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Caso 1 À luz das informações fornecidas pela paciente Bárbara, pode-se estabelecer com relativa segurança o diagnóstico de bulimia nervosa, numa apresentação ainda branda e, portanto, passível de ser tratada na Atenção Primária por médico não especialista. A princípio, o ideal é oferecer orientações gerais voltadas para uma psicoeducação que aborde apropriada reeducação alimentar, estimulando o consumo de refeições em horários regulares e sem distratores. Outros aspectos interessantes são o incentivo à escrita de um diário alimentar e a manutenção de um IMC acima de 19 como meta. Além disso, cabe ao médico ressaltar o enorme papel da terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma abordagem interdisciplinar crucial no seu tratamento. Na psicofarmacoterapia, cabe a prescrição de fluoxetina (mais preconizada) em altas doses (60-80mg/dia) pela manhã, com os avisos à Bárbara de que é normal haver redução de apetite, pode ocorrer perda da libido e o fármaco pode começar a fazer em efeito entre uma e três semanas. A paciente também cumpre critérios para o diagnóstico de insônia, mas a própria TCC pode ser suficiente para a sua resolução, apesar da necessidade de lhe fornecer informações sobre higiene do sono e constante reavaliação do quadro. A paciente deve fazer acompanhamento mensal na UAPS. Caso 2 Com a análise da gama de sintomas trazidos pelo paciente José Eduardo, pode-se estabelecer o diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior, sendo um episódio depressivo moderado, já que o paciente apresenta quatro ou mais sintomas diagnósticos, mas sem aparente quadro psicótico e ideação suicida (apesar de considerar autoinjúria física). Cabe então iniciar o tratamento baseado no trinômio da “escuta”, “orientação” e “medicação”: no que tange a escuta, o médico deve se disponibilizar de maneira empática a acolher o paciente, mostrando-se sempre atencioso; as orientações passam pela reafirmação de que o episódio depressivo tem caráter transitório e pela informação do início da melhora, de modo a elevar sua esperança no tratamento e evitar abandono. Quanto à mãe, é primordial incentivá-la a apoiar o filho e obter mobilização familiar, além de instruí-la a procurar atendimento caso haja ideação ou propósito suicida; finalmente, como não há informação sobre o conforto financeiro dessa família, a medicação de escolha é a fluoxetina, primeiramente na dose de 20mg/dia, pela manhã. Após três semanas, cabe verificar a resposta ao tratamento e, em caso de maus resultados, pode-se aumentar para a dose de 40mg/dia. Caso 3 Diante do abandono da UPA pela paciente Vera, cabe orientar o marido a procurar ajuda especializada de psiquiatra, uma vez que o transtorno de personalidade emocionalmente instável do tipo impulsivo não é um quadro ansioso típico e já houve ideação suicida. Sendo um médico a par da situação, é interessante sugerir ao marido que o procure junto à esposa num momento intercrise, de modo que ele possa conversar com a paciente e estimular a procura do outro profissional, haja vista que uma abordagem inapropriada pode levá-la a pensar que a sua queixa está sendo inferiorizada (“emocional”), o que gera recusa da proposta terapêutica. Enquanto isso, pode-se já preparar o marido para a aceitação da psicoterapia que está por vir, uma vez que a dinâmica familiar é essencial no seu tratamento. Quanto à equipe da UPA, cabem orientações de como lidar com o paciente “difícil”, alertando que as suas queixas são reais, não havendo controle ou intencionalidade de Vera em senti-las. Portanto, a equipe deve respeitar o que a paciente traz e responder de maneira empática, priorizando conforto. Não foi uma conduta apropriada permitir que uma paciente supostamente suicida fosse embora sem aviso ao médico de plantão.
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