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RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA SP 3.1 – CAMINHADA EXTENSA – DIARREIAS MÓDULO DE GASTRO 1) ESTUDAR AS CLASSIFICAÇÕES DA DIARREIA. A diarreia é a uma forma de apresentação (sintoma/sinal) de inúmeras doenças diferentes, extremamente polimorfa, podendo ser grave o suficiente para colocar em risco a vida do paciente. A diarreia ainda é uma das manifestações patológicas mais prevalentes em todo o mundo, constituindo a segunda causa de morte em crianças menores que 5 anos. Nessa faixa etária morrem, a cada ano, 760 mil crianças. Calcula-se que, nos países em desenvolvimento, cada criança de até 3 anos de idade apresente três episódios de diarreia por ano. Globalmente, calcula-se que ocorram 1,7 bilhão de casos de doenças diarreicas a cada ano. A diarreia é um sintoma/sinal caracterizado por dois componentes principais: • aumento no número de evacuações (mais de três vezes ao dia) • diminuição da consistência. Um terceiro componente, o peso (mais de 200 g/dia), pode ser considerado, porém, é de difícil avaliação na clínica diária. ________________________________________ As diarreias podem ser classificadas, basicamente, de algumas maneiras: 1. Quanto ao tempo de evolução: agudas e crônicas 2. Quanto à etiologia: infecciosas e não infecciosas 3. Quanto ao mecanismo fisiopatológico: osmóticas, secretoras, exsudativas e motoras. 4. Quanto a anatomia: alta e baixa. 1. A classificação quanto ao tempo é definida pela duração do sintoma, sendo consideradas diarreias agudas aquelas com duração de até 15 dias, e diarreias crônicas quando os sintomas duram mais de 30 dias. Ps.: O intervalo entre 15 e 30 dias é considerado, por alguns, diarreia persistente, enquanto outros preferem classificar a diarreia que dura mais de 15 dias como crônica. Uma vez que o tempo é fator determinante das diarreias agudas e crônicas, toda diarreia crônica começa como um quadro de diarreia aguda, insidiosa ou exuberante, e, dependendo da regressão espontânea ou da resposta a medidas terapêuticas utilizadas, poderá se prolongar até caracterizar uma diarreia crônica. O agente/fator etiológico será indicativo da maior ou menor probabilidade de evolução crônica. ________________________________________ 2. Outra forma de classificação das diarreias, baseada no mecanismo fisiopatológico mais importante, separa-as em quatro tipos: 1. Diarreia osmótica – presença de moléculas solúveis em água que levam a retenção osmótica da água. 2. Diarreia secretória – aumento da secreção dos fluídos isotônicos da mucosa intestinal. 3. Diarreia exudativa – áreas inflamadas do intestino podem causar secreção de substâncias como pus, soro, muco e pus, causando diarreia. 4. Diarreia motora – ressecção intestinal ou fístulas enteroentéricas ________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA 3. Pode-se também classificá-la em alta e baixa. ALTA: quando há acometimento do intestino delgado, caracterizando-se por poucas dejeções, de grande volume, podendo haver restos alimentares, esteatorréia (fezes gordurosas) e distenção abdominal, cessa após jejum. BAIXA: é aquela que traduz o envolvimento do intestino grosso, com grande número de dejeções, pouco volumosas, com tenesmo (sensação de não ocorrer esvaziamento completo), podendo haver presença de sangue e pus. Pode ainda ser mista quando houver envolvimento de ambos os segmentos do intestino. ____________________________________________ Sinais de alerta: • Sangue ou pus nas fezes • Febre • Sinais de desidratação (como micção reduzida, letargia ou apatia, sede extrema e boca seca) • Diarreia crônica • Diarreia noturna • Perda de peso 2) ENTENDER A FISIOPATOLOGIA DAS DIARREIAS. Os principais eventos da fisiologia do intestino que poderão estar alterados em um paciente com diarreia: • Absorção de líquidos: o aporte de líquidos para o intestino corresponde a aproximadamente 10L/dia, provenientes de fontes variadas, como: ingesta, saliva, suco gástrico, secreções bilio-pancreáticas e o próprio suco entérico. A maior parte é absorvida no jejuno, junto com os nutrientes, de forma que apenas cerca de 1 a 1,5L de líquidos chega ao cólon. Destes, 10%, ou 100 a 150 mL, serão eliminados com as fezes. Uma redução de apenas 1% na capacidade de absorção será suficiente para causar diarreia. • Osmolaridade da luz intestinal: a direção do fluxo passivo de um líquido entre compartimentos contíguos que se comunicam é determinada pela osmolaridade dos conteúdos desses compartimentos, e acontece sempre daquele de menor osmolaridade para o de maior osmolaridade, de forma a manter o equilíbrio entre os dois ambientes. Esse mecanismo fica evidente nos casos de diarreia provocados pela ingestão de açúcares não absorvíveis, como manitol, lactulose etc. • Mucosa intestinal: desde o esfíncter inferior do esôfago até o ânus, o trato gastrointestinal é revestido por uma única camada contínua de células que servem como limite entre os meios externo e interno do corpo humano. Sua integridade funcional é fundamental para evitar que agentes atravessem a barreira epitelial, evitando o início ou a perpetuação de processos inflamatórios mucosos. A diarreia poderá decorrer da alteração dessa estrutura por processos inflamatórios agudos ou crônicos. • Sistema nervoso entérico: esta quase autônoma porção do sistema nervoso é composta pelo plexo RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA mientérico e pelas camadas neuronais da mucosa e submucosa. Sua função é mediada por neuro transmissores, regulando a função do músculo liso, o transporte de íons através da mucosa e os processos absortivo e secretor, além de funções endócrinas, da modulação do sistema imune e do controle do fluxo sanguíneo local. Portanto, alterações na sua estrutura anatômica, assim como deficiência ou hipersecreção de substâncias exócrinas ou endócrinas, inibidoras ou estimuladoras de suas funções, poderão provocar sintomas diarreicos. • Microbiota intestinal: o intestino humano é o habitat de uma variada flora bacteriana. Habitualmente, há uma relação de simbiose, importante tanto para a saúde da mucosa como para a modulação do sistema imune. A troca de material genético entre microrganismos, assim como alterações na camada protetora de muco que reveste a mucosa intestinal, podem transformar bactérias comensais em patógenos, desencadeando quadros de enterites de intensidade variável. O uso de antibióticos pode afetar bactérias comensais e poupar possíveis bactérias patogênicas resistentes, também causando grandes transtornos. Essa modificação no microambiente gástrico favorecerá a colonização da cavidade gástrica e o supercrescimento bacteriano no intestino, desde o duodeno. • Motilidade intestinal: apesar da crença disseminada de que os episódios de diarreia são consequência da aceleração do trânsito intestinal, isso não é comprovado cientificamente na maioria dos quadros diarreicos. Apenas em algumas situações específicas, como na diarreia funcional, nas diarreias causadas por doenças endócrinas (hipertiroidismo, síndrome carcinoide, vipoma) e na síndrome do intestino irritável com diarreia, a aceleração do peristaltismo intestinal tem papel proeminente na fisiopatologia dos quadros diarreicos. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA Normalmente, a absorção e a secreção ocorrem simultaneamente, mas a absorção é quantitativamente maior. Uma diminuição na absorção ou o aumento na secreção leva a um fluido adicional dentro do lúmen e a diarreia. A interrupção do transporte de eletrólitos epitelial ou seu sistema de regulação por toxinas, fármacos, hormônios e citocinas é umadas principais causas de diarreia. A diarreia resultante do transporte de eletrólitos desordenado é conhecida como diarreia secretora, embora seja mais comumente causada por absorção reduzida do que por secreção liquida. Outra das principais causas é a ingestão de alguma substância mal absorvida, osmoticamente ativa (p. ex., íon magnésio, lactulose) que retém líquido dentro do lúmen para manter o equilíbrio osmótico com fluidos corporais, reduzindo assim a absorção de água. A diarreia resultante desse mecanismo é conhecida como diarreia osmótica. ------------------------------------------------------------------------ DIARREIA OSMÓTICA A maioria da diarreia osmótica é causada pela ingestão de cátions e ânions ou açúcares e álcoois de açúcar pouco absorvidos (p. ex., manitol, sorbitol). Ocorre quando certas substâncias que não podem ser absorvidas pela parede do cólon permanecem no intestino. Essas substâncias fazem com que uma quantidade excessiva de água permaneça nas fezes, causando diarreia. Os íons que são mal absorvidos incluem o sulfato de magnésio e o fosfato. Esses íons são transportados ativamente por mecanismos que estão saturados com baixas concentrações de íons intraluminal e passivamente por mecanismos que são lentos. Juntos, esses processos limitam a absorção total a uma fração do montante que pode ser ingerido. Como nem o intestino delgado nem o cólon mantêm um gradiente osmótico, os íons não absorvidos (e seus contraíons) que permanecem no lúmen intestinal obrigam a retenção de água para manter uma osmolaridade intraluminal igual à do fluidos corporais (cerca de 290 mOsm/kg). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Portanto, cerca de 3,5 mL de água (1.000 mL/kg divididos por 290 mOsm/kg) são retidos para cada 1 mOsm de íons ou moléculas retidos. Açúcares e álcoois de açúcar são outra categoria de substâncias que causam a diarreia osmótica. Os monossacarídeos, mas não dissacarídeos, podem ser absorvidos intactos através da membrana apical do intestino. Quando os dissacarídeos como a sacarose e a lactose são ingeridos, a ausência da dissacaridase apropriada impedirá a absorção do dissacarídeo ou de seus componentes monossacarídeos. ➢ A síndrome clínica mais comum da deficiência de dissacaridase é a deficiência de lactase adquirida, que é responsável pela intolerância à lactose em muitos adultos. A lactase está presente na borda em escova do intestino delgado da maioria dos mamíferos imaturos, mas desaparece em mamíferos adultos, incluindo 70% dos adultos humanos. A atividade da lactase muitas vezes diminui com a idade. Quando as pessoas com deficiência de lactase bebem leite ou consomem laticínios, a lactose não é digerida. À medida que a lactose se acumula no intestino, ela causa diarreia osmótica – um quadro clínico conhecido como intolerância à lactose. A gravidade da diarreia osmótica depende da quantidade de substância osmótica consumida. A diarreia cessa logo que se deixe de beber ou comer a substância. ➢ Outra causa de diarreia osmótica é um crescimento excessivo de bactérias intestinais ou de bactérias que normalmente não são encontradas no intestino. Os antibióticos podem causar diarreia osmótica ao destruírem as bactérias intestinais normais A característica essencial da diarreia osmótica é que ela desaparece com o jejum ou a cessação da ingestão da substância agressora. Essa característica tem sido usada clinicamente para diferenciar a diarreia osmótica da secretora, que normalmente continua com o jejum. ------------------------------------------------------------------------ DIARREIA SECRETORA A diarreia secretora tem muitas causas, e o mecanismo desse tipo de diarreia é sempre a secreção de ânions (cloreto ou bicarbonato) ou a inibição da absorção de sódio. ➢ A causa mais comum de diarreia secretora é a infecção. As enterotoxinas de uma série de agentes infecciosos (principalmente bactérias, mas também parasitas e vírus) interagem com os receptores que modulam o transporte intestinal e levam ao aumento da secreção de ânions. Certas toxinas, como a toxina produzida durante uma infecção de cólera ou durante algumas infecções virais, podem causar essas secreções. As infecções por certas bactérias (por exemplo, Campylobacter) e parasitas (como Cryptosporidium) podem estimular as secreções. A diarreia pode ser intensa, com evacuação de mais de um litro de fezes por hora em casos de cólera. Euterotoxinas também podem bloquear as vias de absorção específica, além da estimulação de secreção. Muitas enterotoxinas inibem a troca Na-H no intestino delgado e cólon, bloqueando uma das forças importantes para a condução de eletrólitos e a absorção de fluidos. ➢ Os agentes exógenos, como drogas e alguns venenos, levam à diarreia secretora, presumivelmente pela interação com os reguladores intracelulares ou mensageiros intracelulares dos enterócitos. ➢ A ausência ou a interrupção de uma via específica de absorção pode causar a diarreia. Por exemplo, síndromes congênitas raras, como a cloridorreia congênita e a diarreia congênita de sódio, são causadas pela ausência de uma molécula de transporte específico. ➢ Outras substâncias que causam a secreção de água e sais incluem determinados laxantes, como o óleo de rícino e os ácidos biliares (que podem se acumular no cólon após cirurgia de remoção de parte do intestino delgado). ➢ Certos tumores raros como, por exemplo, o carcinoide, o gastrinoma e o vipoma também podem causar diarreia secretora, assim como alguns pólipos. ----------------------------------------------------------------------- RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA DIARREIA EXSUDATIVA Ocorre quando o revestimento do intestino grosso se inflama, apresenta ulceração ou se congestiona e libera proteínas, sangue, muco e outros líquidos, aumentando o volume e o conteúdo líquido das fezes. Esse tipo de diarreia origina-se a partir de diversas doenças, como colite ulcerativa, doença de Crohn, tuberculose e câncer, como o linfoma e o adenocarcinoma. Quando o revestimento do reto é afetado, as pessoas tendem a sentir urgência em defecar e o fazem frequentemente, pois o reto inflamado é mais sensível à expansão (distensão) provocada pelas fezes. 3) Caracterizar as síndromes de má absorção intestinal; Basicamente, a digestão e a absorção dos nutrientes envolvem três fases: 1. Fase luminal: em que acontecem os processos de digestão intraluminal dos nutrientes. 2. Fase mucosa: em que são observadas, tanto digestão complementar (hidrólise executada pelas oligossacaridases e peptidases da borda em escova) quanto absorção pela mucosa. 3. Fase de transporte: relacionada à passagem dos nutrientes para a circulação sanguínea e linfática. A síndrome de má absorção intestinal é uma terminologia comumente empregada para descrever o resultado, tanto de hidrólise ineficiente de nutrientes (má digestão) quanto de defeitos na absorção intestinal pela mucosa (má absorção propriamente dita) e no transporte de nutrientes para a circulação sanguínea (no caso dos carboidratos e proteínas) e linfática (no caso das gorduras). Na síndrome de má absorção intestinal, o quadro clínico pode variar consideravelmente, desde manifestações clássicas, como diarreia, esteatorreia, emagrecimento e desnutrição, até apresentações mais discretas, como distensão abdominal e flatulência, ou mesmo manifestações extraintestinais, como anemia ferropriva, perda óssea, hipodesenvolvimento ponderoestatural e distúrbios da menstruação. Assim, didaticamente, a má absorção intestinal pode, do ponto de vista fisiopatológico, ser classificada em condições que afetam as fases luminal (ou pré- entérica), mucosa (entérica) e de transporte (pós-entérica). As causas de má absorção intestinal podem, ainda, ser divididas de acordo com as diversas fases dos processos de digestão e absorção normais: • distúrbios na mistura; • distúrbios na hidrólise luminal dos nutrientes, em especial a lipólise; • distúrbios na formação de micelas; • distúrbios na hidrólise da borda em escova; • distúrbios na absorção pela mucosa; • distúrbios no transporte de nutrientes; • mecanismos não totalmente esclarecidos. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA 4) CITAR OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DAS DIARREIAS AGUDAS E CRÔNICAS. DIARREIA AGUDA VS CRÔNICA A diarreia aguda geralmente é causada por uma infecção autolimitada ou facilmente tratada. As causas mais comuns da diarreia, bacterianas e virais, atingem o seu curso dentro de sete dias. A persistência de um episódio agudo de diarreia além de sete dias levanta a possibilidade de protozoário como causa, como a giardíase ou criptosporidiose. Embora alguns agentes infecciosos (p. ex., Aeromonos ou Yersin.ia spp.) causem a diarreia prolongada em uma pessoa imunocompetente, a diarreia crônica geralmente não é causada por um agente infeccioso. Portanto, quando diante de um paciente com diarreia crônica, o clínico deve considerar causas não infecciosas. ________________________________________ DIARREIAS AGUDAS INFECCIOSAS: A etiologia das diarreias infecciosas e não infecciosas é extremamente variável, tendo, cada uma, características fisiopatogênicas e clínicas específicas. De maneira geral... Diarreias infecciosas ocorrem 48 horas ou mais após a contaminação. São mais frequentemente secundárias a infecções virais, porém, podem ser causadas por bactérias ou protozoários. A duração das diarreias virais não costuma ser maior que 3 a 4 dias, ao passo que as bacterianas podem evoluir por até 7 dias. Quadros diarreicos que duram mais de 1 semana devem levantar a suspeita de infecção por protozoários. • VÍRUS: ETIOLOGIA: Há, no entanto, um grupo que tem predileção pelo tubo digestivo. Os mais prevalentes são o rotavírus e o norovírus. Outro agente viral, o citomegalovírus, consiste também em uma infecção prevalente em todo o mundo, a qual é usualmente sintomática apenas em indivíduos imunocomprometidos.* TRANSMISSÃO: São transmitidos por água contaminada ou de uma pessoa para outra, estando associados a surtos epidêmicos. FISIOPATOLOGIA: A fisiopatologia das alterações intestinais ainda é mal compreendida, porém, sugere-se um possível efeito de proteína viral como enterotoxina. QUADRO CLÍNICO: As diarreias virais manifestam-se em um contexto de gastroenterite aguda, com fezes aquosas, tendo como característica importante a presença de vômitos, com duração habitualmente curta (máximo de 72 horas). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA A infecção pelo citomegalovírus pode se apresentar, no entanto, como forma persistente (entre 15 e 30 dias) e disentérica.* ____________________________________________ • BACTÉRIAS: - Campylobacter: bactéria Gram-negativa, em espiral, que pode se apresentar sob a forma cocoide quando em ambiente hostil. ETIOLOGIA: A espécie mais frequentemente associada a gastroenterites é o Campylobacter jejuni, seguida pelo Campylobacter coli. TRANSMISSÃO: Os fatores de risco mais importantes são a ingestão de água e alimentos (aves domésticas) contaminados. Nos países em desenvolvimento, o contato com animais é outro fator de risco importante. FISIOPATOLOGIA: A enterite secundária à infecção pelo Campylobacter tem período de incubação de 2 a 5 dias e é, quase sempre, autolimitada, raramente exigindo abordagem terapêutica específica. QUADRO CLÍNICO: Manifesta-se por febre, dores abdominais em cólica e diarreia, com duração habitual do quadro diarreico de 2 a 3 dias. A dor abdominal pode se prolongar por mais alguns dias. O aspecto das fezes varia de aquoso a sanguinolento, dependendo da intensidade da infecção e do tempo de enfermidade. Uma característica importante é a possibilidade de desencadear a síndrome de Guillain-Barré, o que acontece em 1 de cada 1.000 indivíduos infectados. - Clostridium difficile: bactéria Gram-positiva, responsável por 15 a 20% dos casos de diarreia secundária ao uso de antibióticos e de praticamente todos os casos de colite pseudomembranosa. TRANSMISSÃO: É ingerida na forma de esporos e, se encontra microbiota alterada pelo uso de antibióticos ou outros fatores, converte-se na forma vegetativa. FISIOPATOLOGIA: Produz toxinas (A e B) que provocam aumento da permeabilidade intestinal e destruição das células epiteliais colônicas. QUADRO CLÍNICO: Manifesta-se sob a forma de diarreia aquosa em indivíduos com história de uso recente de antibióticos (3 ou mais dias). Pode ser grave o suficiente para por em risco a vida do paciente. - Clostridium perfringens: bactéria Gram-positiva, anaeróbica, geralmente em forma de esporos. É abundante no meio ambiente, ocorrendo com frequência no intestino humano. TRANSMISSÃO: Transmitida, geralmente, por alimentos contaminados, como carnes e maioneses. FISIOPATOLOGIA: Bloqueia a absorção de água através de enterotoxinas, provocando diarreia aquosa. - Escherichia coli: bastonete Gram-negativo, não formador de esporos, flagelado. TRANSMISSÃO: É transmitida por alimentos e água contaminados com fezes humanas ou de animais, raramente podendo ocorrer transmissão pessoa a pessoa. FISIOPATOLOGIA: Atuam por meio da produção de enterotoxinas, que estimulam a secreção de cloro e reduzem a absorção de sódio, e de citotoxinas, que agridem o epitélio intestinal, alterando sua estrutura. QUADRO CLÍNICO: As características da diarreia dependem do sorotipo. A diarreia aquosa está associada à infecção pelos sorotipos EPEC, ETEC e EAEC, ao passo que os sorotipos EIEC e EHEC causam disenteria. A EHEC produz a toxina Shiga, que pode causar complicações sistêmicas graves, incluindo síndrome hemolítico-urêmica. - Salmonella: bastonete Gram-negativo. TRANSMISSÃO: transmitido por ovos, aves domésticas, leite e outros alimentos contaminados. ETIOLOGIA: A S. typhimurium está intimamente relacionada com gastroenterites, enquanto a S. typhi está mais relacionada a efeitos sistêmicos tóxicos (febre tifoide). FISIOPATOLOGIA: Produz enterotoxinas que estimulam secreção de cloro, e invadem a mucosa, ativando eventos inflamatórios. QUADRO CLÍNICO: Manifesta-se inicialmente por diarreia aquosa, seguida de diarreia sanguinolenta. Na infecção pela S. typhi, a diarreia é o evento menos importante, uma vez que os eventos sistêmicos são proeminentes e podem ser graves. - Vibrio cholerae: bacilo Gram-negativo, com flagelo polar. TRANSMISSÃO: Transmitido principalmente por água contaminada. QUADRO CLÍNICO: Provoca diarreia por meio de uma potente toxina que estimula o AMP cíclico, ocasionando a redução da absorção de sódio e a secreção de cloreto. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA A diarreia secundária a essa infecção é aquosa, extremamente volumosa e coloca a vida do paciente em risco por desidratação. ____________________________________________ • FUNGOS: - Candida albicans: fungo comensal, presente habitualmente no trato gastrointestinal. Torna-se patogênico em situações específicas que envolvem imunodepressão, uso de corticosteroides e uso de antibióticos. QUADRO CLÍNICO: Possivelmente causa diarreia por inibição da lactase. Produz enzima proteolítica que degrada a mucina. A diarreia secundária a essa infecção é aquosa e, às vezes, explosiva. ____________________________________________ • PROTOZOÁRIOS: - Cryptosporidium: TRANSMISSÃO: Transmitido por meio da ingestão de oocistos presentes em água e alimentos contaminados, podendo ser transmitidotambém de uma pessoa para outra em de um animal para uma pessoa. FISIOPATOLOGIA: Tem ação predominantemente secretora, mas pode se associar a atrofia vilositária e infiltrado inflamatório da lâmina própria. QUADRO CLÍNICO: Desencadeia diarreia aquosa, que pode ser prolongada. - Giardia lamblia: protozoário flagelado, binucleado, é um dos parasitas intestinais mais comuns em todo o mundo. TRANSMISSÃO: Sua transmissão ocorre a partir da ingestão de cistos em água contaminada, podendo ser transmitido de uma pessoa para outra em lugares com más condições de higiene. FISIOPATOLOGIA: A patogênese ainda não é completamente entendida, mas sabe-se que pode provocar destruição da borda em escova das células epiteliais, assim como induzir resposta imune do hospedeiro. Infestações maciças podem resultar em má absorção, tanto pelas lesões da mucosa como, em algumas situações, pelo impedimento mecânico da absorção de nutrientes provocada pelo revestimento da mucosa em decorrência da enorme quantidade do protozoário. QUADRO CLÍNICO: A apresentação clínica varia de ausência de sintomas a diarreia aquosa. Pode se tornar crônica, causando má absorção e perda de peso. - Entamoeba histolytica: espécie patogênica do gênero Entamoeba. TRANSMISSÃO: Transmitida por meio da ingestão de cistos maduros a partir de água, alimentos ou mãos contaminadas. FISIOPATOLOGIA: Produz enzimas proteolíticas que provocam ulcerações, hemorragia e, até mesmo, perfuração. QUADRO CLÍNICO: A infestação por esse protozoário pode não ter qualquer manifestação clínica aparente, mas pode se manifestar como quadro de amebíase invasiva intestinal, com colite disentérica, apendicite, megacólon tóxico e ameboma, e extraintestinal (peritonite, abscesso hepático e outras). ____________________________________________ • NEMATOIDE: - Strongyloides stercoralis: a infestação por esse helminto acontece por meio da penetração de larvas filariformes através da pele. Em situações especiais, como constipação intestinal, alterações da motilidade intestinal e moléstia diverticular dos cólons, a permanência da larva rabditiforme por tempo prolongado no intestino pode favorecer sua evolução para larvas filariformes, iniciando um ciclo de infestação interna, a autoinfecção. Essa condição pode estar exacerbada em indivíduos imunocomprometidos, o que pode ocasionar hiperinfecção, quadro clínico grave, frequentemente fatal. 5) Contemplar a doença celíaca. O glúten advém de proteínas de cereais. O grupo de proteínas (gliadinas e gluteninas) que constituem o glúten do trigo, do centeio, da cevada e da aveia é conhecido como prolaminas. Essas prolaminas contêm aminoácidos (prolina e glutamina) que fazem o glúten ter digestão difícil, consequente à quantidade de oligopeptídeos que chega ao intestino delgado. Assim, a ingestão de alimentos contendo glúten faz que o corpo detecte a presença de elemento estranho e deflagre uma série de atividades, mais graves (doença RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA celíaca – DC) ou menos graves (sensibilidade ao glúten não celíaca – SGNC), ocasionando sintomas gastrointestinais (GI) ou sistêmicos. Tais sintomas usualmente desaparecem com a adoção de dieta isenta de glúten (DIG). ________________________________________ A doença celíaca (DC) é considerada uma afecção sistêmica imune mediada, desencadeada e mantida pelo glúten em indivíduos geneticamente suscetíveis. O denominador comum para os pacientes com DC é a combinação variável de: • manifestações clínicas glúten-dependentes; • autoanticorpos específicos anti-endomísio; • antitransglutaminase (EmA e anti-tTG) no soro; • presença de haplótipos HLA DQ2 e/ou DQ8; • diferentes graus de enteropatia, que variam desde infiltração linfocitária no epitélio até completa atrofia de vilosidades. ________________________________________ EPIDEMIOLOGIA A prevalência global da DC aumentou substancialmente nos últimos 50 anos e, atualmente, pode ser considerada um problema de saúde pública. É de distribuição mundial, afetando cerca de 1:100 ou 1:300 pessoas. A proporção entre o sexo feminino e o masculino é de 2:1 ou 3:1. O aumento da incidência da DC nos últimos anos pode ser explicado pela maior disponibilidade dos testes sorológicos (EmA-IgA e anti-tTG IgA) e pela facilidade de biópsias por meio de exames endoscópicos. No entanto, há dados que apontam aumento real em todas as faixas etárias causado por alterações ambientais. ________________________________________ GRUPOS DE RISCO: • Familiares de celíacos; • Anemia; • Osteoporose; • Doenças autoimunes (DAI); • Dermatite herpetiforme; • Diabete melito tipo 1; • Fadiga crônica; • Síndrome do intestino irritável • Hipertransaminasemia idiopática. ________________________________________ FISIOPATOLOGIA A DC compromete o intestino delgado proximal, afetando a absorção de vários nutrientes. O comprimento do intestino lesado varia de um paciente para outro. Quanto mais grave a lesão e maior o segmento atingido, mais intensa será a má absorção e mais lesado será o indivíduo. Por outro lado, há pacientes celíacos com alterações discretas. O epitélio intestinal com as junções firmes entre as células, constitui barreira que regula o tráfego de macromoléculas entre o meio ambiente e o hospedeiro. Portanto, controla o equilíbrio entre tolerância e imunidade para antígenos não próprios. Zonulina é o único modulador fisiológico. Quando fica desregulado em indivíduos geneticamente suscetíveis, pode facilitar doenças. Assim, alterações na função de barreira favorecem a penetração de peptídeos por falta de especificidade ou simplesmente por dano mucoso. Os efeitos decorrentes de tantas modificações resultam em má absorção, com predominância de um ou vários nutrientes, manifestando-se clinicamente por formas monossintomáticas ou até por síndrome carencial global. ________________________________________ QUADRO CLÍNICO O quadro clínico na DC varia muito, dependendo da gravidade e extensão das lesões e da idade do paciente. É possível encontrar desde sinais e sintomas de má absorção de apenas um nutriente (anemia, por exemplo) ou pandisabsorção, com repercussões graves à nutrição do indivíduo e ameaça à sua vida. A DC pode ser diagnosticada em qualquer época da vida. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Forma clássica ou típica Decorre da má absorção de nutrientes, encontrada tanto em crianças quanto em adultos, com quadro de diarreia crônica e desnutrição: A. Crianças menores que 2 anos de idade: • pouco apetite; • dor abdominal;* • vômitos; • diarreia/constipação; • irritabilidade; • distensão abdominal; • emagrecimento;* • hábito celíaco; • déficit de crescimento; • déficit de desenvolvimento; • desnutrição. B. Crianças maiores/adolescentes: • apetite pobre; • mal-estar digestivo; • cansaço; • mudanças de humor; • diarreia/constipação; • déficit de crescimento; • menarca atrasada; • anemia; • defeitos do esmalte dentário. C. Adultos/idosos: • sintomas gastrointestinais altos; • Emagrecimento; • Fadiga crônica; • Mudança de humor; • Depressão; • Diarreia ou constipação; • Distensão abdominal; • Problemas gineco-obstétrico. ________________________________________ Manifestações gerais da DC • Anorexia • cansaço, • emagrecimento • fraqueza • hiperfagia • mal-estar, • baixa estatura • construção delgada • desgaste físico • febrícula • hipotensão. *Não descartar DC se houver obesidade. ________________________________________ Manifestações digestivas • Dispepsia • Náuseas • Vômitos • distensão abdominal • flatulência • dor abdominal • diarreia, constipação • abdomeescavado ou globoso • aftas • alterações • da língua • aumento de ruídos hidroaéreos • peristalse visível • alças intestinais palpáveis • fezes gordurosas. ________________________________________ Manifestações extraintestinais • Musculoesqueléticas: artralgia, dor óssea, miopatia proximal, alterações da marcha, artrite, deformidades ósseas, osteomalacia, raquitismo, fraturas. • Gineco-obstétricas: atraso na menarca, amenorreia secundária, aumento no número de abortos, diminuição da fertilidade, menopausa precoce, oligospermia, diminuição dos caracteres sexuais secundários, diminuição do sêmen, hipogonadismo. • Endocrinológicas: baixa estatura, atraso de desenvolvimento sexual, deficiência de vitamina D. • Neuropsiquiátricas: irritabilidade, choro fácil, ansiedade, depressão, tentativa de suicídio, degeneração cérebro-espinhal, neuropatia periférica, ataxia, cefaleia, neuropatia. • Metabólicas: cãibras, diurese noturna, parestesias, tetania. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA • Hematológicas: anemia, hematomas, sangramento. • Tegumentares: alterações nos cabelos, edema, hematomas, lesões pruriginosas, lesões bolhosas, pigmentação de pele, paquioníquia, rashes. ________________________________________ Complicações da DC • Anemia: devido à deficiência de ferro e/ou ácido fólico. • Osteomalacia, osteoporose: por hipocalcemia. • Jejunite ulcerativa: rara, manifestação precoce de malignidade. • Linfoma do intestino delgado: de células T ou, mais raramente, de células B. • Carcinomas: mais do esôfago. ________________________________________ DIAGNÓSTICO Diagnóstico clínico com base nos sintomas e sinais. Devem ser feitos exames laboratoriais de rotina, de acordo com o que apresenta o doente. A determinação sorológica de anticorpos deve ser feita com o paciente ingerindo glúten e após determinação dos níveis séricos de imunoglobulinas, pois cerca de 12% dos celíacos apresentam deficiência de IgA e poderão apresentar resultados falso-negativos. Nesses casos, haverá necessidade de realizar testes com IgG. Em síntese, os testes sorológicos são úteis: • Para detecção • Na monitoração do tratamento, pois após três meses de dieta sem glúten os anticorpos devem diminuir, mas só vão negativar após 12 a 24 meses, variando de indivíduo a indivíduo. • Nos pacientes com dúvida diagnóstica • Para rastreamento na população geral • No rastreamento de DC em grupos de risco ------------------------------------------------------------------ ANTICORPOS ANTIGLIADINA (AGA) • Determinados por ensaio imunoenzimático (ELISA) • Moderadas sensibilidade e especificidade. • Não são mais rotineiramente recomendados por poderem ser identificados em indivíduos normais, em doenças autoimunes, alergia alimentar, infecções e parasitoses intestinais. • O consenso atual é de que anticorpos AGA são mais indicados apenas para crianças até 18 meses de idade. • Níveis normais não excluem DC. ------------------------------------------------------------------ ANTICORPOS ANTIENDOMÍSIO (EMA IGA) • Mais alta acurácia diagnóstica • Anticorpos antiendomísio são anticorpos da classe IgA (EmA IgA) dirigidos contra a camada linear da musculatura lisa dos primatas e correlacionam-se positivamente com a gravidade da lesão mucosa. • O resultado é fornecido como negativo ou positivo. • Útil não só na detecção de DC ativa como na sua forma silenciosa ou potencial. • 100% de sensibilidade e 99,3% de especificidade em celíacos brasileiros. • É excelente para diagnóstico, monitoração da dieta, rastreamento de familiares de celíacos e detecção de DC como comorbidade em outras doenças autoimunes. ----------------------------------------------------------------- RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA ANTICORPOS ANTITRANSGLUTAMINASE TECIDUAL (ANTI-TTG) • Detectados por ELISA. • A tTG interfere na matriz extracelular e nos mecanismos de reparação tecidual, atuando na gliadina do trigo na DC, como substrato para essas reações. A Ttg pode ser o principal, senão o único, autoantígeno endomisial-alvo, reconhecendo gliadinas ricas em glutamina como um de seus substratos. • Em tecidos lesados, não só na DC, os níveis de tTG aumentam (positivos em outras doenças). ________________________________________ TRATAMENTO O tratamento tem por objetivos: • Eliminar as alterações fisiopatológicas intestinais. • Facilitar e favorecer a absorção dos nutrientes. • Normalizar o trânsito intestinal. • Recuperar o estado nutricional do paciente. • Melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento único é a dieta isenta de glúten para toda a vida • Pacientes com DC devem aderir à DIG por toda a vida. Evitar todos os produtos que contenham trigo, centeio e cevada (aveia no Brasil). • Pacientes com DC devem ser encaminhados a nutricionista com conhecimento da enfermidade para receber orientação nutricional e educação à DIG. • Pacientes recém-diagnosticados devem ser submetidos a exames e tratamento para deficiências de micronutrientes (principalmente ferro, ácido fólico, vitamina D e vitamina B12). • Pacientes com DC devem ser monitorados regularmente para sintomas residuais ou novos sintomas, aderência à DIG e descarte de complicações. Em crianças, especial atenção ao crescimento e desenvolvimento. Medicamentos: Inicialmente, usam-se medicamentos para correção de carências, enfatizando ao paciente e à família que o verdadeiro tratamento da DC é dietético. • Ácido fólico, compostos polivitamínicos, vitamina K, vitamina B12 são utilizados quando necessário; ferro por via oral ou parenteral em casos mais graves. • Enzimas pancreáticas são utilizadas como coadjuvantes em consequência de insuficiência pancreática exócrina, que ocorre em muitos casos. • Antibióticos ou antimicrobianos são usados quando há supercrescimento bacteriano. • Corticosteroides são indicados apenas em insuficiência suprarrenal e necessitam de reposição concomitante de cloreto de sódio por via EV. Observação importante: na DC ativa ou parcialmente tratada, há absorção alterada da maioria dos medicamentos por via oral, o que exige ajustamento das doses de anticonvulsivantes, anticoncepcionais, antitireoidianos e antibióticos. 6) Discutir o manejo das diarreias agudas; O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tratamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B e C descritos abaixo. Para indicar o tratamento é imprescindível a avaliação clínica do paciente e do seu estado de hidratação. A abordagem clínica constitui a coleta de dados importantes na anamnese, como: início dos sinais e sintomas, número de evacuações, presença de muco ou sangue nas fezes, febre, náuseas e vômitos; presença de doenças crônicas; verificação se há parentes ou conhecidos que também adoeceram com os mesmos sinais/sintomas. O exame físico, com enfoque na avaliação do estado de hidratação, é importante para avaliar a presença de RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA desidratação e a instituição do tratamento adequado, além disso, o paciente deve ser pesado, sempre que possível. Se não houver dificuldade de deglutição e o paciente estiver consciente, a alimentação habitual deve ser mantida e deve-se aumentar a ingestão de líquidos, especialmente de água. Observação: O Tratamento com antibiótico deve ser reservado apenas para os casos de DDA com sangueou muco nas fezes (disenteria) e comprometimento do estado geral ou em caso de cólera com desidratação grave, sempre com acompanhamento médico. ________________________________________ PLANO A Consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente hidratado para realizar no domicílio: • Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo solução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois dessa forma evita- se a desidratação; • Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleitamento materno; • Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; • Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); • Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias. ________________________________________ PLANO B Consiste em três etapas direcionadas ao paciente com desidratação, porém sem gravidade, com capacidade de ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa: • Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volumes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser administrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidratação; • Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; • Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos). ________________________________________ PLANO C Consiste em duas fases de reidratação endovenosa destinada ao paciente com desidratação grave. Nessa situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já devem ser efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao serviço hospitalar de saúde: • Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida e de manutenção); • O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; • Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações; • Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos.
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