção de ruptura, almeja-se 
o rompimento total com o tradicionalismo histórico do serviço social. “Ao 
contrário das anteriores, essa fase possui como substrato nuclear uma crítica 
sistemática ao desempenho ‘tradicional’ e aos seus aportes teóricos, metodo-
lógicos e ideológicos” (NETTO, 2009, p. 159).
Um dos marcos da intenção de ruptura é a sua criticidade a ordem so-
cietária vigente, considerada a perspectiva de caráter opositora a autocracia 
burguesa, que recorre, principalmente, ao pensamento marxista (tido de forma 
progressiva na sociedade).
Com relação à expressão da perspectiva de intenção de ruptura, Netto 
(2009) coloca:
Na primeira metade dos anos oitenta, é esta perspectiva que dá o tom a polê-
mica profissional e fixa as características da retórica politizada (com nítidas 
tendências à partidarização) de vanguardas profissionais de maior incidência 
na categoria, permeando o que há de mais ressonante na relação entre esta 
e a sociedade e de tal forma fornece a impressão de possuir uma inconteste 
hegemonia no universo profissional (NETTO, 2009, p. 160).
Na construção dessa vertente, podemos afirmar que ela se caracteriza pela 
formação de uma massa crítica de assistentes sociais. Sua formulação inicial 
13O processo de reconceituação do serviço social II
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tem como cenário a Escola de Serviço Social da Universidade Católica de 
Minas Gerais, e surge da inquietude de jovens assistentes sociais que “[...] 
elaboraram (...) uma alternativa que procura romper com o tradicionalismo no 
plano teórico-metodológico, no plano da intervenção profissional e no plano 
da formação” (NETTO, 2005, p. 263).
A participação da classe trabalhadora como sujeitos políticos teve influência 
significativa sobre as instituições universitárias a partir de 1968. A partir das 
reformas universitárias são criados os cursos de pós-graduação em serviço 
social, começando a surgir um profissional acadêmico, com dedicação ex-
clusiva ao trabalho científico. O pensamento crítico se desenvolve no seio da 
universidade, estando atrelado fortemente a existência de um ambiente rico 
culturalmente e dotado de certa autonomia.
Nesse contexto, é evidente na perspectiva de intenção de ruptura a vin-
culação à universidade. Sobre essa característica, Netto (2009) escreve que:
Entendamo-nos: a universidade enquadrada e amordaçada (também já o vi-
mos) nunca foi um território livre; no entanto, pelas próprias peculiaridades 
do espaço acadêmico, este se apresentava como menos adverso que os outros 
para apostas de rompimento; era, comparado aos demais, uma espécie de 
ponto fulcral na linha menor da resistência. Permitiria, se as condições fossem 
minimamente favoráveis, na conjunção da pesquisa e extensão, o atendimento 
de necessidades de elaboração e experimentação – e estas eram absolutamente 
imprescindíveis ao projeto de ruptura (NETTO, 2009, p. 250–251).
Por esta razão, a intenção de ruptura evidenciou-se primeiramente como 
produto universitário e, por meio de seus espaços, tornou-se possível a intera-
ção intelectual entre os profissionais, tornando possível quebrar o isolamento 
intelectual do assistente social e viabilizar experiências de prática autogeridas 
(NETTO, 2009).
Emergência e desenvolvimento da perspectiva de 
intenção de ruptura
A perspectiva de intenção de ruptura passou por diversos momentos consti-
tutivos, desde sua emergência nos espaços universitários até a construção dos 
seus produtos mais típicos e influentes. É legítimo mapear essa perspectiva 
em três momentos diferentes: o da sua emersão, a consolidação acadêmica e 
seu espraiamento sobre a categoria profissional.
Seu processo de emergência está historicamente situado na Escola de Serviço 
Social da Universidade Católica de Minas Gerais, onde se formulou o método 
O processo de reconceituação do serviço social II14
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Belo Horizonte. Originário da inquietude de um grupo de jovens profissionais, 
a intenção de ruptura não inicia acidentalmente em Belo Horizonte. Historica-
mente, a capital mineira fora um sítio de elites reacionárias e aguerridas que 
contribuíram para o golpe de 1964, porém, ali estavam situados importantes 
movimentos sindicais e populares, além de uma forte tradição estudantil não 
só democrática, mas com impulsão revolucionária e socialista (NETTO, 2009).
Toda essa conjuntura cultural e sociopolítica conjugam os elementos ne-
cessários para tornar Belo Horizonte o berço adequado para expressão inicial 
do projeto profissional de ruptura.
Para apreender sobre o caráter global da alternativa de ruptura proposta pelos pro-
fissionais da escola mineira, basta examinar as peças vitais da reflexão do grupo, 
principalmente três documentos elaborados na escola entre 1971 e 1974, que são 
hoje de difícil consulta (A prática como fonte da teoria, Uma proposta de reestruturação 
da formação professional e Análise histórica da orientação metodológica da Escola de 
Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais).
No primeiro momento, parecia que a emergência da intenção de ruptura era 
algo passageiro. No entanto, trabalho de conclusão de cursos de pós-graduação 
de assistentes sociais no final dos anos de 1970 e no iníciodos anos de 1980, 
revela uma recuperação da intenção de ruptura marcando a fase de consolidação 
dessa perspectiva. Percebe-se, no interior da profissão. Uma recuperação que 
colocava o projeto de rompimento sobre novas bases, estritamente acadêmica, 
mas ainda assim significando um marco da universidade enquadrada pela 
autocracia burguesa, que agora evidenciava sua crise (NETTO, 2009).
Nessa perspectiva, a ampliação da categoria e das produções acadêmicas vai 
se concentrar nos debates profissionais. Essa busca por identidade ingressará 
no seu terceiro momento, o momento em que ela se espraia para o conjunto 
da categoria profissional, conduzindo os profissionais de serviço social para a 
inserção em fóruns e seminários, o que acarretará a propagação da perspectiva.
O fato é que a incidência do projeto de intenção de ruptura, a partir do se-
gundo terço da década de oitenta, penetra e enforma os debates da categoria 
profissional, dá o tom da sua produção intelectual, rebate na formação de 
quadros operada nas agencias acadêmicas de ponta e atinge as organizações 
representativas dos assistentes sociais (NETTO, 2009, p. 267).
15O processo de reconceituação do serviço social II
Assim, esse resgate histórico das formulações constitutivas da perspectiva 
de intenção de ruptura revela que a tendência é um condutor no processo de 
renovação do serviço social no Brasil, marcada por linhas de continuidade 
inscrita na contemporaneidade com objetivo de transformação da sociedade 
e do homem, evidenciada pelo seu potencial crítico e contestador das relações 
de classe no modo de produção capitalista.
NETTO, J. P. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64. 14. 
ed. São Paulo: Cortez, 2009. 334 p.
NETTO, J. P. O Movimento de Reconceituação: 40 anos depois. Serviço Social & Sociedade, 
São Paulo, v. 26, n. 84, p. 5-20, nov. 2005. 
Leituras recomendadas
ALMEIDA, A. A. Possibilidades e limites da teoria do serviço social. 4. Ed. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1978. 159 p.
ANDRADE, M. A. R. A. O metodologismo e o desenvolvimentismo no Serviço Social 
Brasileiro 1947-1961. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 17, n. 1, p. 268-299, 2008. Dis-
ponível em: <https://ojs.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/view/13>. Acesso em: 
7 out. 2018.
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