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DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) Conceitos chaves ● Diagnosticar corretamente DPOC. ● Classificação adequada. ● Conhecer a base do tratamento para cada classe. ● Tratamento não farmacológico. DEFINIÇÃO Obstrução do fluxo respiratório que não é totalmente reversível. A obstrução é progressiva e associada a uma resposta inflamatória do pulmão desencadeada por exposição a partículas ou gases tóxicos, como a do cigarro. A definição atual de DPOC não faz referência aos fenótipos clínicos de bronquite ou enfisema, mas sim à presença de obstrução fixa ao fluxo aéreo após o uso de broncodilatador, ou seja, é uma definição espirométrica. VEF1/CVF < 0,70. Assim, apenas é necessário ter um pcte com exposição a partículas nocivas, que tenha sintomas e que na espirometria essa relação seja < 0,70 pós broncodilatador. O que diferencia a DPOC da ASMA, é a persistência da obstrução mesmo após prova broncodilatadora. Ponto de vista histológico: ruptura das fibras do interstício e a via aérea fica flácida, não conseguindo esvaziar, o que causa a obstrução fixa da DPOC. ↳ Essa classificação não tem nenhuma importância clínica e não é mais utilizada, pois já se sabe que os 2 casos, em diferentes graus, ambos apresentam os processos patológicos da bronquite crônica e o enfisema pulmonar. FISIOPATOLOGIA Exposição inalatória (ex: fumaça de cigarro) → resposta inflamatória nas vias respiratórias e nos alvéolos. Esse processo é mediado pelo aumento da atividade das proteases, liberadas pelos neutrófilos e outras céls inflamatórias, e pela diminuição da antiprotease. As proteases pulmonares provocam a lise da elastina e do tecido conjuntivo no processo normal de reparação tecidual. A atividade dessas proteases costuma ser balanceada por antiproteases, como alfa-1-antitripsina. A inflamação causa estreitamento e obstrução das vias respiratórias, além de hipersecreção de muco, espasmo brônquico, fibrose peribrônquica e destruição das pequenas vias respiratórias. A maior resistência das vias respiratórias aumenta o trabalho de respiração. Hiperinsuflação pulmonar → maior esforço respiratório - dispneia. Como a elasticidade pulmonar está diminuída na DPOC, ocorre o fenômeno de aprisionamento de ar, que promove aumento do volume residual. Os espaços alveolares dilatados às vezes se fundem em bolhas, definidas como espaços aéreos ≥ 1cm de diâmetro. A troca gasosa está comprometida tanto pela lesão enfisematosa quanto pela lesão bronquítica. Assim, os alvéolos ficam mal ventilados, porém bem perfundidos (aumento do espaço morto pulmonar). Nesses alvéolos, o sangue venoso passa recebendo pouco O2 = shunt parcial. Com o tempo, o centro respiratório desses pacientes está hipossensível ao CO2 e hipersensível à hipoxemia. Começam a reter CO2 de forma lenta e progressiva (acidose respiratória), sendo que o rim compensa retendo HCO3 (alcalose metabólica compensatória). A DPOC tbm é uma das principais causas de cor pulmonale, que é a disfunção do ventrículo direito consequente a um distúrbio pulmonar. Isso ocorre pela hipóxia crônica, pois as arteríolas pulmonares sofrem vasoconstrição, levando a Hipertensão Arterial Pulmonar. Alterações histopatológicas: - Bronquite crônica: hipertrofia e hiperplasia das glândulas submucosas secretoras de muco associadas a um aumento de células caliciformes da mucosa, principalmente nas vias aéreas proximais; redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema e fibrose. - Enfisema pulmonar: alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos secundário à destruição progressiva dos septos alveolares. FATORES DE RISCO - Tabagismo!!!! - Fumaça de cigarro; - Químicos e poeira ocupacional; - Poluição aérea interna e externa; - Genética - deficiência de alfa-1-antitripsina; - Infecções (infecção pulmonar destrói parênquima pulmonar); - Condição socioeconômica; - Envelhecimento; SUSPEITA CLÍNICA 1. DISPNEIA → principal queixa. Progressiva, persistente, piora c/ exercício; 2. TOSSE CRÔNICA → sintoma mais comum, juntamente com a dispneia. Processo irritativo da mucosa brônquica. Intermitente ou diária, seca ou produtiva; 3. Expectoração crônica → mucoide ou de qualquer tipo; 4. Hx familiar de DPOC. 5. Outros sinais: fase expiratória prolongada; hiperinsuflação pulmonar que se manifesta pela redução dos sons cardíacos e pulmonares; aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em barril); roncos e sibilos; uso de musculatura acessória na respiração; cianose; sinais de cor pulmonale (distensão das veias jugulares, desdobramento de B2 e edema periférico). Obs: o baqueteamento digital não é comum na DPOC. Esse sinal sugere outra doença de base, como CA de pulmão e fibrose. DIAGNÓSTICO História clínica + exposição compatível + espirometria após broncodilatador VEF1/CVF < 0,70 VEF1 → Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo (tanto de ar que você consegue expirar em 1 segundo). CVF → Capacidade Vital Forçada. Relação VEF1/CFV normal: 80% Apoio de exame de imagem: raio-x e TC de tórax (importante a tomografia, pois o risco de CA de pulmão é alto e pode ser identificado um nódulo pela tomo). Mas o dx não é radiológico, é espirométrico! Radiografia típica de um paciente com DPOC: pulmão comprido, sinais de hiperinsuflação, retificação dos arcos costais, aumento do diâmetro retroesternal e redução da vasculatura pulmonar, por conta do enfisema. Retificação do diafragma e “coração em gota”, pois o pulmão ocupa tanto espaço que retifica o mediastino. Espessamento de parede brônquica e destruição de espaços alveolares. Outros exames que podem ser úteis: hemograma, gasometria arterial, alfa-1-antitripsina, ecocardiograma, exame de escarro. Avaliação do paciente ● Espirometria: classificação da obstrução do fluxo aéreo (GOLD) VEF1: volume expiratório forçado no primeiro segundo. Quanto maior a escala, mais grave e sintomático o paciente (geralmente). GOLD 1 = leve; 2 = moderado; 3 = grave; 4 = muito grave. ● Escala de dispneia (mMRC) Grau 0 → falta de ar quando realiza exercício físico (normal); Grau 1 → falta de ar quando sobe escadas ou se apressa (pouco limitante); Grau 2 → anda mais devagar que outras pessoas da idade; Grau 3 → Precisa parar com poucos minutos de caminhada, 1 quarteirão; Grau 4 → não consegue sair de casa, cansa para tomar banho ou até mesmo em repouso. ● Sintomas e exacerbações (escala GOLD) Sujeito A e C → poucos sintomas; Sujeito B e D → sintomas mais exacerbados; Sujeito A e B → 1 exacerbação nos últimos 2 meses (sem necessidade de internação); Sujeito C e D → ≥ 2 exacerbações nos últimos 2 meses ou 1 com necessidade de internação. Exemplo: paciente com muita dispneia e pouca exacerbação = GOLD 4B. TRATAMENTO Objetivo terapêutico: 1. Reduzir os sintomas: - Aliviar os sintomas; - Melhorar a tolerância aos exercícios; - Melhorar o estado de saúde; 2. Reduzir o risco: - Prevenir a progressão da doença (cessar tabagismo); - Prevenir e tratar exacerbações; - Reduzir a mortalidade. ● Plano terapêutico: Medidas não farmacológicas: - Cessação de tabagismo - TODOS PACIENTES; - Atividade física; - Reabilitação pulmonar (programa multidisciplinar para sair do ciclo vicioso dispneia → sedentarismo → descondicionamento). - Oxigenoterapia. Vacinação (influenza e pneumocócica - diminuem a chance de pneumonia e infecções virais) - TODOS PACIENTES (Agora tbm incluindo a vacinação de COVID). Medidas que diminuem a mortalidade: cessar tabagismo e oxigenoterapia! Quando indicar oxigenoterapia: pacientes com PaO2 ⩽ 55 mmHg ou Sat ⩽ 88%. Ou PaO2 56-59 mmHg + Cor Pulmonale ou Policitemia (hematócrito > 55%). Alvo de SpO2 88-92%. Tratamento e manutenção: - Para a classe A → broncodilatador de curta duração, B2 agonista: SALBUTAMOL, FENOTEROL. Avaliar o tto e continuar, parar ou tentar outra classe de broncodilatador. Quem é A? Exacerbações 0-1/ano; MRC/CAT: 0-1/<10; baixo risco e pouco sintomático. - Para a classe B → broncodilatador de longa duração (B2 agonista de longa duração- LABA, ex: FORMOTEROL e SALMETEROL;ou antimuscarínico/anticolinérgico de longa duração- LAMA, ex: BROMETO DE TIOTRÓPIO; Avaliar o tto e, se necessário, considerar LABA + LAMA. Quem é B? Exacerbações 0-1/ano; MRC/CAT: 2-4/<10; baixo risco e muito sintomático. - Para a classe C → LAMA (antimuscarínico de longa duração, reduz chance de exacerbação), reavaliar e se necessário associar LABA. Hx de asma → LABA com corticoide inalatório - prednisona. Quem é C? Exacerba e pouca dispneia. Exacerbações ≥ 2/ano; MRC/CAT: 0-1/<10; alto risco e pouco sintomático. - Para a classe D → LAMA + LABA, reavaliar e se necessário: LAMA + LABA/corticoide inalatório e macrolídeo (azitromicina) ou Roflumilaste (inibidor da fosfodiesterase-4) Quem é D? Exacerba e mts sintomas. Exacerbações ≥ 2/ano; MRC/CAT: 2-4/<10; alto risco e muito sintomático. Oxigenoterapia: para todo mundo? Não. Solicitar gasometria arterial para pctes com Sat < 92%. Pctes com PaO2 < 55mmHg ou Sat < 88% vão necessitar de oxigênio domiciliar. COMORBIDADES Principais comorbidades: (repercussões sistêmicas do processo inflamatório do pulmão) Obs: A DPOC é um fator independente de risco cardiovascular. - Doenças cardiovasculares (+ importante e comum: citocinas inflamatórias → lesão endotelial); - Depressão; - Osteoporose; - Principal causa de morte do paciente com DPOC: CA de pulmão. Paciente tem diagnóstico clínico de DPOC, dx espirométrico e exposição comprovada (tabagismo). Resposta: alternativa B. A: incorreta, as únicas coisas que aumentam sobrevida em DPOC → oxigenoterapia e cessação de tabagismo. C: incorreta, risco de cor pulmonale reduz com oxigenoterapia. D: incorreta, para isso deve-se tirar as exposições, como o tabagismo. DPOC EXACERBADA Conceitos chaves ● Diagnosticar e identificar os gatilhos da exacerbação. ● Caracterizar a exacerbação infecciosa bacteriana. ● Diferir exacerbação da DPOC de pneumonia. ● Conhecer a base do tratamento adequado. ● Prevenção. Definição Os sintomas de um paciente com DPOC flutua normalmente ao longo do dia e ao passar dos dias. Mas se esse paciente piora, essa piora perdura por 48h e é necessário um acréscimo de medicação à terapia habitual do paciente → exacerbação. A exacerbação afeta negativamente o estado de saúde, aumentando a taxa de hospitalização, a morbimortalidade e leva à progressão da doença pulmonar. Achados cardinais da exacerbação da DPOC TRÍADE CLÁSSICA DA EXACERBAÇÃO: - Aumento do volume da expectoração. - Piora da dispneia. - Escarro de aspecto amarelado ou esverdeado. Basta 1 critério para dx clínico da exacerbação. Lembrando que a alteração da cor do escarro habitualmente sugere uma exacerbação bacteriana. Os critérios de exacerbação se resumem a ESCARRO e DISPNEIA. Fisiopatologia A fisiopatologia da exacerbação é bem parecida com a da DPOC estável, entretanto, neste caso, existe uma agressão mais intensa, um gatilho maior na via aérea → piora da inflamação do epitélio das vias aéreas. Qualquer gatilho pode ser capaz de ativar o sistema imune, como bactérias, vírus, poeira etc. Com isso, há recrutamento de macrófagos e células T CD8. Os quais recrutam neutrófilos. Por isso, uma exacerbação de DPOC é predominantemente neutrofílica. Além dos neutrófilos, monócitos, eosinófilos e células T CD4 tbm são recrutados. Todas essas células ativam citocinas e estresse oxidativo que atuam contra o agente agressor. Entretanto, não afetam só o agente agressor, tbm afetam o tecido pulmonar → aumenta número de proteases, que digerem as ppts de sustentação das paredes de via aérea, principalmente elastina e colágeno. Isso causa mais enfisema → progressão da doença pulmonar de base. Também há aumento da produção de muco e permeabilidade capilar → aprisionamento de ar → dispneia. Ativação de fibroblastos → remodelamento das vias aéreas. Abordagem do paciente - Anamnese adequada; - Identificar a causa e condições associadas; - Comorbidades descompensadas; - Exames complementares; - Plano de tratamento. Etiologia - Infecções respiratórias: CAUSA MAIS COMUM. Viral (mais comum): rinovírus, influenza, parainfluenza, adenovírus, coronavírus, VSR. Bacteriana: S. pneumoniae, H. influenza, M. catarrhalis, P. aeruginosa, C. pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae. → O escarro fica purulento! - Mudanças climáticas; - Exposições a fumaças; - Má aderência ao tratamento. PRINCIPAL CAUSA DE EXACERBAÇÃO → TRAQUEOBRONQUITE. Fatores preditores de exacerbação - Exacerbação prévia → PRINCIPAL FATOR. - Enfisema extenso ou espessamento de via aérea → fator tomográfico. - Dimensão da artéria pulmonar/aorta > 1 → fator tomográfico. - Bronquite crônica; - DRGE; - Idade avançada; - Função pulmonar comprometida; - Vitamina D baixa (< 10 ng/mL). Diagnóstico O diagnóstico da exacerbação é CLÍNICO. ● Exames complementares Não ditam diagnóstico, mas podem ser sugestivos. - Hemograma; - PCR; - BNP (IC); - D-dímero; - Gasometria arterial → se SpO2 ≤ 92% ou sinais de gravidade; - Cultura de escarro; - Painel viral; - Eletrocardiograma → afastar outras causas ou sinais indiretos de hipertensão pulmonar. - Radiografia de tórax PA e perfil → principal exame complementar. Afasta doenças parenquimatosas e reforça os sinais da DPOC. Diagnósticos diferenciais - Pneumonia; - Pneumotórax; - Derrame pleural; - IC descompensada; - Embolia pulmonar. Definição do local de tratamento 80% dos pacientes são tratados ambulatorialmente. ● Quem internar: - Piora da dispneia ou dessaturação; - Paciente que chega com insuficiência respiratória; - Cor pulmonale → descompensação de IC; - Ausência de resposta ao tratamento ambulatorial; - Comorbidades graves associadas; - Ausência de suporte social. ● Quem vai pra UTI: - Dispneia intensa sem melhora com tratamento inicial; - Alterações do estado mental ou Escala de Coma de Glasgow baixa; - PaO2 < 40 mmHg e/ou pH < 7,25; - Necessidade de ventilação mecânica; - Instabilidade hemodinâmica. Tratamento Não farmacológico - Oxigenoterapia Alvo SpO2 88-92%. Se o alvo for atingido, qualquer um dos suportes de oxigênio pode ser utilizado, como cânula nasal, máscara de Venturi, máscara não reinalante, cateter nasal de alto fluxo. OBSERVAÇÃO: O oxigênio na DPOC: Quando alvos muito altos de SpO2 são atingidos, como 98%, o O2 se liga à hemoglobina e o CO2 antes presente na hemácia fica livre, aumentando a concentração de CO2 no sangue. Já no centro respiratório, o parâmetro para controle da respiração é o CO2, que com o aumento sérico, ocorre uma hipoventilação, aumentando ainda mais o CO2 → carbonarcose (sonolência e necessidade de intubação em quadros graves). - Ventilação ● Ventilação não invasiva Sempre deve ser tentado antes da VMI, mas não deve postergar uma intubação necessária. PaCO2 ≥ 45 mmHg e pH ≤ 7,35 → hipercápnicos ou acidêmicos. Dispneia com fadiga respiratória. Hipoxemia persistente. ● Ventilação mecânica invasiva Não tolera VNI ou hipoxemia mesmo com VNI. Arritmias graves. Aspiração ou vômitos persistentes. Instabilidade hemodinâmica. Rebaixamento do nível de consciência. - Fisioterapia respiratória Farmacológico ● Broncodilatadores Principal medicação. B2 - agonista de curta ação. Anticolinérgico de curta ação. ● Corticoide sistêmico Oral ou EV. 5 a 7 dias. ● Antibioticoterapia? Se evidência de infecção bacteriana → exacerbações graves e escarro purulento. A escolha do antibiótico vai depender da gravidade da exacerbação e da presença de fatores de risco: idade > 65 anos, desnutrição, dispneia grave, comorbidades, > 4 exacerbações/ano ou hospitalização, antibióticos < 15 dias, corticoides < 3 meses. BGN = escarro com crescimento de bacilo gram-negativo. Prevenção - Tratamento adequado da DPOC. - Inibidor da fosfodiesterase-4 (Roflumilaste). - Macrolídeos. - Vacina (influenza, pneumococo). - Cessação do tabagismo - Reabilitação pulmonar. Resposta: alternativa C. O uso do antibiótico é obrigatório pela presença do escarro purulento.
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