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Capítulo 03

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3.3 DO MECANISMO DA ARBITRAGEM NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NA ATUALIDADE
	Pautando-se no delineado no decorrer do presente trabalho, é sabido que o instituto da arbitragem não se introduziu no ordenamento jurídico brasileiro com a instituição da Lei de Arbitragem. Conforme já fora esposado, o referido encontra-se presente desde a época da Constituição Imperial de 1824. 
 	No entanto, a prática arbitral era muito pouco difundida, até porque muitos eram os empecilhos existentes. A exemplificar, Carmen Tiburcio[footnoteRef:1], cita: “a falta de execução específica atribuída às cláusulas compromissórias que porventura existissem em contratos, que no entender da época representavam mera obrigação de fazer”. [1: P. 100-101] 
	Ocorre que com a promulgação e publicação da tão mencionada Lei nº 9.307/96, tornou-se a arbitragem tema de grande interesse. Nesse sentido, valendo-se, mais uma vez, do exposto pela autora supracitada, convém destacar os seguintes comentários sobre a difusão do sistema arbitral[footnoteRef:2]: [2: 101] 
[...] a arbitragem tornou-se o tema do momento. Escreve-se muito sobre a matéria, tanto em livros como em periódicos jurídicos. Nas Universidades, proliferam as monografias de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado que se dedicam ao seu estudo. Congressos e seminários a respeito são organizados incessantemente. No campo profissional, muitos advogados dedicam-se a sua prática. Portanto, tudo isso está propiciando a criação de uma cultura pró-arbitragem, que está sendo absorvida pelo Judiciário brasileiro e que, como resultado tem proferido cada vez ais decisões favoráveis ao desenvolvimento do instituto entre nós. 
	Complementado o narrado acima e, reportando-se, por oportuno, ao que fora longamente explanado linhas acima, em tópico anterior deste capítulo, quanto às vantagens diversas no uso da arbitragem, tais como o fato de Poder Judiciário ser caracterizado por considerável morosidade e complexidade. É bastante compreensível que se dê preferência a via diversa que se afigure de forma mais célere e, por consequência, transmita aos indivíduos maior confiança. 
Fatores como estes são preponderantes na vida cotidiana, ademais, são estes os principais responsáveis pela impulsão e crescimento do mecanismo da Justiça Arbitral na atualidade.
	De acordo com Valeria Ferioli Lagrasta Luchiari[footnoteRef:3], “o renascer dos métodos alternativos de solução de conflitos, na atualidade, deve-se, em grande parte, à crise que atravessa a Justiça”. Ainda por suas palavras[footnoteRef:4]: [3: LUCHIARI, Valeria Ferioli Lagrasta – Mediação judicial: análise da realidade brasileira: origem e evolução até a Resolução n. 125, do Conselho Nacional de Justiça – Coordenadores: Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe – Rio de Janeiro: Forense, 2012. p.45.] [4: LUCHIARI, Valeria Ferioli Lagrasta – Mediação judicial: análise da realidade brasileira: origem e evolução até a Resolução n. 125, do Conselho Nacional de Justiça – Coordenadores: Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe – Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 45.] 
O grande progresso científico do Direito Processual não foi acompanhado pelo aperfeiçoamento e pelo aparelhamento do Poder Judiciário. Ainda, o elevado grau de litigiosidade, próprio da sociedade moderna, e a busca da universalidade da jurisdição (facilitação ao acesso ao Poder Judiciário e vasta tipologia de causas que chega ao Judiciário) levam à sobrecarga excessiva de juízes e tribunais. Como consequência, temos a morosidade dos processos, seu alto custo e a burocratização na gestão dos processos.
	Seguindo esta linha de raciocínio, a autora supracitada faz menção a dados estatísticos[footnoteRef:5] que revelam, o grande número de demandas judiciais ocorre não só nos tribunais superiores como naqueles de primeira instância e nos demais ramos do Poder Judiciário. [5: Vide Relatório publicado pelo Banco Mundial: Brasil – Fazendo com que a Justiça Conte – Medindo e aprimorando o desempenho do judiciário no Brasil, 30.12.2004. ] 
	Até muito pouco tempo atrás, a arbitragem era vista tão somente como um método alternativo à prestação de serviços jurisdicionais do Estado. No entanto, atualmente, este pensamento primário vem sendo mitigado. Em que pesem as já mencionadas limitações envoltas ao mecanismo arbitral, seu uso, em determinadas demandas, caracteriza-se por ser preponderante. Nesse sentido, Eduardo Jobim e Rafael Bicca Machado dispõem[footnoteRef:6]: [6: JOBIM, Eduardo; MACHADO, Rafael Bicca (coord.) – Arbitragem no Brasil: Aspectos jurídicos relevantes – São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 379.] 
 	
Parece inadequado pensar, hoje, que a arbitragem possa efetivamente se constituir de uma espécie de solução para todos os problemas enfrentados pela jurisdição estatal, sendo mais adequado vislumbrá-la como um excelente (e complementar) mecanismo de prestação jurisdicional, especialmente para um importantíssimo conjunto específico de demandas, para os quais as características da arbitragem mostram-se muito vantajosas, em comparação com a jurisdição prestada pelo Estado. 
 	Ademais, o uso de meios diversos da justiça comum, na obtenção da autocomposição, se apresenta como proposta concreta o suficiente para efetivar o fundamental direito de acesso à justiça[footnoteRef:7]. [7: LUCHIARI, Valeria Ferioli Lagrasta – Mediação judicial: análise da realidade brasileira: origem e evolução até a Resolução n. 125, do Conselho Nacional de Justiça – Coordenadores: Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe – Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 56.] 
	Isso porque, segundo a brilhante narrativa da já mencionada autora Valeria Ferioli Lagrasta Luchiari[footnoteRef:8]: [8: LUCHIARI, Valeria Ferioli Lagrasta – Mediação judicial: análise da realidade brasileira: origem e evolução até a Resolução n. 125, do Conselho Nacional de Justiça – Coordenadores: Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe – Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 56.] 
[...] a realização da tradicional atividade judicial pelo Estado-juiz, de forma isolada, não tem atendido à garantia constitucional do acesso à justiça, pois, conforme se apresenta atualmente, não tem condições de atender adequadamente à demanda social por resolução dos conflitos, seja pelo excesso de litigiosidade da sociedade, seja pela escassez de recursos humanos e materiais, ou porque se trata de um mecanismo obsoleto, burocratizado e, por vários outros motivos, ineficiente.
	A esse despeito, é de imperiosa observância o fato de que a Justiça Arbitral deixou de ser tão somente um mecanismo apto a descongestionar o judiciário. Apesar de ser este um fato incontroverso, o que se busca demonstrar é que a arbitragem hoje é componente essencial à justiça brasileira. 
 	Sob este espeque, convém transcrever os precisos ensinamentos de Tereza Furman Alvez de Souza[footnoteRef:9] ao elucidar o seguinte: [9: SOUZA, Tereza Furman Alves de. Mediação e Arbitragem: conflito fora da vitrine. Revista de Mediação e Arbitragem Empresarial, São Paulo, ano 1, n.6, 2004. p.30-31.] 
 As relações humanas vêm sofrendo grandes mudanças de paradigma. Há o entendimento predominante de quer para fazer justiça não basta apenas “aplicar a lei” segundo determinados procedimentos. É preciso mais. O homem está disposto a ouvir, dialogar, negociar, mudar suas posições se necessário for. Livres das angústias que cercam as questões adversariais e com a certeza de que o acordo depende apenas deles, poderão trabalhar apenas a questão que os aflige, olhando a problemática conforme realmente se lhes apresenta com a grande vantagem de preservar o inter-relacionamento.
	Remontando àquilo que foi exposto no tópico inicial deste capítulo, quanto aos atuais conflitos que acometem a sociedade, vale relembrar que muitos deles, conforme defende-se, poderiam ser solucionados através da Justiça Arbitral. No entanto, obstaculizando-se esta, há variadas barreiras, tais como a existência de vedações legais[footnoteRef:10]. [10: BRASIL. Lei nº 9.307/1996. Dispõe sobre a arbitragem.Vade Mecum. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1435. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem. ] 
	Nessa esteira, objetivando demonstrar o uso do mecanismo da arbitragem na resolução de conflitos atuais passa-se a expor, reportando-se ao esposado no início deste capítulo, exemplificadamente, sobre o desenvolvimento da arbitragem nos meios empresarial, administrativo, trabalhista e do consumidor. 
	No que tange ao uso da arbitragem nos meios tratados pelo direito empresarial e direito do consumidor, não há muito em que se aprofundar. Pautando-se em uma das principais características da arbitragem, qual seja, a sua celeridade, bem como nas demais facilidades na resolução dos conflitos, os empresários e consumidores vêm manifestando crescente adesão ao juízo arbitral. 
	E motivando-os nesta escolha, cita-se, oportunamente, que, no âmbito empresarial, alternativamente a justiça tradicional, a arbitragem mostra-se mais rápida, barata e sigilosa[footnoteRef:11]. [11: VIEIRA, Antonio Vicente. Desenvolvimento da arbitragem na atualidade brasileira. Jus Vigilantibus, 2009. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/38958/1> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
 	Ao passo que no âmbito das relações consumeristas, de acordo com Cristiane Crelier[footnoteRef:12], o uso da arbitragem afigura-se de forma mais vantajosa, razão pela qual nota-se que muitas empresas passaram a adotar medidas incentivadoras para que os consumidores utilizem o meio alternativo supra. [12: CRELIER, Cristiane. Cresce a arbitragem entre consumidores. Revista de Mediação e Arbitragem Empresarial, Brasília: ano 1, n.6, 2004.p. 13-15.] 
	Já no que concerne ao âmbito trabalhista, não há na doutrina posicionamento pacífico quanto a possibilidade de que incida sobre este o juízo arbitral. E isso se deve, em muito, ao fato de que os direitos trabalhistas são considerados direitos de ordem pública, ou seja, são direitos indisponíveis, não suscetíveis de renúncia ou transação[footnoteRef:13]. [13: PINTO, Luiz Roberto Nogueira. Arbitragem: a alternativa premente para descongestionar o poder judiciário. São Paulo: Arte & Ciência, 2002. p. 131.] 
	Aliado a isto, pesa, também, o fato de que, há ausência de tradição brasileira no uso do comentado instituto, bem como o fato de que inexiste dispositivo normativo que encampe o mesmo.
	Nesse contexto, revela-se importante o lecionado pelo doutrinador Luiz Roberto Nogueira Pinto[footnoteRef:14] no seguinte sentido: [14: PINTO, Luiz Roberto Nogueira. Arbitragem: a alternativa premente para descongestionar o poder judiciário. São Paulo: Arte & Ciência, 2002. p. 132.] 
	
Uma das condições necessárias para o sucesso da arbitragem trabalhista seria a integração das classes sindicais dos trabalhadores e patrões. Deles dependeria a inclusão das cláusulas compromissória sem acordos e convenções coletivas de trabalho. O maior empecilho no caso seria a conscientização da importância de um desvinculamento do intervencionismo estatal nas relações de trabalho e um exagerado paternalismo da legislação trabalhista que finda por repercurtir nas decisões proferidas pela justiça do trabalho. 
	No entanto, demonstrando a crescente necessidade do uso de mecanismos diversos na solução de conflitos na atualidade, tais como o ora analisado, existem julgados positivos ao uso da arbitragem no âmbito trabalhista. A exemplificar, colaciona-se abaixo, partes importantes de acórdão publicado pelo Tribunal Superior do Trabalho, no qual a juíza relatora, Dra. Maria Doralice Novaes, expõe claramente[footnoteRef:15]: [15: BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. RR 165000-41.1999-003-15-00.3, Acórdão da 4ª Turma. Convenção de arbitragem e de mediação. Nulidade por negativa de prestação jurisdicional. Horas extras. Redução da hora noturna na prorrogação da jornada de trabalho. Relatora: Juíza convocada Maria Doralice Novaes, Brasília,14 de setembro de 2005. Disponível em: <http:// www.tst.jus.br/web/guest/processos-do-tst>. Acesso em: 19 maio. 2013.] 
[...]Cumpre salientar, por primeiro, que o juízo arbitral -  órgão contratual de jurisdição restrita consagrado em nossa legislação que tem por finalidade submeter as controvérsias a uma pronta solução, sem as solenidades e dispêndios do processo ordinário, guardada apenas a ordem lógica indispensável de fórmulas que conduzem a um julgamento escorreito de direito e de equidade – a meu ver, tem plena aplicabilidade na esfera trabalhista porque há direitos patrimoniais disponíveis no âmbito do direito do trabalho, data vênia de doutras opiniões em sentido contrário.
[...]
É que, ao se afirmar, genericamente, que os direitos trabalhistas constituem direitos patrimoniais indisponíveis, não se leva em conta que o principio da irrenunciabilidade de tais direitos foi, em diversas situações, mitigado pelo legislador. Um primeiro exemplo desta circunstancia está na existência de normas especificas que preveem expressamente sua disponibilidade, como v.g. os direitos consagrados pelos incisos VI e XIV do artigo 7° da Carta Republicana. Outro, quando se identifica o momento em que os direitos são devidos.
[...]
Após a dissolução do pacto, no entanto, não há de se falar em vulnerabilidade, hipossuficiência, irrenunciabilidade ou indisponibilidade, na medida em que o empregado não mais está dependente do empregador. (Grifou-se) 
	No mesmo sentindo, há ainda outros julgados que defendem que a arbitragem é um meio seguro a solucionar e prevenir litígios trabalhistas. Veja-se:
Compromisso Arbitral. Conciliação vantajosa para ambas as partes. Ausente prova de vício de consentimento obreiro. Tratando-se o reclamante de agente plenamente capaz, não se pode cogitar em qualquer vício de consentimento quando o acordo formulado, à época, é vantajoso para as ambas as partes: o reclamante, com o recebimento de quantia, além dos haveres rescisórios, e a reclamada, com a quitação quanto ao objeto do extinto contrato de trabalho[footnoteRef:16]. [16: (TRT/SP, Acórdão: 20080190698).] 
RECURSO DE REVISTA - DISSÍDIO INDIVIDUAL - SENTEÇA ARBITRAL - EFEITOS - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO - ART. 267, VII, DO CPC. I - É certo que o art. 1º da Lei nº 9.307/96 estabelece ser a arbitragem meio adequado para dirimir litígio relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Sucede que a irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas não é absoluta. Possui relevo no ato da contratação do trabalhador e durante vigência do pacto laboral, momentos em que o empregado ostenta nítida posição de desvantagem, valendo salientar que o são normalmente os direitos relacionados à higiene, segurança e medicina do trabalho, não o sendo, em regra, os demais, por conta da sua expressão meramente patrimonial. Após a extinção do contrato de trabalho, a vulnerabilidade e hipossuficiência justificadora da proteção que a lei em princípio outorga ao trabalhador na vigência do contrato, implica, doravante, a sua disponibilidade, na medida em que a dependência e subordinação que singularizam a relação empregatícia deixam de existir. II - O artigo 114, §1º, da Constituição não proíbe o Juízo de arbitragem fora do âmbito dos dissídios coletivos. Apenas incentiva a aplicação do instituto nesta modalidade de litígio, o que não significa que sua utilização seja infensa à composição das contendas individuais. III - Para que seja consentida no âmbito das relações trabalhistas, a opção pela via arbitral deve ocorrer em clima de absoluta e ampla liberdade, ou seja, após a extinção do contrato de trabalho e à míngua de vício de consentimento. IV - Caso em que a opção pelo Juízo arbitral ocorreu de forma espontânea e após a dissolução do vínculo, à míngua de vício de consentimento ou irregularidade quanto à observância do rito da Lei nº 9.307/96. Irradiação dos efeitos da sentença arbitral. Extinção do processo sem resolução do mérito (artigo 267, VII, do CPC), em relação aos pleitos contempladosna sentença arbitral. [...]. II - Recurso conhecido e provido. (Grifou-se) [footnoteRef:17]       
 [17: Processo: RR - 1799/2004-024-05-00.6 Data de Julgamento: 03/06/2009, Relator Ministro: Antônio José de Barros Levenhagen, 4ª Turma, Data de Divulgação: DEJT 19/06/2009. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4311908/recurso-de-revista-rr-1799006620045050024-179900-6620045050024-tst>. Acesso em: 19 maio. 2013. 
] 
RECURSO DE REVISTA AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CÂMARA DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM CLÁUSULA ELEGENDO A VIA ARBITRAL PARA COMPOSIÇÃO DE DISSÍDIOS NDIVIDUAIS TRABALHISTAS.
(...)
“Já é tempo de confiar na independência e maturidade do trabalhador brasileiro, mesmo nos mais humildes, principalmente quando sua vontade tem o reforço da atividade sindical, da negociação coletiva, do Ministério Público que inclusive pode ser arbitro nos dissídios de competência da Justiça do Trabalho – artigo 83,X da LC 75/93. A relutância em admitir a arbitragem em conflitos individuais de trabalho é uma prevenção injustificada que merece urgente revisão. Não se pode impedir que o empregado, através de manifestação de vontade isenta de vicio ou coação, opte por meios mais céleres, rápidos e eficientes d solução do conflito do que a jurisdição do Estado[footnoteRef:18]. (Grifou-se) [18: Acórdão da 4ª Turma. 00259-2008-075-03-00-2 RO.31.01.2009. Desembargador Antonio Álvares da Silva. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/51772628/tst-08-03-2013-pg-122>. Acesso em: 19 maio. 2013. ] 
	Convém ressaltar, contudo, que, ao contrário do posicionamento defendido neste, o entendimento dominante nas cortes superiores ainda é no sentido de que, “é inválida a utilização de arbitragem, método de heterocomposição, nos dissídios individuais trabalhistas.”[footnoteRef:19] [19: Vide julgados: AIRR - 196000-83.2007.5.15.0066. Data de julgamento: 08/05/2013, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/05/2013. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23278332/agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-airr-1960008320075150066-196000-8320075150066-tst>. Acesso em: 19 maio. 2013; E-RR - 217400-10.2007.5.02.0069. Data de Julgamento: 25/04/2013, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 03/05/2013. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23133499/embargo-em-recurso-de-revista-e-rr-2174001020075020069-217400-1020075020069-tst> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
	Porém, ainda que o uso da arbitragem não seja aceito, na maioria das vezes, pelas vias judiciais comuns, dados do Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem – CONIMA, apontam, que já foram realizadas mais de 120 (cento e vinte) mil arbitragens trabalhistas no Brasil, cujas ações envolviam dissídios individuais. Sendo que menos de 1% (um por cento) delas foram contestadas via justiça comum[footnoteRef:20]. [20: SALTARINI, Adriana de Oliveira. Arbitragem na justiça do trabalho. Ferreira Pires Advogados, 2012. Disponível em: <http://ferreirapires.wordpress.com/2012/03/13/arbitragem-na-justica-do-trabalho/> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
	Nesse sentido, a então presidente do CONIMA, a senhora Ana Lúcia Pereira, declarou, em meados do ano passado (2012), que a existência de posição mais clara, por parte do TST, quanto a aplicabilidade da arbitragem após a rescisão contratual, permitiria que empregadores e empregados utilizassem tal via de forma mais consciente e tranquila[footnoteRef:21]. [21: SALTARINI, Adriana de Oliveira. Arbitragem na justiça do trabalho. Ferreira Pires Advogados, 2012. Disponível em: <http://ferreirapires.wordpress.com/2012/03/13/arbitragem-na-justica-do-trabalho/> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
	Para finalizar, no que se refere ao campo administrativo, demonstrando mais uma vez a latente necessidade de adequação e evolução entre os conflitos e meios de resolução, a arbitragem vem se mostrando como mecanismo de extrema utilidade, uma vez que é utilizado para assegurar a execução de serviços de natureza pública. Mantendo, por conseguinte, o equilíbrio econômico e financeiro dos contratos administrativos, uma vez que permite a rápida composição dos conflitos que envolvam direitos disponíveis, através de decisões que adotadas por especialistas no assunto conflituoso[footnoteRef:22]. [22: NETO, Giuseppe Giamundo. A importância da arbitragem nos contratos administrativos. Revista Consultor Jurídico, 2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-set-12/importancia_arbitragem_contratos_administrativos> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
	Nessa esteira, segundo artigo publicado por Giuseppe Giamundo Neto[footnoteRef:23], os compromissos arbitrais em sede de contratos administrativos veem confirmando o progresso legislativo e doutrinário sobre a matéria e, ainda, refletindo a dinâmica que tem se observado nas relações firmadas entre o poder público e o particular. [23: NETO, Giuseppe Giamundo. A importância da arbitragem nos contratos administrativos. Revista Consultor Jurídico, 2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-set-12/importancia_arbitragem_contratos_administrativos> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
	A demonstrar destacam-se julgados do Superior Tribunal de Justiça, nos quais fora decidido favoravelmente a admissão da arbitragem em contrato administrativo, verbis:
APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE RESCISÃO DE CONTRATO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSTRUMENTO DE CONTRATO - CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM - CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA - VALIDADE - ANUÊNCIA EXPRESSA - PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS - EXTINÇÃO DO FEITO - DECISÃO ACERTADA - VINCULAÇÃO DO LITÍGIO À ARBITRAGEM.1. "Cláusula compromissória é o ato por meio do qual as partes contratantes formalizam seu desejo de submeter à arbitragem eventuais divergências ou litígios passíveis de ocorrer ao longo da execução da avença. Efetuado o ajuste, que só pode ocorrer em hipóteses envolvendo direitos disponíveis, ficam os contratantes vinculados à solução extrajudicial da pendência" (STJ, REsp 606345/RS, Segunda Turma, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, julg.17/05/2007).2. "A eleição da cláusula compromissória é causa de extinção do processo sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, inciso VII, do Código de Processo Civil" (STJ, REsp 606345/RS, Segunda Turma, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, julg.17/05/2007).267VIICódigo de Processo Civil3. Recurso conhecido e desprovido.(9234082 PR 923408-2 (Acórdão), Relator: Ruy Muggiati, Data de Julgamento: 28/11/2012, 11ª Câmara Cível) (Grifou-se) [footnoteRef:24] [24: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22842481/9234082-pr-923408-2-acordao-tjpr
] 
PROCESSO CIVIL. JUÍZO ARBITRAL. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. EXTINÇÃO DO PROCESSO. ART. 267, VII, DO CPC. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. DIREITOS DISPONÍVEIS. EXTINÇÃO DA AÇÃO CAUTELAR PREPARATÓRIA POR INOBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL PARA A PROPOSIÇÃO DA AÇÃO PRINCIPAL.267VIICPC1. Cláusula compromissória é o ato por meio do qual as partes contratantes formalizam seu desejo de submeter à arbitragem eventuais divergências ou litígios passíveis de ocorrer ao longo da execução da avença. Efetuado o ajuste, que só pode ocorrer em hipóteses envolvendo direitos disponíveis, ficam os contratantes vinculados à solução extrajudicial da pendência. 2. A eleição da cláusula compromissória é causa de extinção do processo sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, inciso VII, do Código de Processo Civil.267VIICódigo de Processo Civil3. São válidos e eficazes os contratos firmados pelas sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços (CF, art. 173, § 1º) que estipulem cláusula compromissória submetendo à arbitragem eventuais litígios decorrentes do ajuste.CF173§ 1º4. Recurso especial parcialmente provido. (612439 RS 2003/0212460-3, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 24/10/2005, T2 - SEGUNDA TURMA,Data de Publicação: DJ 14.09.2006 p. 299) (Grifou-se) [footnoteRef:25] [25: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/36634/recurso-especial-resp-612439-rs-2003-0212460-3-stj
] 
	Em razão de tudo que se expôs neste trabalho monográfico, na tentativa de se esgotar todos os questionamentos envoltos, é imperiosa a constatação de que há uma crescente evolução e desenvolvimento da arbitragem, fruto dos variados aspectos jurídicos e culturais brasileiros. Consoante a este, passa-se a defender que o instituto abarque, além da tradicional voluntariedade, também a obrigatoriedade[footnoteRef:26]. [26: VIEIRA, Antonio Vicente. Desenvolvimento da arbitragem na atualidade brasileira. Jus Vigilantibus, 2009. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/38958/1> Acesso em: 19 maio. 2013.] 
	Derradeiramente, em observância aos motivos supra, é de curial importância que os conflitos na atualidade sejam dirimidos por métodos tais como o da arbitragem. 
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 28.ed., São Paulo: Saraiva 2002, v. 3, p.377-383
380
LEMOS, Luciano Braga; LEMOS, Rodrigo Braga. A arbitragem e o direito – Belo Horizonte: Mandamentos, 2003. 
76, 77, 79, 
GARCEZ, José Maria Rossani. Arbitragem nacional e internacional: progressos recentes. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. 
“ O único caminho para se acabar com o sentimento de antipatia das pessoas com a justiça oficial é tornar efetivos, tanto em nível nacional quanto internacional, os valores individuais e sociais fundamentais elencados nas Constituições e Documentos Internacionais.”
Mauro Cappelletti

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