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1 Complicações do Paciente Cirrótico Professor: Marcus Vinícius – Aula: VIII Letícia Moreira Batista 1. Ascite Principal causa: Hipertensão portal: cirrose (transudativa) – 81% Aumento da pressão no sinusóide, extravassa líquido para a cavidade peritoneal. Neoplasias (2ª causa) Tuberculose peritoneal = inflamação – aumento da permeabilidade dos capilares do peritonio / obs linfatica (exsudativa – muita proteína). Observação: Pré sinusoidal (esquistossomose) = não causa ascite. Síndrome nefrótica = GASA < 1,1 Síndrome de Meigs = fibroadenoma ovariano + ascite + dp - gradiente de albumina soro ascite = GASA GASA: albumina sérica – albumina ascite: < 1,1 = exsudato → doença peritoneal > ou = 1,1 transudato → hipertensão portal Tratamento: Depende do diagnóstico preciso da causa da ascite. História cuidadosa / exame físico / paracentese com análise apropriada – fundamentais. Carcinomatose peritoneal = não adianta diurético / restrição de sódio. Objetivos da terapia: Minimizar o volume de líquido ascético Diminuir o edema periférico Não causar depleção do volume intravascular. Embora não haja evidências de que o tratamento da sobrecarga de líquidos em pacientes com cirrose melhore a sobrevida. Abstinência de álcool: Melhora drasticamente a ascite em alguns pacientes com doença hepática induzida por álcool. o Tratamento farmacológico: o Baclofeno: Pode melhorar a abstinência do álcool, é agonista do receptor gaba. Dose inicial: 5 mg três vezes ao dia durante três dias. 2 A dose é então aumentada para 10 mg três vezes por dia. As pílulas podem ser transportadas pelo paciente e tomadas quando o paciente sentir o desejo por álcool. Restrição de sódio na dieta: Pacientes com ascite devem ser restritos a 88 meq (2000 mg) de sódio por dia. Tratamento com diuréticos Proporção: Espironolactona 100 mg e furosemida 40 mg por dia. Promova uma redução em torno de 0,5 kg/dia no peso do paciente e de 1 kg/dia se, além da ascite, houver também edema de membros inferiores. Espironolactona: Inibe competitivamente o receptor mineralocorticoide. Furosemida: atua inibindo o íon transportador nak2cl encontrado na membrana apical de células epiteliais renais no ramo ascendente da alça de henle. Suspensão da diurético terapia na vigência de encefalopatia hepática, infecção, hipercalemia, hiponatremia significativa (sodio menor que 120 meq/l) ou insuficiencia renal (cr>2) Paracentese terapêutica inicial de grande volume Ascite tensa ou desejo do paciente Pressa para descomprimir o abdome Paracentese de 4 a 5 l é mais rápida que a terapia diurética. A remoção de menos de 5 litros de líquido não parece ter consequências hemodinâmicas ou hormonais, e a infusão de albumina pós-paracentese não parece ser necessária. N litros de ascite retirados × 0,8 = n frascos de albumina 20% - 10g/50ml2 2. PBE Infecção da ascite que surge na ausência de uma fonte contígua de contaminação (ex: perfuração de víscera oca/ abscessos intra-abdominais). Proteína do líquido ascítico encontra-se caracteristicamente baixa < 1g/dl Monobacteriana – e. Coli / klebsiella pneumonia. Síndrome nefrótica = pneumococo é o principal Sintomas: febre, dor abdominal difusa, encefalopatia, diarreia, ileo paralitico, hipotensão. Diagnóstico: >= 250 pm (neutrófilos no líquido ascitico) com cultura positiva (demora 48 horas) monobacteriana Se cultura negativa = ascite neutrofílica cultura negativa – geralmente trata igual pbe. Se hemácias no líquido ascitico: a cada 250 hemacias deve-se subtrair 1 leucócito do total. Bacterascite = cultura positiva monobacteriana na ausência de critério leucocitário. Fase precoce na patogênse da pbe = 60% resolvem espontaneamente. Se sintomático tratar / assintomático observar. Peritonite bacteriana secundária – diagnóstico diferencial mais importante. É feito pela dosagem de: Proteína total > 1 g/dl Glicose < 50 mg/ dl Ldh > que o limite sérico normal 2 ou mais = peritonite bacteriana secundária → confirmar com tomografia de abdome. Tratamento: Antibioticoterapia precoce. Escolha: Cefotaxima 2 g iv de 12/12 horas – 5 dias ou ceftriaxona 2 g 24/24 horas. Quinto dia: se melhora sintomática = terapia encerrada se não (persiste febre/ dor abdominal), realizar nova paracentese: o Pmn < 250 /mm3 encerrar o Pmn > 250, porém menor contagem – completar 7 dias o Se aumentar = reavaliar possibilidade de peritonite bacteriana secundária Descontinuar diuréticos Administração de albumina: Diminui o risco em 30 a 40% de disfunção renal. Dose: 1,5 g/kg de peso dentro de 6 horas após o diagnóstico + 1 g/kg de peso no terceiro dia. 3 Fazer se cr > 1, ur> 30 ou bb > 4 Profilaxia: Todos os pacientes com pbe. Norfloxacino 400 mg/dia ou ciprofloxacino 500 mg/dia ou smt/tmp 800/160 mg/dia. Até o desaparecimento da ascite ou indefinidamente. Indivíduos cirróticos + hemorragia por varizes esofagogástricas : Norfloxacino 400 mg bid ou ceftriaxona por 7 dias Profilaxia crônica: Cirróticos com proteína total do líquido ascitico < 1 g/dl Cirrose + ascite + prot < 1,5 g/dl + pelo menos 1 dos seguintes critérios: ins renal (cr>1,2 / ur> 25/ na< 130) ou hepática (child > = 9 com bb >= 3) PBE de repetição 3. Encefalopatia hepática Síndrome neuropsiquiátrica Causada pela passagem de substâncias tóxicas (provenientes do intestino) para o cérebro, que em uma pessoa normal seriam depuradas pelo fígado Amônia → Derivada do metabolismo do aa glutamina nos enterócitos pelas bactérias colônicas. Sua não depuração (tanto pela insuficiência hepatocelular quanto pela hipertensão portal) → Causa a encefalopatia hepática. Fígado transforma a amônia em uréia. → Hiperatividade do neurotransmissor gabaérgico. Disfunção cerebral metabólica. Diagnóstico é clínico! Distúrbios de comportamento (agressividade, agitação) sonolência/ letargia Inversão do ciclo sono-vigília (insônia noturna com sonolência diurna) Fala arrastada com bradipsiquismo “Hálito hepático” (ou fetor hepaticus) Asterixis (= flapping) Incoordenação motora e hipertonia Escrita irregular Reflexos tendinosos exacerbados ou alentecidos Sinal de Babinski Crises convulsivas e postura de descerebração. Fatores precipitantes: Hemorragia digestiva alta Hipocalemia - alcalose metabólica ou respiratória Desidratação/hipovolemia Diuréticos tiazídicos ou de alça (furosemida) Infecções (incluindo a peritonite bacteriana espontânea) Uso de sedativos (benzodiazepínicos e barbitúricos) Dieta hiperproteica Procedimentos cirúrgicos Constipação intestinal Hipóxia Shunts portossistêmicos: espontâneos (ex.: esplenorrenal) e cirúrgicos (incluindo o tips – transjugular intrahepatic portosystemic shunt). Tratamento: Corrigir quaisquer condições predisponentes Diminuir os níveis de amônia no sangue com medicamentos Restrição de proteína na dieta não é recomendada para a maioria dos pacientes 4 Medicamentos: Lactulose Dose: 30 a 45 ml [20 a 30 g] Duas a quatro vezes por dia → Deve ser titulada para atingir duas a três evacuações com fezes moles por dia. Metabolizada pelas bactérias colônicas em ácidos graxos de cadeia curta (ácido lático e ácido acético), reduzindo o ph do lúmen colônico para em torno de 5,0 com o ph mais ácido, o nh3 (amônia) é convertido em nh4 + (amônio), este último inabsorvível pela mucosa intestinal. O resultado é a menor absorção de amônia e a melhora do quadro da EH. Medicamentos Antibióticos - Rifaximina: para pacientes que não melhoraram em 48 horas ou que não podem tomar lactulose. 550 mg BID Agitação psicomotora: Caso sejam necessários medicamentos, o haloperidol é uma opção mais segura que os benzodiazepínicos, combase principalmente na experiência clínica e em alguns dados limitados. Se agitação psicomotora importante e refratária ao antipsicótico, associar o bzd – lorazepam (> eliminação renal) é o de escolha no paciente cirrótico! 4. Hipertensão portal: Veia porta → é formada pela junção das veias mesentérica superior e esplênica. Pressão na veia porta > 10 mmhg (normal = 5 a 10 mmhg). Ultrassonografia com doppler do sistema porta. Gradiente de pressão venosa hepática (hvpg, em inglês), que quando > 5 mmhg identifica a existência de hipertensão porta (normal = 1-5 mmhg). Síndrome da hipertensão portal: Esplenomegalia congestiva, varizes gastroesofágicas e pela circulação colateral visível no abdome. → Calibre da veia porta +- 15 mm nos casos de hipertensão portal. Achados ultrassonográficos em pacientes com hipertensão portal: Dilatação da veia porta para ≥13 mm Dilatação das veias esplênica e mesentérica superior a ≥ 11 mm Redução da velocidade do fluxo sanguíneo venoso portal Esplenomegalia (maior dimensão> 12 cm) Recanalização da veia umbilical Gradiente de pressão venosa hepática > 5 mmhg 5. Hemorragia digestiva a. Hemorragia digestiva alta: Úlcera péptica: duodenal + frequente / lamg / varizes de esôfago - ocorre quando a pressão portal >10 mmhg / síndrome de mallory-weiss / lesão de dieulafoy = protrusão de arteríola na submucosa) / ectasias vasculares cutâneomucosas - (síndrome de osler- weber- rendu) 5 Terapia hemorragia varicosa: 60% cessam de maneira espontânea. Entretanto, a hemostasia endoscópica torna-se sempre necessária, mesmo em vasos que já pararam de sangrar, devido ao elevado risco de ressangramento precoce. Tratamento endoscópico controla o sangramento das varizes em 85-90% dos casos. O tratamento padrão-ouro, na atualidade, para combater a hemorragia por varizes gástricas é a infusão de vasoconstritores esplâncnicos. Reduzem o fluxo sanguíneo porta e, portanto, a pressão portal Vasoconstritores esplâncnicos: Terlipressina (análogo da vasopressina) → atualmente considerada a droga de escolha Somatostatina (pouco disponível no mercado) Octreotídeo e seus derivados (análogos da somatostatina) o → reduzem a hipertensão portal. o Contraindicações: hpp dac, arritmias cardíacas, arteriopatias, avc o Terlipressina: dose: 250-500 mcg/h é a droga de escolha no controle da hemorragia das varizes esofagogástricas por ser a única que, além de melhorar o sangramento, demonstrou reduzir mortalidade. o Octreotide: inibem a ação vasodilatadora esplâncnica do glucagon. Amp 0,1 mg/ ml ou 0,5 mg/ ml (cada ampola tem 1 ml) Dilui em sf 0,9% ou sgi 5% 50 a 200 ml 1 mg = 1000 mcg / 0,5 mg (1 amp) = 500 mcg Se diluir 1 amp (0,5mg) para 200 ml sf 0,9%: 200 ml da solução — 500mcg x ————— 30 mcg x = 12 ml da solução terá 30 mcg- iniciar na bic 12 ml/ h da solução. Dose padrão p/ Sangramento varicoso: Ataque: 25 a 50 mcg iv em bolus Manutenção: 25 a 50 mcg/ hora A terapia farmacológica é a conduta de primeira linha para a hemorragia das varizes gástricas ou da gastropatia hipertensiva portal. A terapia endoscópica é a conduta de escolha para hemorragia digestiva alta decorrente de sangramento de varizes esofagianas, mas não as gástricas. A técnica hemostática de escolha é a ligadura elástica (preferencial à escleroterapia). Obrigatório profilaxia com antibiótico no momento do diagnóstico e mantida até 1 semana após o início do quadro. Dose: norfloxacino 400 mg bid ou ceftriaxone 1g mid por 7 dias. Betabloqueador: o Entre o 3 e 6 dia após o sangramento, iniciar bbloq não seletivo (propranolol/nadolol). o Bloqueio dos receptores beta-2 → vasoconstricção esplâncnica o Bloqueio beta-1 → diminuição do débito cardíaco e fluxo portal. o Objetivo: é reduzir a frequência cardíaca em 25%, atingindo níveis entre 55-60 bpm (quando dizemos que o paciente está “betabloqueado”). Nos pacientes que permanecem sangrando a despeito da terapia endoscópica e farmacológica: → Tamponamento com balão de sengstaken-blackmore (bsb). → Implantação de um tips. Profilaxia primária: Todo paciente com cirrose hepática deve ser submetido à EDA para rastrear as varizes esofagogástricas. Pacientes sem varizes → a EDA deve ser realizada a cada 2-3 anos. Pacientes com varizes de pequeno calibre, mas sem sinais de alto risco → anualmente. Profilaxia primária: Varizes de médio ou grosso calibre (classificação f2 ou f3) Varizes de pequeno calibre com sinais de alto risco (ex.: pontos vermelhos, child b ou c) Betabloqueadores não seletivos ou pela estratégia de erradicação endoscópica das varizes. Escleroterapia não deve ser utilizada como profilaxia primária
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