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Desmame de traqueostomia Maximino Rocha Lorena Traqueostomia Refere-se a um procedimento de acesso às vias aéreas com a colocação de prótese ventilatória (cânula) ou simplesmente uma cirurgia de abertura da traqueia que exterioriza a luz traqueal. (TAVARES, L.A.F, 2013) INDICAÇÕES A TQT é um procedimento geralmente realizado em pacientes internados em UTI, principalmente aqueles com necessidade de ventilação mecânica (VM) por tempo prolongado, e aqueles com lesão encefálica grave, pois necessitam de prótese ventilatória por rebaixamento do nível de consciência. As finalidades gerais da TQT incluem: ● Facilitar a remoção de secreções para pacientes hipersecretivos com dificuldade de manipulá-las; ● Proteger as vias aéreas em caso de rebaixamento do nível de consciência e de obstruções mecânicas ao fluxo aéreo; ● Uma alternativa de ventilação com pressão positiva na ocorrência de insuficiência respiratória aguda e crônica. (TAVARES, L.A.F, 2013) A TQT possui uma série de vantagens em relação ao tubo endotraqueal, entre as quais destacam-se: ● Conforto do paciente; ● Menor necessidade de sedação e analgesia; ● Melhor higiene oral; ● Menor risco de trauma laringotraqueal; ● Menor espaço morto; ● Menor trabalho respiratório; ● Menor taxa de autoextubação; ● Ingestão oral; ● Manuseio mais fácil; ● Preservação da função glótica; ● Melhor toalete brônquica; ● Possibilidade de comunicação. (TAVARES, L.A.F, 2013) CÂNULAS A seleção da cânula de TQT deve levar em consideração os seguintes aspectos: ● Dimensões da traqueia; ● Indicações da TQT (curto ou longo prazo); ● Resistência das vias aéreas superiores; ● Necessidade de VM (contínua ou intermitente); ● Secreções em vias aéreas; ● Presença de distúrbio de deglutição; ● Conforto do paciente (principalmente). (TAVARES, L.A.F, 2013) válvulas de fonação Proporcionam diversos benefícios ao paciente traqueostomizado, além de permitir a fonação. A válvula possui uma membrana unidirecional. O fluxo inspiratório entra pela válvula e, na expiração, a membrana fecha, e o ar é direcionado para a porção superior da traqueia. Há aumento da pressão glótica, o que favorece a tosse e pode acelerar o processo de decanulação. (TAVARES, L.A.F, 2013) UMIDIFICAÇÃO Como o fluxo de ar não passa pelas vias aéreas superiores no paciente traqueostomizado, ocorre perda do condicionamento aéreo – filtração, umidificação e aquecimento do ar. (TAVARES, L.A.F, 2013) DECANULAÇÃO Nas UTIs, dificilmente ocorre o procedimento de decanulação – ele é realizado nas unidades de internação e ambulatorialmente. A primeira condição é a capacidade de o paciente proteger as vias aéreas de forma segura. A decanulação está indicada, por exemplo, nas seguintes ocasiões: ● Quando ocorreu resolução da condição de base que necessitou da TQT; ● Resolução do distúrbio de deglutição; ● Não necessidade de VM invasiva; ● Recuperação do nível de consciência. (TAVARES, L.A.F, 2013) (TAVARES, L.A.F, 2013) CRITÉRIOS CLÍNICOS E FORMA DE MENSURAÇÃO PARA DECANULAÇÃO Critérios Mensurações Adequada manipulação das secreções pulmonares • PFT: > 160L/min • PEmáx > 60cmH2O Avaliação da permeabilidade das vias aéreas superiores • Fibrobroncoscopia Ausência de distúrbio de deglutição • Videofluoroscopia • Teste azul de metileno • Fonoaudiologia Proteção adequada das vias aéreas e risco mínimo de aspiração de conteúdo para a árvore brônquica • Reflexo de vômito presente • Manutenção da cabeça elevada • Tosse eficaz durante aspiração Trocas gasosas adequadas (oxigenação e ventilação) • VC/kg > 5mL/kg • IO > 300 • PaCO2 normal Não necessidade imediata de VM • Exame clínico • Exames de rotina (laboratoriais, de imagem) Protocolos de DECANULAÇÃO A redução progressiva do diâmetro da cânula é o método mais prolongado, mas de maior experiência entre os profissionais. A oclusão progressiva da cânula é um método bastante empregado na maioria dos casos de pacientes hospitalizados. A utilização de videofluoroscopia está em ascensão atualmente em vários serviços médicos e hospitais, favorecendo a precocidade e a segurança na decanulação. (TAVARES, L.A.F, 2013) (TAVARES, L.A.F, 2013) protocolo de decanulação sugerido por O’Connor e White Realização da TQT Não necessidade de VM prolongada Tolerância à oclusão da TQT SimNão Avaliação das vias aéreas: videofluoroscopia, otorrinolaringologia, cirurgia torácica, pneumologia intervencionista Nível de consciência adequado Tosse efetiva Capacidade de manipulação das secreções Reestabelecimento da patência das vias aéreas Sim Decanulação Sim Não TQT a longo prazo (MENDES, F, 2013) Protocolo da enfermaria da uftm Avaliação do médico, fisioterapeuta e fonoaudiólogo \ Desinsuflar o cuff Após 24-48 horas com cuff desinsuflado sem sinais de desconforto respiratório e broncoaspiração, trocar a TQT plástica para metálica Após 24-48 horas, ocluir a TQT durante o atendimento e o paciente mantendo-se estável clinicamente, permanecer ocluída por 24-48 horas \ Na ausência de secreção, sinais de desconforto respiratório, broncoaspiração e presença de tosse eficaz, decanular e realizar curativo oclusivo em estoma CUIDADOS PÓS DECANULAÇÃO Depois de realizada a decanulação, o estoma é coberto com um curativo seco que deve ser trocado duas vezes ao dia e o local deve ser avaliado quanto à cicatrização e a complicações. Deve haver continuidade da monitoração do paciente após a decanulação, e o curativo do estoma da TQT é mantido durante poucos dias até haver cicatrização. O paciente e/ou acompanhante devem ser orientados sobre esse processo. (EBSERH, 2015) Objetivo: Realizar um levantamento bibliográfico a respeito da decanulação da traqueostomia para verificar os fatores e protocolos utilizados em estudos internacionais. Resultados: A maior parte da população estudada foi do gênero masculino e com alterações neurológicas. Dos profissionais envolvidos no processo de decanulação, participaram em ordem decrescente médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e enfermeiros. As etapas da decanulação mais citadas foram: avaliação da deglutição; treino de oclusão; avaliação da permeabilidade de passagem do ar; habilidade de manipulação de secreção e troca de cânula; desinsuflação do cuff e treino de tosse; uso de válvula de fala. Além disso, obtiveram-se dados a respeito do tempo total de traqueostomia e de decanulação. Conclusão: A presença do fonoaudiólogo é extremamente importante no processo de decanulação, visto que a avaliação da deglutição foi a etapa mais citada nos estudos, sendo esse trabalho realizado em conjunto com médicos e fisioterapeutas. (MEDEIROS, G. C. et al, 2019) Estudo Sul-Coreano publicado no dia 28 de abril desse ano propõe um escore. Estudo de Coorte retrospectiva que envolveu 346 pacientes adultos traqueostomizados, onde foram identificadas variáveis que estavam independentemente associadas à falhas na decanulação. A partir desses resultados, os pesquisadores desenvolveram e validaram internamente um escore preditivo de sucesso de decanulação. Chamaram o escore de DECAN. Previsão de descanulação bem-sucedida de pacientes traqueostomizados em unidades de terapia intensiva (Park, C., Ko, RE., Jung, J. et al, 2021) eSCORE DECAN Variáveis avaliadas Pontuação Idade > 67 anos IMC < 22 Kg/m2 Presença de neoplasia Causas não pulmonares de VM Presença de doença neurológica durante o desmame da VM Ocorrência de delirium durante o desmame da VM Necessidade de droga vasoativa durante o desmame da VM Ocorrência de pneumonia pós-traqueostomia 1 1 1 1 2 3 2 2 (Park, C., Ko, RE., Jung, J. et al, 2021) Os autores identificaram que um escore DECAN ≤ 5 indica sucesso da decanulação. A probabilidade de um paciente com DECAN > 5 apresentar insucesso na decanulação foi de 84% (Park, C., Ko, RE., Jung, J. et al, 2021) Referência bibliográficas MENDES, F.; RANEA, P.; OLIVEIRA, A. C. T. de. Protocolo de desmamee decanulação de traqueostomia. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 10, n. 20, jul./set. 2013, ISSN (impresso): 1807- 8850, ISSN (eletrônico): 2318-2083 EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES – EBSERH. Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Traqueostomia: Cuidados e Decanulação. 2015. Disponível em: <http://www2.ebserh.gov.br/documents/147715/0/pop20traqueo/39ca3e31-f1eb-4dfd-85a2- 63cc7e8a7b90>. Acesso em: 19 maio 2021. Park, C., Ko, RE., Jung, J. et al. Prediction of successful de-cannulation of tracheostomised patients in medical intensive care units. Respir Res 22, 131 (2021). https://doi.org/10.1186/s12931-021-01732- w MEDEIROS, Gisele Chagas de et al . Critérios para decanulação da traqueostomia: revisão de literatura. CoDAS, São Paulo , v. 31, n. 6, e20180228, 2019 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317- 17822019000600601&lng=en&nrm=iso>. access on 19 May 2021. Epub Dec 02, 2019. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20192018228.
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