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TERAPÊUTICA MÉDICA (AULA 2) DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) EPIDEMIOLOGIA: · No Brasil acomete mais de 7 milhões de pessoas, com mais de 30.000 mortes por ano. · Cerca de 80-90% dos casos podem ser atribuídos ao tabagismo. · Basicamente quem tem DPOC é quem fumou. FISIOPATOLOGIA: · Obstrução PERMANENTE (com discreta reversibilidade) do fluxo expiratório causada por bronquite crônica, enfisema ou ambos. · Bronquite crônica → é a inflamação dos brônquios · Enfisema → destruição do parênquima · Patologia caracterizada por LIMITAÇÃO PROGRESSIVA DO FLUXO DE AR e que não é totalmente reversível (IRREVERSÍVEL). · Diferente da asma, pois na asma o paciente usa o broncodilatador e o pulmão volta ao normal. Já na DPOC o paciente fumou muito e não tem nenhum broncodilatador que resolva isso, por isso fala que é irreversível. BRONQUITE CRÔNICA: · Doença das vias aéreas decorrente de exposição crônica a irritantes inespecíficos (cigarro, sílicas, poeira). · Ocorre hipersecreção mucosa e alterações estruturais nos brônquios (inflamação, metaplasia epitelial, aumento das glândulas mucosas) que causam tosse produtiva persistente (principal sintoma da DPOC); · Manifesta-se por tosse produtiva durante três meses ou mais em pelo menos dois anos consecutivos, na ausência de outras que possam causar tosse produtiva (bronquiectasia, fibrose cística e asma). ENFISEMA PULMONAR: · Processo destrutivo do parênquima pulmonar. · Trata-se de um diagnóstico morfológico, pois o enfisema se caracteriza pela destruição das paredes alveolares. · As causas exatas e mecanismos específicos envolvidos no surgimento da bronquite e do enfisema ainda não são completamente conhecidas, mas fatores desencadeantes são conhecidos. · Fatores desencadeantes: · Tabagismo - agente etiológico mais importante · Poluição ambiental e também fuligem de fogão a lenha. · Infecções respiratórias (persistentes) · Alergias → desencadeantes de bronquite crônica / exposição ocupacional - poeira. · Deficiência de alfa-1-tripsina → 1%, é quando o paciente já nasce com essa deficiência. A alfa-1 antitripsina é uma enzima que protege o pulmão contra a protease que destrói o parênquima, quando deficiente a protease não fica mais protegida e acaba destruindo o parênquima pulmonar formando os sacos de enfisema. Aqui as manifestações clínicas ocorrem mais em jovens, diferente das causas por tabaco, que começam a surgir em torno de 40 anos. Partículas nocivas → cigarro. Com a destruição do parênquima acaba formando uma cavidade de ar (bolha) com depósito de carbono, em que acaba sendo irreversível. Por que do processo inflamatório? · Inalação de partículas e gases nocivos, estimula a ativação de algumas células: · Neutrófilos · Macrofagos · Linfócitos CD8 + · Liberam uma série de mediadores químicos · Causam destruição disseminada pelas vias respiratórias ,vasculares e parênquima pulmonar. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: · Sintomas iniciais → tosse crônica e produção de catarro (pigarro). · Estágios mais brandos → o exame físico é normal na maioria dos pacientes, porém esse pulmão vai ser hiperinsuflado (preto - retenção de ar). · Percussão → Mais audível. · Quando a limitação do fluxo de ar se agrava, podem surgir: · Cianose das membranas mucosas · “Tórax em Barril” → devido à hiperinsuflação pulmonar (raio-x preto) · Aumento da FR em repouso · Respiração superficial · Uso dos músculos respiratórios acessórios (tiragem intercostal) Nas exacerbações da DPOC: As exacerbações (crises), não são pontuais, é mais crônica, paciente percebe que está tendo uma piora dos sintomas que ele já apresenta. · O paciente pode sofrer piora da dispnéia, aumento do volume ou maior purulência do catarro; · Aumento da tosse · Aperto no peito · Aumento da necessidade de broncodilatadores · 25% → Febre · Diminuição da tolerância ao exercício. São crises de característica mais crônica. Muitas vezes precisa internar o paciente para tratar essa exacerbação. A principal causa dessa exacerbação em DPOC é infecciosa. O paciente com DPOC tem um pulmão mais debilitado, isto é, com uma morfologia mais alterada com tendência a desenvolver até pneumonias ou até outros tipos de infecção. Não necessariamente o paciente tem febre, apenas 25% dos pacientes têm essa queixa, por isso é sempre importante estar fazendo hemograma e avaliando o estado desse paciente, pois se for uma infecção (pneumonia, por exemplo) tem que tratar com antibiótico. DIAGNÓSTICO: · O diagnóstico da DPOC é CLÍNICO e deveria ser considerado para todas as pessoas expostas ao tabagismo ou poluição ocupacional que apresentam dispneia, tosse crônica e expectoração. · Os critérios são suficientes para estabelecer o diagnóstico da DPOC, porém, se possível, recomenda-se a confirmação através da ESPIROMETRIA → observa-se se o padrão é obstrutivo e se não é reversível. · Para realizar a espirometria, usa também igual na asma o B2 de curta (fenoterol e salbutamol) e depois repete novamente a espirometria para ver se teve uma melhora desse paciente com o uso do broncodilatador, porém na DPOC após repetir a espirometria ela vai estar igual, não teve mudança - isso em um paciente sem crise. · Importante lembrar que na asma é diferente, com o uso do broncodilatador de curta duração, após repetir o exame observa-se uma melhora do resultado, porém no DPOC não ocorre essa melhora após o uso do B2 de curta. *DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL*: DPOC: · Início após os 40 anos, geralmente · Sintomas lentamente progressivos · História de longa intensa de exposição ao tabaco · Dispneia durante exercícios · Limitação ao fluxo aéreo praticamente IRREVERSÍVEL ASMA: · Início precoce (geralmente na infância) · Sintomas variam dia a dia · Principalmente à noite ou início da manhã · História de rinite alérgica e/ou eczema atópico · História familiar de asma · Melhora da exacerbação com broncodilatadores → REVERSÍVEL INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA: · Estertores crepitantes nas bases - edema pulmonar (água na base) · Dispneia paroxística noturna, ortopnéia · Edema de membros inferiores, ingurgitamento jugular, hepatomegalia · Raio X do tórax geralmente revela aumento da área cardíaca · Espirometria geralmente revela redução de volume, sem obstrução Resumindo → DPOC é uma doença obstrutiva que pode ser causada por dois motivos: bronquite crônica (inflamação dos brônquios) e enfisema pulmonar. É uma doença irreversível, pois o ar vai se acumulando e tem uma dificuldade para expirar. TRATAMENTO: 1. Tratamento não medicamentoso: · Interrupção do tabagismo!!! · Existem as terapias de apoio, adesivos de nicotina e bupropiona. · Programas de reabilitação pulmonar · Estimular atividade física · Vacinar anualmente contra influenza → Paciente com DPOC está propenso a ter infecções pulmonares, por isso é importante a vacinação. 2. Tratamento medicamentoso: BRONCODILATADORES: Na asma o primeiro tratamento de escolha são os corticoides inalatórios (monoterapia). Na DPOC é diferente, pois aqui é uma doença irreversível, logo a primeira escolha são os BRONCODILATADORES (BD), pois NÃO EXISTE CORTICOIDE INALATÓRIO NA MONOTERAPIA DO DPOC (existe apenas na asma). · Base do tratamento sintomático da DPOC · A via de administração preferencial é a INALATÓRIA, tanto no DPOC quanto na asma. · Os BD disponíveis são: · Beta 2 agonistas de curta duração → FENOTEROL, SALBUTAMOL, TERBUTALINA · Anticolinérgico de curta duração → BROMETO DE IPRATRÓPIO · Beta 2 agonistas de longa duração → FORMOTEROL, SALMETEROL. · Anticolinérgico de longa duração → BROMETO DE TIOTRÓPIO Efeitos adversos: · B2 agonista → Taquicardia sinusal, tremor de extremidade. · Anticolinérgicos → Boca seca principalmente CORTICOIDES: · BUDESONIDA, BECLOMETASONA, CICLESONIDA, FLUTICASONA. · Alguns mecanismos anti-inflamatórios promovem benefícios na DPOC · NÃO DEVE USAR CORTICOIDE INALATÓRIO COMO MONOTERAPIA EM DPOC. · Em terapia combinada ele pode até ser usado, porém não é a terapia de escolha inicial, sendo que a inicial é broncodilatador.· Não quer dizer que não usa CI no DPOC, às vezes até usa. · A combinação de BD de longa duração e CI é mais efetiva · USO CRÔNICO DOS CORTICOIDES → monilíase orofaríngea, estrias na pele, glaucoma, osteoporose, úlceras gástricas, aumento do apetite, aumenta glicemia, necrose asséptica de cabeça de fêmur, entre outros. · Os corticoides inalatórios, às vezes são bons, porém tem diversos efeitos colaterais. · Esses efeitos são dose-dependente e mais comumente associados ao uso de corticóide por via oral. COMO VAI TRATAR ESSE PACIENTE: 1. TESTE DE AVALIAÇÃO DO DPOC - PERGUNTAS: É preciso usar uma tabela com algumas perguntas (questionário) e classificar de 0 -5; · Nunca tenho tosse ou tenho tosse o tempo todo? · Não tenho nenhum catarro no peito ou peito está cheio de catarro? · Não sinto nenhuma pressão no peito ou sinto uma grande pressão no peito? · Não sinto falta de ar quando sobe uma ladeira ou sente falta de ar ? · Não sente nenhuma limitação nas atividades de casa ou sente muita limitação? · Sente confiante para sair de casa apesar da doença pulmonar ou não se sente confiante para sair de casa? · Dorme profundamente, tranquilo e bem ou não dorme bem devido a doença pulmonar? · Tem muita energia (disposição) ou não tem nenhuma disposição? Após fazer essas perguntas e marcar a pontuação de cada uma, vai somar todos os pontos e classificar. O limite, isto é, pontuação máxima é 10, caso o paciente tenha uma pontuação maior que 10 pontos a classificação do paciente muda. 2. ESCALA DA DISPNEIA: Além do questionário de avaliação do DPOC é preciso classificar o grau da dispneia desse paciente utilizando uma escala, com 4 perguntas (escore de 0-4). 3. CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DPOC: · Vai ser preciso classificar o paciente em LEVE, MODERADO, GRAVE ou MUITO GRAVE. Para classificar o DPOC é preciso analisar → LEVE, MODERADO, GRAVE ou MUITO GRAVE (gravidade). · Grau de dispneia (escala de mMRC) → 0-1 (leve); 2 (moderado); 3 (grave) e 4 (muito grave). · Sintomas (CAT - pontuação até 10) → < 10 (leve); > ou igual a 10 (moderado, grave e muito grave). · Obstrução (VEF - pós-BD) - volume expiratório forçado após o uso de broncodilatador → é um aparelho, em que vai pedir para o paciente puxar todo ar e expirar de uma vez só o mais forte que ele conseguir, com isso no aparelho tem uma marca e no momento de expirar o ponteiro dessa marca vai mudar. Após esse procedimento vai utilizar uma tabela para saber o quanto seria o esperado. · > ou igual 80 (leve); < 80 - > igual 50 (moderada); <50 - > igual 30 (grave); <30 (muito grave). · Exacerbação (crise) → 2 ou mais exacerbação ou 1 ou mais hospitalização. DPOC LEVE: · Não exacerbador → Monoterapia broncodilatadora (LABA ou LAMA). · Exacerbador → Terapia dupla broncodilatadora (LABA + LAMA) - 1ª linha. Porém, existe outras opções, como Terapia combinada (LABA + CI) ou monoterapia (LAMA) - pode ser usado em todas. DPOC MODERADA: · Não exacerbador → Monoterapia broncodilatadora (LABA ou LAMA). Se piorar vai associar a terapia duplas, vai usar os dois LABA E LAMA · Exacerbador → Terapia dupla broncodilatadora (LABA + LAMA) - 1ª linha. Porém, existe outras opções, como Terapia combinada (LABA + CI) ou monoterapia (LAMA) - pode ser usado em todas. DPOC GRAVE: · Não exacerbador → Monoterapia broncodilatadora (LABA ou LAMA). Se piorar vai associar a terapia duplas, vai usar os dois LABA E LAMA · Exacerbador → Terapia Tripla (LABA + LAMA + CI), pode associar também o roflumilastes ou macrolídeos - quando tem caráter infeccioso. Pode fazer terapia dupla no início, porém se não melhorar tem opção de terapia tripla, no entanto só usa a tripla em grave ou muito grave. DPOC MUITO GRAVE: · Não exacerbador → Começa direto com a TERAPIA DUPLA BRONCODILATADORA (LABA + LAMA) · Exacerbador → Terapia Tripla (LABA + LAMA + CI), pode associar também o roflumilastes ou macrolídeos - quando tem caráter infeccioso. Pode fazer terapia dupla no início, porém se não melhorar tem opção de terapia tripla, no entanto só usa a tripla em grave ou muito grave. Paciente não exacerbador classificado com DPOC leve, moderada ou grave vai iniciar com uma monoterapia broncodilatadora (LABA - B2 de longa - FORMOTEROL ou SALMETEROL ou LAMA - anticolinérgico de longa - TIOTRÓPIO), todos inalatórios. Agora se o paciente é classificado como não exacerbador, porém ele tem gravidade muito grave, o início do tratamento vai ser - terapia dupla broncodilatadora (LABA + LAMA). OBS: NA ASMA A MONOTERAPIA É CI, JÁ NO DPOC A MONOTERAPIA É BRONCODILATADOR! EXACERBAÇÃO: Essa exacerbação é quando paciente tem uma piora dos sintomas (crises): O que fazer? · Broncodilatador inalatório → Aumentar a dose e frequência do B2 de curta duração (FENOTEROL OU SALBUTAMOL). · Pode ser adicionado Anticolinérgico de curta (IPRATRÓPIO), se habitualmente não utilizado · Corticóide oral: · Sistêmico por curto tempo → 30-40mg/d de prednisona ou prednisolona por 7 a 14 dias. · Antibiótico (macrolídeo - aritromicina) → Considerar o seu uso de houver: · Aumento no volume da exacerbação · Aumento na purulência (catarro) · Piora da falta de ar
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