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Amanda Ferreira Rêgo PEDIATRIA II Aula 1: Meningites (Victor) 1) Conceito: Processo inflamatório que ocorre nas meninges, causado por vírus, bactérias, príons, parasitas e fungos, ou ainda, por causas autoimunes. 2) Fisiopatologia: O sistema nervoso central é muito protegido, portanto, os agentes causadores da meningite precisam ter algumas características específicas chegarem até lá. Isso se dá através de algumas etapas. • Colonização de mucosas (via respiratória) • Penetração na mucosa • Circulação na corrente sanguínea • Penetração no SNC – inflamação + edema! (por isso o paciente faz hipertensão intracraniana, cefaleia e vômito) * Em meningites bacterianas, geralmente os patógenos são bactérias encapsuladas, pois essas são resistentes à fagocitose e conseguem penetrar o SNC com mais facilidade. * Como o SNC não tem fagócitos para destruir as bactérias, NUNCA usar antibióticos bacteriostáticos, pois eles apenas impedem a reprodução da bactéria... Por isso SEMPRE usar antibióticos bactericidas. * Em meningites de repetição, sempre pensar em deficiência de complemento (momento imuno: o sistema complemento é um monte de proteína que se junta pra formar o Complexo de Ataque à Membrana – MAC, a função do MAC é promover a lise de células e microrganismos... No caso de bactérias encapsuladas gram- negativas (principalmente Neisseria meningitidis), elas precisam ser “cobertas” pelo MAC, para que as células do sistema imune a fagocitem, então se falta um dos complementos, o MAC não se forma e as bactérias seguem plenas rumo ao SNC) • Antibióticos bactericidas (com boa penetração no SNC): • Cefalosporinas • Penicilinas • Glicopeptídeos – vancomicina/teicoplanina 3) Agente etiológico: Vírus: • Enterovírus (mais comum) Amanda Ferreira Rêgo MEDPUC 77 P á g i n a 2 | 8 • Grupo herpes (HSV, CMV e EBV) Bactérias – varia de acordo com a idade: • 0 a 3 meses: Escherichia coli, outros gram-negativos, Listeria monocytogenes, Streptococcus agalactiae • 3 meses a 5 anos: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae B, Neisseria meningitidis • Acima de 5 anos: Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis (vulgo, meningococo) • Outros casos: Pós trauma: Staphylococcus aureus Válvula/DVP: Pseudomonas sp. Fungos: • Recém nascido: Candida sp. • Criança maior: Criptosporum sp. – Faz dx com “tinta da China” Imunossuprimidos: Mycobacterium tuberculosis - neurotuberculose pode fazer meningite – grave, pois causa hidrocefalia! Tentar fechar dx antes da hidrocefalia para melhor prognóstico. 4) Relação clínica e agente etiológico: Recém-nascido: • Febre sem sinal localizado • Irritabilidade • Sonolência • Hipoatividade • FONTANELA TENSA (RN é difícil identificar rigidez de nuca, então sempre prestar atenção na fontanela) Pré escolar: • Cefaleia • Febre • Vômito • Kernig e Brudzinski positivos PEDIATRIA II Meningites P á g i n a 3 | 8 * SEMPRE que a criança apresentar esses quadros sugestivos de meningite, pedir punção de LCR. * Prestar atenção em petéquias (geralmente aparecem no quadril, sob a fralda), pois se estiverem associadas a esses quadros, sugere meningococcemia + meningite. A meningococcemia pode ou não cursar junto com a meningite, se ambas estiverem associadas, o prognóstico é MELHOR. TORCHS: podem se manifestar com meningoencefalite! • CMV: calcificações periventriculares • Toxoplasmose: calcificações generalizadas • HIV: oportunistas – neuroTB, faz hidrocefalia (fechar dx antes disso para melhor prognóstico) • Sífilis: LCR - pedir VDRL • Clínica característica das meningites virais: • Enterovírus: cefaleia + febre + vômito A própria punção lombar age de forma terapêutica, pois diminui a pressão intracraniana. Pode ter uma evolução bifásica ou trifásica! * Geralmente o paciente tem sintomas por 1-3 dias e evolui bem com AINE/corticoide + sintomáticos, mas em alguns casos, os sintomas podem retornar mais uma vez. A conduta é Amanda Ferreira Rêgo MEDPUC 77 P á g i n a 4 | 8 punção de LCR – se confirmar mais uma vez o dx de meningite viral, e ele tiver os mesmos sintomas, dar alta para o paciente com o mesmo tratamento. Se o paciente retornar pela terceira vez com os mesmos sintomas, repetir punção pela 3ª vez e, se confirmar meningite viral, sem novos sintomas, internar o paciente para fazer imunoglobulina – 2g/kg. Nesses casos, investigar TORCHS! Internar! * Cuidado – síndrome pós punção lombar: Pacientes que são submetidos a várias punções (ou uma punção que não foi feita adequadamente – criança se mexeu), podem ter dor no local da punção, cefaleia, dificuldade para evacuar e andar “curvada”. Não é sintoma novo da meningite! Tratar com AINE ou corticoide. • Herpes: sintomas da meningite + ataxia (cerebelite) Tratar com aciclovir • EBV: sintomas da meningite + síndrome de Alice no País das Maravilhas (também chamada síndrome de Todd) * Clínica da SAPM: alucinações visuais com distorção de tamanho dos objetos e da sua própria imagem corporal, alteração na percepção do passar do tempo (paciente sente o tempo passar muito rápido ou muito devagar). Sempre que tiver meningite + SAPM, pedir LCR + PCR para EBV Tratar com aciclovir ou ganciclovir • CMV: sintomas da meningite + sinais inespecíficos: convulsões, déficits focais, sonolência... Pedir TAC! sintomas tempo de evolução 1ª vez 2ª vez 3ª vez PEDIATRIA II Meningites P á g i n a 5 | 8 Tratar com ganciclovir • Clínica característica das meningites bacterianas: • Streptococcus: sintomas de meningite + letargia + sonolência + confusão mental: ventriculite – se houver persistência da febre com a melhora do líquor, pensar em alguma complicação anatômica • Meningococcus: sintomas de meningite + crise convulsiva • Haemophilus influenzae: sintomas de meningite + surdez (como sequela) • Staphylococcus: sintomas de meningite + abcesso cerebral • Mycobacterium tuberculosis: sintomas de meningite + hidrocefalia * Geralmente as meningites bacterianas seguem o quadro clássico, quando elas apresentam algum dos quadros em negrito, já é complicação da meningite bacteriana • Casos bizarros do Victor: • Síndrome de Ling: Criança de 8 anos com febre, cefaleia e vômitos, foi internada, LCR para meningite viral, sem melhora com sintomáticos. RNM sem particularidades. Iniciou tratamento com ganciclovir, e evoluiu com melhora da febre, da cefaleia e do líquor. Testes negativos para TORCHS. Evoluiu com sonolência e letargia. Encaminhada ao HPP, repetiu-se a RNM (com cortes finos) e foi encontrada necrose de mesencéfalo. Tinha dificuldade crônica para deglutir – não comia carne. Necrose por falta de complexos vitamínicos. A dificuldade para deglutir era pela síndrome de Ling. • Encefalomielite Difusa Aguda (ADEM): Criança de 9 anos chega ao PS com agitação e febre após o coelho de estimação morrer. Exame físico: sem particularidades. Foi para casa com sintomáticos e orientações. Retornou no dia seguinte ainda agitado e com alucinações, falando que era o “Pai José”. Paciente foi internado e evoluiu com crises convulsivas. Na RNM: lesões desmielinizantes. Paciente fez encefalomielite difusa aguda – doença autoimune (e rara) que pode acontecer por eventos Amanda Ferreira Rêgo MEDPUC 77 P á g i n a 6 | 8 traumáticos ou após infecções. Teste para anticorpo anti- receptor de N-metil-D-aspartato (anti-rNMDA). Trata com corticoide em pulsoterapia. * Cuidado: tumores cerebrais também podem fazer uma clínica semelhante à clínica de meningite! Geralmente tem uma evolução mais gradual, mas não deixam de ser um dx diferencial. 5) Diagnóstico laboratorial: No LCR: Viral Bacteriana Fungo Normal Leucócitos<500 >500 <100 RN: <30 Pré Escolar/Escolar: <10 Glicose Normal Normal ou >40 (2/3 glicemia) Proteína Normal ou <40 Aspecto transparente translúcido opaco transparente * O aumento de leucócitos pode ser chamado de pleocitose • Se o líquor for viral, fazer PCR • Se o líquor for bacteriano, fazer prova do látex, cultura (mas demora para sair, então começa ATB empírico) e contra-imuneletroforese cruzada (CIE) • Contraindicação absoluta: lesões no local da punção (varicela, por exemplo) • Contraindicação relativa: HIC, plaquetopenia (<50.000) 6) Tratamento: • 0 a 3 meses: Ampicilina + Gentamicina Ampicilina + Cefotaxima • Acima de 3 meses: Cefalosporina de 3ª geração * Usar ceftazidima apenas em Pseudomonas sp. • Se Pseudomonas sp. – Fazer antibiograma: * Sensível à penicilina, usa penicinina * Pouco sensível/intermediário à penicilina: usa cefalosporina de 3ª geração, de preferência ceftriaxona. Caso não responda, Nunca usar ceftriaxona em < 3 meses - faz lama biliar! PEDIATRIA II Meningites P á g i n a 7 | 8 trocar para ceftazidima, pois é a que apresenta maior atividade conta o patógeno. * Resistente à penicilina: Cefalosporina de 3ª + vancomicina OU Cefalosporina de 3ª + rifampicina • Corticoides: usada para evitar surdez, especialmente em casos de H. influenzae B 7) Profilaxia: Para quem fazer: • Pessoas que tiveram contato com secreções respiratórias do paciente • Pessoas que tiveram contato com o paciente por 4 horas em ambiente fechado (colegas de sala/familiares) • Pessoas que tiveram contato com o paciente por 4 horas/dia nos últimos 7 dias (colegas da creche) Neisseria meningitidis Medicamento Haemophilus influenzae Dose 12/12h, durante 2 dias Rifampicina 1x ao dia, durante 4 dias Dose Única Cefalosporina III Única Dose Única Ciprofloxacino Única * Pacientes com meningite por meningococo (N. meningitidis) que começaram o tratamento com penicilina devem receber a profilaxia também, pois a penicilina não descoloniza a orofaringe! • Vacinas! SBP/SBIm PNI Pneumo Pneumo 13 (2m-4m + reforço 12m) Pneumo 10 (2m-4m + reforço 12m) Meningo Meningo ACWY (3m-5m + ref 12m + ref 4 a 6 anos + ref 11 anos) Meningo C (3m-5m + ref 12m + ref 11 a 14 anos) Meningo B (3m-5m + ref 12m) Penta (HIB) Hexa/Pentavalente (DTPa + VIP + HIB + [Hep B] ) (Hexa: 2m – Penta: 4m – Hexa: 6m + Ref Penta 15m) Pentavalente (DTPa + Hep B + HIB) (2m-4m-6m) Amanda Ferreira Rêgo MEDPUC 77 P á g i n a 8 | 8
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