Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CURSO: PSICOLOGIA DISCIPLINA: CULTURA E SUBJETIVIDADE ALUNO: MARIO MIRANDA GUEDES DA COSTA O caso de Malala e a posição da mulher no mundo contemporâneo A paquistanesa Malala Yousafzai, de 17 anos de idade, ganhou o prêmio Nobel da Paz de 2014 pela defesa de todas as meninas e mulheres poderem estudar. “Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas. A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar”, afirmou a jovem em seu primeiro pronunciamento público na Assembleia de Jovens, na Organização das Nações Unidas — ONU, após o atentado em que foi atingida por um tiro ao sair da escola, em 2012. Recuperada, Malala mudou- se para o Reino Unido, onde estuda e mantém o ativismo em favor da paz e da igualdade de gêneros. Questão discursiva 1 do Enade 2015 (adaptada). A partir dessas informações, redija um texto dissertativo sobre o significado da premiação de Malala Yousafzai na luta pela igualdade de gêneros de acordo com o conteúdo estudado ao longo de toda a disciplina Cultura e Subjetividade. Em seu texto, aborde os seguintes aspectos: a) direito das jovens à educação formal; b) relações de poder entre homens e mulheres no mundo; c) a posição da psicanálise sobre o entendimento da mulher na cultura. Obs.: é importante que os três aspectos a serem explorados contenham relação direta com os textos lidos e as indicações dos trechos de onde foram retiradas as informações.Após ser baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola em 2012, Malala tornou-se conhecida mundialmente, quando tinha apenas 15 anos. A jovem nasceu e cresceu na cidade de Mingora no Vale Swat, região bastante conservadora do Paquistão onde, em 2008, o líder talibã1, que dominava o local, exigiu que as escolas interrompessem as aulas dadas para as meninas por um mês. Foi, a partir dessa situação que Malala cria um blog chamado “Diário de uma Estudante Paquistanesa” para escrever e expor seu amor pelos estudos e as dificuldades vividas no Paquistão. Após ser baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola em 2012, Malala torna-se conhecida mundialmente, tendo apenas 15 anos. A jovem nasceu e cresceu na cidade de Mingora no Vale Swat, região bastante conservadora do Paquistão onde, em 2008, a liderança talibã que dominava o local, impôs que as escolas que eram frequentadas por meninas interrompessem as aulas por um mês. A partir desta proibição Malala decide criar uma página (um blog) que chamou de “Diário de uma Estudante Paquistanesa”, e seu principal objetivo era relatar sua vontade de estudar em contra partida com a situação imposta no país em que morava. Inicialmente procurou ocultar sua identidade, pelo motivo óbvio de segurança, no entanto, aos poucos, com seus relatos, sua identidade foi sendo descoberta e com isso ela passou a ser convidada para dar entrevistas em diversos meios de comunicação. O tiro supracitado? De acordo com as leis impostas pelo Talibã, Malala estava cometendo um “crime” pelo simples fato de querer estudar, já que era mulher. Direito feminino era restrito não apenas ao estudo, mas também havia limitações impostas no que tange a escolhas de forma geral. Malala só pode estudar, visto que seu pai era dono de uma escola. Malala passou a defender firmemente o direito ao estudo como algo fundamental para as mulheres garantirem sua cidadania. Porém com o tempo, isso se tornou uma questão, um problema. Fazendo uma analogia com o conteúdo da disciplina, podemos citar Freud (2010a) quando ele fala sobre o trabalho mais relevante da psicanálise ser a aplicação desta à pedagogia, à educação da geração próxima. Freud atesta a árdua missão dos educadores de reconhecer e perceber o que se passa em suas mentes ainda em construção, e a dificuldade em ser amoroso para com elas sem perder a autoridade. Ainda de acordo com Freud (2010b) há uma relação entre o processo de desenvolvimento do indivíduo e o processo cultural da humanidade. Ambos tem natureza similar, porém são realizados com objetivos distintos. Conforme visto ao longo da disciplina, Freud menciona em o Mal-Estar da civilização (1930), que sem a cultura nos restaria apenas barbárie que seria destruidora, como foi possível ‘observar’ através a análise do filme O senhor das Moscas (1990). Para termos civilidade a educação torna-se essencial. Algumas questões podem ser levantadas através do encontro da educação e da psicanálise como, por exemplo, a relação entre professor e aluno, que passa por algumas questões inconscientes e à posição de cada um na sua relação com o Outro. A psicanálise na educação permite produzir uma ressignificação no encontro com o Outro. Outro este que no caso de Malala repreende a transgressão da imposição exigida com a vida, mais especificamente com um tiro na cabeça. Um tiro que ‘saiu pela culatra’ se levarmos em consideração que toda a atenção voltou-se para a questão da educação feminina no Talibã. Segundo Araújo (2014) em muitas culturas do oriente a mulher é tida como inferior e, assim sendo, torna-se natural impedir sua plena autonomia e liberdade. Em muitos casos a “desobediência” leva à morte, consumada por entes próximos como pai e irmão que, garantidos pela lei e pelos costumes, não hesitam na execução do ato. Situações como a citada acima, para a nossa cultura (ocidental) são no mínimo absurdas, para não falar em inimagináveis. No entanto, se considerarmos os casos de violência doméstica – mais comuns que gostaríamos que fossem – estupro de esposas, filhas e demais parentes do sexo feminino e outros absurdos que são noticiados, o relato acima deixa de ser surreal. O que também é uma incongruência. Para Cerruti e Rosa (2008), mulheres que são agredidas (física e/ou moralmente), se veem privadas de seus direitos e garantias. Há muita injustiça, humilhação e principalmente discriminação para com essas mulheres inclusive no momento que decidem denunciar o agressor. Ainda de acordo Cerruti e Rosa (2008) que entendem que não existe um único feminismo e sim correntes do movimento feminista que têm como elemento comum a ideia de que a relação entre os sexos é assimétrica por meio da subjugação da mulher e da violência como resultado de uma relação hierárquica determinada pela cultura no seio familiar. Culturalmente a mulher possui características de passividade, emocional, de dependência e de fragilidade por outro lado o estereótipo masculino seria naturalmente agressivo, independente, egoísta e dominante. Para Freud (2010a) a psicologia não soluciona questões acerca da feminilidade. Para ele, este é um conhecimento que não será viável até que saibamos como aconteceu a diferenciação dos seres humanos em dois sexos. Assim sendo, a psicanálise não almeja descrever a mulher propriamente dita, mas sim investigar sobre ela. Conforme Fucks (2011) a inquietação causada pelo sexo da mulher é provocada pelo horror à castração, à angústia causada pela diferença. Mesmo com várias direitos conquistados (mas nem sempre garantidos), em nossa cultura, as mulheres ainda tem salários menores que o dos homens, fazem dupla (às vezes, tripla) jornada, sofrem com abusos e violências seja em casa e/ou no ambiente de trabalho, são cobradas por sua aparência física, ficam angustiadas com questões como ser ou não ser mãe dada a cobrança da sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, Déborah Abreu de. Gênero educação e direitos humanos: Malala Yousafzai e a defesa do direito das meninas ao ensino escolar. 2014. 77 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação - Habilitação em Jornalismo) - Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. CERRUTI, Marta Quaglia; ROSA, Miriam Debieux. Em busca de novas abordagens para a violência de gênero: a desconstrução da vítima. Rev. Mal- Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 8,n. 4, p. 1047-1076, dez. 2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518- 61482008000400009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 17 maio 2020. FREUD, Sigmund (1930-1936) Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise. In: Sigmund Freud, obras completas, v. 18. São Paulo: Cia das Letras, 2010a. FREUD, Sigmund (1930-1936) O Mal-Estar na Civilização. In: Sigmund Freud, obras completas, v. 18. São Paulo: Cia das Letras, 2010b. FUCKS, Betty B. Freud & A Cultura. 3.ed. Coleção Passo a Passo, v.19. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2011. YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala: A história de uma garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Compartilhar