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1 ESPECIALIDADES CLÍNICAS I – GASTROENTEROLOGIA DEFINIÇÕES: DIARRÉIA: Perda excessiva de água e eletrólitos através das fezes, resultando em aumento do volume e frequência das evacuações e diminuição na consistência das fezes. DIARRÉIA AGUDA: Possui duração inferior a 14 dias. Na maioria das vezes tem origem infecciosa. DIARRÉIA PERSISTENTE: Tem duração de 14 dias ou mais. DIARRÉIA CRÔNICA: Se estende por um período superior a 30 dias, podendo ou não haver síndrome de má absorção associada. DISENTERIA: Presença de sangue nas fezes, podendo haver presença de muco ou pus. A diarreia é uma alteração da frequência e consistência das fezes, 1 episódio de fezes amolecidas não é diarreia. Na descrição da anamnese é necessário diferenciar se é 1 episódio ou se é diarreia, porque na diarreia é preciso alterar tanto a consistência das fezes quanto a frequência de evacuações. REVISÃO O Intestino delgado é responsável pela absorção da maior parte dos micronutrientes e as lesões de mucosa de delgado é que vão justificar diarreia. O ID é formado por microvilosidades, responsáveis pela absorção de liquido, de agua e de micronutrientes. Geralmente fazemos a ingestão de cerca de 2 L de agua por dia, e produzimos cerca de 6 a 8 litros de secreções. O intestino consegue fazer a absorção de 8L por dia. A capacidade absortiva do intestino é extremante superior ao tamanho, devido a presença de vilosidades. Essa estrutura é bem complexa, formada por sistema venoso, arterial e linfático. Tem os vilos que são as protuberâncias e as criptas que são as depressões, onde existe as glândulas de Lieberkulnn que exercem função endócrina e exócrina. As glândulas são formadas por células que secretam enzimas do tipo sucrase e maltase... e células que produzem hormônios que é o caso da secretina, da motilina, do peptídeo intestinal, além de apresentarem células caliciformes que produzem muco. A estrutura de vilo, onde estão presentes os enterócitos, epitélio cilíndrico simples, responsável pela absorção. E as glândulas de lieberkulnn são as glândulas que possuem diversos tipos de células, células que tem função endócrina e exócrina. COMO ACONTECE O PROCESSO DE ABSORÇÃO? Os carboidratos são absorvidos através do transporte ativo (gasta energia) ou difusão facilitada. As gorduras são absorvidas através de difusão simples ou exocitose. As proteínas são absorvidas por transporte ativo ou difusão facilitada. 2 DIARREIA – ABORDAGEM INICIAL História e Exame Físico Anamnese: Uma vez que tenha concluído que o paciente realmente apresenta diarreia e não 1 episódio de fezes amolecidas, é necessário saber as características de quando surgiu e quais foram os fatores desencadeantes. É importante questionar também os antecedentes pessoais e familiares, porque existem algumas patologias extra intestinais que cursam com diarreia. Características das fezes: o Padrão temporal da diarreia e fatores desencadeantes o Antecedentes pessoais e familiares – DM2/ Doenças pancreáticas/ Intolerância à lactose/ Hipertireoidismo / Imunossupressão/ Cirurgias digestivas amplas. o Consumo de carne crua ou mal cozida/ produtos não pasteurizados. (A principal causa de diarreia aguda é infecciosa). o Passagem por áreas endêmicas/ epidêmicas de coléra/ viagens. Exame Físico: Toque retal – sangue, muco e pus na luva. (O toque retal faz parte do exame físico do paciente com diarreia, não é uma abordagem feita com todo paciente, mas na prova você vai responder que FAZ, porque você tem que fazer a avaliação principalmente se o paciente tiver queixas relacionadas a causas baixas de diarreia. Se no toque sair sujo de muco, pus ou sangue na luva isso já é um adicional de que a diarreia provavelmente é baixa. Sinais de alerta * DIARRÉIA: FATORES DE RISCO E GRAVIDADE Idade > 70 anos Diarréia > 48 horas Sangue/ Muco nas fezes Imunossupressão (drogas/HIV) Dor abdominal intensa em pac > 50 anos T ≥ 38,5ºC Mais de 8 evacuações/ dia Desidratação no exame físico Desnutrição Taquicardia – Hipotensão A presença de pelo menos um desses sinais justifica a coleta de exames. DIARREIA AGUDA Epidemiologia Ela pode ser tanto um sintoma principal quanto um sinal polimorfo. 60 a 70% das mortes relacionadas a diarreia aguda se devem à desidratação. 2 º causa de morte em crianças menores que 5 anos. Isso porque, a gente consegue manter no paciente, principalmente nas crianças um ciclo vicioso que é extremamente deletério que é a diarreia que vai provocar a desidratação aguda e o agravo nutricional, porque independente da causa de diarreia vai ter um comprometimento de absorção no curso. Tende a se recuperar se iniciar as medidas terapêuticas com brevidade, porem tende um agravo nutricional e esse paciente desnutrido ele é mais susceptível a infecção e essas infecções costumam piorar se o paciente estar com diarreia e acaba gerando um ciclo vicioso em um paciente já debilitado. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A LOCALIZAÇÃO: Diarreia alta e baixa: Alta origem no intestino delgado e diarreia baixa cólon. 3 Os principais organismos causadores da diarreia baixa são as bacterianas. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A ETIOLOGIA A maior parte das diarreias agudas são de etiologia viral. O rotavírus e vírus Norwalk, são os principais. A Shigella é a principal causa de diarreia bacteriana no mundo. Salmonella segundo lugar. S.aureus é aquele caso de que todos comeram o mesmo alimento, mas só 1 teve diarreia. O S aureus produziu toxina em um só fragmento do alimento. Característica da manifestação clínica de alguns agentes: CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MECANISMO: É comum mais de um mecanismo numa mesma enfermidade. 5 mecanismos: osmótica, secretora, invasiva, mal absortiva e diarreia por alteração da motilidade. DIAREIA OSMÓTICA Um processo infeccioso, os enteropatógenos ocasionam lesão dos enterócitos, diminuição da atividade das dissacaridases (que são enzimas que existem na borda em escova do intestino delgado e contribuem para o período de digestão dos dissacarídeos, ocorrendo diminuição da absorção desses açucares pois os dissacarídeos não são possíveis de serem absorvidos, eles precisam ser quebrados em monossacarídeos, uma vez eles presentes na luz intestinal eles irão aumentar a osmolaridade, promover o sequestro liquido, aumento do conteúdo fecal e ocasionar a diarreia osmótica. Clinicamente: Perda de fezes > 500 ml Alivia com jejum/ suspensão do agente causador. Débito hídrico fecal diretamente proporcional à quantidade de soluto ingerida. Distensão abdominal, flatulência (porque está presente na luz intestinal , o microelemento o que leva ao sequestro de líquidos e leva a proliferação bacteriana, por usar aquele microelemento para alimentação própria, por isso o paciente fica com o barulho parecendo que a barriga está cheia de agua). 4 DIARREIA SECRETORA: Toxinas que vão aumentar a produção de AMP cíclico que vai levar a secreção ativa de água e eletrólitos. A maioria das cepas bacterianas, vao provocar diarreia secretora também. Clinicamente: Fezes aquosas de grande volume (>500 mL) Geralmente indolores Persistem com o jejum Isotônicas com o plasma Aumento de Na e K nas fezes devido a secreção ativa de água e eletrólitos. Desidratam de forma muito rápida porque perdem eletrólitos. DIARRÉIA INFLAMATÓRIA OU INVASIVA Mecanismo depende do local da inflamação; ocorre ruptura da integridade da mucosa com exsudato ou ulceração; pode não estar apenas associado a exsudato (pode ocorrer: diminuição da absorção de lipídios, diminuição da absorção hidroeletrolítica, hipersecreçãoe hipermotilidade). Causas: Doença inflamatória intestinal: Doença de Crohn, Colite ulcerativa. (lesão de mucosa) Imunodeficiências Primárias ou secundárias: Giardíase associada a Hipogamaglobulnemia Outras: Gastroenterite eosinofílica, Sind. Beheçet; Clinicamente: Diarreia associada a febre, dor, hemorragia e outras manifestações inflamatórias Persiste no jejum Fezes mucosas/ mucopurulentas Inflamação grave- anasarca Análise fecal- Presença de leucócitos ou produtos derivados - Meia idade ou idosos – AVALIAÇÃO CUIDADOSA (DD tumor colorrectal). 5 O exemplo clássico da diarreia inflamatória ou invasiva, são as doenças inflamatórias intestinais, apesar de causar diarreia crônica. Destaque em vermelho: a presença de sangue nas fezes na doença de cronh pode estar presente, mas é pouco frequente comparada com a retocolite ulcerativa. As vezes esse pouco frequente precisa de pesquisa de sangue oculto nas fezes, esse pouco frequente é macroscopicamente falando. E a diarreia é muito mais frequente na retocolite ulcerativa do que na doença de crohn. Na tabela também observamos outras diferenciações. 6 DIARREIA MALABSORTIVA Causas: Má digestão intraluminal: acontece pela dificuldade de eliminar enzimas do processo de digestão. São as enzimas pranceáticas (responsável pela digestão de lipídeos e proteínas); a bile (responsável por produzir sais biliares que vão promover a emulsificação das gorduras, do componente lipídico, para permitir que as enzimas lipolíticas do pâncreas possam agir). Má absorção da mucosa: o paciente apresenta uma doença celíaca por exemplo, que tem atrofia vilositária. Obstrução linfática: o paciente apresenta uma linfagiectasia, que são patologias que dilatam os ductos linfáticos e comprometem o processo de absorção. Clinicamente: Esteatorreia- apenas visível quando a gordura fecal >7 g/dia (isso é muita gordura, então não espere esteatorreia como manifestação clássica da diarreia por má absorção não, como foi falado na aula de pancreatite crônica que dor abdominal e emagrecimento são as principais manifestações de quem tem pancreatite crônica). Fezes gordurosas, pastosas, claras, brilho oleoso, flutuantes, cheiro fétido. Deficiências nutricionais, se não tem as enzimas proteolíticas e lipolíticas para promover a degradação dos macronutrientes, não vai ocorrer absorção dos micronutrientes, a mucosa intestinal não é preparada para absorver macronutrientes, ela absorve aa, monossacarídeos. ( absorção vitaminas e AA) – osteomalácia ( vitamina D); défices de coagulação ( vitamina k). Perda ponderal Aumento do débito fecal com alimentação (come e evacua pois não tem enzimas suficientes para fazer digestão). Deficiências na absorção de lipídios, aminoácidos e vitaminas. débito fecal devido ao efeito osmótico dos AG hidrolisados pelas bactérias intestinais DIARREIA POR ALTERAÇÃO DE MOTILIDADE Tem aumento da motilidade intestinal ou diminuição, determinadas patologias causam isso. Quando falamos em diarreia por alteração de motilidade é necessário lembrar dos distúrbios funcionais: síndrome do intestino irritável (clinicamente: dor ou desconforto abdominal recorrente nos últimos 6 meses, durante 3 pelo menos 3 dias no mês, nos últimos 3 meses. Melhora com a evacuação, altera a frequência das evacuações e aparência das fezes) e síndrome do cólon irritável (os pacientes tem episódios de aumento da frequência fecal, desencadeados por determinadas situações- estresse emocional, estresse infeccioso ou estresse relacionados a alimentação. Passam um bom período sem queixas, aí faz uma gastroenterite viral ou por qualquer causa e desencadeia a crise de cólon irritável, uma característica importante é que a dor abdominal cessa a noite no período do sono, acompanhados de dor abdominal que alivia com defecação-muito importante para fechar o diagnóstico, a perda de peso é rara). 7 DIARREIA AGUDA INFECCIOSA- DIAGNÓSTICO Primeiro é necessário caracterizar a diarreia aguda, tentar identificar qual foi o agente agressor e através da história clínica fazer uma suspeita de causa etiológica (ex: S Aureus geralmente começa de 1 a 6 horas da ingestão de alimento contaminado, paciente com muita cólica e tenesmo pode ser Shigella, pacientes com sangramento pensar em bactérias mais agressivas...) Diarreia bacteriana Cultura de fezes Rotavirus Rotazine Cólera Microscopia com fundo negro C jejuni Meios de culturas seletivos (Skirrow) ECEH PCR (identificação de toxinas) ECEH, ECEP, ECEA, Provas genotípicas O parasitológico de fezes é um exame importante para diagnóstico de diarreia bacteriana, porém não é possível solicitar para o paciente com diarreia aquosa, porque não é possível o bioquímico observar no laboratório com uma amostra de fezes amolecidas. Muitas vezes, será necessário promover um tratamento inicial do paciente, fazer uso de uma medicação que dê maquiada nas fezes deixando mais pastosa, tornando possível colher o material para avaliação. DIARRÉIA AGUDA – PREVENÇÃO DIARRÉIA AGUDA – TRATAMENTO Direcionado para a causa: Sintomáticos Correção da desidratação: Realimentação precoce: não usa mais o jejum, apesar de melhorar a diarreia osmótica, não recomendamos jejum para o tratamento da diarréia. Uso de antibióticos: causa infecciosa bacteriana Uso de probióticos Os pacientes que apresentam desidratação moderada grave, precisam ser tratados com solução fisiológica 0,9%- 20 ml/hora ou em “bolus”, dependendo se o paciente estiver com tendência para o choque hipovolêmico que as vezes acontece, principalmente idosos que apresenta os reflexos já alterados por conta da idade. Faz a correção da desidratação até a diurese aparecer clara. O que a professora faz na sua conduta habitual é: se não sabe se é bactéria ou vírus tira a lactose de todo mundo, por pelo menos 5 dias, 5 dias é o tempo mais ou menos que a célula basal chegar até a superfície da luz intestinal madura para promover a absorção adequada. Se o paciente tem rotavirose ou ECEP faz uma dieta semi- elementar (dieta de gosto ruim, geralmente através de soluções). As crianças desidratam com muita facilidade, as vezes não consegue fazer a ingestão e é necessário passar sonda nasogástrica para alimentação. São 2 tipos de agentes que promovem diarreia secretora, então é necessário fazer alimentação precoce. 8 Na dúvida quando não sabe, usa uma combinação. O ciprofloxacino para cobrir gram negativo e o metronidazol para cobrir anaeróbio. Cepas com uma concentração maior que 1010, menos que isso não consegue promover a competição biológica adequada dentro da luz intestinal para que essas cepas de probióticos se superem frente as outras.