Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Uma ED de primeira ordem ⎯⎯ = 𝑓(𝑥, 𝑦) é uma fonte de informação. Vimos que podemos reunir várias informações qualitativas de uma ED de primeira ordem sem resovê-la. Examinamos algumas EDs de primeira ordem analiticamente, isto é, vimos alguns procedimentos para obtenção de soluções explícitas e implícitas. Porém, uma ED pode assumir uma solução que talvez não sejamos capazes de obter analiticamente. Para completar o quadro dos diferentes tipos de análises de equações diferenciais, veremos um método pelo qual podemos resolver uma ED numericamente, e isso significa que a ED é utilizada como base para um algoritmo para aproximar a solução desconhecida. Desenvolveremos o método mais simples dos métodos numéricos aqui, que é aquele que utiliza a ideia de que uma linha tangente pode ser usada para aproximar os valores de uma função nas proximidades do ponto de tangência. Há tratamentos mais extensos tais como o método de Euler, Método de Runge-Kutta e o Método dos Passos Múltiplos por exemplo, que não serão tratados na disciplina, mas está presente nos livros: BOYCE, William; DiPRIMA, Richard; IORIO, Valéria de Magalhães. Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. 9.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. ZILL, Denis. Equações diferenciais. 3.ed. São Paulo: Makron Books, 2001. v.1 Vamos lembrar de dois fatos importantes sobre um PVI de primeira ordem: 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 𝑓(𝑡, 𝑦) 𝑦(𝑡 ) = 𝑦 (1) (1°) Se 𝑓(𝑡, 𝑦) e ⎯⎯ são contínuas, então o PVI (1) tem uma única solução 𝑦 = ϕ(𝑡)em algum intervalo contendo o ponto inicial 𝑡 = 𝑡 . (2°) Não é possível, em geral, encontrar a solução ϕ por manipulações simbólicas da ED. Até agora o que vimos foram as principais exceções a essa afirmação, que foram as EDOs lineares e as não lineares: separáveis, homogêneas e exatas ou EDOs que podem ser transformadas em um desses tipos. Apesar disso, a maioria dos PVIs de primeira ordem não podem ser encontrados por métodos analíticos como os que foram vistos. É importante saber abordar o PVI de outras maneiras. Uma das maneiras é desenhar o campo de direções, o que não envolve resolver a ED, e depois visualizar o comportamento das soluções com base nesse campo. É um método simples até mesmo para EDOs mais complicadas. No entanto, não serve para cálculos quantitativos ou comparações. Vamos a um exemplo: Seja a EDO de primeira ordem: 𝑑𝑦 𝑑𝑡 = 3 − 2𝑡 − 1 2 𝑦 Um método numérico Página 1 de 11 Método de Euler 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 3 − 2𝑡 − 1 2 ⎯⎯𝑦 Vamos analisar seu campo de direções: Vemos que a partir do eixo y (do seu lado direito), a solução aumenta com t, logo atinge um valor máximo e começa a diminuir enquanto t continua aumentando. Muitos segmentos de retas tangentes em valores sucessivos de t quase se tocam. Começando em um ponto de y e unindo os segmentos para valores sucessivos de t na malha, conseguimos produzir um gráfico linear por partes que seria aparentemente uma aproximação de uma solução para a ED. Vamos transformar essa ideia em um método útil de geração de soluções aproximadas. Para isso precisamos responder a diversas perguntas, dentre as quais se destacam: (1) Podemos efetuar essa união de segmentos de retas tangentes de modo sistemático e direto? (2)Em caso afirmativo, a função linear por partes resultantes fornece uma aproximação para a solução de fato da ED? (3) Em caso afirmativo, podemos descobrir a precisão da aproximação? Ou seja, podemos estimar o quão longe a aproximação está da solução? A resposta a cada uma dessas perguntas é afirmativa. O método resultante foi desenvolvido por Euler em torno de 1768, e é conhecido como MÉTODO DA RETA TANGENTE ou MÉTODO DE EULER. Vamos tratar aqui nas duas primeiras questões e a terceira questão não será vista nesse curso, mas está no capítulo 8 do livro do Boyce. Para ver como funciona o método de Euler vamos considerar como poderíamos usar retas Página 2 de 11 Método de Euler Para ver como funciona o método de Euler vamos considerar como poderíamos usar retas tangentes para aproximar a solução 𝑦 = ϕ(𝑡)das equações (1) perto de 𝑡 = 𝑡 . Sabemos que a solução contém o ponto inicial (𝑡 , 𝑦 ). Sabemos que a inclinação nesse ponto é dada por 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(pois ⎯⎯ = 𝑓(𝑡, 𝑦) é a inclinação da reta tg, logo 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = ⎯⎯⎯). Vamos então escrever a equação da reta tangente à curva-solução em (𝑡 , 𝑦 ): 𝑦 − 𝑦 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) A reta tangente é uma boa aproximação da curva-solução em um intervalo suficientemente pequeno, de modo que a inclinação da solução não varie apreciavelmente de seu valor no ponto inicial. Ou seja, se 𝑡 está suficientemente próximo de 𝑡 , podemos aproximar ϕ(𝑡 ) pelo valor 𝑦 determinado substituindo-se 𝑡 = 𝑡 na aproximação pela reta tangente em 𝑡 = 𝑡 , assim: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) Para prosseguir, vamos tentar repetir o processo. Como não sabemos o valor ϕ(𝑡 ) da solução em 𝑡 vamos usar o valor aproximado 𝑦 . Assim, construímos a reta que contém (𝑡 , 𝑦 ) com coeficiente angular 𝑓(𝑡 , 𝑦 ), 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) Para aproximar o valor de ϕ(𝑡) em um ponto próximo 𝑡 usamos a equação acima: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) Continuando dessa maneira, usamos o valor de y calculado em cada passo para determinar o coeficiente angular para o próximo passo. A expressão geral para a reta tangente, começando em (𝑡 , 𝑦 ) é: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) Portanto, o valor aproximado 𝑦 em 𝑡 em termos de 𝑡 , 𝑡 e 𝑦 é: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 𝑡 , 𝑦 𝑡 − 𝑡 , 𝑛 = 0,1,2, … Página 3 de 11 Método de Euler 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ), 𝑛 = 0,1,2, … Se fizermos 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓 e se supusermos que o tamanho do passo h é constante entre os pontos 𝑡 , 𝑡 , 𝑡 , … , então 𝑡 = 𝑡 + ℎ para cada n e obteríamos a fórmula de Euler na forma: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 ℎ, 𝑛 = 0,1,2, … Para usarmos a fórmula de Euler, simplesmente calcule a equação 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 ℎ, 𝑛 = 0,1,2, … Ou 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ), 𝑛 = 0,1,2, … Repetidamente, dependendo se o tamanho do passo é constante ou não, usando o resultado de cada passo para executar o próximo. Desse modo, você terá uma sequência de valores 𝑦 , 𝑦 , 𝑦 , … que aproximam os valores da solução ϕ(t) nos pontos 𝑡 , 𝑡 , 𝑡 , … Se você precisa de uma função, em vez de sequência de pontos, para aproximar a solução ϕ(t) você pode usar a função linear por partes construída da coleção de segmentos de retas tangentes. Ou seja, y é dada no intervalo [𝑡 , 𝑡 ] pela equação 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) com n=0, y é dada no intervalo [𝑡 , 𝑡 ] pela equação 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )(𝑡 − 𝑡 ) com n=1, E assim por diante. Exemplo: Considere o PVI 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 3 − 2𝑡 − 1 2 ⎯⎯𝑦 𝑦(0) = 1 Use o método de Euler com passos de tamanho ℎ = 0,2 para encontrar valores aproximados da solução em t=0,2; 0,4; 0,6; 0,8 e 1. Compare-os com os valores correspondentes da solução exata do problema de valor inicial. Página 4 de 11 Método de Euler Página 5 de 11 Método de Euler 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 3 − 2𝑡 − 1 2 ⎯⎯𝑦 𝑦 0 = 1 Página 6 de 11 Método de Euler 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 3 − 2𝑡 − 1 2 ⎯⎯𝑦 𝑦(0) = 1 Página 7 de 11 Método de Euler 𝑓(𝑡, 𝑦) = 3 − 2𝑡 − 1 2 ⎯⎯𝑦 Outra forma de se resolver pelo método de Euler: Página 8 de 11 Método de Euler 𝑓(𝑡, 𝑦) = 3 − 2𝑡 − 1 2 ⎯⎯𝑦 𝑡 = 0, 𝑦 = 1 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓(0,1) = 2,5 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 1 + 2,5(𝑡 − 0) ⟺ 𝑦 = 1 + 2,5𝑡 (1) 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 0 + 0,2 = 0,2 𝑒𝑚 (1) ⇒ 𝑦 = 1,5 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓(0,2; 1,5) = 1,85 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 1,5 + 1,85(𝑡 − 0,2) ⟺ 𝑦 = 1,13 + 1,85𝑡 (2) 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 0,2 + 0,2 = 0,4 𝑒𝑚 (2) ⇒ 𝑦 = 1,87 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓(0,4; 1,87) = 1,265 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 1,87 + 1,265(𝑡 − 0,4) ⟺ 𝑦 = 1,364 + 1,265𝑡 (3) 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 0,4 + 0,2 = 0,6 𝑒𝑚 (3) ⇒ 𝑦 = 2,123 𝑓 = 𝑓(𝑡, 𝑦 ) = 𝑓(0,6; 2,123) = 0,7385 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 2,123 + 0,7385(𝑡 − 0,6) ⟺ 𝑦 = 1,6799 + 0,7385𝑡 (4) 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 0,6 + 0,2 = 0,8 𝑒𝑚 (4) ⇒ 𝑦 = 2,2707 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓(0,8; 2,2707) = 0,26465 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 2,2707 + 0,26465(𝑡 − 0,8) ⟺ 𝑦 = 2,05898 + 0,26465𝑡 (5) 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 0,8 + 0,2 = 1 𝑒𝑚 (5) ⇒ 𝑦 = 2,32363 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓(1; 2,32363) = −0,161815 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑦 = 2,32363 − 0,161815(𝑡 − 1) ⟺ 𝑦 = 2,485445 − 0,161815𝑡 t y 𝑦 Reta tangente 0 1 1 𝑦 = 1 + 2,5𝑡 0,2 1,43711 1,5 𝑦 = 1,13 + 1,85𝑡 0,4 1,75630 1,87 𝑦 = 1,364 + 1,265𝑡 0,6 1,96936 2,123 𝑦 = 1,6799 + 0,7385𝑡 0,8 2,08584 2,2707 𝑦 = 2,05898 + 0,26465𝑡 1 2,11510 2,32363 𝑦 = 2,485445 − 0,161815𝑡 Página 9 de 11 Método de Euler Exemplo: Considere o PVI 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 𝑡 𝑦 𝑦(0) = −2 Use o método de Euler com passos de tamanho ℎ = 0,5 para encontrar valores aproximados da solução. Compare-os com os valores correspondentes da solução exata do problema de valor inicial. SOLUÇÃO: Vamos resolver a EDO para comparar a solução exata com a aproximação feita pelo método de Euler: 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ⎯⎯⎯= 𝑡 𝑦 ⟺ 𝑑𝑦 = 𝑡 𝑦 𝑑𝑡 ⟺ 𝑑𝑦 𝑦 ⎯⎯⎯= 𝑡 𝑑𝑡 ⟺ 𝑑𝑦 𝑦 ⎯⎯⎯= 𝑡 𝑑𝑡 ⟺ t y 0 -2 0,8 2,08584 2,2707 𝑦 = 2,05898 + 0,26465𝑡 1 2,11510 2,32363 𝑦 = 2,485445 − 0,161815𝑡 Página 10 de 11 Método de Euler t y 0 -2 0,5 -2,09 1 -2,79 1,5 -6,1604 2 -28,7838 Com o método de Euler temos: Temos que 𝑓(𝑡, 𝑦) = 𝑡 𝑦 𝑡 = 0, 𝑦 = −2 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑓(0, −2) = 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ Página 11 de 11 Método de Euler 𝑓 = 𝑓(𝑡 , 𝑦 ) = 𝑡𝑎𝑛: 𝑦 = 𝑦 + 𝑓 (𝑡 − 𝑡 ) ⟺ t y 𝑦 Reta tangente 0 -2 0,5 1 1,5 2 Se não encontrar a reta tangente, achamos os pontos como fizemos no exemplo anterior: 𝑡 = 0, 𝑦 = −2 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 0 + 0,5 = 0,5 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )ℎ = 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )ℎ = 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )ℎ = 𝑡 = 𝑡 + ℎ = 𝑦 = 𝑦 + 𝑓(𝑡 , 𝑦 )ℎ = Página 12 de 11 Método de Euler Página 13 de 11 Método de Euler Página 14 de 11 Método de Euler Página 15 de 11 Método de Euler
Compartilhar