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SÍNDROME DE FRAGILIDADE NO IDOSO Perspectivas para o século 21 apontam que a identificação, a avaliação e o tratamento de pessoas idosas frágeis constituirão o centro da atenção em geriatria e gerontologia com ênfase na prevenção da perda de independência e outros desfechos adversos de saúde a que estão mais suscetíveis, que é altamente prevalente nos idosos longevos (> 85 anos), transformando-os no grupo que mais necessita de cuidados e serviços. Prevalência: 6,3% de idosos frágeis, 45,3% intermediários e 48,3% de idosos não frágeis. Varia de 2,5%, entre os idosos entre 65 e 70 anos, a mais de 30% entre os idosos > 90 anos. Definição: Definições iniciais: conceito de natureza exclusivamente funcional, com base nas dependências em variados graus. ● Woodhouse (1988) idoso > 65 anos dependente de outros para as atividades da vida diária ● Gillick (1989) pessoas debilitadas que não podiam sobreviver sem o auxílio de outros. Recente: conceito funcional e fisiopatológico, com base na redução da reserva funcional e a disfunção de diversos sistemas orgânicos, o que reduziria, acentuadamente, a capacidade de reestabelecimento das funções após agressões de várias naturezas, a eficiência de medidas terapêuticas e de reabilitação, a resposta dos sistemas de defesa, a interação com o meio e, em última análise, a capacidade de sobrevida. ● Fried e Walston (2002) – definição mais aceita estado de vulnerabilidade fisiológica relacionada à idade, resultante de reservas homeostáticas comprometidas, e uma capacidade reduzida do organismo resistir aos estressores. ● OMS (2012) estado clínico em que há aumento da vulnerabilidade do indivíduo à maior dependência e/ou mortalidade quando exposto a um estressor. Pode ocorrer como resultado da presença de multimorbidades diversas. 3 pontos de consenso sobre fragilidade física: ● Fragilidade física é uma síndrome clínica com múltiplas causas e fatores associados que se caracteriza pela diminuição da força, resistência e função fisiológica, aumentando a vulnerabilidade de um indivíduo para dependência e/ou morte; ● Fraqueza física pode potencialmente ser prevenida ou tratada com exercícios, suplementação proteico-calórica, vitamina D e redução da polifarmácia; ● Testes de rastreio simples e rápidos têm sido desenvolvidos e validados para permitir que os profissionais de saúde identifiquem objetivamente as pessoas frágeis; Comparação do efeito de um estressor sobre a capacidade funcional de um idoso não frágil e um idoso frágil: O idoso não frágil com boa reserva funcional e capacidade funcional, na ocorrência de um estressor (ex: infecções, exercícios, temperaturas extremas, doenças agudas), existe uma redução da capacidade funcional, mas isso não atinge o limiar que o torna dependente. Após o tratamento do estressor, essa pessoa volta a condição de não frágil. O idoso frágil é independente, mas diante da ocorrência de um estressor, as reservas dela funcionais já são tão baixas que torna-se dependente. Após o tratamento do estressor, possivelmente volta a condição de independência, mas continua frágil ou em risco de em um próximo evento voltar a se tornar dependente ou ter outros desfechos negativos. Fisiopatologia e fatores predisponentes: Fried a síndrome seria embasada no tripé: sarcopenia (perda relevante de massa muscular) + desregulação neuroendócrina (redução da atividade de eixos hormonais anabólicos) + disfunção imunológica (inflamação crônica subclínica). Estas, quando intensas o suficiente, interagiriam de forma deletéria, precipitando a ocorrência de um ciclo auto-sustentado de redução de energia, perda de peso, inatividade, baixa ingestão alimentar e sarcopenia. Diversos fatores, como doenças agudas e crônicas, medicamentos e quedas contribuiriam para que uma pessoa idosa entrasse no ciclo de fragilidade. Tripé Ciclo da fragilidade: ciclo central, com redução da massa e força muscular se associam a redução da atividade física e do gasto energético, que reduziria a ingestão alimentar e indução da desnutrição, que, precipitam piora da massa e força muscular. Isso tudo se converte em um declínio espiral de energia, um processo autossustentado e sem autocorreção. Fatores externos, prejuízos iniciais e limitações precipitam e perpetuam este ciclo vicioso. Outros fatores propostos para a gênese da fragilidade: idade, genética, nível educacional prévio, prejuízo cognitivo, acúmulo de lesões oxidativas do DNA (diversas vias são comprometidas, como as de reparo de lesões no DNA, processamento e degradação de proteínas e as relacionadas à resposta ao estresse). Características clínicas e diagnóstico diferencial: Manifestações da síndrome da fragilidade (Fried): perda de peso não intencional, fraqueza muscular, fadiga, redução da velocidade da marcha e redução do nível de atividade física. Outros: anormalidades da marcha e balanço, ocorrência de quedas, sintomas depressivos, redução da massa óssea, alterações cognitivas e déficits sensitivos, a vulnerabilidade a processos infecciosos ou traumáticos e a má resposta às terapêuticas instituídas. Critérios Diagnósticos: Critérios Clínicos: ● Fenótipo de Fried (critérios mais empregados) 5 critérios: o > 3 critérios: frágeis o 1-2 critérios: pré-frágeis o 0 critérios: não frágeis. No entanto, os critérios de sensação de exaustão (sensação subjetiva) e redução da atividade física (questionário) são altamente imprecisos. Além disso, os critérios podem variar em diferentes populações. ● Critérios de Rockwood ou Índice de Fragilidade de Rockwood: modelo de acúmulo de déficits, com a proporção de variáveis presentes sobre o total (30 variáveis). ● Escala Frail: (marcadores de fragilidade). ○ F – fadiga (queixa de fadiga/exaustão) ○ R – resistência (capacidade de subir um lance de escadas) ○ A – ambulação (capacidade de caminhar uma quadra) ○ I – doenças (mais que 5) ○ L – perda de peso (maior que 5%) Critérios laboratoriais: nenhum destes, isolados ou associados, permite o diagnóstico de fragilidade ou para ele contribui de forma definida. ● marcadores de aumento da atividade inflamatória ● redução da creatinina sérica ● redução da albumina sérica ● anemia ● alterações hormonais Diagnósticos diferenciais: ● Fragilidade: necessariamente multissistêmico, de instalação lenta, e que promove vulnerabilidade da regulação homeostática. ● Incapacidade: pode se instalar de forma aguda e comprometer um único sistema, como uma sequela de AVC que não necessariamente implica em instabilidade homeostática. O portador da incapacidade pode não ser portador de fragilidade. ● Presença de comorbidades: não necessariamente é associada à redução de reservas de múltiplos sistemas e inadequação da manutenção da homeostase frente a estímulos agressivos, diferente da fragilidade. ● Sarcopenia: redução da massa muscular associada ou não à redução da força e/ou função. A sarcopenia pode estar presente sem os outros componentes da fragilidade, sendo, quando coexistente, apenas um dos componentes de um processo muito mais complexo. ● Caquexia: síndrome metabólica complexa e caracterizada pela perda de músculo, com ou sem a perda de massa gorda. Esta possui várias semelhanças, fisiopatológicas e clínicas, com a fragilidade, como a perda de peso, redução da força e fadiga; no entanto, a caquexia é induzida por uma doença crônica (como câncer, IC, DPOC), enquanto a fragilidade independe destas. Consequências: Idosos classificados como frágeis apresentam maior taxa de hospitalização, sofrem mais quedas, apresentaram piora nas atividades de vida diária e maior mortalidade. Ou seja, a presença da fragilidade, por definição, implica em desfechos negativos – o que é elemento essencial para sua classificação como síndrome. Como resultado, a manutenção de sua vida, seu bem-estar e sua autonomia dependem do uso de compensações extrínsecas devido à sua baixa capacidade de compensação fisiológica; Abordagem TerapêuticaAinda não são disponíveis tratamentos específicos para a síndrome como um todo. As intervenções atualmente propostas se baseiam, especificamente em: (1) atividade física, para promover o aumento da massa muscular, mobilidade e capacidade funcional combinação de treinamento de força com flexibilidade, equilíbrio e capacidade aeróbica (2) suplementação alimentar, para reduzir a perda de massa magra e melhoria do estado energético benefício somente se associado a atividade física (3) suplementações hormonais, para quebrar o ciclo da fragilidade por desregulação neuro-endócrina (quando não contraindicada) suplementar testosterona se deficiência deste hormônio. (4) medicações de diversas naturezas, com atuação em componentes da fisiopatologia da síndrome (iECA, hormônio de crescimento, vitamina D, miostáticos, anabolizantes) → efeitos controversos Prevenção: Como o tratamento da síndrome da fragilidade é ainda consideravelmente limitado, a sua prevenção, quando possível, é primordial. Para a otimização na identificação de idosos frágeis, recomenda-se que todas as pessoas > 70 anos e todos os indivíduos com perda de peso não intencional significativa (≥ 5%) devem ser rastreados para a fragilidade; A avaliação funcional (ex, da velocidade e qualidade da marcha), mesmo em idades mais precoces, é o melhor preditor de evolução para fragilidade. Prevenção primária: MEV, suspensão do tabagismo, da ingestão excessiva de álcool e da ingestão de drogas psicoativas e tratamento rigoroso de doenças crônicas e rápido de doenças agudas. Além das recomendações de promoção do envelhecimento saudável, como alimentação balanceada e diversificada, manutenção de atividade física adequada e o uso judicioso de medicamentos. Prevenção secundária: prevenção de quedas, correção de perdas com órteses e reposição de vitaminas e minerais quando apropriado, além do tratamento de condições crônicas.
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