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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO “LEVANTAMENTO DE CAUSAS DE PATOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL” DANIEL FERREIRA OLIVEIRA RIO DE JANEIRO AGOSTO/2013 ii LEVANTAMENTO DE CAUSAS DE PATOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL DANIEL FERREIRA OLIVEIRA Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Ana Catarina Jorge Evangelista RIO DE JANEIRO AGOSTO/2013 iii LEVANTAMENTO DE CAUSAS DE PATOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL DANIEL FERREIRA OLIVEIRA PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL Examinada por: ________________________________________________ Ana Catarina Jorge Evangelista Prof. Associada, D.Sc., EP/UFRJ (Orientadora) ________________________________________________ Jorge dos Santos Prof. Adjunto, D.Sc., EP/UFRJ ________________________________________________ Isabeth Mello Prof. Convidada, M.Sc., EP/UFRJ RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL AGOSTO de 2013 iv Oliveira, Daniel Ferreira O Conceito de Qualidade Aliado às Patologias na Construção Civil / Daniel Ferreira Oliveira – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2013. x, p.96 : il.; 29,7cm. Orientador: Ana Catarina Jorge Evangelista Projeto de Graduação - UFRJ / Escola Politécnica / Curso de Engenharia Civil, 2013. Referências Bibliográficas: p. 72. 1.Introdução 2.Levantamento de dados 3.Patologias 4.Tratamento dos Dados 5.Estudos de Caso 6. Conclusão 7.Bibliografia 8.Anexos I. Catarina Jorge Evangelista, Ana; II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil; III. O Conceito de Qualidade Aliado às Patologias na Construção Civil. v AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a Deus, que me deu tudo o que eu tenho, além de força para concluir este curso. A toda minha família, principalmente meus pais Lucio Muniz Oliveira e Rita Maria Ferreira Oliveira e meu irmão Davi Ferreira Oliveira, a quem tanto amo, que sempre fizeram tudo por mim, me ensinaram a ser a pessoa que sou e me deram forças para chegar até aqui. À minha namorada Patrícia Nunes Carvalho, por toda a sua compreensão, por estar sempre ao meu lado e acima de tudo pelo seu companheirismo e amizade. A todos os meus amigos, que me ensinaram as lições da escola da vida e as lições acadêmicas. Juntos vivenciamos momentos inesquecíveis ao longo deste curso. Não cito nomes, para não cometer injustiça com ninguém, visto que são muitos, mas os mais especiais sabem a sua importância para mim. A todos os professores do curso de Engenharia Civil, que me propiciaram o conhecimento e a postura de um engenheiro formado pela Escola Politécnica. À orientadora deste trabalho, Ana Catarina Jorge Evangelista, pela paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia. Aos Engenheiros Daniel Peva, Gustavo Trindade e Tássia Machado cuja ajuda, paciência e orientação ao longo dessa minha recente vida profissional foram de valor inestimável, tanto no desenvolvimento das minhas aptidões para o exercício da engenharia quanto na produção deste trabalho em si. A todas as pessoas, que de alguma forma, me deram apoio, torceram por mim e me falaram palavras amigas nos momentos em que precisei. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil Levantamento de Causas de Patologias na Construção Civil Daniel Ferreira Oliveira Agosto/2013 Orientador: Ana Catarina Jorge Evangelista Curso: Engenharia Civil Durante um período de acompanhamento da área de assistência técnica de uma grande construtora do município do Rio de Janeiro, foram percebidas certas similaridades nas principais causas das falhas construtivas encontradas na entrega pós-obra. Neste trabalho será descrito o funcionamento da área de assistência técnica dessa determinada empresa (chamada de “Construtora A”), o qual segue praticamente os mesmos métodos de ação das outras grandes concorrentes no mercado, apresentando as suas dinâmicas de atendimento e tratamento das solicitações dos clientes. Com os dados de número de solicitações e custos fornecidos pela Construtora A, conseguiu-se observar claramente através do uso de ferramentas gerenciais explicadas posteriormente, as causas mais freqüentes e mais custosas para a mesma. Expostas essas causas, serão exemplificados os casos mais usuais, apresentando as soluções para o problema, juntamente com o custo necessário. vii Abstract of graduation project submitted to Polytechnic / UFRJ as a part of the requirements for the degree of Civil Engineer. The Quality Concept Allied To Conditions in Construction Daniel Ferreira Oliveira August/2013 Supervisor: Ana Catarina Jorge Evangelista Course: Civil Engineering During a follow-up in technical assistance area of a large construction company in the city of Rio de Janeiro, certain similarities were noticed in the major causes of failures encountered in post-constructive delivery work. At this work it will be shown how the technical assistence area works on specific company (called “constructor A”), which follows pretty much the same methods of other big companys leader on the market, showing up your attendent dynamics and the treatment of clients solicitations. With the data of numbers of requests and costs provided by the construction company “A”, we could see clearly through the use of management tools, explained later, the causes more frequently and more costly for the company. Exposed those causes, the most usual case will be exemplified, giving solutions to the problem, coupled with the required cost. viii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .........................................................................................................01 1.1 Formação do Problema ...........................................................................................01 1.2 Relevância do Tema.................................................................................................02 1.3 Objetivos do Projeto ................................................................................................02 1.4 Justificativa para o Projeto ......................................................................................021.5 Identificação do Problemas .....................................................................................04 1.6 Metodologia Aplicada..............................................................................................04 2. LEVANTAMENTO DOS DADOS E DINÂMICA APLICADA..............................06 2.1 Gestão de Qualidade na Empresa Consultada..........................................................06 2.1.1 Qualidade no Projeto............................................................................................09 2.1.2 Qualidade naAquisição de Materiais....................................................................10 2.1.3 Qualidade na Execução das Obras........................................................................12 2.2 Departamento de Assistência técnica.......................................................................13 2.3 Avaliação Pó-Ocupação ..........................................................................................17 3. PATOLOGIAS............................................................................................................22 3.1 Conceitos..................................................................................................................23 3.2 Origem das Patologias..............................................................................................24 3.2.1 Concepção............................................................................................................26 3.2.2 Execução ..............................................................................................................30 3.2.3 Utilização..............................................................................................................32 3.2.4 Considerações Finais Sobre a Origem das Patologias .........................................33 3.3 Metodologia de Abordagem dos Problemas Patológicos ........................................34 3.3.1 Levantamento de Subsídios..................................................................................35 3.3.1.1 Vistoria do Local .............................................................................................36 3.3.1.2 Levantamento do Histórico do Edifício...........................................................36 3.3.1.3 Exames Complementares ................................................................................37 3.3.1.4 Pesquisa............................................................................................................38 3.3.2 Diagnóstico da Situação ......................................................................................39 3.3.3 Definição de Conduta ..........................................................................................39 3.3.4 Registro de Caso...................................................................................................40 4. TRATAMENTO DOS DADOS OBTIDOS................................................................42 5. ESTUDOS DE CASO.................................................................................................47 5.1 Impermeabilização...................................................................................................47 5.2 Instalações Hidráulicas.............................................................................................55 5.3 Fachadas ..................................................................................................................62 6. CONCLUSÃO.............................................................................................................70 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................72 8. ANEXOS.....................................................................................................................73 ix ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES, TABELAS E GRÁFICOS Figura 1 - Ciclo PDCA ................................................................................................... 13 Figura 2 - Fluxograma de atendimento da Área de Assistência Técnica ....................... 15 Figura 3 - Lei de evolução de custos .............................................................................. 22 Figura 4 - Paredes infiltradas pela falha na impermeabilização do banheiro ................. 49 Figura 5 - Revestimento de taco levantou devido a presença de água no piso............... 49 Figura 6 - Impermeabilização rígida trincada no final da placa de dry-wall .................. 50 Figura 7 - Detalhe da impermeabilização rígida junto a placa de dry-wall .................... 50 Figura 8 - Detalhe da falta de impermeabilização entre a parede e o tento .................... 51 Figura 9 - Nova impermeabilização flexível aplicada com a solução asfáltica .............. 51 Figura 10 - Sinais de infiltração em toda a borda da piscina .......................................... 52 Figura 11 - A virada da manta não se estende até a borda da piscina ............................ 53 Figura 12 - Pescoço do ralo acima da impermeabilização ............................................. 53 Figura 13 - Abertura de toda periferia do telhado para correção do detalhe da manta .. 54 Figura 14 - Detalhe da manta reto na alvenaria .............................................................. 54 Figura 15 - Tubo desconectado pela pressurização do sistema ...................................... 56 Figura 16 - Área colada insuficiente, inferior a 4mm..................................................... 57 Figura 17 - Teto da sala completamente danificado ....................................................... 57 Figura 18 - Rejuntamento do piso de mármore amarelado ............................................ 58 Figura 19 - Tubulação de esgoto do ramal secundário incompleta ................................ 59 Figura 20 - Uso de bolsas para extenção de tubulação, provocando vazamento............ 60 Figura 21 - Má instalação do sifão da pia ....................................................................... 60 Figura 22 - Ralo sifonado trincado ................................................................................. 61 Figura 23 - Teto da unidade inferior infiltrado ............................................................... 61 Figura 24 - Altura do dreno do ar condicionado superior a localização do aparelho ..... 62 Figura 25 - Áreas identificadas com som cavo............................................................... 64 Figura 26 - Áreas identificadas com som cavo............................................................... 64 Figura 27 - Teste de percução......................................................................................... 65 Figura 28 - Fachada manchada por falta de pingadeira no chapim da platimbanda ...... 66 Figura 29 - Esquema de função da pingadeira ............................................................... 66 Figura 30 - Teto de varanda apresentando manchas de mofo e bolor ............................ 67 Figura 31 - Bit metálico selado com mastique a base de poliuretano ............................ 61 Figura 32 - Pedras de mármore branco manchadas ........................................................ 61 Figura 33 - Castelo da fachada com rejuntamento falho ................................................ 61 Tabela 1 - Origem das patologias ................................................................................... 31 Tabela 2 - Custo mensal das causas das solicitações...................................................... 43 Tabela 3 - Numero de solicitações mensais, pelas causas de referência ........................ 45 Tabela 4 - Tabela de prazos deGarantia. ....................................................................... 73 Tabela 5 - Tabela de falhas e subfalhas .......................................................................... 81 Tabela 6 - Falhas detectadas x Provável Causa X Ação Corretiva ................................ 92 Gráfico 1 - Gráfico de custo por causas ......................................................................... 44 Gráfico 2 - Gráfico de número de solicitações por causas ............................................. 46 x LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS CDC Código de defesa do consumidor PROCON Orgão de proteção e defesa do consumidor ISO International Organization for Standardization ABNT Associação Brasileira de normas técnicas PDCA Ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Action) - Planejar, fazer, verificar e agir PES Procedimento de execução de serviços PIS Procedimento de inspeção de serviços FVS Ficha de verificação de serviços OS Ordem de serviço FV Ficha de vistoria PG Solicitação procedente em garantia PE Solicitação procedente a ser executada por uma empresa terceirizada NP Solicitação não procedente APO Avaliação pós-ocupação a/c fator água-cimento BVU Boletim de Vistoria de Unidade SHP Sistema Hidráulico Predial 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Formação do Problema Verificou-se na última década um significativo aumento do número de reclamações nas relações de consumo. A principal razão foi a promulgação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) através da Lei 8078 de 1990, a qual introduziu diversos direitos e garantias aos consumidores, ampliados ainda mais com o novo Código Civil vigente desde janeiro de 2003. Com o advento do CDC, houve também uma proliferação de órgãos de defesa do consumidor, tal como o PROCON. O consumidor tornou-se mais esclarecido e conhecedor de seus direitos. A partir daí as empresas de construção civil começaram a sentir mais necessidade de padronizar os seus processos e a levar os conceitos de qualidade para dentro das obras. Como conseqüência da alteração de comportamento do consumidor, que passou a ser mais exigente com relação à qualidade do produto e dos serviços, as empresas tiveram aumento nos custos pós-venda. Na construção civil as falhas construtivas significam gastos em pós-ocupação, onerando os custos previstos do empreendimento. Para adaptar-se às mudanças da lei e ao novo consumidor, o setor da construção civil teve que readequar seus processos. No intuito de resguardar o lucro de despesas com pós-ocupação, as empresas passaram a redigir manuais do proprietário, investir em programas de qualidade e treinamento de funcionários. Diante da necessidade de apontar e analisar patologicamente e economicamente os maiores vícios construtivos 1 de obra, causadores de desgastes com clientes no atendimento pós-ocupação, tomou-se como parâmetro uma empresa de grande porte da cidade do Rio de Janeiro, atuante no mercado de construção civil. Para preservar a identidade da mesma, ela será chamada apenas de construtora A. 1 Vícios Construtivos – Defeitos originados no próprio processo construtivo, podendo ser um erro de projeto ou uma falha de execução. 2 1.2 Relevância do Tema O gasto anual do departamento de assistência técnica de uma grande construtora é de 2,0 milhões de reais. Observa-se, portanto, que o valor destinado nas obras para esta área é insuficiente para fechar o orçamento, gerando um déficit na empresa. Na busca por uma vantagem competitiva as empresas espremem os custos de todas as suas áreas, porém, o único local onde o custo não é facilmente previsível é a assistência técnica, pois uma vez executado errado, arcar-se-á com o problema durante pelo menos os 5 anos de garantia previsto em lei. 1.3 Objetivo A análise que será desenvolvida tem como objetivo focar a atenção das construtoras para as principais anomalias encontradas no atendimento pós-ocupação, evidenciadas pela freqüência que são solicitadas e pelo custo de solução. Serão estabelecidas relações de causas e soluções, para que sejam encontradas medidas preventivas, a fim de, melhorar os processos construtivos, diminuindo assim, os gastos com ações corretivas na pós-entrega das obras. Ciente das principais causas, também serão investigadas as patologias 2 responsáveis pelos problemas identificados pela análise, propondo soluções técnicas a serem empregadas durante a execução e ou entrega dos serviços. 1.4 Justificativa 2 Patologia – Patologia pode ser entendida como a parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e origens dos defeitos das construções civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema. 3 Analisando os dados das áreas de assistência técnica da construtora A, chegou-se a dois principais focos para a empresa, cliente e custo. Balancear estes dois fatores é destacar- se no mercado. Tendo em vista que a aquisição de um imóvel é, na maioria das vezes, não só um investimento, mas a realização de um sonho, deve-se estudar a melhor forma de manutenção do mesmo, tanto de maneira preventiva como de maneira corretiva. Desta forma atende-se a dois quesitos principais: a satisfação do cliente e a redução de custos para as construtoras. Visando estes focos, esta análise dar-se-á na freqüência das causas das solicitações dos clientes sobre as anomalias, pois a constância do problema gera a insatisfação do cliente. Embora tenhamos determinadas anomalias em grande volume de solicitações, elas representam um custo baixo, por exemplo, um sifão de pia 3 vazando. O contrário também se aplica; solicitações esporádicas podem apresentar custo elevado, por exemplo; infiltração proveniente da impermeabilização de uma área molhada, afetando as áreas adjacentes, como o piso e paredes de quartos e salas. Dentro das solicitações recebidas nas construtoras, algumas se referem a itens de procedência questionável como, por exemplo, quando ocorrem modificações nas unidades. Levado o caso ao jurídico da empresa, o ônus da prova cabe ao construtor, que sem esta, é obrigado a ressarcir o reclamante. A criação de artifícios legais sobre a validação da garantia de alguns serviços da obra, como o desenvolvimento de manuais do proprietário, por exemplo, pode diminuir esse número de casos, que são os mais custosos às construtoras. Além disso, a análise das causas dos problemas pode levar a uma melhoria nos processos construtivos, o que representa melhoria na qualidade do produto final e redução nos custos de manutenção. 1.5 Identificação dos Problemas 3 Sifão de pia – Mecanismo que permite o armazenamento de resíduos sólidos do esgoto da pia, evitando entupimentos. Recomenda-se a limpeza dos sifões regularmente, pois a sujeira acumulada pode reduzir o volume de água esgotada. 4 Quando pensa-se em construção vem à mente somente a fase da obra antes da entrega. Porém, é após esta fase que os problemas começam a aparecer, pois já não há uma equipe em tempo integral no local e nem verba suficiente para arcar com os gastos provenientes da manutenção das unidades. A grande parte dos produtos vendidos, ou serviços prestados, é garantido aos clientes, o seu correto funcionamento dentro de um prazo pré-estabelecido. Nas obras de engenharia civil, especialmente em obras da iniciativa privada, o código civil, obriga as construtoras a prestarserviços de garantia pelo prazo de 5 anos. O problema está em como garantir a responsabilidade e/ou culpa pelo mal funcionamento de um bem tão complexo quanto um imóvel e como dispor de medidas preventivas a fim de minimizar o custo com a manutenção das unidades entregues. 1.6 Metodologia Aplicada Na análise feita neste trabalho, será utilizada a Curva de Pareto. O cientista italiano Vilfredo Pareto descobriu, no século passado, uma relação de causa e efeito em que 80% dos resultados são gerados por apenas 20% do esforço. Pode parecer irreal, mas o tempo e os exercícios contínuos com os números foram mostrando aos gestores que 20% dos vendedores de uma empresa geram 80% das vendas ou que 20% dos clientes são responsáveis por 80% da receita. A importância de Pareto para a engenharia está associada à grande dimensão do esforço necessário para reduzir e administrar continuamente os riscos das anomalias nas obras. Essa importância é real e os problemas são muitos, portanto, o grande e atual desafio dos engenheiros é a estrutura de suporte ao processo decisório que definirá o que deve ser postergado, o que deve ser priorizado e até mesmo, o que deve ser esquecido e não poderá ser atendido pelos investimentos. 5 É uma situação difícil, sem dúvida, mas a busca cega pela excelência baseada em normas e melhores práticas, devem ceder à necessidade prioritária de gerir baseando-se nos interesses do negócio. O ato de investir em análise das patologias deve ser conduzido com a mesma seriedade com que um executivo decide ampliar sua linha de produção ou automatizar sua força de vendas, ou seja, pensando no resultado. Não faz sentido algum investir tempo, dinheiro ou recursos de qualquer natureza, que valham mais do que o próprio bem protegido. Não faz sentido realizar ações em processos longos de análise se elas não puderem orientá-lo a corrigir falhas. Não faz o menor sentido despender esforço para obter certificações de processos, se utilizamos detalhes construtivos antigos e ineficientes. A regra de Pareto deve nortear os engenheiros, pois tempo e dinheiro são finitos, mas os problemas não. Decidir o que é prioritário, o que é mais representativo para a natureza do negócio, avaliar o que é relevante, contextualizar as falhas e identificar as ações que representam os 20% de esforço que proporcionarão 80% do resultado. Planejamento inteligente é a chave que pode tirar das costas o peso do investimento que não consegue ser medido; dos projetos que geram apenas belos e pesados relatórios, que não conduzem a resultados concretos. Mesmo aplicado à assistência técnica, estamos falando de investimento que, como em qualquer outra situação, deve estar orientado aos interesses do negócio e de seus gestores, proporcionando a geração de maior lucro, a redução de perdas e a redução dos riscos. A seguir encontram-se algumas considerações para apoiar o processo de decisão e aprimorar os investimentos: Requisitos do negócio (natureza das atividades, sensibilidade, tolerância, criticidade); Planos de negócio de curto, médio e longo prazo (plano de desenvolvimento e investimento); Relevância dos processos para o negócio Percepção de prioridade Modelo de maturidade (acompanhamento de indicadores e medição dos resultados para retro-alimentar o processo de gestão). 6 2. LEVANTAMENTO DE DADOS E DINÂMICA DE ATENDIMENTO Com objetivo de se montar o banco de dados para o trabalho, foram coletadas na construtora A, informações sobre o atendimento das solicitações à assistência técnica, nos anos de 2009, 2010 e 2011. Antes do ano de 2005, a empresa não realizava o tratamento quantitativo ou qualitativo dos dados gerados pelas solicitações de seus clientes. Todos os dados eram registrados pelo tipo de serviço realizado, não tendo, portanto, aplicabilidade neste trabalho. O atendimento da área de assistência técnica da empresa refere-se basicamente a imóveis de médio e alto padrão, situados na Barra da Tijuca e na Zona Zul, com idades diversificadas, de 0 a 5 anos a contar do celebração do habite-se 4 . 2.1 Gestão da qualidade na empresa consultada A questão da qualidade no setor de construção civil vem recebendo uma atenção crescente, ganhando espaço em publicações e eventos, servindo de iniciativa para empresas e fazendo parte integrante dos procedimentos das construtoras. Assim, o enfoque da gestão da qualidade tem evoluído, passando de uma visão corretiva, que se baseia na inspeção, para uma visão voltada a ações preventivas em todas as etapas do processo. Surge, dessa forma a necessidade de controlar a qualidade para evitar o custo da não - conformidade. O desperdício é uma característica deste custo para a empresa e se manifesta nas formas: 4 Habite-se – A certidão do habite-se é um documento que atesta que o imóvel foi construído seguindo-se as exigências (legislação local) estabelecidas pela prefeitura para a aprovação de projetos 7 Falhas ao longo do processo de produção (o entulho é um exemplo), o retrabalho feito para corrigir serviços não executados como o especificado; tempos ociosos de mão-de-obra e equipamentos; Falhas nos processos gerencias e administrativos, compras feitas com base no menor preço, retrabalho administrativo nas diversas áreas da empresa; Falhas na fase de pós-ocupação das obras, caracterizadas por patologias construtivas. Para minimizar os efeitos do custo da não qualidade, propõe-se os programas de qualidade total com o objetivo de buscar a racionalização dos processos produtivos e empresariais, com conseqüente redução dos custos, satisfação dos clientes externos e aumento da competitividade. A seguir apresentam-se os 10 princípios da qualidade total: 1. Total satisfação dos clientes; 2. Gerência participativa; 3. Desenvolvimento dos recursos humanos; 4. Constância de propósitos; 5. Aperfeiçoamento contínuo; 6. Gerência de processos; 7. Delegação; 8. Disseminação de informações; 9. Garantia da qualidade; e 10. Não aceitação de erros. Com base nestes princípios, pode-se demonstrar que o emprego do Sistema de Qualidade em uma empresa de Construção Civil aumenta a produtividade, gera custos mais baixos e o custo de manutenção dos edifícios são menores, entre outros benefícios. O comprometimento da administração é essencial para o êxito do Sistema de Gestão de Qualidade, que constitui uma estratégia empresarial na busca de competitividade. Assim, a administração da empresa deve elaborar um documento importante, a “Política de Qualidade”, que deve explicitar o compromisso da administração com a qualidade, servindo como guia filosófico para ações gerenciais, técnicas operacionais e 8 administrativas. Este documento também possibilitará a divulgação entre clientes externos do comprometimento da empresa com a qualidade. Para a implantação do Sistema de Qualidade da empresa, um método muito eficiente na coordenação de processo, é a constituição de um Comitê da Qualidade, que é ligado diretamente à diretoria da empresa, que pode ser constituído por: representantes da diretoria, representantes das gerências técnicas e administrativas, representantes das obras, consultoria externa, entre outros. O Comitê da Qualidade tem as funções: Analisar o diagnóstico da empresa em relação à qualidade e definir as prioridades de ação; Definir o Sistema da Qualidade a ser implantado na empresa com base na série de normas ISO 9000; Definir métodos de treinamento e sensibilização de funcionários e da gerênciaexecutiva para qualidade; Criar grupos de padronização de procedimentos gerenciais, técnicos e operacionais e grupos de melhorias do processo; Criar outros mecanismos de divulgação do Sistema da Qualidade que julgar necessários; Coordenar o processo de implantação do Sistema da Qualidade; e Acompanhar a implantação, criar grupos de auditoria interna do sistema e avaliar os resultados obtidos. Para se obter a qualidade na construção civil um método utilizado é o Controle da Qualidade que enfoca todas as atividades do processo (desde a concepção e desenho do produto, até sua comercialização e serviços de assistência técnica) e utiliza técnicas estatísticas relativamente sofisticadas. Assim, o Controle de Qualidade deve atuar nas etapas: planejamento, projeto, materiais e componentes, execução de obras e controle da qualidade do uso, operações e manutenção de obras na fase de pós-ocupação. O Controle da Qualidade pode ser de dois tipos: controle de produção ou controle de processos e controle de recebimento ou controle de produtos. O controle de produção é voltado a fatores do processo que afetam a qualidade final do produto e é exercido pelo produtor; o controle de recebimento comprova a conformidade do produto entregue 9 com uma norma técnica ou especificação, sendo exercido por quem adquire e/ou recebe esse produto. Porém, um erro grave é achar que a padronização, a normalização e o controle de qualidade de produtos e processos são suficientes para obter a qualidade. Pesquisas realizadas mostram que em obras que apresentam falhas e patologias construtivas identificam-se erros não só técnicos mas também de caráter humano, de organização e gestão das empresas. Assim, a política dos recursos humanos de uma empresa também afeta a qualidade 2.1.1 Qualidade no projeto O projeto é um aspecto de extrema importância no processo produtivo. É nessa etapa que são estabelecidos todos os subsídios necessários para o desenvolvimento do empreendimento. As falhas no projeto são apontadas como as principais causas dos problemas patológicos ou defeitos na Construção Civil. Portanto, na etapa do projeto são adotadas soluções que têm grande repercussões no processo da construção e na qualidade do produto final que será entregue ao cliente. Assim, é no projeto que acontece a concepção e o desenvolvimento do produto, que são baseados nas necessidades do cliente em termos de desempenho e custo e das condições de exposição que o edifício será submetido. O projeto desempenha um forte impacto no processo de execução da obra, pois define partidos, detalhes construtivos e especificações que permitem uma maior ou menor facilidade de construir e afetam os custos de produção. Dessa forma, a qualidade da solução do projeto determinará a qualidade do produto e condicionará o nível de satisfação dos usuários finais. Para se obter o controle de qualidade do projeto é necessário que existam determinados parâmetros de referência para implementar o controle. Tais parâmetros podem ser representados por indicadores de consumo, limites dimensionais, número de elementos 10 e componentes construtivos, tipos de elementos, componentes e materiais, normas e critérios de dimensionamentos, métodos de execução, detalhes construtivos, ou outros que sejam considerados oportunos em função da especificidade do empreendimento. Também devem ser estabelecidos os parâmetros de apresentação dos projetos de forma detalhada, especificando-se todos os documentos que devem ter cada parte dos mesmos e suas respectivas condições de apresentação. Além desses parâmetros deve-se respeitar e utilizar na elaboração de projetos as normas técnicas existentes. A coordenação do projeto é uma função gerencial na atividade de elaboração do mesmo, com o objetivo de assegurar a qualidade do projeto como um todo durante o processo. Garante que as soluções adotadas sejam abrangentes, integradas e detalhadas e que, terminando o projeto, a execução ocorra de forma contínua, sem interrupções e improvisos. A coordenação pode ser exercida por: equipe interna da construtora, tendo um responsável principal, porém com envolvimento de profissionais com atuação no gerenciamento de obras; projetista de arquitetura e sua equipe com a inclusão desta função nos critérios de contratação; ou profissional ou equipe especificamente contratada para este fim, como também das áreas de instalação. 2.1.2 Qualidade na aquisição de materiais A qualidade, como um todo, não pode prescindir da qualidade na aquisição dos materiais no canteiro-de-obra. Devido ao uso de materiais das mais diversas origens, torna-se fundamental exigir que esses tenham a qualidade garantida. Assim, a qualidade na aquisição deve ser composta pelos elementos: Especificações técnicas para compra de produtos; Controle de recebimento dos materiais em obra; Orientações para o armazenamento e transporte dos materiais; Seleção e avaliação de fornecedores de materiais e equipamentos. O material que é entregue na obra passa pelo controle de recebimento, do qual resultam os registros de qualidade. Esta sistemática pode parecer onerosa, pois há a necessidade 11 de inspeção para realizar o controle de qualidade do recebimento, porém é importante racionalizar o controle, prevendo apenas a verificação de características essenciais e de simples avaliação. O resultado da adoção de procedimentos com a finalidade de garantir a qualidade na aquisição levará à redução de custos devido a má qualidade dos materiais e, ao mesmo tempo, à satisfação dos clientes pelo atendimento às suas especificações. A baixa qualidade dos materiais é apontada como uma das causas de problemas e desperdícios na Construção Civil. Essa baixa qualidade está relacionada à prática da não-conformidade às normas técnicas, por parte de alguns produtores de materiais; à pequena participação do revendedor na exigência de qualidade; e à pequena conscientização do consumidor quanto à importância de exigir a qualidade. Para se garantir a qualidade em uma empresa é necessário a normalização de produtos, projetos, processos e sistemas, pois sem as normas e padrões não há controle, garantia e nem certificação de qualidade. A normalização tem o papel de especificar os produtos de acordo com as necessidades do consumidor e estabilizar os processos fazendo com que os insumos sejam processados da mesma maneira, de modo a racionalizar o uso de materiais, mão-de-obra e equipamentos, reduzindo os custos de produção. A normalização técnica do Brasil é conduzida pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) desde 1940; a normalização na construção é um instrumento de consolidação da tecnologia nacional e de transferência de tecnologia entre regiões do país. É com as normas técnicas que são definidos os níveis de qualidade dos materiais e componentes, os métodos de ensaio para avaliá-los, os procedimentos para planejamento, elaboração de projetos e execução de serviços e os procedimentos para operação e manutenção das obras. Também permitem a padronização de componentes e a coordenação dimensional entre projeto e os subsistemas que constituem o produto final. É de extrema importância realizar na obra o controle de qualidade no recebimento. Para isso é preciso elaborar especificações que descriminem as características e os limites de tolerância dos materiais, verificando se o material entregue na obra está de acordo com o especificado na compra. O controle de recebimento pode ser delegado a um laboratório especializado para este fim; este procedimento dependerá do tipo de material a ser empregado. Naobra, os materiais podem ser controlados da forma como segue: 12 Inspeção 100%: Este tipo de inspeção consiste em se verificar todas as unidades de produto que compõem o lote entregue. Pode ser utilizado no caso de materiais especiais e de responsabilidade ou quando a quantidade de material for pequena, pois é um método oneroso e fadigante para que faz a inspeção. Inspeção ao acaso: De um lote se toma uma amostra ao acaso, sem fundamentação em cálculos de probabilidade. Com esta amostra são feitos ensaios de qualidade e com os resultados se decide aceitar ou não o lote inteiro. Este método pode ser utilizado para materiais de pequena responsabilidade, pois como não tem base em fundamentações estatísticas, podem ocorrer erros. Inspeção por amostragem estatística: As amostras são tomadas de um lote com fundamentação estatística. Verifica-se a qualidade desta amostra e, em função do número de unidades defeituosas é que se decidirá em rejeitar ou aceitar a amostra. 2.1.3 Qualidade na execução de obras A qualidade na execução de uma obra é resultado de um conjunto de operações como: planejamento, gerenciamento, organização do canteiro-de-obras, condições de higiene e segurança no trabalho, correta operacionalização dos processos administrativos em seu interior, controle de recebimento e armazenamento de materiais e equipamentos e da qualidade na execução de cada serviço específico do processo de produção. Pode ser empregado o ciclo PDCA para a implantação da gestão de qualidade na execução. O ciclo permite a padronização de processos e o aperfeiçoamento contínuo dos mesmos. A figura 1 exemplifica o ciclo PDCA. 13 Figura 1 - Ciclo PDCA Para que a qualidade de execução se torne mais estável para a empresa é necessário registrar os procedimentos de execução e inspeção de cada serviço. É de responsabilidade do engenheiro da obra, juntamente com o mestre e encarregados, garantir que os padrões sejam seguidos pelo pessoal de produção, utilizando um gerenciamento da mão-de-obra e da produção, motivando e orientando os funcionários na execução de cada serviço. Os modos de checagem ou inspeção devem ser documentados para que os engenheiros, mestres ou encarregados utilizem os mesmos critérios de avaliação da qualidade dos serviços. Para haver a aplicação na obra, é necessário documentar em formulários os procedimentos referentes às técnicas de execução e inspeção de serviços. Também devem ser anotados em formulários específicos os registros da qualidade dos serviços, que testificará que o controle da qualidade foi realizado realmente. As empresas devem padronizar seus procedimentos conforme suas necessidades. Para isso podem ser usados os formulários: Procedimento de Execução de Serviços (PES), Procedimentos de Inspeção de Serviços (PIS), Ficha de Verificação de Serviços (FVS) e check list de unidade e Boletim de Vistoria de Unidade (BVU). 2.2 Departamento de Assistência Técnica 14 A área de assistência técnica é responsável pelo atendimento aos clientes na pós-entrega dos empreendimentos, até o prazo final da garantia, 5 anos. Após o habite-se, a obra permanece durante três meses em um período de revisão ou de acordo com a determinação da Diretoria de Operações, no qual o responsável pela obra deverá atender aos proprietários com presteza, sanando os problemas de vistorias das unidades autônomas, e corrigindo as falhas construtivas que forem identificadas. Para as solicitações feitas pelos clientes após a vistoria de entrega que forem analisadas como procedentes, deverão ser abertas ordens de serviço no sistema operacional da empresa. Cabe ao responsável da obra decidir sobre as falhas construtivas juntamente com a Gerência Geral de Obras, de forma que as soluções adotadas sejam definitivas. Após 2 meses da assembléia ou 1 mês antes da entrega para a Área de Assistência Técnica, o responsável pela obra deverá dar início ao processo de passagem da respectiva obra à Área de Assistência Técnica, que irá atender aos proprietários dentro das garantias oferecidas no manual do proprietário e/ou manual do síndico. Este processo de passagem da obra para a Área de Assistência Técnica deverá ser feito de acordo com as seguintes etapas: documentação da obra, unidades autônomas, áreas comuns, desmobilização, e entrega definitiva. A Área de Assistência Técnica poderá receber cada etapa independentemente das demais, sendo a documentação completa (acrescida das justificativas por ausência de documentação particular) e a efetivação da entrega das áreas comuns para o síndico pré-requisitos para recebimento de qualquer etapa, bem como início de atendimento via Área de Assistência Técnica, de forma que se tenha uma passagem gradativa da obra. Esta documentação: Visa transferir a Área de Assistência Técnica toda informação necessária para que possamos dar continuidade ao atendimento dos proprietários dentro do mesmo critério adotado pela obra. Quando vigorada a responsabilidade das unidades pela Assistência Técnica, o atendimento é realizado seguindo a rotina detalhada a seguir. 15 Figura 2 - Fluxograma de atendimento da Área de Assistência Técnica (Construtora A) Os clientes ou seus representantes entram em contato com a Central de Atendimento, informando sua solicitação e registrando o contato em uma ocorrência no sistema operacional. Neste momento, agenda-se a vistoria da unidade em conformidade com os dias e horários disponibilizados pelo Técnico responsável pelo empreendimento em questão, gerando uma FV (ficha de vistoria) e registrando o número na ocorrência, salvo os casos de orientação técnica ou retorno do andamento do atendimento. A ocorrência gerada pela Central de Atendimento é encaminhada ao analista da Área que visualiza a mesma através da lista de trabalho no sistema operacional. As informações também poderão ser enviadas por e-mail ou fax para a Assistência Técnica, pela Central de Atendimento ou diretamente pelo cliente, podendo o analista também gerar a FV. Se a ocorrência for relativa a orientação técnica ou retorno do andamento do atendimento, o analista ou a Central de Atendimento, entram em contato com o Técnico 16 ou Eng.º / Responsável, informando a solicitação do cliente. Após contato com o cliente, para esclarecimentos, o Técnico ou Eng.º Responsável, informam ao analista ou a Central de Atendimento, o resumo do mesmo que será registrado na ocorrência. Outrossim, será encerrada a ocorrência. Depois de gerada a FV (ficha de vistoria), a mesma é visualizada pela analista da área onde esta FV é impressa e disponibilizada para o técnico. O responsável pela vistoria deverá verificar no sistema e arquivo da Área de Assistência Técnica a documentação referente ao empreendimento / unidade em análise. Baseados nos documentos de referência, os técnicos executam a vistoria do empreendimento ou da unidade solicitante registrando os itens relevantes com a máquina digital, verificando se o atendimento à solicitação é ou não responsabilidade da construtora (solicitação procedente ou não), analisando os prazos e condições de garantia estabelecidos nos manuais do proprietário e do síndico. Após a vistoria, o técnico complementa a ficha de vistoria com as condições e verificações do diagnóstico técnico averiguado conforme os itens vistoriados. Caso seja necessário um tempo maior de investigação o item deverá ser classificado como IN. Ao término da investigação os itens da FV deverão ser classificados em: NP - Não Procede; (casos onde é detectado que a não-conformidade não é de responsabilidade da construtora)PE - Procede com Execução Empreitada; (casos onde a causa da não- conformidade pode ter mais de uma origem; não sendo possível atribuir a um fornecedor em específico) PG - Procede com Execução na garantia do Empreiteiro. (casos onde é possível atribuir a causa da não-conformidade a empresa executora dos serviços) Os itens vistoriados são classificados também quanto a causa e sub-causa, conforme a tabela 05 – Tabela de falhas e sub-falhas, sendo a numeração fornecida pelo sistema operacional da empresa. Depois de preenchida a FV pelo técnico, a mesma é apresentada ao Eng.º Responsável para análise dos problemas e confirmação das classificações. 17 No caso de não procedentes o proprietário, síndico ou gerente será informado do parecer da construtora e orientado sobre o que deverá ser feito. Caso necessário serão indicadas empresas cadastradas na construtora para solução dos problemas, com isso, o Eng.º Responsável assinará a FV, dando por encerrado esta etapa, assim a FV é encerrada no sistema pelo analista da área. Identificada a causa do problema é contratada uma empresa terceirizada para a realização dos serviços. Com os dados inseridos no sistema, na FV, é gerada e impressa a Ordem de Serviço (OS), com a qual o empreiteiro contratado irá até a unidade do cliente realizar os reparos necessário e coletar a assinatura do responsável pelo imóvel, garantido a quitação dos serviços solicitados. O empreiteiro retorna com a OS assinada ao representante da Construtora, Técnico ou Engº, que insere no sistema operacional os dados e observações pertinentes ocorridos durante o serviço, fechando a OS no sistema, concluindo o atendimento. 2.3 Avaliação Pós-Ocupação A Avaliação Pós-Ocupação (APO) surgiu como parte de estudos, que visavam estabelecer um instrumento capaz de fornecer uma medição objetiva sobre as relações entre o comportamento humano e o ambiente em que os indivíduos estavam inseridos. Estes estudos, de caráter interdisciplinar, envolvendo psicólogos, antropólogos, arquitetos e outros profissionais, tiveram início em 1947, na University of Kansas, nos Estados Unidos, com os psicólogos Roger Barker e Herbert Wright. Além deles, são considerados os pioneiros desta área de investigação o antropólogo Edward Hall e os arquitetos Kevin Lynch e Chritopher Alexander. As primeiras aplicações da APO estavam essencialmente voltadas para a avaliação da influencia do ambiente do comportamento humano. Ainda no final da década de 50, nos Estados Unidos, a APO começou a ser utilizada como instrumento de projeto, utilizando-se dados resultantes de avaliações com os usuários para estabelecer parâmetros para novos projetos. 18 Nestas aplicações, a APO foi associada ao conceito de desempenho, observando-se o comportamento dos usuários em relação ao edifício, suas unidades e ambiente e o comportamento do edifício e suas partes quanto aos requisitos de desempenho estabelecidos desde o inicio da década de 60 em paises como a Inglaterra, França e Estados Unidos. No Brasil, a aplicação de metodologia de APO teve início na década de 70, com a avaliação do nível de satisfação de usuários de conjuntos habitacionais de São Paulo numa abordagem multidisciplinar. A partir de então, a APO, foi se desenvolvendo como tema de pesquisa em varias instituições brasileiras, como em diversas faculdades. Vários projetos de pesquisa envolvendo estudo de caso em empreendimentos específicos foram desenvolvidos por equipes destas instituições. Aperfeiçoando-se os métodos de levantamento, análise e tratamentos de dados, os aspectos abordados e a adequação da metodologia às finalidades especificas. No entanto, a preocupação em conhecer a satisfação do cliente final com os produtos gerados, quando colocados em uso, e o desempenho técnico e econômico destes produtos não esteve presente durante muito tempo na construção imobiliária. Com o advento do código de defesa do consumidor e o estabelecimento de um relacionamento entre empresa incorporadora/construtora e seus clientes na fase de uso, por meio da efetiva assistência técnica pós-venda, os aspectos relacionados ao desempenho das unidades ocupadas e do edifício como um todo passaram a ser de extrema importância para as empresas. Num primeiro momento a preocupação com estes aspectos foi defensiva, isto é, visando detectar problemas que geravam custos de correção elevados para as empresas. Embora a APO não tenha se estabelecido como metodologia correntemente aplicada pelas empresas, passou-se a estruturação de formas de obter dados sobre o desempenho das unidades após a entrega da obra ainda que não de forma sistematizada. As empresas construtoras têm a preocupação com os custos de manutenção corretiva e os clientes finais passaram a expressar de forma concreta e clara sua satisfação/insatisfação com os produtos e também com os serviços, revelando a importância desse julgamento para a imagem da empresa perante outros potencias clientes. Os aspectos que começaram a aparecer para as empresas 19 incorporadoras/construtoras foram remetendo-as também aos seus fornecedores de produtos e serviços, despertando-se a consciência de que a avaliação do usuário permite aperfeiçoar e introduzir melhorias em todo processo de produção. Por outro lado, o movimento recente de introdução de inovações tecnológicas na produção de edificações tem remetido projetistas e empresas incorporadoras/construtoras a busca de retorno sobre a aceitação destas inovações por parte dos usuários como um meio de avaliar um potencial de expansão do seu emprego. Não se pode dizer que a APO seja no momento atual empregada corretamente na produção imobiliária. Iniciativas de algumas empresas, no entanto, podem ser registradas no sentido de aplicação de algum tipo de avaliação após a entrega da obra. Observa-se, porém, que ainda não se atingiu um estagio em que a metodologia seja consolidada pelas empresas, responsáveis diretas pelo comportamento dos produtos perante o usuário final, incluindo seu sentido maior que é a retroalimentação de todos os processos de produção. A APO pode ser aplicada também para avaliação de relação de satisfação dos usuários de ambientes públicos ou coletivos como parque de lazer, shoppings centers, e outros, bem como as instalações industriais. Mesmo neste campo sua aplicação ainda é restrita, mas experiências já desenvolvidas têm demonstrado um potencial de ganho de qualidade e custos a partir de seus resultados. Para que a APO seja efetivamente um mecanismo de auxilio a introdução de melhorias no processo produtivo é preciso que seja desenvolvida como uma metodologia, que estabeleça mecanismos de retorno da avaliação do cliente final para os diversos agentes intervenientes no processos de produção. Uma vez que o processo de projeto é o definidor principal das características do produto, torna-se significativo o potencial de utilização da APO para melhoria dos processos do desenvolvimento de projeto. Do ponto de vista da gestão da qualidade, a APO é um processo que realimenta os vários processos do ciclo de produção e uso dos empreendimentos imobiliários. Para que ela possa desempenhar este papel, utiliza-se metodologia adequada segundo o processo a que deve realimentar. Um dos principais empecilhos ao efetivo aproveitamento dos dados gerados pela aplicação de metodologia de APO é a postura 20 errônea de que se trata de um levantamento estático no tempo, em vez de um processo continuo que deve auxiliar na avaliação do desempenho de outros processos. Assim, o desenvolvimento da APO para retroalimentar os processos relacionados à identificaçãoda demanda, à estratégia competitiva, ao desenvolvimento do projeto e à construção, a entrega ao cliente à assistência técnica pós-venda deve ser planejado para levantar, tratar e aplicar a esses processos os dados e informações provenientes do cliente final segundo as característica especifica de cada um. Embora sejam conhecidos vários estudos de aplicação de APO em empreendimentos de naturezas diferentes, sua inserção no sistema da qualidade relacionado ao desenvolvimento de projeto exige uma estrutura de processo. Para tanto, a empresa incorporadora/construtora deve entender a avaliação pós-ocupação como um processo que é parte indissociável do processo global de produção. Desta forma, deve-se estruturar sua própria metodologia de APO contemplando todos os processos do ciclo de produção e uso do empreendimento. A APO assim estruturada deve permitir e deflagrar efetivamente ações corretivas ou preventivas, constituindo-se em instrumento de operacionalização do ciclo PDCA no desenvolvimento de projeto. Do ponto de vista do processo de projeto, a APO deve ser preferencialmente um processo desenvolvido de forma compartilhada entre projetistas e empresa incorporadora/construtora. Para a empresa contratante de projeto a APO é também um instrumento de avaliação da qualidade de projeto e produtos e serviços adquiridos, o que gera medidas preventivas e corretivas que asseguram a completa aplicação do ciclo PDCA. Uma outra forma de inserção da APO no sistema de gestão da qualidade é seu papel na validação de projeto. A avaliação de projeto pode ser feita em estágios intermediários, por meio de simulações em sistemas informatizados ou protótipos, modelos de varias naturezas, mas também por meio da APO. A metodologia de APO que vise dar suporte a validação de projeto deve estar estruturada para constatar o atendimento dos requisitos iniciais da concepção de projeto. Como instrumento de avaliação da qualidade de projeto, a APO se refere a uma parte da avaliação, uma vez que o cliente final é um dos agentes que utilizam o projeto, mas não é o único. 21 Avaliação pós-ocupação está centrada em dois conceitos básicos: satisfação do cliente/usuário e desempenho dos produtos e serviços. A APO consiste de uma metodologia construída por uma agente interessado em conhecer a satisfação dos clientes em relação a determinados produtos e serviços a partir da combinação de métodos de coleta, tratamento e análise de dados sobre esta satisfação. A satisfação do cliente com relação aos produtos e serviços que adquiriu tem sido objeto de muitos estudos sobre o comportamento do consumidor. Podemos descrever as principais abordagens sobre o conceito de satisfação do cliente, mas é importante ressaltar a dificuldade de associar aos produtos da construção civil os mesmos conceitos associados aos bens de consumo em geral, especialmente porque a experiência de compra ocorre apenas uma vez na vida dos consumidores em boa parte dos casos. A satisfação do cliente tem ainda importantes aspectos psicológicos intervenientes, como, por exemplo, os aspectos afetivos e ambientais. No caso das edificações, os aspectos afetivos podem ter grande influencia na avaliação da satisfação do ponto de vista positivo ou negativo. Os aspectos ambientais podem ser totalmente determinantes na satisfação com o produto, como, por exemplo, nos casos em que a localização dos imóveis é altamente determinante do conforto. 22 3. PATOLOGIAS Os problemas patológicos, salvo raras exceções, apresentam manifestação externa característica, a partir da qual se pode deduzir qual a natureza, a origem e os mecanismos dos fenômenos envolvidos, assim como pode-se estimar suas prováveis conseqüências. Os problemas patológicos só se manifestam após o início da execução propriamente dita, a última etapa da fase de produção. Em relação a recuperação dos problemas patológicos, podemos afirmar que "as correções serão mais duráveis, mais efetiva, mais fáceis de executar e muito mais baratas quanto mais cedo forem executadas". A demonstração mais expressiva dessa afirmação é a chamada "lei de Sitter", formulada por Sitter Apud Helene, colaborador do CEB – Comitê Euro-international du Béton que mostra os custos crescendo segundo uma progressão geométrica. Dividindo as etapas construtivas e de uso em quatro períodos correspondentes ao projeto, à execução propriamente dita, à manutenção preventiva efetuada antes dos primeiros três anos e à manutenção corretiva efetuada após surgimento dos problemas, a cada uma corresponderá um custo que segue uma progressão geométrica de razão cinco, conforme indicado na figura 3 . Figura 3 - Lei de evolução de custos 23 Toda medida extra-projeto, tomada durante a execução, incluindo nesse período a obra recém-construída, implica num custo 5 (cinco) vezes superior ao custo que teria sido acarretado se esta medida tivesse sido tomada a nível de projeto, para obter-se o mesmo "grau" de proteção e durabilidade da estrutura. Um exemplo típico é a decisão em obra de reduzir a relação a/c 5 (água / cimento) do concreto para aumentar a sua durabilidade e proteção à armadura. A mesma medida tomada durante o projeto permitiria o redimensionamento automático da estrutura considerando um concreto de resistência à compressão mais elevada, de menor módulo de deformação, de menor deformação lenta e de maiores resistências à baixa idade. Essas novas características do concreto acarretariam a redução das dimensões dos componentes estruturais, economia de fôrmas, redução de taxa de armadura, redução de volumes e peso próprio, etc. Essa medida tomada na fase de obra, apesar de eficaz e oportuna do ponto de vista da durabilidade, não mais pode propiciar alteração para melhoria dos componentes estruturais que já foram definidos anteriormente no projeto. A patologia na execução pode ser conseqüência da patologia de projeto, havendo uma estreita relação entre elas; isso não quer dizer que a patologia de projeto sendo nula, a de execução também o será. Nem sempre com projetos de qualidade desaparecerão os erros de execução. Estes sempre existirão, embora seja verdade que podem ser reduzidos ao mínimo caso a execução seja realizada seguindo um bom projeto e com uma fiscalização intens. 3.1 Conceitos Como se nota, o processo de execução é muito importante quando se trata de patologias. Antes de se iniciar o tratamento das principais patologias encontradas nos empreendimentos das construtoras de referencia, irão ser apresentados os conceitos que serão mencionados neste trabalho. 5 a/c – Fator água cimento: 24 Patologia - A patologia pode ser entendida como a parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e origens dos defeitos das construções civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema. Vida Útil – As estruturas de concreto armado devem ser projetadas, construídas e operadas de tal forma que, sob as condições ambientais esperadas, elas mantenham sua segurança, funcionalidade e a aparência aceitável durante um período de tempo, implícito ou explícito, sem requerer altos custos imprevistos para manutenção e reparo. Vida útil é aquela durante a qual a estrutura conserva todas as características mínimas de funcionalidade, resistência e aspectos externos exigíveis. Desempenho - Por desempenho entende-se o comportamento em serviço de cada produto, ao longo da vida útil, e a sua medida relativa espelhará, sempre, o resultado do trabalho desenvolvido nas etapasde projeto, construção e manutenção. Durabilidade - A durabilidade de uma estrutura de concreto armado é a capacidade de a estrutura manter as suas características estruturais e funcionais originais pelo tempo de vida útil esperado, nas condições de exposição para as quais foi projetada. É essencial que as estruturas de concreto desempenhem as funções que lhe foram atribuídas, que mantenham a resistência e a utilidade que delas se espera, durante um período de vida previsto ou, pelo menos, razoável. 3.2 Origem das Patologias Salvo os casos correspondentes à ocorrência de catástrofes naturais, em que a violência das solicitações, aliada ao caráter marcadamente imprevisível das mesmas, será o fator preponderante, os problemas patológicos têm suas origens motivadas por falhas que ocorrem durante a realização de uma ou mais das atividades inerentes ao processo genérico a que se denomina de construção civil, processo este que pode ser dividido, em três etapas básicas: concepção (planejamento / projeto / materiais), execução e utilização. 25 A qualidade obtida em cada etapa tem sua devida importância no resultado final do produto, assim como na satisfação do usuário e principalmente no controle da incidência de manifestações patológicas na edificação na fase de uso. Para se obter a diminuição ou a eliminação dos problemas patológicos deve haver maior controle de qualidade nestas etapas do processo. A abordagem de manutenção deve, também ser feita de forma a contextualizá-la no processo de construção, procurando durante todas as etapas do processo situá-la como um dos fatores relevantes a ser considerado. Devem ser tomadas algumas medidas para assegurar, nas várias etapas do processo construtivo, o delineamento e a projeção de manutenção futura. No tocante da qualidade, exigi-se, para a etapa de concepção, a garantia de plena satisfação do cliente, de facilidade de execução e de possibilidade de adequada manutenção; para etapa de execução, será de garantir o fiel atendimento ao projeto, e para a etapa de utilização, é necessário conferir a garantia de satisfação do usuário e a possibilidade de extensão da vida útil da obra. De um modo geral, as patologias não tem sua origem concentrada em fatores isolados, mas sofrem influência de um conjunto de variáveis, que podem ser classificadas de acordo com o processo patológico, com os sintomas, com a causa que gerou o problema ou ainda a etapa do processo produtivo em que ocorrem, além de apontar para falhas também no sistema de controle de qualidade próprio a uma ou mais atividades. As manifestações patologias são também responsáveis por uma parcela importante da manutenção, de modo que grande parte das intervenções de manutenção nas edificações poderia ser evitada se houvesse um melhor detalhamento do projeto e escolha apropriada dos materiais e componentes da construção. O objetivo deste trabalho é apresentar os principais cuidados e estratégia dentro do processo construtivo visando à diminuição de futuras atividades de manutenção e o controle do aparecimento de problemas patológicos na edificação. As decisões tomadas durante as etapas do processo produtivo na construção, bem como o controle de qualidade efetuado durante essas etapas, estão intimamente ligadas a manutenção e aos futuros problemas patológicos que poderão ocorrer na edificação. 26 Devido aos altos índices de manifestações patológicas, que vêm ocorrendo nas edificações, busca-se cada vez mais, a garantia e o controle da qualidade em todo o processo construtivo. Desta forma, a qualidade final do produto depende da qualidade do processo, da interação entre as fases do processo produtivo e da intensa retroalimentação de informações, que proporcionam a melhoria contínua. 3.2.1 Concepção (planejamento / projeto / materiais) Várias são as falhas possíveis de ocorrer durante a etapa de concepção do empreendimento. Elas podem se originar durante o estudo preliminar (lançamento da estrutura), na execução do anteprojeto, ou durante a elaboração do projeto de execução, também chamado de projeto final de engenharia. Alguns fatores como a deficiência no planejamento, ausência de informações e dados técnicos e econômicos de novas alternativas construtivas, ausência de ferramentas de base de dados para controle e indefinição de critérios de controle (Indicadores de qualidade e produtividade) influenciam negativamente a qualidade do produto, além de aumentarem os índices de perdas de baixa utilização de novas alternativas construtivas. Para o desenvolvimento das alternativas construtivas, é necessário o estabelecimento de certos parâmetros. Entre eles pode-se citar a definição do uso, a tipologia da edificação e dos materiais a serem empregados; a identificação das faixas sócio-econômicas da população a ser atendida; levantamento dos recursos locais disponíveis (matéria-prima, mão-de-obra, entre outros) e levantamento do estágio de desenvolvimento da construção. O planejamento define, também, as diretrizes de manutenção estratégica, sendo o custo da manutenção preventiva um fator importante a ser considerado. Alvo de grande preocupação nos países desenvolvidos, o projeto é responsável por grande parte dos problemas patológicos na construção civil. No Brasil, a realidade dos projetos, de uma forma geral, é diferente, não sendo dada à mesma importância que em 27 outros países. Em termos de custos, esta fase contabiliza em torno 3 a 10% do custo total do empreendimento. Devido à sua importância, um grande avanço na obtenção da melhoria de qualidade da construção pode ser alcançado partindo-se de uma melhor qualidade dos projetistas. É na fase de projeto que são tomadas as decisões de maior repercussão nos custos, velocidade e qualidade dos empreendimentos. Na especificação dos materiais e componentes, o projetista deve conhecer suas durabilidades, seja para avaliar se atenderão ao desempenho mínimo desejado, seja para comprar custos globais, que incluem custos de manutenção e operação, bem como a proteção da vida útil. Durante a fase de projeto, alguns fatores interferem na qualidade do produto final podendo-se citar a compatibilização de projetos. Portanto, é fundamental que os serviços de compatibilização de projetos e de seus detalhes construtivos não sejam deixados para serem resolvidos durante a construção, o que acaba exigindo a adoção de soluções paliativas ou meramente reativas. Além da compatibilização de projetos, os próprios detalhes executivos adquirirem importância, pois, através destes, a leitura e interpretação do projeto podem ser realizadas com clareza, sendo fundamental que cada projeto seja acompanhado de detalhes suficientes. A especificação de materiais, o conhecimento de normalização, a solução de interfaces projeto – obra, o projeto para a produção e a coordenação entre vários projetos também são considerados fatores importantes dentro deste contexto. Sem a devida atenção a esses fatores, vários problemas podem vir a ser gerados, com, por exemplo, a baixa qualidade dos materiais específicos, a especificação de materiais incompatíveis, o detalhamento insuficiente ou equivocado, o detalhamento construtivo inexeqüível, a falta de padronização e o erro de dimensionamento, o comprometimento do desempenho e a qualidade global do ambiente construído. É essencial que os projetos estejam voltados para a fase de execução, com identificação dos pontos críticos e proposição de soluções para garantir a qualidade da edificação. No elenco de recomendações pode-se citar a simplificação da execução, a adoção de procedimentos racionalizados e asespecificações dos meios estratégicos, físicos e tecnológicos necessários para a execução. 28 Com relação à manutenção, o projeto também tem influência fundamental na vida útil e no próprio custo das etapas de manutenção e uso. Nele deve-se adotar uma estratégia que iniba a deterioração prematura, diminuindo, com isso, os custos de manutenção. Assim, algumas, das decisões tomadas durante o projeto influenciarão a freqüência de manutenção ao longo da vida útil. Muitos pontos importantes devem ser observados com relação à manutenção de edificações. Um ponto que por consenso assume um papel importante para o aumento da durabilidade é a impermeabilização, pois a presença de água pode vir a causar a deterioração dos materiais e componentes. O projeto de impermeabilização está diretamente relacionado ao atendimento das exigências dos usuários no que se refere à estanqueidade, higiene, durabilidade e economia da edificação, sendo de forma direta ou indireta o responsável pela ocorrência de muitos problemas patológicos. O projeto também é a origem das falhas nos Sistemas Hidráulicos Prediais (SHP). Resultados de pesquisas apontaram a falta de compatibilização com projetos dos outros subsistemas como fator de desvalorização e de falhas dos projetos de SHP. Pode-se concluir que as medidas necessárias para garantir a vida útil são determinadas a partir da importância da edificação, das condições ambientais e, em muitos casos, da vida útil estimada para a edificação. Neste sentido, é parte integrante do projeto a indicação das medidas mínimas de inspeção e manutenção preventiva, que garantam a durabilidade de materiais e componentes da edificação e assegurem a vida útil projetada. Outro ponto importante a ser observado é a correta especificação dos materiais. São muito comuns problemas patológicos originados na falta de qualidade dos materiais e componentes, tais como a durabilidade menor que a especificada, a falta de rigor dimensional e a baixa resistência mecânica. Fabricantes de materiais vêm de forma contínua melhorando e lançando novos materiais no mercado, porém, a escolha destes materiais pode se tornar complicada pela deficiência de informações técnicas para orientar e subsidiar a especificação aliada à ausência ou deficiência de normalização. 29 Com a crescente quantidade de novos materiais no mercado, nem sempre devidamente testados e em conformidade com os requisitos e critérios de desempenho, a probabilidade de patologias também é crescente. Além desses fatores, é importante avaliar as limitações e as exigências que serão impostas pelas intempéries, o comportamento do material sob condições semelhantes à que estará sujeito; experiências que atestem a durabilidade do material e componentes; a compatibilidade com os demais materiais em contato, bem como os custos de aplicação e de prováveis serviços de manutenção. Desta forma, a escolha destes materiais e as técnicas de construção devem estar em concordância com o projeto, a fim de atender às necessidades dos usuários e garantir a manutenção de suas propriedades e características iniciais, sem perder de vista a edificação. É importante ressaltar que a escolha dos materiais não deve tomar por base apenas o preço, pois o baixo custo pode significar material de qualidade inferior. Além disso, esse fato se torna mais evidente devido à falta de especificação precisa dos materiais. A incorreta aplicação dos materiais e o mal entendimento de suas características têm sido as causas de muito problemas patológicos e de manutenção. Assim, no momento da seleção e da especificação dos materiais e componentes são necessárias informações técnicas e econômicas para que um determinado material responda de maneira aceitável a suas condições de serviço. Na seleção, conhecimento da função que o material irá desempenhar na edificação, assim como, a natureza do meio ambiente a que este será inserido é de grande importância. É, portanto essencial que a previsão de um sistema de controle de qualidade atuando nas fases de seleção, aquisição, recebimento e aplicação dos materiais. Assim, a comprovação da conformidade com base em critérios disponíveis constitui base de ações para a garantia da qualidade dos materiais empregados. O conhecimento das propriedades dos materiais também é de grande importância dentro desse contexto, bem como a avaliação de suas características físicas e químicas. No que se refere às propriedades deve-se ressaltar a durabilidade, pois apesar da resistência e durabilidade serem consideradas as propriedades mais importantes dos materiais de construção, a necessidade de projetar e de construir com durabilidade não é considerada com a mesma ênfase e importância dada à resistência estrutural. 30 Além das propriedades, a compatibilidade entre os materiais é importante quando se objetiva a qualidade, pois o conhecimento técnico de cada material poderá minimizar ou impedir a deterioração. Portanto é essencial o questionamento sobre quais materiais utilizar, se os materiais terão aderência, se um material poderá mudar as propriedades do outro; quais as especificações a serem seguidas; quais os equipamentos envolvidos; quais as condições de entrega e de exposição; onde armazená-los; a quantidade de material a ser utilizada; enfim questões que podem comprometer a qualidade do produto final e resultar em futuros problemas patológicos e de manutenção. 3.2.2 Execução (construção) A seqüência lógica do processo de construção civil indica que a etapa de execução deva ser iniciada apenas após o término da etapa de concepção, com a conclusão de todos os estudos e projetos que lhe são inerentes. Suponha-se, portanto, que isto tenha ocorrido com sucesso, podendo então ser convenientemente iniciada a etapa de execução, cuja primeira atividade será o planejamento da obra. Iniciada a construção, podem ocorrer falhas das mais diversas naturezas, associadas a causas tão diversas como falta de condições locais de trabalho (cuidados e motivação), não capacitação profissional da mão-de-obra, inexistência de controle de qualidade de execução, má qualidade de materiais e componentes, irresponsabilidade técnica e até mesmo sabotagem. Nas estruturas, vários problemas patológicos podem surgir. Uma fiscalização deficiente e um fraco comando de equipes, normalmente relacionados a uma baixa capacitação profissional do engenheiro e do mestre de obras, podem, com facilidade, levar a graves erros em determinadas atividades, como a implantação da obra, escoramento, fôrmas, posicionamento e quantidade de armaduras e a qualidade do concreto, desde a sua fabricação até a cura. A ocorrência de problemas patológicos, cuja origem está na etapa de execução é devida, basicamente, ao processo de produção, que é em muito prejudicado por refletir, de imediato, os problemas sócio-econômicos, que provocam baixa qualidade técnica dos 31 trabalhadores menos qualificados, como os serventes e os meio-oficiais, e mesmo do pessoal com alguma qualificação profissional. Estudos anteriores realizados pela Construtora A revelam que problemas patológicos que aparecem nas edificações durante sua vida útil são originados durante a fase de produção da edificação, com maior percentual na fase de projeto, no caso da Europa, sendo que, no caso do Brasil, esse percentual se dá na fase de execução (Conforme quadro abaixo) daí a grande importância da implementação de um sistema de gestão da qualidade para execução de obra. ETAPA Patologias (%) Projeto 18 Materiais 6 Execução 52 Utilização 14 Outros 10 Tabela 1 - Origem das patologias levantadas