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Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 CASO 3 - TRANSTORNOS RELACIONADOS A DOENÇAS, OBSESSÕES, TRAUMAS E ESTRESSORES TRANSTORNO DE ANSIEDADE DEVIDO A OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA Critérios Diagnósticos DSM-5 293.84 (F06.4) A. Ataques de pânico ou ansiedade predominam no quadro clínico. B. Existem evidências, a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais, de que a perturbação é a consequência fisiopatológica direta de outra condição médica. C. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental. D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de delirium. E. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Nota para codificação: A outra condição médica deve ser codificada e listada em separado imediatamente antes do transtorno de ansiedade devido à condição médica (ex: 227.0 [D35.00] feocromocitoma; 293.84 [F06.4] transtorno de ansiedade devido a feocromocitoma). Uma ampla variedade de condições médicas pode causar sintomas semelhantes aos de transtornos de ansiedade. Hipertireoidismo, hipotireoidismo, hipoparatireoidismo e deficiência de vitamina B12, frequentemente, estão associados com sintomas de ansiedade. Um feocromocitoma produz epinefrina, que pode causar episódios paroxísticos de sintomas de ansiedade. Outras condições, como arritmia cardíaca, podem produzir sintomas fisiológicos de transtorno de pânico. A hipoglicemia também pode imitar os sintomas de um transtorno de ansiedade. As diferentes condições médicas que podem causar sintomas de ansiedade o fazem por meio de um mecanismo comum que envolve tanto o sistema noradrenérgico como o sistema serotonérgico. Cada uma delas é caracterizada por ansiedade proeminente que surge como resultado direto de alguma perturbação fisiológica subjacente. Uma síndrome semelhante ao transtorno de pânico é o quadro clínico mais comum, e semelhante a fobia é o menos comum. Exames laboratoriais Uma avaliação específica é necessária quando um transtorno de ansiedade devido a outra condição médica está sendo considerado como parte do diagnóstico diferencial. Se possível, os exames devem ser selecionados para considerar diagnósticos específicos sugeridos pelos sintomas somáticos dos pacientes (se presentes). Os exames a serem considerados incluem hemograma completo, eletrólitos, glicose, nitrogênio da ureia sanguínea, creatinina, testes da função hepática, cálcio, magnésio, fósforo, testes da função tireoidiana e toxicologia urinária. Ocasionalmente, outros exames podem ser indicados, para excluir feocromocitoma (catecolaminas urinárias), um transtorno convulsivo (EEG), arritmia cardíaca (monitoramento por Holter) e doença pulmonar (oximetria, gases sanguíneos arteriais). As imagens cerebrais podem ser úteis para excluir transtorno desmielinizante, tumor, AVC ou hidrocefalia e são importantes sobretudo se o indivíduo relatar sintomas neurológicos (cefaleia, alterações motoras ou sensoriais e tontura), embora essas queixas possam representar manifestações somáticas de transtornos de ansiedade primários. Uma punção lombar pode ser apropriada se existir suspeita de uma causa inflamatória ou infecciosa. Desenvolvimento, curso e prognóstico O desenvolvimento e o curso do transtorno de ansiedade devido a outra condição médica geralmente seguem o curso da doença subjacente. Esse diagnóstico não pretende incluir transtornos de ansiedade primários que surgem no contexto de doença médica crônica. Isso deve ser considerado com adultos mais velhos, que podem experimentar doença crônica e então desenvolver transtornos de ansiedade independentes, secundários. A experiência contínua de ansiedade pode ser incapacitante e interferir em todos os aspectos da vida, incluindo os funcionamentos social, ocupacional e psicológico. Um aumento súbito do nível de ansiedade pode impelir a pessoa afetada a procurar ajuda médica ou psiquiátrica mais rapidamente do que quando o início é insidioso. O tratamento ou a remoção da causa médica primária da ansiedade em geral inicia uma clara de melhora dos sintomas. Em alguns casos, entretanto, os sintomas continuam. Quando sintomas de transtorno de ansiedade estão presentes por um período significativo após a doença clínica ter sido tratada, os sintomas remanescentes devem ser tratados como se fossem primários – isto é, com psicoterapia, farmacoterapia ou ambas. TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO Critérios Diagnósticos DSM-5 300.3 (F42) A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas: As obsessões são definidas por: 1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. As compulsões são definidas por: 1. Comportamentos repetitivos (ex: lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (ex: orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (ex: tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (ex: preocupações excessivas, como no TAG; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação; estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações delirantes,como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista). Especificar se: Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do TOC são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras. Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do TOC são provavelmente verdadeiras. Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças são verdadeiras. OBS: O insight pode variar durante o curso da doença. O insight mais pobre foi vinculado a pior evolução no longo prazo. Especificar se: Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique. Até 30% dos indivíduos com TOC têm um transtorno de tique ao longo da vida. Isso é mais comum no sexo masculino com início do TOC na infância. Esses indivíduos tendem a diferir daqueles sem história de transtornos de tique nos temas dos seus sintomas, comorbidade, curso e padrão de transmissão familiar. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico O conteúdo específico das obsessões e compulsões varia entre os indivíduos. Entretanto, certos temas, ou dimensões, são comuns, incluindo limpeza (obsessões por contaminação e compulsões por limpeza); simetria (obsessões por simetria e compulsões por repetição, organização e contagem); pensamentos proibidos ou tabus (obsessões agressivas, sexuais ou religiosas e compulsões relacionadas); e danos (medo de causar danos a si mesmo ou a outros e compulsões de verificação). Os indivíduos com frequência têm sintomas em mais de uma dimensão. As pessoas com TOC experimentam uma gama de respostas afetivas quando confrontadas com situações que desencadeiam obsessões e compulsões. Muitos experimentam ansiedade acentuada que pode incluir ataques de pânico recorrentes. Outros relatam fortes sentimentos de nojo. É comum que evitem pessoas, lugares e coisas que desencadeiam obsessões e compulsões. Indivíduos com preocupações com contaminação podem evitar situações públicas (ex: restaurantes, banheiros públicos) para reduzir a exposição aos contaminantes; pessoas com pensamentos intrusivos sobre causar danos podem evitar as interações sociais. Prevalência As taxas de TOC são bastante consistentes, com uma prevalência vitalícia na população em geral estimada em 2 a 3%. O sexo feminino é afetado em uma taxa um pouco mais alta do que o masculino na idade adulta, embora este seja mais comumente afetado na infância. Desenvolvimento e Curso Nos Estados Unidos, a idade média de início do TOC é 19,5 anos, e 25% dos casos iniciam-se até os 14 anos. O início após os 35 anos é incomum, mas ocorre. Indivíduos do sexo masculino têm idade de início mais precoce: cerca de 25% dos homens têm o transtorno antes dos 10 anos. O início dos sintomas é geralmente gradual; entretanto, um início agudo também tem sido relatado. Quando o TOC não é tratado, seu curso é, em geral, crônico, frequentemente com os sintomas tendo aumentos e diminuições de intensidade. Alguns indivíduos têm um curso episódico, e uma minoria tem um curso de deterioração. Sem tratamento, as taxas de remissão em adultos são baixas. O início na infância ou na adolescência pode fazer o TOC permanecer durante a vida inteira. No entanto, 40% dos indivíduos com início do transtorno na infância ou na adolescência podem experimentar remissão até o início da idade adulta. O curso do TOC é com frequência complicado pela concomitância de transtornos. Fatores de Risco e Prognóstico Temperamentais: Mais sintomas internalizantes, afetividade negativa mais alta e inibição do comportamento na infância. Ambientais: Abuso físico e sexual na infância e outros eventos estressantes ou traumáticos. Genéticos e fisiológicos: A taxa de TOC entre parentes de 1º grau de adultos com o transtorno é aproximadamente duas vezes maior; no entanto, entre os parentes de primeiro grau de indivíduos com início de TOC na infância ou adolescência, a taxa é aumentada em 10 vezes. A transmissão familiar deve-se, em parte, a fatores genéticos. Disfunção no córtex orbitofrontal, no córtex cingulado anterior e no estriado tem sido mais fortemente envolvida. Risco de Suicídio Pensamentos suicidas ocorrem em algum momento em cerca de metade dos indivíduos com TOC. Tentativas de suicídio também são relatadas em até 1/4 daqueles com o transtorno; a presença de transtorno depressivo maior comórbido aumenta o risco. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 Consequências Funcionais do TOC O TOC está associado a uma qualidade de vida reduzida, assim como a altos níveis de prejuízo social e profissional. O prejuízo ocorre em muitos domínios diferentes da vida e está associado à gravidade do sintoma. Pode ser causado pelo tempo dispendido em obsessões e executando compulsões. A esquiva de situações que podem desencadear as obsessões ou compulsões também pode restringir gravemente o funcionamento. Indivíduos com preocupações com contaminação podem evitar consultórios médicos e hospitais (ex: devido ao medo da exposição a germes) ou desenvolver problemas dermatológicos (ex: lesões cutâneas por lavagem excessiva). Ocasionalmente, os sintomas do transtorno interferem no próprio tratamento. Quando o transtorno começa na infância ou na adolescência, os indivíduos podem experimentar dificuldades desenvolvimentais. Por exemplo, adolescentes podem evitar a socialização com os colegas; jovens adultos podem ter dificuldades quando saem de casa para viver de forma independente. O resultado pode ser poucas relações significativas fora da família e falta de autonomia e de independência financeira em relação à família de origem. Além disso, alguns indivíduos com TOC tentam impor regras e proibições aos membros da família devido ao transtorno, e isso pode levar à disfunção familiar. Comorbidade Os indivíduos com TOC frequentemente têm outra psicopatologia. Muitos adultos com o transtorno têm um diagnóstico de transtorno de ansiedade ao longo da vida (76%) ou um transtorno depressivo ou bipolar (63%). O início do TOC é geralmente mais tardio do que para a maioria dos transtornos de ansiedade comórbidos (com exceção do transtorno de ansiedade de separação) e TEPT, mas com frequência precede o dos transtornos depressivos. O transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva comórbido também é comum (variando de 23 a 32%). Até 30% dos indivíduos com TOC também têm um transtorno de tique ao longo da vida. Um transtorno de tique comórbido é mais comum em indivíduos do sexo masculino com início de TOC na infância. Essas pessoas tendem a diferir daquelas sem história de transtornos de tique nos temas dos seus sintomas, na comorbidade, no curso e no padrão de transmissão familiar do TOC. Uma tríade de TOC, transtorno de tique e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade também pode ser vista em crianças. Farmacoterapia A abordagem-padrão é iniciar o tratamento com um ISRS ou clomipramina (tricíclico) e depois passar a outras estratégiasfarmacológicas se as drogas não forem efetivas. Os efeitos iniciais costumam ser vistos após 4 a 6 semanas de tratamento, apesar de 8 a 16 semanas normalmente serem necessárias para se obter o máximo benefício terapêutico. Se o tratamento com clomipramina ou com ISRS não obtiver sucesso, muitos terapeutas aumentam a primeira droga com a adição de valproato, lítio ou carbamazepina. Outras drogas também podem ser experimentadas. Terapia comportamental Muitos clínicos consideram TCC o tratamento de escolha para o TOC. As principais abordagens são a exposição e a prevenção de resposta. Dessensibilização, prevenção de pensamentos, inundação, terapia implosiva e condicionamento aversivo também foram usados em pacientes com TOC. Na terapia comportamental, os pacientes devem estar realmente comprometidos com a melhora. Outras terapias Algumas vezes, quando rituais obsessivos e a ansiedade alcançam intensidade intolerável, é necessário hospitalizá-los. Terapia de apoio, terapia familiar e em grupo podem ser úteis. Para casos extremos, resistentes ao tratamento e cronicamente debilitantes, a eletroconvulsoterapia (ECT) e a psicocirurgia devem ser consideradas. A ECT deve ser testada antes da cirurgia. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO Critérios Diagnósticos DSM-5 309.81 (F43.10) Nota: Os critérios a seguir aplicam-se a adultos, adolescentes e crianças acima de 6 anos de idade. A. Exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas: 1. Vivenciar diretamente o evento traumático. 2. Testemunhar pessoalmente o evento traumático ocorrido com outras pessoas. 3. Saber que o evento traumático ocorreu com familiar ou amigo próximo. Nos casos de episódio concreto ou ameaça de morte envolvendo um familiar ou amigo, é preciso que o evento tenha sido violento ou acidental. 4. Ser exposto de forma repetida ou extrema a detalhes aversivos do evento traumático (ex: socorristas que recolhem restos de corpos humanos; policiais repetidamente expostos a detalhes de abuso infantil). Nota: O Critério A4 não se aplica à exposição por meio de mídia eletrônica, televisão, filmes ou fotografias, a menos que tal exposição esteja relacionada ao trabalho. B. Presença de um (ou mais) dos seguintes sintomas intrusivos associados ao evento traumático, começando depois de sua ocorrência: 1. Lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias do evento traumático. (Nota: Em crianças > 6 anos, pode ocorrer brincadeira repetitiva na qual temas ou aspectos do evento traumático são expressos). 2. Sonhos angustiantes recorrentes nos quais o conteúdo e/ou o sentimento do sonho estão relacionados ao evento traumático. (Nota: Em crianças, pode haver pesadelos sem conteúdo identificável). 3. Reações dissociativas (ex: flashbacks) nas quais o indivíduo sente ou age como se o evento traumático estivesse ocorrendo novamente. (Essas reações podem ocorrer em um continuum, com a expressão mais extrema na forma de uma perda completa de percepção do ambiente ao redor.) (Nota: Em crianças, a reencenação específica do trauma pode ocorrer na brincadeira). Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 4. Sofrimento psicológico intenso ou prolongado ante a exposição a sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a algum aspecto do evento traumático. 5. Reações fisiológicas intensas a sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a algum aspecto do evento traumático. C. Evitação persistente de estímulos associados ao evento traumático, começando após a ocorrência do evento, conforme evidenciado por um ou ambos dos seguintes aspectos: 1. Evitação ou esforços para evitar recordações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca de ou associados de perto ao evento traumático. 2. Evitação ou esforços para evitar lembranças externas (pessoas, lugares, conversas, atividades, objetos, situações) que despertem recordações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca de ou associados de perto ao evento traumático. D. Alterações negativas em cognições e no humor associadas ao evento traumático começando ou piorando depois da ocorrência de tal evento, conforme evidenciado por dois (ou mais) dos seguintes aspectos: 1. Incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento traumático (geralmente devido a amnésia dissociativa, e não a outros fatores, como traumatismo craniano, álcool ou drogas). 2. Crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo (ex: “Sou mau”, “Não se deve confiar em ninguém”, “O mundo é perigoso”, “Todo o meu sistema nervoso está arruinado para sempre”). 3. Cognições distorcidas persistentes a respeito da causa ou das consequências do evento traumático que levam o indivíduo a culpar a si mesmo ou os outros. 4. Estado emocional negativo persistente (ex: medo, pavor, raiva, culpa ou vergonha). 5. Interesse ou participação bastante diminuída em atividades significativas. 6. Sentimentos de distanciamento e alienação em relação aos outros. 7. Incapacidade persistente de sentir emoções positivas (ex: incapacidade de vivenciar sentimentos de felicidade, satisfação ou amor). E. Alterações marcantes na excitação e na reatividade associadas ao evento traumático, começando ou piorando após o evento, conforme evidenciado por dois (ou mais) dos seguintes aspectos: 1. Comportamento irritadiço e surtos de raiva (com pouca ou nenhuma provocação) geralmente expressos sob a forma de agressão verbal ou física em relação a pessoas e objetos. 2. Comportamento imprudente ou autodestrutivo. 3. Hipervigilância. 4. Resposta de sobressalto exagerada. 5. Problemas de concentração. 6. Perturbação do sono (ex: dificuldade para iniciar ou manter o sono, ou sono agitado). F. A perturbação (Critérios B, C, D e E) dura mais de um mês. G. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Determinar o subtipo: Com sintomas dissociativos: Os sintomas do indivíduo satisfazem os critérios de transtorno de estresse pós-traumático, e, além disso, em resposta ao estressor, o indivíduo tem sintomas persistentes ou recorrentes de: 1. Despersonalização: Experiências persistentes ou recorrentes de sentir-se separado e como se fosse um observador externo dos processos mentais ou do corpo (ex: sensação de estar em um sonho; sensação de irrealidade de si mesmo ou do corpo ou como se estivesse em câmera lenta). 2. Desrealização: Experiências persistentes ou recorrentes de irrealidade do ambiente ao redor (ex: o mundo ao redor do indivíduo é sentido como irreal, onírico, distante ou distorcido). Nota: Para usar esse subtipo, os sintomas dissociativos não podem ser atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância (ex: apagões, comportamento durante intoxicação alcoólica) ou a outra condição médica (ex: convulsões parciais complexas). Especificar se: Com expressão tardia: Se todos oscritérios diagnósticos não forem atendidos até pelo menos seis meses depois do evento (embora a manifestação inicial e a expressão de alguns sintomas possam ser imediatas). Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico A regressão do desenvolvimento, como a perda da fala em crianças pequenas, pode ocorrer. Pseudoalucinações auditivas, como ter a experiência sensorial de escutar seus próprios pensamentos ditos em uma voz ou em vozes diferentes, bem como ideias paranoides, podem estar presentes. Depois de eventos traumáticos graves, prolongados e repetidos, o indivíduo pode apresentar também dificuldades na regulagem de emoções ou para manter relacionamentos interpessoais estáveis, ou ainda sintomas dissociativos. Quando o evento traumático produz morte violenta, sintomas de luto complicado e TEPT podem estar presentes. Prevalência A incidência de TEPT durante a vida é estimada em 9 a 15%, e sua prevalência durante a vida é estimada em 8% da população em geral, embora um adicional de 5 a 15% possam experimentar formas subclínicas do transtorno. A taxa de prevalência durante a vida é de 10% em mulheres e de 4% em homens. Homens e mulheres diferem no tipo de traumas aos quais são expostos. Historicamente, o trauma nos homens costumava ser experiência de combate, e nas mulheres era agressão ou estupro. As taxas de TEPT são maiores entre veteranos de guerra e outros cuja ocupação aumente o risco de exposição traumática (policiais, bombeiros, socorristas). Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 As taxas mais altas são encontradas entre sobreviventes de estupro, combate e captura militar, sobreviventes de campo de concentração e genocídio com motivação étnica ou política. A prevalência de TEPT completo também parece ser menor entre adultos mais velhos comparados à população em geral; há evidências de que apresentações subclínicas são mais comuns do que TEPT completo na velhice e de que esses sintomas estão associados a um prejuízo clínico substancial. Desenvolvimento e Curso O TEPT pode ocorrer em qualquer idade a partir do 1º ano de vida. Os sintomas geralmente se manifestam dentro dos primeiros três meses depois do trauma, embora possa haver um atraso de meses, ou até anos, antes dos critérios serem atendidos. Com frequência, a reação do indivíduo a um trauma satisfaz inicialmente os critérios para transtorno de estresse agudo imediatamente após o trauma. Os sintomas de TEPT e a predominância relativa de diferentes sintomas podem variar com o tempo. A duração dos sintomas também varia, com a recuperação completa em 3 meses ocorrendo em aproximadamente metade dos adultos, enquanto alguns indivíduos permanecem sintomáticos por mais de 12 meses e às vezes por mais de 50 anos. A recorrência e a intensificação dos sintomas podem ocorrer em resposta a recordações do trauma original, estressores na vida presente ou experiências de eventos traumáticos novos. No caso de indivíduos mais velhos, a deterioração da saúde, a piora do funcionamento cognitivo e o isolamento social podem exacerbar sintomas de TEPT. As crianças podem vivenciar traumas concomitantes (ex: abuso físico, testemunho de violência doméstica) e, em circunstâncias crônicas, talvez não consigam identificar o início da sintomatologia. O comportamento de evitação pode estar associado a restrição do brincar ou do comportamento exploratório em crianças pequenas; participação reduzida em novas atividades em crianças de idade escolar; ou relutância em buscar o que o desenvolvimento oportuniza em adolescentes (ex: namorar, dirigir). O comportamento irritadiço ou agressivo em crianças e adolescentes pode interferir nas relações com os colegas e na conduta escolar. O comportamento imprudente pode levar a lesões acidentais a si mesmo ou a outras pessoas, busca de emoções fortes ou comportamentos de alto risco. Indivíduos que continuam a sofrer de TEPT na idade adulta avançada podem apresentar menos sintomas de hiperexcitação, evitação e cognições e humor negativos comparados a adultos mais jovens com o transtorno, embora adultos expostos a eventos traumáticos posteriormente na velhice possam manifestar mais evitação, hiperexcitação, problemas de sono e crises de choro do que adultos mais jovens expostos aos mesmos eventos traumáticos. Nos mais velhos, o transtorno está associado a percepções de saúde negativas, uso da rede de atenção básica e ideação suicida. Estressor Por definição, é o fator causativo principal no desenvolvimento de TEPT. No entanto, nem todos experimentam o transtorno após um evento traumático. O estressor isoladamente não é suficiente para causar o transtorno. A resposta ao evento traumático precisa envolver medo intenso ou terror. Fatores pré-traumáticos Temperamentais: Incluem problemas emocionais na infância até os 6 anos de idade (ex: exposição traumática pregressa, problemas de ansiedade ou externalizações) e transtornos mentais prévios. Ambientais: Status socioeconômico mais baixo; grau de instrução inferior; exposição anterior a trauma (especialmente na infância); adversidades na infância (privação econômica, disfunção familiar, separação ou morte dos pais); características culturais; inteligência inferior; minoria racial/étnica; história psiquiátrica familiar. Genéticos e fisiológicos: Incluem gênero feminino e idade mais jovem no momento da exposição ao trauma (para adultos). Fatores peritraumáticos Ambientais: Incluem gravidade (dose) do trauma (quanto maior a magnitude do trauma, maior a probabilidade de TEPT), ameaça percebida à vida, lesão pessoal, violência interpessoal (particularmente perpetrado por um cuidador ou envolvendo uma ameaça presenciada a um cuidador em crianças) e, para pessoal militar, ser perpetrador, testemunhar atrocidades ou matar o inimigo. Fatores pós-traumáticos Temperamentais: Incluem avaliações negativas, estratégias de enfrentamento inapropriadas e desenvolvimento de transtorno de estresse agudo. Ambientais: Exposição subsequente a lembranças desagradáveis repetidas, eventos de vida adversos subsequentes e perdas financeiras ou outras perdas relacionadas ao trauma. Fatores psicodinâmicos De acordo com Freud, ocorre uma cisão na consciência. Um conflito preexistente pode ser simbolicamente despertado pelo novo evento traumático. O ego revivencia e tenta dominar e reduzir a ansiedade. Fatores cognitivo-comportamentais O modelo cognitivo do TEPT postula que as pessoas afetadas não conseguem processar ou racionalizar o trauma que precipitou o transtorno. Elas continuam a experimentar o estresse e tentam evitar experimentá-lo por meio de técnicas de evitação. Congruente com sua capacidade parcial de elaborar cognitivamente o fato, as pessoas experimentam períodos alternados de reconhecimento e bloqueio do evento. Acredita-se que a tentativa do cérebro de processar a quantidade massiva de informação provocada pelo trauma produza esses períodos alternados. Primeiro, o trauma (o estímulo não condicionado) que produz uma resposta de medo é associado, por meio do condicionamento clássico, a um estímulo condicionado (lembretes do trauma, comovisões, cheiros ou sons). Segundo, por intermédio da aprendizagem instrumental, estímulos condicionados despertam a resposta de medo independente do estímulo não condicionado original, e as pessoas desenvolvem um padrão de evitação. Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero O TEPT é mais prevalente no sexo feminino ao longo da vida. Mulheres na população em geral sofrem TEPT de duração maior do que os homens. Parte disso parece ser atribuível a probabilidade maior de exposição ao estupro e outras formas de violência. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 Risco de Suicídio Eventos traumáticos, como abuso infantil, aumentam o risco de suicídio de uma pessoa. O TEPT está associado a ideação suicida e tentativas de suicídio, e a presença do transtorno pode indicar quais indivíduos com essa ideação acabam elaborando um plano de suicídio ou de fato tentam cometer suicídio. Consequências Funcionais do TEPT O TEPT está associado a níveis elevados de incapacidades sociais, profissionais e físicas, bem como custos econômicos consideráveis e altos níveis de utilização de serviços médicos. O prejuízo ao funcionamento fica evidente nos domínios social, interpessoal, do desenvolvimento, educacional, da saúde física e profissional. O TEPT está associado a relações sociais e familiares empobrecidas, ausências ao trabalho, renda mais baixa e menor sucesso acadêmico e profissional. Comorbidade Indivíduos com TEPT são 80% mais propensos aos diagnósticos de pelo menos um outro transtorno mental. Os transtornos por uso de substância e o transtorno da conduta comórbidos são mais comuns no sexo masculino do que no feminino. Embora a maioria das crianças pequenas com TEPT também apresente pelo menos um outro diagnóstico, os padrões de comorbidade são diferentes dos de adultos, com transtorno de oposição desafiante e transtorno de ansiedade de separação predominando. Existe comorbidade considerável entre TEPT e transtorno neurocognitivo maior e alguns sintomas sobrepostos entre esses transtornos. Fatores biológicos Em populações clínicas, os dados apoiaram as hipóteses de que os sistemas noradrenérgico e opioide endógeno, assim como o eixo HHS, são hiperativos em pelo menos alguns pacientes com TEPT. Outros achados biológicos importantes são atividade aumentada e responsividade do sistema nervoso autônomo, evidenciado por leituras elevadas do ritmo cardíaco e PA e pela arquitetura anormal do sono (fragmentação do sono e aumento na latência). Tratamento As principais abordagens são apoio, encorajamento para discutir o evento e educação sobre uma variedade de mecanismos de enfrentamento. Ao encorajar as pessoas a falarem sobre o que aconteceu, é imperativo que o clínico lhes permita avançar conforme seu próprio ritmo. Algumas não estarão dispostas a falar até que o evento tenha passado, e sua vontade deve ser respeitada. Pressionar uma pessoa que está relutante em falar sobre um trauma provavelmente aumente, em vez de reduzir, o risco de desenvolvimento de TEPT. O uso de sedativos e hipnóticos também pode ser útil em alguns casos. Farmacoterapia ISRSs, como sertralina e paroxetina, são considerados tratamentos de primeira linha para TEPT devido a seus índices de eficácia, tolerabilidade e segurança. A buspirona é serotonérgica e também pode ser útil. A eficácia da imipramina e da amitriptilina, duas substâncias tricíclicas, no tratamento de TEPT é apoiada por inúmeros ensaios clínicos bem controlados. Os pacientes que respondem bem devem provavelmente continuar a farmacoterapia por pelo menos um ano antes que seja tentada a retirada da droga. Outras substâncias que podem ser úteis no tratamento de TEPT incluem os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) (fenelzina), trazodona e os anticonvulsivantes (carbamazepina, valproato). O uso de clonidina e propranolol, que são agentes antiadrenérgicos, é sugerido pelas teorias sobre a hiperatividade noradrenérgica. Psicoterapia A psicoterapia psicodinâmica pode ser útil no tratamento do TEPT. Em alguns casos, a reconstrução dos eventos traumáticos com a associada ab-reação e catarse pode ser terapêutica, mas a psicoterapia deve ser individualizada. As intervenções incluem terapia comportamental, terapia cognitiva e hipnose. Depois que se desenvolveu TEPT, duas principais abordagens terapêuticas podem ser seguidas. A primeira é a terapia de exposição. As exposições podem ser intensas, como na terapia implosiva, ou graduais, como na dessensibilização sistemática. A segunda é ensinar ao paciente técnicas e abordagens cognitivas para enfrentamento do estresse. Terapia de grupo e terapia familiar também foram reportadas como eficazes no TEPT. Poderá ser necessária hospitalização quando os sintomas forem particularmente graves ou quando existir risco de suicídio ou outra forma de violência. TRANSTORNO DE ESTRESSE AGUDO Critérios Diagnósticos DSM-5 308.3 (F43.0) A. Exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou violação sexual em uma (ou mais) das seguintes formas: 1. Vivenciar diretamente o evento traumático. 2. Testemunhar pessoalmente o evento ocorrido a outras pessoas. 3. Saber que o evento ocorreu com familiar ou amigo próximo. Nota: Nos casos de morte ou ameaça de morte de um familiar ou amigo, é preciso que o evento tenha sido violento ou acidental. 4. Ser exposto de forma repetida ou extrema a detalhes aversivos do evento traumático (ex: socorristas que recolhem restos de corpos humanos, policiais repetidamente expostos a detalhes de abuso infantil). Nota: Isso não se aplica à exposição por intermédio de mídia eletrônica, televisão, filmes ou fotografias, a menos que tal exposição esteja relacionada ao trabalho. B. Presença de nove (ou mais) dos seguintes sintomas de qualquer uma das cinco categorias de intrusão, humor negativo, dissociação, evitação e excitação, começando ou piorando depois da ocorrência do evento traumático: Sintomas de intrusão 1. Lembranças angustiantes recorrentes, involuntárias e intrusivas do evento traumático. Nota: Em crianças, pode ocorrer a brincadeira repetitiva na qual temas ou aspectos do evento traumático são expressos. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 2. Sonhos angustiantes recorrentes nos quais o conteúdo e/ou o afeto do sonho estão relacionados ao evento. Nota: Em crianças, pode haver pesadelos sem conteúdo identificável. 3. Reações dissociativas (ex: flashbacks) nas quais o indivíduo sente ou age como se o evento traumático estivesse acontecendo novamente (podem ocorrer em um continuum, com a expressão mais extrema sendo a perda completa de percepção do ambiente ao redor.) Nota: Em crianças, a reencenação específica do trauma pode ocorrer nas brincadeiras. 4. Sofrimento psicológico intenso ou prolongado ou reações fisiológicas acentuadas em resposta a sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a algum aspecto do evento traumático. Humor negativo 5. Incapacidade persistente de vivenciar emoções positivas (ex: incapacidade de vivenciar sentimentos de felicidade, satisfação ou amor).Sintomas dissociativos 6. Senso de realidade alterado acerca de si mesmo ou do ambiente ao redor (ex: ver-se a partir da perspectiva de outra pessoa, estar entorpecido, sentir-se como se estivesse em câmera lenta). 7. Incapacidade de recordar um aspecto importante do evento traumático (geralmente devido a amnésia dissociativa, e não a outros fatores, como traumatismo craniano, álcool ou drogas). Sintomas de evitação 8. Esforços para evitar recordações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca do, ou fortemente relacionados ao, evento traumático. 9. Esforços para evitar lembranças (pessoas, lugares, conversas, atividades, objetos, situações) que despertem recordações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca do, ou fortemente relacionados ao, evento traumático. Sintomas de excitação. 10. Perturbação do sono (ex., dificuldade de iniciar ou manter o sono, sono agitado). 11. Comportamento irritadiço e surtos de raiva (com pouca ou nenhuma provocação) geralmente expressos como agressão verbal ou física em relação a pessoas ou objetos. 12. Hipervigilância. 13. Problemas de concentração. 14. Resposta de sobressalto exagerada. C. A duração da perturbação (sintomas do Critério B) é de três dias a um mês depois do trauma. Nota: Os sintomas começam geralmente logo após o trauma, mas é preciso que persistam no mínimo três dias e até um mês para satisfazerem os critérios do transtorno. D. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância ou outra condição médica (ex: lesão cerebral traumática leve) e não é mais bem explicada por um transtorno psicótico breve. Desenvolvimento e Curso O transtorno de estresse agudo não pode ser diagnosticado até três dias depois de um evento traumático. Apesar de o transtorno poder progredir para o transtorno de estresse pós-traumático depois de um mês, ele também pode ser uma resposta de estresse temporária que cede e não resulta em TEPT. Consequências Funcionais do Transtorno de Estresse Agudo O prejuízo funcional nos domínios social, interpessoal ou profissional tem sido demonstrado entre sobreviventes de acidentes, assalto e estupro que desenvolvem transtorno de estresse agudo. Os níveis extremos de ansiedade que podem estar associados ao transtorno podem interferir no sono, nos níveis de energia e na capacidade de realizar tarefas. A evitação pode resultar em afastamento generalizado de muitas situações percebidas como potencialmente ameaçadoras, o que pode levar ao não comparecimento a consultas médicas, à evitação de dirigir para compromissos importantes e ao absenteísmo no trabalho. TRANSTORNOS DE ADAPTAÇÃO Critérios Diagnósticos DSM-5 A. Desenvolvimento de sintomas emocionais ou comportamentais em resposta a um estressor ou estressores identificáveis ocorrendo dentro de três meses do início do estressor ou estressores. B. Esses sintomas ou comportamentos são clinicamente significativos, conforme evidenciado por um ou mais dos seguintes aspectos: 1. Sofrimento intenso desproporcional à gravidade ou à intensidade do estressor, considerando-se o contexto cultural e os fatores culturais que poderiam influenciar a gravidade e a apresentação dos sintomas. 2. Prejuízo significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. A perturbação relacionada ao estresse não satisfaz os critérios de outro transtorno mental e não é meramente uma exacerbação de um transtorno mental preexistente. D. Os sintomas não representam luto normal. E. Uma vez que o estressor ou suas consequências tenham cedido, os sintomas não persistem por mais de seis meses. Determinar o subtipo: 309.0 (F43.21) Com humor deprimido: Humor deprimido, choro fácil ou sentimentos de desesperança são predominantes. 309.24 (F43.22) Com ansiedade: Nervosismo, preocupação, inquietação ou ansiedade de separação são predominantes. 309.28 (F43.23) Com misto de ansiedade e depressão: Predomina uma combinação de depressão e ansiedade. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 309.3 (F43.24) Com perturbação da conduta: Predomina a pertubação da conduta. Exemplos de comportamento são evasão escolar, vandalismo, direção perigosa e brigas. A categoria deve ser diferenciada dos transtornos da conduta e da personalidade antissocial. 309.4 (F43.25): Com perturbação mista das emoções e da conduta: Tanto sintomas emocionais (ex: depressão, ansiedade) como perturbação da conduta são predominantes. 309.9 (F43.20): Não especificado: Para reações mal-adaptativas que não são classificáveis como um dos subtipos específicos do transtorno de adaptação. Exemplos são respostas inapropriadas ao diagnóstico de doença física, como negação massiva, não adesão grave ao tratamento e afastamento social, sem humor deprimido ou ansioso significativo. Prevalência A porcentagem de indivíduos em tratamento ambulatorial de saúde mental com um diagnóstico principal de transtorno de adaptação vai de aproximadamente 5 a 20%. Em serviços de consultoria psiquiátrica hospitalar, com frequência é o diagnóstico mais comum, chegando muitas vezes a 50%. Desenvolvimento e Curso Por definição, a perturbação nos transtornos de adaptação começa dentro de 3 meses do início de um estressor e não dura mais do que 6 meses depois que o estressor e suas consequências cederam. Se o estressor for um evento agudo, o início da perturbação geralmente é imediato e a duração é relativamente breve (não mais do que poucos meses). Se o estressor e suas consequências persistirem, o transtorno de adaptação pode manter-se presente e evoluir para a forma persistente. Os transtornos de adaptação estão associados a um risco maior de tentativas e consumação de suicídio. Consequências Funcionais dos Transtornos de Adaptação Queda no desempenho profissional ou acadêmico e mudanças temporárias nas relações sociais. Um transtorno de adaptação pode complicar o curso da doença em indivíduos que tenham uma condição clínica geral (ex: menos obediência ao esquema médico; estada hospitalar mais prolongada). Comorbidade Transtornos de adaptação podem acompanhar a maioria dos transtornos mentais e qualquer distúrbio médico; podem ser diagnosticados junto a um outro transtorno mental apenas se este último não explicar os sintomas particulares que ocorrem na reação ao estressor. Comumente acompanham as doenças médicas e podem ser a principal resposta psicológica a um distúrbio médico. Psicoterapia A psicoterapia continua sendo o tratamento de escolha. Depois de uma terapia bem-sucedida, os pacientes às vezes emergem de um transtorno de adaptação mais fortes do que no período pré-mórbido, embora nenhuma patologia fosse evidente naquele período. A psicoterapia pode ajudar as pessoas a se adaptarem aos estressores que não são reversíveis ou limitados no tempo e servir com uma intervenção preventiva se o estressor não ceder. Os psiquiatras que tratam transtornos de adaptação devem estar atentos sobretudo aos problemas do ganho secundário. Pacientescom transtorno de adaptação que inclui uma perturbação da conduta podem ter dificuldades com a lei, as autoridades ou a escola. Psiquiatras não devem tentar salvá-los das consequências de suas ações. Com muita frequência, essa benevolência só reforça meios socialmente inaceitáveis de redução da tensão e impede a aquisição de insight e o subsequente crescimento emocional. Nesses casos, terapia familiar pode ajudar. Intervenção em crise Intervenção em crise e manejo de caso são tratamentos de curta duração que visam ajudar as pessoas com transtornos de adaptação a resolverem suas situações rapidamente por meio de técnicas de apoio, sugestão, tranquilização, modificação ambiental e até mesmo hospitalização, se necessário. A frequência e a duração das consultas para apoio à situação de crise variam de acordo com as necessidades do paciente; sessões diárias poderão ser necessárias, até 2 ou 3 vezes ao dia. A flexibilidade é essencial nessa abordagem. Farmacoterapia Nenhum estudo avaliou a eficácia das intervenções farmacológicas em indivíduos com transtorno de adaptação, mas poderá ser adequado usar medicação para tratar sintomas específicos por um curto espaço de tempo. O uso criterioso de medicamentos pode ajudar pacientes com esses transtornos, mas eles devem ser prescritos por curtos períodos.