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Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Nome: J.E.C Idade: 55 anos Sexo: Masculino Natural e procedente : São Paulo - SP Estado civil: Casado Profissão: Mestre de Obras Raça: negro Religião: católico QD: pressão alta há 15 anos HMA: Paciente informa hipertensão arterial sistêmica há 15 anos, com acompanhamento médico irregular. Informa dispnéia aos médios esforços, diminuindo, assim, a atividade física, associado a queixa de edema progressivo em membros inferiores, que melhoram ao se deitar. Além disso, queixa de apneias e roncos durante a noite, desde os 20 anos de idade. IC: Elementos gerais: Refere ganho de ganho de peso 1kg por ano, em média. Nega outras queixas ou alterações Orgãos dos sentidos: Nega alterações. Aparelho respiratório: Episódios de apnéia noturna, vide HMA. Aparelho cardiovascular: Dispnéia aos médios esforços e edema em membros inferiores, vide HMA. Nega outras queixas ou alterações. Aparelho digestório: Hábito intestinal diário, fezes com características normais sem sangue ou muco, nega disfagia, odinofagia, dor abdominal. Aparelho genito-urinário: Nega alterações. Aparelho hemolinfopoiético: nega astenia, hemorragias, linfonodomegalias, icterícia. Aparelho endocrinológico e neurológico: nega alterações. Aparelho mio-óstio-articular: nega alterações Aparelho neurológico: nega alterações Aparelho psíquico: nega alterações. Ana Júlia Cardoso Santos – T69 AP: Refere HAS não tratada há 15 anos. Nega DM, tuberculose, DST; nega tabagismo, nega etilismo. Nega alergias. Nega cirurgias ou internações prévias. AF: Pai falecido aos 50 anos por problemas cardíacos. Mãe portadora de HAS e DM. Desconhece patologias crônicas de irmãos. Nega patologias crônicas de esposa e filhos. Exame Físico: Regular estado geral, hidratado, corado, anictérico, acianótico, brevilíneo, perfusão periférica normal, PA: 160X80 mm/Hg, Pulso: 86 ppm, rítmico, T: 36,2ºC, FR: 23 irpm, IMC = 32, Circunferencia abdominal: 130 cm Cabeça e pescoço: sem alterações. Tórax: inspeção e palpação sem alterações, MV+ sem ruídos adventícios. BRNF em 2 tempos sem sopros. Desvio do ictus para o 4 espaço intercostal Abdome: globoso, ruidos hidroareos normais, sem massas palpáveis, sem visceromegalias Extremidades: pulsos presentes, simétricos, edema em membros inferiores 1+/4+ Conduta: Solicitados exames de sangue, ECG e MAPA. A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento superam os riscos. É caracterizada por elevação persistente da pressão arterial, ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica maior ou igual a 90 mmHg, medida com técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. A HA é uma patologia que mata mais por suas lesões nos órgãos alvo do que mortes diretamente relacionadas. As DCV são a principal causa de morte, hospitalizações e atendimentos ambulatoriais em todo o mundo, sendo um percentual de 27,3% e a HA estava associada a 45% delas. Segundo o GDB, a elevação da PAS foi o principal fator de risco de DALYs (anos perdidos de vida saudável). A prevalência foi de 31,9% em homens e 30,1% em mulheres. Um estudo mostrou que a prevalência de HA diminuiu nos países de alta renda e em alguns de média, enquanto nos países de baixa renda aumentou ou se manteve constante. Outro dado interessante é que ao longo da última década, 77% dos custos com hospitalizações no SUS com DAC são representados por DCV associadas à HA e aumentaram 32%, em reais, de 2010 a 2019. Ana Júlia Cardoso Santos – T69 A hipertensão pode ser: • Primária (85% dos casos) • Secundária Hipertensão primária Os componentes hemodinâmicos e fisiológicos (volume plasmático e atividade da renina plasmática) variam, indicando que a hipertensão primária tem baixa probabilidade de ter uma única causa. Mesmo que a princípio um fator seja responsável, múltiplos fatores provavelmente estão envolvidos na manutenção da pressão arterial elevada (teoria do mosaico). Nas arteríolas sistêmicas aferentes, a disfunção das bombas iônicas nos sarcolemas das células musculares lisas pode conduzir à elevação crônica do tônus vascular. A hereditariedade é um fator predisponente, mas o mecanismo exato não está esclarecido. Fatores ambientais parecem afetar somente pessoas geneticamente suscetíveis em idades mais jovens; no entanto, em pacientes > 65, é mais provável que alta ingestão de sódio precipite hipertensão. Hipertensão secundária Causas comuns incluem: • Aldosteronismo primário • Doenças do parênquima renal (glomerulonefrite ou pielonefrite crônica, doença renal policística, doenças do tecido conjuntivo e uropatia obstrutiva). • Doença renovascular • Apneia do sono Outras causas mais raras incluem feocromocitoma, síndrome de Cushing, hiperplasia adrenal congênita, hipertireoidismo, hipotireoidismo (mixedema), hiperparatireoidismo primário, acromegalia, coarctação da aorta e síndromes de excesso de mineralocorticoides além do aldosteronismo primário. A ingestão excessiva de álcool e o uso de contraceptivos orais são causas comuns de hipertensão curável. O uso de simpaticomiméticos, AINEs, corticoides, cocaína ou alcaçuz geralmente contribui para piorar o controle da pressão arterial. A regulação efetiva da pressão arterial é o resultado da atividade de sistemas de retroalimentação, que operam a curto e a longo prazo. O principal mecanismo de controle a curto prazo é desempenhado pelos reflexos que são originados nos pressorreceptores arteriais e nos receptores de estiramento da região cardiopulmonar. Os terminais barorreceptores não são estimulados pela pressão por si, são mecanorreceptores que respondem às alterações de estiramento da parede arterial causadas pelas alterações de pressão dentro do vaso. Portanto, a estimulação dos pressorreceptores arteriais produz redução reflexa da atividade simpática e amento da atividade vagal, resultando em dilatação arteriolar, venodilatação, bradicardia e redução da contratilidade miocárdica. Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Por fim, o sistema renina-angiotensina-aldosterona regula a pressão arterial mais lentamente, agindo principalmente sobre o volume sanguíneo. Quando a pressão cai, os rins liberam a enzima renina na corrente sanguínea, que converte o angiotensinogênio em angiotensina I, que por sua vez é convertida em angiotensina II pela ECA. A angiotensina II faz com que as paredes musculares das pequenas artérias se contraiam, aumentando a pressão arterial, além de provocar a liberação do hormônio aldosterona pelas glândulas adrenais e da vasopressina pela hipófise. 1. Genética Os fatores genéticos podem influenciar os níveis de PA entre 30-50%. 2. Idade Com o envelhecimento, a PAS torna-se um problema mais significante, resultante do enrijecimento progressivo e da perda de complacência das grandes artérias. 3. Sexo Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres. 4. Etnia A etnia é um fator de risco importante para a HA, mas condições socioeconômicas e de hábitos de vida parecem ser fatores mais relevantes para as diferenças na prevalência da HA do que a implicação étnica propriamente dita. 5. Sobrepeso/Obesidade Parece haver uma relação direta, contínua e quase linear para o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA. A maior prevalência de hipertensão na obesidade tem sido Ana Júlia Cardoso Santos – T69 atribuída à hiperinsulinemia decorrente da resistência à insulina presente em indivíduos obesos. A hiperinsulinemia promove ativação do sistema nervoso simpático e reabsorção tubular de sódio, o que contribui para aumentar a resistência vascular periférica e a pressãoarterial. 6. Ingestão de sódio e potássio Estudos de medida de excreção de sódio mostraram que naqueles com ingestão elevada de sódio, a PAS foi 4,5 mmHg a 6 mmHg maior e a PAD 2,3 mmHg a 2,5 mmHg em comparação com os que ingeriam quantidades recomendadas de sódio. De maneira inversa, o aumento na ingestão de potássio reduz os níveis pressóricos. A resposta da PA às variações na ingestão de sal é conhecida como sensibilidade ao sal. O grau de modificação da PA após mudanças abruptas na ingestão de sal varia consideravelmente de indivíduo para indivíduo. A sensibilidade ao sal também aumenta com a idade e é mais marcante em afro-americanos, obesos e pacientes com síndrome metabólica (SM) ou doença renal crônica (DRC). Os mecanismos de sensibilidade ao sal não estão ainda completamente entendidos. Anormalidade na formulação sódio e/ou cloreto podem levar à expansão de volume e hipertensão. Os mecanismos da reabsorção aumentada do sódio não estão bem entendidos. Possibilidades incluem atividade aumentada da troca Na-H no túbulo próxima, um co-transportador Na-K-2Cl na alça ascendente, um co-transportador Na-Cl no túbulo distal e o canal epitelial de sódio no ducto coletor. Além disso, há entrada aumentada de cálcio dentro do músculo liso vascular em resposta à ingestão excessiva de sódio. A entrada aumentada de cálcio provoca vasoconstrição e hipertensão. Algumas evidências sugerem que a PA aumentada proveniente da sensibilidade ao sódio resulta diretamente de prejuízo da dilatação vascular. 7. Sedentarismo Há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da PA e da HA, principalmente no que diz respeito a obesidade. No Brasil, 44,8% dos adultos não alcançaram um nível suficiente de prática de atividade física. 8. Álcool Há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingeriam seis ou mais doses ao dia. Algumas pesquisas apontam que o álcool colabora para o enrijecimento das artérias, prejudicando o bombeamento de sangue pelo corpo. 9. Fatores Socioeconômicos Entre os fatores socioeconômicos, podemos destacar menor escolaridade e condições de habitação inadequadas, além da baixa renda familiar, como fatores de risco significativos para HA. 10. Outros fatores de risco relacionados com a elevação da PA Medicações e drogas ilícitas relacionadas com a elevação de PA • Inibidores da monoaminaoxidase e os simpatomiméticos, como descongestionantes nasais. • Antidepressivos tricíclicos • Hormônios tireoidianos • Contraceptivos orais • Anti-inflamatórios não esteroides Ana Júlia Cardoso Santos – T69 • Carbexonolona e liquorice • Glicocorticoides • Ciclosporina • Eritropoietina • Drogas ilícitas (cocaína, cannabis sativa, anfetamina, MDMA) 11. Apneia Obstrutiva do Sono A AOS é uma condição clínica caracterizada pelo colapso intermitente das vias aéreas superiores durante o sono, acarretando obstruções totais (apneias) e parciais (hipopneias). As pausas respiratórias levam a maior esforço respiratório e geram redução da pressão intratorácica que aumentam a pressão transmural do ventrículo esquerdo, as quedas cíclicas da saturação de oxigênio (hipóxia intermitente), e hipercapnia (usualmente discreta) e a fragmentação do sono. Entre os mecanismos envolvidos com a HA, podemos citar a ativação do sistema nervoso simpático, a inflamação sistêmica, o aumento na produção de espécies reativas de oxigênio e a disfunção endotelial, entre outras. Como a pressão arterial é igual ao débito cardíaco (DC) x resistência vascular periférica (RVP) total, mecanismos patogênicos devem envolver: • DC aumentado • RVP aumentada • Ambos Na maioria dos pacientes, o débito cardíaco é normal ou levemente aumentado e a RVP está elevada. 1. Transporte anormal de sódio Em muitos casos de hipertensão, o transporte de sódio através da parede celular é anormal, pois a bomba de sódio-potássio é defeituosa ou inibida ou a permeabilidade aos íons de sódio aumenta. O resultado é o aumento do sódio intracelular, o que torna a célula mais sensível à estimulação simpática. O cálcio segue o sódio, de maneira que o acúmulo de cálcio intracelular pode ser responsável pelo aumento da sensibilidade. Como a bomba pode bombear noradrenalina de volta para os neurônios simpáticos (inativando esse neurotransmissor), a inibição desse mecanismo pode também exacerbar o efeito da noradrenalina, aumentando a pressão arterial. 2. Sistema nervoso simpático Não está estabelecido se tal resposta excessiva resulta do sistema nervoso simpático ou do miocárdio e musculatura lisa vascular. A FC elevada em repouso, que pode resultar do aumento da atividade nervosa simpática é um bem conhecido fator preditivo de hipertensão. 3. Sistema renina-angiotensina-aldosterona O sistema renina-angiotensina-aldosterona ajuda a regular o volume sanguíneo e, dessa forma, a pressão arterial. A renina, uma enzima formada no aparelho justaglomerular, catalisa a conversão do angiotensinogênio em angiotensina I. Esse produto inativo é clivado pela ECA, principalmente nos pulmões e também nos rins e cérebro, em angiotensina II, um potente vasoconstritor que Ana Júlia Cardoso Santos – T69 também estimula centros autônomos no cérebro para aumentar a estimulação simpática e estimular a liberação de aldosterona e vasopressina. Aldosterona e vasopressina provocam retenção de sódio e água, elevando a pressão arterial. A aldosterona também intensifica a excreção de potássio e os níveis baixos de potássio no plasma (< 3,5 mEq/L) aumentam a vasoconstrição pelo fechamento dos canais de potássio. A angiotensina III, presente na circulação, estimula a liberação da aldosterona tão ativamente quanto a angiotensina II, mas tem atividade vasoconstritora bem menos intensa. Como as enzimas quimases também convertem angiotensina I em angiotensina II, os fármacos que inibem a ECA não suprimem totalmente a produção de angiotensina II. A secreção da renina é, no mínimo, controlada por 4 mecanismos, que não são mutuamente exclusivos: • Um receptor vascular renal responde a alterações da tensão na parede arteriolar aferente. • Um receptor na mácula densa detecta alterações na taxa de fornecimento ou na concentração do cloreto de sódio no túbulo distal. • A angiotensina na circulação tem um efeito de feedback negativo sobre a secreção de renina. • O sistema nervoso simpático estimula a secreção de renina mediada por betarreceptores (através do nervo renal) 4. Deficiência de vasodilatador A deficiência de vasodilatador (p. ex., bradicinina e óxido nítrico), em vez de excesso de vasoconstritor (p. ex., angiotensina e noradrenalina), pode causar hipertensão. Redução do óxido nítrico devido a artérias rígidas está ligada à hipertensão sensível ao sal, um aumento desordenado de > 10 a 20 mmHg da pressão arterial sistólica após uma grande carga de sódio (p. ex., refeição de comida chinesa). Se os rins não produzirem quantidades adequadas de vasodilatadores (em virtude de doença do parênquima renal ou nefrectomia bilateral), pode haver aumento da pressão arterial. Vasodilatadores e vasoconstritores (principalmente endotelina) também são produzidos nas células endoteliais. Portanto, a disfunção endotelial afeta consideravelmente a pressão arterial. Patologia e complicações O mecanismo envolve desenvolvimento de arteriolosclerose generalizada e aceleração da aterogênese. A arterioloesclerose é caracterizada por hipertrofia medial, hiperplasia e hialinização; é particularmente evidente nas pequenas arteríolas, especialmente nos olhos e nos rins. Nos rins, as alterações estreitam o lúmen arteriolar, aumentando a RVPT e, dessa forma, hipertensão acarreta mais hipertensão. Além disso, com o estreitamento das artérias, qualquer discreto encurtamento adicional da musculatura lisa já hipertrofiada reduz o lúmen a um grau ainda maior que nas artérias comdiâmetro normal. Esses efeitos explicam por que quanto maior a duração da hipertensão, menor a probabilidade do tratamento específico para causas secundárias (p. ex., cirurgia renovascular) restaurar a pressão arterial ao nível normal. Em virtude do aumento da pós-carga, o ventrículo esquerdo hipertrofia-se gradualmente, levando à disfunção diastólica. Por fim, o ventrículo se dilata, evoluindo para miocardiopatia dilatada e insuficiência cardíaca resultante de disfunção sistólica frequentemente agravada por doença https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arterioesclerose/aterosclerose Ana Júlia Cardoso Santos – T69 coronariana arterioesclerótica. A dissecção da aorta torácica é tipicamente uma consequência da hipertensão, e quase todos os pacientes com aneurisma da aorta abdominal tem hipertensão. A avaliação inicial de um paciente com hipertensão arterial (HA) inclui a confirmação do diagnóstico, a suspeita e a identificação de causa secundária, além da avaliação do risco cardiovascular (CV). As lesões de órgão-alvo (LOA) e as doenças associadas também devem ser investigadas. Fazem parte dessa avaliação: a medida da pressão arterial (PA) no consultório e/ou fora dele, utilizando- se técnica adequada e equipamentos validados e calibrados, a obtenção de história médica (pessoal e familiar), a realização do exame físico e a investigação clínica e laboratorial. 1. Medida da pressão arterial no consultório Tradicionalmente, a pressão arterial foi dividida como normal, pré-hipertensão ou hipertensão com base na média de duas ou mais leituras tomadas em duas ou mais consultas. A pressão arterial deve ser medida pelo menos duas vezes após 5 minutos de repouso com o paciente sentado, com as costas apoiados e o braço nu e ao nível do coração. Um manguito grande, de tamanho adulto, deve ser usado para medir a pressão arterial em adultos com sobrepeso, porque o manguito de tamanho- padrão fará leituras falsamente elevadas. Tabaco e cafeína devem ser evitados por pelo menos 30 minutos. A pressão arterial deve ser medida em ambos os braços, para excluir a coarctação da aorta, e após 5 minutos de pé, para excluir uma queda significativa postural, principalmente em pessoas idosas e com diabetes ou outras doenças que predispõem à insuficiência autonômica. 2. MDPAC / MAPA / MRPA A medida desacompanhada da PA no consultório (MDPAC) consiste no paciente, depois de devidamente treinado, realizar sua própria medida em sala reservada por três vezes, com intervalos de um minuto (esse mecanismo reduz o efeito do avental branco). Na MDPAC, os valores obtidos pela medida ambulatorial da PA (MAPA) na vigília ou pela medida residencial da PA (MRPA). As principais vantagens da medição da PA fora do consultório são: • Maior número de medidas obtidas • Refletem as atividades usuais dos examinados. • Abolição ou sensível redução do efeito de avental branco (EAB) Ana Júlia Cardoso Santos – T69 • Maior engajamento dos pacientes com o diagnóstico e o seguimento. Só a MAPA avalia a PA durante o sono. Ambas, entretanto, estimam o risco CV, devendo ser consideradas aplicáveis para a avaliação da PA fora do consultório, respeitando-se as suas indicações e limitações. Continuação do diagnóstico: • Pessoas saudáveis com uma PA ótima no consultório (< 120/80 mmHg) ou com PA normal (120-129/80-84 mmHg) -> PA medida novamente pelo menos anualmente e nas consultas médicas. • Pacientes com pré-hipertensão (130-139/85-89 mmHg) -> PA medida anualmente ou, preferencialmente antes, devido às altas taxas de progressão para HA. Além disso, nos casos suspeitos de HM, a MAPA ou a MRPA devem ser realizadas para detectar tal fenótipo. • O diagnóstico de HA não deve se basear exclusivamente na medida da PA em apenas uma consulta médica (devido à alta variabilidade da PA), a menos que esteja substancialmente elevada (HA estágio 3) ou haja diagnóstico estabelecido de LOA ou de doença CV. São considerados hipertensos os indivíduos com PAS maior ou igual 140 mmHg e/ou PAD maior ou igual 90 mmHg. Quando utilizadas as medidas de consultório, o diagnóstico de HÁ deverá ser sempre validado por medições repetidas, em condições ideais, em duas ou mais visitas médicas em intervalos de dias ou semanas; ou de maneira mais assertiva, realizando-se o diagnóstico com medidas fora do consultório (MAPA ou MRPA), excetuando-se aqueles pacientes que já apresentam Ana Júlia Cardoso Santos – T69 LOA ou doença CV. Define-se a classificação de acordo com a PA do consultório e pelo nível mais elevado de PA, sistólica ou diastólica. Exames complementares 1. Análise de urina A presença de proteinúria e hemoglonina é indicativa de lesão renal 2. Creatinina plasmática Usada para avaliar a taxa de filtração glomerular e cálculo de clearance renal. 3. Potássio plasmático Níveis inferiores aos de referência -> rastrear a existência de uma causa secundária para hipertensão (hiperaldosteronismo primário – excesso de aldosterona reabsorve muito Na e elimina muito K). 4. Glicemia, colesterol e TG Dosagem contribui na estimativa do risco cardiovascular do paciente ao identificar DM e dislipidemias associadas. Ana Júlia Cardoso Santos – T69 5. Eletrocardiograma (ECG) Fornece informações sobre alteração do ritmo cardíaco e pode indicar sinais de sobrecarga ventricular esquerda e isquemia miocárdica. • Detecção precoce de HVE (sobrecarga) -> Na HAS crônica ocorre sobrecarga de VE por aumento da pós-carga e pode gerar consequentemente espessamento da parede ventricular esquerda. O espessamento só pode ser visto pelo ecocardiograma, que irá avaliar função sistólica e diastólica do coração. No eletro só se vê sobrecarga. Estratificação do risco CV Embora o risco cardiovascular aumenta com o aumento da PA, ele também aumenta se o paciente tiver lesão de órgão alvo de hipertensão ou outros fatores de risco CV. A classificação do risco CV depende dos níveis da PA, dos FRCV associados, da presença de lesões em órgãos-alvo (LOA), que são lesões estruturais e/ou funcionais decorrentes da HA em vasos, coração, cérebro, rins e retina, e/ou da existência de DCV ou doença renal estabelecidas. 1. Efeito do avental branco O EAB é a diferença de pressão entre as medidas obtidas no consultório e fora dele. Com base no MRPA, diferença igual ou superior a 15 mmHg na PAS e/ou 9 mmHg na PAD indicam EAB. Essa situação não muda o diagnóstico, ou seja, se o indivíduo é normotenso permanecerá normotenso, e se é hipertenso, continuará sendo hipertenso; pode, contudo, alterar o estágio e/ou dar a falsa impressão de necessidade de adequações no esquema terapêutico. 2. Hipertensão mascarada É caracterizada por valores normais da PA no consultório, porém com PA elevada pela MAPA, MRPA ou medidas residenciais. Fatores de risco: idade jovem, sexo masculino, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, hipertensão induzida pelo exercício, ansiedade, estresse, obesidade, DM, DRC e história familiar de HAS. A prevalência é maior quando a PA do consultório está no nível limítrofe. 3. Hipertensão sistólica isolada Ana Júlia Cardoso Santos – T69 É definida como PAS aumentada com PAD normal. A hipertensão sistólica isolada (HSI) e a pressão de pulso (PP) são importantes fatores de risco cardiovascular (FRCV) em pacientes de meia idade e idosos. A história clínica e o exame físico do paciente devem ser orientados para: • Confirmação da elevação da pressão arterial • Definição do diagnóstico de hipertensão arterial • Identificação de fatores de risco cardiovascular associados • Pesquisa de lesões de órgãos-alvo e doenças cardiovasculares • Pesquisa de causas secundárias da elevação da pressão arterial Cerca de 90% dos pacientes com diagnóstico de hipertensão arterial são assintomáticos. Sintomas inespecíficos relacionados à pressãoarterial elevada: cefaleia, tonturas e indisposição geral. A maioria dos sintomas da hipertensão arterial sistêmica é relatada pelo paciente na presença de lesão do órgão alvo. Lesões em órgão alvo 1. Comprometimento cardíaco: dispneia e dor precordial Dispneia: desencadeada pelos esforços no hipertenso e pode estar associada tanto a disfunção sistólica (miocardiopatias hipertensivas), quanto a uma disfunção diastólica (hipertrofia ventricular esquerda). Dor precordial: associada a doença coronariana ou alteração da microcirculação coronariana encontrada na hipertensão arterial. 2. Envolvimento renal Grau leve: geralmente assintomático, mas o sintoma mais precoce é a noctúria (inversão do ritmo da diurese). Grau avançado: sintomas associados a uremia, como oligúria, fraqueza generalizada, inapetência, palidez cutânea. 3. Distúrbios visuais: são frequentes Escotomas: pontos escuros. Fosfinas (pontos brilhantes) Amourose bilateral associada a lesões retiniana. Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Exame físico Exame do precórdio: ictus visível e/ou palpável sugestivo de hipertrofia ou dilatação do ventrículo esquerdo; bulhas arrítmicas; terceira bulha, que indica disfunção sistólica ventricular; quarta bulha, que sinaliza disfunção diastólica do ventrículo esquerdo; hiperfonese de segunda bulha em foco aórtico; sopro sistólico no foco mitral sugestivo de insuficiência mitral associada, e sopros sistólico (hiperfluxo pela via de saída ventricular ou estenose aórtica) e diastólico (insuficiência aórtica). 1. Não medicamentoso Pressão arterial elevada, tabagismo, obesidade, dieta não saudável e atividade física insuficiente são fatores de risco cardiovasculares (FRCV) estabelecidos e alvos de intervenções para controle da hipertensão arterial. Tabagismo Principal fator de risco cardiovascular -> apresenta potencial considerável de causar dano como a aceleração do processo aterotrombóticos e elevação temporária da PA -> parar de fumar é importante para diminuir o RCV associado a hipertensão. Padrão alimentar Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Dietas saudáveis tem associação a redução da PA -> padrão da dieta balanceada tem um poder hipotensor mais elevado do que a ingesta isolada de certos alimentos. Redução da ingesta de sódio Restrição de Na tem efeito hipotensor. Ingesta recomendada para hipertensos e pessoas normotensas é de 2 g/dia. Potássio Maiores níveis de potássio se associam a uma redução da PA Perda de peso Redução da liberação de substâncias pelo tecido adiposo que estimulam a angiotensina II. Atividade física Treinos aeróbicos possuem comprovado efeito reduzindo a PA -> tem efeito vasodilatador por tempo sustentado -> redução da PA (substâncias vasodilatadoras originadas do endotélio, principalmente a NO). 2. Medicamentoso A proteção cardiovascular (CV) consiste no objetivo primordial do tratamento anti-hipertensivo. A redução da pressão arterial (PA) é a primeira meta, com o objetivo maior de reduzir desfechos CV e mortalidade associados à hipertensão arterial (HA). Se a meta de tratamento não for atingida, deve-se trocar o esquema terapêutico por outra classe ou associar medicamentos. 5 principais classe de fármacos anti-hipertensivos: • Diuréticos (DIU) • Bloqueadores de canal de cálcio (BCC) • Inibidores da enzima conversora de angiotensina II (IECA) • Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) • Betabloqueadores (BB) Esquema terapêutico: Monoterapia Estratégia para pacientes com HA estágio I com baixo risco CV, ou com PA 130-139/85-89 mmHg de risco CV alto ou para indivíduos idosos e/ou frágeis. Os BB são os fármacos considerados iniciais no tratamento. Combinação de medicamentos Sempre necessário fazer associação de medicamentos que tenham mecanismos de ação distintos. Nunca associar medicamentos com mecanismo de ação similar, com exceção dos diuréticos. Resumo das classes de medicamentos Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Diuréticos Redução de volemia (pode gerar hipopotassemia) – hidroclorotiazida. IECA Inibidor da ECA, enzima conversora de ANGI em ANGII (pode gerar tosse seca pelo acúmulo de bradicinina) – captopril Bloqueadores de canal de cálcio Redução da RVP como consequência da diminuição da quantidade de cálcio no interior das células musculares lisas das arteríolas (tontura) – anlodipino BRA Bloqueador do receptor de angiotensina – a ação da angiotensina II por meio do bloqueio específico dos receptores AT1 – losartana BB Bloqueia a ativação de receptores adrenérgicos no coração e rins, reduzindo RVP e DC - propanolol 1. Diuréticos O mecanismo da ação anti-hipertensiva dos DIU relaciona- se inicialmente a seus efeitos natriuréticos, com a diminuição do volume circulante e do volume extracelular → maior eliminação de Na pela urina, que vai puxar agua e diminuir o volume → redução da PA - Deve-se dar preferência aos DIU tiazidicos em doses baixas, por serem mais suaves e com maior tempo de ação. Os DIU de alça devem ser usados em condições de insuficiência renal, ou de edema (IC). - os DIU poupadores de potássio costumam ser associados aos tiazidicos ou DIU de alça Tipos: - tiazidicos: hidroclorotiazida; → bloqueiam o cotransportador de Na Cl → diminui reabsorção de Na - DIU de alça: furosemida; - DIU poupadores de K: espironolactona e amilorida Efeitos adversos: - Fraqueza, cãibras, hipovolemia e disfunção erétil, intolerância a glicose (hipopotassemia) 2. Bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) Mecanismo de ação: BCC boqueia os canis de cálcio da membrana das células musculares lisas das arteríolas → reduz a disponibilidade de cálcio no interior das células → dificulta contração muscular – vasodilatação → diminui RVP por vasodilatação Tipos: di-hidropiridinicos – anlodipino, felodipino → efeito vasodilatador predominante com mínima interferência na FC e na função sistólica - Não di-hidropiridinicos → menor efeito vasodilatador e agem na musculatura e no sistema de condução cardíaca → reduz FC e podem deprimir a função sistólica. - São anti-hipertensivos eficazes e reduzem a morbidade e mortalidade CV. Efeitos adversos: edema maleolar (resultante da própria ação vasodilatadora), cefaleia latejante e tonturas. Os efeitos adversos costumam ser dose-dependentes. 3. Inibidores da ECA Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Mecanismo de ação: inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA) → não converte angio I em angio II e não degrada a bradicinina - São eficazes no tratamento da HA reduzindo morbidade e mortalidade CV e também retardam o declínio da função renal em pacientes com doença renal Efeitos adversos: tosse seca (devido ao acumulo da bradicioanina), pode provocar hiperpotassemia Contra indicação: gravidez 4. Bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II (BRA) Mecanismo de ação: antagonizam a ação da angiotensina II pelo bloqueio especifico dos receptores AT1, que é responsável pela ação da angio II → não vai ter vasoconstrição e estimulo da proliferação celular e liberação da aldosterona) Efeitos adversos: raros, mas o exantema. Assim como os IACA pode promover um redução da filtração glomerular por vasodilatação da arteríola eferente. 5. Betabloqueadores Mecanismo de ação: inibem a ativação dos receptores adrenérgicos → redução da FC, do DC e da secreção de renina → redução da PA → readaptação dos barorreceptores Tipos: - Não seletivos – bloqueiam tanto os receptores adrenérgicos beta-1, encontrados principalmente no miocárdio, quanto os beta-2, encontrados no músculo liso, nos pulmões, nos vasos sanguíneos e em outros órgãos (propranolol, nadolol e pindolol, este último apresentando atividade simpatomime ́tica intrínseca, agindo como um agonista adrenérgico parcial e produzindo menos bradicardia- Cardiosseletivos – bloqueiam preferencialmente os receptores beta-1 adrenérgicos (atenolol, metoprolol, bisoprolol e nebivolol, que é o mais cardiosseletivo) - Com ação vasodilatadora – manifesta-se por antagonismo ao receptor alfa-1 periférico (carvedilol) e por produção de óxido nítrico (nebivolol) Efeitos adversos: Broncoespasmo, bradicardia, distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, Contra indicação: pacientes com asma, DPOC, BAV Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Define-se hipertensão arterial resistente (HAR) como a PA de consultório que permanece com valores ≥140/90 mmHg, com o uso de três ou mais classes de fármacos anti-hipertensivos com ações sinérgicas, em doses máximas preconizadas ou toleradas, sendo um deles preferencialmente um diurético tiazídico. Quando o paciente necessita do uso de quatro ou mais fármacos anti- hipertensivos para alcançar o controle da PA, ele também e ́ considerado um hipertenso resistente, porém controlado (PA < 140/90 mmHg) Já a hipertensão refratária (HARf) é definida como um subgrupo de pacientes com HAR verdadeira, que mante ́m a PA não controlada (PA ≥ 140/90 mmHg), mesmo estando em uso de cinco ou mais fármacos anti-hipertensivos, incluindo a espironolactona e um diurético de longa ação
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