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78 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II Unidade II 5 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA SOCIAL PARA A INVESTIGAÇÃO DO COMPORTAMENTO ECONÔMICO: APROFUNDAMENTOS, REFLEXÕES E APLICAÇÕES “Na vida anímica individual aparece integrado sempre, efetivamente, ‘o outro’, como modelo, objeto, auxiliar ou adversário, e, deste modo, a Psicologia Individual é ao mesmo tempo e desde o princípio Psicologia Social, em um sentido amplo e plenamente justificado.” (Sigmund Freud) Figura 25 – Economia? Psicologia? Que tipos de relação existem entre essas duas áreas? E com a Psicologia Social? A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento, e seu desenvolvimento ocorreu principalmente com o advento do capitalismo. Nesse novo contexto, tanto a visão de mundo quanto a visão de homem sofrem mudanças. Essa nova concepção de mundo e de homem foi tão importante que determinou o surgimento das primeiras teorias psicológicas que buscaram a análise da mente e de seus mecanismos. Inicialmente, esse estudo interessou‑se pelo comportamento individual e suas respostas ao ambiente. Observação O conceito de ambiente foi entendido posteriormente, pelos psicólogos, como sendo constituído tanto pelo ambiente físico quanto pelo ambiente social, ou seja, incluía outras pessoas. 79 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA Dessa forma, quando o aspecto social se torna importante, surge a Psicologia Social (década de 1930). O interesse dos psicólogos passa a ser a investigação das interações de indivíduos dentro de grupos e da sociedade. Diversos aspectos foram examinados, como: o efeito das organizações sobre os indivíduos; a relação dos indivíduos dentro de um mesmo grupo e de grupos distintos; os diferentes tipos de papel que assumimos quando em ambientes diferentes e funções sociais diferenciadas; a dinâmica de grupos; as atitudes e preconceitos de grupos; conflitos grupais, obediência e transformações sociais. Assim, a Psicologia Social tornou‑se cada vez mais aplicável a várias situações, e a área da Economia não ficou imune. Muitos estudos se desenvolveram. A seguir, descreveremos alguns deles. Um estudo muito interessante foi o de Kurt Lewin: seu modelo descreve que, para haver uma mudança pessoal ou organizacional, é necessário passar por três etapas. A primeira etapa é o “descongelamento”: […] envolve a preparação, em que se reconhece a necessidade de mudança e abre‑se mão das velhas crenças e atitudes. A mudança ocorre na segunda etapa, geralmente acompanhada de confusão e agonia motivadas pelo desmantelamento da antiga mentalidade ou sistema. O terceiro e último estágio, o “congelamento”, ocorre quando a nova mentalidade se cristaliza e há uma sensação de conforto e estabilidade ocasionada por essa nova condição (LEWIN apud O LIVRO…, 2012, p. 221). Para Lewin, a etapa de descongelamento é a mais difícil, pois geralmente resistimos a mudanças e a alterações em nossa rotina. Daí, portanto, a necessidade de “[…] criar um ambiente de segurança psicológica durante a etapa de descongelamento” (LEWIN apud O LIVRO…, 2012, p. 221). Figura 26 – Um dos primeiros teóricos a apresentar um estudo social na área da Psicologia foi Kurt Lewin, que, em 1945, fundou o Centro de Pesquisa de Dinâmica de Grupo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts 80 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II Propomos, para uma melhor compreensão desse modelo, a situação a seguir. Suponha que João, um jovem trabalhador considerado um investidor conservador, foi visitado por um corretor de investimentos. Esse investidor deverá preparar João para que ele não invista seu dinheiro na poupança, por exemplo, um dos investimentos mais populares entre nós. Essa seria a etapa de descongelamento. Obviamente, é de se esperar que João fique confuso e inseguro com a ideia de considerar outras opções. Ele estará, de acordo com o modelo de Lewin, na segunda etapa, a da mudança. No entanto, o corretor mostra a João que atualmente existem outros tipos de aplicação, mais rentáveis e igualmente seguros. João então resolve mudar seu investimento, passando para a terceira etapa, a do congelamento. É possível perceber, no modelo apresentado, como o fator psicológico pode afetar um comportamento econômico. Um outro estudo foi o de Solomon Asch: após pesquisas realizadas, ele chegou à conclusão de que as pessoas tinham a tendência a se conformar. Para Asch (apud O LIVRO…, 2012, p. 225): O grupo exerce efeitos sociais profundos em seus membros. Um certo grau de conformidade colabora para funções sociais importantes. As pessoas sentem‑se obrigadas a se adequar para pertencer ao grupo. São capazes de fingir ou até convencer a si mesmas que concordam com a maioria. A tendência à conformidade pode ser mais forte do que os valores ou percepções básicas das pessoas. Erving Goffman desenvolve a Teoria do Gerenciamento de Impressões. Segundo ele, “a vida é uma interpretação dramática”; a vida se constrói a partir da interação social, que pode ser comparada a uma peça de teatro: Tal qual os atores, as pessoas tentam criar uma impressão favorável de si mesmas, definindo roteiro, cenário, figurino, habilidades e adereços. […] há o “palco” onde atuam nossas personas públicas e os bastidores, onde se desenrola nossa vida privada. […] existe uma plateia que assiste ao espetáculo (GOFFMAN apud O LIVRO…, 2012, p. 228). Nesse sentido, ele explica como mantemos e intensificamos nossas identidades sociais. Robert Zajonc desenvolve a Teoria da Familiaridade: “quanto mais se vê, mais se gosta” (ZAJONC apud O LIVRO…, 2012, p. 232). Para ele, as preferências que demonstramos não são racionais: A exposição repetida a um estímulo gera familiaridade em relação a ele. A familiaridade produz uma mudança de atitude em relação ao estímulo, transformando‑a em preferência ou afeição. Essa preferência é emocional e forma‑se em nível subconsciente antes que o indivíduo se dê conta (ZAJONC apud O LIVRO…, 2012, p. 232). 81 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA 5.1 Psicologia Social e subjetividade No âmbito da Psicologia Social percebe‑se, igualmente, que a subjetividade é uma dimensão importante. Isso significa que o modelo capitalista de produção transcende as variáveis competição e controle. Por exemplo: A subjetividade hoje permanece massivamente controlada pelos dispositivos de poder e de saber que colocam as inovações técnicas, científicas e artísticas a serviço das figuras mais retrógradas da socialidade. E, contudo, outras modalidades de produção subjetiva – processuais e singularizantes – são concebíveis. Estas formas alternativas de reapropriação existencial e de autovalorização podem tornar‑se amanhã a razão de vida das coletividades humanas e dos indivíduos que recusam abandonar‑se à entropia mortífera característica do período que nós atravessamos (GUATTARI, 1989 apud JACQUES et al., 1998, p. 26, grifo do autor). De acordo com Jacques et al. (1998, p. 200): Historicamente, sabe‑se que o vocábulo “groppo” ou “grupo” surgiu no século XVII. Referia‑se ao ato de retratar, artisticamente, um conjunto de pessoas. Regina Duarte Benevides de Barros (1994) diz que foi somente no século XVIII que o termo passou a significar “reunião de pessoas”. A mesma autora afirma que o termo pode estar ligado tanto à ideia de “laço, coesão” quanto à de “círculo” (p. 83). Tanto a Sociologia quanto a Psicologia têm demonstrado interesse no estudodos pequenos grupos sociais, pensando o “grupo” como uma intermediação entre o “indivíduo” e a “massa”. Os estudos dos pequenos grupos sociais, embora sejam realizados por várias áreas de conhecimentos humano‑sociais, são em geral associados com a Sociologia e a Psicologia. Na Psicologia, o estudo sistemático dos pequenos grupos sociais, buscando compreender a dinâmica dos mesmos, tem início na década de 30 e 40, com Kurt Lewin. Moreno inicia com o teatro da espontaneidade que vai levar ao Psicodrama. Na área de pesquisa cria a sociometria para o estudo de relações de aproximação e afastamento entre as redes de preferência e rejeição, tanto nos grupos quanto na comunidade como um todo. Lewin cria o termo “dinâmica de grupo”, que foi utilizado pela primeira vez em 1944. Não podemos esquecer que a preocupação com grupos, tanto de Moreno quanto de Lewin, aparece em seguida às inovações tayloristas e fordistas que levam à elevação dos lucros, mas também à deterioração das relações tanto dos operários entre si quanto em relação a chefias e patrões. E ainda: Mais que identificar cosmovisões gerais de pessoas ou grupos, o que na verdade cremos ser importante e necessário é revelar como as pessoas sofrem e são prejudicadas, na sua vida cotidiana, devido a relações que são 82 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II estabelecidas de maneira desigual e injusta. Com isso nosso trabalho poderá contribuir, de maneira iluminadora e emancipatória, na construção de uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, culturalmente plural, eticamente solidária (JACQUES et al., 1998, p. 101). Nesse sentido, a Psicologia percorreu vários caminhos e podemos até afirmar que, hoje, existem “várias psicologias”. No entanto, a maioria dos teóricos é unânime em afirmar que o objeto de estudo dessa ciência é a subjetividade, que Bock, Teixeira e Furtado (2011, p. 8), de acordo com nosso entendimento, conceituam perfeitamente: Nossa matéria‑prima, portanto, é o humano em todas as suas expressões, as visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o ser humano‑corpo, ser humano‑pensamento, ser humano‑afeto, ser humano‑ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade. Também a esse respeito, os autores nos chamam a atenção para duas questões importantes: [...] os sujeitos são os responsáveis pela sua subjetividade, mas não o fariam se não fosse a vida coletiva, as construções coletivas simbólicas que permitem que toda atividade sobre o mundo exterior tenha seu correspondente subjetivo. [...] A subjetividade não cessará de se modificar, pois as experiências cotidianas sempre trarão novos elementos para renová‑la (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2011, p. 10). Caro leitor, você compreendeu? O que queremos que você entenda é que a subjetividade é uma dimensão da realidade, e que o social e as relações que estabelecemos com o “outro” nos transformam. Como compreender a subjetividade na economia? Segundo Bock, Teixeira e Furtado (2011, p. 11‑12): [...] economia. Uma área que estuda as formas e modos de produção da sobrevivência dos humanos em diferentes épocas. Como os humanos estão produzindo sua sobrevivência, como se relacionam nessa tarefa, como produzem, como distribuem e como consomem os produtos, resultado de toda a ação produtiva. Os sujeitos envolvidos nesses processos pensam algo sobre esses processos; acreditam nisso e querem que tudo se passe de outra maneira. Essas diferenças são fundamentais quando se pensa em implantar uma política econômica em um país, pois pode‑se prever ou não resistências. São sujeitos que apoiam ou resistem e fazem isso a partir de suas construções subjetivas – suas ideias sobre o mundo, suas convicções. Complementando, para Bock, Teixeira e Furtado (2011, p. 43, grifo dos autores): O aspecto que, com mais frequência, elencamos para nos aproximarmos de um fenômeno humano e das respostas a inúmeras perguntas que formulamos é 83 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA o econômico. A base material da sociedade, como ela se organiza enquanto produção e distribuição de riquezas entre os seus membros, constitui importante aspecto quanto às condições objetivas de vida das pessoas, seu acesso e usufruto dos bens materiais, culturais e espirituais que essa mesma sociedade produz. O lugar de origem das pessoas na pirâmide econômica da sociedade determina seu presente e pode interferir de modo importante em seu futuro. Hoje, o ganho financeiro da família permite que uma criança estude em uma escola pública e “amanhã” isso poderá produzir um grau de dificuldade maior no ingresso na universidade, com repercussões na sua entrada no mercado de trabalho. Uma questão importante associada ao aspecto econômico que interfere de modo radical na vida das pessoas é a distribuição de riquezas em uma mesma sociedade, que, no caso da brasileira, é geradora da desigualdade social, com muitas repercussões/ efeitos sociais e psicossociais. Importante notar que os jovens são aqueles que menos se conformam com isso, particularmente em sociedades nas quais, cada vez mais, o status (seu reconhecimento social) e a autonomia (o valor que o indivíduo atribui a si mesmo), por exemplo, estão associados ao consumo de objetos e bens. Bock, Teixeira e Furtado citam o filósofo Hilton Japiassu, que afirma: Os cientistas humanos frequentemente pensam que, de um lado, situa‑se uma realidade estritamente econômica, de outro, outra tipicamente psicológica, uma terceira fundamentalmente sociológica, geográfica, etc. Claro que todas estas categorias constituem realidades. Mas não devemos esquecer: até mesmo no econômico stricto sensu há necessidades e desejos humanos. Cada um de nós pode testemunhar que, por detrás do dinheiro, há todo um mundo de símbolos, paixões e uma inegável psicologia humana. Donde a importância de privilegiarmos e desenvolvermos, em todo fenômeno humano‑social, a clara consciência de sua inegável multidimensionalidade. Metodologicamente, é imprescindível que se articulem e convirjam os pontos de vista objetivo e subjetivo, a explicação e a compreensão, o rigor da demonstração e a arte do diagnóstico (JAPIASSU, 2006 apud BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2011, p. 47). Observação Kurt Lewin, considerado o “pai da Psicologia Social”, foi um dos primeiros a conduzir um estudo sistemático da psicologia de grupos sociais. Assim, a Psicologia Social passa a ser aplicada em diversas áreas, impactando também a área econômica e mostrando o quanto a subjetividade interfere no comportamento humano. 84 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II A seguir, vamos explicar três teorias da área da Psicologia que podem nos demonstrar a relação entre Psicologia e Economia: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicologia Cognitiva. 5.2 O Behaviorismo, ou a Teoria Comportamental Ao analisarmos o comportamento econômico, não podemos deixar de citar uma das teorias mais importantes, o Behaviorismo, que mostrou que o comportamento é moldado por reforços positivos e negativos: “O objetivo do behaviorismo é eliminar todo tipo de coerção, transformando o ambiente e ajustando o que nos controla” (SKINNER apud O LIVRO…, 2012, p. 80). O Behaviorismo se desenvolveu ao longo do tempo. Um dos primeiros teóricos foi o biólogo Jacques Loeb, que, em 1890, explicou o comportamento animal em termos físico‑químicos. No mesmo período, Ivan Pavlov apresentou um experimento com cães, estabelecendoo que se denominou de Behaviorismo Clássico. Em 1920, John B. Watson aplica experiências behavioristas em seres humanos. Somente a partir de 1932, com Edward Tolman, é que se acrescenta a cognição na Teoria da Aprendizagem. Em 1938, aparecem as pesquisas de B. F. Skinner, que, a princípio, desenvolve sua teoria utilizando pombos e, posteriormente, ratos. Skinner demonstra que, a partir de estímulos e respostas, é possível determinar duas categorias de comportamento. A primeira delas é o condicionamento operante (também conhecido por incondicionado), em que estariam todos os comportamentos reflexos, involuntários. Essa categoria comportamental independe de aprendizagem anterior. A segunda categoria é o condicionamento clássico, que ocorre quando um estímulo neutro se torna um estímulo condicionado, pois implica o aprendizado de uma resposta condicionada que passa a ser controlada por suas consequências. Dessa forma, podemos dizer que existem comportamentos que podem ser aprendidos e outros não. A aprendizagem é definida pelas consequências comportamentais motivadas pelas condições ambientais facilitadoras ou dificultadoras da aprendizagem a partir da estrutura estímulo‑resposta. Outros conceitos importantes são desenvolvidos por essa teoria. Um deles diz respeito ao reforço positivo, que pode fazer com que pessoas aprendam e repitam comportamentos a partir de um reforço. O reforço positivo aumenta a probabilidade de ocorrência dos comportamentos, sendo definido pelo resultado que produz. O reforço negativo tem a mesma função, mas o aumento da ocorrência do comportamento aparece para que o estímulo aversivo desapareça ou seja prevenido. Ele pode acontecer por duas vias: pela fuga, em que a pessoa realiza um comportamento com o objetivo de terminar com o evento aversivo, e pela prevenção, em que a pessoa adota um comportamento para evitar a ocorrência de um evento aversivo. Ficou difícil? Veja um caso do cotidiano. Imagine uma pessoa que morre de medo de trovões: evento aversivo. Há duas possibilidades de minimizar esse medo: através da fuga – essa pessoa, quando observasse um relâmpago (e sabemos que após um relâmpago vem o trovão), correria para se esconder em um lugar seguro dentro de casa; ou, após ver o relâmpago, ela imediatamente tamparia seus ouvidos para não ouvir o trovão – neste caso, a pessoa empregaria a prevenção. 85 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA Mas como esses dois tipos de reforço podem ocorrer em um ambiente econômico? Vejamos uma aplicação hipotética. Suponha novamente que João, aquele jovem rapaz, acabou de receber o seu primeiro salário e quer investi‑lo. João procura um corretor de investimentos, e este lhe explica que, se ele optar pelo investimento X, terá uma rentabilidade sempre acumulativa desde que não o resgate em dois meses. O que o corretor apresentou a João é o que o Behaviorismo denomina de reforço positivo. Contrariamente, o corretor poderia ter feito uso do reforço negativo. Nesse caso, ele diria ao rapaz que, não havendo aplicações todos os meses, isso acarretaria perda dos ganhos recebidos nos meses anteriores. Portanto, em ambos os casos, para que João obtenha seus rendimentos, ele precisará investir uma parte de seu salário no referido investimento. 5.3 A Teoria da Gestalt: a Teoria da Forma Figura 27 – A percepção e a Gestalt Outra teoria psicológica muito importante é a da Gestalt, que explica como percebemos o mundo, a nós mesmos e os outros. Os estudiosos preocuparam‑se em compreender os processos psicológicos que estavam envolvidos no que denominaram de ilusão de ótica. Mas o que seria uma ilusão de ótica? Esse fenômeno, que acontece com todos nós, surge quando há uma não coincidência entre o estímulo físico e a percepção que uma pessoa tem dele. Um exemplo clássico é o do cinema, que é composto de fotogramas estáticos: O movimento que vemos na tela é uma ilusão de ótica causada pela pós‑imagem retiniana (a imagem demora um pouco para se “apagar” em nossa retina). Como as imagens vão se sobrepondo na retina, temos a sensação de movimento. Mas o que de fato está na tela é uma fotografia estática (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2011, p. 17). A Gestalt explica a relação entre figura e fundo. A figura é constituída de aspectos da experiência. Esses aspectos são eleitos como dominantes e sobressaem ao fundo. O fundo é composto de experiências anteriores. 86 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II Observação Figura e fundo podem oscilar de acordo com o que é salientado como relevante pelo psiquismo na situação. Diferentemente dos behavioristas, os gestaltistas, quando explicam a relação existente entre estímulo e resposta, apresentam uma informação complementar, ou seja, entre o estímulo e a resposta existe a percepção. Essa teoria nos trouxe contribuições importantes para podermos compreender o que significa uma “boa” percepção, que é derivada de uma “boa” forma. De acordo com os gestaltistas, a percepção busca o fechamento, a simetria e a regularidade dos pontos que compõem qualquer figura. Outro aspecto importante dessa teoria é a relação parte‑todo: “[...] o todo não pode ser entendido simplesmente como um conjunto das partes, mas sempre quando vemos uma parte ocorre uma tendência à restauração do equilíbrio da forma” (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2011, p. 18). De que modo podemos entender a Gestalt no campo econômico? Um caso muito interessante foi um estudo realizado por Guéguen (2010), com relação ao que ele denominou de preços psicológicos 999999. Figura 28 – Os preços com final 9 De acordo com o autor: No folclore popular, a origem desses preços não tem absolutamente nada a ver com uma estratégia de marketing para influenciar o comportamento do consumidor. Segundo Hower (1943), no final do século XIX e início do XX, comerciantes e gerentes de lojas teriam utilizado esses preços nos Estados Unidos a fim de reduzir os roubos cometidos pelos vendedores. Como era preciso devolver o troco aos clientes (naquela época pagava‑se em espécie), 87 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA o pessoal era levado a se dirigir à caixa registradora e, portanto, a não ficar com a soma entregue pelo cliente. Assim, quando um martelo custava US$ 1,99 em lugar de US$ 2, os clientes não deixavam de pedir o troco que lhes era devido (GUÉGUEN, 2010, p. 20). Caro leitor, você não achou interessante? Essa estratégia é utilizada até hoje, pois, de alguma forma, podemos dizer que nós “nos iludimos”, de acordo com a Teoria da Gestalt. Nós temos a percepção de que produtos e serviços com essa terminação de preço são mais “baratos”: Observamos, portanto, um efeito positivo dos preços com a terminação “9” sobre o comportamento de compra das pessoas. Experiências recentes realizadas na França confirmaram essa influência. Uma primeira avaliação do efeito desses preços ocorreu dentro de um contexto mais clássico (GUÉGUEN; JACOB, 2005). Na seção de queijos de uma pequena mercearia de bairro, foram alternados (a cada duas horas), nos produtos apresentados, os preços com terminação “9” e com terminação plena. Observadores discretos acompanharam o que faziam as pessoas que se detinham nessa seção. Os resultados medidos durante dois dias mostraram que 51,2% das pessoas que se detiveram diante dos queijos quando os preços tinham terminação “9” compraram o produto, contra 44,1% quando eles tinham terminação plena (GUÉGUEN, 2010, p. 22). 5.4 A Psicologia Cognitiva De acordo com Bock, Teixeira e Furtado (2011, p. 18):“Hoje, o que temos são teorias derivadas dessa vertente pioneira, e ela inspirou, em parte, os estudos do campo cognitivista, que é de muita importância para a psicologia social.” Figura 29 – A cognição vai se desenvolvendo ao longo da vida 88 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II A Psicologia Cognitiva se estruturou a partir do desenvolvimento da tecnologia, que impulsionou as áreas de Comunicação e da Inteligência Artificial com o advento dos computadores. Estudos nessa área mostraram como as pessoas estabelecem associações entre conceitos, memorizam sequências entre eles, resolvem problemas e têm ideias. Isso significa que a aprendizagem ocorre por meio da educação – a partir da relação entre o indivíduo e o mundo à sua volta. Essa abordagem diferencia dois tipos de aprendizagem: a aprendizagem mecânica, que diz respeito às novas informações na estrutura cognitiva, e a aprendizagem significativa, que se dá quando um novo conteúdo se relaciona com conceitos relevantes, claros e disponíveis. Outros estudos detectaram também que uma aprendizagem é eficaz quando possibilita formas efetivas de comunicação que facilitem as associações entre produtos e serviços. Por exemplo: você sabia que, se tivéssemos uma lista com diversas palavras e essa lista fosse apresentada a você e, posteriormente, lhe fosse pedido para lembrar as palavras dessa lista, observaríamos que as palavras mais lembradas seriam as primeiras e as últimas da lista? Esse fenômeno é conhecido como Efeito de Posicionamento em Série. Um outro aspecto importante é a Aprendizagem por Associação em Par. Por exemplo, a criação de marcas que sugerem o uso do produto ou do serviço: Banco dos Pobres. Perceba que não há a necessidade de mais informações, pois o próprio nome do negócio indica a sua finalidade. Ainda com relação à memória, é importante compreender que ela só é atingida se houver antecipadamente a percepção e o envolvimento de quem desejamos atingir. Esses estudos ocasionaram novos olhares para o entendimento do cérebro. Os psicólogos passaram a investigar os processos mentais, cognitivos, principalmente os que estavam relacionados com a memória, a percepção e as emoções: No começo do século XXI, a Psicologia Cognitiva continua a ser a abordagem predominante, com grande impacto nos campos da Neurociência, Educação e Economia. Sua influência estendeu‑se ao debate natureza versus criação, já que, diante das recentes descobertas nas áreas de genética e neurociência, psicólogos evolucionistas, como Steven Pinker, defendem que nossos pensamentos e ações são determinados pela constituição do nosso cérebro e que, a exemplo de outras características herdadas, estão sujeitos às leis de seleção natural (O LIVRO…, 2012, p. 159). Um dos estudos importantes nessa área foi o relacionado ao entendimento da estrutura da memória. Após várias pesquisas, criou‑se o Modelo de Memória de Armazenamento Múltiplo, que consiste em três sistemas de memória: • a memória sensorial, que compreende nossos cinco sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato). Nessa memória, ocorre a atenção preliminar em que o estímulo é analisado; 89 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA • a memória temporária, em que a informação fica temporariamente armazenada. Estudos mostraram que essa memória consegue processar de cinco a sete porções de informação. Dessa forma, se ela receber muita informação, parte dela será perdida; • a memória permanente, em que as informações são armazenadas definitivamente. Esses e outros estudos na área da Psicologia Cognitiva foram tão importantes que transformaram, inclusive, o conceito de inteligência. Anteriormente, nós éramos avaliados quanto à inteligência através do chamado Quociente de Inteligência (QI). Porém, a partir dos estudos do psicólogo Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional (1996), reacende‑se a discussão sobre o conceito de inteligência. Para ele, a obtenção de nosso sucesso é decorrente da chamada inteligência emocional. Ele explica que essa inteligência encontra‑se em cinco áreas de habilidades: autoconhecimento emocional, controle emocional, automotivação, reconhecimento de emoções em outras pessoas e, finalmente, habilidade em relacionamentos interpessoais. Dessa forma, podemos compreender que, para uma pessoa ser classificada como emocionalmente inteligente, ela deve ter a habilidade tanto de entender outras pessoas (inteligência interpessoal) quanto de entender a si mesma (inteligência intrapessoal). Outro psicólogo, Howard Gardner (1995), propôs uma divisão da inteligência em sete competências: verbal ou linguística, lógico‑matemática, cinestésica corporal (capacidade de usar o próprio corpo), espacial, musical, interpessoal e intrapessoal. Assim, a inteligência é afetada, em muito, pelo nosso emocional. 5.5 As atitudes: conceito e importância Figura 30 – Atitude é uma predisposição interna de cada pessoa 90 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II O estudo da atitude é muito importante, como foi visto anteriormente. Aprofundando o tema, Gade (1998, p. 125) afirma: Por atitude podemos entender a predisposição interna de um indivíduo para avaliar determinado objeto, ou aspecto, de forma favorável ou desfavorável, o que poderá ser uma das variáveis a decidir o consumo. As atitudes do consumidor têm sido objeto de cuidadoso estudo e de inúmeras pesquisas, pois, através do conhecimento delas, tentou‑se estabelecer inferências sobre o provável comportamento do consumidor. A atitude é constituída por três componentes: • o componente afetivo, que nos remete a todos os sentimentos que, de alguma forma, se relacionam com as emoções. Por exemplo: “Eu sou apaixonada por cartão de crédito”; • o componente cognitivo, que nos remete às informações guardadas de experiências passadas, as quais servirão de parâmetros para que possamos avaliar produtos e serviços como bons ou ruins; • o componente comportamental, que é a tendência à ação. Essa predisposição à ação se viabiliza a partir de respostas que o indivíduo aprende e de experiências passadas. Por exemplo: cada um de nós reage diferentemente a crises econômicas – há aqueles que são conservadores e assim permanecem; outros apresentam uma atitude mais inovadora, arriscando‑se mais, procurando outras alternativas. Segundo Katz (apud GADE, 1998, p. 137‑138), as atitudes teriam quatro funções básicas: • função instrumental ajustativa ou utilitária: é a função que tem como premissa o reforço e a punição. O indivíduo forma sua atitude em torno da recompensa que poderá obter e da forma pela qual poderá reduzir a insatisfação. São atitudes que procuram maximizar os ganhos e minimizar os custos; • função ego‑defensiva: esta função atende a uma necessidade básica do psiquismo em termos de proteção do eu. Protege o indivíduo distorcendo a realidade se esta se apresentar incongruente com sua autoimagem e com seus valores; • função de expressão de valores: esta função faz o indivíduo expressar atitudes apropriadas a seus valores pessoais e seu autoconceito. Desta expressão o indivíduo obteria uma satisfação em termos de experimentar um estado de congruência. Uma dona de casa que recusa enlatados, por exemplo, elogiará um restaurante de comida caseira; 91 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA • função de conhecimento: esta função seria necessária para construir seu universo de forma organizada,procurando dar significado e organização às percepções. Para tanto, elementos que são percebidos como inconscientes ou incompletos são reorganizados ou modificados para formar um todo. Atualmente, de acordo com Gade (1998), nenhuma pesquisa consegue afirmar e constatar que uma mudança de atitude tenha gerado uma mudança no comportamento de consumo. Por isso, a autora prefere falar em possibilidades de mudança. Ela explica: As atitudes parecem ter graus de resistência à mudança e dificuldade em provocá‑la. Esta graduação parece ser determinada pelas características e componentes da atitude a ser modificada, pela personalidade do indivíduo e sua relação com o grupo social e pelas técnicas utilizadas. Geralmente é objetivo de mudança de atitude uma modificação da valência da atitude existente, tentando transformar uma atitude negativa em positiva ou vice‑versa. Para uma empresa é interessante que o consumidor passe a gostar do seu produto e a não gostar do produto concorrente. Este tipo de mudança desejada é denominado incongruente porque o sinal desejado é oposto ao sinal existente. Outra forma de mudança de atitude é a tentativa de aumentar o grau negativo de uma atitude negativa ou o grau positivo de uma positiva (GADE, 1998, p. 141). 6 O PAPEL DO GRUPO SOCIAL NA FORMAÇÃO DO COMPORTAMENTO Figura 31 Um grupo não é simplesmente uma reunião de pessoas que riem ou choram juntas. É mais um agrupamento, um agregado social, que se aceita mutuamente e partilha as mesmas metas, em constante interação. Esse conceito já era difundido pelos intelectuais dos anos 1950: Marshall McLuhan, Theodor Adorno e Herbert Marcuse. 92 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II O requisito primordial para o princípio de um grupo ou equipe é perceber o outro. Independentemente do tipo de ambiente, não é possível desprezar o quanto o ambiente influencia o comportamento. De acordo com Mowen (2003, p. 247), existem cinco tipos de situação de influência: • o ambiente físico: os aspectos físicos e espaciais concretos do ambiente que envolve uma atividade de consumo; • o ambiente social: os efeitos que outras pessoas provocam sobre o consumidor durante uma atividade de consumo; • o tempo: os efeitos da presença ou ausência do tempo nas atividades de consumo; • definição de tarefa: as razões que geram a necessidade de os consumidores comprarem ou consumirem um produto ou serviço; • estados antecedentes: os estados psicológicos e de espírito temporários que um consumidor traz para uma atividade de consumo. Entre as possibilidades de ação de um grupo, este pode influenciar ou decidir um comportamento. Mowen (2003, p. 270) nos apresenta alguns tipos de grupo: • Grupo de referência: grupos cujos valores, normas, atitudes ou crenças são usados por uma pessoa como um guia de comportamento. • Grupo de aspiração: grupo ao qual a pessoa gostaria de pertencer. Se for impossível participar do grupo, ele se tornará um grupo simbólico para a pessoa. • Grupo de dissociação: grupo ao qual a pessoa não quer se associar. • Grupo primário: grupo do qual a pessoa faz parte e no qual ela interage ativamente. Os grupos primários se caracterizam pela intimidade entre seus membros e pela falta de limites para a discussão de vários assuntos. • Grupo formal: grupo cuja organização e estrutura são definidas por escrito. Exemplos disso são os sindicatos trabalhistas, as universidades e os grupos estudantis. • Grupo informal: grupo que não tem estrutura organizacional por escrito. Grupos informais geralmente são baseados no fator social, como um grupo de amigos que se encontram com frequência para praticar um esporte, jogar cartas ou fazer festas. 93 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA De acordo com alguns estudiosos, o termo família pode ser entendido como um subgrupo de um grupo maior, a saber: o domicílio. Essa família, de acordo com o papel que cada indivíduo assume, pode apresentar diferentes denominações. A família nuclear é a mais comum, composta de um marido, uma esposa e seus filhos. A família constituída pela família nuclear que se soma a outros parentes, como sogros, é conhecida como família extensa. Finalmente, há a família nuclear separada, em que os filhos tendem a viver sozinhos e formar famílias longe de seus pais: A família é o mais importante dos grupos primários e vem a ser o primeiro agente de socialização. Família nuclear é o grupo familiar constituído pelos laços familiares mais imediatos e é representado por pai, mãe e filhos, cujo número se acha cada vez mais reduzido. A família extensa compreende os laços de parentesco como avós, sogros e sogras, tios e tias, primos etc. (GADE, 1998, p. 178). No entanto, o conceito de família vem mudando. De acordo com Ribeiro (2009, p. 27): […] um sociólogo francês começou seu discurso dizendo: – Em vinte e cinco anos, um em cada quatro homens vai ficar em casa e viver à custa de uma mulher que trabalha. […] Ele prosseguiu: – Não existirão empregos para toda a população adulta mundial. Alguém vai ter que não trabalhar. – Pelos resultados que tenho analisado, os homens têm menos chances que as mulheres para conseguir esses empregos. Ribeiro (2009, p. 30) prossegue: No Brasil, segundo pesquisa do IBGE, em cidades de mais de 300 mil habitantes, um em cada quatro lares é chefiado por mulheres. […] E nas famílias? Se um em cada quatro lares é chefiado por mulheres, é lógico que isso modifica as relações familiares. Os estudos feitos pela Talent demonstram uma progressiva, porém irreversível, harmonização de interesses. Por exemplo, nota‑se um aumento do peso da opinião feminina na aquisição de bens para a família, como carros, casas, móveis, etc. As principais compradoras de bens duráveis para o lar, como televisores, geladeiras, móveis, carpetes, etc., são as mulheres, sem ouvir a opinião dos maridos. O grupo de referência é o grupo de indivíduos cujos julgamentos, preferências, crenças e comportamentos servem de ponto de referência para a orientação do indivíduo, influenciando sua conduta e suas atitudes: Grupo referência pode ser o grupo primário como a família ou o grupo de amigos próximos, sendo também classificado como grupo pertinência, ou então, e é este que interessa mais em termos mercadológicos, um grupo constituído de pessoas que servem de referencial positivo a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos. Neste caso temos o grupo referência positivo ou 94 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II grupo aspiracional, se aqueles que o admiram desejam se integrar ao mesmo (GADE, 1998, p. 296). Complementando, os grupos de referência podem ser classificados em: • primários: cujas características principais são a íntima associação e uma intensa cooperação entre seus membros. Esses grupos são importantes na formação de valores, hábitos e ideais do indivíduo. Nesse sentido, podemos observar o uso da palavra nós determinando o tipo de relação entre eles. Os grupos primários podem ser de natureza informal, como a família e os amigos, ou de natureza formal, destacando‑se o ambiente escolar e o de trabalho; • secundários: grupos que possuem características opostas às dos grupos primários. As relações são mais formais, são impessoais e podem ser passageiras e desprovidas de intimidade. Como os grupos primários, eles podem ser de natureza informal, quando em contextos esportivos e de lazer, e de natureza formal, quando inseridos em associações de trabalho e organizações diversas. Os grupos de referência denotam certasfunções, a saber: • de associação e de identificação: seus membros se conhecem e se relacionam – por exemplo, o grupo de amigos; • de aspiração: pessoas com quem alguém pode se identificar ou admirar – por exemplo, as celebridades. 6.1 A classificação socioeconômica Figura 32 – Quem somos economicamente falando? A variável econômica é tão importante que todos nós somos classificados socioeconomicamente. Há um instrumento denominado Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2014), que, através da aplicação de uma tabela de posse de bens, permite identificar o potencial de consumo do brasileiro. 95 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA Atualmente, esse instrumento divide a população brasileira em seis estratos socioeconômicos denominados A, B1, B2, C1, C2, D e E. Um de seus objetivos é avaliar o poder de compra de grupos homogêneos de pessoas para a determinação de possíveis públicos‑alvo. A atualização da tabela inclui itens como microcomputador, lava‑louça, motocicleta, secadora, micro‑ondas e acesso a serviços públicos. Apenas como ilustração, observe a seguir como ficaram as diferenças entre as classes com relação à Renda Média Familiar (ABEP, 2014): A: por volta de R$ 20.272,56 B1: por volta de R$ 8.695,88 B2: por volta de R$ 4.427,36 C1: por volta de R$ 2.409,01 C2: por volta de R$ 1.446,24 D e E: por volta de R$ 639,78 Saiba mais Sugerimos que você visite o site: <www.abep.org>. Nesse endereço, você poderá ter acesso à Tabela de Posse de Bens, que é atualizada todo ano, e assim descobrir a que classe socioeconômica pertence. 6.2 A classificação psicográfica Além do critério socioeconômico, há também outro critério muito utilizado: o psicográfico, com o uso do instrumento conhecido como Vals 2 (Values and Lifestyles). Ele está disponível no mercado desde 1978 e foi desenvolvido pela SRI International. Seu objetivo é analisar o estilo de vida, valores, crenças e atitudes do consumidor. Esse instrumento foi criado com base no cidadão norte‑americano e, pela falta de outros instrumentos, tem sido usado em vários países, incluindo o Brasil. 96 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II O Vals 2 é definido por meio da aplicação de um questionário, formado por 35 afirmações, que mede valores e atitudes. O resultado da análise estatística permite dividir os respondentes em dois grupos: • os de mais recursos: composto de grupos de inovadores, racionais, realizadores e experimentadores; • os de menos recursos: composto de grupos de crédulos, lutadores, executores e sobreviventes. Esses oito grupos derivam de dois cálculos que, a partir das respostas dadas a cada uma das afirmações que compõem o questionário, identificarão o grupo correspondente a cada indivíduo. O primeiro cálculo é a média ponderada de cada frase, a fim de que, posteriormente, seja calculada a média aritmética de cada um dos grupos. Ao final, o grupo que obteve a maior média corresponderá ao sujeito que respondeu ao questionário. Apresentamos a seguir as características relacionadas a cada um dos oito grupos, com o objetivo de ilustrar a importância tanto de critérios socioeconômicos (Critério Brasil) quanto de critérios psicográficos (Vals 2) para definir quem somos, econômica e psicologicamente, em um mundo de consumo. Grupos Vals 2 • Os de mais recursos: — inovadores (innovators): receptivos a novas ideias. Bem‑sucedidos, sofisticados, ativos, do tipo que “assumem o controle”. Os compradores geralmente preferem produtos e serviços relativamente sofisticados e caros. São orientados para o mercado de nicho. Imagem é importante, mas não como evidência de status, e sim como expressão de seu gosto por independência e personalidade. Procuram sempre por novos desafios e suas vidas são caracterizadas por variedade; — racionais (thinkers): motivados pelos ideais. São maduros, satisfeitos, “de bem com a vida”. Embora sua renda permita diferentes escolhas, são consumidores conservadores e práticos. Dão preferência à durabilidade, à funcionalidade e ao valor dos produtos que compram. Valorizam a ordem, o conhecimento e a responsabilidade. Geralmente, são bem‑educados e procuram ativamente informações no processo de decisão de compra. São bem informados sobre o mundo e os eventos nacionais, estando sempre alerta para oportunidades de expandir seus conhecimentos; — realizadores (achievers): motivados pelo desejo da conquista e realização. Têm objetivos já direcionados, com profundo compromisso com a família e a carreira. A vida social deles está estruturada no trabalho. São bem‑sucedidos, orientados para a carreira e o trabalho. São consumidores ativos no mercado. A imagem é importante para eles: prestigiam produtos e serviços que demonstrem seu sucesso e representem suas conquistas para os seus pares. Têm vida convencional. São politicamente conservadores, respeitam a autoridade e o status quo. Valorizam o consenso e a estabilidade no lugar do risco, o que é previsível nesse perfil; 97 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA — experimentadores (experiencers): são jovens, entusiastas e impulsivos. São consumidores ávidos e gastam uma proporção relativamente alta de sua renda em roupa, entretenimento e socialização. Tornam‑se rapidamente entusiastas de novas oportunidades, mas perdem o interesse com a mesma rapidez. Procuram variedade e “excitação”, sorvendo o novo, a vanguarda e o risco. Suas compras refletem ênfase em locais “descolados”. O que os motiva é a autoexpressão. A energia desse segmento está voltada para exercícios, esportes, recreação ao ar livre e atividades sociais. • Os de menos recursos: — crédulos (believers): são motivados pelos ideais. São conservadores, convencionais, consumidores previsíveis, com crenças baseadas no tradicional e em códigos já estabelecidos, como família, religião, comunidade e nação. Preferem produtos conhecidos e marcas tradicionais. São consumidores leais; — lutadores (strivers): instáveis, inseguros, buscam aprovação e têm recursos limitados. Preferem produtos da moda que imitem as compras daqueles com mais poder aquisitivo. São consumidores ativos e entendem ser a compra ao mesmo tempo uma atividade social e uma oportunidade para demonstrar aos seus amigos a sua habilidade para comprar. Como consumidores, são impulsivos “na medida do possível”, ou seja, se as circunstâncias assim o permitirem; — executores (makers): motivados pela autoexpressão. Têm energia e habilidade suficientes para levar adiante seus projetos de maneira bem‑sucedida. Vivem no contexto tradicional de família, trabalho e recreação física. Têm pouco interesse em assuntos e atividades fora desse contexto. São práticos e autossuficientes. Dão valor somente a produtos com uma finalidade prática ou funcional. Buscam produtos básicos. Preferem o valor à luxúria; — sobreviventes (survivors): mais velhos, resignados, passivos, preocupados com segurança e de recursos limitados. Mais voltados para atender as necessidades básicas do que satisfazer desejos. Não demonstram nenhuma forte motivação primária. Vivem estritamente focados no seu dia a dia. São consumidores cautelosos e fiéis às suas marcas favoritas, especialmente se podem comprá‑las com desconto. 6.3 Os modelos de utilidade e de escolha racional Cabe‑nos, neste momento, destacar a Teoria Econômica do Consumidor, que explica e tenta prever como os consumidores tomam decisões de compra e de que forma suas escolhas são influenciadas pelas variações de preço e renda, por exemplo.Nesse sentido, a teoria afirma que o comportamento do consumidor é baseado em dois princípios: • o princípio da racionalidade: em que o consumidor toma decisões com base na análise de custos e benefícios. É a conhecida relação de custo x benefício; 98 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II • o princípio da utilidade: em que a utilidade é a característica de um produto que visa a proporcionar bem‑estar ou satisfação ao consumidor. De acordo com Bianchi e Muramatsu (2005, p. 42‑43): Admitimos que essa estratégia está sujeita a problemas de tratabilidade. Para superar essa dificuldade, sugerimos na seção 4 um modelo segundo o qual a escolha é determinada por um conjunto de objetivos múltiplos irredutíveis. Esse modelo lexicográfico construído originalmente por Moldau abre espaço para a explicação do comportamento movido por diferentes critérios e ordenações de critérios, dispostos em uma estrutura hierárquica. Além disso, ele está melhor sintonizado com a noção humana dos estados psicológicos como indutores da ação. Para encerrar o artigo, reiteramos nossa crítica à teoria da escolha tradicional, por sua incapacidade de captar os mecanismos e processos causais envolvidos no fenômeno da escolha. Boas teorias fornecem descrições adequadas daquilo que se passa na realidade econômica, a despeito das necessárias simplificações, abstrações e omissões. No que concerne à nossa história particular, a mensagem a ser extraída é de que não há nada de errado em excluir elementos da psicologia da escolha que não são essenciais, desde que as principais forças motrizes que determinam o comportamento racional sejam adequadamente levadas em conta. A parcimônia é um valor importante na construção teórica, mas sua importância tem sido exagerada. Retomando a relação existente no modelo racional, que associa custo e benefício, podemos dizer que o que é benefício para uma pessoa pode não o ser para outra. Existem assim, nessa relação, requisitos que fogem do simples racional. Ribeiro (2009, p. 214) ilustra bem isso: Um carro esporte é mais caro do que um carro comum, gasta mais gasolina, é menos cômodo, leva menos bagagem, é barulhento e tem um motor com uma potência que nunca vou usar, porque eu não passo dos cem. Pensando bem, não tem nenhuma utilidade prática quando comparado a um carro comum, para a vida que eu levo. Mas quando eu me sento nele… Sinto‑me jovem, cabelos pretinhos, bronzeado, rico. A cabeça de Steve Jobs com o corpo do Keanu Reeves. Quanto vale isso? Com exceção de alguns produtos, como antimicóticos ou fósforos, a razão pela qual o consumidor compra está relacionada ao que chamamos de matriz: as sensações que ele experimenta ao realizar determinado ato. Com estudos complementares da teoria econômica, descobriram‑se as anomalias relacionadas ao consumo. 99 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA Figura 33 – Entre as anomalias comportamentais em um ambiente de consumo, podemos citar as compras por impulso Giglio (2002, p. 241) cita um estudo realizado por Almeida (1993) que verificou que o humor do consumidor influencia, de certa forma, a compra por impulso. Almeida encontrou alguns padrões, agrupando‑os em três abordagens: • conceito tradicional: apresenta a compra impulsiva como compra não planejada, cuja principal causa é o meio ambiente; • conceito comportamental simples: a compra impulsiva é uma compra emocional; • conceito comportamental exagerado: a compra impulsiva é uma doença. Giglio (2002) complementa agregando a essas três abordagens um novo conceito, explicando que a compra impulsiva resulta de uma interpretação realizada pelo consumidor do momento que está vivenciando. Segundo ele: Os dois últimos modelos anteriores estão mais orientados para variáveis internas dos sujeitos. O primeiro modelo e suas variações utilizam fatores ambientais, como origem e explicação dos motivos da compra por impulso. Entre eles, podemos citar: • meio ambiente resultante de ações de marketing: redução de preço, publicidade, oferta de cupons, abertura da loja em dias especiais; • meio ambiente anterior à compra: formulação de lista, vendas por correspondência; • meio ambiente exterior à compra: inovações de marketing, como cartas de crédito, lojas automáticas; 100 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II • meio ambiente psicossocial: festas criadas (Dia das Mães), presença de alguém de influência (um vendedor da família); • tempo: abertura das lojas nas férias ou domingos; • estoque: por exemplo, de cerveja no verão. Como variáveis individuais teríamos: • demográficas (sexo, classe social etc.); • ligadas aos afetos: fadiga, decepção, humor, paixão; • ligadas ao ato de compra: eliminação de resistência de compra (GIGLIO, 2002, p. 241). Segundo Ribeiro (2009, p. 31): Todos são carentes de afeto hoje em dia, do presidente da empresa à operária. Surgem daí os impulsos de compra. […] A compra, de certo modo, é um sucedâneo do afeto. Por isso mudou o conceito antigo de vender. Não é mais convencer alguém a comprar produtos. Atualmente “vender é suprir carências”. Ainda a esse respeito, Ribeiro (2009, p. 43) continua: Compram porque precisam da experiência psicológica de comprar. Existe, contudo, um contrapeso. É a lei do equilíbrio. Uma lei universal que se aplica tanto à física quântica quanto à física newtoniana. O seu enunciado é simples: para cada ganho, de alguma forma deve haver uma perda correspondente. Ela funciona mais ou menos como o cardápio de um restaurante. De um lado tem a descrição do prato e de outro o preço que você vai pagar para comê‑lo. Ou seja, o preço que pagamos pelo aumento da renda familiar foi a redução da vivência comum e das trocas afetivas entre os membros da família. 7 A TEORIA DOS JOGOS E AS DINÂMICAS DE GRUPO O interesse pelo estudo dos grupos sociais começa desde o desenvolvimento da Sociologia, influenciado pelas especulações filosóficas sobre o tema. Esse mesmo interesse surge na Psicologia tendo Kurt Lewin como precursor, determinando, em 1936, o surgimento do termo dinâmica de grupo nas Ciências Sociais. 101 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA De acordo com Barreto (2006, p. 24): “A teoria da Gestalt marcou toda a obra de Kurt Lewin e, após o aparecimento da Dinâmica de Grupo, surgiram diversas abordagens teóricas que hoje fundamentam o trabalho com grupos, em vários domínios”. Aprofundando um pouco mais a relevância da Teoria dos Jogos no âmbito da Psicologia Econômica, podemos dizer que ela é importante nos processos de tomada de decisão. Observemos um caso prático que poderia ocorrer conosco. Suponha que você abre uma microempresa que fabrica chocolates. Devido à forte concorrência nesse setor, você decide reduzir o preço de seu produto, pois ele ainda não é conhecido no mercado. Logicamente, sua decisão terá consequências sobre as vendas de seus concorrentes. O que pode acontecer, por exemplo, é que a concorrência também reduza os preços de seus produtos. Por outro lado, a concorrência poderá levar em consideração a possibilidade de que você, novo empresário, reduziu o preço de seu produto por se tratar de algo novo no mercado. Se observamos esse caso, averiguamos que há uma interação entre as decisões: a sua e a de seus concorrentes. Além disso, você tentará ser racional para tomar a melhor decisão, a fim de maximizar os lucros. Finalmente, espera‑seque você procure antecipar quais serão as possíveis reações de seus concorrentes no momento de tomar a sua decisão. Caro leitor, você compreendeu que se trata de um jogo? Antes do aparecimento da Teoria dos Jogos, a área da Matemática já apresentava, de alguma forma, uma sinalização para o seu desenvolvimento com os chamados jogos de azar (as loterias, jogos de cartas, de dados). Em 1944, quando o matemático John von Neumann e o economista Oskar Morgenstern publicaram o livro Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico, pode‑se dizer que houve a primeira ligação entre as duas áreas. De acordo com Gremaud e Braga (1998, p. 243): É inegável a familiaridade que as pessoas têm com o termo jogo. Todos os dias vemos nos jornais ou televisão reportagens inteiras sobre futebol, basquete ou vôlei. É difícil também não encontrar pessoas que pelo menos uma vez na vida não tenham experimentado jogar “palitinho”, “par ou ímpar”, dama ou xadrez. O termo jogo, no entanto, pode deixar de ser apenas uma palavra relacionada com o lazer para ter uma importância fundamental como instrumento de análise econômica. Por exemplo, uma empresa oligopolística, tal como num jogo de xadrez, deve estar atenta às possíveis estratégias de seus concorrentes, para não acabar em posição difícil ou em xeque. Deve também decidir se adota uma estratégia mais agressiva, qual um ataque mais ofensivo no futebol, ou se mantém um comportamento mais moderado ou de espera em relação aos adversários, o que poderia ser comparado com uma estratégia defensiva de um time, esperando 102 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II as oportunidades proporcionadas pelos “contra‑ataques”. Os jogos que são objetos de análise econômica, por constituírem um método de investigação científica, têm uma conotação específica e um tratamento formal que é dado pela Teoria dos Jogos. Esta tem como objetivo a análise de problemas em que existe uma interação entre os agentes, onde as decisões de um indivíduo, firma ou governo afetam e são afetadas pelas decisões dos demais agentes ou jogadores. A Teoria dos Jogos, definida como o estudo das decisões em situação interativa, não se restringe à Economia, sendo também bastante utilizada em Ciência Política, Sociologia, estratégia militar etc. Observação Na Teoria dos Jogos, trabalha‑se com o que se denomina de ambiente estratégico, no qual o resultado de uma ação não depende apenas dela, mas também das ações dos outros tomadores de decisão. Ainda de acordo com Gremaud e Braga (1998, p. 247), a caracterização de um jogo é determinada: […] por um conjunto de regras e um conjunto de resultados. As regras “descrevem” a realidade, delimitando as ações possíveis dos agentes (jogadores). Nesse campo de ação, os agentes tomam suas decisões de modo racional e maximizador com base no conjunto de resultados. Mas que elementos compõem um conjunto de regras? a) os jogadores (agentes econômicos); b) o conjunto de ações possíveis para cada jogador; c) o conjunto de informações disponíveis para cada agente. Além desses elementos, a caracterização do jogo se completa com o conjunto dos resultados possíveis, também denominados de payoffs, decorrentes da interação das ações (GREMAUD; BRAGA, 1998, p. 247). Conforme os autores, o jogador pode ser qualquer um de nós que, diante de uma situação econômica, seja capaz de tomar decisões. 103 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA Observação Segundo Gremaud e Braga (1998), os jogadores inicialmente são considerados racionais e têm preferência em relação aos resultados do jogo. Além disso, numa situação em que necessitam tomar uma decisão, eles maximizam suas preferências. No que diz respeito às ações e estratégias, elas são definidas a partir da possibilidade de cooperação ou não. Dessa forma, os jogos podem ser classificados como jogos cooperativos ou não cooperativos. Lembrete A Teoria dos Jogos, como visto anteriormente, é importante nos processos de tomada de decisão. No entanto, o profissional deve analisar a natureza de cada caso, o que determinará a escolha do tipo de jogo mais eficiente a fim de minimizar o risco de erro. Com relação às informações disponíveis, elas podem ser do tipo completas (quando os jogadores possuem todas as informações necessárias para a tomada de decisão) e incompletas. Há também uma outra possibilidade de classificação: informação perfeita (ou sequencial, como o xadrez) e a informação imperfeita (ou simultânea, como o par ou ímpar). Finalmente, os resultados (payoffs) derivam da interação de um conjunto de estratégias e serão avaliados de acordo com as preferências de cada jogador. Saiba mais Sugerimos pesquisar sobre as duas formas de representar graficamente um jogo: a forma extensiva (chamada árvore de um jogo) e a forma normal (chamada estratégica): GREMAUD, A. P.; BRAGA, M. B. Teoria dos Jogos: uma introdução. In: PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. de. (Org.). Manual de Economia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 243‑260. A partir de Lewin, outros estudos foram sendo realizados: as dinâmicas de grupos e como estes produzem mudanças, conformidade e obediência a normas culturais, comportamentos adequados que levem a uma boa impressão, entre outros. 104 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II Surgem então os jogos grupais, que fazem uso de algumas técnicas com o intuito de criar estratégias para atingir objetivos do próprio grupo, bem como de aprender a coordenar o trabalho grupal na vivência dessas técnicas. A seguir, veja um tipo de jogo de grupo: Assumindo papéis Ariela Calixto Dias e Carolina Mello Alves Correa (autoras do jogo). Objetivos Interação e integração grupal; criatividade; comunicação; capacidade de assumir o papel do outro; conhecimento grupal; cooperação. Número de participantes De 8 a 20 pessoas. Material a ser utilizado Placas de papel com o nome de todas as pessoas do grupo e fita adesiva. Tempo de duração aproximado 40 minutos. Procedimento O grupo será dividido em dois subgrupos: grupo A e grupo B. O grupo A sairá da sala, enquanto o grupo B sorteará papéis contendo os nomes dos integrantes do grupo A. Cada pessoa do grupo B terá que assumir o papel da pessoa que sorteou, falando em primeira pessoa e/ou encenando as principais características desta. Poderá contar com a colaboração grupal para realizar sua tarefa. O grupo A é chamado a voltar para a sala e receberá placas contendo os nomes dos elementos do próprio grupo. Após ter assistido às apresentações feitas pelo grupo B, o grupo A colocará as placas contendo os nomes que correspondem à dramatização feita. O processo será repetido, invertendo a posição dos grupos. Após a distribuição de todas as placas haverá uma discussão grupal proposta pelo coordenador. Observação: se houver número ímpar de participantes, uma pessoa poderá representar dois papéis. Fonte: Andreola (2003, p. 121). 105 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA De acordo com Andreola (2003, p. 63, grifo do autor): A dinâmica de grupo não se restringe, em seus temas e categorias, ao âmbito da psicologia. Ela tem raízes na antropologia, na epistemologia, na neurolinguística, nas ciências da linguagem, do conhecimento e da comunicação. Na sua dimensão de macrodinâmica de grupo, não pode dissociar‑se da ciência política. Eu acrescentaria que hoje, mais do que nunca, na perspectivacósmica de uma comunhão universal, a dinâmica de grupo tem vínculos profundos com a ecologia (de oikos: casa, mais lógos: discurso, ciência). Ainda a esse respeito: É principalmente através dos brinquedos que a criança desenvolve suas habilidades corporais, sua imaginação, sua iniciativa, bem como o respeito pelos outros, o relacionamento, o espírito de cooperação, realizando sua socialização. Mas o gosto pelas atividades lúdicas não é exclusivo da criança. Ele se mantém vivo na adolescência, e continua, com características diversas, pela vida toda. No mundo mecanizado e consumista em que vivemos, este impulso originário da pessoa foi em grande parte relegado. Estabeleceu‑se a dicotomia irredutível trabalho‑lazer. O que importa é produzir. E a produção mede‑se apenas em termos quantitativos. […] O jogo permite simular situações concretas, em que os conteúdos abstratos se tornam muito mais fáceis de compreender e de assimilar (ANDREOLA, 2003, p. 63‑64). 7.1 A Neuroeconomia e as Neurociências Ambas as áreas têm como objetivo principal analisar imagens cerebrais para a compreensão das decisões humanas sobre o consumo de produtos (tangíveis e intangíveis), de serviços e de ideias. A Neuropsicologia se desenvolveu, inicialmente, com estudos para descobrir a localização da área do cérebro responsável pela fala. Por volta de 1880, Santiago Ramón y Cajal, patologista e neurocientista, afirmou que o nosso sistema nervoso é constituído por células, que mais tarde foram chamadas de neurônios. De acordo com Moreira, Pacheco e Barbato (2011), diariamente tentamos entender os indivíduos em situações de tomada de decisão. Segundo os autores, nas decisões, existiriam duas ou mais opções disponíveis. Dessa forma, o indivíduo deverá conhecer as alternativas de escolha, equacionar os resultados dessas ações e aprender com as escolhas realizadas. Ainda a esse respeito, os autores afirmam: Estes novos ramos da ciência, oriundos da economia e do marketing propriamente ditos caracterizaram‑se pela tentativa de entender o indivíduo, não mais através da matematização de suas preferências ou da observação e construção de valores de uma marca ou produto, 106 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II mas sim, de uma maneira mais complexa e completa, desvendando como os mecanismos de criação de preferências e escolhas ocorrem internamente, ou seja, como o cérebro deste indivíduo recebe, processa as informações e o condiciona a uma decisão. Estas duas novas áreas de estudos são denominadas neuroeconomia e neuromarketing. […]. A neuroeconomia seria então uma nova área de pesquisa que alia conhecimentos de economia, psicologia, neurociências entre outros, para explicar o comportamento humano de tomada de decisão. Um de seus focos é a análise da arquitetura interna do cérebro e como esta pode informar sobre o processo de escolhas (CHOVART; MCCABE, 2005). […] Dada a necessidade de uma melhor compreensão acerca do indivíduo e do modo como fazem suas escolhas, aspectos da psicologia e ciências cognitivas passaram a integrar e a proporcionar avanços nos estudos sobre o tema. Neste contexto, sai de área o homo economicus da teoria econômica e reaparece o homo sapiens, cuja natureza social, econômica e do comportamento é resultado de sua neurobiologia (KENNING; PLASSMANN, 2005) (MOREIRA; PACHECO; BARBATO, 2011, p. 100‑102). O mapeamento de decisões inconscientes através das técnicas da Neurociência tem conseguido explicar o comportamento que vai além de apenas uma vontade consciente, dando condições à economia e ao marketing de estudar a fundo as informações que possuem, possibilitando abordagens mais modernas. De fato, uma das principais lições apreendidas com essas duas novas áreas é que os indivíduos não são sempre racionais em suas escolhas. Esse fato foi comentado por nós, anteriormente, na teoria econômica que explica a relação entre custo e benefício. Aspectos emocionais possuem importante papel não apenas na percepção das alternativas, mas também na formação das preferências e no processo final de escolha. O homem e seu comportamento econômico são muito mais do que modelos matemáticos. A partir da possibilidade de visualizar, através de técnicas modernas (que a economia pediu emprestadas à Neurociência), a imagem cerebral diante de uma tomada de decisão, a racionalidade econômica acabou sendo contestada. Decisões econômicas são mais complexas do que os modelos econômicos propostos para simulá‑las. Assim, a área de Neuroeconomia aproxima temas da Psicologia Cognitiva e da Neurociência para a análise da decisão econômica. Outra tendência são os possíveis objetos de estudo na área de Economia Experimental. Segundo Bianchi e Silva Filho (2001, p. 133): Historicamente, a opção metodológica da economia define uma ciência não experimental, mais próxima da astronomia e da meteorologia do que da química, da biologia e dos demais ramos da física. A opinião de que não é possível a realização de experimentos controlados tem sido predominante na história do pensamento econômico, pelo menos 107 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA desde John Stuart Mill. Clássicos como Mill (1978 [1836]) enquadram a economia no conjunto das “ciências morais”, cujo objeto é refratário ao método experimental. Mill começa seu conhecido ensaio sobre o método da economia política argumentando que em muitas ciências físicas o pesquisador que monta um experimento constrói um ambiente artificial que lhe permite pleno controle sobre as variáveis cujo impacto pretende testar. A mesma possibilidade não se coloca para a ciência da economia, pois a complexidade da natureza humana impede a reprodução, em escala microscópica, das condições de laboratório. 8 EMPREENDEDORISMO SOCIAL Figura 34 – Empreendedorismo social: um novo modelo de pensar a economia O empreendedorismo social abrange diversos objetivos, como promover ações capazes de mudar uma realidade social e usar técnicas de gestão, inovação, criatividade, sustentabilidade e outras com o propósito de maximizar o capital social de uma comunidade, bairro, cidade, país. Empreendedores sociais, portanto, buscam transformar o mundo e melhorar a vida das pessoas utilizando métodos geralmente presentes no cotidiano das empresas. São indivíduos com soluções inovadoras para os problemas sociais, que propõem ideias, mudam o sistema, trazem soluções, persuadem grupos a seguir um novo rumo. Quando pensamos em transformações, é necessário levar em conta que podemos melhorar o que já existe ou inventar novas abordagens. Ambas as direções devem ser, ao mesmo tempo, lucrativas, sociais e ambientais. 108 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II Observação No Brasil, há duas empresas que investem em empreendedores sociais: Artemisia e Ashoka. A Artemisia foi fundada em 2004, sendo uma das primeiras organizações a apoiar negócios de impacto social para a população brasileira de baixa renda. A Ashoka é uma organização internacional criada em 1980 pelo norte‑americano Bill Drayton. Ela iniciou seus trabalhos de empreendedorismo social na Índia e no Brasil. Saiba mais Para mais informações, acesse os sites das empresas: <artemisia.org.br>. <brasil.ashoka.org>. A principal meta do empreendedor social é reduzir ou mesmo abolir as desigualdades sociais e econômicas a partir da criação de negócios sociais, que geram não só dinheiro como também melhorias em todos os setores da sociedade, a fim de promover oportunidades iguais. De acordo com Martine Osberg (2015): O sucesso desses empreendimentos depende tanto de uma adoção das metas sociais quanto de restrições financeiras rígidas. Tipicamente, o objetivo é beneficiar um grupo específico de pessoas, transformando suas vidas de modo permanente ao alterar um equilíbrio socioeconômico prevalecente que opera em detrimento de seus interesses. Às vezes, como acontece com o empreendedorismo ambiental, o benefício pode se estender a um grupo mais amplo, uma vez que o projeto tiver fornecido prova de conceito. Porém na maioria das vezes, o alvo do benefício é um segmento da sociedade marginalizado ou em situação de desvantagem econômica que não conta com os meios para transformar seus prospectos sociais ou econômicos. A empreitada também tem de ser financeiramente sustentável. Do contrário, o novo equilíbrio socioeconômico exigirá um fluxo constante de subsídios de contribuintes ou filantropos, o que não é fácil garantir indefinidamente. Para conquistar a sustentabilidade, os 109 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA custos da empresa devem cair à medida que o número de seus beneficiários aumentar, permitindo ao empreendimento reduzir sua dependência de apoio filantrópico ou governamental conforme cresce. Um exemplo conhecido de empreendedorismo social é o de Muhammad Yunus, economista e banqueiro de Bangladesh, Prêmio Nobel da Paz de 2006. No final dos anos 1970, ele assegurou um financiamento para realizar um experimento com mulheres pobres, concedendo a elas empréstimos de pequenas quantias e fundando logo em seguida o Grameen Bank, uma empresa social sustentável a serviço da população de bengaleses em situação de desvantagem econômica. Saiba mais Sugerimos a leitura de dois livros de Muhammad Yunus: YUNUS, M. O banqueiro dos pobres. Tradução Maria Cristina Guimarães Cupertino. São Paulo: Ática, 2008. YUNUS, M. Criando um negócio social. Tradução Leonardo Abramowicz. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. De acordo com especialistas que analisaram alguns empreendimentos sociais, faz‑se necessário mudar dois aspectos de um sistema existente: os atores envolvidos e a tecnologia instrumental aplicada. Ambos os aspectos deslocariam o equilíbrio social e econômico em direção aos seus beneficiários‑alvo. Os atores podem ser classificados em duas categorias: clientes, cujo papel é deslocar o equilíbrio de poder, e o governo, cujo papel é alterar a economia. A tecnologia seria alcançada por meio de três fatores: substituição (por uma tecnologia de baixo custo, por exemplo), criação ou readaptação (MARTIN; OSBERG, 2015). Saiba mais Sugerimos a leitura do texto de Martin e Osberg, que apresenta dois interessantes projetos: o GoodWeave International (fundado por Kailash Satyarthi, Prêmio Nobel da Paz de 2014) e o Medic Mobile: MARTIN, R. L.; OSBERG, S. R. Dois fatores‑chave para o empreendedorismo social sustentável. Harvard Business Review Brasil, São Paulo, maio 2015. Disponível em: <http://hbrbr.uol.com.br/ dois‑fatores‑chave‑para‑o‑empreendedorismo‑social‑sustentavel/>. Acesso em: 20 jan. 2017. 110 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II No Brasil, o Sebrae é uma das instituições preocupadas com a questão do empreendedorismo social. Em seu site, encontramos, por exemplo, a seguinte conceituação sobre o que vem a ser um negócio de impacto social: Causar impacto positivo em uma comunidade, ampliando as perspectivas de pessoas marginalizadas pela sociedade, aliado à possibilidade de gerar renda compartilhada e autonomia financeira para os indivíduos de classe baixa (C, D, E) (SEBRAE, 2016). Quando são analisadas as diferenças dos negócios de impacto social para os negócios tradicionais, o Sebrae (2016) destaca: as condições da realidade local e a relevância para a demanda; o fato de a iniciativa não ser desenvolvida para um ganho pessoal, mas para o benefício de um grupo de pessoas; e a questão de a distribuição dos lucros envolver duas correntes divergentes: A primeira, liderada por Muhammad Yunus, economista pioneiro em usar o termo, fundador do Grameen Bank e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006, defende que os investidores só podem recuperar o capital investido, sem direito a lucro e dividendos. Segundo ele, o lucro deve ser totalmente reinvestido na empresa e destinado à ampliação dos benefícios socioambientais. Outra corrente mais ampla, representada por Stuart Hart e Michael Chu, professores estudiosos do tema das Universidades de Cornell e Harvard, nos Estados Unidos, defende a distribuição de lucro por entender que isso possibilita atrair mais investidores e permite a criação de novos negócios na velocidade necessária para superar os desafios sociais existentes no mundo (SEBRAE, 2016). Saiba mais No site do Sebrae, você encontrará todas as etapas para montar um projeto de empreendedorismo: <www.sebrae.com.br>. Pensar em empreendedorismo social é levar em consideração um outro aspecto, igualmente importante. Trata‑se da responsabilidade social. 111 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 PSICOLOGIA ECONOMICA Figura 35 O conceito de responsabilidade social significa agir de forma socialmente responsável na vida pessoal, profissional e empresarial, preocupando‑se com a qualidade do impacto das ações sobre as pessoas e o ambiente. No campo empresarial significa, especificamente, a capacidade de escolher produtos, serviços e marcas pela sua atitude socioambiental. Nesse sentido, ter hoje a certificação de uma empresa com responsabilidade social significa um bom negócio. Responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá‑los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários (INSTITUTO ETHOS apud ALESSIO, 2004, p. 85). Pesquisas recentes mostram que o consumidor, quando está diante de dois produtos concorrentes, opta pelo produto cuja empresa demonstra responsabilidade social, mesmo que esse produto tenha um preço mais elevado. Economicamente falando, as empresas com responsabilidade social atraem investidores e consumidores. Essa preocupação inicia‑se na década de 1970, devido ao aparecimento de uma infinidade de trabalhos acadêmicos estudando o tema. 112 Re vi sã o: R ic ar do - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 03 /2 01 7 Unidade II A partir de um texto do economista Milton Friedman (1962), o debate sobre responsabilidade social ganha importância. O autor afirma que se uma empresa está tendo lucro, dentro da lei, é porque está produzindo um bem ou um serviço que é importante para a sociedade. Nesse sentido, espera‑se que a empresa remunere os fatores de produção, gerando renda para a sociedade e impostos para os governos, que devem aplicá‑los para a resolução de problemas sociais. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) desenvolveu a norma NBR 16001 (2004), que estabelece requisitos para a criação e a operação de um sistema de gestão de responsabilidade social. O objetivo disso é prover às organizações os elementos de um sistema de gestão de reponsabilidade social para que elas possam alcançar seus objetivos. Entre as atividades
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