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DIREITO CIVIL

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INTENSIVO I
DIREITO CIVIL
(Pablo Stolze)
contato@plabostolze.com.br
www.pablostolze.com.br
Bibliografia
No site LFG
(Data: 31.01.12/Aula 01)
PERSONALIDADE
(Pegar a primeira parte da aula)
O nascituro é dotado de personalidade jurídica?
Trata-se de uma das mais acesas polêmicas da doutrina civilista brasileira, saber se o nascituro pode ou não ser considerado pessoa.
NASCITURO
	Inicialmente, vale lembrar, seguindo a doutrina de Limongi França, que o nascituro é o ente concebido, mas ainda não nascido, em outras palavras é o ente de vida intrauterina. 
OBS: Vale advertir que o nascituro não se confunde com o concepturo e o natimorto. Concepturo, também chamado de prole eventual, é aquele que nem concebido ainda foi. Já o natimorto é aquele nascido morto, que deverá ser registrado em livro próprio do cartório de pessoas naturais (ver enunciado nº 01 da primeira jornada de Direito Civil).
	O intrigante tema atinente à personalidade ou não do nascituro tenta ser solucionado a luz de três teorias explicativas fundamentais:
1. TEORIA NATALISTA (Silvio Rodrigues, Vicente Ráo, Silvio Venosa)
2. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL (Serpa Lopes)
3. TEORIA CONCEPCIONISTA (Teixeira de Freitas, Silmara Chinelato)
De acordo com a Teoria Natalista (a mais clássica), tradicional em nosso Direito, sustenta que a personalidade jurídica só seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que, o nascituro não seria considerado pessoa, gozando de mera expectativa de Direito.
OBS: Mesmo que se siga a Teoria Natalista, não é razoável, na perspectiva do princípio da dignidade da pessoa humana que, além do nascimento com vida se exija forma humana ou tempo mínimo de sobrevida, como exigia o art. 30 do Código Civil Espanhol antes da Lei nº 20, de 21 de julho de 2011.
	Para a segunda teoria, que fica a meio caminho entre a Natalista e a Concepcionista, o nascituro seria dotado de personalidade apenas para direitos existenciais (como o direito a vida), mas apenas consolidaria a personalidade para a aquisição de direitos econômicos ou materiais, sob a condição de nascer com vida.
OBS: Esta segunda teoria não é incisiva para afirmar ser o nascituro uma pessoa, com personalidade plena, inclusive para efeitos patrimoniais (aproxima-se da classificação apresentada pela professora Maria Helena Diniz, segundo a qual o nascituro teria uma personalidade formal, mas somente adquiriria direitos materiais sob a condição de nascer com vida.
	Finalmente, a Teoria Concepcionista, mais completa, afirma que o nascituro é dotado de personalidade jurídica, desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais. Percebemos que, aos poucos, a Teoria Concepcionista vai ganhando mais espaço nos tribunais, inclusive na própria legislação brasileira, a exemplo da Lei de Alimentos Gravídicos (Lei nº 11.804/08) e de recentes decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro (REsp nº 399028 SP) e até mesmo pagamento de DPVAT pela morte do nascituro (Noticiário de 15 de maio de 2011).
	Qual das três teorias afinal foi adotada pelo Código Civil Brasileiro???
	Segundo Clóvis Bevilacqua, em seus comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Editora Rio, 1975, em posição ainda atual, o Código Civil aparentemente pretendeu adotar a Teoria Natalista “por parecer mais prática”, embora em diversos momentos sofra influência concepcionista.
ATENÇÃO – O julgamento da ADI 3510-0, referente a lei de biossegurança não pacificou a controvérsia, pois não teve o objetivo de discutir especificamente qual a teoria adotada.
CAPACIDADE
CONCEITO – Capacidade de direito e capacidade de fato. 
	A capacidade de direito é uma capacidade geral, genérica, que qualquer pessoa tem. Segundo Orlando Gomes, a capacidade de direito é noção que se confunde com o próprio conceito de personalidade.
	A capacidade de fato ou de exercício nem toda pessoa tem por que esta capacidade traduz uma aptidão para pessoalmente praticar atos na vida civil.
	A junção da capacidade de direito com a capacidade de fato (de exercício) é a capacidade plena.
OBS: Vale lembrar que o conceito de capacidade não se confunde com a denominada legitimidade, a qual, lembrando Calmon de Passos, consiste na pertinência subjetiva para a prática de determinados atos jurídicos. Vale dizer, que mesmo sendo capaz, a pessoa pode estar impedida de praticar determinado ato jurídico por falta de legitimidade (art. 1.521, IV do Código Civil).
INCAPACIDADE CIVIL – Ocorre em razão da ausência da capacidade de fato.
	Incapacidade ABSOLUTA (art. 3º CC) – São representados aqueles:
· Menores de 16 anos (menores impúberes);
· Que por enfermidade ou deficiência mental não possuírem necessário discernimento;
OBS: no que tange ao inciso II do art. 3º, vale lembrar que o reconhecimento da incapacidade absoluta (ou até mesmo relativa) pela enfermidade ou deficiência mental opera-se por meio do procedimento de interdição, regulado a partir do art. 1.177 do CPC. Proferida, publicada e registrada a sentença de interdição, qualquer ato que o incapaz pratique sem o seu curador, mesmo em período de lucidez, é inválido. 
	Orlando Gomes, seguindo doutrina italiana, na mesma esteira da redação original do art. 503 do Código Civil da França (antes da lei de 05 de março de 2007), observa que o ato praticado pelo incapaz ainda não interditado poderá ser invalidado se concorrerem três requisitos:
1. A incapacidade de entendimento;
2. O prejuízo ao incapaz;
3. A má-fé da outra parte (esta má-fé, por óbvio, pode ser circunstancialmente aferida).
· Que não puderem exprimir suas vontades, ainda que por causa transitória.
OBS: A Teoria da Actio Libera In Causa (ação livre na causa), desenvolvida pelo Direito Penal (ver o texto de Claus Roxin no www.cienciaspenales.net), também se aplica ao Direito Civil segundo observa o grande Alvino Lima na obra “Da culpa ao risco”, pois é justo que se responsabilize a pessoa que voluntariamente se coloca em estado de incapacidade.
ATENÇÃO – o surdo mudo que não tenha como expressar sua vontade (habilidade – libras) poderá ser considerado absolutamente incapaz, em função a interpretação ao inciso do artigo acima demonstrado.
	Incapacidade RELATIVA (art. 4º CC) – São assistidos aqueles:
· Maiores de 16 anos e menores de 18 anos (menores púberes);
· Ébrios habituais, viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental tenham o discernimento reduzido;
ATENÇÃO – apenas será reduzida se a incapacidade for reduzida, se aniquilar por completo a incapacidade será absoluta.
· Excepcionais sem desenvolvimento mental completo;
· Pródigos (transtorno de comportamento – trata-se de uma compulsão).
OBS: O pródigo é um relativamente incapaz que pode ser interditado a luz do art. 1772 do CC, perdendo a liberdade de praticar atos de cunho patrimonial, podendo o fazer apenas através de seu curador (Casamento – Curador se manifestará quanto ao regime de bens adotados).
ATENÇÃO – A Teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo desenvolvida pelo professor Luiz Edson Fachin, afirma que a luz do princípio da dignidade da pessoa humana, todo indivíduo deve ter preservado pela lei civil um mínimo de patrimônio para que tenha vida digna (interesse social).
· A capacidade indígena tem regulamento próprio.
OBS: O art. 8º da Lei nº 6.001/73 (Estatuto do Índio) regula a capacidade do índio.
O índio que não tem contato com a civilização, em regra, é considerado absolutamente incapaz.
	PERGUNTA – O QUE É RESTITUTIO IN INTEGRUM???
(Data: 23.02.12/Aula 02)
O que é restitutio in integrum???
Segundo a doutrina de Clóvis Bevilacha o benefício do restitutio integrum consistia no benefício conferido aos menores ou incapazes em geral de pleitear de volta o que pagou, caso alegassem prejuízo, ainda que o ato praticado fosse formalmente perfeito.
Vale lembrar que o art. 8º do Código Civil de 1916, por segurança jurídica, expressamente o proibia, proibição esta que a doutrina entende ainda em vigor a luz do novo Código Civil.
	VER no material de apoio os comentários ao art. 119 do Código Civil.Quais são os principais efeitos da redução da maioridade civil???
Inicialmente, é importante frisar, no âmbito do Direito de Família, que o próprio STJ já consolidou entendimento (REsp 442502/SP, REsp 739004/DF) no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia, que exige a garantia do contraditório (Súmula 358 STJ).
	VER no material de apoio diversas decisões do STJ atinentes à participação do Ministério Público em processos que envolvam pagamento de pensão alimentícia.
	Vale acrescentar ainda, no âmbito do Direito Previdenciário, que benefícios pagos pela lei previdenciária deverão observar o seu limite etário, e não o do Código Civil (Nota SAJ 42/2003 e Enunciado nº 03 da Primeira Jornada de Direito Civil – IJDC).
EMANCIPAÇÃO
	Segundo Washington de Barros Monteiro, a maioridade civil é atingida no primeiro instante do dia em que se comemora o aniversário. Por meio da emancipação, instituto também presente em outros sistemas do mundo (ex.: Art. 133do Código de Portugal), antecipam-se os efeitos da plena capacidade civil, e, segundo o nosso direito, a emancipação poderá ser: 
a) Voluntária (art. 5º, § único, I, primeira parte)
b) Judicial (art. 5º, § único, I, segunda parte)
c) Legal (art. 5º, § único, II a V)
EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA – É aquela concedida pelos pais ou por um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente da homologação do juiz, e desde que o menor tenha pelo menos 19 (dezesseis) anos completos.
OBS: A guarda de um dos pais não retira do outro o poder familiar, portanto, tal fato não implica na concessão unilateral de emancipação.
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	Lembra-nos Silvio Venosa, em artigo intitulado “A responsabilidade dos pais pelos filhos menores” que, no caso da emancipação voluntária, na linha de entendimento do próprio STF (RTJ 62/108), a responsabilidade dos pais pelo ilícito causado pelo menor emancipado persiste até que alcance 18 (dezoito) anos, para que a vítima não corra o risco de ficar irressarcida.
EMANCIPAÇÃO JUDICIAL – Segundo o Código Civil, é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16 (dezesseis) anos completos.
EMANCIPAÇÃO LEGAL – As formas de emancipação legal, como a própria expressão sugere, derivam diretamente da lei e são as seguintes:
	1ª) Casamento – Que, segundo o CC, prescreve como idade núbil os 16 anos, havendo, portanto, exceções (ex.: gravidez).
Questão de concurso –Já vimos que o casamento emancipa, mas em casos de divórcio, o ato emancipatório é prejudicado???
	O divórcio, por projetar efeitos para o futuro, não retorna a situação de incapacidade. Diferente é a hipótese de o casamento invalidado, caso em que, ressalvada a hipótese de putatividade, a sentença opera efeitos retroativos restituindo o estado anterior de coisas (Zeno Veloso, Tartuce, Simão).
	2ª) Exercício de emprego público efetivo 
	3ª) Colação de grau em ensino superior 
	4ª) Estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha economia própria.
				Questão de concurso – O que se entende por “economia própria”???
	Como se sabe o moderno Direito Civil adotou um sistema normativo aberto, permeado de cláusulas gerais e conceitos abertos ou indeterminados. A luz do princípio da operabilidade (um dos vetores normativos do novo Código Civil segundo Miguel Reale – ver referência de texto no material de apoio), economia própria é um conceito vago ou fluídico, assim como a expressão “justa causa”, a ser preenchido por um juiz segundo as circunstâncias do caso concreto.
OBS: os dois outros princípios regentes do Código Civil, segundo o filósofo Miguel Reale, são os princípios da socialidade (o Código prestigia a função social) e o princípio da eticidade (o Código prestigia a boa-fé).
QUESTÕES ESPECIAIS ENVOLVENDO O MENOR EMANCIPADO
	O professor Paulo Sumariva no artigo “A lei de falências e a imputabilidade penal” sustenta que o menor emancipado poderá falir e, caso configurado crime falimentar, responder por ato infracional segundo o ECA.
	O professor Luiz Flávio por sua vez sustenta a possibilidade de prisão civil, já que é apenas meio coercitivo de pagamento.
	Finalmente, é bom lembrar que a emancipação não autoriza a condução de veículos na medida em que o art. 140, I, do CTN exige que o condutor seja “penalmente imputável”.
EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL
	Como se sabe, nos termos do art. 6º do Código Civil, a extinção da pessoa física ou natural opera-se por meio da morte. A morte marca o fim da pessoa física ou natural, o marco utilizado hoje pela medicina para a fixação da morte é a morte encefálica, dado o seu caráter de irreversibilidade (ver resolução nº 1826 de 2007 do CFM). 
	Vale acrescentar ainda que, nos termos da lei de registros públicos (Lei nº 6015/73), arts. 77 e ss., o óbito deve ser declarado por um profissional da medicina, e, em sua falta, excepcionalmente, por duas testemunhas.
MORTE PRESUMIDA
	O Código Civil Brasileiro reconhece duas situações básicas de morte presumida:
a) Em caso de ausência quando aberta a sucessão definitiva dos bens do ausente.
	OBS: ausência ocorre quando a pessoa desaparece de seu domicilio sem deixar notícia ou representante que administre os seus bens. Trata-se de um procedimento regulado a partir do art. 22 do Código Civil e detalhadamente explicado no texto complementar do material de apoio 01.
b) Nas hipóteses do art. 7º do Código Civil
Vale lembrar que o STF editou a súmula nº 331 afirmando ser legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis no inventário por morte presumida.
			Questão de concurso – O que é comoriência???
É a situação na qual duas ou mais pessoas falecem na mesma hora, sem que se possa identificar a ordem cronológica dos óbitos, caso em que consideram-se simultaneamente mortas. (Art. 8º, CC)
(Data: 24.02.12/Aula 03)
COMORIÊNCIA E PREMORIÊNCIA
	Na prática, a presunção de morte simultânea significa que serão abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas de maneira que um comoriente nada transmite ao outro (ver AgI 598569952 TJRS).
	PREMORIÊNCIA – Premoriência não se confunde com comoriência, pois nada tem a ver com morte simultânea. Trata-se de expressão que caracteriza a situação de pré-morte, com implicações no âmbito sucessório.
PESSOA JURÍDICA
	Nos dias de hoje adotamos a expressão pessoa jurídica muito embora, no direito comparado outras terminologias já foram usadas como pessoas morais, abstratas, místicas, e, até mesmo, “ente de existência ideal” (Teixeira de Freitas).
	Como decorrência do fato associativo, os seres humanos, gregários por excelência, segundo a doutrina do sociólogo Machado Neto, tem a tendência inata ao agrupamento, pois, perceberam que em grupos atingiriam com mais eficiência os seus propósitos, especialmente econômicos. Assim, observa Orlando Gomes que a categoria da pessoa jurídica surgiu da necessidade de personificação desses grupos, para que atuassem com autonomia. 
Portanto, um primeiro e básico conceito de pessoa jurídica é no sentido de ser aquele grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade própria, para a realização de fins comuns.
OBS: Naturalmente, dada a complexidade das relações sociais contemporâneas, especiais tipos de pessoa jurídica tem natureza própria, a exemplo das fundações e da EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada).
TEORIAS EXPLICATIVAS DA PESSOA JURÍDICA
	Existem duas correntes básicas nesse sentido, são elas:
a) Corrente negativista – negava-se a existência da pessoa jurídica (negava a categoria autônoma da pessoa jurídica)
b) Corrente afirmativista – aceitava a categoria da pessoa jurídica, tendo prevalecido em nosso sistema.
A partir desta corrente surgiram diversas teorias, dentre elas, destacam-se:
	a.1) Teoria da ficção (Savigny) – Para esta teoria a pessoa jurídica teria uma existência meramente ideal ou abstrata, sendo uma criação da pura técnica do direito.
	Tinhacomo defeito a dificuldade de entender que a pessoa jurídica também tinha uma existência social.
	E para contrapor a referida teoria criou-se a seguinte teoria:
	a.2) Teoria da realidade objetiva (sociológica ou organicista) (Clóvis Beviláqua) – É exatamente um contraponto a primeira teoria, pois para esta teoria a pessoa jurídica seria, simplesmente, um organismo social vivo, a ser explicado pela sociologia e não pela técnica do direito.
	Tinha como caraterística o reconhecimento da pessoa jurídica e existência social, no entanto, apresentava defeito no sentido de que negava a personificação da pessoa jurídica.
	Sendo desenvolvida, assim, a teoria seguinte, veja-se:
	a.3) Teoria da realidade técnica – Para esta terceira teoria, mais equilibrada, a pessoa jurídica seria personificada pela técnica abstrata do direito, a par de também ter dimensão social, integrando relações de variada ordem. 
AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE PELA PESSOA JURÍDICA
	Em que momento a pessoa jurídica adquire personalidade???
	Nos precisos termos do art. 45 do CC, começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado coma inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida quando necessário, de autorização especial do Poder executivo. Vale dizer, nos termos da própria lei brasileira o ato (contrato social ou estatuto) é constitutivo da sua personalidade.
De acordo com o art. 45, CC, o registro de pessoa jurídica trata-se de ato constitutivo. Para que este ato seja considerado válido, deverá ser registrado no Cartório de Registro de Pessoa Jurídica ou na Junta Comercial.
OBS: Lembra-nos Caio Mario que o registro da pessoa jurídica, por ser constitutivo, tem efeitos ex nunc. Portanto, conforme deverá ser visto na grade de direito empresarial, entes sem registro são considerados despersonificados, o que implica responsabilidade pessoal dos seus sócios ou administradores, nos termos dos artigos 986 e ss, CC.
AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA PARA CONSTITUIÇÃO DE PESSOAS JURÍDICAS
	Há certos casos em que para a constituição da pessoa jurídica necessita, além do referido registro, precisam, também, de autorização especifica para a constituição. Exs.: bancos, seguradoras (SUSEPE)
Questão de concurso – O que são “grupos despersonificados” com capacidade processual??? 
	Determinadas entidades, a exemplo do espólio, da massa falida, da herança jacente (ver art. 12 do CPC), embora tecnicamente pessoas jurídicas não sejam, tem capacidade processual. A título ilustrativo, projeto de lei resolveu modicar o Código Civil e a LRP para considerar o condomínio pessoa jurídica.
ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO
	O CC em rol não exaustivo, elenca as pessoas jurídicas de direito privado em seu artigo 44, e são as seguintes:
a) Associações;
b) Sociedades;
c) Fundações;
d) Organizações religiosas;
e) Partidos políticos;
f) A Eireli.
Em sua redação original, o art. 44 considerava pessoa jurídica de direito privado as associações, as sociedades e as fundações.
O legislador expressamente reconheceu as categorias das “organizações religiosas e partidos políticos” e incisos autônomos, mesmo tendo natureza associativa, com objetivo de exclui-los e blindá-los do prazo de adaptação ao novo Código Civil, nos termos do artigo 2.031 (ver na apostila 02 o tópico 09).
OBS: empresários individuais e pessoas jurídicas anteriores que não se adaptaram ao novo CC podem sofrer sanções de variada ordem: impossibilidade de obtenção de linha de crédito e financiamento, impossibilidade de participar de licitação e, principalmente, passarão a atuar como sociedades irregulares, em que, como se sabe, a responsabilidade passa a ser dos seus próprios sócios ou administradores.
					Questão de concurso – Pessoa jurídica pode sofrer dano moral???
A posição que prevalece no sistema jurídico brasileiro, consolidada em diversos julgados (REsp nº 752672/RS) é no sentido de que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral, nos termos inclusive do próprio artigo 52 do CC.
ASSOCIAÇÕES
 	CONCEITO – Nos termos do art. 73, CC, são pessoas jurídicas de direito privado formadas pela união de indivíduos que buscam finalidade ideal ou não econômica. 
	ATO CONSTITUTIVO – O ato constitutivo de uma associação é o seu estatuto, cujos requisitos encontram-se no art. 54, devendo o seu registro ser feito no CRPJ.
OBS: em regra, dissolvida a associação, a teor do art. 61, o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no estatuto, ou omisso este, a uma instituição municipal, estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes.
CATEGORIAS DE ASSOCIADOS – Em uma associação pode haver categorias diferentes de associados, mas, dentro de uma mesma categoria não é possível discriminação de direitos entre eles (art. 55 do CC).
	
EXPULSÃO DE ASSOCIADO – O CC admite no art. 57 a expulsão ou exclusão do associado desde que garantido o contraditório.
OBS: prevalece ainda no Brasil a tese segundo a qual o art. 57, POR CUIDAR DE ASSOCIAÇÕES, não serve para a expulsão de condômino antissocial para o qual é prevista sanção específica no parágrafo único do art. 1.337 do CC. Nesse sentido inclusive já decidiu o TJSP julgando a Apelação Cível 668403.4/6.
	A doutrina, todavia, invocando o princípio da função social e a teoria do abuso de direito começa a ganhar força defendendo a exclusão do condômino, por meio de ação judicial própria (ver o enunciado 598 da V JDC).
(Data: 24.02.12/Aula 04)
CONTINUAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA
FUNDAÇÕES
CONCEITO – As fundações, diferentemente das sociedades e das associações, não são formadas pela união de indivíduos, mas sim pelo destacamento de um patrimônio, que se personifica, para a realização de finalidade ideal ou não lucrativa.
	
Fundações realizam atividade ideal, portanto não tem caráter lucrativo. NUNCA terão fins lucrativos.
 
 Art. 62 CC – Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
 Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
REQUISITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE FUNDAÇÃO 
	Para a criação de fundação deverão ser observados os seguintes requisitos:
1º) A afetação de bens livres e desembaraçados do instituidor;
2º) A inscrição deverá ser feita por escritura pública ou testamento (Qualquer modalidade de testamento, independente de ser público ou não);
3º) A elaboração do estatuto da fundação;
OBS – O estatuto da fundação poderá ser elaborado diretamente por seu próprio instituidor, ou, fiduciariamente a elaboração poderá ficar a cargo de um terceiro, que, não o fazendo permitirá que subsidiariamente o Ministério Público o faça (art. 65 do CC).
4º) A aprovação do estatuto da fundação;
OBS – Em regra, caberá ao Ministério Público aprovar o estatuto que ele não elaborou. Caso o MP elabore o estatuto, o art. 1.202 do CPC estabelece que deverá o mesmo ser aprovado por um juiz.
5º) O registro do estatuto no CRPJ (Cartório de Registro de Pessoa Jurídica).
ATRIBUIÇÃO FISCALIZATÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – O art. 66 do CC traz norma expressa regulando a matéria, veja-se:
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal. 
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.
OBS – Como vimos, em regra, a função fiscalizatória caberá ao Ministério Público do Estado ou do Distrito Federal (ADI nº 2794-8). Todavia, por óbvio, em havendo justificativa legal própria, poderá a Procuradoria da República (MPF) também atuar exercendo fiscalização (Enunciado 147da III-JDC).
	VER no art. 69 o destino do patrimônio da fundação que acaba.
			Questão de concurso – O estatuto de uma fundação pode ser modificado???
Nos termos dos artigos67 e 68 do CC, admite-se a alteração do estatuto da fundação. 
SOCIEDADES
CONCEITO – A sociedade, pessoa jurídica de direito privado, dotada de personalidade jurídica própria, é instituída por meio de contrato social, com a finalidade de exercer atividade econômica e partilhar lucros 
(Art. 981 do CC – Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados).
Questão de concurso – É lícita a sociedade (simples ou empresária) entre cônjuges???
O art. 977 do CC admite a sociedade formada entre cônjuges, desde que não sejam casados nos regimes de comunhão universal de bens ou separação obrigatória de bens.
ATENÇÃO – Tem prevalecido a ideia, a luz da garantia constitucional do ato jurídico perfeito, que a proibição do art. 977 não atingiria sociedades anteriores, conforme inclusive se pronunciou o DNRC (Departamento Nacional do Registro de Comércio) por meio do Parecer nº 125/03.
SOCIEDADE ANÔNIMA X COOPERATIVA
	O Código Civil, no parágrafo único do art. 982 estabelece que, independentemente do objeto, toda sociedade anônima é empresária e toda cooperativa é sociedade simples.
SOCIEDADE SIMPLES X SOCIEDADE EMPRESÁRIA
	Trata-se de diferenciação feita por exclusão, pois, verificando a ausência de requisitos da sociedade empresária, será classificada como sociedade simples.
	SOCIEDADE SIMPLES
	SOCIEDADE EMPRESÁRIA
	
Conforme já esposado acima, a sociedade simples é definida por exclusão, verificando a ausência de requisitos da sociedade empresária, será classificada como sociedade simples.
	1- Requisito material – deve exercer atividade tipicamente empresarial (art. 966 do CC)
2- Requisito formal – deve ser registrada na junta comercial (Registro Público de Empresas)
	A sociedade empresária reúne um requisito material (exercício de atividade empresarial) e um requisito formal (registro na junta comercial), sujeitando-se à legislação falimentar. Além disso, a sociedade empresária é marcada pela impessoalidade, na medida em que a atividade do sócio não é indispensável ao exercício da atividade da empresa. Vale dizer, os sócios atuam, basicamente, como articuladores de fatores de produção (capital, mão de obra, tecnologia e matéria prima).
	Diferentemente, a sociedade simples que como regra é registrada no CRPJ, é aquela em que a atividade do sócio confunde-se com a atividade da própria sociedade, a exemplo da sociedade formada por advogados ou médicos.
OBS – A despeito de haver ainda acesa polêmica, por conta de as cooperativas terem sido consideradas sociedades simples, a doutrina de direito empresarial, em regra, sustenta que o seu registro deve continuar a ser feito na junta comercial, por conta da norma especial (Ver também Enunciado nº 69 da 1ª JDC). Mas a matéria ainda não é pacificada.
	
O QUE É EIRELI???
 Trata-se de um novo tipo de pessoa jurídica criada pela Lei nº 12.441/11.
 
 A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI – é, segundo o professor Frederico Garcia, uma PESSOA JURÍDICA UNIPESSOAL que prevê a limitação da responsabilidade do seu titular ao capital integralizado que não poderá ser inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país.
OBS: Tramita a ADI nº 4637 que pretende o reconhecimento da inconstitucionalidade do mínimo de 100 salários mínimos para a constituição da EIRELI.
 O DNRC, por meio da Instrução normativa nº 117/11, proibiu que pessoa jurídica pudesse constituir EIRELI.
(Data: 07.03.12/ Aula 05) 
DIREITOS DA PERSONALIDADE
(FALTA PRIMEIRA PARTE DA AULA)
PERSONALIDADE JURÍDICA – É a proteção fundamenta aos direitos da personalidade.
Os direitos da personalidade e direitos fundamentais possuem conceitos diversos que não se confundem. 
Trata-se de conceito uno e indivisível. 
ATENÇÃO – A partir do julgado pelo STF, através do RE 201.819/RT, o referido Tribunal reconheceu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais (Associação que queria expulsar associado – devido processo legal – reconhecimento da eficácia dos direitos fundamentais nas relações provadas).
Ou seja, trata-se de aplicação direta dos direitos fundamentais que significa que toda relação privada conta também com a incidência vinculante dos direitos fundamentais. 
MULTA AO CONDÔMINO ANTISSOCIAL – Arts. 1.336, §2º e 1.337.
CAPACIDADE JURÍDICA – Aptidão para ser sujeito de direito.
	Enquanto a personalidade jurídica diz respeito as relações existenciais, a capacidade jurídica diz respeito as relações patrimoniais.
OBS: Quem tem personalidade também tem capacidade, mas a reciproca não é verdadeira, Quem titulariza relações existenciais também titulariza relações patrimoniais, mas o contrário não é regra.
2. CLÁUSULA GERAL DE PROTEÇÃO DE PERSONALIDADE (DIREITO GERAL DA PERSONALIDADE)
	Se os direitos da personalidade correspondem a proteção fundamental da pessoa nas relações privadas é de se discutir se o rol dos direitos da personalidade é taxativo ou exemplificativo. O que traz a conclusão de que o mesmo é EXEMPLIFICATIVO. 
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – impõe tarefas para a sua efetivação (eficácia positiva – ex.: ações afirmativas para a proteção das pessoas com deficiência) e restringe o exercício de direitos, ou seja, determinados direitos não podem ser exercidos (eficácia negativa).
	Conteúdo mínimo do princípio da dignidade da pessoa humana:
1. Integridade física e psíquica (ex.: Lei 11.346/06);
2. Liberdade de igualdade (ex.; STF ADIN 4277/DF – reconhecimento familiar da união homoafetiva);
3. Direito ao mínimo existencial ou Direito ao patrimônio mínimo (Súmula nº 364 – pessoas sozinhas- single)
OBS: o conceito de patrimônio mínimo só se aplica aos bens móveis (STJ e Lei)
3. MOMENTO AQUISITIVO 
	A concepção é o momento aquisitivo dos direitos de personalidade (momento da nidação). 
NATIMORTO
Natimorto tem direito aos direitos de personalidade (IJDC- Encunciado nº 01). Tem direito a nome, imagem e sepultura.
EMBRIÃO LABORATORIAL (EMBRIÃO CRIOGENIZADO – CONGELADO)
	De acordo com a Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05) é estabelecido que o embrião congelado será guardado pelo médico pelo prazo de 03 anos, findado o prazo, o casal realiza uma fertilização ou o médico o descartará. E por isso, segundo entendimento do STF (ADIN 3510 DF), a negativa ao direito de personalidade prevista na lei de biossegurança é constitucional. 
	O embrião laboratorial não tem direitos de personalidade, mas pode titularizar direitos patrimoniais, ou seja, capacidade jurídica. (Art. 1.798, CC, reconhece direito sucessório ao embrião laboratorial – herança e legado)
4. MOMENTO EXTINTIVO 
	Extingue-se com a morte. Se a morte extingue a personalidade, implica também na extinção dos direitos de personalidade.
QUESTÕES CONTROVERTIDAS A RESPEITO DO TÉRMINO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
1. Sucessão processual (art. 43, CPC): Ocorre quando o titular da personalidade sofreu dano ainda vivo, promoveu a ação e faleceu no curso do procedimento, os herdeiros do falecido devem se habilitar no processo para sucedê-lo.
2. Transmissão do direito a reparação do dano (art. 943, CC) – se o titular sofreu o dano ainda vivo e veio a falecer sem promover a ação, os herdeiros podem fazê-lo em seu lugar. 
OBS: processualmente falando, a legitimidade para propor a ação referida (defesa de interesses patrimoniais) é do espólio. 
	O direito a indenização pressupõe a inocorrência de prescrição. E há que se atentar ao fato de que a morte do titular não suspende nem interrompe a prescrição. 
3. Lesados indiretos (Art. 12, § único, CC) – se o dano ocorre depois da morte do titular atinge, diretamente, ao morto e, por isso, não produz nenhum efeito jurídico. Todavia, atinge também, indiretamente, os familiares vivos da pessoa morta, caracterizados como lesados indiretos. Assim sendo, os lesados indiretos podem reclamar indenização pelo danocausado. Trata-se de legitimidade ordinária, autônoma para o processo, não houve transmissão do direito de personalidade. 
Os lesados indiretos são: (Rol que não se submete a ordem de vocação sucessória, ou seja, a legitimidade de cada umas das seguintes pessoas é disjuntiva – a legitimidade de um não exclui a do outro)
1. Descendentes;
2. Ascendentes;
3. Colaterais até o 4º grau;
4. Cônjuge sobrevivente (De acordo com a interpretação conforme da CF/88 – art. 12 CC – Companheiro sobrevivente ou parceiro homo afetivo sobrevivente).
OBS: quando se tratar do direito de imagem os colaterais estão EXCLUÍDOS do rol dos lesados indiretos (art. 20, § único e Enunciado 05 da IJDC).
STJ - REsp 86.109 – Filha de Lampião e Maria Bonita – Imagem veiculada em produtos de empresa X. (Irmão não poderia ajuizar a dita ação, mas os pais sim)
STJ – REsp 521.697/RJ – Jogador de futebol Garrincha – Biografia escrita pós morte revelando intimidade do jogador – Filhos pleitearam danos. (Filhos são legitimados e irmãos também o seriam, pois não se trata de caso de violação ao direito de imagem, mas sim a privacidade).
5. FONTES DO DIREITO DE PERSONALIDADE
	Duas correntes se formaram sobre o tema:
	Majoritária – JUSNATURALISTA – Para os doutrinadores que a defendem, a fonte dos direitos de personalidade é um direito natural, ou seja, teriam origem quase divina. Ex.: Tribunal de Nuremberg (julgamento dos oficiais nazistas alemães pelas atrocidades cometidas – cumprimento legal – condenação ainda assim em razão do descumprimento a lei anterior ao sistema jurídico, o direito natural a vida). 
	Para os defensores, os direitos da personalidade são, ainda, INATOS (naturais do homem).
	Minoritária – NÂO SÃO NATURAIS, MAS SIM POSITIVADOS – Decorrem de uma opção do sistema jurídico (Ex.: Direito autoral).
6. DIREITOS DA PERSONALIDADE E DIREITOS DA LIBERDADE PÚBLICA
	São direitos que não se confundem, aqueles correspondem a tudo que tem necessidade para que se tenha dignidade nas relações privadas. As vezes a efetivação do Direito de Personalidade necessite da atuação estatal através de liberdades públicas, ou seja, as liberdades públicas correspondem a estas obrigações positivas ou negativas impostas ao estado para concretizar direitos da personalidade. 
Ex.: direito de locomoção é um direito da personalidade, mas para ser concretizado reclama o habeas corpus, é uma liberdade pública para a concretização do direito de locomoção. 
Nem todo direito fundamental é uma liberdade pública, somente os direitos fundamentais necessários a efetividade daqueles. 
PESSOA JURÍDICA não tem direito de personalidade, pois estes estão ancorados na dignidade da pessoa humana. (Enunciado 286 da JDC) Os direitos da personalidade são feitos pelo homem e PARA o homem. 
OBS: Art. 52, CC – Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos de personalidade. Atributos de elasticidade dos direitos de personalidade – pessoa jurídica não etem direito de personalidade, mas merecem proteção que é limitada por lei (no que couber – naquilo que a falta de estrutura biopsicológica permita exercer).
Ex.: STJ – Resp 433.954 – reconhecimento de direito de personalidade em função do protesto de duplicata. 
	Pessoa jurídica pode sofrer dano moral??? (Proteção aos direitos de personalidade) Sim, pois merece proteção. (Súmula 227 do STJ) “Pessoa jurídica pode sofrer dano moral, no que couber.”
(Data: 13.02.12/ Aula 06)
DIREITOS DA PERSONALIDADE – PARTE II
1. Conflito entre direitos de personalidade e liberdade de comunicação social – A liberdade de comunicação social está prevista na Constituição e se desdobra em: liberdade de imprensa e liberdade de expressão, ambas estão constitucionalmente protegidas. 
Isso significa dizer que ambos são aspectos de comunicação social e que no estado de Direito nenhum direito pode ser entendido como direito absoluto. 
Ex.: Direito da personalidade e liberdade de comunicação social. Tal conflito será dirimido a depender do caso concreto, visto que a resolução desse conflito passa pela técnica de solução de conflitos e ponderação de interesses.
Tal conflito é resolvido casuisticamente, através da ponderação. Ex.: Duas notícias veiculadas no Jornal, O Globo, uma dizia sobre um ministro que tinha uma amante que ocupava cargo público (proporcionalidade), a outra, uma senhora que também possuía um amante (não houve proporcionalidade) (Barroso)
Notícias dadas pela imprensa podem gerar reparação do dano e responsabilidade civil. 
Súmula 221 do STJ – São civilmente responsáveis pela reparação do dano, decorrente de publicação pela imprensa. Responsabilidade recaindo a um só tempo sobre o autor do escrito e o proprietário do veículo de comunicação.
Súmula 281 do STJ –A indenização por dano moral decorrente da imprensa não está sujeita a tarifação prevista na Lei de Imprensa.
ATENÇÃO – Nem todo uso de proporcionalidade é ponderação, pois esta também dá vazão a razoabilidade. Porém o contrário pode ser afirmado, ou seja, todo uso de ponderação é proporcionalidade. 
Exs.: No caso de convenção de condomínio no qual há a proibição de entrada de animais – peixe no aquário – STJ/ interpretação a luz da proporcionalidade. 
	Admissibilidade de provas ilícitas no processo penal em favor do réu quando ele não tiver outro meio de provar sua inocência – STJ/ interpretação a luz da ponderação.
	Os fatos acima descritos também são aplicáveis a liberdade de expressão. Lembrando que tal liberalidade também está sujeita a limitação (o limite a liberdade de expressão é a preservação da personalidade alheia). Diferentemente do que ocorre no Estados Unidos através do Hate Speech, no qual há a possibilidade de total liberdade de expressão, seja ela através de ódio ou qualquer outro meio. 
O Brasil, através do julgado do STF de nº 82.424/RS, foi afastada a liberdade total de expressão. 
2. Características
De acordo com o artigo 11, do CC, são duas as características dos direitos de personalidade, são intransmissíveis e irrenunciáveis. São características espécies do gênero indisponíveis, ou seja, os direitos da personalidade são indisponíveis.
Questões de concurso – Os direitos a personalidade admitem a restrição voluntária???
	Sim. Os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis, pois admitem restrição voluntária. 
É possível um ato de personalidade com restrição voluntária???
	Sim. A autonomia privada, que está prevista em lei confere a possibilidade de ato de disposição voluntária decorrente de autonomia privada. Exs.: doação de sangue, doação de órgãos, cessão de imagem, prática de esportes violentos (ato de disposição voluntária da integridade física). 
Já que os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis, admitem restrição voluntária, tal ato de restrição é um ato limitado ou ilimitado???
	O ato de restrição voluntária a direito de personalidade é um ato limitado, veja-se quais são estes limites:
		Enunciado nº 04 da JDC	
a. Não pode ser permanente (Precisa ser limitado no tempo – Ex.: cessão de imagem – De acordo com a Lei 9.610/98, há o prazo de 5 anos, renováveis para a cessão de imagem. OBS: só é possível a doação permanente se se tratar de órgãos dúplices ou regeneráveis)
b. Não pode ser genérico (ex.: BBB – foi cedido a Rede Globo o direito a imagem e privacidade dos participantes, no entanto, havendo a ofensa a honra dos mesmos, terá a emissora que indenizá-los, pois não se trata de ato ilimitado)
c. Não pode violar a dignidade humana do titular (Ex.: arremesso de anão)
2.1 Outras características dos direitos de personalidade
	São absolutos – sentido de erga omnes;
	São inatos – ínsitos a condição humana;
	São vitalícios – vitalício se extingue com a morte (perpétuo é aquilo que se transmite com a morte, ou seja, se prolongam após a morte);
	São extrapatrimoniais – não possuem cunho econômico, em compensação a violação a um direito da personalidade pode gerar consequência econômica, indenização por dano moral; 
	São impenhoráveis – a ausência de conteúdo econômico impede a penhora (honra,imagem, privacidade), porém pode-se penhorar a indenização decorrente de responsabilidade civil;
	São imprescritíveis – a indenização que eventualmente deles decorre prescreve, no entanto o direito de personalidade não prescreve (Ex.: distribuidor de bicicletas CALOI – confecção artesanal – adesivo da CALOI – Ação de indenização/ pedidos – parar de usar o nome e indenização).
OBS: IMPRESCRITIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE TORTURA – De acordo com o STJ o direito de personalidade é imprescritível, no entanto há exceção (STJ – REsp 816.209/RJ). Ex.: indenização decorrente de tortura – trata-se de exceção a prescrição alcançada em razão do caráter patrimonial – no caso, o direito a tal indenização é imprescritível.
3. Tutela jurídica – Durante a vigência do Código de 1916 a proteção jurídica estava submetida ao
seguinte binômio, lesão e sanção. 
	Com a entrada em vigor do novo código evidenciou-se a insuficiência a proteção dos direitos de personalidade do referido binômio (Ex.: pessoa que teve seu nome inscrito no SPC e Serasa, a priori quer a retirada de seu nome do referido cadastro, sem prejuízo, é claro, dos direitos indenizatórios).
	O art. 12, do CC, estabeleceu um novo sistema de proteção dos direitos de personalidade. Um sistema de proteção binário, passando esta a ser preventiva e/ou compensatória, veja-se:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei (Ex.: direito penal). (Tutela preventiva e tutela compensatória/tutela indenizatória)
A tutela preventiva se dá através da tutela específica (art. 461 do CPC (jurisdição individual) e art. 84 CDC (jurisdicção coletiva)).
Já a tutela compensatória se dá através de indenização por danos morais.
Tutela específica é a solução adequada para cada caso concreto. (Art. 461, § 5º, CPC – rol exemplificativo). A título de tutela específica, o juiz pode adotar qualquer providência para a obtenção do resultado prático equivalente. 
Dentro da tutela específica há diversas ramificações, p. ex., a tutela inibitória (Astreintes – multa diária), tutela sub-rogatória (Se sub-roga no lugar de quem deveria fazê-lo – Banco/Cliente com nome no SPC – Juiz concede tutela para retirada – Banco não o faz – Juiz oficia diretamente o SPC), tutela de remoção do ilícito (Caso Daniela Cicarelli – Juiz mandou retirar o vídeo sob pena de multa (t. inibitória), não retirou, tirou o site do ar) etc. 
OBS: O juiz pode conceder, ampliar, substituir e reduzir de ofício, até que se ache a tutela específica ao caso concreto. Ex.: Atriz Carolina Dieckman – Pânico na TV – Sandálias da humildade – Astreintes – Não deu certo – Medida restritiva de 200 m – Continuaram a procurá-la – Proibição de falar o nome dela sob pena de retirar o programa do ar – Tutela específica encontrada. 
(ENUNCIADO 140 DA JDC)
Atenção – a título de tutela específica é possível a determinação de mandado de distanciamento ou mandado de restrição do direito de locomoção. O juiz pode estabelecer distancias mínimas de aproximação para proteger a personalidade (Ex.: ação de separação de corpos), tal medida dependerá do caso concreto.
	A título de tutela específica poderá o juiz decretar até mesmo a prisão. Prisão para cumprimento de obrigação em casos excepcionais, ineficácia de outras hipóteses de tutela específica e que o bem jurídico a ser protegido seja mais importante que a liberdade (ex.: internação em hospital / plano de saúde) (Fredy Didier e Marinoni). 
PRESCRIÇÃO INDENIZATÓRIA – O prazo prescricional de 3 anos, na forma do art. 189 começa a fluir da data da lesão, porém pode ocorrer do titular não tomar conhecimento na data do fato. Sobre isto o STJ, através da tese da actio nata (Súmula 278) considerou-se a data do conhecimento da lesão e não da lesão especificamente.
4. Tutela compensatória dos direitos de personalidade – A tutela compensatória é uma aproximação dos direitos relativos a danos morais (violação ao direito da personalidade – aborrecimento, dissabor, dor, vexame, vergonha). Antes o dano moral estava preso a uma visão negativa subjetiva e agora tem a compreensão in re ipsa (ínsita na própria coisa), ou seja, agora basta provar o direito a violação deum direto da personalidade. 
Dano moral é uma violação da dignidade humana. 
Há cumulatividade entre dano moral e dano material – Art. 948, do CC – Súmula 387 – STJ – Não gera bis in idem.
	A cada bem jurídico violado corresponderá uma indenização, ou seja, se violada a honra e a imagem, serão duas indenizações e assim sucessivamente. 
	ATENÇÃO – se o nome da pessoa já estava inscrito no SPC, uma nova inscrição não gera dano moral, mas tão somente a necessidade de retirada, se indevida. Súmula 385 do STJ. (Colisão com a súmula 388, VER)
Legitimidade para fixar dano moral
	Tutela especifica pode ser concedida de ofício, mas a tutela compensatória não, pois depende de expresso requerimento da parte interessada (princípio dispositivo – depende de expresso requerimento da parte interessada). 
	O juiz pode conceder de ofício, podendo também o Ministério Público pode requerer, nos casos previstos em lei (art. 127 da CF/88).
	Art. 68, do CPP, reconhece a ação civil ex delicto em razão de vítima pobre (decorre de uma sentença penal condenatória), na qual é possível o pedido de dano moral e material. 
OBS: o juiz penal já pode fixar indenização na própria sentença penal condenatória. Facilitação do objeto civil da ação ex delicto, pois passa a ser necessário apenas executá-la e não mais liquidá-la. 
	O art. 134, da CF/88, confere a tutela jurídica de pessoas pobres da Defensoria Pública. 
Onde há defensoria pública instalada e funcionando, o MP tornou-se ilegítimo, mas onde não há, permanecerá legitimado. (STF – REsp 135.328/SP – tese da inconstitucionalidade progressiva ou norma em vias de inconstitucionalidade). 
OBS: A admissibilidade de Recurso Especial para fins de discussão sobre o quantum indenizatório do dano moral. Não se admite em sede de REsp a discussão de provas. (REsp 816.577 – STJ reconheceu, expressamente, a admissibilidade de dano moral para rediscutir o quantum indenizatório quando ele for ínfimo ou exorbitante)
A admissibilidade de dano moral contratual – Leading case – STJ REsp 202.564. O inadimplemento contratual ordinariamente gera dano somente material, contudo o STJ passou a perceber que o descumprimento de um contrato também pode violar a dignidade do contratante (Exs.: plano de saúde que indevidamente nega cobertura; companhia de energia e de água que indevidamente suspende o fornecimento).
O dano moral contratual não decorre da violação do contrato, mas sim da violação da dignidade da pessoa contratante, ou seja, a natureza do dano moral contratual e extra contratual (o valor da indenização pode, inclusive, exceder ao valor do próprio contrato).
5. Direitos da personalidade e direitos coletivos
São previstos no CDC art. 6º, VI e na Lei 7.347/85, art. 1º - O dano moral difuso ou coletivo é a violação da dignidade difusa (de todos ou de ninguém) ou coletiva(pertence a uma categoria jurídica). Exs.: violação do meio ambiente (difuso); violação de uma cláusula prevista numa convenção coletiva de trabalho (dano coletivo); o CRE do RJ ajuizou uma ação contra um motel que fez uma companha publicitária com o seguinte slogan “liberte a enfermeira que existe em você” (conferiu-se uma personalidade difusa e coletiva, portanto o dano moral será difusa ou coletiva).
A ação civil pública é o mecanismo utilizado para pleitear o dano moral difuso ou coletivo. Sendo que somente os colegitimados previstos na lei de ação civil pública, quais sejam, MP, defensoria Pública, Poder Público e Associações. (O MP é legitimado incondicional, sendo que os demais necessitam justificar, demonstrando a pertinência temática)
	A condenação fixada numa ACP gera uma execução coletiva e reverte para um fundo (art. 13 da lei) para recompor o bem jurídico lesado.
	A ACP também é para interesses homogêneos (duas ou mais pessoas),nesse caso a liquidação e a execução serão individuais. Ex.: navio perdido em alto mar – turista perdido promove a sua ação.
Todo dano moral difuso e coletivo será pleiteado por meio de ACP, mas nem toda ACP é para dano moral difuso ou coletivo, porque a ACP também se presta a interesses individuais homogêneos. 
6. Direitos de personalidade das pessoas públicas – São as celebridades, pessoas notórias. Que tem direito a personalidade, pois o fato de ser pessoa pública não lhe retira o direito de personalidade, mas sofrem relativização, pois o seu ofício ou profissão gera exposição de sua personalidade. 
Ex.: jornal não precisa de autorização para veicular imagem de um famoso, vedando-se o desvio de finalidade, não podendo, p. ex. , explorar comercialmente. 
	As pessoas que acompanham as pessoas públicas sofrem relativização junto com elas. O art.7º, parágrafo único, do CDC estabelece solidariedade entre todos que participam da relação de consumo. Se a pessoa pública se vinculou ao serviço ou produto e passa a responder solidariamente. Não é qualquer artista que faz propaganda, mas sim quem se vincula ao produto ou serviço. 
(Data: 14.02.12/ Aula 07)
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
1. CRITÉRIO CLASSIFICATÓRIO DO CÓDIGO CIVIL
a) Classificação científica – a classificação dos direitos da personalidade é tricotômica, veja-se:
a.1) Integridade física: é a tutela do corpo humano.
a.2) Integridade psíquica: é a tutela dos valores imateriais (ex.: imagem, privacidade, nome).
a.3) Integridade intelectual: é toda opção decorrente da inteligência humana (ex.: opção religiosa). 
PARA REFLETIR O direito a vida digna é o pressuposto da classificação acima exposta. Pois o direito a vida digna não é restringido à integridade física, este está se subsumindo, também, a integridade física e intelectual. (Ex.: testemunha de Jeová que se nega a receber transfusão de sangue. Não há que se falar em confronto entre direito a vida (integridade física) e integridade intelectual. Ocorre no caso o direito a vida digna)
b) Critério classificatório do Código Civil – Trata-se de classificação adotada pelo Código Civil vigente que muito se assemelha a classificação teórica esposada em linhas anteriores, veja-se:
b.1) Integridade física: é o direito ao corpo vivo (art. 13, do CC), ao corpo morto (art. 14, do CC) e a autonomia do paciente (art. 15, do CC).
b.2) Integridade psíquica: é o direito ao nome civil (arts. 16 ao 19, do CC), o direito a imagem (art. 20, do CC) e o direito a vida privada (art.21, do CC).
2. DIREITO AO CORPO VIVO – É a proteção da integridade física da pessoa humana. È preciso observar que toda e qualquer violação a este constitui dano estético. 
	OBS: Segundo o STJ, ainda que ausentes sequelas permanentes, ou seja, mesmo que existam apenas sequelas transitórias, é possível caracterizar o dano estético (REsp 575.576/PR).
Porém, há que se atentar ao fato de que, se a sequela for permanente, o quantum indenizatório será aumentado.
Súmula 387 do STJ – não esquecer que o dano estético se cumula com o dano moral. 
O conceito de integridade física não é apenas o corpo humano, tomado como um todo, de maneira unitária. Dentro deste conceito se abrange, também, partes do corpo humano eventualmente separadas.
Ex.: Caso Glória Travis, modelo mexicana que, juntamente com seu companheiro fugiu para o Brasil em função de ter se envolvido com tráfico no seu país de origem. Gravidez/PF/Extradição/Parto/Placenta/Exame de DNA/Filho do companheiro/Tubo de caneta bic.
A PF (União) violou o corpo da referida em função de ter se utilizado de sua placenta sem autorização. Trata-se de violação a integridade física (STF – Rcl 2040/DF)
	PARA REFLETIR E nos casos de sêmen???
	Tendo em vista que com os avanços científicos, muitas vezes se utiliza desse sêmen para a fertilização de óvulos. De quem pertenceria embrião após fecundação (preparado em laboratório)??? 
	De acordo com os entendimentos, tal embrião preparado em laboratório, tendo em vista que houve concepção ao doar o referido material genético, pertencerá a mulher/mãe. (Problemática – direito ao planejamento familiar)
	ATOS DE DISPOSIÇÃO CORPORAL – Veja-se o preceituado no art. 13, “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.”
Ou seja, via de regra o titular pode dispor livremente de seu corpo, desde que não gere diminuição permanente da integridade física. Ex.: tatuagens e piercings. 
No entanto, não é permitido que se lese a integridade física sem necessidade, pois atos de disposição corporal com disposição da integridade física só são permitidos com exigência médica (ex.: amputação de órgão por necessidade terapêutica) (Curiosidade: no México é permitido). Porém há se atentar que ocorrendo, p.ex., amputação de parte desnecessária, o autor só responderá se este for um médico, se for a própria pessoa, não. 
ATENÇÃO – Cirurgia de transgenitalização ou adequação de sexo (mudança de sexo): Trata-se de hipótese de alteração de integridade física em caráter permanente, porém há que se atentar ao fato de que no Brasil, através da Resolução nº 1.955/2010 do CFM, o transexualismo tem caráter patológico (tem inclusive CID – trata-se de doença com caráter biopsíquico, há o fenótipo de um sexo e corpo de outro – nada tem a ver com orientação sexual) e, portanto, exige a necessidade de 02 (dois) anos de tratamento psicológico para tentar reverter o quadro e fazer a adequação morfológica e, somente em casos em que não surtir efeitos no tratamento é que se terá a possibilidade de tratamento físico, ou seja, a cirurgia de mudança de sexo.
Transexual operado tem o direito de mudar o nome e estado sexual, sem qualquer referência ao estado anterior, sem nem mesmo dizer o porque. Mas atenção, caso um transexual se case com pessoa de outro sexo, sem informá-lo da antiga condição, pode gerar anulação de casamento por erro (art. 1.557, do CC).
De acordo com a doutrinadora Maria Berenice Dias, o direito a mudança do nome e do estado sexual independe do registro, ou seja, mesmo que o transexual não queira fazer a cirurgia, tem o direito de muda-los.
Transexual e intersexual são figuras diferentes, este trata-se de hermafrodita, ou seja, aquele que sofre de ambiguidade sexual, tem características morfológicas de ambos os sexos. Para estes casos, a medicina prevê apenas a espera, pois defende que em determinado período um dos sexos irá prevalecer.
Ocorre que há casos em que pode ocorrer o registro em um sexo e que este venha a ser determinado, posteriormente, como outro. Nesse caso, poderá ser retificado o registro (art. 109 da Lei de Registros Públicos), ou seja, trata-se de mera ação de retificação de registro (competência da Vara de registros).
Nos casos de transexual, a ação promovida será a ação ordinária de redesignação de estado sexual (competência da Vara de Família).
	Barriga de aluguel ou gestação em útero alheio ou gestação por substituição: De acordo com a Resolução 1.957/2010 do CFM, é possível realizar barriga de aluguel desde que atendidos aos seguintes requisitos:
	1º) Que as pessoas envolvidas sejam da mesma família (se não forem da mesma família, só com a autorização do CFM);
	2º) Comprovação da impossibilidade gestacional da mãe biológica;
	3º) Gratuidade
	Nos casos em que ocorrer a “barriga de aluguel”, o filho será da mãe biológica e não da mãe hospedeira. 
3. DIREITO AO CORPO MORTO – De acordo com o art. 14, do CC, é estabelecido o direito ao corpo morto, veja-se: “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.”
Tal direito pode sofrer alterações de disposição ainda em vida, ou seja, ainda em vida poderá desistir de ser doador de órgãos, p.ex. 
O ordenamento jurídico pátrio veda a disposição de testamento vital ou living will (na Europa é denominado diretivas antecipadas), ou seja, hipóteses em que se expõe as condições em que se quermanter-se vivo. 
No Brasil, tal vedação encontra-se fundamentada no Código Civil e Código Penal (eutanásia). Em que pese tal vedação, o novo Código de Ética Médica assegura o direito a morte digna (decisão meramente administrativa). A doutrina contemporânea moderna é muito contenciosa a admiti-lo. 
	ATENÇÃO – De acordo com a Lei nº 9.437/97 (Lei de Transplantes) são disciplinados os transplantes em vida e em morte.
	Entre pessoas vivas é necessário obediência aos seguintes requisitos:
1º) Gratuidade;
2º) Que as pessoas envolvidas sejam da mesma família, salvo com o autorização judicial;
3º) O objeto só pode ser órgão dúplice ou regenerável (Exs.: rim e fígado);
4º) Há que se ter a intervenção do Ministério Público, ou seja, antes de realizar a cirurgia o médico é obrigado, a comunicar o MP, que deverá verificar o preenchimento dos requisitos supra (quando um procedimento administrativo é arquivado pelo Promotor 9preenchimento dos requisitos), deverá o mesmo comunicar o arquivamento ao CFMP, no prazo de 3 dias, sob pena de incorrer em falta funcional).
	Tais regras não são aplicáveis a leite materno, sangue, sêmen, óvulo, medula óssea e cabelo. (Mas atenção, se submete a regra da gratuidade). 
	Entre pessoas mortas é necessário obediência aos seguintes requisitos:
1º) Gratuidade;
	2º) Possibilidade de aproveitamento de todos os órgãos possíveis;
	3º) Respeito à fila (critério de emergência e não cronológico – não se pode escolher o receptor em respeito ao princípio da universalização da saúde)
OBS: O art. 9º da aludida lei impede a retirada de órgãos, para fins de transplantes, de pessoas que morrem na condição de indigente. Mas atenção, o corpo deste poderá ser utilizado em faculdades de medicina para fins de estudos.
O art. 4º da mesma lei aduz que a doação de órgãos independe de vontade de titular exposta em documentos, valendo-se o consentimento da família (confronto com o art. 14, do CC). Em função deste confronto, o Enunciado nº 227 – JDC determina que, se houve manifestação do titular, prevalecerá a sua vontade, somente nos casos de silêncio é que a família decidirá. 
4. AUTONOMIA DO PACIENTE (Livre consentimento informado) – Está previsto no art. 15, do CC, veja-se: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.”
Isso significa dizer que o paciente tem autonomia, ou seja, é sempre o sujeito da relação e jamais o objeto do tratamento. Ou seja, TODO e qualquer procedimento dependerá de seu consentimento/aquiescência.
De acordo com o artigo supra:
Há a possibilidade de responsabilidade civil do médico por violação do dever de informação, ou seja, ele é obrigado a prestar todas as informações. E, ainda que a informação possa prejudicar no tratamento, o médico é obrigado a repassá-la a família. 
Há a proibição de internação forçada, ou seja, toda internação médica depende da vontade do paciente. Mas na hipótese de interesse decorrente de saúde pública a internação poderá ser forçada (exs.: doenças infectocontagiosas, pessoas com toxicomania).
	ATENÇÃO – Nos casos das Testemunhas de Jeová, não há que se falar em hipótese de impedimento de transfusão de sangue quando se tratar de criança e adolescente. Lembrando que tal manifestação deve ser expressa, se não puder se expressar, não terá tal direito. 
 
5. DIREITO AO NOME CIVIL – O nome é uma espécie de etiqueta colocada nas pessoas quando do nascimento com vida. Nome é direito da personalidade. 
No primeiro ano após a aquisição da maioridade civil ou da emancipação o titular pode imotivadamente modificar o seu nome (prazo decadencial).
	Caso o oficial de justiça se negue a registrar o nome caberá a instauração de procedimento de dúvida (arts. 198 e 203 da Lei de Registros Públicos). Trata-se de procedimento administrativo iniciado pelo próprio oficial do cartório e presidido pelo juiz (ocorrerá, in casu, formalização do contraditório com a oitiva do interessado, oitiva do Ministério Público e proferimento da sentença dirimindo a dúvida. Cabendo contra esta apelação, nos quais são legitimados para propô-la, somente o interessado e o Ministério Público – vide súmula 99 do STJ – uma vez que ao oficial falta interesse na ação).
	OBS: A jurisprudência, em “contraposição” ao silêncio do regramento legal, vem admitindo a possibilidade de dúvida inversa é a petição provocada pelo particular.
	ELEMENTOS COMPONENTES DO NOME – O art. 16, do CC, estabelece dois elementos obrigatórios para o nome, o prenome e o sobrenome (patronímico). Sendo que o prenome identifica a pessoa e o sobrenome ou patronímico identifica a origem familiar. 
	O prenome poderá ser simples ou duplo, mas há casos em que a lei prevê a obrigatoriedade de prenome duplo. São os casos de gêmeos com nomes iguais. 
	Há que se destacar ainda a presença eventual do agnome. Trata-se da hipótese de pessoas que tenham o mesmo nome dentro da mesma família, é uma partícula diferenciadora e obrigatória, in casu. 
	Não são elementos do nome os títulos e pseudônimo/heterônimo/cognome (nomes utilizados apenas para atividades profissionais). 
	No âmbito dos pseudônimos, de acordo com o art. 19, do CC, apesar de não integrarem o nome, gozam da mesma proteção, veja-se: “O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.”
OBS: Não se pode confundir pseudônimo com hipocorístico, este trata-se de apelido notório que serve para identificar alguém pessoal e profissionalmente. 
Sendo assim, de acordo com o art. 57 da Lei de Registros Públicos, o hipocorístico pode ser acrescentado ou até mesmo substitua o nome (ex.: Lula, Xuxa e Pelé). 
O pseudônimo JAMAIS será integrado ao nome, o hipocorístico somente o fará por identificar a pessoa profissionalmente e pessoalmente. 
	 A tutela do nome é autônoma e independente, ou seja, para que haja violação do nome não é necessário que se viole outros direitos de personalidade, como a honra, p.ex.
 O direito brasileiro se submete ao princípio da imutabilidade relativa do nome. Em razão deste, o nome pode ser modificado nos casos previstos em lei (exs.: adoção – caso previsto no art. 47 do ECA no qual a mudança do prenome é facultativa e obrigatória no caso de sobrenome; acréscimo de sobrenome de padrasto ou madrasta – caso previsto na Lei 11.924/09 que exige dois requisitos, o consentimento do padrasto ou madrasta e decisão judicial; casamento e união estável – art. 1.565, § 1º, do CC – em havendo separação a perda do nome só será perdida mediante vontade, mas de acordo com o art. 1.578, do CC, há a possibilidade de perda do nome contra a vontade do titular nas hipóteses de culpa grave desde que não haja prejuízo à identificação, mas há ainda a Emenda Constitucional 66 que proibiu a discussão de culpa no divórcio, tornando inócua o dito, ou seja, quem mudou o nome só volta a ter o antigo se quiser) ou em outros casos não previstos em que se reconheça judicialmente justo motivo (exs.: viuvez; abandono afetivo – filho que retira o sobrenome do pai; divórcio dos pais com mudança de nome).
6. DIREITO À IMAGEM – É o direito a identificação. Trata-se de direito tridimensional, pois se apresenta em:
a. Imagem a retrato – são as características fisionômicas. 
b. Imagem a atributo – são as características psicológicas imateriais (pessoas bondosas, sovinas).
c. Imagem a voz – é um timbre sonoro identificador. 
A Constituição, em seus arts. 5º e 10, reconheceu a autonomia do direito à imagem, ou seja, para que se viole a imagem não é necessário que se viole a honra conjuntamente. 
	Porém, de acordo com o art. 20, do CC, só haverá violação à imagem se houver violação conjunta à honra ou exploração comercial, veja-se:
“Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou arespeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.”
RELATIVIZAÇÃO DO DIREITO À IMAGEM - Tratam-se das hipóteses de mitigação/flexibilização do direito a imagem:
a. Função social da imagem – É a possibilidade da utilização da imagem alheia quando necessárias à administração da justiça ou manutenção da ordem pública;
b. Pessoas públicas;
c. Pessoas que estão em lugar público (ex.: pessoas mostradas na TV durante intervalo de jogo de futebol – STJ Resp 595600/SC);
d. Consentimento do titular – Poderá ser expresso ou tácito.
7. DIREITO À VIDA PRIVADA OU PRIVACIDADE – São as informações que pertencem ao titular. Trata-se de sua esfera pessoal. 
A Constituição conferiu autonomia a privacidade em seu art. 5º, XII (STJ REsp – 521697/RJ). 
Teoria dos círculos concêntricos – a privacidade é um gênero do qual decorrem duas espécies, o segredo (são as informações privadas que pertencem ao titular, mas que podem ser compartilhadas com terceiros em nome do interesse público) e a intimidade (pertence ao titular e a mais ninguém, só compartilha se quiser). 
Exs.: Movimentação bancária e fiscal – orientação secreta.
Orientação sexual e religiosa – orientação íntima.
	Nem toda informação privada é íntima, mas toda informação íntima é privada. 
Em matéria de direito a privacidade não se admite a exceção de verdade.
(Data: 22.03.12/ Aula 08)
DOMICÍLIO
1. CONCEITO – Em sentido amplo (lato senso) é o local onde a pessoa pode ser sujeita de direitos e deveres na ordem civil (pessoa natural/pessoa jurídica)
1.1 Domicílio da pessoa natural – Via de regra, trata-se do local onde a pessoa se estabelece com ânimo de permanência, denominado domicílio residencial.
· Pluralidade de domicílios – Admite-se a pluralidade de domicílios (art. 71, CC). Como inovação do Código Civil vigente também é tratado o domicílio profissional/laboral relacionado ao exercício da profissão e, admite-se também a pluralidade domiciliar profissional (art. 72, CC).
No Código Civil antigo a pessoa tinha, em regra, somente um domicílio, que era o local de sua residência, já com o advento do Código vigente, a pessoa passou a ter, em regra, dois domicílios, a residência e o local de exercício de sua profissão. 
	
· Moradia eventual/ Moradia ou habitação não habitual (art. 73, CC) – para a pessoa que não tenha residência habitual, o seu domicílio é o local onde for eventualmente encontrada (exs.: circenses, ciganos, nômades)
CLASSIFICAÇÃO DO DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL QUANTO A ORIGEM
I. Domicílio voluntário – Decorre do exercício da autonomia privada (autonomia de vontade), ou seja, do exercício da liberdade individual (art. 74, CC). 
Modifica-se o domicílio quando a pessoa manifesta a sua intenção de se mudar, inclusive esta manifestação poderá ser provada mediante declaração as municipalidades (de onde vai e para onde vai).
II. Domicílio legal ou necessário – Decorre de uma imposição da norma jurídica, nos termos do art. 76, CC.
O referido artigo trata-se de norma de ordem pública que não pode ser contrariada. (Se houver uma disposição que entre em contradição com norma de ordem pública, será considerada nula).
		II.I INCAPAZ – é o mesmo de seu representante ou assistente.
		II.II SEERVIDOR PÚBLICO – é o do local onde exerce de forma permanente as suas funções.
II.III MILITAR – em regra é o do local onde servir (quartel). Trata-se de regra que vale para forças terrestres, porém nos casos de Marinha ou Aeronáutica, é considerado como domicílio necessário a sede do comando onde o militar está subordinado.
II.IV MARÍTIMO OU MARINHEIRO – é o do local de matrícula do navio.
II. V PRESO – é o do local de cumprimento da sentença transitada em julgado.
III. Domicílio contratual – É aquele fixado por contrato para o cumprimento de direitos e deveres a eles relativos (art. 78, CC).
		O domicílio contratual também possibilita a cláusula de eleição de foro (súmula 335 do STF).
OBS: Conforme o art. 112, parágrafo único do CPC, aduz que o juiz pode conhecer de ofício da nulidade da cláusula de eleição de foro em contrato de adesão (aquele com conteúdo imposto por uma das partes. Não é, necessariamente, um contrato de consumo). 
1.2 Domicílio da pessoa jurídica – Poderá ser público ou privado. Veja-se os respectivos domicílios das pessoas jurídicas:
União – DF
Estados e territórios – Capitais
Município – Funcionamento da Administração Municipal
Demais pessoas jurídicas (direito privado) – Domicílio previsto no estatuto ou (...)
OBS; é possível a pluralidade de domicílios para a pessoa jurídica assim como o é no caso de domicílio das pessoas naturais. 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍCA
A pessoa jurídica não se confunde com seus membros, sendo dotada de autonomia (trata-se de realidade jurídica).
A pessoa jurídica é um conjunto de pessoas ou de bens, salvo a EIRELI, que se trata de um pessoa jurídica de apenas UMA pessoa. (Enunciado 469 VJDC – STJ – Nov/2011).
EIRELI é uma pessoa sui generis. 
	Diante de muitos abusos cometidos por sócios e administradores da pessoa jurídica, surgiu no direito comparada a chamada teoria da desconsideração da personalidade jurídica, também chamada de teoria da penetração, ou ainda, teoria desregard. 
	Como a desconsideração foi positivada pelo Código Civil não se trata mais de teoria. 
	A desconsideração nada mais é do que a negação da realidade orgânica ou quebra da autonomia. ATENÇÃO – desconsideração não se confunde com despersonificação, esta significa a extinção ou dissolução da pessoa jurídica.
DESCONSIDERAÇÃO DIRETA X DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA/INVERSA/INVERTIDA
	A desconsideração direta determina a responsabilização de sócios e administradores por dívidas da pessoa jurídica.
	Já a desconsideração indireta determina a responsabilização da pessoa jurídica por dívidas dos sócios e administradores (encontra-se na doutrina – IVJDC, enunciado 283 – e na jurisprudência - STJ).
	Fábio Ulhoa Coelho apronta a existência de duas teorias justificadoras da desconsideração, a primeira é a teoria maior, que elenca dois elementos para aplicara a desconsideração, quais sejam, o abuso da personalidade jurídica, caracterizado, p. ex., com desvio de finalidade ou confusão patrimonial e prejuízo ao credor havendo pedido pelo interessado ou pelo MP em uma ação judicial e deferimento pelo juiz (art. 50 do CC); e teoria menor, que elenca apenas prejuízo ao credor, necessitando de pedido pelo interessado ou pelo MP em uma ação judicial e deferimento pelo juiz (pode ser reconhecido de ofício – art. 28, §5º, CDC)
APROFUNDAMENTOS QUANTO A DESCONSIDERAÇÃO
Enunciado 07 IJDC – Só se aplica a desconsideração quando houver a prática de ato irregular e limitadamente aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido. 
Fica claro que a desconsideração é exceção cabível em casos excepcionais.
FALTANDO O RESTO DA AULA!
(Data: 29.03.12/ Aula 09)
BEM DE FAMÍLIA
CONCEITO – O bem histórico de família mais importante é o disciplinado pela Lei Texana, de 26 de janeiro de 1980, que instituiu o HOMESTEAD (é o instituto originário da Lei Texana mais importante. Refere-se a impenhorabilidade de pequena propriedade). Nessa linha, o Código Civil antigo, disciplinava o nosso bem de família a partir do art. 70, havendo sido, posteriormente, revogado pelos arts. 1.711 e seguintes do atual Código. 
ESPÉCIES DE BEM DE FAMÍLIA
	Se divide em duas espécies, bem de família voluntário/convencional e bem de família legal, veja-se:
a) Bem de família voluntário ou convencional – Art. 1.711, do CC. É o tipo de bem de família dotado pelo Código Civil. 
Conceito – é o tipo de bem de família voluntario regulado pelos arts. 1.711 e seguintes do Código Civil, é aquele instituído por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou de terceiros mediante registro no Cartório de Imóveis (art. 167, I, da LRP – Lei de Registros Públicos)
OBS: Logicamente o instituidor do bem de família deve ser solvente afim de se evitarem fraudes contra credores.
EFEITOS DO BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO
	A partir da sua instituição, dois efeitos básicos são gerados:a impenhorabilidade do bem por dívidas futuras nos termos do art. 1.715, do CC e, a inalienabilidade do bem nos termos do art. 1.717, do CC. 
	Há que se destacar que tal impenhorabilidade é relativa, pois eventuais dívidas decorrentes de tributos podem levar a execução do imóvel. Sendo que a inalienabilidade também é relativa, pois com a anuência dos interessados e ouvido o Ministério Público, poderá ser o mesmo alienado. 
 Dois aspectos inovadores do bem de família voluntário devem ser realçados: o seu valor não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos seus instituidores (art. 1.711) e, é possível ao instituidor afetar valores mobiliários (rendas) para constituir o bem de família, ou seja, pode ser vinculado a este imóvel algum rendimento que sirva para mantê-lo quanto ao pagamento de, p.ex. condomínio (art. 1.712).
ATENÇÃO – No que tange a escritura pública de imóvel como bem de família, quando do momento de sua instituição, conjuntamente com valores mobiliários, não se poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores. 
RENDA PARA CONSTITUIÇÃO DO BEM DE FAMÍLIA X RENDA ADVINDA DO BEM DE FAMÍLIA
Situação diversa é aquela em que o imóvel residencial é alugado para que a família sobreviva mediante percepção da renda do aluguel. Em tal caso, é firme a jurisprudência do STJ (REsp nº 439.920/SP, AgRg no REsp nº 975.858/SP), especialmente calcada nas normas do bem de família legal, no sentido de proteger a renda, por entendê-la impenhorável. 
	ARTIGOS DE IMPORTANTE LEITURA – 1.720 (administração do bem de família voluntário), 1.721 e 1.722 (extinção do bem de família voluntário). 
OBS: O bem de família voluntário não alcançou sucesso no direito brasileiro (Silvio Rodrigues).
b) Bem de família legal – é aquele regulado por lei especial (Lei nº 8.009/90).
Conceito – O bem de família legal é uma modalidade socialmente festejada de bem de família instituída pela Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990.
	Diferentemente do bem de família voluntário, não se exige, para a sua criação, nenhum ato de vontade, nem, muito menos registro cartorário ou limite de valor. Vale dizer, o bem de família legal consagra uma impenhorabilidade protetiva automática diretamente derivada da lei.
OBS: O STJ editou a súmula nº 205 para admitir a aplicação da Lei nº 8.009/90 a penhoras realizadas antes da sua vigência (Trata-se de aplicação retroativa de uma norma civil – violação do ato jurídico perfeito? Talvez). 
	Na prática, inúmeras são as vantagens do bem de família legal, razão por que poucas são as situações em que o bem de família voluntário afigura-se mais útil, a exemplo do que dispõe o art. 5º, parágrafo único, da Lei 8.009/90. 
Ex.: Imagine-se um cidadão que mora com a família em dois imóveis, um de valor baixo e outro de valor alto. A proteção da norma recairá sobre o imóvel de menor valor, salvo se houver a instituição de bem de família voluntário do imóvel de maior valor e, respeitados requisitos para tal instituição já ditos. 
IMPENHORABILIDADE PROTETIVA – O art. 1º, da Lei 8.009/90, define o alcance desta impenhorabilidade protetiva. 
	OBS: Relativizando o parágrafo único, do art. 1º, o STJ, em mais de uma oportunidade tem admitido o desmembramento do imóvel para efeitos de penhora (REsp 510.643/DF, REsp 515.122/RS). Vale lembrar que a proteção legal abrange inclusive os bens móveis quitados que guarneçam na residência (art. 2º, da Lei 8.009/90).
	A jurisprudência brasileira é dotada de extrema plasticidade no que tange aos bens móveis passíveis de tutela pela Lei 8.009/90. A título exemplificativo, já houve decisões protegendo: a televisão, o computador, o ar condicionado e, até mesmo, o teclado musical. 
Questão de concurso – A vaga de garagem também é protegida pelo bem de família legal???
	De acordo com a súmula nº 449, editada pelo STJ, estabeleceu-se que não haverá a proteção legal do bem de família, se a vaga de garagem tiver matrícula diversa da do imóvel residencial. 
	Ou seja, a vaga de garagem que possui matrícula própria não constitui bem de família para efeitos de penhora. 
EXCEÇÕES À PROTEÇÃO LEGAL DO BEM DE FAMÍLIA (ART. 3º, DA LEI 8.009/90) 
	Não estará o bem de família protegido nos casos elencados abaixo:
1. Se o processo for movido para a cobrança de crédito de empregados domésticos, ou de suas respectivas contribuições previdenciárias.
OBS: analisando o inciso I, do referido artigo, o STJ, no REsp 644.733/SC, entendeu que a referida exceção interpreta-se restritivamente para abranger o empregado doméstico, mas não o trabalhador meramente eventual (ex.: eletricista, diarista e pintor).
2. Se o processo for movido pelo agente financeiro que financiou a aquisição ou a construção de sua casa própria (Ex.: Caixa Econômica).
3. Se o processo for movido por credor de pensão alimentícia em atraso.
4. Se o processo tributário for movido para cobrança de imposto, taxa e contribuição em função do imóvel (Ex.: IPTU, ITR).
OBS: já é pacífica a jurisprudência brasileira no sentido de que a cobrança de taxa condominial também excepciona a proteção legal do bem de família, podendo conduzir o imóvel à penhora (RE 439.003). 
5. Se o processo for movido para a execução de hipoteca que se deu voluntariamente em garantia (Regra do venire contra factum proprium, se se deu voluntariamente o imóvel em garantia real hipotecária, depois não se pode avocar a garantia constitucional). 
OBS: No que se refere ao inciso V, do referido artigo, o STJ entende, de fato, não haver a proteção do bem de família se o imóvel foi voluntariamente dado em garantia hipotecária (AgRg no Ag nº 1152734/SP, AgRg no AREsp 72620/DF), todavia, o mesmo tribunal tem entendido que a mera indicação do bem a penhora admite que posteriormente o devedor alegue a proteção do bem de família (AgRg no REsp 313.546/DF. REsp 875.687/RS). 
6. Se o bem foi adquirido com produto de crime assim como também não haverá proteção ao bem de família se o processo foi movido para a execução de sentença penal condenatória para ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
7. Se o processo for movido para a cobrança decorrente da obrigação de fiança locatícia. 
OBS: O STF firmou entendimento no sentido da constitucionalidade da penhora do imóvel do fiador na locação, admitindo inclusive a repercussão geral (RE 612.360).
	O STJ já firmou entendimento no sentido de que a proteção do bem de família legal abrange inclusive o imóvel da pessoa que vive só, uma vez que o direito constitucional a moradia na perspectiva da dignidade da pessoa humana justifica este entendimento (súmula 364, REsp 450.989/RJ).
	
(Data: 05.04.12/ Aula 10)
FATO JURÍDICO
1. CONCEITO – Fato é toda relação jurídica apta a criar, extinguir ou modificar(...)
2. CLASSIFICAÇÃO – Ele pode ser dividido, ainda, nas seguintes espécies:
a) FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO (expressão consagrada por Santoro Passarelli) – É todo acontecimento natural que deflagre efeitos na órbita jurídica, podendo ser ordinário (comum – ex.: chuvas de verão) ou extraordinário (imprevisíveis – ex.: furacão em costa litorânea de estado brasileiro).
b) ATO-FATO – É uma categoria desenvolvida por Pontes de Miranda e, não está prevista no Código vigente e, não tem muitos autores adeptos. É uma categoria que fica entre o fato da natureza e uma ação humana. 
Diferentemente do ato jurídico, em sentido estrito é um comportamento que, embora derive do homem é desprovido de vontade consciente na sua realização e produção dos seus efeitos jurídicos. 
É uma conduta involuntária e que ainda assim deflagra efeitos jurídicos na órbita do direito. 
Ex.: a compra de um doce por uma criança – menor absolutamente incapaz – não caracteriza um contrato de compra em venda, mas sim um ato fato, um comportamento humano desprovido de voluntariedade, mas que deflagra efeitos jurídicos na órbita do direito. 
c) AÇÕES HUMANAS – Que serão, ainda, divididas em ações humanas lícitas (são aquelas denominadas de atos jurídicos) e ações humanas ilícitas (são aquelas denominadas de atos

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