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INTRODUÇÃO A hanseníase ou doença de Hansen é causada pelo Mycobacterium leprae, parasita intracitoplasmático do macrófago, de alta infectividade e baixa patogenicidade. Na maioria dos casos, admite-se que a transmissão ocorra de pessoa para pessoa, pelo contato com pacientes multibaci- líferos (MB), que eliminam o bacilo pelo trato respiratório superior, principalmente ao falar e tossir. O tempo médio de incubação é variável, de 2 a 5 anos para os casos paucibacilares e 5 a 10 anos para os multibacilares. O risco de adoecer, em relação à população geral, é 2 a 3 vezes maior entre os comunicantes de pacientes paucibacilares e 5 a 10 vezes entre os comunicantes dos multibacilares. Em áreas endêmicas, a maioria da população adulta está infectada com M. leprae, porém estima-se que 5% desenvolverão doença. Como o bacilo é obrigatoriamente intracelular, a maioria dos pacientes não transmite. EPIDEMIO Após a introdução e implementação do tratamento poliquimioterápico (PQT) para a hanseníase na década de 1980, verificou-se importante declínio da prevalência global: de 5 milhões de enfermos em 1982, para menos de um milhão em 1991. Mais de 25 milhões de doentes foram considerados curados com a PQT desde a sua introdução. no início de 2014, 102 países registraram casos novos de hanseníase, com número preocupante em áreas previamente endêmicas. O Brasil é um dos poucos países que não atingiram a meta da eliminação e registra, até o momento, mais de 30.000 casos por ano. Meta de eliminação proposta pela OMS (1 caso a cada 10 mil) ate o ano 2000. Em relação à incidência (número de casos diagnosticados por ano), verificou-se redução progressiva – de 775.000 em 2001 para 215.656 casos novos no mundo, em 2013. Em muitos países, inclusive o Brasil, chamam atenção os casos novos entre crianças e enfermos recém-diagnosticados apresentando deformidades. Os dados de 2013 demonstram que, entre os novos casos, 13.289 apresentavam grau 2 de incapacidade no momento do diagnóstico, o que reflete a baixa capacidade dos sistemas de saúde para detectar a doença precocemente; 9,2% dos casos acometeram crianças, o que também indica a transmissão importante da doença. FISIOPATO A resposta de imunidade desenvolvida pelo hospedeiro contra o Mycobaterium leprae é fator determinante de vários desfechos: desenvolvimento ou não da doença, forma clínica no espectro e aparecimento das reações hansênicas. O M. leprae é agente intracelular de multiplicação lenta e baixa patogenicidade, com pouca variabilidade genética, o que ressalta a importância dos fatores de resistência do hospedeiro desencadeados pela resposta imune, na evolução e apresentação espectral da hanseníase. Pelo fato de o M. leprae ser parasita intracelular, a resposta da imunidade celular resulta em ativação macrofágica e destruição bacilar, enquanto os mecanismos de imunidade humoral não conferem proteção. O êxito de uma resposta imune eficaz contra o M. leprae é igual à destruição bacilar, com mínimo dano tecidual. Para tanto, é fundamental o desenvolvimento rápido e equilibrado dos mecanismos de imunidade inata na fase precoce da infecção. • IMUNIDADE INATA Esta primeira linha de defesa contra a infecção pelo bacilo de Hansen se dá com atuação rápida, mas nem sempre suficiente para a destruição total do patógeno. Ocorre, então, interação com a resposta imune adaptativa, cuja atuação específica, via linfócitos T e B, amplifica e complementa as ações da imunidade imediata. envolve diversos elementos celulares: células apresentadoras de antígeno, tais como os macrófagos e as células dendríticas. O reconhecimento do M. leprae por células do sistema imune inato se realiza pela expressão em suas membranas de receptores de reconhecimento padrão (PRR, do inglês pattern recogni-tion receptors), sendo bem conhecidos os Toll- like receptors (TLR). A ligação dos TLR localizados na superfície celular com moléculas do bacilo→ inicia uma cadeia de eventos intracelulares regulados pelo fator transcripcional permitindo a ativação de genes de quimiocinas e citocinas→atraindo e ativando outras células como linfócitos T e B. Assim, faz-se a conexão com a resposta de imunidade adaptativa, podendo ser desencadeada resposta protetora ou inflamatória por meio de elementos da imunidade inata, num mecanismo de interação e retroalimentação. Um exemplo é a produção de IL-12 após ativação do TLR2/1 por lipoproteínas do M. leprae, induzindo ao estímulo de células Th1 com resposta de imunidade celular, o que permite ativação macro- fágica e destruição do bacilo. Outro tipo de PRR localizados no citoplasma, os NOD reconhecem componentes da parede da micobactéria, ativando proteínas do inflamassoma, com indução de IL-1β e IL- 18. Hanseníase Os macrófagos participam ativamente na defesa contra as micobactérias e, no caso da hanseníase, podem se tornar o principal hospedeiro do M. leprae. A fagocitose é mediada por receptores do complemento (CR1, CR3, CR4), sendo fundamental para o desenvolvimento de mecanismos digestivos no fagossomo que permitem o processamento e apresentação dos antígenos para indução de imunidade adaptativa. Além disso, a fusão dos fagossomos com os lisossomos promove a destruição do bacilo. Portanto, a sobrevivência do M. leprae no interior do macrófago depende do desenvolvimento de mecanismos que impeçam a fusão fagossomo-lisossomo, o que certamente ocorre no polo lepromatoso. A função macrofágica é regulada pela imunidade inata, por meio de citocinas como a IL-15, que estimula mecanismos antimicrobianos associados a vitamina D. As células dendríticas são importantes na interação entre imunidade inata e adaptativa, ao apresentar antígenos proteicos aos linfócitos T CD4+ e CD8+, via MHC classe II e classe I, respectivamente.. • IMUNIDADE ADQUIRIDA Após a apresentação antigênica, e na dependência de quimiocinas e citocinas produzidas por células da imunidade inata, os linfócitos CD4+ e CD8+ respondem com proliferação, diferenciação e produção de diversas citocinas de ações distintas, como exemplo clássico: as do tipo Th1, como IFN-γ, associada a estímulo da imunidade celular; Th2, como IL-4, indutora de imunidade humoral; Th17 como IL-17, vinculada à resposta inflamatória. Assim, no polo tuberculoide(pauci) há predomínio da resposta Th1, com predominância de células T CD4+ no infiltrado granulomatoso, onde não se consegue detectar a presença do bacilo e se encontra produção tecidual de linfotoxina α/β, IL-12, IL-18, GM-CSF, IL-2, e IFN-γ. A resposta imune humoral é fraca, muitas vezes não sendo possível detectar anticorpos específicos contra os antígenos do bacilo. No polo lepromatoso (multi)= predomínio de TH2 existe predomínio de células CD8+ e macrófagos contendo grande quantidade de bacilos no infiltrado celular, além de células T regulatórias, que também estão aumentadas no sangue periférico dos pacientes, sugerindo papel importante ao inibir a resposta Th1 e facilitar a disseminação do M. leprae. As células Treg atuam, entre outros mecanismos, mediante a produção de TGF-β, encontrado em lesões LL e ausente nas lesões tuberculoides, contribuindo para a supressão da atividade Th1 pela inibição da produção de IFN-γ. A maior resposta Th2 também se caracteriza pela produção de IL-4 e IL-5; por exemplo, com aumento da imunidade humoral e depressão da res-posta de imunidade celular. A consequência desse processo: esses pacientes não apresentam proliferação de linfócitos T frente a antígenos micobacterianos, e essa anergia persistirá mesmo após o tratamento específico e cura. + produção de altos títulos de anticorpos contra o M. leprae, podendo ocorrer também geração de autoanticorpos. Essa resposta humoral exacerbada não se associa com ativaçãomacrofágica, não sendo, portanto, protetora e pode estar associada à patogênese da reação tipo 2. essa dicotomia Th1/Th2 descrita nos extremos do espectro não é encontrada em muitos pacientes, já que as formas borderline se caracterizam por resposta imune instável e grande heterogeneidade funcional. QC CLASSIFICAÇÃO Em todas as formas clínicas de hanseníase, exceto na hanseníase indeterminada, existe a possibilidade de espessamento dos nervos periféricos, tais como: ulnar, mediano, radial, fibular (ciático poplíteo externo) e tibial posterior. A neurite pode ser a primeira manifestação da doença • PAUCIBACILAR (indeterminada e tuberculoide) Indeterminada manchas hipocrômicas. A boa iluminação é essencial para o exame adequado do paciente. Característica importante dessa apresentação é a alteração da sensibilidade térmica na área, quando avaliada pelo teste do tubo de ensaio com água quente ou fria. As sensibilidades dolorosa e tátil estão normais. O número de lesões depende da imunidade celular, geneticamente determinada, específica para M. leprae. Quanto maior a resistência ao M. leprae, menor será o número de machas e/ou nervos envolvidos. Um excelente método diagnóstico nessa forma clínica é a prova da histamina. A aplicação de uma gota de solução milesimal de histamina na pele normal, seguida de escarificação com agulha estéril, provoca o surgimento, em segundos ou minutos, da tríplice reação de Lewis . Na pele comprometida pela hanseníase, não ocorrerá a fase secundária, que depende da integridade dos filetes nervosos. A principal indicação do teste da histamina é o diagnóstico diferencial da forma indeterminada com outras doenças que se manifestam com manchas hipocrômicas (eczemátide, hipocromia residual e outras); Fazem parte do diagnóstico diferencial da hanseníase indeterminada: pitiríase versicolor, eczemátide, micose fun-goide, dermatite seborreica, hipocromia macular progressiva, nevo hipocromico, vitiligo e outras enfermidades que se apresentem com hipocromia. Sem tto evolui p hanseníase tuberculoide ou cura. Em geral, a baciloscopia é negativa; se positiva indica evolução para formas multibacilares. Na histopatologia, observa-se infiltrado inflamatório pouco específico, constituído por linfócitos e, às vezes, histiócitos, em torno de vasos superficiais e profundos, podendo acometer os anexos cutâneos, em especial os filetes neurais e a musculatura piloeretora, com raros bacilos. Gran-de número de bacilos indica evolução para MB. Tuberculoide observa-se poucas le-sões; são pequenas, com aspecto em placa e bordas bem definidas. Na fase inicial da evolução de hanseníase indeterminada para hanseníase tuberculoide pode-se observar lesões papulosas sobre as máculas hipocrômicas. Na pele branca, há eritema e hipocromia; na escura, pode ser hipocrômica ou cor de cobre. verifica-se alteração da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. hanseníase tuberculoide da infância, também conhecida como nodular infantil. Clinicamente, pode haver lesão nodular ou pequenas placas. É comum a cura espontânea. Lesoes localizados na face, mesmo com longa evolução, a sensibilidade pode estar normal – a rica inervação sensorial compensa as alterações que ocorrem nas terminações neurais da lesão. A sudorese pode estar diminuída ou ausente; é frequente a queda de pelos nos casos com longa evolução. A baciloscopia é negativa. Na histopatologia, evidencia-se a presença de granulomas, loca-lizados em torno de vasos, anexos cutâneos e filetes nervosos, constituídos de células epitelioides bem diferenciadas, células gigantes tipo Langhans e linfócitos, esses dispostos em nítida orla ao redor dos granulomas, e representam o grau máximo de resposta imunológica aos bacilos. No diagnóstico diferencial estão incluídos a dermatofitose, granuloma anular, granuloma facial, sífilis secundária, sarcoidose, lúpus eritematoso crônico, psoríase, esclerodermia em placa, dermatite seborreica, pitiríase rósea de Gilbert, tuberculose cutânea. • MULTIBACILARES (VIRCHOWIANA E DIMORFA) Dimorfa/ borderline o acometimento de troncos nervos periféricos é múltiplo e mais grave. Quanto maior for o número de lesões cutâneas, maior será a chance de os troncos nervosos periféricos serem acometidos e, consequentemente, o desenvolvi-mento de paralisias e incapacidades. com tratamento, tendem a evoluir em direção ao polo T; sem tratamento, pioram, progressivamente, em direção a hanseníase virchowiana. Os pacientes de hanseníase borderline, com frequência, apresentam quadros reacionais, denominados tipo1; Tipos: borderline-tuberculoide (placas grandes e digitações a partir das bordas ou grandes manchas hipocromicas); borderline-borderline (queijo suíço- placas apresentando centro aparentemente poupado e bordas internas relativamente bem definidas; as bordas externas são mal definidas, difusas, inva-dindo a pele normal). Borderline-virchowiana: inicia-se com múltiplas man- chas hipocrômicas, apresentando distribuição simétrica. Com o tempo, as máculas aumentam de tamanho, tornam-se eri-tematosas e infiltram-se. Virchowiana Os pacientes de hanseníase virchowiana são anérgicos, não desenvolvem imunidade celular para o M. leprae. É comum surgir a partir da forma indeterminada, nos pacientes que apresentam grande número de lesões, que adquirem aspecto eritematoso e, progressivamente, infiltram-se, ocupando extensas áreas do tegumento. pode, também, surgir a partir da evolução de pacientes com hanseníase borderline. Sem tratamento, áreas aparentemente normais do tegumento também se infiltram e toda (ou quase) a superfície cutânea é envolvida por intensa infiltração; em muitos casos pode haver desaparecimento dos sulcos normais da pele. Nas áreas infiltradas, verifica-se a queda progressiva dos pelos (sobrancelhas e cílios). Fácies leonina+ Infiltração das mãos e pés são comuns nos casos mais avançados. Ictiose adquirida é frequente nos membros inferiores. Lentamente, as áreas infiltradas são recobertas por lesões papulosas e nodulares, isoladas ou confluentes, aumentando de tamanho com o tempo. Áreas mais quentes do corpo, tais como as axilas, viri- lhas, períneo e couro cabeludo, em geral, são poupadas ou pouco envolvidas. Com a progressão da doença, os troncos nervosos periféricos também podem infiltrar-se e aumentar de volume. A consequência será a diminuição da sensibilidade nas mãos, pés e outras áreas comprometidas. Dependendo do grau de comprometimento neural, podem surgir incapacidades. Em todas as variedades clínicas da hanseníase virchowiana, pode haver acometimento mucoso do trato respiratório superior, ocasionando coriza, exsudato seropurulento e epistaxe. Em casos graves, pode ocorrer envolvimento e destruição óssea da pirâmide nasal, com deformidade permanente do nariz. Os olhos também podem ser acometidos em casos com diagnóstico tardio, ocorrendo anestesia da córnea, uveíte, glaucoma a baciloscopia é fortemente positiva. A histopatologia evidencia infiltrado composto de macrófagos vacuolizados, contendo numerosos bacilos – células de Virchow; também são encontradas globias. O processo inflamatório é mais difuso, ocupando toda a extensão da derme e, por vezes, o tecido celular subcutâneo. O diagnóstico diferencial se faz com lues secundária, linfomas/leucemias cutâneas, xantoma eruptivo, farmacodermia, eritema nodoso, leishmaniose anérgica, doença de Jorge Lobo, lúpus eritematoso sistêmico, neurofibromatose. EXAME FÍSICO • AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Na fase inicial, ocorre a invasão dos nervos dérmicos ou superficiais→diminuição da sensibilidade térmica, tátil, dolorosa e alterações autonômicas, com perda da sudoresee pelos. A extensão e o grau da perda de sensibilidade e paralisia dependem da forma clínica da doença, quantidade e duração das estruturas envolvidas e episódios reacionais. Nos estádios mais avançados, um ou mais troncos nervosos, com fibras nervosas mistas são infectados e lesionados, podendo haver perda da sensibilidade superficial e profunda, bem como paralisia muscular. A lesão neural pode persistir sem a presença do bacilo; enzimas citotóxicas produzidas pela resposta imunológica são as responsáveis pela manutenção do processo A avaliação neurológica deverá ser realizada: • No início do tratamento • A cada três meses durante o tratamento se não houver queixas • Sempre que houver queixas, tais como: dor em trajeto de nervos, fraqueza muscular, início ou piora de queixas parestésicas • No controle periódico de doentes em uso de corticóides, em estados reacionais e neurites • Na alta do tratamento • No acompanhamento pós- operatório de descompressão neural com 15 (quin-ze), 45 (quarenta e cinco), 90 (noventa) e 180 (cento e oitenta) dias. Por que realizar avaliação neurológica? • Para identificar neurites precocemente (neurite silenciosa); • Para monitorar o resultado do tratamento de neurites; • Para identificar incapacidades físicas, subsidiar condutas e avaliar resultados. • Para auxiliar no diagnóstico de casos com sinais cutâneos discretos da doença, com testes de sensibilidade inconclusivos, pois achados de perdas funcionais focais e assimétricas à avaliação neurológica corroboram o diagnóstico de hanseníase. • HISTÓRIA Na anamnese, o histórico de dor e/ou parestesias nas áreas correspondentes aos nervos afetados, bem como a sensação de “dormência” em extremidades ou outras áreas específicas da pele são os sintomas preponderantes. No exame físico nota-se espessamento de nervos e redução da mobilidade. O Comprometimento das funções motoras e sensitivas pode evoluir rapidamente. Lesões de pele com alterações sensitivas nas proximidades do nervo comprometido podem definir o diagnóstico. Em pacientes tratados previamente, a neuropatia, muitas vezes, evolui sem dor, de forma lenta, com déficit motor, sensitivo, autonômico e trófico. Esse quadro neurológico é denominado paralisia neural silenciosa, também denominada neurite silenciosa. A perda isolada da função muscular não é relatada na hanseníase. A paralisia dos músculos sempre coexiste com a perda da sensibilidade cutânea. Na lesão neural sem tratamento e orientação adequada, pode haver destruição parcial do nervo, com dor e/ou dormência e perda da função; nos casos com longa evolução pode ocorrer a destruição total do nervo, com perda funcional grave, sem possibilidade de recuperação. Garras palmares (completas ou incompletas), garras plantares, queda do pé (“pé caído”), ulcerações plantares consequentes à anestesia da região plantar (mal perfurante plantar), perda óssea, in-capacidade para o fechamento adequado das pálpebras (la-goftalmo) e cegueira • TESTE DA SENSIBILIDADE Para o teste de sensibilidade recomenda-se a utilização do conjunto de monofilamentos de Semmes-Weinstein (6 monofilamentos: 0,05g, 0,2g, 2g, 4g, 10g e 300g) nos pontos de avaliação de sensibilidade em mãos e pés e do fio dental (sem sabor) para os olhos. Nas situações em que não estiver disponível o estesiômetro, deve-se fazer o teste de sensibilidade de mãos e pés ao leve toque da ponta da caneta esferográfica. • FORÇA MOTORA Para avaliação da força motora, preconiza-se o teste manual da exploração da força muscular, a partir da unidade músculo-tendinosa durante o movimento e da capacidade de oposição à força da gravidade e à resistência manual, em cada grupo muscular referente a um nervo específico. Os critérios de graduação da força muscular podem ser expressos como forte, diminuída e paralisada, ou de zero a cinco, conforme o Quadro 2 a seguir: • PROVA DA HISTAMINA Usa-se difosfato de histamina a 1,5% →Tríplice reação de Lewis: 1. Sinal da punctura: lesões puntiformes avermelhadas que surgem quase que imediato (até 15 segundos) à escarificação por agulha de insulina dentro da gota aplicada sobre a área hipocrômica; 2. Eritema reflexo: eritema que atinge de 2 a 8cm ao redor da área com limites fenestrados percebido a partir de 30 a 60 segundos após a escarificação; 3.Pápula: caracteriza-se por lesão intumecida lenticular que surge após 2 a 3 minutos no local da punctura/escarificação. Se não ocorrer o eritema, não sendo uma lesão de nascença (nervo anêmico), ou se o paciente não estiver utilizando antialérgicos, essa ocorrência (prova da histamina incompleta) é altamente sugestiva de hanseníase. O teste deve ser feito também em uma área de pele não comprometida, para controle positivo, onde a prova deve ser complEta • GRAU DE INCAPACIDADE E OMS O Grau de Incapacidade Física (GIF) é uma medida que indica a existência de perda da sensibilidade protetora e/ou deformidade visível em consequência de lesão neural e/ou cegueira. É um indicador epidemiológico que pode ser utilizado na avaliação do programa de vigilância de hanseníase, determinando a precocidade do diagnóstico e o sucesso das atividades que visam a interrupção da cadeia de transmissão. Portanto, a avaliação do GIF constitui uma importante ferramenta na identificação de pacientes com maior risco de desenvolver reações e novas incapacidades, durante o tratamento, no término da poliquimioterapia e após a alta. Todos os doentes devem ter o grau de incapacidade física e o escore OMP avaliado, no mínimo, no momento do diagnóstico e da cura, comparando as duas classificações e no pós-alta, a fim de comparar a avaliação com a classificação no momento da alta da PQT DIAGNÓSTICO CLÍNICO, exames subsidiários podem ser feitos quando disponíveis: baciloscopia e biopsia de pele na maior parte dos casos, os exames subsidiários não serão necessários para o diagnóstico e classificação dos doentes. Sempre interprete os resultados de exames laboratoriais associados ao quadro clínico do doente, para não correr o risco de cometer erro diagnóstico e de classificação. Havendo dúvidas quanto à classificação para fins de tratamento (PB ou MB), após a confirmação do diagnóstico pela história clínica e exame físico, sobretudo em adultos, descreva seus achados na ficha de notificação e trate o paciente como MB. O diagnóstico de hanseníase deve ser baseado na história de evolução da lesão, epidemiologia e no exame físico (nervos periféricos espessados e/ou lesões de pele ou áreas de pele com alterações de sensibilidade térmica e/ou dolorosa e/ou tátil, altera- ções autonômicas circunscritas quanto à reflexia à histamina e/ou à sudorese). Em algumas situações, os exames subsidiários (baciloscopia e biópsia de pele) podem ser necessários para auxiliar o diagnóstico, porém sempre devemos considerar as limita-ções desses exames, valorizando essencialmente os achados clínicos encontrados. • BACILOSCOPIA →positiva em multibacilares (virchowiana e dimorfa) Se houver lesões suspeitas de hanseníase dimorfa e o diagnóstico clínico não puder ser confirmado por meio do exame dermatoneurológico (deficientes mentais, pacientes não responsivos), a coleta da baciloscopia deve ser feita, preferencialmente, na borda da(s) lesão(ões) de pele suspeita(s), e na(s) mais infiltrada(s). Pode ser coletado material também dos lóbulos das orelhas e dos cotovelos (áreas “frias” da pele), quando não houver lesões de pele visíveis. Havendo lesões visíveis, sempre uma lesão de pele, pelo menos, deve ser representada. →negativa em paucibacilares (tuberculoide e indeterminada) • BIÓPSIA (EXAME HISTOPATOLÓGICO) a biópsia de pele deverá ser feita por profissional capacitado, fixada em 5 a 10ml de formol a 10%,e enviada para laboratório de referência. Sempre colocar a hipótese diagnóstica na requisição. Na hanseníase indeterminada, encontra-se, na maioria dos casos, um infiltrado inflamatório que não confirma o diagnóstico de hanseníase. A procura de bacilos (BAAR) é quase sempre negativa. Na hanseníase tuberculóide, encontra-se um granuloma do tipo tuberculóide (ou epitelióide) que destrói pequenos ramos neurais, agride a epiderme e outros anexos da pele. (BAAR) é negativa. Na hanseníase virchowiana, encontra-se um infiltrado histiocitário xantomizado ou macrofágico, e a pesquisa de bacilos mostra incontáveis bacilos dispersos e organizados em grumos (globias). Na hanseníase dimorfa, há um infiltrado linfo- histiocitário, que varia desde inespecífico até com a formação de granulomas tuberculóides; a baciloscopia da biópsia é positiva, sobretudo nos nervos dérmicos e nos músculos lisos dos pelos. NOTA: Resultados negativos para baciloscopia da biópsia NÃO excluem o diagnóstico clínico da hanseníase. Em pacientes com clínica de hanseníase multibacilar, desconsidere a baciloscopia da biópsia e trate-os como MB. Em casos dimorfos iniciais, pode já haver muitos bacilos em nervos, e poucos no infiltrado. Esse resultado depende muito do tempo de procura e da representatividade do material. Em um dimorfo, e às vezes até em um virchowiano, se a pesquisa de bacilos não for feita em uma lâmina corada pela técnica de Faraco-Fite, quase sempre o resultado é falso-negativo (o bacilo não se cora em vermelho). Lembre-se de que a clínica é soberana! TTO POLIQUIMIOTERAPIA O tratamento da hanseníase é realizado através da associação de medicamentos (poliquimioterapia – PQT) conhecidos como Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. Deve-se iniciar o tratamento já na primeira consulta, após a definição do diagnóstico, se não houver contraindicações formais (alergia à sulfa ou à rifampicina). O paciente PB receberá uma dose mensal supervisionada de 600 mg de Rifampicina, e tomará 100 mg de Dapsona diariamente (em casa). O tempo de tratamento é de 6 meses (6 cartelas). Caso a Dapsona precise ser suspensa, deverá ser substituída pela Clofazimina 50 mg por dia, e o paciente a tomará também 300 mg uma vez por mês na dose supervisionada. O paciente MB receberá uma dose mensal supervisionada de 600 mg de Rifampicina, 100 mg de Dapsona e de 300 mg de Clofazimina. Em casa, o paciente tomará 100 mg de Dapsona e 50 mg de Clofazimina diariamente. O tempo de tratamento é de 12 meses (12 cartelas). Caso a Dapsona precise ser suspensa, deverá ser substituída pela Ofloxacina 400 mg (na dose supervisionada e diariamente) ou pela Minociclina 100 mg (na dose supervisionada e diariamente). Caso haja náuseas, administre metoclopramida uma hora antes de tomar o medicamento. NOTA: As medicações diárias deverão ser tomadas 2 horas após o almoço para evitar intolerância gástrica e eventual abandono do tratamento por esse motivo. Se ainda assim houver dor epigástrica, introduzir omeprazol, ranitidina ou cimetidina pela manhã. Para o tratamento de crianças com hanseníase, deve- se considerar o peso corporal como fator mais importante do que a idade, seguindo as seguintes orientações: para crianças com peso superior a 50 kg deve-se utilizar o mesmo tratamento prescrito para adultos; para crianças com peso entre 30 e 50 kg deve- se utilizar as cartelas infantis (marrom/azul); para crianças menores que 30 kg deve-se fazer os ajustes de dose : • ESQUEMAS ALTERNATIVOS OBS: NOVA ATUALIZAÇÃO DO MS DE JANEIRO DE 2021 COLOCA O TTO DA HANSENIASE COMO TRIPLA TERAPIA PARA PAUCIBACILARES E MULTIBACILARES MANTENDO O MESMO TEMPO DE TTO. • REAÇÕES ADVERSAS →DAPSONA: reação alérgica na pele, agranulocitose, hemólise, hepatopatia e comprometimento renal→RETIRA. Anemia leve não retira e suplementa com ácido fólico e vit B. →RIFAMPICINA: urina escura, interage com anticoncepcionais orais, e raramente síndrome similar a dengue→interrompe e manda p referencia. →CLOFAZIMINA: aspecto bronzeado, ressecamento da pele e obstipação intestinal. REAÇÕES HANSENICAS são fenômenos de aumento da atividade da doença, com piora clínica que podem ocorrer de forma aguda antes, durante ou após o final do tratamento com a poliquimioterapia. Pacientes com carga bacilar mais alta (virchowianos) geralmente apresentam reações de início mais tardio, ou seja, no final ou logo após o término da PQT. Essas reações resultam da inflamação aguda causada pela atuação do sistema imunológico do hospedeiro que ataca o bacilo. As características típicas dessa resposta são: edema, calor, rubor, dor e perda da função. Uma vez que os bacilos da hanseníase afetam a pele e os nervos, as reações hansênicas cursam com inflamação nesses lugares. A inflamação em uma lesão de pele pode ser incômoda, mas raramente é grave; por outro lado, a inflamação em um nervo pode causar danos graves, como a perda da função originada do edema e da pressão no nervo. É de fundamental importância o rápido diagnóstico e manejo da reação, pois constituem a maior causa de lesão no nervo periférico e aumento das incapacidades. Não ocorrem em todos os pacientes, mas são frequentes, principalmente entre os pacientes multibacilares. É recomendável realizar o exame odontológico nos pacientes, pois focos infecciosos podem ser possíveis desencadeantes das reações hansênicas. É ainda importante atentar para infecções assintomáticas como, por exemplo, do trato urinário em idosos. As reações hansênicas tem origem em fenômenos de instabilidade e hiper-reatividade imunológica, como resposta à presença de antígenos do bacilo na pele e nervos periféricos. • tipo 1 se ocorrerem, sem mal estado geral do paciente, os seguintes sinais e sintomas: • as lesões de pele da hanseníase se tornarem mais avermelhadas e inchadas; e/ou • os nervos periféricos ficarem mais dolorosos; e/ou • houver piora dos sinais neurológicos de perda de sensibilidade ou perda de função muscular; e/ou • as mãos e pés ficarem inchados; e/ou • houver surgimento abrupto de novas lesões de pele até 5 anos após a alta medicamentosa. →Imunopatologia: A reação tipo 1 (RT1) ou reação reversa (RR) é consequente ao mecanismo de hipersensibilidade tardia a antí-genos do M. leprae, sendo mais comum em pacientes borderline, durante a poliquimioterapia. Na RR, a imunidade celular contra o bacilo está aumentada, promovendo mecanismos de destruição bacteriana e intensa inflamação tecidu-al que pode produzir danos irreversíveis, principalmente nos nervos periféricos. Durante a RT1, as lesões cutâneas apresentam aumento da quantidade de células de Langerhans, aumento da expressão de HLA-DR pelos queratinócitos e infiltração de células T na epiderme. Na derme, o denso infiltrado celular é composto principalmente por monócitos e células CD4+, com edema associado ao granuloma. Existe mudança no perfil de produção de citocinas, que passa de Th2 para Th1 nos pacientes multibacilares, possibilitando apresenta-rem resposta positiva ao teste de Mitsuda. →TTO: prednisona 1mg/kg/dia no café da manhã ou dexametasona 0,15mg/kg/dia (hipertensos e cardiopatas) + para dor nos nervos→ associar antidepressivo tricíclico em dose baixa (amitriptilina 25 mg por dia), associado a clorpromazina 5 gotas (5 mg) duas vezes ao dia, ou a carbamazepina 200 a 400 mg por dia →SURTO HANSENICO É AUTOLIMITADO DURANDO EM MEDIA DE 3-6 MESES. • TIPO 2 (eritema nodoso hansenico) • manchas ou “caroços” na pele, quentes, dolorosos e avermelhados, às vezes ulcerados; e/ou • febre, “dor nas juntas”, mal-estar; e/ou • ocasionalmente dor nos nervos periféricos (mãos e pés); e/ou • comprometimento dos olhos; e/ou • comprometimento sistêmico (anemia severa aguda, leucocitosecom desvio à esquerda, comprometimento do fígado, baço, linfonodos, rins, testículos, suprarrenais). →Imunopatologia: → A reação tipo 2 (RT2) ou eritema nodoso hansênico é caracterizada por reação inflamatória sistêmica, em pacientes multi, muitas vezes precipitada pelo início da poliquimio-terapia. A lesão cutânea do eritema nodoso hansênico se caracteriza por denso e profundo infiltrado inflamatório, podendo ocorrer vasculite. A RT2 tem patogenia complexa e obscura. Embora o dano tecidual e em nervos periféricos possa estar associado à deposição de imunocomplexos e hiperatividade Th2, existe também aumento transitório da resposta de imuni-dade celular contra o M. leprae. A maior expressão de citocinas Th2, tais como IL-4, IL-5 e IL-10, entre outras, aumenta a produção de anticorpos contra o bacilo com carga antigênica elevada, levando à formação de imunocomplexos, ativação de complemento, atração de granulócitos e inflamação, com lesão tecidual. →TTO= Para a dor nos nervos, utilizar o mesmo esquema antiálgico da reação tipo 1. Iniciar talidomida 100 a 400 mg/dia via oral (de preferência à noite, pela possibilidade de sonolência), de acordo com a gravidade do caso. Como alternativa, para mulheres em idade fértil ou em pacientes com contraindicações a talidomida, pode-se utilizar a pentoxifilina 400 mg três vezes ao dia, ou antiinflamatórios não hormonais. Associar prednisona 1 mg/kg/dia via oral (pela manhã, após o café da manhã) em casos de comprometimento dos nervos periféricos (bem definido após a palpação e avaliação da função neural), ou de outros órgãos que não a pele (olhos, articulações, testículos, etc), ou se houver ulcerações extensas (necrose da pele). Quando houver associação de talidomida e corticoide, deve-se prescrever ácido acetilsalicílico 100 mg/ dia como profilaxia de tromboembolismo. →SURTO HANSENICO É AUTOLIMITADO DURANDO EM MÉDIA 1 MÊS
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