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Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 1 ���������� �� ��� ��� � CARAMELIZAÇÃO Quando o açúcar é aquecido, na ausência de água, ou em alta concentração em solução ácida diluída, dá-se início ao processo de caramelização, com formação de anidro-açúcares. A glucose forma glucosana (1,2-anidro-α-D-glucose) e levoglucosana (1,6-anidro-β-D-glucose). Ambos os compostos são facilmente distinguíveis por polarimetria. O primeiro composto tem rotação de +69o enquanto o segundo, −67o. As leveduras podem fermentar o primeiro composto, mas não o segundo. Sob as mesmas condições, a frutose dá origem à levulosana (2,3-anidro-β-D-frutofuranose). Hidrólise e desidratação simultânea ocorrem quando a sacarose é aquecida a cerca de 200oC, seguidas de uma rápida dimerização dos produtos. Esses compostos são caracterizados como isossacrosanas, onde uma molécula de sacarose perde uma molécula de água: O OH OH OH O O O HO 1,3’;2,2’-dianidro-α-D-glucopiranosil-frutofuranose. A isossacrosana não é doce, porém ligeiramente amargo. Em soluções diluídas de açúcares redutores, os estágios iniciais da caramelização envolvem enolização, isomerização, desidratação e fragmentação. Após estas modificações, ocorre polimerização dando origem a pigmentos similares àqueles formados com concentrações altas ou sob alta temperatura. Caramelos para uso comercial são, em geral, feitos a partir de xaropes de glicose, mas originalmente caramelização é o resultado das reações que ocorrem quando a sacarose é aquecida. Três estágios são observados durante este processo (a 200oC), durante o qual há perda de água e as primeiras isossacrosanas e outros anidridos são formados. No primeiro estágio, a sacarose se funde, formando espuma por 35 min. Durante este período, uma molécula de água é liberada de uma molécula de glucose. A produção de espuma pára, recomeçando logo em seguida, para dar início ao segundo estágio que dura até os 55 min restantes. Durante este estágio, a perda de água atinge 9% da massa original, e o composto então formado é a caramelana, um pigmento com a fórmula média C24H36O18 e que obedece à equação 2 C12H22O11 − 4 H2O = C24H36O18. A caramelana funde a 138oC, é solúvel em água e etanol e tem sabor amargo. O pigmento carameleno é formado durante o terceiro estágio de produção de espuma e inicia após cerca de 55 min. A equação para a formação deste pigmento é: 3 C12H22O11 − 8 H2O = C36H50O25. O carameleno funde a 154oC e é insolúvel em água. Quando o aquecimento continua, resulta na formação de humina, que é uma massa infusível e negra, com alto peso molecular, também conhecida como caramelina. A fórmula para esse composto tem sido estimada como C125H188O80. Esses pigmentos são de natureza coloidal e seus Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 2 pontos isoelétricos diferem de acordo com o método pelos quais são obtidos, e os colóides variam em tamanho de partícula. REAÇÃO DE MAILLARD A reação de Maillard resulta da combinação de aminoácidos e proteínas com açúcares. Amônia, tanto quanto os aminoácidos, também é capaz de efetuar essa transformação. Esta descoberta foi publicada primeiro por Maillard, em 1912. O carboidrato deve ser um açúcar redutor porque um grupo carbonil livre é necessário para tal combinação. Esta reação está envolvida em um grande número de situações nas quais ocorre o pardeamento dos alimentos. O produto final desta reação são as melanoidinas, as quais formam os pigmentos marrons, que resultam dos três estágios descritos a seguir. I. Estágio inicial (incolor e sem absorvância próxima ao UV) A. Condensação açúcar-amina B. Rearranjo de Amadori II. Estágio intermediário (incolor ou amarelado, com forte absorvância próxima ao UV) C. Desidratação do açúcar D. Fragmentação do açúcar E. Degradação do aminoácido III. Estágio final (altamente colorida) F. Condensação alcoólica. G. Polimerização aldeído-amina; formação de compostos heterocíclicos nitrogenados. Hodge (1953) chamou a reação de Maillard de reação carbonil-amina, porque os compostos que reagem com aminas, em geral, apresentam a função (ou potencial função) carbonila. Entre os compostos mais reativos estão os aldeídos α,β-aldeídos insaturados, tais como o furaldeído, e os compostos α-dicarbonílicos, tais como o diacetal e piruvaldeído. HC C CH R HC C R O O O OH α,β-Aldeído insaturado α−Composto dicarbonílico De acordo com Reynolds (1970), a reação começa entre um açúcar (aldose ou cetose) e uma amina (primária ou secundária), resultando numa glicosilamina, que é Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 3 reversível. O produto inicial da reação entre glicose e amônia é glicosilamina, que se rearranja na presença de ácido para formar 1-amino-1-desoxi-D-frutose. O OH O NR2 NHR2 + H2O C H2 O NR2 α-D-glucose α-D-glicosilamina 1-desoxi-1-amino-D-fructose A produção de glicosilamina é afetada pela quantidade de água presente. Uma quantidade substancial de composto é formada quando a água presente é mínima. Por essa razão, a via da carbonilamina é muito importante no pardeamento de alimentos concentrados ou secos. REARRANJO DE AMADORI E REARRANJO DE HEYNS ESQUEMA DE HODGE: A – Reação de Maillard. B – Rearranjo de Amadori. C – Deidratação do açúcar: Esta reação, no processo de formação do amino-açúcar, pode ocorrer de duas maneiras. Em soluções neutras ou ácidas, por meio da formação de furfurais. Em estado seco ou solventes não aquosos, através da formação de redutonas. D –Produtos da clivagem do açúcar. E – Degradação de Strecker (a aldeídos contendo um ou menos carbonos que o aminoácido, com a liberação de dióxido de carbono). F – Condensação aldólica: a reação mais provável na formação das melanoidinas. Aldóis não nitrogenados em geral são propensos a reagir com aminocompostos, aldiminas e cetiminas para formar melanoidinas. G – Polimerização de aldeído-amina e formação de melanoidinas Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 4 O rearranjo de Amadori é o termo para designar as transformações que produzem 1-amino-1-desoxi-2-cetona. Quando a glicose a glicina reagem, se produz frutoseglicina. O NH CH2 HO O OH HO OH CH2HO 1-Desoxi-1-glicino-β-D-frutose No rearranjo de Heyns, observa-se a reação a partir da futose, ao invés da glucose. Ambos os rearranjos se referem ao mesmo tipo de transformação. A via principal de formação do escurecimento nos alimentos parece ser a da degradação e condensação por via das formas 1,2-enol das aminas da aldose e cetose. O mecanismo de condensação do aldólica parece estar envolvido na formação dos compostos α,β-dicarbonilas. Os precursores dos pigmentos escuros são fluorescentes. Segundo Adhikari & Tappel (1973), uma estrutura provável para um sistema de pardeamento envolvendo glucose e glicina e que pode emitir fluorescência é: Mecanismos catalisado por meio ácido para os rearranjos de Amadori e de Heyns Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 5 HO C H2 C N C H O C H C OH A formação desses pigmentos escuros via a reação carbonil-amina tem semelhança àquela da formação dos caramelos. DEGRADAÇÃO DE STRECKER Outra etapa na formação de pigmentos no pardeamento é a degradação da estrutura de um aminoácido. Esta degradação dos α-aminoácidos resulta em aldeídos contendo um átomo de carbono a menos que a cadeia do aminoácido precursor. A perda do átomo de carbono é ocasionada pela liberação de dióxido de carbono. Além de dióxido de carbono, são produzidos compostos carbonila e aminas. Os compostos carbonilas, encontrados por Schönberg et al. (1948), apresentam a seguinte estrutura C C C C OO n onde n é 0 ou um número inteiro, e são capazes de iniciar a degradação de Strecker. A equação geral para a degradação de Strecker, tomando-se em consideração o achado de Schönberg et al. (1948),é a seguinte: R C C R O O R' H C C O OH NH2 + R' CH O + CO2 + R H C NH2 C R O Os compostos dicarbonil, que participam desta reação, são osonas e são agentes ativos na degradação de Strecker. Compostos pirazínicos, com diferentes níveis de substituição, são formados nas reações de carbonil-amina, e isto pode causar a degradação dos aminoácidos. Um tipos desse composto foi isolado de uma reação de uma mistura de gucose e glicina por Dawes & Edwards (1966). N N CH3 H3C 2,5-Dimetilpirazine As reações que precedem às equações das reações de pardeamento podem ser inibidas se o grupo carbonil do açúcar da primeira equação se combina primeiro com outro composto. Essa é uma das rações que os sulfitos são extremamente efetivos na prevenção da formação dos compostos de pardeamento. Em resumo, a reação de Maillard, que resulta na formação de polímeros e copolímeros nitrogenados, envolve três estágios, com duas ou mais etapas cada. Algumas partes desta cadeia de eventos estão compreendidas, mas seu “todo” não foi ainda completamente elucidado. Do ponto de vista químico, as seguintes reações estão esclarecidas: (1) a reação que envolve a condensação açúcar-amina, (2) o rearranjo de Amadori resultando na forma ceto e (3) a degradação de Strecker que resulta na ação sobre um alfa-aminoácido com perda de uma molécula de CO2 e a formação de um aldeído. Os produtos das duas primeiras reações são incolores, enquanto que o da terceira (no segundo estágio) pode ser incolor ou um pouco amarelo. É no terceiro estágio que os pigmentos intensamente pardos são formados. Pesquisadores relataram anteriormente que a frutose na presença de aminoácidos formava escurecimento mais que glucose. No entanto, trabalhos mais recentes mostraram que tamponando as misturas o resultado era o oposto. Do mesmo modo que, Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 6 em misturas não tamponadas, o escurecimento se desenvolveu mais rápido com a frutose. No entanto, quando misturas não tamponadas, submetidas a 50oC por longos períodos de tempo, observou-se um escurecimento mais intenso na mistura com glucose que com frutose. Os produtos de pigmentos formados por reação entre aldoses e aminoácidos se mostraram insolúveis em solventes orgânicos, porém solubilidade variável em água, indo de insolúveis a facilmente solúveis. PARDEAMENTO E SABOR Compostos formados como resultado das reações de pardeamento podem afetar o sabor dos produtos. Algumas notas de sabor podem ser o resultado da degradação de Strecker. ���������� ��������� �� ��� ����� ���� � �������������� ���� ����� ����� ���� ���� ��� ��� ������������� ��� ������� !��" "�� #���$������� ���%���&��� �� ���" � #������� ����'���(����� � �))��� � �*)��� ���+ �� ,� � ��� ��#��� ��� ��#� ��� $� ��� � -�� ��� � .� � ��� � /���� � ��� � ��� ��� 0���� ��� 1 � �� ��� ��� ��� � ��� ��� ����� ��� � 0 ��� ��� � (��� ��� � � � � � � ���2 '��� ��� � � � � � � � � ��� � � #�� � ��� . � ��� 3� �����'�� ��� 3� ����� 4� ��� ,� �� ��� � � �$������� � � � ��� � ��� ��5�� ��5��� � � ���5! ��� � ���5! ����� � � ��5��� ������5!� � �" ��� �� ��5����"�!�� ��5����� ��� �� �6�7�� �6�7�� �� �" ���6�8��� � � � N H � � N H OH � � N NH � � ���9������������ ! � � ����� !8�� �" " ���� �� �" " ���� ��� � � ���" ���� ��� � ����� � � ��� ������� � � ���+ �� ��������$��� #�� ����$��� #���$���'��' :� ��� � #���$��� ��� $� ��� � #���$��� ��&��;� ��� � �1 � ��� ����� � #���$����� ��� ��� #���$���.�� ��� 1 � ����� <��=����$��� #���$����� �� ��� � � � � ���+ �� ��������� �������������� ����!� ��������� >���'����������� (?�������� � �� #�����@� ���� �+����� ������� ����!� (?�� �� ���� ������ �������@���!� #�����@� ���� >���'����������� �+����� �� <� � �� #�A������������ - ��� ��� (��@ ������������ ��������� � (�� �$���� � ����� � � � � � <� � �� � � � � � ���+ �� � � �� ������ � ����� ���+ ��� �� � ��� � ��������� �+����� �B�������&��� � �@� �� ������ � �@� �� (�������'�� �� � ����� ��������� #CD����� � ����� #CD����� � ����� #CD����� � ����� � �+����� ��@�� �� � E � F��� � ����� � E � F��� � ����� � � E � ����� <� � �� � - ��� ��B�� �����@���!� � � � #�����������&������'?�� �������� � � � � � � � � � � (?������ �+�� �� ������ � ����� � #CD����� � ����� (?���������� ��������� #CD����� � ����� ������� �� �� Glossário: Maple = árvore da família Sapidaceae, gênero Acer; Rock candy = doce feito através da cristalização do açúcar na superfície de um fio ou arame a partir de um mel artificial de sacarose; Butterscotch = molho ou cobertura feita a partir de açúcar derretido, manteiga e outros ingredientes flavorizantes. A FORMAÇÃO DE PIGMENTOS DE PARDEAMENTO Um número de fatores podem afetar a formação desses pigmentos. Entre tais se encontra pH, temperatura, teor de água, tempo, concentração e natureza dos reactantes. Qualquer um desses fatores pode afetar o outro. Sabe-se que a taxa de escurecimento aumenta com a temperatura. Em modelos experimentais, o desenvolvimento da cor aumenta 2 a 3 vezes para cada 10oC de aumento de temperatura. Em condições naturais, particularmente aqueles com alta concentrações de açúcar, o escurecimento pode ser mais rápido. Dois métodos têm sido Química Culinária Prof. Marcos J. Correia 7 usados para medir essas mudanças: (1) medir o desenvolvimento da cor e (2) medir a evolução de CO2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HODGE, J.E. 1953. Dehydrated foods. Chemistry of browning reactions in model systems. J. Agr. Food Chem., 1:928-43. MAILLARD, L.C. 1912. Action of amino acids on sugars. Formation of melanoidins in a methodical way. Compt. Rend. 154:66-8. REYNOLDS, T.M. 1970. Flavors from noenzymic browning reactions. Food Technol., 610-19. SCHÖENBERG, A., MOUBACHER, R., MOSTAFA, A. 1948. Degradation of α- amino acids to aldehydes and ketones by interaction with carbonil compounds. J. Food Sci., 32:479-83. STRECKER, A. 1862. Note. On a specific oxidation by means of alloxan. Ann. Chem. Liebigs, 123: 363-5.
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