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1 Marcela Oliveira – Medicina 2021 1. Caracterizar a hepatopatia crônica, suas etiologias com ênfase na cirrose hepática alcoólica, relacionando com HBV. A hepatite crônica define-se como uma inflamação do fígado que se prolonga durante, pelo menos, seis meses. Apesar dessa classificação envolver um conceito histopatológico, na maioria das vezes o reconhecimento pode ser feito pela analise simultânea de características clinicas e laboratoriais; ETIOLOGIA As causas mais comuns da hepatite crônica são Vírus da hepatite B Vírus da hepatite C Esteato-hepatite não alcoólica (NASH) Hepatite alcoólica Hepatites autoimunes HEPATITES CRÔNICAS VIRAIS Os principais vírus hepatotrópicos atualmente conhecidos são: vírus da hepatite A, B, C, D e E. Porém, dentre esses, apenas os vírus da hepatite B, C e D são os que podem apresentar evolução para a cronificação. 1. HEPATITE B Cronificação da infecção pelo vírus B é definida por um HBsAg positivo por mais de 6 meses, que se associa ao anti-HBc IgG positivo. A taxa de cronificação após a primo- infecção varia em função da faixa etária: 90% em recém-nascidos, 25-50% em crianças e 5-10% nos adultos. A chance de cronificação tende a ser menor quando o paciente faz um quadro clássico de hepatite aguda ictérica; O vírus da hepatite B é transmitido pelo sangue e outros líquidos/ secreções corporais contaminados. Pode ser transmitido da mãe para o bebe no momento do nascimento, contato sexual com uma pessoa contaminada, injeções com material contaminado. A hepatite crônica viral muitas vezes é assintomática ou oligossintomática. Nos pacientes que apresentam sintomas, a fadiga é o mais observado, mas pode haver náuseas, vômitos, anorexia e dor leve ou desconforto em hipocôndrio direito. Podem estar presentes apenas dificuldades de concentração e distúrbios do sono, associados à fadiga. Durante as exacerbações agudas, o quadro é idêntico ao da hepatite B aguda, com icterícia e elevação significativa das aminotransferases; As manifestações extra-hepáticas da hepatite B são típicas da hepatite B crônica. Nesse contexto, a principal é a síndrome nefrótica pela glomerulopatia por imunocomplexos. Esta complicação é bem mais comum em crianças, sendo quase sempre uma nefropatia membranosa; Em adultos, a lesão glomerular pode ser nefropatia membranosa (mais típica) ou membranoproliferativa. Outra manifestação extra-hepática típica da hepatite B crônica é a Poliarterite Nodosa; 2. HEPATITE C SP3 – excesso cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021 O principal meio de transmissão da hepatite C é através da exposição a sangue contaminado. Por ser comumente assintomática na fase aguda, a hepatite C costuma ser descoberta já em fase crônica. A maioria desses pacientes também são assintomáticos, sendo o diagnóstico feito por exames rotineiros, como por exemplo, em doadores de sangue. Os casos sintomáticos se apresentam com fadiga crônica (sintoma mais comum) associada ou não a náuseas, vômitos e anorexia. As aminotransferases costumam ter níveis séricos “flutuantes”, isto é, variáveis ao longo do tempo. De um modo geral, em média, os valores das aminotransferases são mais baixos do que na hepatite B crônica. A manifestação extra-hepática mais frequente é a crioglobulinemia mista (tipo II), que, quando sintomática, pode cursar com vasculite cutânea e glomerulonefrite membranoproliferativa (por deposição de imunocomplexos contendo antígenos virais e crioglobulinas); A infecção crônica pelo HCV está associada ao desenvolvimento de complicações metabólicas sistêmicas. Estes pacientes desenvolvem mais síndrome metabólica (incluindo esteato-hepatite não alcoólica) e diabetes mellitus tipo 2 do que a população geral! 3. HEPATITE D Outro vírus potencialmente causador de hepatite crônica é o vírus D (HDV). Este vírus só é capaz de infectar indivíduos portadores do vírus B, ocorrendo coinfecção (os dois vírus são adquiridos ao mesmo tempo) ou superinfecção (um paciente previamente portador do vírus B adquire posteriormente o vírus D). A hepatite D pode ser transmitida através do contato com sangue e outros fluidos corporais. A hepatite D é transmitida mais frequentemente quando as pessoas usam agulhas não esterilizadas para injetar drogas ilícitas. Também pode ser disseminada pela atividade sexual. Apesar de o HDV não aumentar a chance de cronificação do HBV, aumenta significativamente a chance de hepatite fulminante e evolução para cirrose hepática. ESTEATOSE-HEPATICA NÃO ALCOÓLICA A esteato-hepatite não alcoólica é uma síndrome que ocorre em pacientes que não são alcoolistas, mas que apresentam uma lesão hepática que é histologicamente indiferenciável da esteato-hepatite alcoólica. A esteato-hepatite não alcoólica (NASH), algumas vezes chamada de (esteatonecrose) é diagnosticada, na maioria das vezes, em pacientes entre 40 e 60 anos de idade, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária. Muitos pacientes afetados têm obesidade, diabetes melito tipo 2 (ou intolerância à glicose), dislipidemia e/ou síndrome metabólica. A fisiopatologia está relacionada com acúmulo de gordura (esteatose), inflamação e fibrose em grau variado. A esteatose é resultado do acúmulo de triglicerídios no fígado. Possíveis mecanismos causadores da esteatose incluem redução da síntese de lipoproteína de densidade muito baixa (VLD) e aumento na síntese hepática de triglicerídios (possivelmente resultado de redução na oxidação de ácidos graxos ou aumento da deposição hepática de ácidos graxos livres). A inflamação pode resultar de lesão peroxidativa lipídica às membranas celulares. Essas alterações podem estimular as células estreladas hepáticas, levando à fibrose. Quando em estágios avançados, a esteato-hepatite não alcoólica pode provocar cirrose e hipertensão portal. A maioria dos pacientes é assintomática. Entretanto, alguns se apresentam com fadiga, mal-estar, ou desconforto no hipocôndrio direito. Hepatomegalia pode estar presente em até 75% dos casos. Esplenomegalia pode ocorrer em casos em que há fibrose hepática cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021 avançada e geralmente é o primeiro sinal de que a hipertensão portal está estabelecida. HEPATITE AUTOIMUNE A hepatite autoimune (HAI) é uma doençatípica de mulheres jovens em que um processo de hepatite crônica se acompanha de hipergamaglobulinemia e positividade para certos marcadores sorológicos, como FAN, HAI tipo 1, HAI tipo 2 ou HAI tipo 3. Apesar da preferência por mulheres jovens (HAI tipo 1) ou crianças (HAI tipo 2), a hepatite autoimune pode aparecer em qualquer sexo e faixa etária! A maioria dos doentes possui pelo menos um dos marcadores genéticos a seguir: HLA-B8 e HLA-DR3 (mais comum em jovens) ou HLA- DR4 (mais comum em idosos). Existem evidências de que a HAI seja desencadeada pela interação entre fatores de predisposição genética e fatores ambientais. Já foi documentado, por exemplo, que infecções agudas e autolimitadas por vírus hepatotrópicos (ex.: hepatite A) podem servir de “gatilho” para o surgimento de uma resposta autoimune persistente, direcionada contra os hepatócitos. Em 40% dos casos a doença se apresenta de forma aguda, assumindo, ocasionalmente, um padrão “fulminante”. No restante, a HAI segue um curso tipicamente insidioso, evoluindo com queixas progressivas de fadiga, anorexia, icterícia e artralgia. Em mulheres, são comuns ainda as queixas de amenorreia (que pode ser a primeira manifestação clínica da doença), hirsutismo e acne... Alguns pacientes permanecem assintomáticos por longos períodos, procurando auxílio médico somente em fases avançadas de dano hepático, já com estigmas de cirrose, por exemplo: sinais e sintomas de falência hepatocelular (encefalopatia, hipoalbuminemia) e/ou sinais e sintomas de hipertensão porta (esplenomegalia, varizes de esôfago, ascite). DOENÇA HEPÁTICA ALCÓOLICA O consumo excessivo de etanol é uma das principais etiologias da cirrose hepática no mundo. O álcool pode causar três tipos de lesão no fígado: esteatose assintomática (fígado gorduroso), esteatose-hepatica aguda (hepatite alcoólica) e cirrose alcoólica. O principal determinante do surgimento do DHA é a quantidade de álcool ingerida. Nos homens as formas graves da doença começam a aparecer quando o consumo é >80g/dia por mais de 10 anos, ao passo que nas mulheres, esse limiar é em torno de 30- 40g/dia por mais de 10 anos. A maior susceptibilidade do sexo feminino ao dano hepático induzido por álcool é explicada pela menor concentração da enzima álcool-desidrogenase na mucosa gástrica. A presença de hepatites virais crônicas como B e C, assim como obesidade e outras hepatopatias aumentam o risco de desenvolver a DHA. 2. PATOGÊNESE O que acontece é que o excesso de álcool absorvido pela circulação porta é metabolizado predominantemente na região centrolobular do lóbulo hepático, local onde existe maior concentração da enzima álcool-desidrogenase. Durante esse processo, o oxigênio acaba sendo intensamente consumido, o que gera hipóxia centrolobular. Essa hipóxia prejudica o funcionamento das mitocôndrias, bloqueando a oxidação de ácidos graxos, que, desse modo, se acumulam no interior da célula na forma de gotículas. O principal metabolito do etanol é o acetaldeido, que se liga fortemente as proteínas teciduais, criando neoantigenos. Estes vão induzir uma resposta autoimune que compõe o processo inflamatório do parênquima hepático (hepatite); A persistência ou a recorrência desses insultos pode culminar em fibrose e desestruturação do parênquima hepático cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021 (cirrose), caso as células estreladas sejam ativadas e comecem a produzir colágeno. Como vimos, existem três “estágios” na evolução da DHA: esteatose, esteato- hepatite e cirrose. Histologicamente, os três predominam na região central (perivenular) do lóbulo hepático (zona 3), o que ajuda a diferenciar a DHA de outras hepatopatias crônicas, como as hepatites virais, que predominam na região periportal (zona 1); a. Esteatose hepática Devido à hipóxia gerada, os ácidos graxos não conseguem ser oxidados e se acumulam no citoplasma do hepatócito, onde formam gotículas de gordura. É importante dizer que esteatose não é patognomonica de DHA, pois existem diversas outras causas para este achado. A esteatose hepática induzida pelo álcool é prontamente reversível com a cessação do alcoolismo. A esteatose hepática costuma ser assintomática, com o paciente apresentando apenas hepatomegalia ao exame físico. b. Esteato-hepatite Dizemos que a esteatose hepática esta sendo complicada por um quadro de hepatite alcoólica sobreposta quando além da esteatose, existe necrose hepatocitária e infiltração do parênquima por leucócitos, principalmente neutrófilos. Nesses casos, o paciente geralmente se manifesta com uma ampla gama de sinais e sintomas, como anorexia, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia acentuada. c. Cirrose hepática Assim como acontece em outras formas de cirrose, na etiologia alcoólica a deposição de colágeno no parênquima hepático é mediada pelas células estreladas perissinusoidais, ou células de Ito, que servem como armazenadoras de vitamina A., no entanto, quando o fígado é exposto a insultos necroinflamatorios persistentes ou repetitivos, essas células podem ser ativadas e conduzir a cirrotização. Na DHA a fibrose se inicia na região centrolobular, tornando-se panlobular num segundo momento. O paciente cursa com manifestações clinicas inerentes a qualquer quadro de cirrose, isto é, sinais e sintomas da síndrome de falência hepatocelular (icterícia, encefalopatia, hipoalbunemia, coagulopatia, ginecomastia, aranhas vasculares) e hipertensão porta (esplenomegalia, ascite, varizes esofagogástricas). Uma lesão independente do dano hepático, mas clássica do alcoolismo é a contratura palmar de Dupuytren. 3. Caracterizar as complicações da hepatopatia crônica. Qualquer doença crônica que acometa o fígado pode resultar em cirrose a partir da instalação da necrose hepatocelular difusa e da consequente tentativa de regeneração dos hepatócitos. Esse processo dinâmico de destruição- regeneração leva a modificações na matriz extracelular que culminam em deposição progressiva do tecido fibrotico em substituição ao parênquima funcionante. Surge assim, uma significativa desorganização arquitetônica e vascular dos lóbulos hepáticos que acaba gerando graves danos funcionais. O termo insuficiência hepática crônica é utilizado para descrever as complicações sistêmicas decorrentes de uma queda lenta e gradual na função dos hepatócitos. I. ACHADOS PERIFÉRICOS HIPERESTROGENISMO/HIPOANDROGENISMO Por mecanismos pouco compreendidos, a cirrose hepática altera a homeostase dos hormônios sexuais. O achado característico da cirrose hepática é a associação de hiperestrogenismo com hipoandrogenismo. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacarcecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Nas fases iniciais, pode-se detectar um aumento dos níveis séricos de estrógeno, devido à maior conversão periférica de androgênios em estrogênios no tecido adiposo. O aumento da SHBG (globulina ligadora de hormônio sexual) também é característico da cirrose e pode contribuir para a detecção de níveis altos de estrógenos nesses pacientes. Com o avançar da hepatopatia, caem os níveis séricos de testosterona pela diminuição da síntese deste hormônio nas gônadas. O hiperestrogenismo é o responsável pelas alterações vasculares cutâneas da cirrose, representadas pelo eritema palmar e pelas telangiectasias do tipo “aranha vascular”. Isso porque os altos níveis de estrogênio causam proliferação e dilatação de vasos cutâneos, especialmente na porção superior do corpo. As telangiectasias do tipo “aranha vascular” são caracterizadas por uma dilatação arteriolar central ligando-se a capilares dilatados com disposição radial. São encontradas no pescoço, na porção superior do tronco e dos membros superiores. O eritema palmar é decorrente da vasodilatação cutânea restrita à região palmar, principalmente nas regiões tenar e hipotenar. O hipoandrogenismo é responsável pela queda da libido, impotência masculina, atrofia testicular, redução importante da massa muscular (evidenciada pela atrofia dos músculos interósseos das mãos) e rarefação de pelos (cuja distribuição passa a respeitar o padrão feminino). Além disso, a ginecomastia é decorrente do hipoandrogenismo associado ao hiperestrogenismo. II. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Embora os distúrbios hemodinâmicos da cirrose hepática sejam altamente dependentes da hipertensão portal, a disfunção hepatocelular também contribui. Uma das primeiras alterações hemodinâmicas que surgem na cirrose é a vasodilatação arteriolar esplanica, decorrente do aumento da síntese local de oxido nítrico. A hipertensão portal contribui para a origem desse fenômeno ao desviar sangue mesentérico para a circulação cava, sem passar pelo fígado, perdendo-se então o filtro hepático contra bactérias provenientes da translocação intestinal. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021 A vasodilatação esplanica desloca uma parte da volemia para este território vascular, reduzindo o volume sanguíneo que perfunde outros órgãos. Essa queda de volume vai estimular os barorreceptores renais e carotídeos a ativar o sistema renina- angiotensina-aldosterona. Esses sistemas estimulam os rins a reterem sal e agua, na tentativa de restaurar o volume arterial. Essa retenção hidrosalina vai aumentar o volume total, porem esse volume sanguíneo esta sendo quase todo sequestrado pelos vasos esplanicos dilatados e, portanto, não corrige o déficit de volume arterial. A retenção hidrossalina continua e o paciente começa a formar ascite, pois o excesso de liquido presente no mesentérico começa a transudar diretamente para a cavidade peritoneal em consequência ao aumento da permeabilidade que acompanha a vasodilatação, fenômeno potencializado pela hipoalbuminemia. No final das contas, o paciente apresenta: redução do volume arterial efetivo, comportando-se como um paciente hipovolêmico e aumento da volemia total, só que distribuída basicamente no território esplânico e portal. Além disso, o paciente tem um aumento de sódio e agua corporal total, que se distribui principalmente no peritônio formando ascite, e no interstício formando edema. III. DÉFICIT DE SÍNTESE HEPÁTICA Os hepatócitos possuem a importante função de sintetizar proteínas e fatores de coagulação. Entre as proteínas sintetizadas pelo fígado, temos a albumina, alfaglobulinas, betaglobulinas, ferritina e proteína C reativa. Além disso, com exceção do fator VIII, que é produzido pelas células endoteliais hepáticas, todos os demais fatores de coagulação são sintetizados pelos hepatócitos, como o fibrinogênio e a protrombina. HIPOALBUMINENIA: a albumina é a proteína presente no plasma em maior concentração, sendo a principal responsável pela pressão coloidosmótica do plasma. Está é a pressão que prende o liquido no compartimento intravascular. Na hipoalbuminemia, existe uma tendência a saída do liquido para o interstício, predispondo o paciente ao edema. Por isso, a presença de uma abumina plasmática <3,0 sugere muito que o paciente tenha um quadro crônico, já que nas hepatites agudas a hipoalbuminemia não é um evento comum, devido a meia vida relativamente longa da albumina. COAGULOPATIA: a disfunção hepatocelular grave compromete a síntese dos fatores de coagulação. Como o fator VII é o primeiro a se reduzir na insuficiência hepática, o primeiro exame que altera é o TP ou TAP (tempo de protombrina); IV. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS A hepatopatia crônica frequentemente cursa com anemia, em geral leve ou moderada. O mecanismo mais comum da anemia na hepatopatia crônica é a hemodiluição. No entanto, existem vários fatores que podem induzir a uma anemia verdadeira, como a redução da meia vida das hemácias e redução da resposta eritropoietica à anemia. A justificativa para uma menor vida do eritrócito é devido principalmente: o hipersplenismo, devido a esplenomegalia congestiva; as alterações no metabolismo eritrocitário, tornando as hemácias instáveis e alterações da composição lipídica das membranas. A menor resposta eritropoiética pode ser explicada por (1) efeito direto do álcool na medula óssea (quando a etiologia da hepatopatia é alcoólica); (2) anemia megaloblástica por carência de folato (secundária à desnutrição que quase sempre acompanha o cirrótico); (3) anemia ferropriva por sangramento crônico, geralmente proveniente do trato digestivo alto (varizes, doença ulcerosa); e (4) provável queda na produção de eritropoetina hepática. V. SÍNDROME HEPATORENAL cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacarcecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021 A síndrome hepatorrenal é uma forma de insuficiência renal funcional, ou seja, não possui alterações histopatológicas renais e vai estar presente em indevidos com hepatopatia crônica. É caracterizada pela perda progressiva da função renal, secundaria a vasoconstricção renal, com consequente diminuição da taxa de filtração glomerular e vasodilatação extrarrenal, principalmente no leito mesentérico, havendo queda da resistência vascular periférica, e consequentemente hipotensão. A vasodilatação esplanica parece explicar a origem dessa síndrome, pois vai levar a uma diminuição do volume circulante, com ativação do sistema renina-angiostensina- aldosterona, que por sua vez levara a vasoconstricção dos rins. 4. Elucidar o diagnóstico clínico e laboratorial da hepatopatia crônica relacionada à cirrose. ANAMNESE E EXAME FÍSICO Os portadores de cirrose hepática podem apresentar-se de variadas maneiras: Hemorragia digestiva alta ou baixa; Ascite; Hepatomegalia ou esplenomegalia. Alterações periféricas de insuficiência hepatocelular crônica: eritema palmar, teleangectasias, ginecomastia, rarefação de pelos. Encefalopatia hepática; Assintomáticos, sendo o diagnostico a partir dos achados laboratoriais. Os achados clínicos de cirrose hepática não são específicos de nenhuma etiologia, no entanto na etiologia alcoólica vamos ter alguns sinais bastante sugestivos, como: Intumescimento de parótidas; Contratura palmar de Dupuytren; Neuropatia; Pancreatite crônica associada. EXAMES LABORATORIAIS Embora as alterações laboratoriais possam variar de acordo com a etiologia da cirrose hepática, existem certas anormalidades que sugerem a presença dessa condição: 1. AMINOTRANSFERASES O primeiro exame para o diagnostico de lesão hepática é a analise das aminotransferase, que são enzimas responsáveis pela conversão de aminoácidos. A atividade enzimática é utilizada como indicador de dano hepatocelular, visto que as enzimas estão presentes dentro dos hepatócitos e uma pequena parte na corrente sanguínea. O aumento dessas enzimas no sangue indica uma lesão na parede dos hepatócitos (podendo ser inflamação ou morte celular). TGP/ALT: é útil na avaliação de hepatopatias e de lesão hepatocítica, sendo recomendada no rastreamento das hepatites. É encontrado em altas concentrações apenas no citoplasma dos hepatócitos, o que torna seu aumento especifico de lesão hepática. Indica uma lesão aguda. TGO/AST: é útil nas hepatopatias, infarto do miocárdio e miopatias. É encontrada em altas concentrações no citoplasma e nas mitocôndrias do fígado, dos músculos esquelético e cardíaco, dos rins, do pâncreas e do eritrócitos. Quando qualquer um desses tecidos é danificado, a TGO é liberada no sangue. Por isso a TGO não é exclusivamente utilizada na avaliação da integridade dos hepatócitos. Tanto o TGO quanto o TGP costumam subir ou descer mais ou menos na mesma proporção em doenças hepáticas. Portanto, na cirrose inativa, ou seja, sem atividade inflamatória, as aminotransferases estão completamente normais. Por isso, quando essas enzimas estão aumentadas sugere atividade inflamatória do parênquima. Numa hepatopatia sem cirrose, os níveis de TGP/ALT costumam ser maiores do que de TGO/AST, dando uma relação ALT/AST >1. A partir do momento em que a cirrose se instala, é típica a inversão desse padrão, com o paciente apresentando ALT/AST <1. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Exceto nos casos de doença hepática alcoólica, no qual a relação ALT/AST costuma ser <1 mesmo nas fases pré-cirroticas. 2. FOSFATASE ALCALINA (ALP) Não se trata de uma enzima única, mas de uma família de isoenzimas de origens variada, principalmente hepática e óssea. Sua determinação é útil no acompanhamento de hepatopatias, processos colestáticos em geral e no diagnostico e seguimento de processos ósseos que resultam em aumento da sua atividade. No fígado, a fosfatase alcalina é formada por hepatócitos e por células da mucosa do trato biliar. Geralmente, o grau de elevação da FA reflete a gravidade da obstrução das vias biliares e a quantidade de tecido biliar afetado. 3. GLUTAMILTRANSFERASE (GGT) É uma enzima encontrada no fígado, rins, pâncreas, intestino e na próstata, mas seu significado clinico refere-se principalmente as doenças do fígado e das vias biliares. A determinação da atividade da GGT é útil na avaliação de hepatopatias agudas e crônicas, estando elevada nos quadros de colestase intra ou extra-hepaticas. Os níveis de GGT também se elevam na doença hepática alcoólica aguda ou crônica. Na esteatose hepática, os níveis de GGT estão elevados. Com a melhora do quadro, há uma redução dos valores tendendo a normalidade. Porem uma vez instalado o quadro de cirrose hepática, os valores não normalizam. Portanto, GGT normal com FA elevada indica que o aumento seja decorrente de uma origem óssea. 4. BILIRRUBINAS A bilirrubina é um pigmento resultante do catabolismo da hemoglobina. A primeira bilirrubina a ser produzida é a bilirrubina indireta (ou não conjugada), que circula no sangue ligada a albumina sérica. Esta é transportada para o fígado, e no hepatócito é conjugada ao acido glicurônico transformando-se em bilirrubina direta. A bilirrubina direta é excretada pelo fígado para a vesícula biliar, fazendo parte da composição da bile. Chegando ao intestino, parte da bilirrubina direta é eliminada pelas fezes e parte sofre ação das bactérias intestinais, originando o estercobilinogênio. O aumento da bilirrubina indireta é causado pelo aumento da degradação do heme ou deficiência da conjugação no fígado. Já o aumento da bilirrubina direta é causado, principalmente por deficiência na eliminação de bilirrubina pela bile. O aumento de ambas pode ser causado por obstrução do fluxo da bile (com predomínio da bilirrubina direta) ou por lesão mais intensa dos hepatócitos (em que há deficiência na conjugação e também refluxo da bilirrubina conjugada para o sangue). A dosagem de bilirrubinas é um exame que pode avaliar ao mesmo tempo lesão hepatocelular, fluxo biliar e função de síntese do fígado. A hiperbilirrubinemia é um fator de mau prognóstico na cirrose hepática, ocorrendo principalmente à custa da fração direta. 5. ALBUMINA A albumina é a principal proteína circulante no organismo humano responsável pelo transporte de substancias no sangue (medicamentos, hormônios da tireoide, bilirrubina não conjugados e ácidos graxos livres) e é fundamental para a manutenção da pressão osmótica do plasma. cecelDestacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 9 Marcela Oliveira – Medicina 2021 A diminuição dos seus níveis no sangue (hipoalbuminemia) resulta em extravasamento de liquido para o espaço extravascular e surgimento de edema; O fígado é o único órgão responsável pela produção de albumina. A hipoalbuminemia pode ocorrer por doenças hepáticas, pelas desnutrições proteicas, pelo consumo de álcool. 6. TEMPO DE PROTOMBINA O teste de tempo de protombina (TP) mede o tempo necessário para um coagulo de fibrina se formar em uma amostra de plasma. O fígado regula a homeostasia através da síntese da maioria dos fatores da coagulação. Por isso, doenças hepáticas graves costumam cursar com alterações na coagulação. Na pratica, a determinação do tempo de protombina é útil na avaliação do conjunto de fatores de coagulação e, portanto, da função de síntese hepática. Por isso, nos pacientes com cirrose hepática vamos ter um alargamento do tempo de protombrina e diminuição da atividade de protombina, resultando em coagulopatia e tendência hemorrágica. 7. SÓDIO SÉRICO A hiponatremia é um marcador de péssimo prognostico na cirrose avançada com ascite. Seu mecanismo é a incapacidade de excretar agua livre, decorrente do excesso de ADH. Este excesso, por sua vez, é estimulado pela redução do volume circulante efetivo. EXAMES DE IMAGEM O papel da radiologia na avaliação ad cirrose hepática inclui: Avaliar as alterações morfológicas da doença; Avaliar a vascularização hepática e extra hepática; Detectar e estimar os efeitos da hipertensão portal. Identificar tumores hepáticos. Diante disso, vários métodos podem ser utilizados: USG de abdome, USG com dopler de abdome, TC, RN. Nas fases iniciais da cirrose hepática, todos esses exames podem ser normais. Por outro lado, nas fases mais avançadas, a USG, TC e a RM costumam detectar alterações sugestivas da doença. As alterações mais encontradas na cirrose hepática bem estabelecida são: Modularidade da superfície hepática; Heterogeneidade do parênquima hepático. Alargamento da porta hepatis e da fissura interlobar. Redução volumétrica do lobo hepático direito; Portanto, podemos dizer que a avaliação radiológica nas hepatopatias serve para corroborar uma forte suspeita clinica de cirrose. BIÓPSIA HEPÁTICA É considerado o padrão-ouro para o diagnostico de cirrose hepática. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 10 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Com base na histopatolgoia, o achado de espessamento e septos fibrosos porta-centro e porta-porta, nos quais delimitam nódulos, resultando numa completa desorganização da arquitetura lobular e vascular, confirmam o diagnostico de cirrose. Portanto, quando os dados clínicos, laboratoriais e radiológicos são extremamente sugestivos da cirrose avançada, a biópsia geralmente é desnecessária. 5. Citar o tratamento da hepatopatia crônica relacionada à cirrose (sem aprofundar!). Cirrose não tem tratamento definitivo, exceto o transplante hepático. Baseia-se, inicialmente, na correção do fator etiológico, quando possível, como abstenção de álcool, tratamento adequado das hepatites virais e suspensão de drogas que agridam o fígado. Os pacientes bem compensados clinicamente devem ser monitorizados frequentemente quanto a complicações possíveis, como o hepatocarcinoma (ultrassonografia e alfafetoproteína semestral), a (endoscopia digestiva alta e ultrassonografia com Doppler) e a disfunção renal. Também devem evitar todo tipo de agressão hepática e situação de estresse, já que possuem pouca reserva funcional, abstendo- se de bebidas alcoólicas e de drogas e substâncias sabidamente hepatotóxicas. A dieta deve ser hipercalórica, normoproteica e rica em vitaminas, como o ácido fólico. Os pacientes com complicações da cirrose devem seguir tratamento específico, lembrando que cirrose avançada ou complicações prévias como HDA, PBE e síndrome hepatorrenal têm, como único tratamento definitivo, o transplante hepático. Nos casos de ascite, além da paracentese de alivio quando há grande acumulo de líquido, podemos usar os diuréticos como furosemida e/ou espironolactona nos casos em que a perda de peso for inadequada ou se houver desenvolvimento de hipercalemia. Esses medicamentos são usados na dose de 100mg/dia, de espironolactona e 40 a 160mg/dia de furosemida. 6. Entender a hipertensão portal, sua fisiopatologia e manifestações clínicas. A hipertensão portal (HP) é uma síndrome clínica caracterizada pelo aumento de pressão no sistema porta, com consequentes alterações hemodinâmicas esplâncnicas e sistêmicas, que originam as principais complicações das hepatopatias crônicas, tais como hemorragia digestiva alta, ascite e peritonite bacteriana espontânea, síndrome hepatorrenal, encefalopatia hepática e síndrome hepatopulmonar. Hipertensão portal é definida por uma pressão na veia porta > 10mmhg, sendo o normal de 5 a 10. No entanto, como a mensuração direita é muito complicada, utiliza-se para avaliar o gradiente de pressão venosa hepática, que quando >5mmHg identifica a existência de hipertensão portal. Esse gradiente é aferido através da cateterização da veia hepática, após punção da veia jugular interna. A síndrome da hipertensão portal é composta pela esplenomegalia congestiva, pelas varizes esofágicas, ascite e pela circulação colateral visível no abdome. Na cirrose, a hipertensão porta contribui ainda para a encefalopatia hepática, ao desviar para a circulação sistêmica parte do sangue portal, rico em amônia. Isso porque, o fígado recebe seu aporte sanguíneo basicamente de duas fontes: veia porta e artéria hepática. A veia porta é formada pela confluência das veias mesentérica superior e esplênica. Apesar do rotulo de veia, a veia porta carreia mais de metade do suprimento de O2 necessário para o fígado, além de transportar hormônios hepatotroficos que mantem a integridade e a função dos hepatócitos. Por outro lado, esse vaso leva também para o fígado toxinas que precisam ser devidamente depuradas pelos hepatócitos. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacarcecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 11 Marcela Oliveira – Medicina 2021 ETIOLOGIA Como já mencionado, a hipertensão portal se baseia no aumento da resistência ao fluxo sanguíneo, que pode ter origem pré-hepática, hepática ou pós-hepática. Todos esses processos levam à congestão no sistema porta, o que provoca a dilatação do sistema venoso como um todo. Por isso, os pacientes com hipertensão portal são classificados como hemodinamicamente compensados, mas não estáveis, pois há uma situação hiperdinâmica do fluxo sanguíneo. Podemos dividir as síndromes de hipertensão porta em três principais categorias: Pré-hepáticas Intra-hepáticas - Pré-sinusoidal - Sinusoidal - Pós-sinusoidal Pós-hepáticas As principais condições pré-hepáticas são a trombose obstrutiva, o estreitamento da veia porta antes de sua ramificação no interior do fígado ou a esplenomegalia maciça, com aumento do fluxo sanguíneo venoso esplênico. As principais causas pós-hepáticas são a insuficiência cardíaca direita, a pericardite constritiva, a obstrução da veia cava inferior e a síndrome de Budd-Chiari. Por último, a hipertensão intra-hepática ainda se subdivide em pré-sinusoidal, sinusoidal e pós-sinusoidal. FISIOPATOLOGIA O aumento da resistência ao fluxo portal ao nível dos sinusoides é gerado pela obstrução ao fluxo sanguíneo por deposição de tecido fibroso e consequente compressão dos nódulos parenquimatosos. Além disso, ocorre vasoconstrição ativa, com diminuição da produção de oxido nítrico, que é um vasodilatador, e liberação de vasoconstrictores como o angiotensinogenio. Com isso, ocorre contração das células musculares lisas dos vasos hepáticos. Além disso, os vasos que normalmente drenam para o sistema portal, como a veia gástrica esquerda, revertem seu fluxo para vias colaterais, e como essas vias são insuficientes para receber esse fluxo sanguíneo, é gerada uma resistência adicional ao sistema portal. Essa circulação hiperdinâmica é causada pela vasodilatação arterial, principalmente na circulação esplanica; Assim, o paradoxo na hipertensão portal é que a deficiência de oxido nítrico na vasculatura intra-hepatica leva a vasoconstricção e resistência aumentada dos vasos hepáticos, enquanto a superprodução de NO na circulação extra- hepática leva a vasodilatação esplanica e consequentemente fluxo portal aumentado. Essa vasodilatação esplânica tende a reduzir a pressão arterial, levando a um quadro em que a frequência e debito cardíaco não conseguem manter a pressão sanguínea, causando a ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona, aumentando a secreção de ADH, levando a ascite, ou seja, aumenta-se a congestão, que é a vasodilatação sistêmica e gera as varizes características da hipertensão portal. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 12 Marcela Oliveira – Medicina 2021 MANIFESTAÇÃO CLÍNICA As principais consequências clínicas associadas à hipertensão portal incluem ascite, formação de shunts venosos portossistêmicos, esplenomegalia congestiva e encefalopatia hepática. A ascite consiste no acúmulo de líquido na cavidade peritoneal sendo, na maioria dos casos, causada por cirrose. Isso ocorre porque a hipertensão sinusoidal altera o equilíbrio entre as pressões hidrostática e oncótica, promovendo o extravasamento de liquido. Esse fator pode ser agravado pela hipoalbuminemia, presente nos quadros de insuficiência hepática. Os shunts portossistêmicos são formados a partir do aumento da pressão portal, que gera um fluxo invertido da circulação portal. Com isso, o sangue passa a ser direcionado para a circulação sistêmica através do desenvolvimento de novos vasos e dilatação dos vasos colaterais. Os principais pontos são as veias retais, gerando hemorroidas, a junção gastresofágica, gerando as varizes gastresofágicas, o retroperitônio e o ligamento falciforme do fígado, gerando turgência das colaterais periumbilicais, conhecido como cabeça de medusa. As varizes gastroesofágicas aparecem em pacientes com cirrose hepática avançada e cursam com hematêmese maciça. O surgimento de varizes normalmente ocorre quando a pressão no sistema porta é acima de 10 mmHg, o que leva à hemorragia digestiva alta A esplenomegalia induz anormalidades hematológicas como trombocitopenia ou pancitopenia. 7. Compreender a ascite, sua fisiopatologia, diagnóstico e sua avaliação. Ascite quer dizer derrame liquido na cavidade peritoneal. Ela não representa uma doença, mas sim uma manifestação comum a varias doenças. A principal causa de ascite no Brasil e no mundo é a hipertensão portal. ETIOLOGIA No sistema porta existem algumas válvulas de segurança no meio desse sistema venosas que permitem que haja um escape pressórico toda vez que a pressão porta se eleva muito. Essas válvulas são representadas pelos sinusoides hepáticos, estes por sua vez são fenestrados permitindo que a qualquer aumento de pressão porta, resulte em um extravasamento de liquido (linfa hepática) para a cavidade peritoneal. Como sabemos todo quadro de hipertensão porta deve obrigatoriamente ser classificado em: pré-sinusoidal, pós-sinusoidal e intrassinusoidal. As obstruções pré-sinusoidais dificilmente geram ascite porque não envolvem os sinusoides hepáticos, como é o caso da esquistossomose, em que a obstrução ocorre nos espaços porta. As obstruções pós-sinusoidais como a síndrome de Budd-Chiari, produzem um quadro de hipertensão porta marcado principalmente pela ascite grave e de difícil controle. Mas como 85% dos casos de hipertensão porta são resultantes de cirrose hepática, que origina ambos os mecanismos pré e pós, muitos classificam o mecanismo da cirrose como intrassinusoidal. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 13 Marcela Oliveira – Medicina 2021 DIAGNÓSTICO Quando a ascite é volumosa, o abdome apresenta-se globoso, tanto com o paciente em pé quanto deitado. Se a ascite for devido a hipertensão porta, é comum a presença de circulação colateral evidente no abdome (cabeça de medusa).Quando a ascite não é muito volumosa, quando o paciente fica em pé, o abdome pode cair sobre o púbis, configurando a forma em avental. Ou com o paciente deitado, o abdome se alarga para flancos, configurando a forma batráquio. Sinal de Piparote: esse sinal deve ser pesquisado no paciente em decúbito dorsal, no qual o medico da um peteleco em um dos flancos do paciente e tenta sentir a propagação da força no outro flanco. O medico ainda pode colocar a borda cubital da mão na região mediana para evitar propagação da onda. O sinal é positivo quando for uma ascite de grande volume. Macicez móvel de decúbito: baseia- se na analise diferencial dos sons da percussão abdominal, quando o paciente se posiciona em varias angulações de decúbito lateral. A ascite pode ser graduada em três estágios. I = só detectada pelo US; II = ascite moderada, detectada pelo exame físico; e III = grande ascite com importante distensão abdominal. EXAMES COMPLEMENTARES 1. USG A ultrassonografia é o método de escolha para se detectar pequenas coleções liquidas no abdome, que aparecem como imagens anecoides, ou seja, livres de ecos. A usg pode ainda, frequentemente, diagnosticar a causa da ascite, demonstrando alterações compatíveis com cirrose, uma massa abdominal ou pélvica, metástases ou cistos pancreáticos. 2. TC A TC permite o diagnostico de ascite com segurança e também diferencia coleções liquidas livres das massas solidas ou císticas, uma vez que o liquido ascitco apresenta menor densidade radiológica que as estruturas solidas. 3. PARACENTESE A paracentese abdominal tem as seguintes finalidades: obtenção de material para analise e aliviar o doente dos sintomas compressivos. A paracentese diagnostica é um exame obrigatório no paciente com ascite, pois é a melhor maneira de realizar uma investigação etiológica. O exame do liquido colhido na primeira paracentese deve incluir: aspectos macroscópicos, exame bioquímicos como LDH, proteínas, glicose, amilase, lipídios, marcadores tumorais, citologia convencional e oncótica, bacterioscopia e cultura. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA Na ascite da doença do peritônio, o liquido asctico será exsudativo e se for hipertensão portal será transudativo. Para diferenciar é necessário realizar uma paracentese e uma analise bioquímica simples. O método recomendado para diferenciação é o GASA. Nesse gradiente devemos pegar a concentração plasmática de albumina e subtrairmos pelo valor da concentração no liquido ascético. Os sinusoides “capilarizados”, como na cirrose que gera hipertensão portal, são menos permeáveis às proteínas, e por isso o líquido ascítico na cirrose hepática tipicamente possui baixos níveis de proteína, gerando um GASA maior ou igual a 1,1g/dL. Já em doenças que lesam o peritônio ou aumenta sua permeabilidade, como inflamações, ocorre maior passagem de proteínas para o líquido ascítico. Com isso, quando vamos calcular o GASA, ao subtrair altos valores de proteína do líquido ascítico das proteínas totais do plasma, encontramos um valor de GASA menor do que 1,1g/dL. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 14 Marcela Oliveira – Medicina 2021 8. Estudar a encefalopatia, sua fisiologia, diagnóstica e sua avaliação. Encefalopatia hepática se refere a uma síndrome neuropsiquiátrica potencialmente reversível que pode surgir em pacientes portadores de hepatopatia crônica avançada ou mesmo na insuficiência hepática aguda; A encefalopatia é causada pela passagem de substancias toxicas (provenientes do intestino) para o cérebro, que em uma pessoa normal seriam depuradas pelo fígado. PATOGÊNESE Para compreender a patogênese, primeiro temos que saber que uma das principais funções do fígado é a depuração de toxinas provenientes da absorção intestinal. Estas substâncias são absorvidas pelos enterocitos, ganham a circulação venosa mesentérica e em seguida a veia porta, para então penetrar nos espaços-porta atingindo os sinusoides hepáticos. Entre as substancias, a mais importante é a amônia, derivada dos enterocitos e do metabolismo das bactérias colonicas. Sua não depuração, gerada tanto pela insuficiência hepatocelular quanto pela hipertensão portal, que desvia o sangue do sistema porta para a circulação sistêmica, causa a encefalopatia hepática. A hiperamonemia é um achado quase universal na insuficiência hepática grave. Os principais efeitos da amônia no metabolismo cerebral são: aumento da captação de aminoácidos aromáticos, aumento da osmolaridade dos astrocitos, fazendo com que estas células se tornem edemaciadas, inibição da atividade elétrica neuronal pós- sináptica e estimulação da produção de GABA, que é um importante depressor da atividade cortical. Em relação ao GABA, sabemos que ele é um neurotransmissor inibitório cujo receptor pós- sináptico pode ser estimulado pelos benzodiazepínicos e barbitúrico. Algumas neurotoxinas como a amônia aumentam indiretamente a atividade desse sistema, através da estimulação de neuroesteroides. Isso explica o porquê de alguns pacientes obterem melhora dos sintomas com o flumazenil, que é um antagonista benzodiazepínico. SINAIS E SINTOMAS 1. ENCEFALOPATIA HEPATICA MINIMA É definida ela presença de alterações neuropsiquiátricas só detectadas pelos testes neuropsicometricos, ou seja, essas alterações não são percebidas nem pelo paciente, nem pelo medico. Exames complementares como o eletroencefalograma podem reforçar o diagnóstico, mas, na prática, em geral NÃO se recomenda a pesquisa deste tipo de encefalopatia em todos os cirróticos; 2. ENCEFALOPATIA HEPATICA AGUDA ESPORÁDICA Nesses casos o paciente é trazido com um quadro de desorientação, agitação psicomotora ou ate mesmo coma hepático. Nesse tipo de encefalopatia, as manifestações podem ser anormalidades neurológicas e psiquiátricas, tais como distúrbios de comportamento (agressividade, agitação), sonolência/ letargia, inversão do ciclo sono-vigília (insônia noturna com cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 15 Marcela Oliveira – Medicina 2021 sonolência diurna), fala arrastada com bradipsiquismo, hálito hepático, asterixis (= flapping - que não é patognomonico da encefalopatia hepática), incoordenação muscular e hipertonia, escrita irregular, reflexos tendinosos exacerbados ou alentecidos,sinal de Babinski, crises convulsivas e postura de descerebração. 3. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA CRONICA Esta forma de encefalopatia é definida pela permanência dos sintomas neuropsiquiátricos por longo período. Tais pacientes geralmente são cirróticos em estado muito avançado e tem sobrevida curta. Os principais fatores precipitantes da encefalopatia hepática são: Hemorragia digestiva alta; O paciente cirrótico é propenso a hemorragia digestiva por vários motivos, dentre eles: distúrbio da hemostasia + presença de varizes esofágicas clássicas da hipertensão portal + aumento do risco de ulcera péptica. Nesse sentindo, o sangramento liberado no tubo digestivo vai ser digerido pelas bactérias colonicas, e a metabolização da hemoglobina forma a amônia. Dessa forma, essa amônia vai ser absorvida pelos enterocitos desencadeando a EH. Hipocalemia. Alcalose metabólica ou respiratória. Desidratação/hipovolemia. Diuréticos tiazídicos ou de alça (furosemida). Infecções (incluindo a peritonite bacteriana espontânea). Uso de sedativos (benzodiazepínicos e barbitúricos) DIAGNÓSTICO O diagnostico da encefalopatia hepática é eminentemente clinico, no entanto existem alguns exames, como a dosagem sérica de amônia, que não é recomendada de rotina, mas encontra-se elevada na encefalopatia hepática. No entanto sua especificidade é baixa, pois existem diversas patologias que podem elevar a amônia. 9. Compreender o mecanismo da icterícia, diagnóstico e sua avaliação (diferenciar bilirrubina direta e indireta). A icterícia é definida como uma coloração amarelada na pele, da esclerótica e do frenulo da língua, provocada por um aumento da fração indireta da bilirrubina, gerando quando >7mg/dl ou da sua fração direta, menos frequente. A icterícia decorrente do aumento da fração indireta de bilirrubina confere a pele uma tonalidade amarela brilhante ou alaranjada. Já nas condições associadas à hiperbilirrubinemia direta, esta confere uma cor amarelo-esverdeada. A grande complicação desta impregnação não acontece a nível cutâneo, mas sim encefálico. Pois, em níveis muitos elevados, a bilirrubina indireta pode cruzar a barreira hematoencefálica produzindo efeitos tóxicos obre os neurônios, levando a um quadro de encefalopatia bilirrubínica; FISIOPATOLOGIA A bilirrubina é um produto da degradação do grupamento heme, que deriva principalmente da hemoglobina. O grupo heme é convertido em duas reações químicas: a primeira mediada pela hemeoxigenase que transforma a cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 16 Marcela Oliveira – Medicina 2021 hemoglobina em biliverdina. E a segunda é catalisada pela biliverdina redutase produzindo a bilirrubina. O ferro liberado dessa reação é reaproveitado pelo organismo e armazenado em baço e fígado. A bilirrubina indireta (lipossolúvel) liga-se a albumina plasmática para poder ser carreada ate o fígado. Já dentro dos hepatócitos, no REL, a bilirrubina é convertida à bilirrubina direta com auxilio da enzima uridilglucoroniltransferase (UDG); Esses novos pigmentos são hidrossolúvel e podem ser excretados pela bile ou filtrados pelos rins (bilirrubina direta). Com a bile, a bilirrubina direta chega ao intestino delgado onde, no adulto e na criança maior, será reduzida a estercobilina pela presença de bactérias da flora local e uma pequena quantidade será desconjugada a bilirrubina indireta (enzima betaglicorunidase) e reabsorvida pela circulação enterro-hepática. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 17 Marcela Oliveira – Medicina 2021 CAUSAS O aparecimento da icterícia pode ser decorrente de: Aumento da produção; Deficiência na captação, conjugação ou excreção hepática; Obstrução do fluxo de bile nos canalículos ou nas vias biliares principais; E As principais causas que levam a essas alterações são: Deficiências metabólicas (transitórias ou permanentes); Doenças hepatocelulares e hepatocanaliculares; Obstrução extra-hepatica ao fluxo de bile. 1. AUMENTO DA BILIRRUBINA INDIRETA Os casos de elevação na produção de bilirrubina ocorrem por hemólise acentuada e decorrem principalmente das anemias hemolíticas (talassemia, falciforme); A incapacidade metabólica especifica da bilirrubina no fígado pode ser secundaria a baixa captação de bilirrubina, podendo acontecer por redução da UDG, que pode ser transitória no RN ou permanente como em algumas síndromes. Nas icterícias por dano hepatocelular, como nas hepatites e na cirrose hepática, vários fatores concorrem para a hiperbilirrubinemia, como hemólise aumentada, disfunção metabólica do hepatócito e deficiência na excreção canalicular. Nesses casos, ocorre hiperbilirrubinemia mista, com elevação tanto da fração direta quanto da indireta. 2. AUMENTO DA BILIRRUBINA DIRETA Alguns pacientes podem apresentar função canalicular alterada e colestase intra- hepática. A fase de excreção da bilirrubina conjugada dos hepatócitos para os canalículos biliares é a primeira a ser afetada quando se tem um distúrbio do hepatócito, pois qualquer alteração desta etapa significa acumulo de bilirrubina direta no hepatócito, que então regurgita de volta para o plasma. Percebemos que a doença hepatocelular interfere com as principais fases do metabolismo da bilirrubina: captação, conjugação e excreção. Entretanto, como a excreção é a fase que limita a velocidade do processo, ela representa em geral o principal distúrbio, fazendo com que a icterícia da hepatite e da hepatotoxicidade seja mista, mas predominantemente a custa da bilirrubina direta. DIAGNÓSTICO 1. AVALIAÇÃO LABORATORIAL Os exames laboratoriais incluem dosagem sérica de bilirrubinas, hemograma completo e “hepatograma”. Diante de um paciente clinicamente ictérico, devemos em primeiro lugar confirmar o aumento sérico das bilirrubinas, notando o tipo predominante (BD x BI). Se a hiperbilirrubinemia for à custa de BI, devemos de imediato seguir um algoritmo de investigação de hemólise, mantendo como diagnósticos diferenciais as síndromes resultantes da deficiência de conjugação da bilirrubina (Gilbert e Crigler-Najjar). Se a hiperbilirrubinemia for à custa de BD, devemos manter em mente duas possibilidades: 1) Lesão dos hepatócitos (síndrome de lesão hepatocelular); 2) Obstrução das vias biliares (síndrome de colestase). Na síndrome de lesão hepatocelular (hepatite aguda), encontramos grande aumento das transaminases (5-20x) e pouco cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacarcecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 18 Marcela Oliveira – Medicina 2021 aumento da fosfatase alcalina e da gama- GT. Já na síndrome de colestase (coledocolitíase, por exemplo) encontramos exatamente o inverso: pouco ou nenhum aumento das transaminases (2-3x) e grande aumento da fosfatase alcalina e da gama- GT. Dentre as “provas de função hepática”, destacam-se a albumina e o tempo de protrombina (INR). Estas medem o poder de síntese dos hepatócitos; quando gravemente disfuncionantes, sintetizam menos albumina (hipoalbuminemia) e menos fatores da coagulação (TAP alargado). A dosagem das bilirrubinas confirma a icterícia (a bilirrubina total deverá estar superior a 2 mg/dl), indica a sua intensidade, é usada para determinar a forma predominante, servindo de parâmetro inicial para o seguimento 10. Distinguir hemorragia alta e baixa e suas etiologias com enfoque na hemorragia digestiva alta, especificamente na ruptura de varizes. Hemorragia digestiva engloba qualquer sangramento que ocorra no trato gastrointestinal. É classificada em alta e baixa conforme a sua localização em relação ao ligamento de Treitz. A HD é mais comum em homens, idosos e portadores de doenças crônicos. A HD alta é mais aproximadamente 5x mais frequente do que a HD baixa. 1. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA Definia-se como hemorragia digestiva alta (HDA) o sangramento cuja origem se localizava desde o esôfago até o ângulo de Treitz. Entretanto, atualmente considera como HDA o sangramento que vai desde o esôfago ate a segunda porção duodenal, na altura da papila. A hemorragia ocasionada por doença ulcerosa péptica (DUP), seguida da síndrome de hipertensão portal com ruptura de varizes esofágicas ou gástricas, são as causas mais frequentes de sangramento digestivo alto. Entretanto, existem outras etiologias, como lesões agudas de mucosa gástrica, lesão de Mallory-Weiss, neoplasias, esofagites, úlceras de boca anastomótica, ectasias vasculares, lesões de Dieulafoy, entre outras. A incidência global de HDA causada por úlceras pépticas vem diminuindo, possivelmente graças ao aumento da prescrição de inibidores de bomba de prótons, além dos esforços direcionados para erradicação do Helicobacter pylori; ETIOLOGIA As ulceras pépticas são lesões na mucosa, acometendo principalmente o fundo e o corpo gástrico, podendo eventualmente acometer o antro. Dentre os fatores de risco, encontramos o uso da aspirina, infecção pela H.pilori, uso de AINES e situações de estresse. A síndrome de Mallory-Weis é caracterizada por lesão esofagogástrica devido a esforços repetitivos de vomito e ocorre quando a lesão envolve o plexo venoso ou arterial esofágico subjacente. Ocorre principalmente em etilistas e gestantes e costuma cessar de forma espontânea. As varizes esofágicas, uma das principais causas de HDA, estão presentes em 50% dos pacientes com cirrose hepática ao diagnóstico. Dentre os pacientes cirróticos, um terço terá hemorragia varicosa, sendo que casos de cirrose mais avançada (classificação de Child-Pugh B ou C) têm taxa mais elevada de sangramento. Já entre pacientes cirróticos sem varizes, a taxa de aparecimento anual é de 7%, sendo 12% a incidência anual de sangramento. O risco de hemorragia se correlaciona com o seu tamanho, o grau de disfunção hepática e a presença de manchas vermelhas ou “red spots”. As varizes gastroesofágicas resultam diretamente da hipertensão portal, devido ao aumento da resistência ao fluxo ou ao aumento do fluxo sanguíneo na veia porta. A cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 19 Marcela Oliveira – Medicina 2021 resistência ao fluxo pode ocorrer pela destruição da arquitetura hepática, como consequência da fibrose, do aumento do tônus vascular por disfunção endotelial e diminuição da disponibilidade de óxido nítrico. A formação de varizes gera descompensação do sistema venoso porta, transportando sangue para a circulação sistêmica. A formação de varizes ocorre quando o gradiente venoso portal supera cerca de 10mmHg. Esse processo se associa a fatores angiogênicos, com formação de colaterais porto-sistêmicas e portal-venosa, aumentando fluxo sanguíneo devido à vasodilatação esplênica e aumento do débito cardíaco. Por fim, o crescimento das varizes é influenciado pelo aumento da pressão e do fluxo da circulação portal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O paciente com HDA pode se apresentar com melena (fezes negras), hematêmese ou hematoquezia (vômitos de sangue vivo) – sendo esta última mais associada com sangramento de grande monta e instabilidade hemodinâmica. Circulação colateral, teleangiectasias, hepatomegalia, esplenomegalia ou sinais de encefalopatia hepática podem estar presentes se a causa subjacente for cirrose ou hipertensão portal. 2. HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA A hemorragia digestiva baixa (HDB) é definida pelo sangramento distal ao ligamento de Treitz. Compõe cerca de 20% das hemorragias digestivas e tem mobimortalidade menor do que a HDA. ETIOLOGIA Doença diverticular: É a causa mais comum de hemorragia digestiva baixa. Geralmente, o sangramento é indolor, e resulta de lesão na artéria penetrante do divertículo. Ectasias vasculares: Nesse grupo, estão incluídas as malformações e as angiodisplasias Do cólon. Colite isquêmica e isquemia mesentérica: A colite isquêmica é uma causa comum de isquemia intestinal e geralmente é autolimitada, resolvendo-se espontaneamente. Divertículo de Meckel: O divertículo de Meckel consiste em tecido embrionário de origem gástrica, mais comumente no íleo, sendo mais da metade das lesões ectópica. Esse tecido gástrico secreta enzimas gástricas que podem erodir a mucosa, causando sangramento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A principal manifestação da HDB é a hematoquezia (eliminação pelo reto de sangue vermelho vivo) ou enterorragia. Pacientes com trânsito intestinal mais lento podem apresentar melena. Pode haver sinais de hipovolemia, sendo a taquicardia indicadora de hipovolemia leve a moderada; enquanto hipotensão ortostática indica perda de ao menos 15% da volemia. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar
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