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Fisiopatologia da Dengue Inoculação do vírus da dengue pela picada do mosquito || \/ Células dendríticas (células de Langherhans) presentes no local fagocitam os vírus e o transportam aos linfonodos regionais, onde os vírus realizam a primeira replicação || \/ Essa multiplicação inicial resulta em uma viremia que dissemina o patógeno por todo o organismo, livre no plasma ou no interior de monócitos Os vírus da dengue têm tropismo por células fagocitárias, as quais são reconhecidas como importantes sítios para sua replicação. 1 A infecção primária (primoinfecção) pelos vírus da dengue é controlada inicialmente pela resposta imune inata e celular (associada aos linfócitos T citotóxicos que atacam diretamente os antígenos).1 Na resposta imune humoral (associada aos linfócitos B, que após se transformarem em plasmócitos, sintetizam e secretam os anticorpos): ● Proteína E, parte do envelope viral, é o alvo dominante dos anticorpos protetores contra a dengue. Esses anticorpos podem promover a lise de células infectadas ou inibir a ligação dos vírus aos receptores celulares com consequente neutralização viral. ● A proteína NS1, expressa na superfície das células infectadas e secretada na circulação, também é um importante alvo de anticorpos antidengue, que promovem a lise das células infectadas fixando o complemento e, além disso, atuam como mediadores de fenômenos de citotoxidade celular mediada por linfócitos CD8+. ● Além desses alvos, a resposta imune celular contra o vírus é direcionada a outras proteínas virais, como C, prM, NS3, NS4B e NS5. No entanto, a proteína NS3 parece ser a mais imunogênica, em relação à imunidade celular, com uma maior preponderância de epítopos de células T identificados. Quanto a produção de anticorpos: ● Há estímulo à produção de anticorpos IgM, que se tornam detectáveis, em média, a partir do quarto dia após o início dos sintomas, atingem níveis mais elevados por volta do sétimo ou oitavo dia e declinam lentamente até não serem mais detectáveis após alguns meses. ● Os anticorpos IgG são observados em níveis baixos a partir da primeira semana do início dos sintomas, elevam-se gradualmente até atingir altos valores em duas a três semanas e mantêm-se detectáveis por vários anos, concedendo imunidade contra o sorotipo infectante provavelmente por toda a vida. Durante a convalescência, os anticorpos induzidos, durante infecção aguda por um tipo de dengue, também protegem da infecção por outros tipos virais. Entretanto, essa imunidade é mais curta, com duração de poucos meses. 1 As infecções por dengue, em indivíduos que já tiveram contato com outros sorotipos do vírus, ou mesmo outros flavivírus (como os vacinados contra a febre amarela), podem alterar o perfil da resposta imune, que passa a ser do tipo anamnéstico ou de infecção secundária (reinfecção), com baixa produção de IgM, e resposta precoce intensa de IgG. 1 As células T CD4+ e CD8+ reativas ao vírus da dengue produzem predominantemente altos níveis de IFN-γ, TNF-α, TNF-β e quimiocinas, incluindo MIP-1β, após interação com células apresentadoras de antígenos infectadas com o vírus, e também são eficientes na lise das células infectadas in vitro. Portanto, as células T participam ativamente na resposta imune reduzindo o número de células infectadas com o vírus. 1 Nos quadros de dengue, os sintomas gerais de febre e mal-estar relacionam-se à presença, em níveis elevados, de citocinas séricas, como TNF-α, IL-6, IFN-γ etc. As mialgias relacionam-se, em parte, à multiplicação viral no próprio tecido muscular, inclusive o tecido oculomotor é acometido, produzindo cefaleia retrorbitária. 1 Dengue Hemorrágica Há uma combinação de fatores que influência essa manifestação da doença: ● Influência da infecção por algumas cepas específicas que parecem estar mais associadas a dengue hemorrágica. ● Sistema imune do paciente - a presença de anticorpos contra um dos sorotipos virais está associada a maior suscetibilidade a dengue hemorrágica. ● Sequência de infecções pelo vírus da dengue – considerada como fator de risco para dengue hemorrágica. A fisiopatologia dessa manifestação envolve os anticorpos preexistentes, que ao invés de neutralizar um segundo vírus infectante de sorotipo diferente, em muitos casos amplificam a infecção, facilitando ao novo tipo infectante a penetração em macrófagos a partir dos receptores de membrana Fcg. Esse mecanismo é denominado "exacerbação mediada por anticorpos". Isso ocorre, pois os anticorpos contra o sorotipo responsável pela primeira infecção ligam-se ao vírus da infecção atual, mas não são capazes de neutralizá-los. Assim, esse vírus tem a oportunidade de penetrar nas células por meio do seu receptor natural e pelos receptores Fcg das imunoglobulinas. Agravando esse quadro e tornando os macrófagos mais permissíveis ao vírus, há um aumento da expressão dos receptores Fcg na membrana dessas células, causada pelo estímulo da liberação de IFNg por células CD4+ ativadas. Nesse contexto, acredita-se que pessoas com dengue hemorrágica possuem populações de macrófagos maciçamente infectadas, produzindo viremias elevadas. Além disso, o IFNg também estimula uma presença aumentada de moléculas HLA classes I e II nos macrófagos, facilitando o reconhecimento de maior número de epítopos virais pelos linfócitos CD4+ e CD8+, com consequente aumento na produção de citocinas e citólise por linfócitos T ativados, agravando o quadro clínico. Esse mecanismo dos anticorpos preexistentes, há um segundo grupo de pacientes em risco para dengue hemorrágica são os lactentes que receberam, intraútero, anticorpos IgG maternos contra a dengue. Com o passar de meses, esses anticorpos, que apresentam decaimento paulatino, atingem níveis subneutralizantes. No caso de infecção desses lactentes por outro sorotipo de dengue daquele que causou a infecção materna e na presença dos anticorpos subneutralizantes, ocorreria um desequilíbrio estequiométrico entre as concentrações de anticorpos neutralizantes e vírus, desencadeando o fenômeno de facilitação da entrada do vírus em macrófagos. Outro mecanismo é o seguinte: Presença de antígenos de dengue, expressos na membrana macrofágica induz a eliminação imune por linfócitos T CD4+ e CD8+ citotóxicos || \/ Macrófagos, ativados pelos linfócitos e agredidos ou lisados pelas células citotóxicas, liberam tromboplastina e proteases ativadoras do complemento || \/ Tromboplastina inicia os fenômenos da coagulação e as proteases são causadoras da lise celular e do choque Além disso, o fator de necrose tumoral, o TNF-α, que foi observado em níveis elevados, em casos graves de dengue hemorrágica, afeta células inflamatórias e endoteliais, podendo contribuir para a trombocitopenia e induz a IL-8, estimulando a liberação de histamina pelos basófilos e aumentando a permeabilidade vascular. Outro fator envolvido na fisiopatologia da dengue hemorrágica é o aumento dos níveis de IL-6 em alguns casos graves, sendo relacionada com a hipertermia apresentada pelos pacientes. Anafilotoxinas como C3a e C5a, leucotrienos, histamina e o fator inibidor do ativador do plasminogênio (que impede a fibrinólise e leva à deposição de fibrina intravascular) encontram-se presentes por curto tempo na DHF/DSS. Resumindo: a dengue hemorrágica, além da associação com os fatores de risco mencionados (relacionados com a epidemiologia (dentre esses, imunidade de grupo, intervalo de tempo entre as infecções por diferentes sorotipos), ao indivíduo (idade, sexo, raça, mecanismos genéticos, presença de anticorpos resultantes de infecções prévias e intensidade da resposta) e, por fim, ao vírus (virulência, sorotipos e genótipos envolvidos em cada epidemia e mutações genômicas)), tem como base fisiopatológica um aumento da carga viral resultante de uma cepa virulenta ou a facilitação da infecção mediada por anticorpos, levando a uma resposta imune exacerbada, envolvendo células do sistema imune, citocinas e imunocomplexos, causando aumento da permeabilidade por má função vascular endotelial,sem destruição do endotélio, causando queda da pressão arterial e manifestações hemorrágicas, associadas a trombocitopenia. Devido a essas alterações patológicas, necropsias encontraram os seguintes achados em pacientes falecidos com essa doença: ● Hemorragias cutâneas, em trato gastrointestinal, no septo interventricular cardíaco, no pericárdio, em espaços subaracnóideos e superfícies viscerais. ● Hepatomegalia e derrames cavitários. ● Edema perivascular com grande extravasamento de hemácias e infiltrado rico em monócitos e linfócitos; sem danos de paredes vasculares. ● Em alguns pacientes adultos, com hemorragias, observam-se abundantes megacariócitos em capilares pulmonares, glomérulos renais, sinusoides hepáticos e esplênicos. São evidências de coagulação intravascular. ● Em linfonodos e baço há proliferação linfoplasmocitária, com grande atividade celular e necrose de centros germinativos. Reduz-se a polpa branca esplênica e ali se observa linfocitólise abundante, com fagocitose dessas células. ● Na medula óssea ocorre bloqueio da maturação megacariocítica e de outras linhagens celulares. ● No fígado observam-se hiperplasia, necrose hialina de células de Kuppfer e a presença, em sinusoides, de células mononucleares, com citoplasma acidófilo e vacuolizado, semelhantes a corpúsculos de Councilman, lembrando o aspecto encontrado na febre amarela. Os hepatócitos apresentam graus variáveis de esteatose e necrose mediozonal. ● Os rins apresentam achados anatomopatológicos compatíveis com glomerulonefrite, relacionada, provavelmente, com a deposição de imunocomplexos em membrana basal glomerular. Referências -1: VERONESI. Tratado de Infectologia. -2: , K. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças. Grupo GEN, 2016. 9788595150966. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595150966/.
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