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História e Cultura Brasileira
UNICESUMAR
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como fora mostrado acima. Além disso, cada qual nomeia suas refeições conforme o costume local. Em suma, o autor prossegue: De Portugal tivemos essas denomina- ções. Almoço, jantar, ceia. Criamos uma, a primeira comida da manhã, que cha- mamos o café, e que é o pequeno almoço. Denominação das últimas décadas do século XVIII. O almoço para nós é um tanto antes ou depois do meio-dia e é o jantar europeu, tradicional (CÂMARA CASCUDO, 2011, p. 660). Para termos uma ideia de como as refeições estão atreladas às condições naturais, Câmara Cascudo (2011) enfatiza que até mesmo entre os indígenas havia refeições com os horários semelhantes aos europeus, entretanto, com nomes próprios de sua cultura linguística. Nas palavras do autor, parece ser o café da manhã uma obra brasileira. Café no sentido estrito. Seja isso verdade ou não, de fato, essa é considerada por muitos especialistas como sendo a principal refeição do dia. Para este autor, o café, acompanhado de qualquer coisa de que se pudesse mastigar, ou o “café de duas mãos”, como era denominado pelos caipiras de São Paulo, foi introduzido por volta de 1750 e necessitou de muito tempo até que fosse popularizado (CÂMARA CASCUDO, 2011). É difícil estipular corretamente a data do início dessa prática alimentar. Pelo que per- cebemos, o café da manhã se popularizou no Brasil por volta do século XIX. Embora a data estipulada por Câmara Cascudo seja 1750, além de carecer de maior precisão, o fato é que essa refeição, hoje, é presença marcante em nosso dia a dia. Sair de casa sem praticar o desjejum não é algo muito prudente do ponto de vista da saúde. A segunda refeição do dia, o almoço, já representou em nossa sociedade um mo- mento de união no ambiente doméstico. Era bem comum, nos tempos antigos, as famílias ser reunirem em torno da mesa nas prin- cipais refeições, como o almoço e o jantar. Atualmente, devido à correria e à intensifi- cação das atividades, esses momentos estão cada vez mais raros. Todavia, o almoço era visto sob vários ângulos, conforme o que era servido, quando se tratava da sua definição enquanto refeição: H i s t ó r i a e C u l t u r a B r a s i l e i r a ovos mexidos. Sendo assim, o importante é percebermos como nosso comportamento social está atre- lado às questões biológicas, como é o caso das refeições. No decorrer de nosso estudo, vamos apresentar outras situações curiosas. COMEMOS O PÃO QUE O MINEIRO AMASSOU Farinha, água e sal: essenciais para a manu- tenção do corpo, base da alimentação de grande parte da humanidade. Sinônimo de civilização, símbolo da vida. O pão surgiu em tempos imemoriais, mistura de grãos moídos e água, assada sobre pedras quen- tes. Alimento básico do Egito, com ele paga- va-se salário: um dia de trabalho valia três pães e dois cântaros de cerveja. Egípcios foram os primeiros a usar fornos e acres- centar fermento à massa para torná-la mais leve e macia. No Brasil, a arte da panificação firmou-se no início do século XX, com a che- gada dos imigrantes italianos. O Sociólogo Gilberto Freyre conta que, antes, em tempos coloniais, comia-se tapioca. Hoje, espalha- se pelo país a deliciosa invenção saída dos fornos mineiros, o pão de queijo. Fonte: Almanaque Brasil de Cultura Popular. Edição Especial de Professor. Positivo, 2004. <www.almanaquebrasil.com.br>. Almoço de carne fresca, quando havia matança no local, almoço de peixe, almoço de caça, almoço branco, quando de féculas. Nos dias de desmancha, de fa- rinhada, fazem beijus, grossos, pesados de amido, tapioca (beijus finos), bolos de mandioca, e constituem refeição, com manteiga, leite de coco, e menor quantidade de gado, farinha de crueira, entrando a carne em porção diminuta (CÂMARA CASCUDO, 2011, p. 665). Prezado(a) aluno(a), chamo a atenção para o seguinte fato: atualmente, o almoço deixou de ser algo relacionado à vida doméstica e se tornou um evento social, mais relacionado ao networking. Ou seja, as pessoas fizeram dessa refeição um momento para que sua rede de con- tatos pudesse ser aumentada. Negócios são fechados, decisões são toma- das, estratégias são traçadas, tudo isso regado por muita comida e bebida de boa qualida- de. Aliás, esse costume de comer bebendo é algo exclusivamente europeu. Os árabes e quase todos os orientais costumavam beber apenas após as refeições. Falar à mesa era algo também exclusivo dos europeus (CÂMARA CASCUDO, 2011). Enquanto o almoço parecia ser a refeição mais importante e diversificada, percebemos que o jantar já não era revestido de tanto gla- mour. Este, geralmente, nas cidades, era iniciado com sopas e, ao final, um caldo engrossado com farinha. Já a ceia era servida ao anoitecer e era uma mistura das sobras do jantar acrescida de 47G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Uma das combinações preferida dos brasileiros. Café da Manhã com pão de queijo. H i s t ó r i a e C u l t u r a B r a s i l e i r a 49G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R A Sociologia é a ciência que tem por finalidade estudar, em linhas gerais, o comportamento do homem em sociedade, bem como este se relaciona com o meio onde vive, alterando o ambiente conforme suas necessidades. Podemos dizer, de forma simplificada, que a relação do homem em sociedade é o objetivo central das Ciências Humanas. Uma Interpretação Sociológica da Alimentação H i s t ó r i a e C u l t u r a B r a s i l e i r a A credito que você, estudante do curso de Gastronomia da UNICESUMAR, deve ter vivido situações parecidas com essas descritas anteriormente, principalmente se você já mora há muito tempo em uma mesma região. Se você der uma volta ao redor da quadra onde vive, perceberá que as transformações ocorridas por ali foram intensas, caso se lembre dos primeiros momentos vividos nessa região. Entender a alimentação sob a ótica da Sociologia implica entendê-la como fator de- terminante para o estabelecimento das relações sociais, principalmente no que diz respeito à formação da sociedade brasileira. Afinal, comer é mais do que um ato de suprir nossas necessi- dades fisiológicas. Comemos para fazer amigos, para celebrar, para conquistar a pessoa amada, para retribuir um favor, enfim, são inúmeros os eventos em que nós utilizamos a gastronomia para interagirmos. Desse modo, onde há ser humano, há curiosidade, assim, é importante buscarmos compreender toda a gênese socio- lógica da alimentação: A documentação clássica testifica que a Culinária era um interesse legítimo como indagação, exposição exegese. Não apenas dos que a praticavam como profissão mas dos espíritos argutos e curiosos da Antiguidade, pesquisando a geografia dos alimentos e o panorama das técnicas cozinheiras, não apenas am- pliando o conhecimento de uma ciência agradável, inseparada da vida humana, mas analisando a natural ligação entre a maneira de preparar o alimento e o nível da civilização circunjacente (CÂMARA CASCUDO, 2011, p. 342). A alimentação, ou seja, o ato de comer, fora entendida sob diversos ângulos ao longo de nossa história. Na Roma Antiga, os imensos banquetes eram luxuosos e ostentavam poder. Com vinhos e comida em abundância, os par- ticipantes comiam até vomitarem. Na Idade Média, com a influência da Igreja Católica, comer exageradamente se tornou pecado capital. O pecado da Gula. Jejuns, abstinências, evitação dos pra- zeres da mesa são recomendações cons- tantes. No século XIII, Dante Alighieri sacudiu o pobre Ciacco, pela danosa colpa dela gola, no terceiro círculo do inferno, sob a chuva eterna, maladetta, fredda e greve, culpado do repugnante excesso da gastrimargia, ou ventris ingluviae, como definia o Papa São Gregório Magno (CÂMARA CASCUDO, 2011, p. 343). Prezado(a) aluno(a), a figura do pecado da gula é algo que até hoje está presente no imaginá- rio popular. Havia