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O Grande Queimado 1 O Grande Queimado INTRODUÇÃO Importante causa de morbidade e mortalidade. Possível comprometimento da via aérea por inalação de fumo (fumaça). Algumas complicações de lesões térmicas → rabdomiólise e arritmia cardíaca. Princípios importantes: controle da temperatura e remoção do doente do agente causador da lesão. MEDIDAS IMEDIATAS PARA SALVAR A VIDA DO DOENTE QUEIMADO Estabelecimento do controle da via aérea, interrupção do processo de queimadura e a obtenção de acessos venosos. VIA AÉREA Edema → VA superior com risco de obstrução. Sinais sutis até crise do doente. Avaliação precoce da necessidade de IOT é fundamental. Fatores que aumentam risco de obstrução da VA profundidade e extensão de queimaduras maiores, queimaduras na cabeça e na face, lesões inalatórias e queimaduras no interior da boca. Queimaduras em face e boca causam edema mais localizado e apresentam maior risco de comprometimento da VA. Crianças têm maior risco de problemas em VA = VA menor. ❓ Como identificar lesão por inalação? A via aérea é extremamente suscetível à obstrução como resultado da exposição ao calor. Queimaduras faciais e/ou cervicais O Grande Queimado 2 Chamuscamento dos cílios e vibrissas nasais Depósitos de carbono na boca e/ou nariz e expectoração carbonácea Alterações inflamatórias agudas em orofaringe - eritema Rouquidão Confusão mental e/ou confinamento no local do incêndio Explosão com queimaduras da cabeça e do tronco Níveis sanguíneos de carboxi-hemoglobina maiores que 10% Esses achados sugerem lesão inalatória aguda e necessidade de IOT. Lesão por inalação → transferência para centro de queimados. Estridor = tardia e indica imediatamente a IOT. Queimadura circunferencial do pescoço = edema dos tecidos ao redor da VA = intubação precoce. INTERRUPÇÃO DO PROCESSO DE QUEIMADURA Toda a roupa deve ser removida para interromper o processo. Roupa aderente à pele não deve ser arrancada. A superficial corporal comprometida deve ser enxaguada com água corrente. O doente deve ser coberto com lençóis limpos, quentes e secos para evitar hipotermia. ACESSOS VENOSOS Qualquer doente com acometimento maior que 20% da superfície corporal necessita de reposição de volume. Acessos com cateter de grosso calibre (no mínimo 16G introduzido em veia periférica. Pode introduzir o cateter em pele queimada. Membros superiores são preferíveis. Infusão com solução cristaloide isotônica = ringer lactato. AVALIAÇÃO DO DOENTE QUEIMADO Ó O Grande Queimado 3 HISTÓRIA Circunstâncias em que ocorreu a lesão. Lesões associadas enquanto tenta escapar do fogo. Explosões podem arremessar o doente e provocar fraturas, lesões internas. Momento que ocorreu queimadura Queimadura em ambiente fechado → inalação e lesão cerebral anóxica se associado com perda de consciência. Interrogatório sobre doenças preexistentes: DM, HAS, doença cardíaca, pulmonar, renal, uso de medicamentos. Alergia ou hipersensibilidade. Suicídio por queimaduras? Se a história não for compatível com a realidade, buscar e suspeitar de abuso. Estado de imunização contra tétano. ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL ❓ Como estimar superfície e profundidade da lesão? Regra dos nove = determina extensão da queimadura Corpo adulto = dividido em regiões que apresentam 9% ou múltiplos de superfície corporal total. Corpo pediátrico = cabeça corresponde a uma maior porcentagem e os MMII a uma menor porcentagem. Cabeça de criança = 2x a do adulto. Palma da mão do doente + dedos = 1% da superfície corporal. O Grande Queimado 4 O Grande Queimado 5 PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA Avaliação da profundidade da queimadura avalia sua gravidade. QUEIMADURAS DE PRIMEIRO GRAU Queimadura solar Eritema, dor e ausência de bolhas Não determinam risco à vida Não necessitam reposiçao EV de fluidos QUEIMADURAS DE SEGUNDO GRAU OU QUEIMADURAS DE ESPESSURA PARCIAL Aparência vermelha ou mosqueada Edema, bolhas Aparência lacrimejante ou úmida É hipersensível à dor intensa ou a correntes de ar QUEIMADURAS DE TERCEIRO GRAU OU DE ESPESSURA TOTAL Escuras, aparência de couro O Grande Queimado 6 Pele translúcida ou com aspecto de cera Indolor, geralmente seca, pode ser vermelha e não muda de cor à compressão local. Há pouco edema Área ao redor da queimadura pode apresentar edema significativo AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO DO DOENTE QUEIMADO ABC VIA AÉREA Confinamento em ambiente fechado durante incêndio e sinais sugestivos de lesão precoce da VA = avaliação da VA e tratamento definitivo. Lesões térmicas de faringe = edema acentuado em VA superior. Lesão por inalação = manifestações não aparecem nas primeiras 24h. Se o médico esperar muito, o edema pode impedir a IOT. VENTILAÇÃO O Grande Queimado 7 Inalação de vapor superaquecido ou de gases inflamáveis = lesão de VA inferior. Preocupações: hipóxia, intoxicação por monóxido de carbono e lesão por inalação (fumo). Hipóxia = lesão inalatória, ventilação inadequada por queimaduras circunferenciais no tórax ou lesões traumáticas torácicas não relacionadas à queimadura. Administrar oxigênio suplementar com ou sem intubação. Sempre considerar a exposição do monóxido de carbono CO em doentes queimados em ambientes fechados. Intoxicação por CO é feito pela história da exposição e medida direta da carboxi-hemoglobina. Doentes com níveis de CO inferiores a 20% não costumam apresentar sinais de sintomas. Níveis elevados de CO resultam em: Cefaleia e náusea Confusão Coma Morte CO tem muita afinidade com hemoglobina, deslocando o O2 da molécula de Hb. Sua meia-vida é de 250 minutos. Suspeita de exposição ao CO devem receber desde o início, O2 em alto fluxo através de máscara unidirecional sem recirculação. O tto inicial pode exigir a IOT e ventilação mecânica. Suspeita de lesão de VA = intubação precoce. Tubo endotraqueal de grosso calibre deve ser escolhido para a obtenção de VA definitiva, pois existe a possibilidade de broncoscopia. Gasometria arterial = avaliação evolutiva do padrão pulmonar. Critérios para o diagnóstico da lesão por inalação de fumaça: Exposição a um agente combustível Sinais de exposição à fumaça na VA inferior O Grande Queimado 8 Deve ser realizado um RX de tórax e gasometria arterial para avaliação da condição pulmonar inicial do doente. Apesar de serem normais, podem piorar com o decorrer do tempo. Se tudo permitir, a elevação da cabeça do doente e do tórax a 30 graus pode auxiliar na redução do edema do pescoço e da parede torácica. Escarotomia da parede torácica → caso a queimadura de 3º grau das paredes anterior e lateral do tórax. CIRCULAÇÃO - REANIMAÇÃO DO CHOQUE NO DOENTE QUEIMADO ❓ Qual a velocidade e o tipo de líquido administrado aos doentes queimados? Monitorização do débito urinário é uma forma confiável de avaliação do volume sanguíneo circulante = sondagem vesical obrigatória. 24mL de ringer lactato por kg de peso por porcentagem da área de superfície corporal queimada 2º e 3º graus em 24h). Metade do volume total nas primeiras 8h após a queimadura. O restante nas 16h seguintes. O volume de líquido oferecidoposteriormente deve ser ajustado com base no débito urinário de 0,5 mL/kg/h em adultos e 1 mL/kg/h para crianças com menos de 30 Kg. A necessidade de fluidos para cada doente depende do nível de queimadura. Deve-se aumentar o volume até conseguir um débito urinário adequado. O Grande Queimado 9 Em crianças menores que 10 anos = hipoglicemia = administrar glicose junto. Hipóxia, distúrbios eletrolíticos e disfunção ácido-base = arritmias cardíacas = monitorização pelo ECG. Cianeto = acidemia persistente = centro de queimados e centro toxicológico. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA E MEDIDAS AUXILIARES Exame físico, documentação, exames iniciais (laboratoriais + imagens), manutenção da circulação periférica em queimaduras circunferenciais e de extremidades, sondagem gástrica, narcóticos, analgésicos e sedativos, cuidados com a ferida, antibióticos e imunizaçãoantitetânica. Exame físico Estimar a extensão e profundidade da queimadura; Avaliar se existem lesões associadas; Pesar o doente. Documentação Registrar o tratamento ministrado para que se for transferido, haja registro. Exames iniciais para doentes com queimaduras graves Laboratoriais → hemograma, tipagem sanguínea, prova cruzada, carboxi- hemoglobina, glicemia, eletrólitos, teste de gravidez (em mulheres em idade fértil), gasometria arterial. Radiológicos → radiografia de tórax em doentes intubados ou com suspeita de lesão por inalação. Manutenção da circulação periférica em queimaduras circunferenciais e de extremidades Objetivo = excluir a síndrome compartimental. Síndrome compartimental = causada pelo aumento da pressão dentro do compartimento muscular, que interfere na perfusão das estruturas dentro desse compartimento. O Grande Queimado 10 A perfusão da musculatura é a maior preocupação relacionada às extremidades. Uma pressão compartimental 30 pode causar necrose do músculo = escarotomia se a pressão for maior que 30. Sinais de síndrome compartimental = piora da dor com movimentação passiva, tensão e dormência do membro, ausência de pulso. Também pode estar presente com queimaduras circunferenciais de tórax e abdome, causando aumento das pressões inspiratórias. Escarotomias torácicas e abdominais realizadas abaixo das linhas axilares anteriores combinadas com uma incisão na transição tóraco-abdominal geralmente aliviam o problema. Manutenção da circulação periférica em queimaduras circunferenciais de extremidades: O Grande Queimado 11 Remover todas as joias; Avaliar circulação distal → cianose, TEC lento, sinais de comprometimento neurológico, avaliação de pulsos com Doppler; Fasciotomia → restaura a circulação em doentes com trauma ósseo associado, lesões por esmagamento, lesão elétrica de alta voltagem, queimaduras. Sondagem gástrica Colocar e manter em sucção se doente apresentar náusea, vômitos, distensão abdominal ou se a queimadura envolver mais de 20% da superfície corporal. Narcóticos, analgésicos e sedativos Ansioso e agitado = hipoxemia ou hipovolemia. Respondem melhor ao uso de oxigênio. Narcóticos, analgésicos e sedativos podem mascarar os sinais de hipoxemia e hipovolemia e devem ser administrados em doses pequenas e EV. Somente cobrindo a queimadura já há alívio da dor. Cuidados com a ferida Espessura parcial - 2º grau: dolorosa quando o ar passa pela superfície queimada. Cobrir a área com um plano limpo alivia a dor e impede o contato com ar. Não se deve romper bolhas e aplicar antissépticos. Não usar água fria em doentes com 10% de ASC. Antibióticos Profilaxia com antibiótico NÃO é indicada na fase inicial. Imunização antitetânica Ver o estado da imunização. QUEIMADURAS QUÍMICAS O Grande Queimado 12 Exposição a ácidos, álcalis ou derivados do petróleo. Queimaduras por álcalis são mais sérias que por ácidos = maior penetração. É essencial remover o produto químico da ferida. Se o pó seco estiver presente na pele, remover com uma escova antes de irrigar com água. Outra alternativa é remover imediatamente o produto químico com grande quantidade de água, por uma ducha ou mangueira por 20 a 30 minutos. Queimadura por álcali exige irrigação contínua durante as primeiras 8h = cânula de pequeno calibre no sulco palpebral. QUEIMADURAS ELÉTRICAS As queimaduras elétricas são mais graves do que parece à inspeção externa e as extremidades estão mais propensas à lesão. A corrente elétrica passa por nervos e vasos, podendo causar tromboses e lesões locais. Frequentemente necessitam de fasciotomia e devem ser transferidos a um centro de queimados. Atendimento inicial: via aérea, respiração, acesso venoso em membro não afetado, monitorização eletrocardiográfica e sondagem vesical de demora. Procurar lesões musculoesqueléticas. A rabdomiólise provoca liberação de mioglobina que pode causar insuficiência renal aguda. Garantir diurese de 100mL/hora no adulto ou 2mL/kg em crianças com menos de 30kg. TRANSFERÊNCIA DE DOENTES Critérios para transferência Queimaduras de 2º ou 3º grau com 10% da ASC. Queimaduras de 2º ou 3º grau envolvendo face, olhos, ouvidos, mãos, pés, genitália, períneo ou grandes articulações. Queimaduras de 3º grau. O Grande Queimado 13 Queimaduras elétricas mais graves. Queimaduras químicas importantes. Lesão por inalação. Queimaduras em doentes com doenças prévias. Crianças com queimaduras atendidas em hospitais não especificados. Queimadura de doentes com necessidade de suporte social, emocional, reabilitação Procedimentos de transferência Todas as informações devem ser repassadas ao centro de queimados. LESÕES POR FRIO: EFEITOS TECIDUAIS LOCAIS A gravidade depende da temperatura, da duração da exposição, das condições ambientais, do grau de proteção conferido pelas roupas e do estado de saúde do doente. Tipos de lesões por frio Crestadura/frostnip: forma mais leve. Dor, palidez e diminuição da sensibilidade da área afetada. Reversível com aquecimento. Congelamento: lesão tecidual por formação de cristais de gelo dentro das células e por oclusão microvascular que resulta em anóxia tecidual. Há diversos graus. Lesão não congelante: comprometimento do endotélio vascular. Tratamento Colocação da parte afetada em água a 40ºC até o retorno da perfusão e coloração. Analgesia para o processo de reaquecimento. LESÕES POR FRIO: HIPOTERMIA SISTÊMICA Hipotermia → temperatura central do doente cai abaixo de 36ºC. Hipotermia grave → temperatura abaixo de 32ºC.
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